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O brincar, o processo criativo,
o lazer de pessoas com
necessidades educacionais
AULA
especiais e a formação
lúdica do educador
objetivo
A. Einstein
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Parece que existe um consenso entre os egressos dos cursos de
As brincadeiras
licenciaturas, que afirmam não se sentirem suficientemente preparados
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favorecem o
desenvolvimento
para trabalhar com criança, sejam elas portadoras de deficiência ou não. intelectual e facilitam
a inserção no meio
Em se tratando de uma criança com alguma deficiência a dificuldade e,
social.
conseqüentemente, a resistência dos professores parece maior. Faz-se
necessário repensar estes cursos e um dos caminhos para a reformulação
desses cursos é, sem dúvida, a formação do educador, apoiada em três
pilares mencionados pela referida autora que são: “...a formação teórica
a formação pedagógica e, como inovação, a formação lúdica” (p. 14),
visando a melhorar a qualidade da formação do educador.
Ainda sobre a formação lúdica do educador a autora afirma:
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educacionais especiais e a formação lúdica do educador
HUIZINGA (1993):
Este autor concorda que lúdico (jogo) é o “campo da ilusão”
e da “simulação”. Considera o lúdico como elemento de cultura e o
identifica, em várias áreas da vida humana, desde o campo artístico
aos campos religioso, jurídico e da guerra. É o movimento estabelecido
entre os sujeitos em qualquer situação. Brinquedo é considerado o objeto
bem como a ação de brincar. Portanto, o fenômeno que se desencadeia
como brincadeira é chamado de brinquedo. Para este autor os jogos
são incorporados normalmente à cultura de um povo e o espírito lúdico
forma e impulsiona a cultura (RIZZI, 1987, p. 8).
PIAGET (1990):
Para este autor, o impulso lúdico que se manifesta nos primeiros
anos de vida é denominado jogo de exercício sensório-motor; do
segundo ao sexto ano predomina o jogo simbólico (as coisas começam
a ser representadas por símbolos – representação simbólica), que se
manifesta na etapa seguinte através do jogo de regras. Na abordagem
piagetiana, portanto, existem três formas básicas de atividades lúdicas
que caracterizam a evolução do jogo na criança de acordo com a fase do
desenvolvimento em que aparecem. Estas três modalidades de atividades
lúdicas podem coexistir de forma paralela no adulto.
Portanto, através da psicologia genética, Piaget explica como a
criança aprende. É brincando que adquire conhecimento, por meio de
ações com os objetos e de experiências cognitivas concretas. Constroem
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seu conhecimento interagindo com o mundo ludicamente. Em cada
fase ou etapa de desenvolvimento a criança brinca de uma forma
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(FERREIRA, 1999, p. 13-17).
WINNICOTT (1978):
Considera o lúdico como a possibilidade de a criança criar um
espaço entre ela e o outro, entre o dentro e o fora, entre a fantasia e o
real, o corpo e o mundo. O brincar é um espaço potencial entre o bebê
e a mãe. É brincando que a criança controla a realidade. Na opinião
do autor, “Brincar é fazer”, (p. 62-63).
VYGOTSKY (1996):
A educação é um processo do qual deve participar o adulto
que tem a incumbência de estimular, despertar na criança o desejo de
descobrir, de conhecer, de vencer desafios tendo sempre o cuidado de
adaptar todas as atividades às necessidades da criança, levando-a a
participar, a envolver-se para que dessa forma alcance um progresso
real e duradouro como ser humano.
Para Vygotsky o brinquedo cria uma zona proximal (aquilo que
a criança é capaz de fazer com ajuda de alguém hoje, conseguirá fazer
sozinha amanhã), promovendo uma situação de transição entre a ação
da criança com objetos concretos e suas ações com significados. Além
de ser uma situação imaginária, a brincadeira é também uma atividade
regida por regras que levam a criança a comportar-se de maneira mais
evoluída do que a habitual para a sua idade. Através da brincadeira a
criança entende o universo particular dos diversos papéis que desempenha
(p. 66-67).
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Valor funcional: o brinquedo deve corresponder às possibilidades
da criança a quem é destinada e sua utilização não deve ser dificultada
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por miniaturizações excessivas, acessórios supérfluos ou acúmulo de
atividades de diferentes níveis.
Valor experimental: o brinquedo possibilita à criança “experi-
ências” ou descobertas, que coincidem com seu nível de compreensão
do mundo dos objetos. Ele não deve limitar a criança a uma abordagem
do mundo que ela possa superar, nem confrontá-la com mecanismos
não acessíveis ao seu nível de raciocínio.
Valor de estruturação: o brinquedo concorre para a formação
do eu, da personalidade, na dimensão de “vida interior”. Ele não deve
favorecer a estagnação ou a regressão a fases afetivas arcaicas, primitivas,
nem abalar a personalidade mais ou menos estruturada. Ao contrário,
deve facilitar a conscientização de si mesma e a plena exploração de
seus meios.
Valor de relação: o brinquedo permite que a criança se situe melhor
em relação ao mundo das pessoas, adultos e crianças percebendo melhor
a diversidade dos papéis e relações.
A autora lembra que uma falha em um brinquedo pode ser
negativa, mas para uma criança com deficiência pode ser extremamente
prejudicial. Inclusive é bom lembrar que o mau uso de um brinquedo
nos dois primeiros anos de vida pode ocasionar perdas irreversíveis no
desenvolvimento da criança.
Para escolher brinquedos e jogos é importante consultar o Guia
dos Brinquedos e Jogos disponível no site:
<http//:www.abrinq.com.Br/publica/guia_brinquedos_jogos.htm>
onde encontramos algumas orientações muito importantes citadas
a seguir:
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Particularmente, vejo nas atividades lúdicas o meio mais eficaz de
levar a criança a iniciar-se na mais fantástica viagem que o ser humano
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pode empreender: a construção de si mesmo como cidadão e a certeza
de que somos capazes de, vencendo todas as barreiras impostas pela
deficiências, ser agente ativo no processo de inclusão.
De acordo com Winnicott (1975) é brincando que a criança
criará pontes entre o real e o imaginário, fortalecendo suas estruturas
mentais, físicas e espirituais para poder, assim, sentir-se incluída e parte
de um mundo, que ao contrário do que poderá acreditar, o aceitará não
importa como esteja e que não o rejeitará e no qual atuará como agente
de transformação.
Vocês sabem o que é uma brinquedoteca?
O direito de brincar é reconhecido e garantido por lei, contudo
muitas crianças são privadas de brincar muito cedo por vários motivos:
hospitalização, deficiências, trabalho infantil, a falta de espaço... Com o
objetivo de garantir o espaço para a criança brincar, nasceu neste século
um espaço destinado a facilitar o ato de brincar. O que caracteriza
este espaço é um conjunto de brinquedos, jogos e brincadeiras em um
ambiente agradável, alegre e colorido onde prevalece a ludicidade.
Trata-se de um ambiente exclusivo para crianças e tem como objetivo,
de acordo com Santos (1995, p. 8):
a) estimular a criatividade;
b) desenvolver a imaginação;
e) dramatizar;
f) desenvolver a construção;
g) a solução de problemas;
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• permitir à criança portadora de deficiências físicas e
mentais o desenvolvimento e a aprendizagem por meio
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de brinquedos e computadores;
2) Brinquedotecas em hospitais:
É necessário garantir à criança hospitalizada o direito de brincar, do
contrário, estaremos acrescentando às suas limitações e perdas, mais um
problema e muito grave que é a não possibilidade de ter vivências lúdicas
e criativas, absolutamente necessárias ao seu processo de reabilitação.
Neste caso, citando a mesma autora (p. 59), os objetivos são:
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re s u m o
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Auto-AVALIAção
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1. Como Piaget, Winnicott, Vygotsky e Wallon definem o brincar? Existe alguma
relação entre os conceitos? Quais?
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