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O brincar, o processo criativo,
o lazer de pessoas com
necessidades educacionais

AULA
especiais e a formação
lúdica do educador
objetivo

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta


aula, você seja capaz de:
• Refletir sobre a importância do brincar e do lazer
como fatores necessários ao desenvolvimento
e aprendizagem da criança com necessidades
educacionais especiais e sobre a formação lúdica
do educador visando a uma melhor compreensão
do mundo infantil, do jovem e do adulto e a uma
prática pedagógica mais envolvente e eficaz.
Educação Especial | O brincar, o processo criativo, o lazer de pessoas com necessidades
educacionais especiais e a formação lúdica do educador

Brincar é a mais elevada forma de pesquisa.

A. Einstein

iNTRODUÇÃO Entendemos que a inclusão da ludicidade é um enfoque que deve ser


abordado na formação do educador, porque resgatar o brincar na fase adulta
provavelmente nos torna adultos mais sensíveis, generosos e abertos às
mudanças. Como costuma dizer Ivan Cruz ( 2003): “A criança que não brinca
não é feliz, ao adulto que quando criança não brincou falta-lhe um pedaço
no coração” In: <http//:www.brincadeirasdecrianca.com.br>. É possível que,
brincando, o adulto encontre o pedaço que falta no seu coração e possa junto
com a criança conhecer-se mais e melhor.

A formação lúdica é necessária, pois possibilita experiências


pessoais e criativas que podem contribuir muito para facilitar (e
melhorar) a prática pedagógica, permitindo gerar novas formas de pensar
e construir o pensamento. A ludicidade não pode ser vista apenas como
um divertimento, mas como uma necessidade do ser humano, porque
tem uma influência direta no seu desenvolvimento. Sobre isto, vejamos
o que diz Santos (1997):

A ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade


e não pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento do
aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal,
social e cultural, colabora para uma boa saúde mental, prepara
para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização,
comunicação, expressão e construção do conhecimento (p. 12).

Santos (1997) faz menção a obra de Ayrton Negrine que analisa


os cursos de formação e sugere os três pilares já mencionados necessários
para a reformulação dos cursos de licenciaturas, cuja preocupação tem
sido com a formação teórica e pedagógica. Esta formação, proposta
por Negrine, é chamada de formação pessoal. A autora prefere chamar
formação lúdica.
Afirma a autora:

A formação lúdica se assenta em pressupostos que valorizam a


criatividade, o cultivo da sensibilidade, a busca da afetividade,
a nutrição da alma, proporcionando aos futuros educadores
vivências lúdicas, experiências corporais, que se utilizam da
ação; do pensamento e da linguagem, tendo no jogo sua fonte
dinamizadora (p. 13-14).

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Parece que existe um consenso entre os egressos dos cursos de
As brincadeiras
licenciaturas, que afirmam não se sentirem suficientemente preparados

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favorecem o
desenvolvimento
para trabalhar com criança, sejam elas portadoras de deficiência ou não. intelectual e facilitam
a inserção no meio
Em se tratando de uma criança com alguma deficiência a dificuldade e,
social.
conseqüentemente, a resistência dos professores parece maior. Faz-se
necessário repensar estes cursos e um dos caminhos para a reformulação
desses cursos é, sem dúvida, a formação do educador, apoiada em três
pilares mencionados pela referida autora que são: “...a formação teórica
a formação pedagógica e, como inovação, a formação lúdica” (p. 14),
visando a melhorar a qualidade da formação do educador.
Ainda sobre a formação lúdica do educador a autora afirma:

Quanto mais o adulto vivenciar sua ludicidade,


maior será a chance de este profissional trabalhar
com a criança de forma prazerosa.
A formação lúdica deve possibilitar ao futuro
educador conhecer-se como pessoas, saber
de suas possibilidades e limitações,
desblo-quear suas resistências e ter
uma visão clara sobre a importância
do jogo e do brinquedo para a
vida da criança, do jovem e do
adulto.
O adulto que volta a brin­
car não se torna criança
novamente, apenas ele con­
vive, revive e resgata com
prazer a alegria do brincar,
por isso é importante o
resgate desta ludicidade,
a fim de que se possa
transpor esta
experiência
para o campo
da educação,
isto é, a presença do
jogo (p. 14).

Atualmente, com base em muitos estudos realizados, sabe-se que


vivenciar processos lúdicos e criativos é fundamental para criança, jovem,
adulto, principalmente para o educador. Em se tratando da criança com
necessidades educacionais especiais, deve-se primar por uma educação

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adaptada às suas necessidades, e ninguém mais duvida, que uma das


formas de atingirmos este objetivo, é através do brincar dos processos
criativos e do lazer.
As atividades lúdicas (brincadeiras, jogos, brinquedos), bem como
aquelas voltadas para o lazer (atividades culturais, passeios etc.), sem a
menor dúvida contribuem para promover o desenvolvimento de qualquer
criança, porque estimulam e beneficiam a inteligência, a motricidade , a
linguagem. Possibilitam uma interação com o ambiente, aumentando as
Sugestão de site: chances da criança observar o mundo real, internalizá-lo e atuar sobre
In:< http//: ele criativamente.
www.folclore.com.br/
brinc/mapa_todas_ Vejamos o que alguns autores como Huizinga, Piaget, Bettelheim,
brinc.htm>.
Vygotsky, Winnicott e outros definem o brincar:

HUIZINGA (1993):
Este autor concorda que lúdico (jogo) é o “campo da ilusão”
e da “simulação”. Considera o lúdico como elemento de cultura e o
identifica, em várias áreas da vida humana, desde o campo artístico
aos campos religioso, jurídico e da guerra. É o movimento estabelecido
entre os sujeitos em qualquer situação. Brinquedo é considerado o objeto
bem como a ação de brincar. Portanto, o fenômeno que se desencadeia
como brincadeira é chamado de brinquedo. Para este autor os jogos
são incorporados normalmente à cultura de um povo e o espírito lúdico
forma e impulsiona a cultura (RIZZI, 1987, p. 8).

PIAGET (1990):
Para este autor, o impulso lúdico que se manifesta nos primeiros
anos de vida é denominado jogo de exercício sensório-motor; do
segundo ao sexto ano predomina o jogo simbólico (as coisas começam
a ser representadas por símbolos – representação simbólica), que se
manifesta na etapa seguinte através do jogo de regras. Na abordagem
piagetiana, portanto, existem três formas básicas de atividades lúdicas
que caracterizam a evolução do jogo na criança de acordo com a fase do
desenvolvimento em que aparecem. Estas três modalidades de atividades
lúdicas podem coexistir de forma paralela no adulto.
Portanto, através da psicologia genética, Piaget explica como a
criança aprende. É brincando que adquire conhecimento, por meio de
ações com os objetos e de experiências cognitivas concretas. Constroem

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seu conhecimento interagindo com o mundo ludicamente. Em cada
fase ou etapa de desenvolvimento a criança brinca de uma forma

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(FERREIRA, 1999, p. 13-17).

As fases ou estágios do desenvolvimento intelectual da criança


de acordo com Piaget são:

a) sensório-motor (zero a dois anos);

b) pré-operatório (dois a sete anos);

c) operatório concreto (sete a onze anos);

d) operatório formal (onze a quinze anos).


É muito importante lembrar que o lúdico se manifesta de forma
diferente em cada uma dessas fases como é possível verificar em Rizzi
& Haydt (p. 12-13).

WINNICOTT (1978):
Considera o lúdico como a possibilidade de a criança criar um
espaço entre ela e o outro, entre o dentro e o fora, entre a fantasia e o
real, o corpo e o mundo. O brincar é um espaço potencial entre o bebê
e a mãe. É brincando que a criança controla a realidade. Na opinião
do autor, “Brincar é fazer”, (p. 62-63).
VYGOTSKY (1996):
A educação é um processo do qual deve participar o adulto
que tem a incumbência de estimular, despertar na criança o desejo de
descobrir, de conhecer, de vencer desafios tendo sempre o cuidado de
adaptar todas as atividades às necessidades da criança, levando-a a
participar, a envolver-se para que dessa forma alcance um progresso
real e duradouro como ser humano.
Para Vygotsky o brinquedo cria uma zona proximal (aquilo que
a criança é capaz de fazer com ajuda de alguém hoje, conseguirá fazer
sozinha amanhã), promovendo uma situação de transição entre a ação
da criança com objetos concretos e suas ações com significados. Além
de ser uma situação imaginária, a brincadeira é também uma atividade
regida por regras que levam a criança a comportar-se de maneira mais
evoluída do que a habitual para a sua idade. Através da brincadeira a
criança entende o universo particular dos diversos papéis que desempenha
(p. 66-67).

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Bem, não podemos esquecer que o jogo é uma atividade lúdica


inerente à natureza humana e caracteriza o ser humano como o Homo
ludens, justamente porque ele tem a capacidade, e a necessidade de jogar.
Rizzi & Haydt (1987, p. 10-11). De acordo com Claparède e Groos, que
apresentam uma classificação de jogos diferente da classificação genética
baseada na evolução das estruturas (de exercício, de símbolo e de regras)
corresponde a três fases do desenvolvimento mental. Estas classificações
serão apresentadas com maiores detalhes na apostila (SANTOS, 2003),
que acompanhará esta aula.
Com certeza, em se tratando de criança com necessidade
educacional especial será necessário que o educador tenha, além do
preparo técnico, sensibilidade para entender às peculiaridades desta
criança, levando-a a superar seus limites e neste sentido, além do afeto
e do carinho, a escolha de elementos pedagógicos que atendam sua
natureza lúdica será decisiva para desencadear uma ação pedagógica
interessante, atrativa e eficaz.
Os instrumentos pedagógicos são muitos e diversos, mas com
absoluta certeza, nenhum deles exercerá sobre a criança o fascínio dos
Por meio de brinquedos, normalmente atraentes, bonitos, agradáveis, aconchegantes
um brinquedo e mágicos!
bem escolhido,
essas crianças se Brinquedos e brincadeiras devem estar de acordo com o nível de
transformam em
artesãos de seu pensamento e condições físicas das crianças. É importante não infantilizar,
próprio progresso. não subestimar a inteligência da criança, tampouco exigir dela o que não
Hélène BRULË, In: pode dar. Devemos lembrar que a criança com deficiência tem direito de
AUFAUVRE (1998).
experimentar o mundo, construir-se como pessoa e estabelecer relações
satisfatórias com os outros. O lúdico permite que isso aconteça, bastando
apenas que, em algumas situações, façamos as devidas adaptações nos
brinquedos e brincadeiras para que a criança tire o máximo de proveito
de suas vivências lúdicas.
Os brinquedos oferecidos à criança com deficiência devem atender
às suas necessidades peculiares, ao tipo de deficiência ou limitação. Sem
perder a dimensão do significado do brincar para a criança precisamos
obedecer critérios para escolha de brinquedos, definidos pelo Conselho
Internacional para o Jogo da Criança, fundado em 1959, por um grupo
de pedagogos, psicólogos e pediatras, citados por Aufaure (p. 52 - 53),
que devem nortear nossas práticas pedagógicas junto à criança com
necessidades educacionais especiais:

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Valor funcional: o brinquedo deve corresponder às possibilidades
da criança a quem é destinada e sua utilização não deve ser dificultada

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por miniaturizações excessivas, acessórios supérfluos ou acúmulo de
atividades de diferentes níveis.
Valor experimental: o brinquedo possibilita à criança “experi-
ências” ou descobertas, que coincidem com seu nível de compreensão
do mundo dos objetos. Ele não deve limitar a criança a uma abordagem
do mundo que ela possa superar, nem confrontá-la com mecanismos
não acessíveis ao seu nível de raciocínio.
Valor de estruturação: o brinquedo concorre para a formação
do eu, da personalidade, na dimensão de “vida interior”. Ele não deve
favorecer a estagnação ou a regressão a fases afetivas arcaicas, primitivas,
nem abalar a personalidade mais ou menos estruturada. Ao contrário,
deve facilitar a conscientização de si mesma e a plena exploração de
seus meios.
Valor de relação: o brinquedo permite que a criança se situe melhor
em relação ao mundo das pessoas, adultos e crianças percebendo melhor
a diversidade dos papéis e relações.
A autora lembra que uma falha em um brinquedo pode ser
negativa, mas para uma criança com deficiência pode ser extremamente
prejudicial. Inclusive é bom lembrar que o mau uso de um brinquedo
nos dois primeiros anos de vida pode ocasionar perdas irreversíveis no
desenvolvimento da criança.
Para escolher brinquedos e jogos é importante consultar o Guia
dos Brinquedos e Jogos disponível no site:
<http//:www.abrinq.com.Br/publica/guia_brinquedos_jogos.htm>
onde encontramos algumas orientações muito importantes citadas
a seguir:

• A publicidade, os brinquedos presentes nas brinquedotecas


ou na casa de amigos exercem influência sobre as
crianças. É importante se certificar de que o brinquedo
solicitado pela criança seja adequado à sua idade ou à
fase de desenvolvimento, aos seus traços pessoais, aos
seus interesses, para que seu envolvimento na brincadeira
seja proveitoso e prazeroso.

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• A indicação de faixa etária é uma referência importante,


mas este não é o único critério a ser considerado. Cada
criança tem suas características e preferências próprias.

• Levar em conta a variedade de brinquedos e jogos é


uma forma de proporcionar experiências diferentes e
criar oportunidades para que o desenvolvimento físico,
intelectual, afetivo, social, cultural e da criatividade da
criança ocorram de maneira integrada.

• Em muitos momentos, a criança vai preferir estar sozinha


na sua brincadeira e, em tantos outros vai optar pela
brincadeira em grupo. Suas preferências devem ser
levadas em conta, pois individualmente ou em grupo, a
criança cria e recria o mundo que a cerca, estabelecendo
relações com ele.

• Para que a criança brinque em segurança cabe ao adulto


verificar no momento da compra, a existência do selo
INMETRO, presente nas embalagens. Este selo confirma
a passagem do brinquedo por laboratórios de teste.
Quando há restrições, elas estão explicitadas na
embalagem e devem ser observadas atentamente. Seguir
Ivan Cruz
Artista plástico
corretamente as instruções, estar atento às brincadeiras
nascido em 1947 nos e garantir a manutenção dos brinquedos é, além de uma
subúrbios do Rio de
Janeiro brincava pelas medida de cautela, uma forma de envolvimento entre
ruas de seu bairro
como toda criança...
crianças e adultos.

www.brincadeirasde • A qualidade do brinquedo é outro fator a ser observado.


criança.com.br O prazer que a criança tira dele e a contribuição que
ele proporciona ao desenvolvimento infantil, assim
como a resistência dos materiais e o design, são fatores
importantes a serem considerados no momento da
escolha.
É fundamental que o adulto, sempre que possível, destine
algumas horas de seu tempo para brincar com a criança. Partilhar uma
brincadeira é um prazer e pode tornar-se uma agradável lembrança na
vida de todos.

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Particularmente, vejo nas atividades lúdicas o meio mais eficaz de
levar a criança a iniciar-se na mais fantástica viagem que o ser humano

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pode empreender: a construção de si mesmo como cidadão e a certeza
de que somos capazes de, vencendo todas as barreiras impostas pela
deficiências, ser agente ativo no processo de inclusão.
De acordo com Winnicott (1975) é brincando que a criança
criará pontes entre o real e o imaginário, fortalecendo suas estruturas
mentais, físicas e espirituais para poder, assim, sentir-se incluída e parte
de um mundo, que ao contrário do que poderá acreditar, o aceitará não
importa como esteja e que não o rejeitará e no qual atuará como agente
de transformação.
Vocês sabem o que é uma brinquedoteca?
O direito de brincar é reconhecido e garantido por lei, contudo
muitas crianças são privadas de brincar muito cedo por vários motivos:
hospitalização, deficiências, trabalho infantil, a falta de espaço... Com o
objetivo de garantir o espaço para a criança brincar, nasceu neste século
um espaço destinado a facilitar o ato de brincar. O que caracteriza
este espaço é um conjunto de brinquedos, jogos e brincadeiras em um
ambiente agradável, alegre e colorido onde prevalece a ludicidade.
Trata-se de um ambiente exclusivo para crianças e tem como objetivo,
de acordo com Santos (1995, p. 8):

a) estimular a criatividade;

b) desenvolver a imaginação;

c) desenvolver a comunicação e a expressão;

d) incentivar a brincadeira do faz-de-conta;

e) dramatizar;

f) desenvolver a construção;

g) a solução de problemas;

h) a socialização e a vontade de inventar;

i) colocar ao alcance da criança uma variedade de atividades


que, além de possibilitar a ludicidade individual e coletiva,
permite que ela construa seu próprio conhecimento.

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Cunha, In Friedmann (1996, p. 42), relata que, em 1934, surgiu


a primeira idéia de Brinquedoteca em Los Angeles para evitar que
as crianças roubassem os brinquedos de uma loja e pudessem fazer
empréstimo de brinquedos. A expansão dessa idéia se deu a partir da
década de sessenta.
Em 1963 surgiu a primeira Ludoteca em Estocolmo, com o
objetivo de orientar pais de crianças denominadas excepcionais, estimular
a aprendizagem e possibilitar o empréstimo de brinquedo.
Em 1967 surgiram as Toy Libraries ou Bibliotecas de brinquedos.
A partir do I Congresso realizado em 1976 em Londres, explica a
autora, a Brinquedoteca passou a ter várias funções e com isso ganhou
muita força expandindo-se pela Europa.
Em 1873, surgiu no Brasil a Ludoteca da Associação de
Pais e Amigos de Excepcionais – APAE, onde havia um rodízio de
brinquedos.
Em 1981, foi criada a primeira Brinquedoteca brasileira em São
Paulo, com objetivos diferenciados e adaptados às peculiariedades da
criança brasileira.
Em 1981, foi criada a Associação Brasileira de Brinquedoteca
acarretando um enorme crescimento de Brinquedotecas em estados
diferentes dando suporte às pessoas e instituições. Estimava-se,
aproximadamente, em 1996, cerca de 180 brinquedotecas espalhadas
pelo Brasil.
Existem vários tipos de brinquedotecas com diferentes funções.
Os tipos mais comuns, de acordo com Kishimoto, In Friedmann (1996),
são: de escolas, de comunidades ou bairro, de hospitais ou clínicas,
universidades; circulares, biblioteca, circulantes, para teste de brinquedos,
clínicas psicológicas, centros culturais e brinquedotecas para crianças
com deficiências físicas e mentais.
Agora, vamos falar com mais detalhes sobre os dois tipos de
brinquedotecas que nos interessam de forma especial:
1) Brinquedotecas para crianças com deficiências físicas e
mentais:
Estas brinquedotecas costuma atender crianças com diferentes
tipos de deficiências e os brinquedos são adaptados de açodo com as
diferentes modalidades de deficiência. De acordo com autora mencionada
(p. 58), os objetivos são:

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• permitir à criança portadora de deficiências físicas e
mentais o desenvolvimento e a aprendizagem por meio

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de brinquedos e computadores;

• integrar a criança na sociedade e na família;

• oferecer informações, orientação e assessoria a pais,


professores, profissionais e empresas;

• oferecer um acervo de brinquedos, materiais de jogo e


computadores para empréstimo, tanto a crianças como
a profissionais da área.

2) Brinquedotecas em hospitais:
É necessário garantir à criança hospitalizada o direito de brincar, do
contrário, estaremos acrescentando às suas limitações e perdas, mais um
problema e muito grave que é a não possibilidade de ter vivências lúdicas
e criativas, absolutamente necessárias ao seu processo de reabilitação.
Neste caso, citando a mesma autora (p. 59), os objetivos são:

• permitir a interiorização e a expressão de vivência da


criança doente por meio do jogo;

• auxiliar na recuperação da criança doente;

• amenizar o trauma psicológico da internacão por meio


da atividade lúdica.
Há alguns anos, uma pesquisa realizada na França revelou que
os brinquedos comuns não atendiam às necessidades de crianças com
limitações mais acentuadas e algumas providências foram tomadas no
sentido de procurar entre os brinquedos comuns aqueles que atendessem
às necessidades de crianças com deficiências e a adaptação de jogos e
brinquedos às especificidades destas crianças.
As primeiras ludotecas especializadas (brinquedotecas), explica
Aufauvre (1998) surgiram na Suécia ou Grã-Bretanha, além de atender
as necessidades das crianças e das famílias, favoreciam a inclusão e
destinavam-se a todas as crianças e adultos. É interessante observar que
já naquela época visavam a inclusão, incentivando o brincar da criança
com necessidades educacionais especiais com a criança dita normal.

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Então, a idéia não era de segregar a criança, mas facilitar sua


inclusão. Um dos obstáculos que normalmente a criança e suas famílias
encontram para freqüentar espaços lúdicos e de lazer são as barreiras
arquitetônicas. Foram realizadas experiências na França em 1978, com
o objetivo de proporcionar às crianças com deficiências oportunidades
de conquistar confiança em si, e a partir daí, compartilhar do mundo
lúdico da criança dita normal. A experiência foi tão bem sucedida que
duas áreas de lazer foram criadas em Londres.
No Brasil os espaços lúdicos e de lazer deixam muito a desejar para
qualquer criança. De modo geral o espaço da brincadeira não é muito
valorizado. É necessário que os professores resgatem a importância do
brincar e do lazer na escola pois, neste espaço do brincar, resistências serão
quebradas, preconceitos superados e a inclusão será uma realidade.

re s u m o

Nenhuma atividade é mais importante para a criança do que o brincar. É brincando


que toda criança se desenvolve e aprende com mais facilidade e, em se tratando
de lúdico, a deficiência é uma barreira que pode ser vencida. Como os professores
parecem não sair devidamente preparados dos cursos de licenciatura, é necessário
repensar estes cursos e enfocar a ludicidade como o caminho para melhorar a
qualidade da prática teórica e pedagógica.

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Auto-AVALIAção

AULA 
1. Como Piaget, Winnicott, Vygotsky e Wallon definem o brincar? Existe alguma
relação entre os conceitos? Quais?

2. O que é uma Brinquedoteca? Tem alguma na sua comunidade? Como


funciona?

3. Há algum espaço de lazer na sua comunidade? É freqüentado por crianças


deficientes?

4. Elaborar com base em uma pesquisa realizada na sua comunidade um projeto


de uma Brinquedoteca.

a) Elaborar os exercícios da apostila que acompanha esta aula, levando em conta


as necessidades educacionais da criança e a faixa etária.

b) Aplicar as atividades às crianças da sua comunidade.

c) Apresentar relatório sobre cada criança.

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