Você está na página 1de 8

Confira esse documento:

1000792-95.2021.5.02.0461

@media only screen {


body {
padding: 1cm;
}
}
body {
margin: 0px;
font-family: 'Open Sans';
line-height: 1.5;
}
h1 {
font-size: 14pt;
}
blockquote {
padding: 0cm 0cm 0cm 4cm;
margin: 0px;
line-height: 1;
}
blockquote p {
font-size: 10pt;
}
p {
font-size: 12pt;
overflow-wrap: break-word;
}
figure,
.figure {
text-align: center;
margin: .6em 0px;
}
figure img,
.figure img {
max-width: 100%;
}
figure table,
.figure table {
width: 100%;
height: 100%;
}
figure figcaption,
.figure .figcaption {
font-size: .75em;
padding: .6em;
}
.corpo .topico {
clear: both;
}
.corpo table {
margin: auto;
border: 1px double #b3b3b3;
border-collapse: collapse;
}
.corpo table td,
.corpo table th {
border: 1px solid #d9d9d9;
padding: .4em;
min-width: 2em;
}
.corpo table th {
background-color: #fafafa;
}

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA DO TRABALHO

PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO

1ª VARA DO TRABALHO DE SÃO BERNARDO DO CAMPO

ATOrd 1000792-95.2021.5.02.0461

RECLAMANTE: PAULO CESAR DA SILVA

RECLAMADO: VOLKSWAGEN DO BRASIL INDUSTRIA DE VEICULOS AUTOMOTORES LTDA

SENTENÇAI - RELATÓRIOTrata-se de Reclamação Trabalhista em que o reclamante postula


os títulos constantes do rol de fls. 24/27 da inicial, dando à causa o valor de R$
90.191,08. Juntou procuração e documentos.A Reclamada, devidamente notificada,
apresentou defesa escrita, acompanhada de documentos, pugnando pela improcedência
dos pedidos da inicial. O Reclamante se manifestou por escrito quanto aos termos da
defesa.Realizada a perícia médica.Presentes as partes na audiência designada e sem
mais provas a serem produzidas, foi encerrada a instrução processual. Razões
finais. Proposta final conciliatória rejeitada.É o breve relatório. 

 II - FUNDAMENTAÇÃODo Direito intertemporalEmbora esta sentença seja proferida


quando já em vigor a Lei nº 13.467/17, as normas de direito material do trabalho
não retroagem para regular contratos de trabalho anteriores à sua vigência,
conforme artigo 5°, XXXVI, da Constituição Federal de 1988, e artigo 6°, parte
final, da Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro.Quanto aos temas
referentes à gratuidade de justiça, custas processuais e honorários advocatícios,
devem estes serem regidos pela legislação processual trabalhista vigente à época do
ajuizamento. Isso porque tais institutos têm natureza híbrida, pois são normas de
direito processual com repercussões materiais, já que impõem ônus financeiro aos
litigantes em juízo (STJ, REsp 1.465.535/SP).Desse modo, afasto no presente caso as
normas de direito material da novel legislação trabalhista, eis que o contrato foi
celebrado antes da entrada em vigor da Lei nº 13.467/17, e aplico as normas
processuais trazidas pela reforma, inclusive quanto aos temas de sucumbência, eis a
ação foi ajuizada após a entrada em vigor da novel legislação trabalhista.

 Da inépcia da inicialA reclamação trabalhista, apesar do seu caráter especial,


deve atender aos requisitos encartados no §1º do art. 840 da CLT, trazendo uma
breve exposição dos fatos de que resulte o dissídio e pedido certo e determinado, o
que não foi cumprido com relação a pretensão referente aos descontos realizados nos
vencimentos do autor (item ‘s’ do rol de pedidos).Com efeito, além de o reclamante
não trazer os fundamentos de fato e de direito do seu pedido, o mesmo também não
apresentou pedido certo e determinado com relação ao pedido referente aos descontos
sofridos.Assim, visto que o reclamante não observou os requisitos estruturais da
petição inicial (art. 840, CLT e art. 319, CPC), o que dificulta inclusive a
apreciação do mérito por parte deste magistrado, declaro a inépcia da inicial
quanto ao pedido genérico de descontos em vencimentos, devendo o processo ser
extinto sem resolução do mérito neste ponto (art. 485, I, CPC c/c art. 330, I e §1º
do CPC c/c art. 840, §1º, CLT).

 Da carência da açãoO interesse de agir é uma das condições da ação que consiste na
presença no trinômio 'necessidade', 'adequação' e utilidade' na prestação
jurisdicional solicitada. Assim, se da análise abstrata da pretensão postulada se
verifica que há a necessidade de intercessão do Estado para a satisfação do alegado
direito, podendo se extrair deste um resultado útil para uma das partes, presente
estará o interesse de agir.É o que ocorre no presente caso, em que o Reclamante
pleiteia a indenização pelos danos morais e materiais sofridos em razão da doença
ocupacional adquirida na reclamada e que teria reduzido a sua capacidade para o
trabalho, não sendo o fato de o autor permanecer ativo na reclamada capaz de
excluir, por si só, o interesse de agir.Ademais, cumpre ressaltar aqui que o exame
das condições da ação pelo órgão judiciário a que for submetido o conflito de
interesses é feito partindo da premissa de que o alegado pelo reclamante
corresponde à realidade, independentemente da produção de provas, exame in
assertionis, isto é com base apenas no que é alegado pelo autor.Portanto, cabe ao
juiz, após a instrução do feito e quando da análise do mérito, decidir sobre a
veracidade ou não das alegações das partes, não sendo a mera afirmação de uma das
partes acerca da existência ou não do direito pleiteado capaz de, por si só,
afastar a prestação jurisdicional.Destarte, presente o interesse de agir, afasto
aqui a preliminar de carência da ação.

 Das considerações preliminares

 Por se tratar de ação cujo objeto depende de prova exclusivamente técnica, foi
indeferida a produção da prova oral pretendida pelas partes.Ressalto que ambas as
partes participaram da perícia e puderam se manifestar quanto ao laudo
pericial.Além disso, as atividades e o setor de trabalho do reclamante são
incontroversas.

 Da prescriçãoA controvérsia quanto a ocorrência da prescrição da pretensão


indenizatória por danos morais e materiais decorrentes da doença ocupacional
demanda a análise não só da natureza da regra prescricional a ser aplicada, como
também do marco inicial da prescrição.Quanto à natureza da regra prescricional,
resta consolidado nos Tribunais o entendimento de que com o advento da emenda
constitucional nº 45/04, que transferiu à Justiça do Trabalho a competência para o
julgamento das ações indenizatórias decorrentes de acidentes de trabalho e doenças
ocupacionais, aplica-se aqui a prescrição trabalhista disciplinada pelo art. 7º,
XXIX, CF.Quanto ao marco inicial da prescrição (‘actio nata’), resta pacificado na
jurisprudência dos Tribunais que, em se tratando de acidente de trabalho, o termo
inicial da prescrição se dá quando da ciência inequívoca da incapacidade laboral do
obreiro (Súmula 278, STJ).Cabe saber então aqui quando teria ocorrido a ciência
inequívoca da incapacidade laboral do obreiro, ou seja, quando o trabalhador
adquiriu o conhecimento incontestável da extensão dos efeitos danosos provocados
pela lesão sofrida.No caso de lesões decorrentes de doença ocupacional em que o
reclamante ainda se encontra em atividade, a fixação do marco prescricional não é
tão simples como faz crer a reclamada, visto que os sintomas não se revelam de
imediato e podem ter evoluído no decorrer do curso laboral, atingindo a saúde do
trabalhador de forma gradual e progressiva, mesmo após o diagnóstico inicial.Assim,
não é razoável a afirmação de que a ciência inequívoca teria ocorrido quando da
data do diagnóstico da patologia ou do recebimento do auxílio-acidente ou auxílio-
doença, uma vez que no curso da prestação de serviços pode ter ocorrido um
abrandamento ou agravamento da patologia, não sendo possível determinar a extensão
dos efeitos danosos da lesão senão com a realização de perícia técnica.Desse modo,
entendo que a ciência inequívoca do obreiro quanto a extensão do dano à sua saúde
se deu apenas através do laudo pericial elaborado na presente ação, não havendo que
se falar assim na ocorrência da prescrição quinquenal ou bienal dos pedidos
referentes à doença ocupacional.

 Da prioridade de tramitaçãoUma vez a presente demanda não se enquadra nas


hipóteses previstas no Ato Conjunto nº4º/GP.CGJT, de 9 de dezembro de 2013, deixo
de deferir aqui a tramitação preferencial requerida.

 Da doença ocupacionalO Reclamante pleiteia, em sua inicial, o reconhecimento do


seu direito à estabilidade provisória acidentária e a indenização pelos danos
morais e materiais sofridos em razão das doenças ocupacionais adquiridas na
reclamada e que teriam reduzido a sua capacidade para o trabalho.A Reclamada, por
sua vez, impugna o pedido do autor e afirma inexistir nexo causal ou concausal
entre as referidas patologias e as atividades desempenhadas na reclamada.Contudo,
determinada a realização da perícia médica, a Perita médica judicial concluiu que o
reclamante é portador de tendinopatia do ombro direito, com nexo causal com o
labor, estando incapacitado para o trabalho de forma parcial e permanente.Quanto à
patologia da coluna, a Perita afirmou que as imagens diagnósticas apresentadas
apontam para um processo degenerativo de evolução natural dos elementos da coluna,
sendo que ao exame físico o autor não apresentou limitação e a manobra para
pesquisa de radiculopatia mostrou-se negativa.Já quanto à patologia dos ombros, o
exame físico do autor apontou apenas para limitações e dores quanto às manobras
realizadas para o ombro direito, tendo a Perita constatado uma tendinopatia do
ombro direito com uma redução parcial e permanente da capacidade laborativa.A
Perita judicial também ressaltou que o próprio médico da empresa teria considerado
o autor apto com restrição, motivo pelo qual o mesmo foi restrito de atividades.De
acordo ainda com a Perita judicial, foi possível também se estabelecer o nexo
causal da patologia com o trabalho, uma vez que foi constatado em vistoria
ambiental que as atividades desempenhadas pelo autor exigiam movimentos constantes
e repetitivos, com postura antiergonômica dos braços e movimentos de elevação acima
de 90 graus, com movimentos constantes e repetitivos dos membros superiores no uso
da alavanca para reparo na produção de 380 carros por turno, e com o agravante de
não haver pausas e nem rodízios de atividades.Cabe observar ainda aqui que em
perícia cível também foi reconhecido o nexo causal da patologia com o trabalho. A
conclusão da perita médica é corroborada ainda pelo nexo técnico epidemiológico
existente entre as patologias do autor e as atividades empresariais da ré, conforme
Decreto nº 6.042/2007.Não há dúvidas assim de que o reclamante é portador de doença
do trabalho, que se equipara ao acidente de trabalho (art. 20, II, da Lei nº
8.213/91), devendo ser reconhecido o direito à estabilidade provisória acidentária
até a sua aposentadoria, uma vez que preenchidos cumulativamente todos os
requisitos previstos no item 6.38.1 da CCT.Com efeito, conforme informou a Perita
judicial, há uma patologia ocupacional que incapacitou o reclamante de forma
parcial e permanente, sendo que a incapacidade se dá pelo risco da função e pela
existência de patologia. Consta ainda dos autos que após meados de 2018 o autor foi
colocado em serviço compatível com as suas limitações, no Spot 80, onde permanece
até os dias atuais.Comprovado o dano e o nexo causal, surge também aqui a obrigação
da reclamada de reparar os danos causados, independentemente de culpa, uma vez que
a atividade por ela desenvolvida implica, por sua natureza, riscos à saúde do
trabalhador (art. 927 do CC).Dispõe o art. 1º da CF/88 que a República Federativa
do Brasil tem como fundamentos a dignidade da pessoa humana e o valor social do
trabalho.O inciso XXII do art. 7º da Constituição estabelece que são direitos dos
trabalhadores a redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de
saúde, higiene e segurança. O mesmo artigo, no inciso XXVIII, prevê que é direito
do trabalhador o seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem
excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa.
Ressalte-se que este dispositivo prevê uma garantia mínima, podendo o legislador
infraconstitucional ampliar essa proteção, pois o caput do art. 7º estabelece que
são direitos dos trabalhadores “além de outros que visem à melhoria de sua condição
social”.A extensão dessa proteção ao trabalhador foi feita pelo dispositivo
presente no parágrafo único do art. 927 do CC, que prevê a responsabilidade
objetiva pelo risco criado.Ainda na seara constitucional, o art. 225 rege que é
direito de todos o meio ambiente, incluindo o do trabalho, ecologicamente
equilibrado.Conclui-se que o ambiente de trabalho saudável é direito de todos os
trabalhadores e o empregador tem a obrigação de proporcionar a seus empregados
condições de trabalho que preservem sua saúde e segurança.Desse modo, a natureza
objetiva da responsabilidade civil pelo dano ambiental é indiscutível, não
dependendo do dolo ou culpa do agente, por se fundamentar no risco da atividade
(art. 225, § 3º da CF e art. 14, §1º da Lei 6.938/81).Mesmo adotando a
responsabilidade objetiva ao caso, existe culpa da reclamada, por colocar os
trabalhadores para trabalhar em condições que lhes prejudica, ao ser negligente
quanto à diminuição dos riscos à saúde e segurança do trabalhador, conforme prevê o
art. 7º, XXII da CF/88. Logo, presentes todos os requisitos que dão ensejo ao
reconhecimento da responsabilidade civil. Cabe, assim, fixar o valor da indenização
devida ao autor pelos danos materiais que sofreu. Estabelece o art. 950 do Código
Civil que:

 “se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício
ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das
despesas do tratamento e lucros cessantes até o fim da convalescença, incluirá
pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da
depreciação que ele sofreu”.Desse modo, para fazer jus à reparação, basta a
demonstração da diminuição da capacidade para a profissão que o acidentado exercia
no momento do infortúnio. De acordo com lição de Sebastião Geraldo de Oliveira: “Em
tese, quase todos os acidentados poderiam ser readaptados para outras atividades,
mas não cabe impor ao lesado a busca compulsória de profissão diversa, até porque o
serviço de reabilitação e readaptação profissional no Brasil ainda funciona
precariamente.” (OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente de
trabalho ou doença ocupacional, 2009, p. 300-301).Extrai-se, do comando normativo
citado, que as indenizações são de quatro espécies: a) pelo tratamento da vítima,
b) pelos lucros cessantes até o fim da convalescença, c) pensão mensal e d) outros
prejuízos comprovados pela vítima.Assim, diante da conclusão da perita médica
quanto a redução parcial e permanente da capacidade do autor, tenho como cabível a
concessão de pensão mensal e vitalícia ao autor.Vale ressaltar aqui que o fato de o
contrato de trabalho permanecer ativo e de o autor exercer atividade compatível com
a limitação sofrida não é capaz, de, por si só, afastar o direito do trabalhador à
indenização pelos danos sofridos em razão da doença adquirida na reclamada.Com
efeito, trata-se aqui de direito com fato gerador distinto (art. 7º, XXVIII, CF e
art. 950 do CC), de natureza reparatória pelos danos sofridos pela vítima, o qual é
assegurado ao trabalhador que tem a sua capacidade laboral suprimida ou diminuída,
independentemente de ter permanecido ou não na empresa na qual veio a adquirir a
doença ocupacional.Para quantificar o valor mensal da pensão a ser paga ao
reclamante a título de danos materiais, entendo que este deve corresponder ao valor
do que razoavelmente deixou de lucrar em virtude da redução da capacidade
laborativa, não justificando a sua redução ainda que tenha recebido o benefício
previdenciário do auxílio-doença.O valor da pensão deve ser portanto arbitrado em
montante que alcance valor mensal compatível com o do pensionamento, preservando o
equilíbrio entre o princípio da restituição integral e da vedação ao enriquecimento
sem causa.Assim, a indenização por danos materiais deve ser calculada com base no
salário mensal percebido pelo trabalhador, considerando o percentual de 6,25% da
redução de sua capacidade laborativa, conforme classificação pela tabela SUSEP, e a
expectativa de vida do trabalhador, que é de 73,1 anos, conforme a tábua completa
de mortalidade divulgada pelo IBGE no ano de 2019.Uma vez que o reclamante optou
pelo recebimento do valor do lucro cessante de uma só vez, na forma do parágrafo
único do art. 950 do CC, e visto que o pagamento da pensão em parcela única
beneficia o credor, ao permitir um ganho financeiro sem o risco de uma futura ação
revisional decorrente da modificação do estado de fato, entendo ser razoável aqui a
aplicação do redutor de 30% do valor correspondente à soma das parcelas da pensão
mensal vitalícia devida, a fim de evitar o enriquecimento sem causa do autor e
atender aos critérios de razoabilidade e proporcionalidade.Assim, visto que o valor
da pensão mensal vitalícia a que o autor faz jus é de R$ 340,00, considerando a sua
remuneração e o percentual da perda da capacidade laboral, e tendo em vista a
expectativa de sobrevida do autor desde a elaboração do laudo pericial e o deságio
de 30%, fixo o valor da indenização por danos materiais em R$ 95.000,00. Uma vez
que o valor do pedido de indenização atribuído na inicial é apenas uma estimativa
da limitação sofrida pelo trabalhador, limitação esta que somente veio a ser
determinada quando da elaboração do laudo pericial na presente ação, entendo que o
valor da condenação não precisa se limitar aos valores apontados na inicial (art.
12. §2º, da IN nº 41/2018 do TST).Por outro lado, também faz jus o autor à
reparação por danos morais, uma vez que a patologia da qual foi acometido lhe
causou grave sofrimento, com a redução parcial e permanente da sua capacidade
laborativa.No caso da indenização por danos morais, entendo que o julgador deve
levar em consideração a qualidade das partes, o dano e seus efeitos. O juiz deve,
ainda, arbitrar valor capaz de minorar o sofrimento da vítima sem concorrer para o
seu enriquecimento sem causa ou empobrecimento do ofensor. Assim, fixo a
indenização pelos danos morais em R$ 15.000,00, que deverão ser corrigidos a partir
desta data e acrescidos de juros desde o ajuizamento do feito (S 439, TST).Deixo de
seguir aqui o limite estabelecido no §1º do art. 223-G da CLT, eis que
inconstitucional, por violar os princípios da isonomia e da dignidade da pessoa
humana e por comprometer a independência técnica do Juiz (art. 7º XXVIII da CF).Com
efeito, o direito à reparação integral pelos danos morais sofridos trata-se de
direito constitucional fundamental previsto no inciso X do art. 5º da CF/88, não
tendo o constituinte estabelecido limites ao 'quantum' indenizatório, eis que as
lesões extrapatrimoniais devem ser indenizadas em sua plenitude, sem limitadores e
de forma proporcional ao agravo (inciso V do art. 5º da CF/88 e inciso XXVIII do
art. 7º da CF/88).Seguindo o entendimento de que o 'dano moral tarifado' é
incompatível com a Constituição Federal de 1988, o próprio STF se manifestou na
ADPF 130/DF pela inconstitucionalidade da Lei de Imprensa que regulava o valor das
indenizações por dano moral, eis que haveria uma limitação à livre convicção
motivada do juiz.Assim, visto que a tarifação do dano moral traz obstáculo à
indenização ampla (art. 7ª, XXVIII da CF) e compromete a independência técnica do
Juiz do Trabalho, afasto a aplicação do sistema do 'dano moral tarifado'.Fixo os
honorários periciais no importe de R$ 2.500,00, a cargo da reclamada, sucumbente no
objeto da perícia (artigo 790-B da CLT).

 Da gratuidade da justiçaTendo o reclamante comprovado a insuficiência de recursos


para o pagamento das custas do processo, através da declaração de pobreza firmada
‘sob as penas da lei’, defiro aqui os benefícios da justiça gratuita (art. 790, §4º
e art. 769 da CLT c/c art. 99, parágrafo 3º do CPC e Súmula 463 do TST). Cabe
ressaltar aqui que o direito fundamental do acesso à justiça está previsto no
artigo 5°, XXXV, da CF e no artigo 8° da Convenção Americana de Direitos Humanos
(Pacto de São José da Costa Rica), Lei com status de supralegal conforme declaração
da Suprema Corte.O direito em análise significa dizer que nenhuma condição pessoal
(raça, cor, sexo, situação econômica, entre outras – artigo 1° da Convenção
Americana de Direitos Humanos) pode ser posta como obstáculo para o usufruto do
direito de acesso ao Judiciário. Como já asseverou o STF, “justiça é bem de
primeira necessidade” (RE 603.583).Assim, a condição de pobre e não poder arcar com
os custos do processo, não pode ser fator impeditivo para se obter pronunciamento
jurisdicional. Essa é a premissa básica, que não comporta exceção.

 Dos honorários de sucumbênciaSendo o reclamante sucumbente em parte mínima do


pedido e diante da regra da reparação integral do vencedor da ação constante no
art. 791-A da CLT e no art. 85 do CPC/15, deverá a reclamada responder, por
inteiro, pelas despesas e pelos honorários (art. 86 do CPC/15).Desse modo, condeno
a reclamada ao pagamento de honorários advocatícios na base de 10% sobre o valor
atualizado da condenação (art. 791-A da CLT). 

 III - DISPOSITIVODiante do acima exposto, i) julgo extinto sem resolução do


mérito, com fulcro no art. 485, I, do CPC, as pretensões referentes aos descontos;
e, por fim, ii) julgo a presente ação PROCEDENTE, para condenar a reclamada,
Volkswagen do Brasil Indústria de Veículos Automotores Ltda, a reconhecer a
estabilidade provisória acidentária e a pagar ao reclamante, Paulo Cesar da Silva,
os seguintes títulos, nos termos da fundamentação supra, que passa a integrar este
dispositivo:1) indenização por danos morais;2) indenização por danos materiais;3)
honorários sucumbenciais.As verbas ilíquidas serão apuradas em regular liquidação
de sentença conforme parâmetros descritos na fundamentação, autorizada a dedução de
valores comprovadamente pagos sob a mesma rubrica.Correção monetária na forma da
Súmula 381 do TST e do art. 459, § 1º, da CLT, inclusive os valores relativos ao
FGTS (OJ 302 da SBDI-1/TST).Correção monetária dos honorários advocatícios, na
forma do artigo 1º, § 2º, da Lei 6.899/81, incidente a partir do ajuizamento da
ação, quando o trabalho foi realizado. Conforme decisão do STF de efeito geral e
vinculante, nos autos da ADC 58, foi conferida interpretação conforme a
Constituição ao art. 879, § 7º, e ao art. 899, § 4º, da CLT, na redação dada pela
Lei 13.467 de 2017, no sentido de considerar que à atualização dos créditos
decorrentes de condenação judicial e à correção dos depósitos recursais em contas
judiciais na Justiça do Trabalho deverão ser aplicados, até que sobrevenha solução
legislativa, os mesmos índices de correção monetária e de juros que vigentes para
as condenações cíveis em geral, quais sejam a incidência do IPCA-E na fase pré-
judicial e, a partir do ajuizamento da ação, a incidência da taxa SELIC (art. 406
do Código Civil). Também foram modulados os efeitos da decisão, ao entendimento de
que os processos em curso devem ter aplicação, de forma retroativa, da taxa Selic
(juros e correção monetária), sob pena de alegação futura de inexigibilidade de
título judicial fundado em interpretação contrária ao posicionamento do STF (art.
525, §§ 12 e 14, ou art. 535, §§ 5º e 7º, do CPC). Logo, aplica-se aos presentes
autos o índice IPCA-E na fase pré-judicial e, a partir do ajuizamento da ação, a
incidência da taxa SELIC (art. 406 do Código Civil).A atualização monetária dos
honorários periciais é fixada pelo artigo 1º da Lei 6.899/1981. Em relação à
indenização por danos morais, a correção monetária incide a partir da presente
decisão, quando se considera liquidado o quantum (S 439, TST).Sobre o montante
devidamente corrigido, aplicam-se juros legais equivalente à TR, previsto no artigo
39, caput, da Lei 8.177/1991, compreendido entre a data de vencimento da obrigação
até a data da citação, referente à fase pré-judicial, conforme decidido na ADC 58.
Frise-se, por oportuno, que o STF, na ADC 58, conferiu interpretação conforme à
Constituição Federal ao artigo 879, § 7º, da CLT e ao artigo 899, § 4º, da CLT para
afastar a TR como índice de atualização monetária e não como juros legais.Após o
ajuizamento da reclamação trabalhista, considerando que a taxa Selic engloba não só
a atualização monetária, mas também os juros de mora (artigo 406 do Código Civil),
são indevidos os juros de mora de 1% ao mês, sob pena de anatocismo.Não incidem
juros de mora sobre os honorários advocatícios arbitrados, pois estes somente são
devidos a partir da prolação da sentença (artigo 407 do Código Civil). Não incide
ainda juros de mora sobre os honorários periciais.Tendo em vista a natureza
indenizatória das verbas reconhecidas na presente ação, não há que se falar na
incidência de contribuição previdenciária e imposto de renda.Nos termos do art. 495
do CPC, a sentença condenatória vale como título constitutivo de hipoteca
judiciária sobre imóveis. Custas pela reclamada no valor de R$ 2.200,00, calculadas
à base de 2% sobre o valor provisoriamente arbitrado à causa de R$ 110.000,00.
Honorários periciais a cargo da reclamada.Defiro para o demandante os benefícios da
justiça gratuita.As partes ficam advertidas de que eventual recurso de embargos de
declaração oposto que não aponte, expressamente, para a caracterização de
contradição (entre os termos da própria decisão, e não entre a decisão e a prova
dos autos), obscuridade (condição específica que impeça que a sentença seja
inteligível) ou omissão (em relação aos pedidos formulados pelas partes, e não
argumentos das peças processuais que hajam sido rechaçados, de forma implícita,
pelos fundamentos da sentença), não será conhecido e caracterizará intuito
procrastinatório e sujeitará a parte ao pagamento de multa. Destaca-se, ainda, que
erros materiais não exigem embargos de declaração para serem sanados, conforme art.
897-A, parágrafo único, da CLT. Observe-se os termos da Portaria do Ministério da
Fazenda n. 582/2013 quanto à intimação da União.Intimem-se as partes.Nada mais. 
SAO BERNARDO DO CAMPO/SP, 19 de novembro de 2021.

LEOPOLDO ANTUNES DE OLIVEIRA FIGUEIREDO

Juiz do Trabalho Substituto

Data: 19/11/2021 17:42:42

Conteúdo gerado pelo aplicativo do JTe

Você também pode gostar