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1000792-95.2021.5.02.0461
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
ATOrd 1000792-95.2021.5.02.0461
Da carência da açãoO interesse de agir é uma das condições da ação que consiste na
presença no trinômio 'necessidade', 'adequação' e utilidade' na prestação
jurisdicional solicitada. Assim, se da análise abstrata da pretensão postulada se
verifica que há a necessidade de intercessão do Estado para a satisfação do alegado
direito, podendo se extrair deste um resultado útil para uma das partes, presente
estará o interesse de agir.É o que ocorre no presente caso, em que o Reclamante
pleiteia a indenização pelos danos morais e materiais sofridos em razão da doença
ocupacional adquirida na reclamada e que teria reduzido a sua capacidade para o
trabalho, não sendo o fato de o autor permanecer ativo na reclamada capaz de
excluir, por si só, o interesse de agir.Ademais, cumpre ressaltar aqui que o exame
das condições da ação pelo órgão judiciário a que for submetido o conflito de
interesses é feito partindo da premissa de que o alegado pelo reclamante
corresponde à realidade, independentemente da produção de provas, exame in
assertionis, isto é com base apenas no que é alegado pelo autor.Portanto, cabe ao
juiz, após a instrução do feito e quando da análise do mérito, decidir sobre a
veracidade ou não das alegações das partes, não sendo a mera afirmação de uma das
partes acerca da existência ou não do direito pleiteado capaz de, por si só,
afastar a prestação jurisdicional.Destarte, presente o interesse de agir, afasto
aqui a preliminar de carência da ação.
Por se tratar de ação cujo objeto depende de prova exclusivamente técnica, foi
indeferida a produção da prova oral pretendida pelas partes.Ressalto que ambas as
partes participaram da perícia e puderam se manifestar quanto ao laudo
pericial.Além disso, as atividades e o setor de trabalho do reclamante são
incontroversas.
“se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício
ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das
despesas do tratamento e lucros cessantes até o fim da convalescença, incluirá
pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da
depreciação que ele sofreu”.Desse modo, para fazer jus à reparação, basta a
demonstração da diminuição da capacidade para a profissão que o acidentado exercia
no momento do infortúnio. De acordo com lição de Sebastião Geraldo de Oliveira: “Em
tese, quase todos os acidentados poderiam ser readaptados para outras atividades,
mas não cabe impor ao lesado a busca compulsória de profissão diversa, até porque o
serviço de reabilitação e readaptação profissional no Brasil ainda funciona
precariamente.” (OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente de
trabalho ou doença ocupacional, 2009, p. 300-301).Extrai-se, do comando normativo
citado, que as indenizações são de quatro espécies: a) pelo tratamento da vítima,
b) pelos lucros cessantes até o fim da convalescença, c) pensão mensal e d) outros
prejuízos comprovados pela vítima.Assim, diante da conclusão da perita médica
quanto a redução parcial e permanente da capacidade do autor, tenho como cabível a
concessão de pensão mensal e vitalícia ao autor.Vale ressaltar aqui que o fato de o
contrato de trabalho permanecer ativo e de o autor exercer atividade compatível com
a limitação sofrida não é capaz, de, por si só, afastar o direito do trabalhador à
indenização pelos danos sofridos em razão da doença adquirida na reclamada.Com
efeito, trata-se aqui de direito com fato gerador distinto (art. 7º, XXVIII, CF e
art. 950 do CC), de natureza reparatória pelos danos sofridos pela vítima, o qual é
assegurado ao trabalhador que tem a sua capacidade laboral suprimida ou diminuída,
independentemente de ter permanecido ou não na empresa na qual veio a adquirir a
doença ocupacional.Para quantificar o valor mensal da pensão a ser paga ao
reclamante a título de danos materiais, entendo que este deve corresponder ao valor
do que razoavelmente deixou de lucrar em virtude da redução da capacidade
laborativa, não justificando a sua redução ainda que tenha recebido o benefício
previdenciário do auxílio-doença.O valor da pensão deve ser portanto arbitrado em
montante que alcance valor mensal compatível com o do pensionamento, preservando o
equilíbrio entre o princípio da restituição integral e da vedação ao enriquecimento
sem causa.Assim, a indenização por danos materiais deve ser calculada com base no
salário mensal percebido pelo trabalhador, considerando o percentual de 6,25% da
redução de sua capacidade laborativa, conforme classificação pela tabela SUSEP, e a
expectativa de vida do trabalhador, que é de 73,1 anos, conforme a tábua completa
de mortalidade divulgada pelo IBGE no ano de 2019.Uma vez que o reclamante optou
pelo recebimento do valor do lucro cessante de uma só vez, na forma do parágrafo
único do art. 950 do CC, e visto que o pagamento da pensão em parcela única
beneficia o credor, ao permitir um ganho financeiro sem o risco de uma futura ação
revisional decorrente da modificação do estado de fato, entendo ser razoável aqui a
aplicação do redutor de 30% do valor correspondente à soma das parcelas da pensão
mensal vitalícia devida, a fim de evitar o enriquecimento sem causa do autor e
atender aos critérios de razoabilidade e proporcionalidade.Assim, visto que o valor
da pensão mensal vitalícia a que o autor faz jus é de R$ 340,00, considerando a sua
remuneração e o percentual da perda da capacidade laboral, e tendo em vista a
expectativa de sobrevida do autor desde a elaboração do laudo pericial e o deságio
de 30%, fixo o valor da indenização por danos materiais em R$ 95.000,00. Uma vez
que o valor do pedido de indenização atribuído na inicial é apenas uma estimativa
da limitação sofrida pelo trabalhador, limitação esta que somente veio a ser
determinada quando da elaboração do laudo pericial na presente ação, entendo que o
valor da condenação não precisa se limitar aos valores apontados na inicial (art.
12. §2º, da IN nº 41/2018 do TST).Por outro lado, também faz jus o autor à
reparação por danos morais, uma vez que a patologia da qual foi acometido lhe
causou grave sofrimento, com a redução parcial e permanente da sua capacidade
laborativa.No caso da indenização por danos morais, entendo que o julgador deve
levar em consideração a qualidade das partes, o dano e seus efeitos. O juiz deve,
ainda, arbitrar valor capaz de minorar o sofrimento da vítima sem concorrer para o
seu enriquecimento sem causa ou empobrecimento do ofensor. Assim, fixo a
indenização pelos danos morais em R$ 15.000,00, que deverão ser corrigidos a partir
desta data e acrescidos de juros desde o ajuizamento do feito (S 439, TST).Deixo de
seguir aqui o limite estabelecido no §1º do art. 223-G da CLT, eis que
inconstitucional, por violar os princípios da isonomia e da dignidade da pessoa
humana e por comprometer a independência técnica do Juiz (art. 7º XXVIII da CF).Com
efeito, o direito à reparação integral pelos danos morais sofridos trata-se de
direito constitucional fundamental previsto no inciso X do art. 5º da CF/88, não
tendo o constituinte estabelecido limites ao 'quantum' indenizatório, eis que as
lesões extrapatrimoniais devem ser indenizadas em sua plenitude, sem limitadores e
de forma proporcional ao agravo (inciso V do art. 5º da CF/88 e inciso XXVIII do
art. 7º da CF/88).Seguindo o entendimento de que o 'dano moral tarifado' é
incompatível com a Constituição Federal de 1988, o próprio STF se manifestou na
ADPF 130/DF pela inconstitucionalidade da Lei de Imprensa que regulava o valor das
indenizações por dano moral, eis que haveria uma limitação à livre convicção
motivada do juiz.Assim, visto que a tarifação do dano moral traz obstáculo à
indenização ampla (art. 7ª, XXVIII da CF) e compromete a independência técnica do
Juiz do Trabalho, afasto a aplicação do sistema do 'dano moral tarifado'.Fixo os
honorários periciais no importe de R$ 2.500,00, a cargo da reclamada, sucumbente no
objeto da perícia (artigo 790-B da CLT).