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AO JUÍZO DA __ VARA DO TRABALHO DE BELO HORIZONTE/MG

MARIA MARLI OLIVEIRA CAMPOS, brasileira, casada, do lar, inscrita no CPF nº


111.111.111.-11 e do RG MG 11.111.111, telefone celular (31) 99999999, endereço eletrônico
mariamarlioc@gmail.com, residente e domiciliada na Rua Antônio Olinto, 96, Centro, Sete
Lagoas/MG, CEP 35700-002, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, por sua procuradora
in fine assinada, ajuizar a presente:

RECLAMAÇÃO TRABALHISTA

em face de CLÍNICA DE FISIOTERAPIA MONTES GERAIS, pessoa jurídica de direito


privado, inscrita no CNPJ nº 11.111.111-11, endereço eletrônico
clinica.fisioterapiamontesgerais@gmail.com, sediada na rua Tupis. Nº 36, Centro – Belo
Horizonte/MG, CEP 31380-123, e;

HOSPITAL LIFE CORPO SAUDÁVEL, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº
12.112.112-22, endereço eletrônico hospital.lifecorposaudavel@gmail.com, sediada na rua Tupis.
Nº 36, Centro – Belo Horizonte/MG, CEP 31380-123, pelas razões de fato e de direito a seguir
expostas:

I) DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

A reclamante não possui condições de arcar com o pagamento das custas processuais sem prejuízo
do seu próprio sustento, uma vez que preenche os requisitos estabelecidos no art. 790, §§3º e 4º da
CLT para a concessão, visto que não se encontra com renda formal e nem carteira assinada.
O direito à justiça gratuita está previsto em nossa Constituição Federal, em seu art.5º, LXXIV, que
assim dispõe:

"Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: (...) LXXIV - o Estado prestará
assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de
recursos;

Portanto, conforme CTPS anexada e o último vínculo empregatício é o apontado nessa exordial,
requer que lhe seja concedido tal benefício.

II) DA RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA

A reclamante foi contratada no dia 02/01/2021 pela 1ª reclamada, CLÍNICA DE FISIOTERAPIA


MONTES GERAIS, na função de fisioterapeuta, cujas funções eram prestadas para a 2ª reclamada,
HOSPITAL LIFE CORPO SAUDÁVEL, assim caracterizadas como a tomadora de serviços.

A prestação de serviços para a 2ª reclamada ficou caracterizada através das atividades que eram
diretamente realizadas pela reclamante no âmbito interno do referido Hospital, na qual a reclamante
possuía subordinação direta a 2ª reclamada, esta sendo beneficiária da prestação de serviços da
obreira: se trata, portanto, de uma terceirização ilícita.

Com efeito, cabe a tomadora de serviços eleger a empresa que realiza a intermediação de mão de
obra com cautela, tendo em vista as possíveis práticas lesivas e ilegais ao empregado contratado
pela empregadora que elege a terceirização, devido a existência de responsabilidades com o polo
passivo hipossuficiente.

Assim, devido a benesse diretamente obtida pela empresa tomadora de serviços com o labor do
empregado, torna-se à esta responsabilidade perante as obrigações inadimplidas por parte da
empresa empregadora.

Dessa forma, é evidente que a 2ª reclamada possui a obrigação de arcar com os prejuízos causados à
reclamante. Bem como também que a 1ª reclamada responderá conjuntamente àquela pelas verbas
devidas, já que na responsabilidade solidária ambas as empresas respondem igualitariamente às
inadimplências cometidas.
Logo, diante de todo o exposto, requer que Vossa Excelência declare a responsabilidade solidária da
2ª reclamada, interpondo a ela como polo passivo desta reclamação, garantindo à reclamante os
devidos direitos.

III) DOS FATOS

A reclamante foi contratada no dia 02/01/2021 pela 1ª reclamada CLÍNICA DE FISIOTERAPIA


MONTES GERAIS na função de fisioterapeuta, recebendo remuneração de R$2.500,00 (dois mil e
quinhentos reais), tendo sido dispensada em 10/06/2023, sem as devidas verbas trabalhistas e
rescisórias de direito.

Insta salientar que no período laborado a reclamada JAMAIS teve sua CTPS anotada e inclusive
realizava trabalho terceirizado à 2ª reclamada HOSPITAL LIFE CORPO SAUDÁVEL,
exercendo a função de fisioterapeuta no âmbito interno do Hospital na modalidade respiratória.

Com efeito, a reclamante realizava atividades evidentemente insalubres, tendo em vista que eram
realizadas no apoio fisioterapêutico respiratório nos leitos, unidades de internação e,
principalmente, para pacientes internados nos CTI’S adulto, cardiovascular e cardiológico do
referido Hospital.

Assim, possuía contato com secreções respiratórias e total exposição à inúmeras doenças
infectocontagiosas, devido aos pacientes portadores e aqueles que se encontravam em isolamento.

Em relação a jornada de trabalho, a reclamante laborava de segunda à sábado das 07h às 19h, com
intervalo intrajornada de 30 minutos.

IV. DO RECONHECIMENTO DO VÍNCULO EMPREGATÍCIO

Segundo o art. 3º da CLT, os requisitos para reconhecimento de vínculo empregatício são


habitualidade e não eventualidade, pessoalidade, onerosidade e subordinação, ipsis litteris:

“Art. 3º - Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual
a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.”
No caso da reclamante, todos os requisitos estão presentes, os quais enumero:

- Habitualidade e não eventualidade: a reclamante realizava trabalho de segunda à sábado das


07h às 19h, exclusivamente às reclamadas e de forma contínua, a qual se prolongou por
mais de 02 anos;

- Pessoalidade: o trabalho era exercido somente pela reclamante no hospital, sem


substituições;

- Onerosidade: a reclamante auferia salário mensal de R$2.500,00, este valor sendo pago
diretamente pela 2ª reclamada;

- Subordinação: a reclamante possuía funções determinadas e supervisionadas no âmbito do


hospital, além de se sujeitar às exigências das reclamadas.

Portanto, é evidente a relação de trabalho entre empregado e empregador, assim, sujeitando a 1ª


reclamada a reconhecer o vínculo empregatício e proceder a anotação da CTPS da reclamante, nos
termos do art. 29 da CLT.

V. DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE

A reclamante laborava em ambiente hostil e contaminado, colocando sua própria saúde em risco e
em eminente risco de contaminação devido ao âmbito do leito hospitalar e de contato direto com os
pacientes.

Preceitua o art. 189 da CLT:

“Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua natureza, condições ou
métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de
tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos
seus efeitos.”.

Além disso, determina multa conforme o grau de insalubridade o seguinte dispositivo da CLT:

“Art. 192 - O exercício de trabalho em condições insalubres, acima dos limites de tolerância
estabelecidos pelo Ministério do Trabalho, assegura a percepção de adicional respectivamente de
40% (quarenta por cento), 20% (vinte por cento) e 10% (dez por cento) do salário-mínimo da
região, segundo se classifiquem nos graus máximo, médio e mínimo.”.
Em todo o período trabalhado, a reclamante manteve contato permanente com certos agentes
insalubres previstos na NR 15 no anexo nº 14, jamais tendo recebido o adicional correspondente,
dessa forma violando os artigos 189, 192 e 200 da CLT e o art. 7º, incisos XXII e XXIII da
Constituição Federal.

Dessa maneira, conforme o local de trabalho a realização do mesmo pela Reclamante, o labor era
prestado em contato com os seguintes agentes insalubres:

“Insalubridade de grau médio

Trabalhos e operações em contato permanente com pacientes, animais ou


com material infecto-contagiante, em:

- hospitais, serviços de emergência, enfermarias, ambulatórios, postos de


vacinação e outros estabelecimentos destinados aos cuidados da saúde
humana (aplica-se unicamente ao pessoal que tenha contato com os
pacientes, bem como aos que manuseiam objetos de uso desses pacientes,
não previamente esterilizados);”.

Portanto, requer o adicional de insalubridade equivalente à 20% do salário-mínimo vigente,


totalizando em um valor total de R$7.656,00 (sete mil seiscentos e cinquenta e seis reais), dividido
mensalmente em R$264,00 (duzentos e sessenta e quatro reais).

VI. DAS HORAS EXTRAS

Como explicitado acima, a reclamante tinha uma jornada de trabalho semanal de 6 dias e diária de
12 horas, com intervalo intrajornada de 30 minutos, totalizando uma jornada de trabalho de 72
horas.

A jornada máxima prevista para os profissionais da fisioterapia é de 44h semanais, totalizando


extrapolação da jornada máxima de trabalho semanal prevista legalmente em 28 horas, segundo o
art. 58 da CLT.

Além disso, também preceitua o art. 58 da CLT que “a duração normal do trabalho, para os
empregados em qualquer atividade privada, não excederá de 8 (oito) horas diárias (...)”.
Assim, verifica-se que a reclamante laborou 28 horas semanais a mais do que o permitido em lei,
conforme art. 7º, inc. III da Constituição, que a jornada de trabalho normal semanal não poderá
ultrapassar 44 horas.

Verifica-se que a reclamante recebia um salário de R$2.500 para laborar 5 dias em 8 horas diárias e
um dia 4 horas diárias, com sua hora-salário no valor de R$11,36.

No período trabalhado (02/01/21 a 10/06/23), totaliza-se 4.060 horas extras, o que equivale à
R$46.121,60 (quarenta e seis mil, cento e vinte e um reais e sessenta centavos).

VII. DO FGTS NÃO DEPOSITADO

Conforme se verifica do extrato em anexo, o FGTS nunca foi depositado para a reclamante, sendo
devido todo o período trabalhado acrescido de da multa de 40%, conforme art. 18 da CLT.

Em análise, depreende-se que há saldo de R$8.400,00, já aplicada a multa e calculado no período


devido à reclamante.

VIII. DO 13º E DAS FÉRIAS NÃO DEPOSITADAS

A reclamante não aduziu o 13º e as férias devidas, conforme art. 130 da CLT e art. 1º, § 2 da Lei
4090/62.

No período trabalhado, a reclamante faz jus ao 13º salário no valor de R$6.041,66 (seis mil e
quarenta e um reais e sessenta e seis centavos).

Já em relação as férias, acrescidas de 1/3, a reclamante faz jus ao valor de R$1.993,74 (mil
novecentos e noventa e três e setenta e quatro centavos).

IX. DO INTERVALO INTRAJORNADA

Como explicitado acima, a reclamante fazia somente 30 minutos de intervalo intrajornada, em total
desrespeito ao intervalo mínimo de 01 hora para descanso e refeição durante o expediente.
Assim, na jornada semanal de segunda a sábado não foi observado o disposto no art. 71 da CLT, o
qual preceitua que “(...) Em qualquer trabalho contínuo, cuja duração exceda de 6 (seis) horas, é
obrigatória a concessão de um intervalo para repouso ou alimentação, o qual será, no mínimo, de 1
(uma) hora (...)”, havendo, dessa forma, incidência do disposto no § 4º do mesmo dispositivo legal,
ipssis litteris:

“A não concessão ou a concessão parcial do intervalo intrajornada mínimo,


para repouso e alimentação, a empregados urbanos e rurais, implica o
pagamento, de natureza indenizatória, apenas do período suprimido, com
acréscimo de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor da remuneração da
hora normal de trabalho.”

Dessa maneira, requer sejam condenadas as reclamadas ao pagamento da concessão parcial da


intrajornada equivalente a 30 minutos diários, com acréscimo de 50% (cinquenta por cento) sobre o
valor da remuneração da hora normal de trabalho, de segunda a sábado, o que corresponde ao longo
de todo o período trabalhado em 435 horas, por fim, totalizando em aproximadamente R$ 7.412,40.

X. PEDIDOS

Diante dos fatos acima expostos, requer total procedência da ação, condenando as reclamadas
solidariamente nos termos dos seguintes pedidos e obrigações:

a) pagamento total do FGTS;

b) multa de 40% sobre o FGTS;

c) pagamento das horas extras devidas;

d) pagamento do adicional de insalubridade;

e) pagamento do 13º salário;

f) honorários advocatícios 20%;

g) reflexos do adicional de insalubridade no 13º, FGTS, férias e horas extras;

h) reflexos do adicional de insalubridade no 13º;

i) pagamento do intervalo intrajornada;


j) devida assinatura da CTPS e consequente reconhecimento de vínculo empregatício.

XI. REQUERIMENTOS

Requer respeitosamente:

a) Notificação das reclamadas para contestarem a presente ação;

b) a produção de todas as provas em direito admitidas, notadamente depoimentos de testemunhas e


da parte contrária;

c) a intimação da 2ª reclamada para trazer aos autos todos os comprovantes de pagamento de


salários, cartões de ponto, nos termos do artigo 400 e seguintes do CPC;

d) custas processuais, correção monetária e juros de mora a partir do ajuizamento da presente ação;

e) os benefícios da Assistência Judiciária Gratuita à reclamante por ser pobre em sentido legal e não
ter condições arcar com as custas processuais sem prejuízo do seu próprio sustento.

Dá-se à presente o valor ESTIMADO de R$ 125.575,16 (cento e vinte e cinco mil quinhentos e
setenta e cinco reis e dezesseis centavos) para fins de alçada.

Termos em que, pede deferimento.

Belo Horizonte, 25 de agosto de 2023.

Evellyn Ribeiro

OAB/MG 705740

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