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Meios de Resolução de Litígios

 Programa
I. O Conflito
II. Meios de Resolução de Litígios
III. Mediação e Negociação
IV. Arbitragem Voluntária
V. Organização do Sistema Judiciário

Parte I – O Conflito

1. Natureza e Conceito
2. Etapas do Conflito
3. Classificações
4. Ordens Normativas
(Manual de Negociação, António Damasceno Correia. Pág. 4-12)

 Regras para resolver conflitos:

“O Homem, mais do que qualquer outro animal que viva em enxames ou rebanhos, é
por natureza um animal social” -Aristóteles

Sociedade Relacionamentos Recursos Interesses


(problemas) (interação) (escassez) (-comuns ou – individuais)

 Para existir uma sociedade é necessário que exista relação de vários indivíduos entre si, ou
seja, que haja um relacionamento e uma interação entre os vários para que se possa
evoluir. Cada individuo tem os seus respetivos interesses, que por sua vez podem ser
comuns ou individuais. Quando há vários interesses comuns estes podem resultar em
confronto /conflito pois, os recursos nem sempre são suficientes para satisfazer a vontade
de todos, logo há escassez.

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 Devido a esses confrontos para disputa do mesmo interesse, é necessário que existam
regras para resolver conflitos para que não acabem em tragédias e para que dessa forma
os indivíduos consigam, de forma justa, estarem ambos satisfeitos e consigam evoluir.

“ O Homem, mais do que qualquer outro animal que viva em enxames ou rebanhos, é
por natureza um animal social.” - Aristóteles

Lei do Mais
Forte

Regras Acordo
Conflito

 Há outras formas de resolver conflitos sem ser através da Lei e com o Direito?

 Sim há, por exemplo através de negociação ou de acordo, ou seja, através do senso
comum de ambas as partes.

Exemplo: O individuo A e B estão ambos a morrer à fome, sendo que para satisfaze-
los precisam ,cada um, de uma maçã inteira. No entanto, apenas existe uma única
maçã para os 2 e não há maneira de a dividir, tem que permanecer inteira.
Como resolver sem recorrer às regras de Direito e Lei?

R: Através de um acordo onde ambas as partes, tanto A como B aceitem. A aceita


então de boa vontade, que B coma ele a maçã,e desta forma resolve-se o conflito.

 Então porque não resolvemos tudo na vida através de um acordo?

Problemas: -Porque há situações em que ambas as partes não conseguem ou


não querem chegar a um acordo e desta forma, não se resolve o conflito.
- Porque se resolvêssemos sempre todos os conflitos através de um acordo, iria
nos levar à inércia, ou seja, não evoluíamos na sociedade e perante ela. E
estaríamos a usar o “nosso” esforço para discutir o acordo, sendo que no final
não nos levaria a lado nenhum, pois como dito anteriormente, não
evoluiríamos na sociedade.

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-Porque muitas das vezes, as partes iriam acabar por desistir devido ao esforço
utilizado, levando novamente a que não estejamos a evoluir na sociedade.

 Resolver através da Lei do mais forte : Problemas

 Ao resolver através da Lei do mais forte, acabaria no fundo por não existir conflito.
Uma vez que ao utilizar este parâmetro vai existir sempre alguém mais forte do
que o atual mais forte, logo aqui o individuo e a comunidade também não iriam
evoluir, pois devido à existência infinita de alguém superior, estes não
conseguiriam fazer planos a longo termo para a vida.

A Natureza Social dos Humanos

Ordem Natural Ordem Social


Modo de Organização

A comunidade tem que ter regras para resolver conflitos e consequentemente atingir o
seu objetivo de evoluir.
Uma sociedade deve estar sempre em evolução.

O Conflito
Pode ser:

 Positivo: expressão de uma diversidade que promove a criatividade e o


desenvolvimento.

 Negativo: enquanto resultado da incompatibilidade entre os interesses


conflituantes.

Etapas do Conflito

1-Potencial (conflito ainda oculto) 2-Percebido (conflito revela-se em atitudes)


3-Pesaroso (conflito causa tensão) 4-Patente (conflito declarado, litigio)

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 Potencial (conflito oculto): aqui as partes conseguem perceber que para a
satisfação dos seus interesses sentem que vai haver um confronto/conflito. Este
ainda não se deu mas ‘sente-se’ que irá existir.
 Percebido: aqui as partes percebem que o conflito irá realmente existir.
 Pesaroso: Nesta etapa existe a tensão de conflito, ou seja, saber se o conflito
vai realmente passar a um confronto mais grave ou se não irá passar ‘daquilo’.
 Patente: Nesta fase o confronto está declarado, já existe e há discussão por
parte dos interessados. Há conflito.

Litígio
O conflito patente resulta de 3 condições:

1. Colisão de interesses
1- Objetivos (de natureza material, financeiros, territoriais…)
2- Subjetivos (de natureza relacional, éticos, políticos,…)

2. Interesse em obter vantagem à custa de prejuízo de outrem

3. Atuar em conformidade com condições anteriores

Classificação de Conflitos

 Públicos ou Privados
- Manifestos, declarados, abertos ou ocultos, escondidos

 Individuais ou Coletivos
-Opõe um individuo a outro ou opões um conjunto de indivíduos
a uma organização

 Premeditados ou Espontâneos
- Planeados, racionais ou impulsivos, emocionais

Litígio Jurídico

Confli Conflit Litígio Litígio 4

to o
 A fim de prevenir e resolver os conflitos inerentes à vida em sociedade, as
comunidades humanas organizam-se através de ordens normativas positivas
que regulam as relações entre os membros dessa comunidade.
 Nota: quando em causa está um conflito negativo, patente -> a Lei intervém

 Ordens Normativas

 Religiosa
 Moral São complementares
entre si.
 Cortesia (trato social)
 Jurídica

 Complementaridade da Regulamentação

 Direito
 Ética
 Religião
 Usos

Meios de Resolução de Litígios

 Não há apenas os Tribunais


 Não há apenas conflitos/litígios jurídicos
 Não há apenas o critério da Lei

Parte II- Meios de Resolução de Litígios


Págs. 17 a 39

1. Noção
2. Classificações
3. Tipologias
4. Os atores
5. O reconhecimento jurídico dos MRL
(livro Mariana França Gouveia- Curso de Resolução Alternativa de Litígios, pp 17 a 39)

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 Meios de Resolução de Litígios

Noção: é o processo pelo qual se procura pôr termo a um conflito mediante a conformação dos
interesses das partes de acordo com um determinado sentido de “justiça”. (ou seja, uma
situação justa, onde é atribuído a cada um aquilo que lhe é devido).

(livro-p.17): Os meios de resolução alternativa de litígios, tradução livre da designação inglesa


“alternative dispute resolution” (ADR), podem definir-se como o conjunto de procedimentos de
resolução de conflitos alternativos aos meios judiciais. A definição é propositadamente vaga, na
medida em que não existe qualquer tipologia fechada. Não se trata portanto de um meio de
resolução de litígios não judicial, embora se funde ainda no consenso, apartando-se da clássica
forma de resolver o litígio através do tribunal. A definição de resolução alternativa de litígios
deve, assim, ser alargada a todos os meios de resolução de conflitos que sejam diferentes da
decisão por julgamento em tribunal estadual. É uma definição com uma aparência pouco
científica, mas o leitor terá a paciência de perceber que as definições são meros exercícios de
racionalização do caos, não transformando a sua natureza.

 Processo: sequência de atos através dos quais se realiza algo;

 Conflito: confronto de interesses, independentemente da etapa em que se


encontra;

 Justiça: reconhecimento de Direitos (e /ou meios de interesses) que permite


atribuir a cada um o que lhe é devido.

 Classificação de MRL

Público / Privado:

 Pública- a qualquer pessoa tem acesso.


 Privada- apenas as partes tem acesso.

Obrigatório / Voluntário:

 Obrigatório- a adesão ao MRL é imposto. Ex.: tribunal e arbitragem


necessária
 Voluntário- a adesão depende unicamente da vontade das partes.
Ex.: MARL

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Pág.18-19:

Os MRL são, por regra, voluntários – ou seja, depende unicamente da vontade das
partes aderir ou não a um mecanismo alternativo. Esta sua característica permitia
diferenciá-los dos meios judiciais de resolução de litígios, sempre obrigatórios.

No entanto, ainda dentro dos MRL podemos encontrar meios obrigatórios. Desde logo,
a arbitragem necessária, imposta por lei e em 2º lugar os julgados de Paz, se
entendermos que a sua jurisdição não está na disponibilidade do autor. Por fim,
discute-se hoje internacionalmente a bondade de soluções de mediação obrigatória.

São, portanto, voluntários- a negociação, a mediação, a conciliação e a arbitragem


voluntária. É obrigatória a arbitragem necessária. Os Julgados de Paz serão voluntários
ou obrigatórios conforme a posição que se tome sobre a sua competência.

Adjudicatório / Consensual:

 Adjudicatório poder de decisão de terceiro.


 Consensual visam o acordo, sendo a decisão das partes.

Pág. 19-20:

Os Meios de Resolução Alternativa de Litígios podem ainda ser adjudicatórios ou


consensuais.

Os mecanismos adjudicatórios, de que a arbitragem é o exemplo típico, são aqueles


que atribuem o poder de decisão a um terceiro.

Os consensuais, por seu turno, visam a solução através da obtenção de um acordo,


permanecendo nas partes, portanto, a capacidade de decisão de litígio.

Baseado nos interesses / Baseado nos direitos:

 Interesses- funda-se nos interesses das partes, independentemente do


Direito.
 Direito- a decisão fundamenta-se nos direitos legais das partes.

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Pág.20

A ótica dos direitos é claramente a tradicional, a dos tribunais estaduais. É a que surge
na arbitragem e, em regra, em conciliação. Baseia-se na discussão dos argumentos
legais de cada parte (incluindo evidentemente a prova).

A outra prespetiva (interesses) de tratamento do problema é verdadeiramente nova


para os juristas- e por isso de difícil de perceção. Tem como ponto de vista dos
interesses das partes, individualmente considerados, desconsiderando o que o Direito
determina sobre o seu caso. Tenta conciliar interesses e não direitos, procurando a
pacificação do conflito em detrimento da solução juridicamente correta. A mediação
na sua vertente facilitadora é claramente um meio de resolução alternativa de litígios
baseado nos interesses.

Relação de Poder / Relação de Paridade:

 Poder- decisão baseada na decisão do mais forte.


 Paridade- decisão resulta das partes que se encontram em igualdade de
forças.

Pág.21

Poder aqui é considerado como a capacidade de coagir alguém afazer algo que
voluntariamente não faria. São exemplos de exercícios de poder a agressão física
(desde individual até às guerras) e a greve. O Poder é também forma de resolução de
conflitos quando existe uma relação de dependência entre as partes, quer se trate de
relações familiares, laborais, comerciais ou internacionais. Não, é, claro um
instrumento legítimo de resolução de conflitos, porque não parte de uma situação de
igualdade, pressupondo antes desigualdade. Mas, por exemplo, é claro que na
negociação há momentos de poder (de ‘braço de ferro’) que são utilizados e é
importante estar preparado para essa eventualidade.

NOTA: Tudo é, então, meio alternativo de resolução de litígios exceto os tribunais.

 Tipologias

Há algumas questões teóricas sobre o conceito e a extensão dos meios de resolução


alternativa de litígios sobre as quais importa tecer introdutoriamente algumas
considerações.

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Estaduais:

 Tribunais: Os tribunais são os órgãos de soberania com competência para


administrar a justiça em nome do povo.

Não Estaduais:

 Negociação: processo de resolução de conflitos através do qual uma ou


ambas as partes modificam as suas exigências até alcançarem um
compromisso aceitável para ambas.

 Conciliação: método utilizado em conflitos mais simples, no qual um


terceiro facilitador adotando uma posição mais ativa, mas neutra e
imparcial, tenta obter uma solução consensual.

 Mediação: forma de resolução alternativa de litígios, realizada por


entidades públicas ou privadas, através do qual duas ou mais partes em
litígio procuram voluntariamente alcançar um acordo com assistência de
um mediador de conflitos.

 Arbitragem: modo de resolução jurisdicional de conflitos em que a decisão,


com base na vontade das partes, é confiada a terceiros

Pág.22-25:

Negociação: A autonomização da negociação como um meio de resolução alternativa


de litígios não é pacífica. Há quem entenda que a negociação não é um meio de
resolução alternativa de litígios, mas antes uma componente de um qualquer dos
processos de resolução. Esta deve ser autonomizada enquanto meio extra-judicial de
resolução de conflitos sem intervenção de terceiros. Trata-se de um modelo de
resolver conflitos ainda interno, entre as partes sendo um instrumento importante
inserido em outros métodos de resolução, em especial a mediação.
A negociação pode ser definida, então como um processo de resolução de
conflitos através do qual uma ou ambas as partes modificam as suas exigências até
alcançarem um compromisso aceitável para ambas. (pág.41)

Mediação e conciliação: há quem os veja como opostos, há quem defenda que não se
distinguem. (Por palavras da Drª. Mariana), a conciliação e a mediação distinguem-se
porque a conciliação é conduzida por quem tem o poder adjudicatório, isto é, pelo juiz
ou pelo árbitro; e a mediação por quem não o tem, um terceiro neutro e imparcial
que, frustrada a obtenção do acordo, nenhum contacto mais tem o processo.

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Mediação: A Lei da Mediação ( a Lei dos Julgados de Paz) define mediação, logo
no seu art.2º, como: “a forma de resolução alternativa de litígios, mrealizada por
entidades públicas ou provadas, através do qual duas ou mais partes em litígio
procuram voluntariamente alcançar um acordo com assistência de um mediador de
conflitos”. A mediação é um processo estruturado, querendo com isto dizer-se que a
mediação obedece a certas regras, a uma certa organização de procedimentos. Não é
uma simples reunião das partes com um terceiro, antes um processo preparado,
fundamentado. (pág. 47-48).

Conciliação: há quem entenda que só pode chamar-se conciliação à


jurisdicional, há quem defenda uma distinção entre mediação e conciliação, sendo esta
avaliadora e a mediação facilitadora e por ultimo, autores há que discordam da
distinção entre as 2 figuras, considerando que são apenas níveis diferentes de
mediação. (pág. 101-104)

Arbitragem: A arbitragem diferencia-se dos restantes meios de resolução alternativa


de litígios por ser adjudicatória e ter uma longa tradição. No entanto, enquadra-se na
definição ampla de meios de resolução alternativa de litígios adotada, na medida em
que não é judicial.
A arbitragem pode ser definida como um modo de resolução de jurisdicional de
conflitos em que a decisão, com base na vontade das partes, é confiada a terceiros. A
arbitragem é , assim, um meio de resolução alternativa de litígios adjudicatório, na
medida em que o litígio é decidido por um ou vários terceiros. E essa decisão é
vinculativa para ambas as partes. A arbitragem aproxima-se do padrão judicial
tradicional, sendo jurisdicional nos seus efeitos: não só a convenção arbitral gera um
direito protestativo de constituição do tribunal arbitral e a consequente falta de
jurisdição dos tribunais comuns, como também a decisão arbitral faz caso julgado e
tem força executiva. (pág.119)

Híbridos:

 Conciliação Judicial – ex.: em processo civil e em processo laboral.


 Arbitragem necessária- ex.: processo de expropriação.
 Julgados de Paz- que são Estaduais e congregam mediação e/ou
Julgamento, (são do Estado mas não utilizam meios estaduais, ou seja,
não são verdadeiros tribunais)

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Pág. 24-25

Julgados de Paz: no âmbito dos meios de resolução alternativa de litígios pode ser
questionada, essencialmente porque se trata de uma instância de resolução de
conflitos, não propriamente de um meio alternativo e deferente dos outros. Os
Julgados de Paz, na sua versão atual, terão tido inspiração nos tribunais multi-portas.
Não são, portanto meios de resolução de litígios diferentes destes, antes uma forma
de organização numa única instituição destes meios. Assim, um processo num Julgado
de Paz pode ser resolvido por mediação, conciliação ou julgamento.

 Os Atores

Participação dos sujeitos em conflito e outros intervenientes no processo de resolução:

 As Partes:
 Os Terceiros

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As Partes
Sujeito em conflito, composto pela (s) pessoa(s), singulare(s) ou coletiva(s), que, por
terem um conjunto unitário de interesses a satisfazer, agem num bloco unitário na
relação com as outras partes no conflito.

o O conflito pressupõe a coexistência de mais do que uma parte;


o Poder existir mais que um sujeito em cada parte;
o Apesar da prevalência de um conjunto unitário de interesses, pode existir mais
que um interesse e até interesses divergentes no seio da mesma parte.

Os Terceiros
Alguns meios de resolução preveem a intervenção de terceiros, alheios ao conflito,
no processo de resolução de litígio.

Conforme o MRL, pode ser:

o Necessário ou facultativo
o Imperativo ou consensual
o Decisório ou cooperante
o Ativo ou passivo

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O tribunal é público, nao depende da vontade da parte, ou seja é necessário, é adjudicatório
uma vez que a decisão nao depende da vontade das partes, é baseada nos direitos, e o juiz
detem uma relação de poder.
Julgados de Paz, quando tem x pequeno é nos dois, porque tanto pode ser voluntário como
obrigatório, também baseado nos direitos, mas há uma relação de paridades porque as partes
estão em pe de igualdade e todos podem decidir.
Negociaçao é privada, voluntária, é consensual pois todos decidem e basea-se tanto nos
direitos como nos interesses. Apesar de me teres de dar a minha parte podes ficar com o
relógio.
Concialidação depende, se for no tribunal é pública, caos contrário é privada, voluntária, é
consensual pois as partes decidem (não o mediador), tanto direitos como interesses, o
importante é o consenso.
Arbitragem é privada, adjuficatório pois o terceiro é que decide, tendo em conta o que a lei diz
e o arbitro é que decide (relação de poder).

 Enquadramento Jurídico

 Art. 202.º CRP: os Tribunais


 Art. 202.ª n.º4 CRP: meios não jurisdicionais

 Lei 63/2011, de 14 de dezembro: Lei da Arbitragem Voluntária – LAV


 Lei 29/2013, de 19 de abril: Lei da mediação Civil e Comercial- LMCC

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(Ver documentos no moodle)

Várias expressões dos MRL:

1. A mediação no âmbito dos Julgados de Paz:


2. A mediação laboral, familiar ou penal;
3. A conciliação judicial em processo laboral e ou civil;
4. A conciliação/mediação por provedores privados do cliente/consumidor;
5. A arbitragem obrigatória em processos de expropriação e fiscais
institucionalizados;
6. A arbitragem de consumo.

Parte III- Mediação e Negociação


1. Noção e Modalidades
Págs.41 a 45
2. Conceitos essenciais
3. Tipos de Negociação
4. Estratégias da negociação

Noção de Negociação (pág.41): A negociação pode ser definida como um rocesso de


resolução de conflitos através do qual uma ou ambas as partes modificam as suas
exigências até alcançarem um compromisso aceitável para ambas. De acordo com esta
definição, todos somos negociadores sempre que queremos alguma coisa que está sob
controlo de outro, negociamos ou tentamos negociar. A negociação é uma indústria de
crescimento, porque cada vez há maior interesse dos cidadãos em participar nas
decisões que lhe dizem respeito.

A definição de negociação aplica-se a qualquer meio de resolução de litígios não


adjudicatório, quer seja mediação, conciliação ou outro. Em todos estes mecanismos
se tenta chegar a um acordo através do diálogo.

Na realidade, a diferença entre negociação e mediação pode estar apenas na


existência do terceiro imparcial. Enquanto na mediação é essencial a existência de um
mediador, terceiro imparcial que conduz as partes no caminho do consenso, na
negociação as partes podem estar sozinhas a negociar. As próprias partes em conflito
podem utilizar as técnicas da negociação, sem intervenção do exterior.

Acordo entre as partes. Eu negocio a compra de alguma coisa, mas não um processo
relativo à contratação.

Pressupõe 4 elementos fundamentais :

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 É indispensável que existam partes- sujeitos, se não existir duas partes não
pode existir negociação
 Haver vontade de resolver o conflito de forma pacifica e em conjunto, pela
conversação. E se não há essa vontade, não pode ser resolvido aquele
interesse, aquele conflito.
 Por regra na negociação, uma das partes, quer satisfazer um interesse, tem um
objetivo.
 Mas também a outra parte deve estar disponível a satisfazer o interesse,
disponível a satisfazer a necessidade do anterior

Negociação

Daí a existência de modalidades

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- Um processo com vista a celebração do contrato, existem celebrações, mas o
objetivo final é contratar. Existem partes, cada uma com os sujeitos, com uma unidade
de interesses (vender e comprar).

Ex.: uma sociedade de advogados pretende comprar um novo escritório. Mas nas informações
com compra e venda, descobriram que os donos do novo andar do escritório, eram 4 pessoas.
A negociação existiu entre as 4 pessoas mais a sociedade de advogados.

- A negociação é uma forma de resolver o litigio, através das conversações, onde cada
parte deve ter um pressuposto, a forma como acham que o conflito se deve resolver,
exigindo da contraparte e cedendo as mesmas até ao final da negociação, prevendo
chegar a uma solução que satisfaça ambas as partes e todos os sujeitos

Negociação como MRL

- É um meio não estadual, não há um órgão do estado para promover a negociação, é


voluntário, privado (ninguém é obrigado a esta conversação, ou até cedências), a
solução é consensual, pelas partes, não é um meio onde intervém o terceiro.

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- A solução, visto que é totalmente voluntária, as partes podem desde que aceitem,
conseguir uma solução, que se ajusta com o direto, ou então que esquece o direito e
tenha em conta os interesses individuais de cada um esquecendo o direito.

- Cada parte vai cedendo até chegar a um consenso e o conflito é resolvido .

Exemplo

- Contratos comércio internacional.

O conflito – está no tribunal que resolve o conflito.

- É um contrato em que preveem precisamente que havendo um problema qualquer,


uma disputa, as partes deverão consultar uma a outra, as partes obrigam-se ao
processo de negociação antes de partir para outro MRL.

Negociação como MRL: Vantagens

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1 - Existe um menor conflito entre as partes, não é um contra o outro, não no
sentido de o conflito ser entre as partes, mas aqui o litígio é menor, há conflito na
mesma.

2 - Será mais rápida, quanto as partes queiram resolver o conflito. Nos MRL
existe um terceiro. Depende das partes o ritmo e tempo, não tem de esperar pela
decisão de terceiros. Não depende de ninguém. Depende do tempo que a outra parte
vai decidir, não depende de terceiros nem de procedimentos de terceiros.

3 - É a própria parte que faz as exigências, que vai dizendo o que realmente
interessa, o que não lhe interesse, o que se pode comprometer, mas também a pate
que esta pode ceder, e esta vontade depende da parte e nada mais.

Há casos em que na negociação eu posso desistir. Mas em tribunal, nem sempre possa,
há conflitos, em que a parte tem de autorizar, mas há conflitos em que nem é possível
sequer desistir. A tendência para negociar nos tribunais, terá sempre o pressuposto
que pode não afastar o tribunal.

Nos casos civis é possível, ex: pagamento de luz, o processo está a decorrer, as partes
podem negociar o pagamento e terminar ali o processo.

Existem 3 momentos importantes:


- É possível
- Deve ser tida em consideração
-Normalmente quando estamos perante um processo judicial (sem ser no crime, mas
sim civis, comerciais), existe a fase da conciliação, a conversações entre as partes
orientados pelo um terceiro que é o juiz, com o objetivo de aproximar as partes.

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4 - A solução nos interesses das partes, o que vai facilitar no desenvolvimento.
Se as partes consideram os interesses relevantes e lhes atribuírem determinado valor,
elas podem adaptar aquela solução. Ver além do que diz as normas

5 - É mais barato, os meios estaduais exigem custas

Função do Jurista na Negociação

- Tem a importância de separar bem as ideias concedidas de alguma das partes


erradamente, de um eventual resultado da negociação (ex: a parte achar que é
possível e o jurista alertar para que não é possível tal facto- ex: se falhar a negociação,
não há outro meio; pode ser contra o direito)

- Dizer como é em termos técnicos

- O que se pode esperar e ligar o que pode ocorrer na negociação ligando com a lei

Objeto Negocial

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- A negociação é sobre um determinado assunto, contrato ou conflito, que visa um
acordo.

- O objeto negocial é o assunto sobre qual as partes vão versar o acordo.

- Pode ser resolvida apenas uma parte do conflito, o conflito no total.

- Objeto negocial: onde os direitos das partes de colidem. Onde pode deixar de existir
este conflito.

- O acordo obtido pode ter por base normas jurídicas, mas como interesses, daí este
poder incluir matérias além das questões jurídicas, porque engloba assuntos variados.
Há matérias que podem estar incluídas no objeto negocial, mas que vão para além do
que está presente no conflito.

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Parte Negocial

- Sujeitos, partes, onde várias partes podem ter vários sujeitos, com o mesmo
interesse, mas que estão a negociar com a outra parte, cedendo até chegarem a um
acordo.

- Relativamente à parte, o conceito de parte tem em conta a situação onde esta


inserida

Posição e Poder Negociais

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- Meio paritário, quem decide são ambas as partes, mas não significa que uma das
partes não tenha mais poder que a outra – leva-nos para o equilíbrio das negociações.

- Quem tem mais força- aquele que pode exigir mais concessões.

Pressão Negocial

- O sujeito pode pressionar, tensão de uma parte sobre a outra

- Não necessariamente no mesmo sentido

- É usado para atingir o objetivo final, mas também quando a outra parte tem mais
argumentos, a outra parte pode pressionar, para equilibrar as coisas

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Postura Negocial

- A imagem que passamos na negociação, a imagem que a outra parte fica com a
postura na negociação

- É transmitida através das atitudes, como se argumenta, como se apresenta as


exigências

- Quanto mais poder negocial, maior a postura negocial

- Pode variar ao longo do processo, dependendo das situações em causa e se estamos


perante uma situação de maior ou menor poder.

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Proposta Negocial

- Convite de negociação, o ponto inicial, mas também pode ser logo uma proposta
inicial

- Uma declaração dirigida a outra parte onde se propõe uma solução para o conflito

- Pode ser uma solução para o conflito

- Difere de uma proposta contratual, onde esta tem em vista a solução do contrato

Expectativa Negocial

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- Qual será o resultado da negociação

- Apela-se ao resultado que à partida uma interpretação das leis trazia, normas que
resolvem o conflito

- Apelo ao conceito da responsabilidade contratual, tem a ver com a expectativa de se


chegar a um resultado, que depende da boa-fé depositada durante as negociações,
que estamos a ser verdadeiros durante a negociação. Ou seja, quem não atua com boa
fé pode ser responsabilizado por não se chegar a um acordo durante a negociação,
pagando os danos que possam causar.

Processo e Lógica Negociais

- A negociação é um processo

- Vai variando ao longo do processo, tendo em conta as exigências das partes

Margem Negocial
- Ponto de partida da negociação

- Partir de um ponto de partida com uma margem de concessão maior e revelar o


menos possível dessa margem, daí a importância da postura negocial

- Deve ser sempre ouvido as partes, aliás se a parte começa logo a falar, não consegue
ouvir o que a outra parte tem a dizer, e futuramente pode ser prejudicado.

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Princípios Negociais

Três princípios

- Nestas propostas negociais, quanto mais razoáveis forem mais credíveis é a posição,
a postura leal de negociação porque na continuação da negociação a outra parte vai
perceber a minha postura como razoável e credível, ou seja, uma postura de
verdadeiro, e não como estar a mentir, com boa fé, não escondendo os factos, porque
está a dar informações e argumentos, isto com o objetivo de conseguir acordo ou
contrato, respondendo as suas expectativas.
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Tipos de Negociação

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Negociação

 Integrativa

 Motivação:
o Visa a repartição equitativa de benefícios
o Procura soluções mutuamente benéficas

 Atitudes
o Comportamento colaborativo e participativo.

 Desenvolvimento da Relação
o Preocupação no estabelecimento da confiança.

 Processo de Concessões
o Preocupação em compreender as prioridades da contraparte.
o Disponibilidade para concessões mutuas e proporcionais.

 Distributiva

 Motivação
o Visa maximizar os benefícios de uma parte
o Não se preocupa com o equilíbrio ou equidade das contraprestações

 Atitudes
o Comportamentos competitivos, agressivos e/ou manipuladores.

 Desenvolvimento da Relação
o Preocupação em manter a distância e supremacia.

 Processo de Concessões
o Maximizam-se as exigências e minimizam-se as
concessões
o Investe-se mais na “pressão negocial” que na cooperação

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 Integrativa

o Acordo mutuamente benéfico (win/win)


o Diminuição da probabilidade de empate ou abandono das negociações
o Aumento da probabilidade de cumprimento do contrato
o Aumento da probabilidade estabelecimento de relações “comerciais”
duradouras

 Distributiva

o Acordo benéfico apenas para uma das partes (win/lose)


o Maior probabilidade de impasse ou desistência das negociações
o Maior probabilidade de futuros incumprimentos do acordo
o Menor probabilidade de estabelecimento de relações “comerciais”
duradouras

Opção pela Negociação Integrativa


A que melhor se enquadra no dever geral de negociar de acordo com o princípio da
boa-fé:

 Maior probabilidade de cumprimento dos deveres de informação


 Maior probabilidade de respeito do princípio da proporcionalidade
 Maior probabilidade de conformação do contrato à vontade real das partes e
conhecimento mútuo dessa vontade real
 Menor risco de responsabilidade pré-contratual em caso de quebra nas
negociações

Estratégias de Negociação

A negociação dos contratos pressupõe a análise de 3 momentos:

1. A possibilidade real de acordo de vontades


2. A possibilidade de conformação jurídica do acordo de vontades
3. A necessidade de previsão de ocorrências ou litígios futuros não acautelados na
vontade inicial das partes

Preocupação do Jurista: Confluência entre vetores independentes


Vontade das partes ≠ Efeitos Jurídicos

29
Definição de uma estratégia deve considerar todos os elementos:

A vontade inicial das partes


Os efeitos jurídicos possíveis
A classificação do tipo de negociação
A postura negocial das partes
Etc…

Recomendações:

Ponderar as alternativas à negociação


Estabelecer a margem de negociação razoável para as partes
Definir prazos de negociação
Determinar os problemas/obstáculos ao acordo
Separação do “problema” central em assuntos que possam ser tratados
individualmente
Identificar os pontos de consenso natural
Ocultar um interesse excessivo

Técnicas de negociação:

Manter o máximo de rigor jurídico nas propostas


Gerir a informação de forma cautelosa mas sem segredos desnecessários
Fundamentar de forma concisa, mas assertiva, todas as propostas, exigências
ou concessões
Fazer sempre corresponder a concessão de cedências à exigência de
contrapartidas
Criar alternativas às nossas exigências ou concessões, para não bloquear a
negociação
Divisão das exigências iniciais em termos que as permita negociar
individualmente se isso for útil
Sistematizar e hierarquizar as nossas exigências de modo a condicionar a
negociação e permitir avaliar a viabilidade do acordo
Gerir o tempo de modo a dar ponderação e credibilidade a todos os momentos
negociais
Não deixar questões essenciais pendentes para o momento de formalizar o
acordo

30
Modelos de Negociação:
(pág.43-44)

A negociação pode seguir modelos diversos, já longamente estudados pela


doutrina.
Nesta perspetiva, há essencialmente 2 modelos de negociação:
o Competitiva
o Cooperativa
A diferença entre um e outro está no resultado pretendido e consequentemente na
atitude assumida para o alcançar. Enquanto no modelo competitivo o negociador
pretende ganhar a discussão, no modelo cooperativo o foco está na resolução do
problema.
Este método foi designado da negociação de princípios, centrando-se no mérito do
problema “evitando um processo de discussão centrado no que ambos os lados
pretendem e não pretendem fazer.”

O método dos princípios centra-se em 4 grupos de ideias:


o Pessoas
o Interesses
o Opções
o Critérios
 Quanto às pessoas, o método defende a separação destas do problema, isto é,
que se tome consciência de que o problema em discussão é diferente da
pessoa que discute, de que os aspetos estritamente pessoais não devem ser
mais importantes que o assunto sobre o qual se negoceia.
Mas, para conseguir esta separação, deve primeiro, perceber-se o ponto
de vista do outro. A capacidade de olhar a situação sob o ponto de vista alheio,
por mais difícil que seja, é uma das mais importantes competências que um
negociador pode ter. O essencial é perceber-se que a “verdade” não é
suficiente para resolver o problema, na medida em que cada uma das partes
escolhe da verdade aquilo que lhe interessa.
Ex.: as partes podem concordar que um perdeu o relógio e que o outro o
encontrou, mas divergirem quanto a quem deve ficar com o relógio. A perceção
do outro, o que se consegue através da comunicação e da descentralização da
sua posição, é essencial neste separar as pessoas do problema. Sem
comunicação, não há negociação. Ouvir, tentar fazer-se perceber, não
interpretar o que os outros dizem, tentar ser objetivo e não preconceituoso,
falar com um propósito são aspetos que facilitam a comunicação e devem ser
utilizados no modelo de negociação.

31
 Focagem nos interesses em detrimento das posições, os interesses estão
subjacentes às posições. Uma posição (pretensão) tem uma história e uma
motivação, é o resultado de uma reflexão ( +/- consciente) sobre determinado
interesse. Os interesses podem ser satisfeitos através de diversas posições
diferentes, pelo que a negociação deve focar-se na procura e satisfação dos
interesses e não numa específica posição. A tarefa de procurar os interesses
por detrás das posições, pode ser difícil, implica perguntar ‘porquê?’, obriga a
falar deles , levando a cada uma das partes a perceber os interesses de cada
um.

 Em relação às opções, o método dos princípios defende uma atividade


criadora: a capacidade de inventar opções é das qualidades mais úteis que um
negociador pode ter. Os autores referem que é muito frequente os
negociadores reduzirem as opções em vez de as alargarem e que quantas mais
houver, mais são as hipóteses de se conseguir um acordo que satisfaça ambas
as partes. O maior número de opções diminui ainda a ideia de que as partes
estão a ceder, o que pode ser importante ara o sucesso da negociação.
As opções devem ser discutidas e nunca colocadas de lado, permitindo-se
assim aprofundar as possibilidades de se encontrar uma solução melhor para as
duas partes.

 Por último, Fisher, Ury e Patton aconselham a que se insista na utilização de


critérios objetivos. Ou seja, ultrapassar as questões da vontade,
necessariamente subjetivas, procurando padrões técnicos ou critérios neutrais
que mais facilmente conduzam ao acordo. Quando uma das partes persistir
numa ideia, revelando-se intransigente, deve insistir-se que o acordo obedeça a
critérios objetivos de forma a ser justo para todos. É a melhor forma de
ultrapassar impasses baseados numa postura agressiva ou defensiva das
partes.

A negociação de princípios foi criticada por ser ingénua face negociadores difíceis ou de má fé ,
mas esta metodologia é útil em situações em que as partes têm uma relação continuada ou em
que o resultado da negociação é para elas muito importante.
A tendência atual é claramente de aplicação de modelos que tentam conciliar ambas as
perspetivas, criando estratégias com características de ambos. Isto significa, em termos muito
genéricos, que num processo negocial há momentos de cooperação e momentos de competição.
Que existe uma dupla de tendência à colaboração e à competição, consoante o aspeto em
discussão no processo negocial.

32
Págs.47 a 100
+ 317 a 336

Parte III- Mediação e Negociação

 Lei da Mediação Civil e Comercial- LMCC (ou LM??) NOTA: estudar juntamente
com a LEI (LAV, etc.) + os
 Sistema de Mediação Familiar – SMF princípios presentes na
 Regime de Mediação Penal – RMP bibliografia da Cátia Marques
(pág. 57 a 64) IMPORTANTE
 Lei dos Julgados de Paz – LJP
 Código Europeu de Conduta para Mediadores – CECM

1. Noção
2. LMCC
1- Âmbito
2- Princípios
3- Regime
4- Procedimento
5- O Mediador
3. SMF E RMP
4. LJP
Ler
pág.
56 a
62
Noção de Mediação (pág. 47 e ss): A Lei da Mediação define, logo no seu art. 2º como:
“a forma de resolução alternativa de litígios, realizada por entidades públicas ou
privadas, através do qual duas ou mais partes em litígio procuram voluntariamente
alcançar um acordo com assistência de um mediador de conflitos.”

Então MRL:

o MRL não estadual


o Privado
o Voluntário
o Consensual, não adjudicatório
o Baseado em interesses e direitos
o Implica relações de paridade

O Mediador

É um terceiro, imparcial e independente, desprovido de poderes de imposição aos


mediados, que os auxilia na tentativa de construção de um acordo final sobre o litígio.

33
Exemplo: O juiz está acima das partes, este é imparcial e independente, a sua
solução não é de proximidade de nenhuma das respetivas partes, mas sim da Lei.  O
Mediador é parecido, porém não tem força de decidir. No entanto, é ele que orienta e
mete ordem.

Princípios da Mediação

Os princípios da Mediação valem para todos os tipos de Mediação,


independentemente da sua natureza.

 Princípio da Voluntariedade
Pág. 58- Bibliografia Cátia Marques
 Art. 4º LMCC
Necessidade de consentimento esclarecido e informado das
partes.
Possibilidade de revogar o consentimento a todo o tempo.
A recusa ou revogação não significa violação do dever de cooperação.
 Art. 12º  Convenção de Mediação
 Art. 26º  Mediador esclarece

Pág. 44 e ss:

Importante para a definição do MRL são ainda outras regras, em especial aquelas onde
se estabelecem princípios essenciais de mediação. Assim, o art. 4º LM relativo ao
princípio da voluntariedade esclarece que só às partes cabe a responsabilidade pelas
decisões tomadas no decurso da mediação e o art. 26º b) LM impõe ao mediador que
se abstenha de impor qualquer acordo aos mediadores.

Esta conceção de mediação é sucedânea daquela que consta da Diretiva


2008/52/CE do Parlamento Europeu e do Conselho relativa a certos aspetos da
mediação em matéria civil e comercial (LMCC), transposta para o nosso ordenamento
jurídico precisamente para a Lei da Mediação. A definição de mediação da Diretiva é a
seguinte: “processo estruturado, independente da sua designação ou do modo como
lhe é feita referência, através do qual duas ou mais partes do litígio com a assistência
de um mediador. Este processo pode ser iniciado pelas partes, sugerido ou ordenado
por um tribunal ou imposto pelo direito de um Estado-Membro.”

34
Mais diz ainda a Diretiva que a mediação conduzida por um juiz que não seja
responsável por qualquer processo judicial relativo ao litígio em questão se insere
ainda no conceito. E que ficam excluídas as tentativas do tribunal ou do juiz com vista à
solução do litígio por acordo.  As definições são diferentes mas não no essencial.

- Embora flexível, a mediação é um processo estruturado, querendo com isto dizer-se


que a mediação obedece a certas regras, a uma certa organização de procedimentos.
Não é uma simples reunião das partes com um terceiro, antes um processo preparado
e fundamentado.

- O essencial na mediação é o pleno domínio do processo pelas partes (empowerment),


princípio que é o seu fundamento e, naturalmente, uma sua característica
permanente. A mediação assente na ideia de que é nas partes que reside a solução do
problema, que é através delas – as donas do litígio – que se encontra a solução mais
adequada e justa.

Este princípio (princípio da voluntariedade) fundador da mediação consta das regras


legais de mediação se se atentar bem na Lei:
o Ao referir-se a voluntariedade na procura de acordo e a responsabilidade das
partes nas suas decisões (art.4ºLM);
o Ao definir-se o mediador como alguém que apenas assiste e não impõe (art.
2º b) LM);
o Ao estabelecer-se como dever do mediador que se abstenha de impor
qualquer acordo (art. 26º b) LM). É claríssima a nota essencial da mediação.
Reflexo, portanto deste princípio essencial da mediação é a postura do mediador  o
mediador auxilia, o mediador assite, ele não dirige, não impõem qualquer acordo. A
sua função é simplesmente de ajudar as partes primeiro e restabelecer a comunicação
e, segundo a encontrar a solução adequada.

A doutrina tem-se vindo a debater entre mediação facilitadora ou interventora e qual


Pág.49 e o melhor modelo. No entanto, a noção puramente assistencial ou facilitadora da
50
mediação é a atualmente estabelecida no ordenamento jurídico português. Quando a
Lei, o Estado ou os juristas se referem a mediação, estão a falar então da mediação
facilitadora. Esta opção resulta da nova Lei da Mediação quando determina como
dever do mediador, no art. 26º b) LM, que este se abstenha de impor qualquer acordo
aos mediados.
A mediação praticada nos Julgados de Paz e nos sistemas públicos de mediação
(familiar, laboral e penal) obedece a este modelo, assim como a formação obrigatória a
que os mediadores estão sujeitos para exercer a respetiva profissão (art.24ºLM).

35
Pág. 58-- Bibliografia Cátia Marques
 Princípio da Confidencialidade

 Art. 5º LMCC

Dirigido sobretudo ao Mediador e não tanto às partes.

Reflete-se nas Relações Externas:


 Mediador não pode fazer uso de informações;
 Não pode ser valorado em tribunal ou arbitragem.

Reflete-se nas Relações Internas: o que lhe for dito por uma das partes não pode ser
dito às restantes sem consentimento.

 Art. 18º LMCC  Dever extensivo a terceiros


 Art. 28º LMCC  Impedimentos do mediador
 Art. 44º /2 LMCC  no sistema público

Pág. 97 e ss:

O processo de mediação é confidencial: o mediador não pode revelar o que se passou


na mediação, não pode ser chamado como testemunha em processo judicial posterior.
A confidencialidade permite que as partes falem à vontade, com tranquilidade
e sem medo de desagradar ao mediador. Algo que não acontece, por exemplo na
conciliação perante o juiz ou o árbitro. Há, porém, quem entenda que esta
confidencialidade é dispensável se as partes acordarem nesse sentido.
Há aqui que distinguir a situação das partes do mediador. A obrigação das
partes – se não houver norma legal – é apenas contratual. A do mediador decorre do
exercício da sua profissão, trata-se de sigilo profissional.

No nosso ordenamento jurídico, porém há regras legais que impõem essa


confidencialidade. A Lei da Mediação exige a confidencialidade como um princípio da
mediação no seu art. 5º LM. Também a Lei da Mediação Penal impõem a regra da
confidencialidade (art. 4º nº5 LMP). Aqui a questão da prova assume especial
relevância: se o arguido confessar na mediação mas não se conseguir o acordo e o
processo seguir, não pode utilizar-se essa confissão como meio de prova. Nem sequer
se pode saber que ela existiu.

36
Segundo Mariana França Gouveia, deve se adotar a regra da confidencialidade como
princípio. A confidencialidade é essencial à plena confiança no processo de mediação.
Se as partes souberem que o mediador pode posteriormente revelar o que ali foi dito,
terão uma postura completamente diferente na mediação, colocando em risco a sua
utilização como meio de resolução de litígios.
Pág.
99-
100 A confidencialidade é, assim, uma questão de enorme importância na mediação.
Perante o atual estado do nosso ordenamento jurídico, agora reforçado pelo art. 9º
LM, parece-me claro que o legislador quis impedir o afastamento da confidencialidade
pelas partes, em qualquer caso revelar o que se passou na mediação. O afastamento
deste sigilo apenas é permitido em situações excecionais, o que se verifica quando
esteja em causa a integridade de qualquer pessoa. Como é evidente, se é veiculada em
mediação alguma informação que faça o mediador temer pela segurança de pessoas
envolvidas na mediação, este deve denunciar essa situação.
A Lei da Mediação descrimina ainda outras situações: a proteção superior do
interesse da criança e quando seja necessário para aplicação ou execução do acordo.

 Princípio da Igualdade e Imparcialidade


Pág. 59-- Bibliografia Cátia Marques

 Art. 6º LMCC

Tratamento equitativo das partes.


Garantia de equilíbrio de poderes e de possibilidade de participação.
O Mediador deve garantir a igualdade e deve ser imparcial.

 Art. 27º  independência (a seguir)

Págs. 50-51
-Pleno domínio das partes e interesses-

Um dos princípios básicos da mediação é o controlo desta pelas partes, denominado


empowerment. Em tribunal, os poderes decisórios estão na mão dos advogados, a
linguagem é técnica, o procedimento é formal e opaco, o regime de declarações das
partes formal e limitado. O afastamento das partes do seu caso é enorme e é
pretendido.

37
Na mediação a postura é exatamente oposta: parte-se do princípio que as partes são
as pessoas que melhor colocadas estão para resolver o seu litígio. Há uma ideia de
responsabilidade pessoal que se traduz na atribuição às partes do domínio do
problema e do processo. Enquanto em tribunal tudo lhes é afastado, em mediação
tudo lhes é entregue, dependendo delas o inicio, o decurso e o fim da mediação.
Assim o estabelece claramente a Lei da Mediação ao estatuir no art. 4º LM que
cabe às partes a responsabilidade pelas decisões que tomam, assim como lhes
reconhece a possibilidade de saírem quando entenderem sem qualquer consequência
processual.

As pessoas têm assim o domínio do processo, na medida em que podem sair quando
quiserem, nada as obrigando, evidentemente, a chegar a um acordo. Mas têm,
sobretudo, o domínio do conteúdo, não sendo possível qualquer solução do litígio que
nelas não tenha origem. É precisamente da aplicação inexorável do princípio do
domínio das partes que se retira a impossibilidade de o mediador fazer sugestões
sobre o conteúdo do litigio. O mediador não deve de todo intervir quanto ao mérito,
limitando-se a conduzir as partes no caminho do diálogo e da mútua compreensão,
Ler com o fim de que estas reúnam as condições para encontrarem, por si, o acordo.
pág.
56 a
62

 Princípio da Independência

 Art. 7º LMCC

O Mediador é independente face aos litígios.


O Mediador atua livre e independente de interesses ou valores pessoais ou influências
externas.
O Mediador independente não está sujeito a subordinação técnica ou deontológica.

 Princípio da Competência e Responsabilidade


Pág. 59-- Bibliografia Cátia Marqu

 Art. 8º LMCC

O Mediador deve ter habilitações adequadas a exercer a função.


O Mediador é civilmente responsável pelos danos causados.

 Utilizar a regulamentação das qualificações e demais requisitos de inscrição


dos Mediadores. (????)

38
Pág. 60-- Bibliografia Cátia Marque

 Princípio da Executoriedade

 Art. 9º LMCC

O acordo tem força executiva quando:

1) Diga respeito a litigio que possa ser objeto de mediação e para o qual a lei não
exija homologação judicial;

2) As partes tenham capacidade para a sua celebração;

3) Obtido por via de mediação realizada nos termos da lei;

4) Não viole a ordem pública;

5) Tenha participado o mediador de conflitos inscrito na lista de Mediadores


Oficial.

Mediação Civil e Comercial


Pág. 61 a 65-- Bibliografia Cátia Marqu

 Âmbito da MCC

 Podem ser sujeitos a mediação


 Litigios em matéria civil e comercial
privada ou mediação nos Julgados
 Interesses de natureza patrimonial
de Paz;
 Outros interesses disponíveis
 Regras diferentes para a mediação
familiar, laboral e penal.

 Convenção de Mediação

Acordo em submeter e litígios a mediação. É um acordo escrito.

Princípio da voluntariedade e “pacta sunt servanda”:

39
o Acordo invocado pelo Réu em processo judicial implica a suspensão da
instância e remessa para mediação;
o Acordo mediado tem ser homologado judicialmente.

Pág. Acordo onde as partes aceitam resolver o litígio através da mediação, mesmo antes de
78-82 sequer haver litigio.
(ler
só)

Pág. 78 a 83

Uma questão muito importante e muitíssimo atual é a dos efeitos da celebração pelas
partes de uma convenção de mediação. É certo que as partes, na sua autonomia
privada, podem acordar, no âmbito de um litigio ou previamente à sua existência (no
contrato), o recurso à mediação. Esta convenção tanto pode estar sozinha, como
acompanhar uma convenção de arbitragem.
Neste caso, é conhecida como multi-step clause, querendo com esta expressão
indicar-se que os contraentes acordam na resolução do seu eventual litigio em várias
fases. Assim, numa cláusula deste tipo, de acordo com a vontade das partes, o litigio
deve ser resolvido em 1ºlugar por mediação e, se esta não for bem sucedida, por
arbitragem.

A admissibilidade de uma cláusula deste género é inquestionável, porque se funda na


autonomia privada das partes. Ponto já eventualmente é o dos seus efeitos,
designadamente quando há incumprimento. Numa situação em que uma das partes
não inicia a resolução do litígio pela mediação, partindo logo para a arbitragem ou para
o tribunal judicial, coloca-se a questão de saber como deve este tribunal decidir caso a
parte contrária levante questão.

A Lei da Mediação veio resolver, no Direito Português, este problema (da convecção de
mediação ter consequências muito variadas, com muitas naturezas e graus),
estabelecendo como consequência da propositura da ação sem início prévio de um
procedimento de mediação (quando as partes haviam nesse sentido acordado) a
suspensão da instância.
De acordo com o nº4 do art.12º LM, o tribunal, judicial ou arbitral, no qual seja
proposta ação relativa a questão abrangida por uma convenção de mediação deve, se
requerido pelo réu, suspender a instancia e remeter o processo para mediação.

Este é um regime inovador na nossa ordem jurídica e, adequado à mediação. É certo


que no lugar paralelo da arbitragem, a consequência é a da absolvição da instância,
conforme estipula o art.5º LAV, mas as realidades são diversas por 2 razões:

40
1º- Porque em arbitragem o litigio fica definitivamente resolvido pela sentença
arbitral, pelo que não faz sentido manter pendente o judicial. Enquanto que na
mediação é possível que não haja acordo e se tenha de retomar a resolução do
caso por via judicial;

2º- Na mediação, mesmo quando haja acordo, este tem de ser homologado
pelo tribunal, conforme impõe o nº5 do art. 273º CPC (e depois o art.45º LM).
Ou seja, independentemente do resultado do processo de mediação, é sempre
necessária uma intervenção do tribunal onde a ação se iniciou, pelo que a
solução da suspensão da instância é boa.

A Lei estabelece requisitos formais e materiais de validade de convenção da mediação.


O requisito formal  diz respeito à forma. E o requisito material  diz respeito ao
objeto.

Quanto á forma, a Lei exige a forma escrita, adotando no nº2 art.12º LM , a noção
ampla de forma escrita prevista para a convenção de arbitragem (art.2º nº2 LAV), pelo
que se remete para as considerações a esse propósito aduzidas.
Por fim, estatui-se a nulidade da convenção de mediação, caso não obedeça à
forma escrita ou o seu objeto não seja legalmente mediável. A lei nada diz sobre
análise destes requisitos pelo juiz quando suspende o processo e o remete para
mediação.

Em arbitragem, a alegação de uma convenção de arbitragem em processo judicial


impede o tribunal de se pronunciar para além da manifesta nulidade, o que foi
expressamente consagrado no art. 5º LAV. Esta regra, conhecida como a eficácia
negativa da convecção de arbitragem decorre da prioridade da competência
jurisdicional do tribunal arbitral para decidir da sua própria competência.

Na mediação não acontece, já que o mediador não tem qualquer competência


jurisdicional. O mediador não tem poder decisório sobre nenhuma questão do caso – a
sua competência limita-se a conduzir o espaço de diálogo que é a mediação.
Assim sendo, o tribunal judicial tem competência plena para apreciar a validade
da convenção de mediação – se ela for inválida ou ineficaz deve declará-lo, indeferir o
requerimento de suspensão e prosseguir com o processo.

41
 Mediação pré-judicial

Recurso à mediação antes de recurso a Tribunal.

- Suspensão de prazos de caducidade e de prescrição a partir da assinatura do


protocolo de mediação.

-Retoma do cálculo dos prazos:

 Conclusão do procedimento por recusa.


 Fim do prazo máximo de duração da mediação.
 Fim determinado pelo mediador.

 Homologação Judicial

Princípio da Executoriedade.
As partes podem, em conjunto, requerer homologação. A Homologação é obrigatória,
no caso de existir processo (45º), e facultativa na mediação pré-judicial (art.14º LM).
Se homologada, valor de sentença.

Pág. 87 a 96

Se da mediação resultar um acordo, as partes podem requere a sua homologação por


um juiz – art. 14º LM.
O preceito não tem correspondência na Diretiva que apenas trata, no art.6º, da
executoriedade dos acordos obtidos por via de mediação. Nos termos desse preceito,
os Estados têm de garantir que o conteúdo de um acordo reduzido a escrito seja
declarado executório.
Ora, a transformação do acordo em titulo executivo pode surgir de diversas
formas e a Lei da Mediação prevê 2 delas:
A homologação que transforma o conteúdo do acordo em sentença;
ou, sem homologação, se preencher os requisitos do art. 9º LM.

Querendo as partes ver o acordo homologado, devem pedi-lo a um tribunal


competente em razão de matéria, de acordo com as regras a definir em Portaria do
Ministério da Justiça. Essa Portaria não existe à data, o que não deve impedir, que as
partes submetam o pedido de homologação. O pedido tem que ser subscrito pelas 2
partes, conforme nos diz o art. 14º nº2 LM.

42
A homologação de acordo obtido em mediação tem natureza urgente, sendo decidida
sem necessidade de prévia distribuição – art. 14º nº4 LM.

Importa saber se essa homologação é facultativa também nos casos em que a


mediação se iniciou na pendência do processo estadual ou arbitral. Em segundo lugar,
há que determinar o nível de controlo judicial do conteúdo do acordo.

 No Direito Comparado, a regra mais frequente é a de homologação


facultativa, justificando-se por diversas razões e pela confidencialidade. As
partes podem não querer que o acordo seja do conhecimento público.

 No nosso Direito, a Lei dos Julgados de Paz obriga à homologação do acordo


obtido em mediação – art. 56º nº1 LJP. De acordo com o art. 273º nº5 CPC,
o acordo é enviado para o tribunal, seguindo-se os termos definidos na Lei
da Mediação. Isto está previsto no art. 45º LM, que por sua vez remete,
para o art. 14º LM mas não sem antes impor essa homologação. O que
significa, portanto, que o acordo obtido em mediação em processo
pendente é obrigatoriamente sujeito a homologação judicial.

A Lei dos Julgados de Paz nada diz sobre a homologação de ordem pública. Já a Lei da
Mediação inovou nesta matéria, ao estabelecer o art. 14º nº3 LM que a homologação
judicial tem por fim verificar se o acordo respeita o litígio que possa ser objeto de
mediação, a capacidade das partes para a sua celebração, se é conforme aos princípios
gerais de direito e à boa-fé, se não constitui um abuso do direito e o seu conteúdo não
viola a ordem pública.

43
1- Sessão de Pré-Mediação

 A Lei da Mediação estabelece como obrigatórios a sessão da pré-mediação


e o protocolo de mediação. – art. 16º nº1 LMCC

 Contacto inicial das partes:

- É Informal;
- É uma sessão de caráter informativo;
- Explicação do mediador;
- Garantia da voluntariedade:
- Consentimento esclarecido e informado.

Págs. 72 a 73

Uma das diferenças entre os teóricos da mediação diz respeito ao conhecimento do


processo e à sua preparação antes da sessão de mediação.
No sistema português, implantado nos Julgados de Paz, o mediador não tem
acesso ao processo, inteirando-se do problema apenas na sessão de mediação. Este
procedimento relaciona-se com a circunstância de esta mediação ser, exclusivamente

44
facilitadora e portanto, o mediador não tem qualquer interferência no mérito da
questão. Assumindo uma postura mais ao nível do comportamento do que do litígio,
não há necessidade de conhecer e preparar o caso. Pelo contrário, é muito importante
que o primeiro contacto do mediador com o problema ocorra diretamente através das
partes.

Esta metodologia não será boa em todos os casos. Em casos complexos,


designadamente em situações em que haja mais do que 2 partes, a preparação da
mediação é essencial ao seu sucesso. Por outro lado, a obrigação de revelação prévia
de alguma circunstância que possa pôr em causa a independência do mediador (Art.
17º nº2 LM), torna necessário um conhecimento mínimo das partes e dos factos do
caso.

Sessão de pré-mediação  é um momento imediatamente anterior à mediação que


tem como função explicar às partes em que consiste este meio alternativo de
resolução de litígios. A pré-mediação está prevista no art. 16º LM, nos arts. 49º e 50~º
LJP e no art. 3º nº5 LMP. Aí se estabelece que a pré-mediação tem como objetivo
explicar às partes em que consiste a mediação, quais as regras aplicáveis, verificar a
predisposição das pessoas para um possível acordo em fase de mediação. Por regra, se
as partes concordam com a mediação passa-se de imediato à mediação propriamente
dita, pelo que se mantém a regra dos Julgados de Paz de desconhecimento anterior ao
processo.

A sessão de pré-mediação termina  com a assinatura de um protocolo de mediação,


assinado pela partes e pelo mediador (art. 16º LM e art. 51º nº1 LJP). Este protocolo é
semelhante a uma ata de instalação de um tribunal arbitral, tendo como função
essencial marcar o início do processo e o compromisso das partes com a sua realização
e termos.

2- Protocolo de Mediação

 Art. 16º nº2 e 3 LMCC

Protocolo:

 É um acordo escrito.
 É um acordo formal. (documento particular assinado)

45
 Substantivo. (conteúdo específico)

O protocolo são as regras pelo qual se vai resolver o litígio através da Mediação. É a formalização, onde as partes
assinam e acordam para aceitar a mediação. Aqui já há mediação.

Pág. 73

Este protocolo é semelhante a uma ata de instalação de um tribunal arbitral, tendo


como função essencial marcar o início do processo e o compromisso das partes com a
sua realização e termos.
Assim do protocolo consta  a identificação das partes e do mediador, a
declaração de consentimento das partes, o compromisso de confidencialidade, a
descrição sumária do litígio, as regras do procedimento, a calendarização do
procedimento, a duração máxima e a definição dos honorários do mediador (caso não
seja mediação pública).

A extensão dos elementos que a lei exige que constem deste protocolo de mediação
não deve prejudicar a necessária flexibilidade do processo de mediação. As regras
serão mais complexas quanto mais complexo for o caso, ou seja, mais simples quanto
mais simples for o caso. A disponibilidade é total, pelo que não deve formalizar-se por
causa deste instrumento que agora a lei exige.
Nos modelos em que não há preparação prévia de mediação, alguns destes
momentos estão inscritos já na sessão de mediação. Assim Vezzula identifica 6 fases na
mediação: apresentação do mediador; resumo e ordenação inicial do problema;
descoberta dos interesses ainda ocultos; criação de ideias; acordo.
É importante não começar pelo acordo: primeiro têm sempre de ser
encontrados os interesses e só nessa base começar a refletir sobre hipóteses de
solução. Ao longo destas fases, há técnicas específicas que os mediadores devem
utilizar.

Protocolo de Mediação – Conteúdo

a) Identificação das partes: é boa prática seguir as regras de identificação do


Código de Notariado;

46
b) Identificação e domicílio profissional do mediador e, se for o caso, da entidade
gestora do sistema de mediação – art. 17º LMCC
c) Declaração de consentimento das partes – art. 4º LMCC
d) Declaração das partes e do mediador de respeito pelo princípio da
confidencialidade – art.5º LMCC
e) Descrição sumária do litígio ou objeto – art.11º LMCC
f) Regras do procedimento da mediação acordadas entre as partes e o medidor
g) Calendarização do procedimento de mediação e definição do prazo máximo de
duração da mediação – art. 21º e 22º LMCC
h) Definição dos honorários do mediador, exceto nas mediações realizadas nos
sistemas públicos de mediação – art. 29º LMCC
i) Data.

3- Sessão de Mediação

 Art. 18º LMCC

As sessões são de tendencial informalidade e são de confidencialidade.

Os intervenientes da sessão podem intervir:

 Pessoalmente ou representadas;
 Acompanhadas por advogados ou solicitador;
 Acompanhadas por técnico se não houver oposição

Pág. 73-74
Ao longo das fases de mediação, há técnicas específicas que os mediadores devem
utilizar. Por exemplo, quando se trata de identificar interesses, é importante desde
logo estar bem ciente da sua importância para o sucesso da medição. Depois, o
mediador deve saber ouvir e tomar atenção às declarações, às generalizações e às
sínteses para perceber quais as necessidades das partes. Moore refere 2 métodos para
descobrir interesses: o teste e o modelo hipotético.

47
O teste consiste em repetir o que ao mediador parece ser interesse,
procurando aproximar-se dele através dos reparos da parte.
O modelo hipotético consiste em propor uma série de opções de acordo, não com a
intenção de as ver aprovadas pelas partes, mas de perceber as suas verdadeiras
necessidades e interesses.
Em situações em que a desconfiança entre as partes não permite a clarificação
dos interesses, pode ser importante fazer reuniões separadas – aquilo em que a
mediação denomina por caucus.

A Lei de Mediação admite no art. 26º c) as sessões separadas sem exigir, como antes
fazia o revogado nº3 do art.53º LJP, a autorização das partes. Há, pois, aqui maior
discricionariedade do mediador que pode decidir, sem que as partes nisso expressa ou
tacitamente concordem, reunir separadamente com cada uma delas. O limite desta
possibilidade encontra-se no princípio geral da mediação – art. 6º - o princípio
inderrogável do tratamento equitativo das partes. Desde que as sessões privadas não
ponham em causa esta igualdade, pode o mediador promover a sua realização se lhe
parecer uma boa metodologia de trabalho no caso concreto.

Também impõem um dever de confidencialidade das informações recolhidas nestas


sessões sem o consentimento da parte – art. 5º nº2 LM.
O processo de mediação pode terminar por diversos fundamentos (art. 19º
LM). O mais importante (e desejável) é, claro, o acordo, mas outras circunstâncias
podem determinar o seu fim. Desde logo, se alguma das partes desistir, mas também
se o mediador entender que não faz sentido prosseguir com o processo,
designadamente por constatar que não há possibilidade de acordo. A mediação pode
ainda terminar quando se atinja o máximo de duração do procedimento, sem prejuízo
de eventuais prorrogações. O prazo máximo da mediação é fixado no protocolo de
mediação.

4- Fim do Procedimento de Mediação

 Art. 19º LMCC

O fim da mediação pode realizar-se das seguintes formas:

1. Com acordo – art. 20º LMCC


2. Com desistência de qualquer das partes
3. Com decisão fundamentada do Mediador

48
4. Com impossibilidade de obtenção de acordo
5. Atingindo o prazo máximo de duração

Acordo de Mediação: resultado final da Mediação. É a solução final do litígio.

NOTA: IMPORTANTE NÃO CONFUNDIR

 Convenção de Mediação: Acordo onde as partes aceitam resolver o litígio através da mediação,
mesmo antes de sequer haver litigio.

 Protocolo de Mediação: O protocolo são as regras pelo qual se vai resolver o litígio através da
Mediação. É a formalização, onde as partes assinam e acordam para aceitar a mediação. Aqui já há
mediação.

 Acordo de Mediação: resultado final da Mediação. É a solução final do litígio.

O Mediador de Conflitos:

 Estatuto do Mediador:

 Formação por entidades certificadas: art. 24º


 Direitos: art. 25º
 Deveres: art. 26º (remissão para o CECM)
 Impedimentos: art. 27º e 28º
 Remuneração: art. 29º

Pág. 56-62

É decisivo no processo de mediação é, naturalmente, o mediador. O mediador é um


profissional treinado em mediação, conhecedor da sua filosofia e das suas técnicas,
aplicando-se no exercício da sua atividade. A credibilidade da mediação depende do
trabalho do mediador: só um mediador capaz pode cativar a confiança das partes, algo
que é essencial ao seu trabalho.

49
A existência de um mediador, terceiro imparcial, traz uma nova dinâmica à discussão
entre as partes. Neste sentido, o mediador constitui um agente de mudança. Esta
energia suplementar permite aquilo que as partes até aí não alcançaram – a obtenção
do acordo.
Pág. 58-
62
(ler só) O mediador deve antes de mas, privilegiar o restabelecimento da comunicação entre
as partes. Deve desempenhar um papel facilitador do diálogo, mantendo sempre nas
partes a responsabilidade da resolução do conflito. O mediador controla o processo,
condu-lo, deixando às partes a responsabilidade pelo objeto do litígio.
O mediador não negoceia com as partes, antes conduz a negociação que elas fazem
entre si. O mediador não aconselha nenhuma das partes, nem sequer as duas em
conjunto, antes promove uma exploração construtiva dos problemas.
Conforme a Lei da Mediação estatui no seu art. 2º, o mediador é desprovido de
poderes de imposição, limitando-se auxiliar os mediados na tentativa de construção de
um acordo final sobre o objeto do litígio.

A função do mediador, a sua exata atividade no decurso da mediação, não é


facilmente reconduzível a padrões formais rígidos, na medida em que são variáveis os
litígios, as circunstâncias, as pessoas e a forma como interagem. No entanto, é possível
tratar as diversas técnicas que o mediador tem ao seu dispor, o que farei
sinteticamente a propósito das fases de mediação.
O mediador é um profissional treinado nas técnicas da mediação em curso
devidamente credenciado por autoridade pública.
O art. 24º da Lei da Mediação exige a frequência de uma formação
especificamente orientada para o exercício da profissão em cursos ministrados por
entidades certificadas pelo Ministério de Justiça. É uma das novidades da Lei da
Mediação, já que até aqui só se exigia formação para ingressar nos sistemas públicos
de mediação e nos Julgados de Paz. Passa agora a exigir-se a frequência de um curso
credenciado para o exercício da mediação, seja em sistema público, seja como
atividade privada.
O art. 24º nº2 LM remete para a Portaria 345/2013, de 27 de novembro, que
definiu os requisitos de credenciação desses cursos. O diploma estabelece um regime
exigente para a formação de mediadores, sob apertado controlo da Direção Geral da
Política de Justiça.

Mediação e Julgados de Paz

Julgados de Paz Mediação

o Art. 209º, nº3 CRP -Além da competência JP

o 50
Art. 16º nº3 LJP
o Art. 11º LMCC
o Lei 78/2001, de 13 de julho

o MRL misto ou híbrido:


-Mecanismo de mediação pública
Institucionalizado;

-Mecanismo de julgamento
Adjudicatório não judicial.

Noção de Julgados de Paz (pág. 318): Os Julgados de Paz são verdadeiros tribunais
inseridos na oferta da Justiça pública. São órgãos de soberania de exercício do poder
judicial, previstos na CRP – art. 209º nº2.
A sua distinção dos tribunais comuns decorre de diversos aspetos, devendo realçar-se
a sua teleologia, o que tem depois repercussão na forma de atuação e regime. Isto é,
os JP praticam uma justiça alternativa, muito marcada pela proximidade e pela
tentativa de, através das fases de mediação e de conciliação, alcançar uma solução por
acordo.
Os Julgados de Paz são, então, tribunais não judicais ou mistos, tendo em conta
a sua natureza obrigatória (e não voluntária como os outros meios de resolução de
alternativa de litígios) e os métodos que utilizam na resolução do conflito (procurando
sempre o acordo e afastando a conceção adversarial de litígio).

Mediação e Julgados de Paz

 Regras das LMCC – Art. 53º LJP

Fases do Procedimento

1. Sessão de pré-mediação – art. 49º e 50º LJP ( = art. 16º / 1 LCMM);


2. Protocolo de mediação – art. 51º e 52º LJP ( = art. 16º / 3º LCMM);
3. Sessões de mediação – art. 54º LJP: a falta injustificada determina a extinção
do procedimento e remessa do processo para julgamento;
4. Termo da de mediação: acordo ou remessa do processo para o Juiz de Paz –
art. 54º e 56º LJP
5. Homologação: no caso de haver acordo é obrigatória– art. 56º LJP

Sistemas de Mediação Pública

51
 Sistema de Mediação Familiar (SMF) Despacho 18778/2007, de 13 de julho.

 Sistema de Mediação Laboral (SML)  Protocolo com MJ.

 Sistema de Mediação Penal (SMP)  Lei 21/200, de 12 de junho.

Mediação Familiar – SMF

 Litígios surgidos no âmbito de relações familiares.

o Exercício das responsabilidades parentais;


o Divórcio e separação de pessoas e bens;
o Conversão da separação de pessoas e bens em divórcio;
o Reconciliação dos cônjuges separados;
o Atribuição e alteração de alimentos, provisórios ou definitivos;
o Provação do uso e autorização do uso dos apelidos do cônjuge;
o Atribuição de casa de morada da família.

Mediação Laboral – SML

 Litígios surgidos no âmbito das relações de trabalho.

o O empregador que reduzir a carga horária e respetivo vencimento;


o O trabalhador recusa exercer funções diferentes das contratadas;
o O empregador pede ao trabalhador que exerça funções em outro
local
o O trabalhador recusa prestar trabalho suplementar pedido pelo
empregador;
o O empregador recusa dar formação profissional ao trabalhador;
o O trabalhador não cumpre as regras SHST impostas pela empresa;
o O empregador quer ceder o trabalho a outra empresa;
o O trabalhador exerce outra atividade em concorrência com a
empresa;
o O empregador recusa reconhecer estatuto de trabalhador-
estudante;
o O trabalhador quer exigir do empregador o pagamento de subsídios.

52
Mediação Penal – SMP

 Litígios surgidos pela prática de crime. Limitado a algumas comarcas.

 Crimes suscetíveis de mediação:

 Ofensa à integridade física simples ou por negligência.


 Ameaça.
 Difamação.
 Injúria.
 Violação de domicílio ou perturbação da vida privada.
 Furto
 Abusa de confiança.
 Dano.
 Alteração de marcos.
 Burla, a burla para obtenção de alimentos, bebidas ou
serviços.
 Usura.

 Requisitos:

1. Exista um processo-crime;
2. Apenas crimes que dependam de acusação particular ou de queixa;
3. Apenas crimes puníveis com pena de prisão até 5 anos ou pena de
multa;
4. Não seja crime contra a liberdade ou contra autodeterminação
sexual;
5. O ofendido tenha 16 ou mais anos;
6. O processo não siga uma forma de processo especial.

Parte IV – Arbitragem Voluntária

Pág. 119 a 315

 Lei da Arbitragem Voluntária: Lei 63/2011, de 14 de dezembro.

Noção e natureza jurídica (pág. 119 e ss): É o modo de resolução jurisdicional de


conflitos em que a decisão, com base na vontade das partes, é confiada a terceiros.

53
A arbitragem é , assim, um meio de resolução alternativa de litígios
adjudicatórios, na medida em que o litígio é decidido por um ou vários terceiros. E
essa decisão é vinculativa para as partes. A arbitragem aproxima-se do padrão
jurisdicional nos seus efeitos: não só a convecção arbitral e a consequente falta de
jurisidição dos tribunais comuns, como também a decisão arbitral faz caso julgado e
tem força executiva.

 Então a arbitragem é:

 Um MRL não estadual  Adjudicatório;


 Privado;  Baseado em direitos;
 Voluntário,  Implica relação de
o Arbitragem necessária poder

Vantagens Desvantagens

 Flexibilidade
o As partes decidem o processo a  Custos
o Normalmente é mais cara já
seguir
que tem que se pagar aos
 Especialização árbitros
o Áreas especificas e árbitros
 Arbitrabilidade
especialistas
o Nem todas as disputas podem
 Confidencialidade ser submetidas à arbitragem

 Problemas específicos
 Velocidade
o Quando uma parte não indique
o É mais rápida do que o tribunal
um árbitro, quando não haja
judicial
consenso,etc.
 Adequação para transações internacionais
o Desconfiança face aos tribunais
estrangeiros

54
Pág. 119 e ss:

A origem da arbitragem aliada à sua natureza jurisdicional tem colocado dificuldades


quanto à sua caracterização jurídica.
A propósito da natureza jurídica da arbitragem debatem-se teses: contratuais,
jurisdicionais e mistas.
 Para a teoria contratual, na sua formulação mais radical, a decisão arbitral é um
contrato celebrado pelos árbitros como mandatários das partes.
 Para esta tese, só a homologação judicial permite que a decisão arbitral seja
uma verdadeira sentença. Já a tese jurisdicional entende que as decisões são
atos jurisdicionais, sendo os árbitros os juízes e não mandatários das partes.
 Por último, a conceção mista defende que a arbitragem voluntária está a meio
caminho entre o julgamento de autoridade judicial e o contrato livremente
consentido pelas partes – o arbitro julga, mas não exerce as funções públicas
de um juiz.

A doutrina atual tem adotado esta última tese, na medida em que falamos de algo que
tem, sem qualquer dúvida, um fundamento contratual (a convenção de arbitragem),
mas constitui uma atividade jurisdicional e conduz a uma decisão com eficácia
jurisdicional.
Prova deste caráter misto, é a eficácia executiva da decisão arbitral (elemento
público), por um lado, e a limitação da competência do tribunal arbitral, por outro, à
convenção de arbitragem (elemento privado). Marca, ainda desta qualidade
jurisdicional são as garantias que a Lei da Arbitragem Voluntária estabelece para o
processo arbitral – um processo arbitral só será reconhecido com todos os seus efeitos
se cumprir as regras mínimas do processo justo.

Como se vem tornando habitual dizer, arbitragem voluntária é contratual na sua


origem, privada na sua natureza e jurisdicional na sua função. A qualidade contratual
advém da fonte dos poderes jurisdicionais, o caráter jurisdicional resulta do conteúdo
dos poderes atribuídos pelo contrato.
Esta caracterização é muito importante, na medida em que tem diversas
consequências no regime de arbitragem e na integração das lacunas da Lei da
Arbitragem Voluntária. Tem relevância, por exemplo, na exata configuração do
estatuto dos árbitros.

A arbitragem voluntária é regida pela Lei 63/2011, de 11 de dezembro, diploma que


substituiu a Lei 31/86 de 29 de agosto.

55
Espécies de Arbitragem

 Ad hoc: é um mecanismo de arbitragem estabelecido especificamente para


aquele litígio específico.

Pá g
. O tribunal é constituído específica e unicamente para um determinado litígio. Antes
12
da execução da convenção de arbitragem o tribunal não existe e após o proferimento
5
da decisão arbitral extingue-se.
O caráter efémero do tribunal arbitral ad hoc pode trazer dificuldades,
designadamente no tratamento da matéria das consequências da anulação da decisão
arbitral e também em certos aspetos do princípio da competência.
Esta arbitragem ad hoc é controlada apenas pelos tribunais posteriormente à
demora da sentença, isto é, o controlo feito casuisticamente.

 Institucional: submete-se o litígio a uma instituição de arbitragem que tem a


sua própria infraestrutura e as suas regras de arbitragem.

Realiza-se numa instituição arbitral como um centro ou câmara, com caráter de


permanência e sujeita a um regulamento próprio.
Na arbitragem institucionalizada temos 2 tipos de modelos:

O mais antigo e típico na arbitragem comercial, é o do centro funcionar


apenas como órgão administrativo, constituindo-se tribunais arbitrais para cada litígio.
É este o sistema da Câmara de Comércio Internacional e o do London Court of
International Arbitration, que inspira os centros de arbitragem da Câmara do Comércio
de Indústria Portuguesa e da Associação Comercial do Porto. Os árbitros são
nomeados para cada processo. O centro de arbitragem tem, por regra, funções muito
importantes de secretaria e de decisão antes da constituição do tribunal arbitral e em
caso de recusa dos árbitros, mas não tem qualquer interferência na decisão do caso. A
competência é sempre do tribunal arbitral – alguma decisão que seja tomada pelo
centro antes da sua constituição é meramente provisória, podendo ser alterada pelo
tribunal;

Pá g.
123 O 2º modelo, utilizado nos centros de arbitragem de consumo nacionais, há só um
-
árbitro, que julga todos os processos entrados no centro. O centro de arbitragem
124
funciona assim como um verdadeiro tribunal instituído, com a sua secretaria e o seu
juiz. É um sistema menos flexível, mas adequado a conflitos de baixo valor e de pouca
complexidade.

56
Noção e Âmbito – Art. 1º LAV

Tem caráter voluntário e adjudicatório.

Âmbito Material, litígios:

 Interesses de natureza patrimonial


 Interesses de outra natureza, mas transacionáveis
 Sobre questões de natureza contenciosa
Ex.: contratos duradouros

Âmbito Temporal, litígio:

 Atual
 Futuro/Eventual
EXCLUSÃO

Não cabem no âmbito material.

Exclusivo dos Tribunais.

Exclusivos da arbitragem necessária

 Justa indeminização – Código das Expropriações


 Conflitos de Consumo – Lei 24/96, de 31 de julho

Convenção de Arbitragem

Noção e natureza jurídica (pág. 125-126): Acordo pelo qual as partes decidem submeter
determinado litígio à decisão de árbitros.
Tem natureza contratual, na medida em que é um negócio jurídico bilateral.

É a convenção arbitral que determina a jurisdição do tribunal arbitral, isto é, o tribunal


arbitral só tem competência quando o litígio que lhe é submetido está integrado na
convenção de arbitragem. Por esta razão, o estudo da convenção arbitral tem na
arbitragem um lugar central. É uma espécie de foco de luz que ilumina a área da
competência. O que estiver na escuridão, mesmo que relacionado co o litígio inserido

57
na convenção, não pode ser decidido pelo tribunal arbitral. Se houver decisão sobre
matéria não incluída na convenção, essa decisão é anulável por ser proferida por
tribunal incompetente (art. 46º nº3 a) iii) LAV).
Este aspeto será por diversas vezes referido, até porque levanta alguns
problemas de difícil resolução. Mas é importante que fique, desde já, bem esclarecido.
Porque é contratual a fonte dos poderes do tribunal arbitral, este só tem competência
se onde houver contrato. Assim, para que o tribunal arbitral seja competente, é
necessário que o litígio em causa esteja contemplado na convenção arbitral.

Espécies

 Compromisso Arbitral: quando tem por objeto um litígio atual, ainda que afeto
a um tribunal do Estado.

 Cláusula Compromissória: quando tem por objeto litígios eventuais


emergentes de determinada relação jurídica contratual ou extracontratual.
Natureza: acordo ou negócio jurídico processual.

Elementos essenciais

Indicação das partes outorgantes.

Determinação do litígio ou litígios abrangidos pela convenção.

Vontade de criação de um tribunal arbitral (vontade de se submeter à arbitragem).

Convenção de Arbitragem
- 5 tópicos práticos para conteúdo -

Definir o litígio eventual.


Referir o número de árbitros.
Escolher as regras arbitrais.
Selecionar o local.
Selecionar a língua de arbitragem.

Convenção de Arbitragem

58
Forma: Consequência:

 2º nº1: escrita
 3º: nulidade da convenção
da arbitragem
 2º nº2 a 5: equivalente a escrita
o Formalidade ad probationem

 2º nº6:
o O compromisso arbitral deve
determinar o objeto do litígio

o A cláusula compromissória deve


especificar a relação jurídica a que os
litígios respeitem

Modificação pelas partes: Revogação pelas partes:

- Até à prolação da sentença arbitral.


- Até aceitação do primeiro árbitro ,OU,

-Forma escrita
- Até à prolação da sentença arbitral, desde que com o
acordo de todos os árbitros.

Caducidade:
- Forma escrita.

-A morte ou extinção das partes não faz


caducar, salvo acordo das partes.

Efeitos Positivos:

 Obrigar as partes a submeter os litígios abrangidos pela convenção a


arbitragem;
 Providenciar a base jurisdicional do tribunal arbitral.

59
Efeitos Negativos:

 Impedir que as partes recorram ao tribunal estadual nas questões por si


abrangidas.

Exceções:

 Constituição do tribunal arbitral;


 Providências cautelares;
 Revisão da sentença arbitral.

Art. 18º /a: Princípio da competência da competência:

O tribunal arbitral tem competência para apreciar a sua competência e validade da


convenção de arbitragem.

A nulidade de cláusula compromissória é independente da nulidade do contrato em


que se insere.

Art. 5º
-Tribunal Judicial-

Invocação pelo Réu origina absolvição da instância.


Exceto: manifesta nulidade, ineficácia ou inexequibilidade

Art. 7º - Compatibilidade com providências cautelares.

O Processo de Arbitragem
Ler págs. 233 a 258

 Regulamentação legal mínima

60
o Natureza privada e contratual da arbitragem
o Escolha das regras pelas partes

 Limites ao poder de conformação processual

o Princípio da citação do demandado


o Princípio da igualdade
o Princípio do contraditório

Na escolha, deve considerar-se:

→ Lugar da arbitragem
→ Língua do processo
→ Serviços administrativos
→ Custas
→ Confidencialidade
→ Meios de comunicação entre partes e entre partes e tribunal
→ Número limite de peças processuais
→ Questões a decidir
→ Regras sobre a prova
→ Regras sobre as audiências
→ Decisão do tribunal

Fases do Processo

1. Fase preliminar ou dos pedidos


 Petição e
 Contestação

2. Fase intermédia
 Organização
 Calendarização

3. Fase final
 Audiência
 Decisão

O Processo de Arbitragem – Principais Questões

61
1. Instalação do Tribunal
2. Alegações das partes
3. Fase intermédia
4. Produção de Prova
5. Julgamento e decisão

1-Instalação do Tribunal Arbitral

 Constituição do Tribunal

o Art. 8º LAV
o 1 Árbitro ou mais, sempre em número ímpar
o Regra base: 3 árbitros

 Designação dos Árbitros

o Art.10º a 16º LAV

o O poder de designação cabe às partes, respeitando um princípio de


igualdade;

o A designação por terceiros apenas ocorre a pedido das partes, por falta
de acordo ou no caso de falta de designação de árbitro por uma das
partes;

o O exercício da função de árbitro é voluntário, estando dependente de


aceitação expressa

 Os Árbitros

o Art. 9º LAV

o Pessoas singulares e plenamente capazes

o Independentes e imparciais

o Art. 13º nº3 LAV – qualificações

62
o Art. 17º LAV – remunerações

 Ata de Instalação

o Estabelece a data a partir da qual se contam os prazos para a decisão.


 O tribunal dispõe do prazo de 12 meses a partir da data de
aceitação do último árbitro – art. 14º / 1 LAV

o Delimita-se aqui o litigio e a competência do tribunal arbitral, assim


como se estabelecem regras processuais

2-Alegações das Partes

 Petição – peça do demandante onde enuncia o pedido e os factos em que se


baseia

 Contestação – peça do demandado onde expõe a defesa relativamente aos


pedidos e factos da petição.

3-Fase Intermédia

 Reunião / Audiência

o Organização do processo
o Preparação da prova

4-Produção da Prova

 Prova

o Admissibilidade (art. 30º / 4 LAV)


o Ónus da prova

63
o Métodos de produção de prova

5-Julgamento e Decisão

 Audiência Final

o Necessária

o Questões a verificar:
 Local adequado
 Audiência em dias seguidos ou não
 Se haverá limites de tempo para inquirir testemunhas e para
alegações finais
 Tempo de produção de prova ao dispor de cada parte

 Decisão

o Art. 39ª / 1, 2 e 3 LAV


 Em princípio julgam segundo o direito constituído.
 Por acordo das partes podem decidir segundo a equidade.
 Por acordo das partes, podem ainda decidir com base do
equilíbrio dos interesses.

 Sentença

o Art. 39º / 4 LAV


 Recurso para tribunal estadual apenas no caso de as partes o
terem previsto e não ter sido baseada na equidade.

o Art. 46º LAV


 Possibilidade de pedido de anulação ao tribunal estadual.

 Execução

o Art. 42º / 7 LAV


 Força executiva igual a sentença de um tribunal estadual.

Parte V – Organização do Sistema Judiciário 64


1. Conceitos essenciais
2. Organização judiciária portuguesa
3. Tribunais judiciais

 CRP – Decreto de 10 de abril de 1976


 Lei de Organização do Sistema Judiciário - LOSJ – Lei nº 62/2013, de 26
de agosto
 Regime Aplicável à Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais
– DL 49/2014, de 27 de março
 Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais – Lei nº 13/2002, de 19
de fevereiro
 Regime dos TAF – DL 325/2003, de 29 de dezembro

Tribunais

 Função Jurisdicional

65
o Art.202º CRP
o Os Tribunais são os órgãos de soberania com competência para
administrar a justiça em nome do povo

 Independência

o Art. 203º CRP


o Os Tribunais são independentes e apenas estão sujeitos à lei.

Tipos:

Tribunal Constitucional
Tribunal de Contas
Tribunais Judiciais
Tribunais Administrativos e Fiscais
Julgados de Paz
Tribunais Arbitrais
 Tribunal Constitucional

→ Competência: apreciar a inconstitucionalidade e a ilegalidade das normas


legais ou da sua interpretação.

→ Composição: são 13 juízes


o 10 são designados pela AR
o 3 são cooptados pelos designados pela AR
o 6 obrigatoriamente juízes de carreira e os restantes juristas

 Tribunal de Contas

o Competência: fiscalização da legalidade das despesas públicas e de


julgamento das contas que a lei impõe.

 Julgados de Paz

66
o Tribunais com competência para decidir ações declarativas cíveis de
valor até 150.000€, exceto em matérias de direito da família, sucessões
e trabalho.

 Tribunais Arbitrais

o Resolução de conflito patrimonial através de um acordo das partes que


submete a decisão do litígio a árbitros por elas escolhidos, nas áreas de
consumo, setor automóvel, seguros, propriedade industrial e
arbitragem administrativa e tributária, entre outras.

 Tribunais Administrativos e Fiscais

o Julgamento de litígios emergentes das relações jurídicas administrativas


e fiscais entre o Estado e os particulares.

67
TAF – Juízos Administrativos – 44º A
Juízo Administrativo Comum: matéria administrativa que não cabe a outro juízo.

Juízo Administrativo Social: litígios emergentes do vínculo de trabalho em funções


públicas e da sua formação, ou relacionados com formas públicas ou privadas de
proteção social.

Juízo de Contratos Públicos: processos relativos à validade de atos pré-contratuais e


interpretação, à validade e execução de contratos administrativos ou de quaisquer
outros contratos celebrados nos termos da legislação sobre contratação pública.

68
Juízo de Urbanismo, Ambiente e Ordenamento do Território: litígios em matéria de
urbanismo, ambiente e ordenamento do território sujeitos à competência dos
tribunais administrativos.

TAF – Juízos Tributários – 49º A


Juízo tributário Comum: matéria tributária e cuja competência não esteja atribuída ao
outro juízo.

Juízo de Execução Fiscal e de Recursos Contraordenacionais: litígios emergentes de


execuções fiscais e de contraordenações tributárias.

69
~

 Supremo Tribunal de Justiça

o Art. 31º e 45º ss LOSJ


o Órgão superior da hierarquia dos tribunais judiciais
o Secções: civil, social e criminal - art. 47º LOSJ

 Tribunais da Relação

o Art. 32º e 67º ss LOSJ


o Lisboa, Porto, Coimbra, Guimarães e Évora
o Tribunais de 2ªestância
o Secções: cível, penal, social, família e menores, comércio e propriedade
intelectual e de concorrência, regulação e supervisão - art. 67º LOSJ
o Alçada 30.000€ - art. 44º LOSJ

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 Tribunais de 1ª Instância

o Art. 33º e 79º ss LOSJ


o Tribunais de 1ª Instância
o Alçada: 5.000€ - art. 44º LOSJ
o 23 comarcas
o Tribunais de competência territorial alargada

Tribunais de Comarca

1) Tribunal Judicial da Comarca dos Açores


2) Tribunal Judicial da Comarca de Aveiro
3) Tribunal Judicial da Comarca de Beja
4) Tribunal Judicial da Comarca de Braga
5) Tribunal Judicial da Comarca de Bragança
6) Tribunal Judicial da Comarca de Castelo branco
7) Tribunal Judicial da Comarca de Coimbra
8) Tribunal Judicial da Comarca de Évora
9) Tribunal Judicial da Comarca de Faro
10) Tribunal Judicial da Comarca de Guarda
11) Tribunal Judicial da Comarca de Leiria
12) Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa
13) Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Norte
14) Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Oeste
15) Tribunal Judicial da Comarca de Madeira

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16) Tribunal Judicial da Comarca de Portalegre
17) Tribunal Judicial da Comarca de Porto
18) Tribunal Judicial da Comarca de Porto Este
19) Tribunal Judicial da Comarca de Santarém
20) Tribunal Judicial da Comarca de Setúbal
21) Tribunal Judicial da Comarca de Viana do castelo
22) Tribunal Judicial da Comarca de Vila real
23) Tribunal Judicial da Comarca de Viseu

 Tribunais de Competência Territorial Alargada

o Tribunal da propriedade intelectual – art. 111º LOSJ


o Tribunal da concorrência, regulação e supervisão – art. 112º LOSJ
o Tribunal Marítimo – art. 113º LOSJ
o Tribunal de execução das penas – art. 114º LOSJ
o Tribunal central de instrução criminal – art. 116º LOSJ

 Tribunais de Competência Territorial Alargada – art. 65º RAOFTJ

1) Tribunal de Execução das Penas dos Açores;


2) Tribunal de Execução das Penas de Coimbra;
3) Tribunal de Execução das Penas de Évora;
4) Tribunal de Execução das Penas de Lisboa;
5) Tribunal de Execução das Penas do Porto;
6) Tribunal Marítimo;
7) Tribunal da Propriedade Intelectual;
8) Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão:
9) Tribunal Central de Instrução Criminal.

 Tribunais de Comarca

→ Juízo de Competência especializada:


 Central Cível

72
 Local Cível
 Central criminal
 Local criminal
 Local de pequena criminalidade
 Instrução criminal – art. 119º LOSJ
 Família e menores – art. 122º LOSJ
 Trabalho – art. 126º LOSJ
 Comércio – art. 128º LOSJ
 Execução – art. 122º LOSJ
→ Juízos de Competência Genérica – art. 130º nº1 e 2 LOSJ

→ Juízos de proximidade – art. 130º nº5 LOSJ

Tribunais de Comarca

CÍVEIS CRIMINAIS
 Juízo Local Cível  Juízo Local de Pequena
→ Ações de valor até Criminalidade – art. 130º, nº4
50.000€ LOSJ
→ Processos especiais:
 Juízo Central Cível – art. 117º sumário, abreviado e
LOSJ sumaríssimo
→ Ações de valor superior a → Recursos de
50.000€ contraordenação: com
coima até 15.000€

 Juízo Local Criminal

→ Tribunal Singular

 Juízo Central Criminal – art. 118º

→ Tribunal Coletivo ou de
Júri
73
Competência Tribunais 1ª Instância

- Elementos de Conexão –
 Conexão Territorial: onde ocorreu o litígio

Conexão Material: qual a matéria do litígio

Conexão Económica: qual o valor do litígio

Elementos de Conexão Territorial

 Distribuição territorial das competências

 Elementos de ligação

 Domicílio ou sede do Réu. Ex.: ação de suspensão de deliberação.


 Domicilio do Autor. Ex.: ações de divórcio.
 Local de situação de bens. Ex.: no caso de bens imóveis.
 Local onde ocorreu o facto gerador de responsabilidade civil. Ex.: acidente de
viação.
 Local onde a obrigação devia ser cumprida. Ex.: litígio emergente de contrato

 Regras dos Códigos de Processo. Ex.: art. 70º e ss CPC

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