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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Ensino a Distância


Centro de Recursos de Nampula
Licenciatura em Administração Pública

Avaliação da percepção dos jovens sobre a saúde sexual reprodutiva na comunidade


onde o estudante vive

Pedro Luís, 70822499

Nampula, Setembro de 2023


Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Ensino a Distância

Centro de Recursos de Nampula


Licenciatura em Administração Pública

Avaliação da percepção dos jovens sobre a saúde sexual reprodutiva na


comunidade onde o estudante vive

Pedro Luís, 70822499

O presente trabalho é de carácter avaliativo da


cadeira de Governo Electrónico e Globalização,
Curso de Administração Pública, 2° Ano, Turma
I, leccionado pelo Docente: Tutor dr. Esmeralda
Sara Mujui

Nampula, Setembro de 2023


Critérios de avaliação (disciplinas teóricas)

Classificação

Categorias Indicadores Padrões Nota


Pontuação Subtota
do
máxima l
tutor
 Índice 0.5
 Introdução 0.5
Aspectos
Estrutura  Discussão 0.5
organizacionais
 Conclusão 0.5
 Bibliografia 0.5
 Contextualização
(Indicação clara do 2.0
problema)
Introdução  Descrição dos
1.0
objectivos
 Metodologia adequada
2.0
ao objecto do trabalho
 Articulação e domínio
do discurso académico
Conteúdo (expressão escrita 3.0
cuidada, coerência /
Análise e coesão textual)
discussão  Revisão bibliográfica
nacional e internacional
2.0
relevante na área de
estudo
 Exploração dos dados 2.5
 Contributos teóricos
Conclusão 2.0
práticos
 Paginação, tipo e
Aspectos tamanho de letra,
Formatação 1.0
gerais paragrafo, espaçamento
entre linhas
Normas APA
Referências  Rigor e coerência das
6ª edição em
Bibliográfica citações/referências 2.0
citações e
s bibliográficas
bibliografia
Folha para recomendações de melhoria:A ser preenchida pelo tutor

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Introdução

O presente capítulo tem como foco a temática do início da vida, em uma perspectiva ética e
enquadrada no contexto da saúde em geral e nos cuidados de enfermagem em particular. Serão
discutidos, assim, os principais problemas que se colocam ao início de vida directamente
relacionados com os cuidados de saúde e a partir de uma análise ética.

Importa, por isso, desde já, clarificar o campo temático em que este texto se situa — início da
vida humana —, o contexto no qual a temática se insere — a saúde em geral e a enfermagem
em particular — e a perspectiva de abordagem que também obriga à escolha metodológica — a
análise ética.

A temática circunscreve-se a uma área científica que tem verificado um significativo


desenvolvimento e exigido do sistema de saúde um continuado progresso de respostas de
cuidados. Com efeito, ao passo que, até ao final do século passado, o início da vida humana se
relacionava com os cuidados de saúde apenas no que dizia respeito à gravidez e ao parto,
assiste-se, hoje, a uma possibilidade imensa de técnicas de procriação que permitem às pessoas
aumentarem as suas escolhas face ao desejo de ter um filho.

A expressão início de vida utilizada neste estudo corresponde ao sentido científico e ético com
que é habitualmente abordada na literatura. Trata-se do período inicial da vida humana,
considerando o seu continuum completo. O início da vida, nos termos em que aqui se aborda,
refere-se ao período após a concepção, abrangendo a gravidez e o nascimento; um período no
qual, do ponto de vista ético, podem existir diversas intervenções humanas, que podem fazer
alterar esse percurso ou ser determinado por meios artificiais. É sobre esse período que este
estudo se detém, tendo em conta, sobretudo, a intervenção de enfermagem.
Problemáticas éticas no início da vida

As problemáticas éticas no início da vida estão relacionadas com as constantes possibilidades


científicas e tecnológicas disponíveis para intervir nessa fase do ciclo vital humano. As novas
técnicas de procriação medicamentosa assistida permitem, hoje, escolhas aos futuros pais que
possibilitam ultrapassar o problema da infertilidade. E, certamente, essa possibilidade técnica
continuará a aumentar, pois esse desenvolvimento se verifica a cada dia. Contudo, importa
discutir sobre os limites dessas novas possibilidades, aprofundando estudos anteriores.1

Na atualidade, e desde o significativo progresso científico e técnico iniciado no século XX,


verificou-se que tudo o que se relaciona com a vida humana se articula com o sistema de saúde.
Os problemas de desenvolvimento nas crianças têm resposta nos cuidados de saúde, as doenças
e as necessárias adaptações da pessoa ao seu contexto de vida encontram soluções nos cuidados
de saúde e até o natural acontecimento da morte assume, hoje, um lugar muito relevante na
saúde, como é o caso da interferência no curso final da vida por meio de cuidados intensivos ou
a determinação do momento da morte pela eutanásia, que também ocorre no sistema de saúde.

A saúde passou a ser, no Estado atual, um dos principais sistemas da sociedade, em que
desembocam problemas e são procuradas soluções por meio da aplicação do conhecimento
científico das diversas ciências da saúde. A enfermagem, enquanto uma das mais relevantes, é
continuadamente chamada a participar, em razão do cuidado que presta aos seres humanos, e se
encontra sempre presente no progresso científico da saúde.

Mesmo nas circunstâncias em que as demais ciências se retiram do cuidado assistencial —


como é o caso do fim de vida, por exemplo —, a enfermagem nunca abandona a pessoa,
encontrando sempre razão para intervir.

No início da vida, é isso que se passa. A enfermagem sempre participou na ajuda ao


planejamento da gravidez pelos pais, sempre assistiu na gestação e sempre esteve presente no
nascimento. Agora, com as novas técnicas disponíveis de procriação medicamente assistida, a
enfermagem não pode demitir-se de acompanhar com o seu cuidado as mães e os pais que
recorrem a essas novas possibilidades tecnológicas. E do mesmo modo que a ética de
enfermagem discutia os “velhos” problemas éticos relacionados com o início da vida, como o
aborto, por exemplo, é agora chamada a se pronunciar sobre os novos problemas que se
colocam ao agir profissional do enfermeiro nesse domínio.

Naturalmente que o aborto continua a ser um dos principais problemas éticos do início de vida.
No aborto, está em conflito um eventual direito que a mãe tem de interromper a gravidez e o
direito à vida do novo ser humano que está a ser gerado. Trata-se de um problema ético
diretamente relacionado com os cuidados de enfermagem, uma vez que o enfermeiro é chamado
para participar nessa intervenção.

A promoção e a defesa da vida são princípios éticos que estão aqui em equação e que exigem do
enfermeiro uma adequada ponderação ética para o seu agir. O aborto surge como problema após
haver decisão (ou acaso) face a uma gravidez e, portanto, depois de existir concepção e vida
humana constituída. A decisão ética centra-se, assim, na interrupção do curso da vida, o que
ganha contornos específicos, como se verá adiante.

Determinação ética do início da vida

Quando se faz referência ao início da vida, situa-se em um período temporal que se pode
delimitar, mas, tratando-se de um início, é igualmente necessário determinar o momento em que
esse ocorre. Deseja-se fazer menção a um período que se considera como corresponder ao início
da vida humana, mas importa fixar o acontecimento que determina esse início. Exatamente
como se faz com o fim de vida, um período temporal em que a pessoa caminha para o término
da sua vida e em que se considera a morte como acontecimento final.

No início da vida, o acontecimento temporal não é tão fácil de determinar. Ao passo que, no
final, a morte, determinada cientificamente, é aceita consensualmente na perspectiva ética como
acontecimento final. Ou seja, não há nem consenso científico, nem ético sobre qual
acontecimento determina esse início. E existem mesmo diferentes opiniões, com argumentos
diversos, que levam a que esse período ainda seja bastante indeterminado.

Para uns, o ciclo de vida inicia-se na concepção, quando se verifica a união entre o gameta
masculino e o gameta feminino e o ácido desoxirribonucleico (DNA) de cada um se funde,
originando um novo ser vivo. A identidade genética de um e de outro progenitor termina para
dar origem a uma nova vida humana.

Essa tese tem, contudo, um grande problema, que é, ao mesmo tempo, um problema científico e
ético. Trata-se da impossibilidade (atual) de determinar o momento da concepção, incluindo a
possibilidade de o prever e mesmo de saber a posteriori quando ocorreu. Sabe-se que ocorreu
quando o novo ser se revela na gravidez, mas não se consegue determinar exatamente o
momento temporal em que aconteceu. É assim na vida humana e na vida animal.

Procriação medicamente assistida

Nos termos discutidos até aqui, importa clarificar sobre o papel que a procriação medicamente
assistida deve assumir na concepção de um novo ser humano. Independentemente dos motivos
que levam à sua procura, já discutidos anteriormente, importa debater acerca das consequências
do uso das técnicas disponíveis.
A procriação medicamente assistida inclui diversas técnicas, nas quais o enfermeiro não
intervém diretamente. Contudo, quer ao nível da participação, quer ao nível do aconselhamento,
o enfermeiro precisa ter presente as consequências de cada técnica para poder aferir da sua
adequação ética.

A problemática ética mais relevante é a que se relaciona com as técnicas que envolvem a
concepção de mais de um embrião de modo artificial e, no final, sobram embriões que não são
usados para implante na futura mãe. Em meio laboratorial, unem-se os gametas masculinos e os
femininos, que dão origem a um embrião humano e, na incerteza sobre se um só embrião é
capaz de resistir a todo o processo, são criados vários, sem que todos sejam usados para o
desenvolvimento embrionário e fetal e venham a originar um filho. Alguns são congelados à
espera de uma nova oportunidade, de modo que, hoje, fala-se em muitos milhões de embriões
humanos congelados pelo mundo. Muito provavelmente, nunca se saberá a dimensão desse
“armazenamento” humano.

O uso dessas técnicas pelo sistema de saúde, ao levar à concepção de vários embriões sem que
todos tenham como destino a implantação uterina e o consequente desenvolvimento humano,
revela uma ausência de valoração ética, ou pior, uma demonstração do desvalor atribuído à vida
humana. Quer uma, quer outra realidade não correspondem ao papel que o sistema de saúde
assume na sociedade.

Os cuidados de saúde não são eticamente neutros e costumam assumir como valores cimeiros a
promoção e a defesa da vida e o respeito pela dignidade da pessoa humana. No caso, havendo
criação de embriões humanos de modo artificial, sem que originem seres humanos, há lugar a
uma instrumentalização da vida, que contraria o respeito por tais valores.

Seria suposto que a procriação medicamente assistida não abandonasse o quadro ético em que
os cuidados de saúde se inserem e que não tornasse possível que alguma das suas técnicas
violasse os princípios e os valores que foram construídos.

Se, à partida, pode-se aceitar que um embrião seja criado de modo artificial, resolvendo a
impossibilidade natural da concepção humana, dificilmente se poderá justificar eticamente que
se verifiquem embriões sobrantes que ficam sem destino armazenados no mesmo sistema de
saúde. Trata-se de uma clara violação do princípio de que nem tudo o que científica e
tecnicamente é possível é eticamente aceitável. Uma violação desprovida de qualquer reflexão
ética por parte de quem toma as decisões profissionais, como se os cuidados de saúde tivessem
como único critério a possibilidade para a sua prestação.
Gravidez de substituição

A gravidez de substituição consiste na possibilidade de uma mulher permitir que o seu útero
seja usado para desenvolver um embrião que resultou da junção de gametas masculinos e
femininos de terceiros. No final dessa gravidez, a criança nascida não é considerada filho dessa
mulher, mas dos progenitores que forneceram os gametas.

A possibilidade científica atual de gravidez de substituição situa-se no limite daquilo que se


pode considerar como aceitável do ponto de vista ético, uma vez que coloca inúmeras questões
não resolvidas. Desde logo, essa solução para um problema de infertilidade ou por mera escolha
dos progenitores implica a intervenção de uma terceira pessoa na concepção de um ser humano.
Uma intervenção que não ocorre na fase preconcepção, como acontece na doação de gametas,
mas que se verifica em uma fase posterior e que se prolonga durante todo o tempo de gravidez
até ao nascimento.

Ao passo que, na doação de gametas, o doador limita-se a fornecer o seu material genético em
um único momento, na gravidez de substituição a mulher que não vai ser mãe mantém uma
relação com um embrião e um feto em desenvolvimento durante 9 meses. Um tempo que está
descrito de forma muito clara na literatura como uma fase de relação inicial entre mãe e filho,
que vai se aprofundando ao longo do tempo e se constitui como uma etapa da vida de ambos,
que, por várias razões, é tida como essencial.

Na gravidez de substituição, o final da relação termina no nascimento; a mulher deixa de ser


mãe e o filho adquire uma outra parentalidade. Na perspectiva ética, essa separação já é bastante
para questionar sobre a sua legitimidade. Contudo, a problemática não se esgota aqui. Surge de
novo o problema da identidade pessoal e do direito que cada pessoa tem ao conhecimento dessa
identidade.

No caso de uma gravidez de substituição, há duas mulheres que contribuem para que um novo
ser humano nasça, o que introduz uma profunda alteração no conceito de parentalidade, em que
cada pessoa tem (apenas) um pai e uma mãe. Coloca-se, assim, a questão de saber a quem deve
ser atribuída a condição de mãe e, ao mesmo tempo, a interrogação sobre que efeitos esse fato
tem na pessoa nascida. A discussão ética obriga a considerar essas duas realidades, sob pena de
os argumentos do lado dos pais impedirem o livre discernimento sobre as implicações para o
filho que vai nascer de modo não natural.

É claro que as razões que levam uma pessoa (ou duas, no caso de um casal) a recorrer a uma
gravidez de substituição para ter um filho devem ser atendíveis e são, em si mesmas, razões que
não devem ter condenação ética. Desejar se pai ou mãe é uma legitimidade de todos e faz parte
da expectativa de desenvolvimento de todo o ser humano (do mesmo modo que o não querer ser
pai ou mãe, por decisão própria, é igualmente legítimo).

Aborto

A problemática do aborto encontra-se bastante discutida na literatura. Contudo, nem sempre


essa discussão ultrapassa as fronteiras da bioética e se estende para a toda comunidade científica
da saúde, de tal forma que se observa, por diversas vezes, que os argumentos de discussão entre
os profissionais de saúde são exatamente os mesmos da mera conversa social, em que falta o
devido aprofundamento com base nos princípios e nos valores éticos que devem nortear o agir.

Na apreciação política da temática do aborto, surgem, muitas vezes, argumentos relacionados


com as dificuldades econômicas das mulheres ou com a saúde pública, fazendo da discussão
uma mera análise social. É claro que essas dimensões do problema do aborto não podem ser
descuradas, contudo, em uma reflexão ética rigorosa, é necessária uma maior extensão e,
sobretudo, uma maior profundidade da análise. Maior extensão porque é preciso chamar à
colação as diversas dimensões do problema e uma maior profundidade porque se deve discutir
essa multidimensionalidade do problema com base nos princípios e nos valores, e não em uma
superficial análise das condicionantes econômicas e sociais.

No aborto, estão em conflito valores que são muito caros à enfermagem, mas uma análise mais
profunda leva a conclusões adequadas para o agir profissional. Desde logo, importa discutir o
argumento da autonomia ou da liberdade da mulher grávida para decidir sobre o termo da
gravidez. O argumento costuma servir-se da ideia de que a mulher tem o direito de decidir sobre
si e sobre o seu corpo, pelo que pode interromper a sua gravidez. É claro que tal argumento é
facilmente desmontado, pois a liberdade da decisão do ser humano deve ser mais amplamente
analisada, sobretudo quanto às suas consequências.

Uma coisa é decidir sobre si próprio, a sua vida e o seu corpo; realidade bem diferente acontece
quando as consequências das decisões, para além de si próprio, implicam também terceiros. A
pessoa é livre para decidir sobre si (sendo que essa ideia é tão discutível como qualquer outra,
porque a liberdade individual não é absoluta), mas não tem autonomia para decidir sobre a vida
dos outros. Ora, no aborto, a decisão não é apenas relativa ao corpo da mulher que decide; a
decisão tem como consequência maior a interrupção do curso da vida de outro ser humano. Um
ser em desenvolvimento, é certo, ainda não nascido, mas cujo rumo não é outro que não seja o
nascer pessoa.

A principal questão ética relacionada com o aborto é acerca da legitimidade da mulher para
extinguir o natural desenvolvimento do seu filho. A fundamentação ética assenta no valor da
vida e, no caso particular da enfermagem, sobre a sua supremacia no agir do enfermeiro.
Desde sempre, a enfermagem se assumiu como a ciência da vida humana, fazendo do cuidado o
meio para promover a vida. O valor vida ganha, assim, um lugar de relevo na ética de
enfermagem (e da saúde em geral), sendo continuamente usado para fundamentar as ações. É
esse respeito supremo pela vida que obriga a uma procura constante de respostas para os
problemas de saúde–doença das pessoas e é o mesmo valor vida que leva a agir em situações
extremas, como uma parada cardiorrespiratória ou um grave compromisso das funções vitais
das pessoas.

Nesses termos, o valor vida está na origem do agir do enfermeiro, pelo que será impossível
reunir argumentos éticos para colocar em risco a vida humana. As intervenções de enfermagem
devem defender a vida, independentemente da sua fase inicial ou final. Considerar um agir de
enfermagem que interrompa o curso da vida humana, em qualquer fase do seu desenvolvimento,
será sempre um agir não fundamentado nos valores profissionais.

A conclusão a que se chega sobre o conceito de início da vida, fazendo corresponder esse início
à concepção, obriga a uma procura pelo cuidado, do respeito integral por esse continuum. Os
argumentos sobre as diferenças na fase inicial da vida que levem a desconsiderar a dignidade da
vida humana no seu início afastam-se desse quadro ético e não podem justificar a ação da
enfermagem.

Exercício da parentalidade

No término deste capítulo, parece adequado concluir com uma temática que atravessa de modo
transversal a problemática do início da vida. Trata-se do exercício da parentalidade, enquanto
conjunto de deveres dos pais face aos seus filhos.

O exercício da parentalidade encontra-se regulado na lei dos países e se constitui,


essencialmente, como um conjunto de deveres atribuído aos pais, em razão dessa condição. Ser
pai ou mãe constitui um papel social da maior relevância, desde logo, pela necessária
materialização do princípio da responsabilidade pelo “outro”, já anteriormente discutido. Ser pai
ou mãe é, em primeiro lugar, uma condição de responsabilidade perante os filhos que abarca
diversas dimensões da vida deles. A responsabilidade pela educação, pela saúde, pela segurança
é apenas uma dessas dimensões que se encontram reguladas na lei, em resultado da concepção
ética que o Estado atual faz desse papel.

Ser pai ou mãe significa, na perspectiva ética, a proteção dos filhos e, ao mesmo tempo, a
promoção da sua independência e da aquisição da sua autonomia plena. Uma dupla
responsabilidade, que não é fácil de concretizar e que exige de todos uma aprendizagem
continuada desse papel.
O exercício da parentalidade exige que a pessoa — pai ou mãe —, ao mesmo tempo que
procura a transferência dos valores familiares e culturais em que está envolvida, deve,
igualmente, promover que cada filho se torne pessoa livre, capaz de procurar os seus próprios
valores e fazer deles a fundamentação do seu percurso de vida. Trata-se, assim, de um papel
social dirigido ao outro, sendo esse outro um indivíduo gerado pela pessoa. Um outro que tem
uma especial ligação humana com quem o gerou, mas cuja relação particular não pode se
confundir com a perda de autonomia enquanto ser humano. Sabe-se que as alterações nessas
relações se configuram como patológicas e que exigem, muitas vezes, intervenção das ciências
da saúde.

Na relação pai/mãe–filho, o objetivo central deve se situar na proteção do filho, e não na


satisfação dos desejos dos pais. A finalidade ética da relação entre pais e filhos é o próprio filho,
tido como pessoa, titular de uma vida, de uma liberdade e de uma dignidade próprias. A função
parental consiste, essencialmente, na promoção do desenvolvimento da condição humana de
cada filho, tido como um outro que cresce para ser feliz.

Quando se faz referência à responsabilidade parental, se quer, sobretudo, deter-se no concreto,


ou seja, sobre as decisões e os atos que os pais praticam perante os seus filhos. São as ações
concretas e não os meros desejos que constroem as relações humanas em geral e as relações
parentais, talvez com maior intensidade. Por se tratar de uma relação próxima (ou que deve ser
próxima), a relação parental deve ser especialmente cuidada, cada decisão e cada ação devem se
fundamentar em princípios e em valores éticos.

Desse modo, ao considerar na centralidade ética das responsabilidades parentais a defesa da


vida e a promoção da felicidade dos filhos, faz-se uma aproximação com a ideia de respeito pela
dignidade da pessoa humana, que se constitui como um princípio basilar da ética atual e da ética
de enfermagem de sempre. No horizonte da promoção da vida da felicidade dos filhos, os pais
agem no sentido da promoção da sua dignidade. A promoção da dignidade humana deve-se
constituir como fim último de qualquer agir humano e que reveste particular valor no exercício
das responsabilidades parentais.

Nesse quadro mais amplo de dever de respeito pela dignidade dos filhos, o exercício da
parentalidade lida com diversos desafios que são colocados diariamente às decisões de pais e de
mães. O respeito pela dignidade implica o reconhecimento da autonomia dos filhos e da sua
capacidade de desenharem a sua própria vida. Contudo, implica, igualmente, o não abandono,
sob pena de essa autonomia não ser adequadamente aprendida e treinada. Isso significa que o
exercício do papel parental se situa em simultâneo entra duas balizas que podem não ser fáceis
de compatibilizar; por um lado, a promoção da independência dos filhos e, por outro, a
continuada proteção da sua existência.
O ser pai e mãe implica a harmonização de objetivos educacionais, em que ambas as finalidades
devem coexistir. Uma autonomia sem proteção gera insegurança e uma incapacidade para ser
feliz. Importa, por isso, não descurar nem uma, nem outra, sob pena de o papel parental se
transformar em um exercício desprovido de conteúdo ético.

Em saúde, no que diz respeito ao início de vida, essa perspectiva ética da responsabilidade
parental ganha particular relevo. No início da vida, o filho ainda não é visível nem estabelece
uma relação humana dialogante. Não é visto, mas está lá. Está lá como vida em
desenvolvimento e como filho. Atender apenas à circunstância da invisibilidade no início de
vida seria bastante redutor para quem passou a exercer um papel social dessa amplitude ética.

Conclusão

O estudo aqui publicado sintetiza o essencial da discussão ética relacionada com a problemática
do início de vida, na perspectiva da saúde, em geral, e da enfermagem, em particular. Como
sempre acontece em enfermagem, as diversas temáticas específicas que se relacionam com o
cuidado incluem uma dimensão ética natural.

Uma dimensão ética que resulta da circunstância do cuidado de enfermagem se dirigir a pessoas
e de ser concretizado por meio de uma relação profissional com o enfermeiro. Esse fato obriga a
discutir a intervenção de enfermagem em qualquer área de atuação, no seu componente ético, a
par da sua dimensão científica, razão pela qual, no domínio do início da vida, o agir do
enfermeiro encerra essa dimensão, que deve levar a que o enfermeiro fundamente o seu agir
concreto nos princípios e nos valores da ética de enfermagem.

Neste capítulo, discutiram-se as principais problemáticas do início da vida, começando por


clarificar quais mereceram atenção. Discutiram-se problemas antigos, como o aborto, ao mesmo
tempo que se trouxe à colação problemáticas mais recentes, como a procriação medicamente
assistida ou a gravidez de substituição.

Referências

Deodato S. Ciência e ética no início da vida. Cad Bioetica. 2006;(41):199–206.

Collière MF. Promover a vida. Lisboa: Lidel; 2010.

Kant I. Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa: Ed. 70; 2003.

Biscaia J. O casal e a fecundidade. In: Archer L, Biscaia J, Osswald W, Renaud M. Novos


desafios à Bioética. Porto: Porto; 2001.
Ricoeur P. O justo ou a essência da justiça. Lisboa: Instituto Piaget; 1997.

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