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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Género e sua relação com HIV


Eugenia Raimundo Samuel -708211656
Turma: N

Cadeira: Habilidade de Vida, Saúde Sexual


e Reprodutiva, Género e HIV-SIDA
Curso: Licenciatura em Ensino de Língua
Portuguesa
Tutor: Ano de frequência: 2º

Milange, Outubro 2022

i
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o máxima
tutor
 Capa 0.5
 Índice 0.5
Aspectos
 Introdução 0.5
Estrutura organizacion
ais  Discussão 0.5
 Conclusão 0.5
 Bibliografia 0.5
 Contextualização
(Indicação clara do 1.0
problema)
Introdução  Descrição dos
1.0
objectivos
 Metodologia adequada
2.0
ao objecto do trabalho
 Articulação e domínio
do discurso académico
Conteúdo (expressão escrita 2.0
cuidada, coerência /
coesão textual)
Análise e
 Revisão bibliográfica
discussão
nacional e
internacionais 2.
relevantes na área de
estudo
 Exploração dos dados 2.0
 Contributos teóricos
Conclusão 2.0
práticos
 Paginação, tipo e
Aspectos tamanho de letra,
Formatação 1.0
gerais paragrafo, espaçamento
entre linhas
Normas APA
Referências  Rigor e coerência das
6ª edição em
Bibliográfi citações/referências 4.0
citações e
cas bibliográficas
bibliografia

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Folha para recomendações de melhoria: A ser preenchida pelo tutor

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Índice
Introdução...................................................................................................................................1

2. Definir Sexo.........................................................................................................................2

3. Diferença género e sexo......................................................................................................3

4. O papel do género na sociedade moçambicana...................................................................3

5. HIV- Conceito.....................................................................................................................4

6. Dados epidemiológicos actualizados sobre HIV em Moçambique.....................................4

7. Factores de risco do HIV.....................................................................................................5

8. Género e sua influenciar na prevalência/incidência do HIV em Moçambique...................6

9. Medidas de mitigação desde conflitos.................................................................................8

Conclusão....................................................................................................................................9

Referencia Bibliográfica...........................................................................................................10

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Introdução
O presente trabalho surge no âmbito da cadeira de Habilidade de Vida, Saúde Sexual e
Reprodutiva, Género e HIV-SIDA como requisito parcial de avaliação na referida cadeira. O
trabalho tem como de estudo o Género e sua relação com HIV.
Entretanto, falar do género na sua relação com HIV é sem duvida um tema de extrema e
fundamental importância, na medida que o nosso pais tem registado elevados índices de
prevalecia do HIV, apesar de muitos esforços que o governo tem empreendido para a
mitigação deste conflito.
Como sabemos a construção social do gênero feminino em Moçambique está baseada na
submissão ao homem, influenciando a vulnerabilidade de gênero à infecção pelo HIV.
É neste prisma que o presente trabalho pretende trazer uma reflexão sobre a influencia do
género na prevalência do HIV no país.

Deste modo, em relação ao tema definiram-se os seguintes objectivos:


Objectivo Geral
 Compreender Género e sua influenciar na prevalência/incidência do HIV em
Moçambique
Objectivos específicos:
 Conceituar Género, sexo e HIV
 Distinguir Sexo de Género
 Descrever os factores de risco do HIV
 Explicar como o Género influenciar na prevalência/incidência do HIV em
Moçambique.
O trabalho apresenta a seguinte estrutura capa, folha de feedback dos tutores, índice,
introdução, desenvolvimento, conclusão e referências bibliográficas
A elaboração do presente trabalho baseou-se na pesquisa explicativa que visa identificar os
factores que determinam para ocorrência de fenómenos em estudo, realizou-se na presente
pesquisa a abordagem qualitativa que visa a definição e explicação de conceitos. No tocante
as técnicas de recolha de dados, serão usadas a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental
sendo que a análise dos dados foi apoiada nos princípios da análise textual discursiva.

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1. Definir Género
O conceito de género começou a ser usado na década de 80 por estudiosas feministas, para
contribuir com um melhor entendimento do que representa ser homem e ser mulher em uma
determinada sociedade e em um determinado momento histórico.
Segundo Grezoski (2005), “o termo gênero tem sido usado em vários contextos tomando
conotações bem distintas. No âmbito de correntes feministas, a definição do termo enfatiza a
noção de cultura, ressaltando diferentemente do conceito de sexo, que se situa no plano
biológico, um caráter intrinsecamente relacional do feminino e do masculino”.
Scott, (2006 citado por Silva e Vargens 2009), adverte que:
Há uma complexidade ao definir a palavra gênero, pois se relaciona com o social e o subjetivo
e exerce influências em diversas situações. Gênero é a forma de apontar as construções
sociais, na ideia de papéis diferentes para homens e mulheres. É uma maneira de se referir às
origens sociais das identidades exclusivas de homens e mulheres. (p. 402).
Enfim conceito de género é, antes de tudo, uma construção histórica e social cujas referências
partem das representações sociais e culturais construídas a partir das diferenças biológicas do
sexo. Se partirmos dessa premissa, podemos concluir que: se levarmos em conta que o
feminino e o masculino são determinados pela cultura e pela sociedade, as diferenças que se
transformaram em desigualdades são portanto, passíveis de mudança.

2. Definir Sexo
Quando falamos em sexo pensaremos imediatamente em um atributo biológico, ou seja, já ao
nascer o bebe tem um sexo definido.
Entretanto, segundo a (Mathieu,2009) o facto de desde cedo ela ser estimulada a brincar com
bonecas e ajudar nos serviços domésticos, por exemplo, não tem nada a ver com o sexo são
costumes, ideias, atitudes, crenças e regras criadas pela sociedade em que ela vive. Partir da
diferença biológica, cada grupo social constrói, em seu tempo, um modo de pensar sobre os
papeis, comportamentos, direitos e responsabilidades de mulheres e homens
Assim, Sexo refere-se às características biológicas que definem os seres humanos como
femininos ou masculinos. Entre as características biológicas diferenciamos factores
cromossómicos (XX ou XY), factores gonadais (ovários ou testículos) ou hormonais e
características genitais externas. Embora esses conjuntos de características biológicas não
sejam mutuamente exclusivos, como existem indivíduos que possuem os dois, eles tendem a
diferenciar os humanos como machos e fêmeas.

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3. Diferença género e sexo
Há uma diferença quando refere do sexo e género. Entretanto, as ciências sociais tem feito nos
últimos anos uma distinção entre os conceitos de sexo e gênero.
Assim, segundo Saldanha (2008) “o sexo está relacionado às distinções anatômicas e
biológicas entre homens e mulheres”.
Mathieu (2009) refere sexo como alguns elementos do corpo como genitálias, aparelhos
reprodutivos, seios, etc. Assim, temos algumas pessoas do sexo feminino (com vagina/vulva),
algumas pessoas do sexo masculino (com pênis) e pessoas intersexuais (casos raros em que
existem genitais ambíguos ou ausentes).
Paralelamente ao sexo Mathieu (2009, p.34) conceitua Gênero “como um termo utilizado para
designar a construção social do sexo biológico. Este conceito faz uma distinção entre a
dimensão biológica e associada à natureza (sexo) da dimensão social e associada à cultura
(gênero)”
Portanto, apesar das sociedades ocidentais definirem as pessoas como homens ou mulheres
desde seu nascimento, com base em suas características físicas do corpo (genitálias), as
ciências sociais argumentam que gênero se refere à organização social da relação entre os
sexos e expressa que homens e mulheres são produtos do contexto social e histórico e não
resultado da anatomia de seus corpos (Mathieu, 2009).

4. O papel do género na sociedade moçambicana


Na perspectiva de gênero, segundo Passador (2009) a mulher moçambicana, historicamente,
assumiu o papel do lar, do cuidado com a família. Na conjuntura atual, esse papel assume
outras formatações, incluindo nas responsabilidades femininas, em muitos casos, o auxílio na
manutenção econômica familiar. Isso por si só, vem significando o questionamento, e porque
não dizer, a exclusão feminina, quando não há uma aceitação dessa nova configuração social.
Ainda, verificam-se inúmeras contradições e problemáticas acentuadas no universo feminino.
Podem-se destacar as diferenças no mundo trabalho e a violência doméstica. Nas relações
construídas do gênero feminino com o enfrentamento que é feito após o acontecimento da
AIDS, verifica-se a presença do preconceito e da exclusão como categorias importantes de
análise, além da identificação do elemento gênero como discriminador (IMASIDA, 2015).
Num estudo desenvolvido por Passador (2009) sobre o Índice de Desigualdade de Género a
desigualdade analisada em e 3 dimensões: a) saúde reprodutiva, b) empoderamento e c)
actividades económicas pode se constatar que , para além da elevada taxa de mortalidade
materna e de ocorrência de gravidezes precoces, nota-se a maior desvantagem das mulheres
em relação aos homens, sobretudo no ensino secundária. Os dados sobre as actividades

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económicas demonstram ainda que em Moçambique a desigualdade estrutural afecta mais as
relações entre homens e mulheres, uma vez as mulheres trabalham mais do que homens e
ganham menos do que produzem.
Assim, existe uma correlação directa entre alto nível de instrução, riqueza e maior exposição
aos meios de comunicação. A situação agrava-se no meio rural, onde menos de 4% de
mulheres sabem o que é internet. Outro desafio para o desenvolvimento socioeconómico do
país está relacionado com o alto índice de analfabetismo, que por várias razões (especialmente
culturais) afecta mais as mulheres (especialmente nas zonas rurais) que os homens (Fonseca,
2005).
Em termos gerais, os dados levantados por WLSA, demonstram claramente que as mulheres
em Moçambique estão em desvantagem em termos socioculturais, políticos e económicos.
Isso depende grandemente das actuais relações de género no país que são altamente
patriarcais Nessa perspectiva de desigualdade de género, as mulheres estão altamente
susceptíveis à violência doméstica e ao abuso sexual e ambos contribuem para o aumento da
pobreza, especialmente entre as famílias chefiadas por mulheres.

5. HIV- Conceito
HIV é a sigla para ‘Human Immunodeficiency Virus’, ou o Vírus da Imunodeficiência
Humana. HIV é o vírus que causa o SIDA.
Segundo HIV é um retrovírus que provoca uma redução imunológica crônica e que tem
comportamento progressivo, essas características estão relacionadas ao decréscimo nos níveis
dos linfócitos CD4, que atuam como mensageiros de ataque para diversos leucócitos a fim de
que se inicie o combate imunológico contra o agente agressor, com o ataque aos linfócitos
CD4 esta defesa do organismo fica deficitária, o que muitas vezes ocasiona a Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida (AIDS) como consequência

6. Dados epidemiológicos actualizados sobre HIV em Moçambique


Segundo INS (2021) em Mocambique mais de dois milhões de pessoas, incluindo mulheres
grávidas, vivem com HIV/ SIDA em Moçambique. Deste número, um milhão e novecentos
mil são adultos e cento e vinte e quatro mil são crianças
O INSIDA em Moçambique, refere que as emergências amplificam a vulnerabilidade à
infecção pelo HIV, especialmente para os grupos como mulheres e crianças.
Moçambique está extremamente afectado pela epidemia do SIDA, tem a segunda maior
epidemia a nível da sub-região da África Subsariana, tem também uma percentagem muito
elevada de transmissão vertical. As elevadas taxas de infecção pelo HIV aumentam a

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vulnerabilidade da população. A taxa de transmissão vertical do HIV da mãe para o seu
filho foi de 13%. Ainda segundo as estimativas, cerca de 2.1 milhões da população
moçambicana vive actualmente com o HIV". O risco de infecção pelo HIV, alertou o
Ministro da Saúde, "é alto entre as populações chave, mulheres e raparigas
adolescentes e mulheres jovens, sendo que ate o primeiro semestre do ano em curso os
adolescentes e jovens foram responsáveis por 40% das novas infeções por HIV (INSIDA,
2021).

Comparando estes dados com o estudo realizado pela IMASIDA conclui-se que a prevalência
é maior nas mulheres (15,4 por cento) do que nos homens (10,1 por cento). O estudo mostra
que a seroprevalência é maior na área urbana (16,8 por cento) em relação à zona urbana (11
por cento).
No que respeita as prevalências por província, o IMASIDA (2021) refere que a provincia de
Tete aparece com a seroprevalência mais baixa na ordem de 5,2 por cento e Gaza no sul do
país continua com a mais alta prevalência 24,4 por centro. O estudo alerta igualmente que a
prevalência é maior nas mulheres do que nos homens em todas as províncias moçambicanas,
com a excepção de Nampula onde a realidade é diferente.
O IMASIDA (2018) refere ainda que:
Tanto nos homens como nas mulheres a prevalência do HIV atinge o seu pico na faixa etária
dos 35 aos 39 anos (17 por cento para os homens e 23,4 por cento para as mulheres). Nos
jovens de 14 aos 24 anos, 6,9 por cento estão infectados pelo vírus da doença. Neste subgrupo
etário, a prevalência também é maior nas mulheres (9,8 por cento) do que nos homens (3,2 por
cento). Os jovens nas áreas urbanas apresentam uma prevalência mais elevada que os jovens
nas áreas rurais (8,1 e 6,1 por cento respectivamente).
Assim, actualmente, 74% das Pessoas Vivendo com HIV em Moçambique estão a receber
gratuitamente o Tratamento Antirretroviral (TARV) e 94% da rede sanitária pública oferece
Serviços TARV, sendo que nos últimos anos, o país tem observado uma tendência de redução
de novas infecções e de mortalidade por HIV. Em Moçambique, as prioridades para o
controlo do HIV, passam pela prevenção, o aconselhamento e testagem, a ligação dos
elegíveis aos Serviços TARV, a retenção e adesão ao tratamento e o apoio psicossocial.

7. Factores de risco do HIV


Para estimar estes factores, foi usada a base de dados do Inquérito de Indicadores de Imunização,
Malária e HIV/SIDA, IMASIDA-2018 e o modelo de regressão logística.

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De acordo com dados deste inquéritos, os fatores de risco associados a essa suscetibilidade
são: baixa adesão aos preservativos, principalmente durante relações extraconjugais, práticas
sexuais de risco, como sexo anal, uso de álcool antes do coito, sexo com múltiplos
parceiros e alta prevalência de acidentes com materiais perfurocortantes.
No estudo realizado por Patrão, (2009) sobre os factores de risco do HIV concluiu que aa
religião influencia o comportamento sexual de risco dos homens, No estudo em alusão o autor
refere que os Muçulmanos e tradicionalistas são significativamente menos propensos a se
envolver em comportamento sexual de risco em comparação com os cristãos, essas diferenças
desaparecem quando as variáveis socioeconômicas são controladas
Saldanha (2002) afirma que a prevalência nas jovens mulheres é o dobro da prevalência nos
homens da mesma idade, o que mostra que há progressos em torno do HIV mas ainda há um
grande desafio em relação à mesma.
Portanto, de acordo com Paulilo (1999) os fatores de riscos estão relacionados
ao comportamento sexual e o uso de álcool e outras drogas e as estratégias preventivas
concentram-se no emprego de medidas de prevenção combinadas. Os fatores de riscos para
a infecção por HIV  evidenciados foram múltiplos parceiros sexuais, relação
sexual desprotegida, sífilis, uso de álcool e drogas ilícitas, e sexo anal receptivo e como
principais estratégias preventivas, PreP, TasP, Testagem para HIV, uso inconsistente do
preservativo e prevenção combinada

8. Género e sua influenciar na prevalência/incidência do HIV em


Moçambique
Segundo Grezoski (2005), o termo gênero tem sido usado em vários contextos tomando
conotações bem distintas. No âmbito de correntes feministas, a definição do termo enfatiza a
noção de cultura, ressaltando diferentemente do conceito de sexo, que se situa no plano
biológico, um caráter intrinsecamente relacional do feminino e do masculino.
Por ser a definição desse termo muito complexa, Scott, citado por Silva e Vargens (2009),
adverte que:
Há uma complexidade ao definir a palavra gênero, pois se relaciona com o social e o subjetivo
e exerce influências em diversas situações. Gênero é a forma de apontar as construções
sociais, na ideia de papéis diferentes para homens e mulheres. É uma maneira de se referir às
origens sociais das identidades exclusivas de homens e mulheres (p. 402).
Entretanto, todo processo de organização social é determinado por assimetrias de gênero,
como argumenta Fonseca (2005), ao afirmar que cada sociedade e, nela cada grupo social,
criam padrões de dominação, manifestos por meio de condições como “riscos de contrair
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doenças e práticas socioculturais negativas somente para serem aceitos como membros da
mesma sociedade” (p. 453).
É neste entendimento que Silva (s/d citado por Grezoski 2005), salienta:
As representações acerca da mulher, seja na relação familiar ou na sociedade, passam pelas
concepções de fragilidade, dependência e submissão, que dão ao homem o direito de tutela
sobre ela. Essa situação é frequentemente posta como se fosse uma questão inerente à natureza
da mulher, e não fruto de uma ideologia que tende a reproduzir uma ordem social única,
baseada em relações de poder contraditórias. (p. 14).
Ao lado das assimetrias de gênero, acredita-se que imperativos socioculturais como sexo
transgeracional, poligamia, onipotência masculina, práticas culturais como
pitakufa/kudjinga, entre outros, constituem barreiras para a apropriação de medidas
preventivas em relação ao HIV/aids na sociedade moçambicana.
Percebendo tal vulnerabilidade do gênero feminino, Fonseca (2005) e Zimba e Castiano
(2005) admitem que, na pós-modernidade, têm sido detectados vários processos destrutivos da
vida das mulheres. Um deles se refere ao aumento na proporção de pessoas do sexo feminino
chefes de agregado familiar sem capacidade econômica para sustentar os seus dependentes.
Para tentar superar essa condição, elas recorrem, muitas vezes, a práticas de risco na atuação
como profissional de sexo ou comerciante ambulante informal nas grandes avenidas, vilas ou
cidades do país.
Bastos (2000) e Patrão (2009) destacam como ponto central da questão da feminização da
epidemia de HIV, em diferentes contextos, a questão de gênero. O tratamento desigual dado
aos gêneros, em termos políticos, culturais e socioeconômicos, tem uma dimensão macro e
microssocial, compreendendo a não observância dos direitos fundamentais, relações desiguais
de poder e acesso diferenciado a bens materiais.
Deste modo, especificamente no norte do país, as mulheres são submetidas a rituais
socioculturais após a menarca, onde são instruídas à submissão total ao parceiro masculino, à
obediência e cumprimento das vontades sexuais do homem. Outra situação de natureza
sociocultural também acontece no centro e sul do país, onde a viúva deve aceitar fazer sexo
sem proteção com um cunhado para sua purificação, prática denominada pitakufa/kudjinga.
Trata-se de prática tradicional moçambicana: quando o marido morre, a viúva deve fazer sexo
não protegido com o cunhado para purificá-la. Se o ato for recusado pela viúva, ela pode
perder os bens da família, retirados pelos familiares do falecido. Esse fenômeno social
reveste-se de muitos riscos em contextos de disseminação de HIV e das infecções de
transmissão sexual.

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Estudo realizado em Botswana, Malawi e Moçambique categorizou os fatores de
vulnerabilidade em três dimensões: fatores culturais de submissão ao homem, como a
obrigatoriedade quanto à aceitabilidade das demandas do homem; fatores sociais, como a
existência de lugares seguros e não seguros na comunidade; fatores econômicos, como a
pobreza e a prostituição. Os participantes - jovens de ambos os sexos - mencionaram que a
pobreza ou a falta de dinheiro para comprar produtos de primeira necessidade lhes levava a
fazer sexo com muitos clientes em troca de dinheiro (Underwood, Skinner, Osman, &
Schwandt, 2011).
Portanto, esses cenários configuram a realidade moçambicana influenciando, assim, o
processo de disseminação da infecção pelo HIV junto a pessoas do sexo feminino, visto que
as desigualdades presentes em vários contextos da vida social deixam as mulheres com menos
condições de se prevenir do HIV. Também com as abordagens acima percebemos que a
vulnerabilidade da mulher é maior, se comparada à de homens. A prática da prostituição,
relatada nos estudo dos autores acima, constitui outra categoria acerca da vulnerabilidade
feminina à infecção pelo HIV.

9. Medidas de mitigação desde conflitos


Moçambique fez esforços notáveis em defesa da igualdade de direitos entre mulheres e
homens, com a revisão de vários instrumentos legais de forma a eliminar-se qualquer tipo de
discriminação baseada no sexo (Basto, 2000).
Assim como medida de mitigação deste conflito recomendamos as seguintes medidas:
 Existência dum quadro jurídico-legal que oferece oportunidades a homens e mulheres e
responde a situações específicas dos direitos humanos da mulher como base para um
desenvolvimento equilibrado e sustentável.
 Aprovação de Estratégias de Género de alguns sectores como o sector agrícola, pesca,
educação e saúde, contribuindo para uma maior integração do conceito de género ao
nível das instituições públicas assim como das pessoas responsáveis pela implementação
das políticas e programas governamentais. E, algumas estão no processo de revisão
 Aprovação da Estratégia de Prevenção e Combate aos casamentos prematuros;
 Existência de organizações da sociedade civil femininas e feministas que fazem
advocacia junto ao Parlamento para que novas leis sejam aprovadas e outras revistas e
implementadas de forma a se garantir maior igualdade de género.

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Conclusão
Feito o trabalho concluímos que a construção social do gênero feminino em Moçambique está
baseada na submissão ao homem, influenciando a vulnerabilidade de gênero à infecção pelo
HIV. A análise das abordagens dos autores permitiu concluir que a vulnerabilidade feminina é
maior, delineando categorias como submissão da mulher, dificuldade para negociar o uso do
preservativo e influência das práticas culturais. O estudo possibilitou compreender melhor o
contexto de vulnerabilidades que afetam cidadãos de Maputo, em especial as mulheres, em
um país de prevalência elevada da epidemia.
As práticas socioculturais, desemprego, falta de dinheiro para comprar produtos da primeira
necessidade, ser solteira/divorciada e passar a chefiar a família configuram a realidade
moçambicana influenciando, assim, o processo de disseminação da infecção pelo HIV junto a
pessoas do sexo feminino, visto que as desigualdades presentes em vários contextos da vida
social deixam as mulheres com menos condições de se prevenir do HIV. Também com as
abordagens acima percebemos que a vulnerabilidade da mulher é maior, se comparada à de
homens. A prática da prostituição, relatada nos estudo dos autores acima, constitui outra
categoria acerca da vulnerabilidade feminina à infecção pelo HIV.
Portanto, a práticas como a pitakufa ampliam a vulnerabilidade feminina à infecção de
DST/HIV, já que, além de suas características essenciais, há a obrigação de fazer sexo com
um parente do falecido sem preservativo, o que aumenta fortemente a possibilidade de
exposição
ao HIV em uma sociedade com índices elevados de prevalência.

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Referencia Bibliográfica
Bastos, F. I. A. (2000). Feminização do HIV: determinantes estruturais e alternativas
de enfrentamento. Saúde Sexual e Reprodutiva
Flores, M. R. A (1999) Falas de gênero. Editora Mulheres. Florianópolis.
Fonseca, R. G. S. (2005). Equidade de gênero e saúde das mulheres. Revista da Escola de
Enfermagem da USP. São Paulo.
Governo de Moçambique. (2018). Moçambique: Inquérito de Indicadores de Imunização,
Malária e HIV/SIDA (IMASIDA): 2015 - Relatório Final. Maputo, Moçambique
Grezoski, A. C. (2005). Mito da tutela penal no combate à violência de gênero ocorrida no
âmbito doméstico e familiar. Monografia de Graduação em Direito, Universidade do
Sul de Santa Catarina, Florianópolis.
Instituto Nacional de Saúde – INS. (2021). INSIDA – Inquérito nacional de prevalência,
riscos
comportamentais e infeção sobre HIV e SIDA em Moçambique. Relatório final.
Maputo:
Mathieu, N.C (2009). Sexo e gênero. In: HIRATA, H. et al (org.). Dicionário Crítico do
Feminismo. Editora UNESP: São Paulo. Recuperado em
http://www.supertecnica.co.mz/genero/adolescencia-e-saude/violencia-baseada-no-
genero-e-violencia-domestica/
Passador, L. H. (2009). “Tradição”, pessoa, gênero e DST/HIV/ AIDS no Sul de Moçambique.
Cadernos de Saúde Pública.
Patrão, M. N. (2009). UNESCO and the principle of respect for human vulnerability. Geneva:
UNESCO.
Paulilo, M A.S. (1999). Aids os sentidos do risco. Editora Veras, São Paulo.
Saldanha, A. A W. (2002). Gênero, relações afetivas, e aids no cotidiano da mulher
soropositiva, 2002. Disponível em: http://www.aidscongress.com/pdf/99.pdf
Silva, C. M. & Vargens, O. M. C. (2009). Percepção de mulheres quanto à vulnerabilidade
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Underwood, C., Skinner. J., Osman, N., & Schwandt, H. (2011). Structural determinants of
adolescent girls’ vulnerability to HIV: Views from community members in Botswana,
Malawi, and Mozambique. Social Science & Medicine
Zimba, B; Castiano, J. P. (2005). As ciências sociais na luta contra a pobreza em

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Moçambique. Maputo: Filsom.

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