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DEPENDÊNCIA QUÍMICA
MINAS GERAIS
2023
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
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SUMÁRIO
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1 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE O USO ABUSIVO DE SUBSTÂNCIAS
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estado do indivíduo, ao de sua comunidade ou à cultura de seu povo. Assim, é
necessário entender como o habitat e o momento de vida estão relacionados ao uso
dessas substâncias. Apesar da mesma finalidade, os mecanismos pelos quais cada
classe de drogas produz recompensa são diferentes e serão discutidos nos próximos
itens.
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repetido da substância, que leva o organismo a se adaptar às doses usadas
anteriormente. Assim, o indivíduo necessita de doses progressivamente maiores para
que alcance o efeito desejado.
Tolerância cruzada: Capacidade de o organismo interpretar outra substância
como aquela a que o indivíduo possui a adicção, de maneira que uma possa ser
substituída por outra e produza os mesmos efeitos.
Codependência: Também chamada de coadicção. Faz parte de padrões
comportamentais de familiares ou pessoas próximas afetadas pelo abuso de
substância de um membro da família ou conhecido.
Facilitação: Padrão de comportamento que também pode ser realizado por
parentes ou pessoas próximas do adicto, facilitando o uso da substância por negação
do abuso, fornecimento da substância ou de meios para que ela seja adquirida.
Com os conceitos firmados, pode-se entender que a definição de dependência
química não se limita à frequência do uso ou à quantidade utilizada da substância,
mas compreende todo o adicto, levando em consideração o comprometimento das
capacidades fisiológicas do indivíduo, o desejo de consumir a droga e como ele lida
com esses efeitos em seu organismo.
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substância conseguem produzir quadros clinicamente perceptíveis, que podem durar
horas ou dias, mas não permanecem após um mês sem o uso da substância. São
caracterizados por quadros psicopatológicos como transtornos de humor, entrando em
período de mania ou depressão, quadros ansiosos, delirium, transtornos
neurocognitivos e até mesmo psicoses. Além disso, os principais sintomas clínicos da
dependência química podem ser:
• Adicção: Uso frequente e repetido de uma substância, cuja privação causa
sofrimento mental e físico, além de compulsão.
• Intoxicação: Síndrome que afeta funções mentais, causada por uma
substância específica, que pode ocorrer após longos períodos de uso ou
durante um uso mais agudo, ocorrendo em maior quantidade da substância.
A síndrome é reversível e, para cada substância, a conduta será diferente e
individualizada. Pode ocorrer prejuízo do nível de consciência, como
embriaguez, sedação, torpor, perturbação do pensamento, alteração da
atenção, da capacidade de julgamento, agressividade e humor instável.
• Abstinência: Síndrome de desenvolvimento de alteração comportamental
problemática, causada pela interrupção ou redução do uso intenso de uma
substância específica, o que leva a sintomas físicos e psíquicos,
principalmente pela sensação da privação do sistema de recompensa
cerebral.
• Fissura/craving: Consiste no desejo intenso pelo uso da substância,
chegando a descontrolar o indivíduo pela vontade, com a perda da
percepção de suas atitudes e padrões de comportamento. A possibilidade
de ocorrer a fissura é diretamente proporcional ao tempo de uso e à
quantidade utilizada.
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- O transtorno representa uma apresentação somática, com características
significativas na percepção clínica do indivíduo, de um transtorno mental pertinente.
- Há evidências de que o transtorno se desenvolve durante o uso ou até um
mês após intoxicação ou abstinência da substância ou administração de algum
medicamento e que a substância é capaz de produzir o transtorno mental
farmacologicamente. Não há outra explicação melhor para o transtorno.
- O transtorno não ocorre exclusivamente durante o curso de um delirium.
- O transtorno causa sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento
social, profissional ou em outras áreas importantes na vida do indivíduo.
Se o indivíduo apresentar essas quatro características, é provável que a
dependência química seja tão intensa e prejudicial que já esteja causando o transtorno
mental nesse usuário.
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dependência química por álcool pode ser percebida quando o indivíduo desenvolve
tolerância às quantidades ingeridas anteriormente, consequentemente ingerindo
quantidades progressivamente maiores, apresenta intoxicação ou abstinência após
período de consumo crônico.
A intoxicação alcoólica é relativamente comum e suas manifestações clínicas
variam de acordo com o nível de álcool presente no organismo. Os usuários podem
apresentar sintomas de fala arrastada, comprometimento da memória e atenção,
podem adotar comportamento agressivo, hiper sexualizado ou inadequado, alterações
na marcha e incoordenação de movimentos. Evidências que comprovam o uso do
álcool podem estar presentes, como hálito cetônico, material respiratório, sanguíneo
ou urinário para análise toxicológica ou até mesmo relatos de terceiros, como
observadores do uso.
Na abstinência, tem-se um quadro que se desenvolve de 4 a 12 horas após a
interrupção ou redução da quantidade ingerida. Os usuários podem apresentar
sudorese, náuseas ou vômitos, alucinações visuais, comportamento agitado,
frequência cardíaca aumentada ou tremores nas mãos.
3.2 Inalantes
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irreversível de dano ao SNC, como neuropatias periféricas, que afetam sensibilidade
e ato motor dos membros, atrofia do parênquima cerebral e cerebelar, prejuízo na
memória e alteração da percepção da realidade. Outros acometimentos no organismo
podem ser lesões na pele como dermatite, isquemia do miocárdio, enfisema pulmonar
e lesões hepática e renal.
3.3 Opioides
O ópio pode originar diversas substâncias, dentre elas a codeína (um opioide
bastante conhecido e utilizado no território brasileiro) e a morfina, representando os
opiáceos naturais, ou seja, que não sofreram nenhuma alteração. Existem também os
opiáceos semissintéticos, resultantes de modificações parciais nas substâncias
naturais. A heroína, por exemplo, necessita apenas de uma pequena modificação
estrutural na fórmula química da morfina para sua obtenção.
Os usuários dessa classe que fazem uso indevido de substâncias com
indicação médica ou mesmo sem indicação buscam o seu efeito depressor do SNC.
Assim, conseguem apresentar os sintomas de torpor, inibição das sensações que
normalmente apresentariam em resposta à realidade, perda de consciência,
depressão respiratória e cardíaca.
O quadro de intoxicação é marcado por apatia, retardo psicomotor, fala
arrastada, analgesia, redução das frequências cardíaca e respiratória, hipotensão,
torpor e coma. A intoxicação pode se apresentar com intensidades diferentes,
variando em função do opioide consumido, quantidade e via de administração.
A abstinência dessas substâncias é marcada pelo seu início de 8 a 24 horas
para opioides de curta duração e de 12 a 48 horas para opioides de longa duração.
Apresenta duração variada de 10 a 20 dias. O quadro se apresenta de maneira intensa
e desconfortável, com irritabilidade, agitação psicomotora, vômitos, diarreia, dores
musculares e ósseas, taquicardia, sono, formigamento e inquietação. Entre indivíduos
variados, com diversos contextos diferentes, a abstinência de opioides ocorre em 60%
das pessoas que utilizam heroína pelo menos uma vez nos últimos 12 meses.
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Figura 1 - Representação dos tipos de opioides
As substâncias que fazem parte dessa classe são conhecidas e muito utilizadas
no cotidiano da população geral, incluindo, por exemplo, benzodiazepínicos e
fármacos semelhantes (zolpidem), carbamatos (muito utilizados em plantações) e
barbitúricos (fenobarbital). Assim como o álcool e os inalantes, produzem efeitos
nocivos no organismo tanto pelo uso quanto pela predisposição a transtornos mentais
induzidos pelo uso abusivo.
Epidemiologicamente, tem-se que o abuso no uso dessas substâncias
normalmente envolve adolescentes ou jovens adultos, somado a transtornos por uso
de outras substâncias. Iniciam com a medicação em dosagens aceitas em seus meios
sociais e familiares até que esse uso se intensifica e eles passam a apresentar uma
tolerância já elevada. A partir desse momento, os usuários passam por alterações de
comportamento, que incluem dificuldade de interação social, perda da sua
funcionalidade e abstinência.
O quadro de intoxicação por essa classe engloba alterações de humor,
agressividade, prejuízo no julgamento e tomada de decisões, incoordenação,
alterações de marcha, fala arrastada, estupor ou coma. Além disso, ocorre prejuízo na
memória e no funcionamento global do organismo, como tentativa do adicto “desligar”
suas funções biológicas.
A abstinência é marcada por um quadro semelhante ao álcool, em que ocorre
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insônia, náuseas, sudorese, taquicardia, hipertensão arterial, ansiedade e agitação
psicomotora. Em casos mais acentuados, o adicto pode apresentar convulsão se a
abstinência não for tratada.
4.1 Tabaco
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relaxamento, com redução da frequência cardíaca e hipotensão. Já em doses altas,
pode provocar paralisia respiratória, além de propiciar surgimento de outras doenças,
como Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e Câncer de Pulmão. Apesar
disso, normalmente os usuários continuam utilizando o tabaco mesmo com o
aparecimento de doenças e recomendações da interrupção.
A intoxicação é menos comum, mas sintomas de irritabilidade, diarreia, dor
abdominal, tremores, taquicardia e hipertensão arterial podem ser encontrados.
O quadro de abstinência por privação da nicotina inclui irritabilidade, raiva,
queixa de ansiedade, dificuldade de concentração, alterações de humor e inquietação.
O adicto costuma apresentar dificuldade na interrupção do uso e flutua entre períodos
de abstinência e exacerbação do uso novamente, principalmente pelo fácil acesso da
obtenção da substância.
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ação sobre a norepinefrina, tanto a cocaína quanto as anfetaminas afetam a produção
e a disponibilidade de serotonina, tendo ação excitatória no SNC. A Figura 5
demonstra a ação dessa classe nos neurônios e o mecanismo de estimulação
neuronal.
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de dias a semanas.
5.1 Cannabis
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de sensações, sons, cores, texturas e paladar. A intoxicação aguda pode desencadear
hipervigilância, paranoia, crise de pânico, despersonalização e alucinações.
5.2 Alucinógenos
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Figura 5 - Efeito do alucinógeno MDMA no neurônio, afetando a resposta
sináptica
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Com a compreensão das ações de cada classe de substância, como é a ação
de cada uma delas e como é importante obter a cessação do uso, pode-se pensar em
alternativas para o acolhimento dos usuários e o sucesso no objetivo de reduzir os
danos nos indivíduos e na sociedade.
O NIDA (National Institute of Drug Abuse) determina alguns princípios
norteadores dos profissionais inseridos no manejo de pessoas que sofrem com a
dependência química, estabelecendo, principalmente, a necessidade da
compreensão de que a dependência é passível de tratamento, que as medidas devem
ser individualizadas com o mais benéfico para cada um, que a acessibilidade é
importante e deve ser prontamente disponibilizada para aqueles que desejem. A partir
do momento em que o indivíduo consegue ser acolhido e adota as medidas
necessárias, o tratamento deve ser constantemente revisto e modificado de acordo
com as necessidades e as queixas daquele momento específico.
Existem atualmente várias maneiras de acolhimento e tratamento da
dependência química, mas, na maioria das vezes, os programas incluem terapias e
serviços que se adequam à individualidade dos sujeitos. Inicialmente, há a
desintoxicação, seja para acompanhamento ou internações quando o paciente
representa risco para a sociedade e para si mesmo.
Dentre as opções de acolhimento e acompanhamento, podem-se listar grupos
de autoajuda por meio de trocas de experiências, formação de vínculos com pessoas
que possuem os mesmos objetivos; comunidades terapêuticas desde que sigam a
legislação; tratamentos farmacológicos específicos para cada substância, mas é
necessário ressaltar que a medicação não cura a dependência, pode apenas ajudar a
superar os sintomas da abstinência e a lidar melhor com a falta da droga.
Somado às alternativas supracitadas, há a necessidade de acompanhamento
do indivíduo em tratamentos psicossociais, seja com terapia de grupo e família, terapia
cognitivo-comportamental (TCC), aconselhamento ou intervenções breves. Essas
práticas estão disponíveis para toda a população por meio do Sistema Único de Saúde
(SUS) e sua Rede de Atenção, seja ao nível da Atenção Básica em Saúde, Atenção
Psicossocial Estratégica, Atenção de Urgência e Emergência, Atenção Residencial
Transitória e Atenção Hospitalar.
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Figura 6 - Redes de atenção à população que possuem atuação no manejo e
combate do abuso de substâncias
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Figura 7 - Centros de Atenção Psicossocial e seus tipos
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HIV/SIDA, tuberculose, pneumatoses, transtornos mentais, hepatites,
hipertensão arterial, diabetes mellitus, diarreias infecciosas, traumas, entre
outros agravos);
- Fomentar o direito à saúde como princípio básico;
- Definir metas e posteriores planos e serviços com foco nessa população e nos
seus acometimentos mais comuns.
Especificamente em Minas Gerais, tem-se o Regulamento e Normas de
Procedimentos do Sistema Prisional de Minas Gerais (ReNP) de 2016, documento
disponibilizado pela Secretaria de Administração Prisional, que dispõe sobre a
proibição da entrada de bebidas alcóolicas e drogas ilícitas na penitenciária, no artigo
314. Além disso, garante o acesso ao acompanhamento médico e psicossocial de
caráter preventivo ou curativo, incluindo o trabalho referente à política sobre drogas,
no artigo 431.
Ademais, outro marco importante da saúde ao indivíduo privado de liberdade é
a Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006, que instituiu o Sistema Nacional de Políticas
Públicas sobre Drogas (SISNAD). Com isso, a saúde obteve o conceito de droga como
substância causadora de dependência, estabeleceu a prevenção do uso indevido, a
necessidade de atenção e reinserção do usuário/dependente dessas substâncias,
além de normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de
drogas.
Assim, todas essas medidas possuem como objetivo garantir que os indivíduos
privados de liberdade não percam sua cidadania e continuem usufruindo do direito
básico à saúde. Com o cumprimento das propostas citadas acima, somado ao
conhecimento das substâncias mais comumente causadoras de dependência, o
sistema de saúde penitenciário conseguirá exercer o seu papel, sobretudo de
reinserção social e garantia da manutenção da saúde física e psicossocial dessa
população carente de cuidado.
Dessa forma, é possível alcançar a melhoria da qualidade de vida dos usuários
e a população como um todo evolui para uma melhor convivência e adaptação, com
a criação de redes de cuidado e proteção para esses indivíduos que carecem de
receptividade e tolerância comunitária. Com isso, levando-se em consideração o
aspecto biopsicossocial de cada um e o que levou a pessoa à adicção química, as
políticas públicas terão potencial para promover a reintegração dos indivíduos e o
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restabelecimento de suas funções em sociedade.
REFERÊNCIAS
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BRASIL. Secretaria Nacional Antidrogas. A prevenção do uso de drogas e a terapia
comunitária. Brasília, 2006.
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