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Resumo do texto “A interação do texto com o leitor

Wolfgang Iser
A Assimetria entre texto e leitor
Wolgang Iser estabelece o texto e o leitor como polos do processo de comunicação e a leitura
a atividade, comandada pelo texto, que une o processamento do texto ao efeito sobre o leitor.
Essa influência recíproca é descrita como interação e pode ser relacionada à Bakhtin
(linguagem = interação).

Edward Jones e Harold Gerard (teoria da interação) descobriram quatro modos de


contingência encontrados ou originados das relações humanas, sendo a imprevisibilidade
(dominante em toda interação) passível de se converter na condição constitutiva e diferencial
do processo de interação. São eles:
pseudocontingência - As réplicas e suas consequências podem ser perfeitamente previstas,
pois cada parceiro conhece muito bem o plano de conduta do outro (Ex. peça de teatro bem
encenada); a ritualização da interação leva ao desaparecimento da contingência.
contingência assimétrica – parceiro A renuncia à atualização de seu próprio plano de
conduta; adapta-se e segue sem resistência a estratégia de conduta do parceiro B.
contingência reativa – planos de conduta dos parceiros são encobertos continuamente pela
reação momentânea ao que acaba de ser dito ou feito. Impede as tentativas dos parceiros de
expressar seus planos de conduta.
contingência recíproca – O parceiro A segue tanto o seu próprio plano de conduta quanto
com as reações momentâneas do parceiro. Decorrerem desse fato duas consequências:

a) A interação leva ao triunfo da criatividade; um é enriquecido pelo outro.

b) A interação conduz ao debate de uma hostilidade mútua e crescente.

A contingência não só é a base constituinte da interação como deriva dela, além de poder se
transformar em um dos diferentes tipos de interação e mostrar, dessa forma, sua
ambivalência produtiva: nasce da interação e é ao mesmo tempo sua propulsora. Quanto
mais ela se reduz, tanto mais ritualizada a interação se cristaliza. Quanto mais ela cresce,
tanto mais inconsistente se torna a cadeia de reações.

A Indagação psicanalítica realizada por R.D. Laing, H. Phillipson e A.R. Lee – formulam o
problema da percepção interpessoal com base na metaperspectiva: Meu campo de
experiência não é preenchido apenas por minha visão direta de mim (ego) e pela do outro
(alter), mas pela minha visão da visão ... do outro sobre mim. Tal formulação pode ser
relacionado ao conceito da alteridade de Bakhtin (relação em que o “eu” se constitui pelo
reconhecimento do “tu”, ou seja, o reconhecimento de si se dá pelo reconhecimento do outro).
Lang sugere que as reações recíprocas apenas são condicionadas pelo que cada parceiro
deseja do outro, mas pela imagem que se fez do parceiro; temos a experiência do outro à
medida que conhecemos a conduta do outro, mas não temos experiência de como os outros
nos experimentam. Não posso experimentar tua experiência nem tu podes a minha. Cada
homem é invisível para o outro. A experiência é a invisibilidade do homem para o homem.
Segundo Lang, nossas relações interpessoais se fundam na no-thing (“Aquilo que está entre
não pode ser nomeado por coisa alguma que ai aparece”), pois reagimos como se
soubéssemos como os parceiros nos veem.

A interação diádica é o produto de uma atividade interpretativa, de que se origina uma


imagem do outro, que é, simultaneamente, uma imagem de mim mesmo. O fato de não
compreendermos como os outros nos veem se origina na própria interação diádica e devemos
compreendê-la como um valor-limite: fronteira que serve de impulso para as constantes
tentativas de ultrapassá-la. Dessa forma, produz a negatividade da experiência.

A Relação texto-leitor é diferente, pois falta a situação face a face. O texto não pode
sintonizar com o leitor concreto e o leitor nunca retirará do texto a certeza explicita de que a
sua compreensão é a justa. Falta à relação texto-leitor uma quadro de referencias, os códigos
que poderiam regular esta interação são fragmentados e/ou construídos no texto. São os
vazios que constroem a assimetria fundamental entre texto e leitor.

Os graus de indeterminação da assimetria, da contingência e do nonada são formas


diferentes de um vazio constitutivo (ocupado por projeções), através do qual se estabelecem
as relações de interação. Este vazio é formado e modificado pelo desequilíbrio reinante nas
interações diádicas e na assimetria do texto com o leitor. O equilíbrio só pode ser alcançado
pelo preenchimento do vazio.

O vazio constitutivo é constantemente ocupado por projeções. A interação fracassa quando


as projeções mútuas dos participantes não sofrem mudança alguma ou quando as projeções
do leitor se impõem independentemente do texto. O fracasso aí significa o preenchimento do
vazio exclusivamente com as próprias projeções. Dessa forma, a relação entre texto e leitor
só pode ter êxito mediante a mudança do leitor.

Para que as múltiplas possibilidades de comunicação possam se realizar devem existir no


texto complexos de controle, pois a comunicação entre texto e leitor só tem êxito quando ela
se submete a certas condições. Estes meios de controle não podem ser compreendidos como
entidades positivas independentes do processo de comunicação. Virginia Woolf descreve
sobre Jane Austin: “Ela nos estimula a suprir o que ali não se encontra...”; “...O que falta nas
cenas aparentemente triviais e os vazios nas articulações do diálogo estimulam o leitor a
preenchê-los projetivamente. Jogam o leitor dentro dos acontecimentos e o provocam a tomar
como pensado o que não foi dito. O calado adquire vida. O processo de comunicação se
realiza através da dialética movida e regulada pelo que se mostra e se cala.

Sobre a observação de Virginia Woolf Merleau Ponty descreve: “A falta de um signo pode ser
ela mesmo um signo[...]”; “A fala não significa substituir cada pensamento por uma palavra: se
o fizéssemos, nada nunca seria dito... o signo logo seria apagado por um sentido [...] a
linguagem é significativa quando, em vez de copiar o pensamento, se permite dissolver-se e
recriar-se pelo pensamento”.

Há lugares no texto destinados àquele a quem cabe realizar as combinações do texto, ou


seja ao leitor. Os vazios do texto se oferecem para a ocupação do leitor, já que não podem
ser preenchidos pelo próprio sistema.

Outro lugar reservado é o das negações: O que é suprimido permanece à vista provoca
modificações na atitude do leitor; o que é suprimido é negado, provocam o leitor a situar-se
perante o texto.
O conceito de Ingarden dos pontos de indeterminação.
Ingarden recorre à fenomenologia para determinar os objetos. Segundo ele, há objetos reais,
universalmente determinados, e os objetos ideais, que são autônomos. Já a obra de arte não
é nem determinada, nem autônoma, é um objeto intencional (falta a determinação total).
O objeto representado é apenas uma formação esquemática com diversos pontos de
indeterminação. Essa natureza esquemática não pode ser eliminada em nenhuma obra
literária finita, ainda que os pontos de indeterminação possam ser preenchidos pelo
complemento de novas qualidades.
Os pontos de indeterminação servem para que Ingarden diferencie o objeto intencional da
obra de arte doutras determinações de objeto. Servem para separar o texto de sua
concretização. Tornam o objeto intencional aberto, de modo que o preenchimento realizado
permita todo um espectro de concretizações. Estas são distinguidas como falsas e
verdadeiras, cuja finalidade é a compreensão dos objetos reais e a constituição dos ideais.

Ingarden implica uma norma que se realiza ou fracassa pelo ato da concretização. O valor
estético ou as qualidades metafísicas (que orientam tal norma e ocupam o lugar da assimetria
entre texto e leitor, exercendo a função de um código que garante as concretizações corretas)
seriam vazios centrais, que o leitor ocupa para construir o sentido da obra. Nesse ponto é
criticado já que o leitor realiza não são meros preenchimentos, mas combinações. Em lugar
de relações recíprocas, Ingarden pensa em uma direção unilinear, vindo do texto para o leitor.

Além dos pontos de indeterminação, há na obra os diversos elementos potenciais (os


aspectos, qualidades estéticas), que devem ser atualizados e essa atualização é provocada
pela emoção original. Esta causa a turbulência no leitor; “possui um dinamismo interno da
insatisfação ou de uma certa fome que aparece quando e somente já fomos excitados por
qualidade, mas ainda não conseguimos contemplá-la na experiência intuitiva direta...” Na
insatisfação pode-se ver um elemento de desagrado (intranquilidade interna) que consiste a
característica da emoção original como a primeira fase da experiência estética.

Os pontos de indeterminação ocupam uma posição subordinada, pois não são eles, mas a
emoção original que põe a concretização em movimento. Aqueles existem para ser
completados ou preenchidos. Porém para Ingarden, nem todos os pontos de indeterminação
devam ser forçosamente preenchidos. O leitor menos cultivado não leva em conta a proibição
de afastar esses pontos de indeterminação (pois desempenham um papel considerável na
constituição do objeto e podem quebrar a harmonização das camadas da obra, alterando seu
valor estético).

Como a atividade de constituição é estimulada/ instigada

Introdução:
Segundo Ingarden o personagem é representado por uma série de aspectos esquematizados
que preenche a qualidade incompleta de cada aspecto pelo seguinte e cria gradualmente a
ilusão de uma representação completa. Mesmo quando o personagem é concebido de forma
que é capaz de simular a realidade, esta não é um fim em si mesmo, mas um signo.

O texto ficcional é tão igual ao mundo à medida que projeta um mundo concorrente, mas
difere das ideias existentes do mundo por não poder ser deduzido dos conceitos vigentes de
realidade. Se a ficção e a realidade foram medidas por seu caráter de objeto, constatar-se-á
apenas o traço objetivo de perda, seria uma mentira. A não identidade da ficção com o
mundo, assim como da ficção com o receptor é a condição constitutiva de seu caráter de
comunicação. Essa falta de correspondência se manifesta nos graus de indeterminação que
estão menos no texto como tal, do que na relação estabelecida entre o texto e o leitor.
A indeterminação resulta da função comunicativa dos textos ficcionais e tem uma estrutura.
As estruturas centrais de indeterminação no texto são seus vazios e suas negações. Estes
são as condições para a comunicação, pois acionam a interação entre texto e leitor e até
certo ponto a regulam.
Os vazios derivam da indeterminação do texto. Devia-se designá-los pontos de
indeterminação, mas em vez da necessidade de preenchimento, eles mostram a necessidade
da combinação. Eles indicam os segmentos do texto a serem conectados e liberam o espaço
das posições denotadas pelo texto para os atos de projeção. Assim, desaparecem.
Os vazios estão também nas estratégias. A narração fragmentada aumenta o número de
vazios.
A individualidade da finalidade do falante é garantida pelo nível de conectabilidade. Os vazios
têm a função de quebrar a conectividade e contribuem para a desautomatização das
expectativas do leitor. Ele precisa reformular para si o texto formulado a fim de ser capaz de
recebê-lo. Dessa forma, sua imaginação é intensificada. Quanto maior a quantidade de
vazios, tanto maior será o número de imagens construídas pelo leitor. Reagimos a uma
imagem, à medida que construímos uma nova e as imagens formadas hão de ser outra vez
abandonadas. Como consequência disso, os vazios dão origem a imagens de primeiro e
segundo grau. As de segundo grau são aquelas as quais reagimos às imagens formadas e
sempre se produzem quando não se realizam as expectativas geradas pela imagem de
primeiro grau. Os vazios interrompem a good continuation, provocam a colisão de imagens,
causam a dificuldade da construção da imagem, dificultam a percepção aumenta nossa
vivacidade em proporção com o número de vazios. Tornam-se esteticamente relevantes e se
mostram uma condição elementar de comunicação.
Os formalistas russos acreditaram que a arte complica a percepção do objeto (teoria do
estranhamento (Chklovski)): “A finalidade da arte é proporcionar uma sensação do objeto
como visão e não como reconhecimento”; [...] “a própria finalidade da arte é o processo de
percepção e deve ser prolongado”.

Chklovski: “não se pode dizer que a arte complica a percepção do objeto, mas sim que, por
seus graus de complexidade, dificulta a constituição do sentido, consequente à ideação do
leitor.

Os vazios podem ser usados nos textos ficcionais por modos diversos. No romance de tese o
número de vazios é limitado e também a atividade de ideação do leitor. Embora separe o seu
objetivo da atividade constitutiva do leitor, ainda deixa algum espaço para sua participação.
Com relação aos folhetins são utilizadas as técnicas de corte e a criação de suspense. Se
lermos estes romances por partes, mantemos o interesse, mas se lermos em forma de livro,
logo os pomos de lado. A interrupção e o prolongamento consequente da tensão formam a
condição para o corte. Os vazios resultantes dessa técnica estimulam a imaginação, mobiliza
o leitor a imaginar as soluções, produzir a própria vivacidade da história narrada e participar
das experiências dos personagens.

Outro exemplo é tipo diverso constante no romance de Ivy Compton-Burnett. Aqui os vazios
não são restringidos, nem explorados com fins comerciais, mas estéticos. Este romance se
constrói a partir de um diálogo quase ininterrupto.

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