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Índice

I. INTRODUÇÃO........................................................................................................................2
II. OBJETIVOS.............................................................................................................................3
2.1. Geral..................................................................................................................................3
2.2. Específicos............................................................................................................................3
III. SISTEMA RETÓRICO........................................................................................................4
3.1. Origem da Retórica...........................................................................................................4
IV. AS PARTES DO DISCURSO RETÓRICO..............................................................................5
4.1 A INVENÇÃO.......................................................................................................................5
4.2 Os tipos de discurso...............................................................................................................6
4.2.1 O Jurídico........................................................................................................................6
4.2.2 O Legislativo...................................................................................................................6
4.2.3 O Epidíctico.....................................................................................................................6
4.3 Os três tipos de argumentos...................................................................................................6
4.3.1 O Etos.............................................................................................................................6
4.3.2 O Patos............................................................................................................................7
4.3.3 O Logos...........................................................................................................................7
4.4 Provas.....................................................................................................................................7
4.4.1 Provas extrínsecas...........................................................................................................7
4.4.2 Provas intrínsecas............................................................................................................7
4.5 Os lugares...............................................................................................................................7
4.5.1 O argumento pronto.........................................................................................................8
4.5.2 O tipo de argumento........................................................................................................8
4.5.3 Os tópicos........................................................................................................................8
V. A Dinâmica Retórica..................................................................................................................8
5.1 A dinâmica na prática..........................................................................................................10
VI. Os Géneros Retóricos..............................................................................................................10
6.1 Género Deliberativo.............................................................................................................11
6.2 Género Epidíctico................................................................................................................12
6.3 Género Judiciário.................................................................................................................12
VII. CONCLUSÃO.......................................................................................................................13
VIII. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA......................................................................................14
I. INTRODUÇÃO

A retórica nasceu no século V a.C., na Sicília, e foi introduzida em Atenas pelo sofista Górgias,
desenvolvendo-se nos círculos políticos e judiciais da Grécia antiga. Originalmente visava
persuadir uma audiência dos mais diversos assuntos, mas acabou por tornar-se sinónimo da arte
de bem falar, o que opôs os sofistas ao filósofo Sócrates e seus discípulos. Aristóteles, na
obra Retórica, lançou as bases para sistematizar o seu estudo, identificando-a como um dos
elementos chave da filosofia, junto com a lógica e a dialética. A retórica foi uma das três artes
liberais ensinadas nas universidades da Idade Média, constituindo o trivium, junto com a lógica e
a gramática. Até o século XIX foi uma parte central da educação ocidental, preenchendo a
necessidade de treinar oradores e escritores para convencer audiências mediante argumentos.

A retórica apela à audiência em três frentes: logos, pathos e ethos. A elaboração do discurso e
sua exposição exigem atenção a cinco dimensões que se complementam (os cinco cânones ou
momentos da retórica): inventio ou invenção, a escolha dos conteúdos do discurso; dispositio ou
disposição, organização dos conteúdos num todo estruturado; elocutio ou elocução, a expressão
adequada dos conteúdos; memoria, a memorização do discurso e pronuntiatio ou ação, sobre a
declamação do discurso, onde a modulação da voz e gestos devem estar em consonância com o
conteúdo (este 5º momento nem sempre é considerado).

A retórica é uma ciência (no sentido de um estudo estruturado) e uma arte (no sentido de uma
prática assente numa experiência, com uma técnica). É, igualmente, um conhecimento que
envolve aprendizagem. Ela possui os seus próprios ensinamentos podendo ser transmitida de
geração em geração e ensinada entre um especialista o retor e os seus alunos.

No início, a retórica ocupava-se do discurso político falado, a oratória, antes de se alargar a


textos escritos e, em especial, aos literários, disciplina hoje chamada "estilística".

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II. OBJETIVOS
II.1. Geral
 O presente trabalho tem como objetivo geral apresentar o sistema retórico
(dinâmica e gênero).

2.2. Específicos
 Definir o Sistema retórico;

 Apresentar as partes do discurso retórico;

 Apresentar a dinâmica retórica; e

 Apresentar os géneros retóricos.

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III. SISTEMA RETÓRICO
3.1 Retórica

Inicialmente organizada como ciência pelos gregos, a retórica sobreviveu na história entre amada
e odiada, algumas vezes entendida simplesmente como a arte de discursar bem, outras como a de
enganar, ludibriar o público a qualquer custo em nome de uma ideia.

O fato é que, seja qual for o entendimento que devotemos à ciência, o seu objeto de estudo é tão
presente hoje quanto a milhares de anos atrás; e se seu nome angaria tanta polêmica nos dias de
hoje, isso se deve ao fato de que, tanto hoje quanto antes, a retórica cumpre um papel polêmico
em nossas vidas.

Cumpre inicialmente distinguir os fundamentos do discurso retórico dos do discurso científico.


Idealmente, os dois tipos de discurso se opõem baseados no fato de que a ciência se baseia em
fatos verdadeiros e a retórica busca comprovar por via da argumentação. Ora, se um fato é um
fato, ele não necessita de argumentação, logo não permitirá um discurso retórico; então por que
há ainda o uso de retórica dentro da ciência? Porque poucas coisas no mundo são entendidas
como verdades absolutas, e mesmo a ciência não consegue por vezes escapar disso. Poucas
ciências desenvolveram métodos de comprovação absoluta de suas hipóteses, e mesmo as que o
fizeram apenas conseguiram com poucos assuntos.

Por exemplo: a descoberta do átomo e propagação do conhecimento de sua existência deu-se


muito antes de sua comprovação “indubitável”. Os gregos foram os primeiros a utilizar o termo
que progressivamente foi sendo adaptado para menor proporções. Para os gregos era a menor
unidade da matéria, indivisível, o que eles consideraram indivisível estava bem aquém do que o
homem considerava após a descoberta do microscópio. Já no início do século XX, possuíamos
conceitos e discussões elaboradas a respeito dos prótons e elétrons. Apenas na década de 30
tivemos o modelo atômico que utilizamos até hoje, ainda assim obtido através de procedimentos
indiretos. Pode-se dizer que até hoje ninguém viu um átomo da maneira como se postula que ele
seja, ainda assim baseamos todo nosso sistema de conhecimento físico e químico nisso.

Até certo ponto, o procedimento retórico cumpre um papel importante nisso. Se a forma do
átomo fosse tão óbvia e constatável para todos como é a gravidade, pouco a retórica teria o que

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fazer a respeito. Mas, o convencimento a esse respeito passou pela explanação de uma série de
experimentos, pela aceitação geral dos procedimentos na obtenção dos resultados, enfim, por
uma série de estratégias de convencimento. Ainda assim, o resultado alcançado pode não ser o
modelo mais exato possível, mais é o mais difundido e aceito atualmente.

Assim, vemos como a retórica cumpre um papel importante mesmo onde ela não seria o
instrumento adequado. Não se está com isso sobrevalorizando a arte retórica em detrimento de
outras formas de construção no saber; inversamente, o que se está dizendo é que, a utilização de
algumas estratégias comuns da construção do conhecimento humano, ou seja, do próprio modo
de pensamento humano transparecem inevitavelmente no discurso. A retórica, enquanto
investigadora do discurso levanta esses elementos e os organiza de forma compreensível.

Tudo aquilo constatado pela retórica está de uma forma ou de outra presente na natureza
humana, no modo de pensar e agir, e são antes constatações a invenções do proceder.

O sistema apresentado a seguir é fruto dessas análises da ciência retórica acerca dos discursos. A
sua utilização como molde na construção de trabalhos dissertativos é opcional, mas constitui uma
excelente ferramenta de organização das ideias e sistematização do texto. A própria arte retórica
baseia-se nesses sistemas para almejando a formação de bons oradores ou escritores.

IV. AS PARTES DO DISCURSO RETÓRICO.

Como primeira formulação, a retórica dispõe quatro fases na construção de seu discurso: a
invenção (héuresis), a disposição (táxis), a elocução (lexis) e a ação (hypócrisis). Algumas nos
interessam mais do que as outras pois versam mais significativamente sobre o discurso escrito.

4.1 A INVENÇÃO
A parte da invenção, a primeira, é justamente o momento em que todos os componentes da
estrutura do texto são escolhidos. Nessa fase inicial, a preocupação está em definir o caráter, o
tom, a sustentação e os argumentos que permearão todo o texto.

A primeira coisa a se definir durante a invenção é o tipo de texto a ser elaborado. A Retórica
antiga dispõe três tipos básicos nos quais pode se encaixar muitos tipos de discurso. Segundo
Aristóteles, esses tipos de discurso existem em função dos tipos de auditório e são o Jurídico, o
legislativo e o epidíctico.
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4.2 Os tipos de discurso
4.2.1 O Jurídico
Chamado por esse nome por ser o tipo de discurso preferencialmente realizado em tribunais a
serviço da condenação ou absolvição do réu. O jurídico pauta-se no passado e busca a obtenção
de um juízo a respeito de um feito, julgando-o enquanto bom ou mau. Esse tipo de discurso
presume um receptor capaz de julgar e ser levado a isso pela argumentação do orador. Sua
principal estratégia de argumentação seria a silogística.

4.2.2 O Legislativo
O discurso que busca aconselhar, construir uma solução ou uma nova forma de comportamento
diante do que é tratado. O legislativo lida como futuro, pois procura, com base em sua
argumentação, a construção de comportamentos antes não realizados; diz respeito ao útil e ao
nocivo. Sua principal estratégia de argumentação seria a exemplar

4.2.3 O Epidíctico
Primitivamente o discurso que trazia à memória os feitos de uma pessoa que mereciam ser
lembrados, louvando-a ou censurando-a. O Epidíctico preocupa-se com o presente, traz à tona
algo que julga importante ser lembrado, os feitos de um herói, de um político ou tirano. Claro
que atualmente muitas outras possibilidades há para o discurso epidíctico. Sua principal
estratégia de argumentação e a ampliação.

4.3 Os três tipos de argumentos


Há, segundo os gregos, três tipos de argumento a serem considerados no momento da construção
do discurso. Não são possibilidade mutuamente excludentes e sim fases de decisão a respeito da
construção da figura de quem discursa e de seu discurso.

4.3.1 O Etos
É a fase da credibilidade. Trata-se, segundo os gregos, de um argumento de fundo afetivo, pois
visa a fazer a plateia confiar no orador. Através do Etos a pessoa que discursa se credencia como
crível poupando-se do malefício da desconfiança do receptor. Muitas vezes o Etos é presumido,
numa revista médica por exemplo, espera-se que as pessoas que lá escrevem tenham
competência para tanto, ainda assim é necessária alguma apresentação muitas vezes.

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4.3.2 O Patos
Traduz-se pela tonalidade do discurso, é o tom emocional que o quem discursa deseja causar em
sua plateia. Novamente temos aqui um argumento de natureza afetiva, devemos lembrar que uma
estratégia de convencimento será mais efetiva se obtiver uma reação emocional coerente com a
argumentação apresentada. Assim, se o que se procura é o tom de revolta em um discurso
jurídico, o escritor deve primar por exemplos, fatos e argumentos que incitem tal sentimento.

4.3.3 O Logos
O logos é o único tipo de argumento de natureza racional, mas em compensação, aquele que
mais importa na construção do texto. Se os tipos anteriores cuidavam respectivamente do
“orador” e da “plateia”, este se preocupa com a estruturação e construção das ideias
propriamente ditas no texto. Através do logos decide-se previamente que estratégias
argumentativas serão utilizadas na elaboração do texto. Este tópico será apreciado mais a fundo
posteriormente.

4.4 Provas
Um discurso não pode ser construído sem provas, estas são a base de sustentação das ideias
apresentadas, são de dois tipos:

4.4.1 Provas extrínsecas


Os dados, provas, informações úteis a argumentação, mas exteriores ao texto. Tudo aquilo a que
alguém possa ter acesso como passo para o entendimento da questão. São o material bruto da
argumentação pois necessitam ser trabalhadas em prol dos objetivos almejados.

4.4.2 Provas intrínsecas


São o produto da argumentação, aquilo que se faz com as provas extrínsecas. Não basta apenas
possuir os dados, é necessário coligi-los de uma maneira útil, esse é o processo de produção das
provas intrínsecas.

Muitas vezes as provas intrínsecas são de natureza ambígua, ou permitem várias interpretações, a
orientação dessas provas no sentido da argumentação são as provas intrínsecas.

4.5 Os lugares
Por fim há os lugares, que são a melhor forma de encontrar argumentos. Os lugares são formas
de orientação de pensamento que são úteis por serem normalmente compartilhadas por muitos.

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Há pelo menos três possibilidades na construção de ideias a partir de lugares:

4.5.1 O argumento pronto


São argumentos prontos compartilhadas pela maioria que podem ser utilizados por essas
características. São inumeráveis e apenas reconhecidos por sua reincidência como esquemas
argumentativos. Por exemplo, o lugar do exemplo “se deixarmos isso acontecer quantos mais
acharão isso normal”, o lugar do aproveitamento da juventude “faça isso enquanto você pode
senão não poderá fazer mais tarde”, e outros; “é preciso viver cada dia como o último”, “ é
preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã” etc.

4.5.2 O tipo de argumento


São esquemas genéricos aplicáveis a muitas ideias, podendo engendrar esquemas diversos. Os
tipos de argumento são reconhecidos por sua alta aplicabilidade e ampla capacidade para o
pensamento por analogia, são também por isso grande fonte de refutabilidade. Por exemplo: “é
preciso ir do geral para o específico”, em quantas situações diferentes você imagina ser possível
aplicar este lugar. “Tudo tem começo meio e fim”, “Não importa..., mas sim o prazer que
proporciona”, são outros exemplos de tipos de argumento.

4.5.3 Os tópicos
São questões típicas que organizam os argumentos e contra-argumentos. A característica desse
lugar é a organização das ideias segundo um sistema conhecido. As possibilidades são as mais
variadas possíveis, e muitos delas são típicas e específicas a certas áreas.

A organização através de perguntas e respostas, argumentos e contra-argumentos, como um


diálogo, seguindo um sistema estabelecido por um texto conhecido são exemplos do que pode
seu um tópico. Esses são os passos durante a fase da invenção, veremos a seguir os
procedimentos a se tomar quando já temo os elementos principais enumerados.

V. A Dinâmica Retórica
Na Retórica, acontece o mesmo. Começando pelo princípio, o retor tem de conhecer a
configuração da sua relação com o auditório.
Assim, e em primeiro lugar, um orador tem de assimilar a situação de comunicação persuasiva
que o envolve. A persuasão pode realizar-se de diferentes maneiras: seduzindo, induzindo,
manipulando, etc. No que diz respeito à Retórica, persuade-se alguém recorrendo a uma intensa

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prática argumentativa. Na Retórica, o argumento é o principal instrumento de levar o interlocutor
a aceitar a tese do orador.

A argumentação é uma actividade comunicativa, de base discursiva, na qual uma opinião é


reconhecida ou refutada tendo por base um conjunto de razões bem fundamentadas (os
argumentos) com vista a obter a adesão do auditório e, deste modo, provocar uma mudança na
sua compreensão e/ou comportamento em relação a um dado assunto. Ela contém estratégias dis-
cursivas que tornam o raciocínio persuasivo efectivo.

A dinâmica retórica consiste precisamente na transformação, por parte do orador, de uma opinião
em argumento de acordo com as particularidades do auditório. Quando Breton (1998: 28) refere
que “argumentar é construir uma intersecção entre os universos mentais dos indivíduos” ele
alerta-nos para esta dinâmica retórica fundada na criação, manutenção e adaptação de uma
relação comunicativa entre orador e auditório instituída a partir de um argumento.
A dinâmica retórica é um processo complexo no qual assistimos a um indivíduo (o orador) que,
em nome pessoal ou coletivo, se dirige a um conjunto de interlocutores (o auditório) através da
apresentação e defesa de boas e consistentes razões para partilharem uma opinião.
Assim, podemos descrever a dinâmica argumentativa da retórica como sendo uma actividade na
qual um orador:
 Procura a melhor recepção possível para a sua argumentação, de acordo com o contexto
comunicativo;
 Identifica o auditório percebendo que argumentos serão, provavelmente, melhor
recebidos
 Seleciona uma opinião, de entre as várias que possui, para se dirigir a conjunto de
indivíduos;
 Transforma a sua opinião num ou mais argumentos que suportem a sua tese;
 Modifica o modo como o auditório percepciona determinado assunto, questão ou
realidade e que, em última análise, determinará a sua atitude para com esse tópico;

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5.1 A dinâmica na prática.
Tomemos como ilustração uma situação de comunicação onde Aristides, um vendedor, tenta
persuadir Anacleto, um cliente, de que aquele telemóvel é o mais acertado para si.
Em primeiro lugar, temos o contexto comunicativo de vendas onde o cliente, ao deslocar-se à
loja, demonstra já alguma receptividade à compra do telemóvel. O que o Aristides, enquanto
vendedor, quererá fazer o quanto antes é conhecer o cliente Anacleto: nomeadamente, as suas
necessidades, aquilo que o motivo num telemóvel, quanto está disposto a pagar, et caetera.

VI. Os Géneros Retóricos


Depois de definir os elementos fundamentais que afectam o seu discurso, o orador terá de decidir
em que género retórico irá inscrever a sua elocução e observar os tipos de discursos possíveis, os
assuntos que eles endereçam e a suas características principais. É a Aristóteles que devemos a
mais famosa distinção dos géneros retóricos em três categorias distintas: género deliberativo,
género epidíctico e género judiciário ou forense.
Cada género é, de acordo com o Livro I da Retórica determinado de acordo com diferentes
critérios:
 O auditório a que se dirige;
 A finalidade que o conduz;
 O tempo a que se refere; e
 Os valores porque se rege,

Esta distinção em três géneros é, acima de tudo, didática. No vasto terreno da argumentação e da
Retórica existem outros tipos de discursos persuasivos. Mas isso não belisca a valia desta
distinção tri-partida uma vez que ela oferece um conjunto – muito válido– de fundações sobre as
quais assentar o edifício retórico.
Alguns objectam que se trata de uma distinção obsoleta que não corresponde à realidade
contemporânea. Como se o género deliberativo ocorresse somente nas assembleias e nos
Senados; o género epidíctico em cerimónias fúnebres ou o género judicial estivesse restrito aos
tribunais. Porém, esta crítica não tem razão de ser.

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O local onde os géneros ocorrem é apenas um dos critérios utilizados. Os géneros retóricos
valem, acima de tudo, pelo ordenamento temporal, a sua finalidade e os valores que sustentam o
discurso. Assim, não encontramos estes géneros somente nas assembleias, espaço público ou
tribunal: observamos discursos deliberativos quando os pais discutem com os seus filhos, por
exemplo, qual o curso universitário escolher, ou quando se debate, em conferências e tertúlias, o
que fazer para diminuir a taxa de criminalidade.
Analogamente, assistimos a discurso epidícticos nos hospitais quando as famílias louvam o
excelente trabalho da equipa médica ou quando, num editorial de opinião, se censuram as
atitudes pouco responsáveis de um qualquer jogador de futebol fotografado numa discoteca, de
madrugada, na véspera de um jogo.
Tal como não é difícil encontrar exemplos de discursos judiciários fora dos tribunais: pense-se na
retórica acusatória que alguns deputados praticam em entrevistas televisivas quando atribuem a
responsabilidade do actual estado de coisas ao Governo anterior.
A maioria dos discursos pode ser perspectivado de acordo com estes géneros, com os quais
agimos, reconhecemos ou avaliamos.

6.1 Género Deliberativo


Na oratória deliberativa a que Aristóteles chama de symbouleutikon trata- -se, sobretudo, de
recomendar ou prescrever, perante uma assembleia, um curso de acção normalmente associado
ao futuro. Na Grécia Antiga, o symbolous era um conselheiro ou personalidade respeitável que
emitia o seu juízo em assuntos de natureza prática (como a gestão da cidade, decisões
diplomáticas ou recomendações de candidatos). Alguns oradores autoatribuíam-se esta
designação pela influência que possuíam na capacidade de decidir a discussão de um
determinado assunto.
No género deliberativo, questão principal é enquadrar qual o comportamento a adoptar (no
futuro) que seja mais benéfico e útil. Trata-se, aqui de pesar os prós e contras de uma decisão
sendo, por isso, especialmente orientada para o futuro: o que deve ser feito. Aristóteles refere que
o seu princípio orientador é a eudamonia, a felicidade ou o bem-estar. O objectivo da oratória
deliberativa é estabelecer quais as acções mais abonatórias e propícias a tomar que possam
contribuir para a satisfação e o bem-estar do auditório. É o género mais aparentado com o
exercício pleno da vida cívica, bem como o colocar de virtudes individuais ao serviço da

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comunidade. Daí que o orador deva ser alguém especialmente bem informado e sensato que
possa contribuir para melhor tomada de decisão.

6.2 Género Epidíctico


Na retórica epidíctica assistimos a discursos de louvor. Aristóteles chama de epideiktikon os
discursos aclamatórios pronunciados nos funerais ou em cerimónias de consagração após
grandes triunfos militares. O discurso elogia (epainos), no Espaço Público, e perante os cidadãos,
o carácter ou os feitos de um indivíduo (por exemplo, os heróis de guerra) mas também pode
condená-los e censurá-los (psogos) tendo em conta o momento presente.
Aristóteles sublinha a importância desta oratória cerimonial e embora ele não o refira, é de
salientar o papel potencialmente agregador dos discursos epidícticos de louvor. Encontramo-los,
na actualidade, nos encómios e homenagens que, por exemplo, os grandes actores, cantores e
desportistas recebem. Quando uma rua recebe o nome de uma destas personalidades, iremos com
certeza escutar uma retórica epidíctica centrada nos feitos alcançados e nas honras que esses
feitos trazem à sociedade.

6.3 Género Judiciário


Na oratória judiciária, que Aristótele chama de dikanikon sendo associada aos tribunais e ao
discurso acusatório, os discursos assumem a forma de pleitos e arguições acerca da culpabilidade
ou inocência de alguém num contexto forense. Sejam de acusação (kategoria) ou de defesa
(apologia), este género concentra-se naquilo que aconteceu. A sua natureza não é pragmática
nem contemplativa, como no caso dos géneros deliberativo e epidíctico. Pelo contrário, a sua
natureza é sobretudo inquisitiva, assente na reconstrução do passado e na consideração do
significado dos actos ocorridos.

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VII. CONCLUSÃO

No presente trabalho concluímos que a retórica cumpre um papel importante mesmo onde ela
não seria o instrumento adequado. Não se está com isso sobrevalorizando a arte retórica em
detrimento de outras formas de construção no saber; inversamente, o que se está dizendo é que, a
utilização de algumas estratégias comuns da construção do conhecimento humano, ou seja, do
próprio modo de pensamento humano transparecem inevitavelmente no discurso.

Tudo aquilo constatado pela retórica está de uma forma ou de outra presente na natureza
humana, no modo de pensar e agir, e são antes constatações a invenções do proceder.

A dinâmica retórica consiste precisamente na transformação, por parte do orador, de uma opinião
em argumento de acordo com as particularidades do auditório.

Depois de definir os elementos fundamentais que afectam o seu discurso, o orador terá de decidir
em que género retórico irá inscrever a sua elocução e observar os tipos de discursos possíveis, os
assuntos que eles endereçam e a suas características principais. É a Aristóteles que devemos a
mais famosa distinção dos géneros retóricos em três categorias distintas: género deliberativo,
género epidíctico e género judiciário ou forense.

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VIII. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

REBOUL, Olivier. Introdução à retórica; trad. Ivone Castilho Benedettti. – São Paulo: Martins
Fontes, 1998.

Aristóteles, Retórica. Introdução de Manuel Alexandre Júnior. Tradução do grego e notas de


Manuel Alexandre Júnior, Paulo Farmhouse Alberto e Abel do Nascimento Pena. Lisboa: INCM,
1998.

Breton, Phillipe (1998). A Argumentação na Comunicação, Lisboa: Publicações Dom Quixote.

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