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Dos deveres das partes e seus procuradores

■ Os deveres vêm enumerados no art. 77 do CPC, que tem sete incisos.

Apesar do nome atribuído ao capítulo – dos deveres das partes e seus procuradores – os
incisos impõem deveres que transcendem tais personagens, estendendo-os às partes, a seus
procuradores e a todos aqueles que, de qualquer forma, participam do processo, como os
intervenientes, o Ministério Público, os funcionários do Judiciário, os peritos e assistentes
técnicos, as testemunhas e as pessoas a quem são dirigidas as determinações judiciais.

A boa-fé é imposta a todos os que de qualquer forma participam do processo, tendo o CPC
elevado tal exigência a princípio fundamental do processo (art. 5º). A obrigação de proceder
com lealdade e boa-fé abrange todas as demais, pois quem viola as regras impostas nos
incisos do art. 77 não age de boa-fé, nem de forma leal.

Os casos de litigância de má-fé são explicitados no art. 80, que, em rol meramente
exemplificativo, enumera condutas que a tipificam.

Por exemplo: deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso,
alterar a verdade dos fatos, usar do processo para conseguir objetivo ilegal, opor resistência
injustificada ao andamento do processo, etc.

Além do dever geral de proceder com boa-fé e lealdade, o art. 77 enumera outros deveres,
como os de:

a) Expor os fatos em juízo conforme a verdade.

Só haverá ofensa a tal dever se, intencionalmente, a verdade for falseada.

Se for apresentada de maneira errônea, involuntariamente, por uma falsa percepção da


realidade, uma incompreensão dos fatos, uma má avaliação dos acontecimentos, ou qualquer
outro tipo de equívoco, a infração não estará caracterizada. É preciso que fique evidente a
intenção, a vontade de falsear a verdade.

Do simples fato de o juiz não ter acolhido a versão apresentada por uma das partes, não
resulta que ela tenha mentido intencionalmente, podendo ocorrer que tenha havido um
equívoco, pelas causas anteriormente mencionadas.

A obrigação estende-se também às testemunhas, peritos e outros que participem do processo.


Havendo infração, o ofensor incorre nas sanções do art. 79 do CPC, sem prejuízo de outras,
inclusive de natureza penal.
b) Não formular pretensões, nem alegar defesa, ciente de que são destituídas de
fundamento.

Só haverá violação a esse dever se a parte tiver consciência, em seu íntimo, de que a sua
pretensão ou a defesa apresentada são destituídas de fundamento. Não basta que
objetivamente o juiz conclua que uma coisa ou outra não tem fundamento. É preciso que
verifique que a parte sabia disso desde logo.

Com frequência, uma das partes não tem razão, mas está convencida de que tem, e luta por
aquilo que supõe ser o seu direito. Quando isso ocorre, não há nenhuma violação de dever. O
que não se admite é que a parte vá a juízo formular pretensões e defesas que sabe de antemão
que não têm fundamento.

c) Não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou


defesa do direito: o juiz deve examinar esse, como os demais deveres, com certa tolerância.

A parte pode requerer honestamente uma prova, que entende pertinente, conquanto o juiz
pense que seja supérflua ou irrelevante, sem que com isso haja ofensa ao dever legal.

Para que ela fique caracterizada, é indispensável que as provas requeridas ou produzidas
sejam meramente protelatórias, destinadas não a esclarecer os fatos, mas a retardar o
desfecho do processo. Aqui também se exige o dolo, a má-fé, a conduta voluntária.

d) Cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou final, e


não criar embaraços à sua efetivação.

Esse dever, imposto a todos aqueles que participam direta ou indiretamente do processo, tem
por finalidade principal assegurar-lhe a efetividade.

Mesmo os que não participam do processo podem violar essa obrigação.

Esse inciso e o inciso VI se distinguem dos demais porque as sanções impostas àqueles que
os violarem são mais graves. A ofensa aos demais incisos obrigará o causador a responder
pelos danos processuais que causar, conforme arts. 79 a 81 do CPC. Já a violação dos incisos
IV e VI implicará ato atentatório à dignidade da justiça, cujas sanções são cominadas pelo §
2º do art. 77.

e) Declinar, no primeiro momento que lhes couber falar nos autos, o endereço
residencial ou profissional onde receberão intimações, atualizando essa informação
sempre que ocorrer qualquer modificação temporária ou definitiva.

Trata-se de derivação da exigência de boa-fé processual.


f) Não praticar inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso:

A violação a esse dever constitui, juntamente com a afronta à obrigação contida no inciso IV,
ato atentatório à dignidade da justiça, impondo sanções maiores do que aquelas previstas para
o descumprimento dos demais deveres (art. 77, § 2º).

Além disso, a inovação ilegal no estado de fato do bem ou direito litigioso configurará
atentado.

Enquanto o processo estiver em curso, nenhuma das partes pode inovar, provocando
alterações fáticas que prejudiquem o julgamento do processo.

Aquele que pratica o atentado pode ter por objetivo prejudicar a colheita de provas, impedir o
cumprimento das determinações judiciais ou fazer justiça com as próprias mãos.

Para que se configure o atentado é preciso: que haja processo em andamento, isto é, que a
inovação se realize entre a citação do réu e o trânsito em julgado da sentença. Se ela ocorrer
fora desse período, poderá ensejar outras providências, mas não as decorrentes do atentado. O
processo em curso pode ser de conhecimento ou execução; que a inovação seja realizada por
quem participa do processo.

Não cabe atentado quando decorre de fato natural ou de ato de terceiro. Não constituem
atentado a fruição normal da coisa, os atos comuns de administração e a alienação de
coisa litigiosa.

Se ficar caracterizado o atentado, o juiz ordenará o restabelecimento do estado anterior e a


proibição de a parte falar nos autos até a sua purgação do atentado, sem prejuízo da multa e
das demais sanções previstas no § 2º do art. 77.

■ Da responsabilidade por dano processual

Aquele que violar os incisos I, II, III, V e VII do art. 77 responderá pelas perdas e danos que
causar (art. 79).

Sem prejuízo dessa obrigação, o juiz ou tribunal, de ofício ou a requerimento, condenará o


litigante de má-fé em multa superior a 1% e inferior a 10% do valor da causa, bem
como a ressarcir os honorários advocatícios e todas as despesas da parte contrária. Se o valor
da causa for irrisório ou inestimável, a multa será de até 10 salários mínimos.

Em resumo, serão duas as sanções impostas ao ofensor: a de reparar os danos, incluindo


honorários e despesas da parte contrária, e a de pagar multa. Se não houver dano nenhum,
ainda assim a multa poderá ser imposta, de ofício ou a requerimento.
Caso não seja possível mensurá-los, os danos serão liquidados por arbitramento ou em
liquidação de procedimento comum (aquela em que há necessidade de prova de fato novo),
mas sempre nos mesmos autos. Tanto a condenação em perdas e danos quanto a multa
reverterão em proveito da parte contrária, prejudicada pela conduta violadora.

■ Ato atentatório à dignidade da justiça

A violação aos incisos IV e VI do art. 77 constitui ato atentatório à dignidade da justiça.

A sanção é imposta no § 2º do art. 77, cabendo ao juiz advertir qualquer das pessoas
mencionadas no caput de que sua conduta poderá configurar o ato atentatório. Sem prejuízo
das sanções penais (como, por exemplo, crime de desobediência), civis ou processuais
cabíveis, o juiz, de ofício ou a requerimento da parte, aplicará multa de até 20% do valor da
causa.

Se o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa poderá ser de até 10 salários
mínimos.

Pode haver violação cumulativa dos demais incisos com os incisos IV e VI, caso em que
serão aplicadas cumulativamente as penas da litigância de má-fé e do ato atentatório à
dignidade da justiça.

Diferentemente do que ocorre com a litigância de má-fé, a condenação imposta pelo juiz não
reverte em proveito da parte contrária, mas em favor da Fazenda Pública.

É que, no caso de violação dos incisos IV e VI, o ofendido não é o adversário, mas a
administração da justiça.

Por isso, se não houver o pagamento, a multa será, após o trânsito em julgado da
decisão que a fixou, inscrita como dívida ativa da União ou do Estado, para que possa
ser objeto de execução fiscal, revertendo aos fundos previstos no art. 97 do CPC.

Caso o autor seja a própria Fazenda Pública, então a punição será imputada ao funcionário
que cometeu a desobediência judicial.

Não se aplicam ao advogado, público ou privado, ao Defensor Público e ao Ministério


Público as disposições relativas ao ato atentatório à dignidade da justiça, previstos nos §§ 2º e
5º do art. 77.

A afronta aos incisos IV e VI poderá dar ensejo à responsabilização disciplinar, que deverá
ser apurada pelo respectivo órgão de classe ou corregedoria, para o qual o juiz oficiará.

■ Proibição do uso de expressões injuriosas


Além dos deveres enumerados nos incisos do art. 77, o CPC proíbe às partes e a seus
advogados, aos juízes e aos membros do Ministério Público e da Defensoria Pública, bem
como a qualquer pessoa que participe do processo, o emprego de expressões ofensivas nos
escritos apresentados no processo, cabendo ao juiz, de ofício ou a requerimento do ofendido,
mandar riscá-las, determinando, a requerimento do ofendido, a expedição de certidão de
inteiro teor das expressões ofensivas, que será colocada à disposição da parte interessada.

Se as expressões forem proferidas oralmente, o juiz advertirá o ofensor de que não as use, sob
pena de ter a palavra cassada (art. 78, §§ 1º e 2º, do CPC).

■ Dos deveres das partes quanto às despesas processuais

Há atos, no curso do processo, que implicam despesas. Por exemplo, os relacionados à prova
pericial, que exigem o pagamento dos honorários do perito.

Salvo os casos de justiça gratuita, cumpre às partes prover as despesas dos atos que
realizam ou requerem no processo. Mas qual das partes?

Aquela que sucumbir, que obtiver resultado desfavorável.

O juiz, ao proferir sentença, condenará a parte sucumbente ao pagamento das despesas


processuais.

Mas há aquelas que têm de ser antecipadas, não havendo a possibilidade de se aguardar o fim
do processo.

O art. 82 e § 1º da antecipação das despesas em geral, e o art. 95, da antecipação das despesas
relativas à prova pericial.

A regra geral do art. 82 é: as despesas serão antecipadas por quem requereu a prova (ou o
ato); se a prova for requerida por ambas as partes, ou determinada de ofício pelo juiz ou a
requerimento do Ministério Público como fiscal da ordem jurídica, caberá ao autor a
antecipação das despesas.

Já em relação à prova pericial, prevalece o disposto no art. 95: a antecipação será feita por
quem requereu a prova, mas se ela tiver sido requerida por ambas as partes, ou determinada
de ofício pelo juiz ou a requerimento do Ministério Público fiscal da ordem jurídica, as
despesas serão rateadas.

Esse é o ônus pela antecipação, mas somente quando for prolatada a sentença é que se saberá
quem, em definitivo, suportará as despesas do processo, pois só então se apurará quem é o
sucumbente.
Se o autor requereu perícia, cumpre-lhe antecipar os honorários do perito. Mas, se, ao final,
sair vitorioso, o juiz condenará o réu a ressarci-lo das despesas processuais que teve de
antecipar.

Se houver vários vencidos, o juiz, na sentença, fixará proporcionalmente a responsabilidade


de cada um pelas despesas.

Em caso de desistência da ação ou renúncia ao direito em que ela se funda, as despesas


ficarão a cargo do autor; em caso de reconhecimento jurídico do pedido, a cargo do réu.

Se o procedimento for de jurisdição voluntária, as despesas serão adiantadas pelo requerente


e rateadas entre os interessados (CPC, art. 88).

Se a parte sucumbente for beneficiária da justiça gratuita, o juiz a condenará ao pagamento


das despesas, mas a execução não poderá ser feita, a menos que o adversário comprove que o
sucumbente já adquiriu condições de suportá-las, sem prejuízo de seu sustento.

■ Honorários advocatícios

O CPC regula, nos arts. 85 a 87, a condenação em honorários advocatícios decorrentes da


sucumbência no processo.

Não se confundem com contratuais, fixados por acordo de vontade, entre o advogado e seu
cliente.

Os honorários fixados no processo pertencem ao advogado e não à parte, conforme art. 23 da


Lei n. 8.906/94: “os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência,
pertencem ao advogado, tendo este direito autônomo para executar a sentença nesta parte,
podendo requerer que o precatório, quando necessário, seja expedido em seu favor”.

O advogado que continue atuando em favor da parte vitoriosa na fase executiva poderá optar
entre promover a execução de seus honorários em nome próprio, ou em nome da parte, em
conjunto com o principal. Se optar pela segunda possibilidade, a parte executará em nome
próprio valores que pertencem ao advogado, o que constitui manifestação de legitimidade
extraordinária.

Pela mesma razão, o advogado pode também recorrer em nome próprio, com a finalidade
exclusiva de elevar seus honorários.

O art. 85 do CPC estabelece que o juiz condenará o vencido ao pagamento de


honorários advocatícios.

O valor deverá ser fixado em consonância com os §§ 2º e 8º. O § 2º deverá ser aplicado
quando houver condenação, situação em que os valores devem ser fixados entre 10 e 20% do
valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre
o valor atualizado da causa, cumprindo ao juiz atentar para o grau de zelo do profissional, o
lugar da prestação do serviço e a natureza e importância da causa, bem como o tempo exigido
para o seu serviço.

O § 8º deve ser aplicado nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito econômico
ou, ainda, quando o valor da causa for muito baixo, caso em que os honorários serão fixados
por equidade, considerados os critérios acima mencionados.

Os honorários advocatícios nas causas em que a Fazenda Pública for parte serão fixados de
acordo com os §§ 3º e 4º do art. 85.

Os honorários advocatícios serão devidos na reconvenção, no cumprimento de sentença,


provisório ou definitivo, na execução, resistida ou não, e nos recursos interpostos,
cumulativamente.

Os honorários advocatícios recursais foi a novidade trazida pelo CPC de 2015, estão
regulados no art. 85, § 11. Ele dispõe que o tribunal, ao julgar o recurso, majorará os
honorários fixados anteriormente levando em conta o trabalho adicional realizado em grau
recursal, sendo vedado, no entanto, ultrapassar os limites estabelecidos nos §§ 2º e 3º, para a
fase de conhecimento.

O Enunciado n. 16 da ENFAM – Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de


Magistrados – estabelece que “não é possível majorar os honorários na hipótese de
interposição de recurso no mesmo grau de jurisdição”. Só haveria majoração, portanto, se o
recurso vier a ser julgado por órgão diferente daquele que proferiu a decisão recorrida.

O art. 85, § 3º, estabelece regras específicas para fixação de honorários advocatícios nas
demandas em que a Fazenda Pública for parte, incluindo execuções fiscais ou aquelas
fundadas em título executivo extrajudicial (Enunciado n. 15 da ENFAM). Quando cada
litigante for em parte vencedor ou vencido, o juiz distribuirá reciprocamente entre eles os
honorários e as despesas (CPC, art. 86 e parágrafo único).

O CPC/2015 não permite a compensação de honorários advocatícios em caso de sucumbência


recíproca.

Assim, se cada uma das partes sucumbir parcialmente, o juiz a condenará a pagar honorários
ao advogado do adversário, na proporção de sua sucumbência, sem que se compense com os
honorários da parte contrária.

Por fim, se o vencido for beneficiário da justiça gratuita, o juiz o condenará nos honorários,
mas suspenderá a execução por cinco anos, até que se prove que adquiriu condições de
pagá-los, sem prejuízo de seu sustento. Passado esse prazo, extinguem-se as obrigações do
beneficiário da gratuidade.
■ Da gratuidade da justiça

O art. 98 atribui o direito à gratuidade da justiça a toda pessoa natural ou jurídica, brasileira
ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e
os honorários advocatícios.

Em relação às pessoas naturais, há uma presunção de veracidade da alegação de insuficiência


de recursos, que só será afastada se houver nos autos elementos que evidenciem o contrário.
Com relação às pessoas jurídicas, não há essa presunção, cumprindo-lhes provar a
insuficiência econômica, necessária para o deferimento da gratuidade.

Súmula 481 do Superior Tribunal de Justiça:


“Faz jus ao benefício da justiça gratuita a pessoa jurídica com ou sem fins lucrativos que
demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais”.

Cabe à pessoa jurídica demonstrar a impossibilidade financeira, não bastando simplesmente


que a alegue, como ocorre com as pessoas naturais. E, mesmo em relação a essas, embora
haja a mencionada presunção de veracidade, se o juiz entender que as circunstâncias são tais
que indiquem que ela tem condições de suportar as despesas do processo, deverá dar a ela
condições de fazer prova da alegada necessidade, indeferindo o benefício se a prova não for
feita (art. 99, §§ 2º e 3º).

A gratuidade da justiça não afasta a responsabilidade do beneficiário pelo pagamento


das multas impostas no curso do processo, como aquelas relativas à litigância de má-fé,
ato atentatório à dignidade da justiça e às multas cominatórias (“astreintes”).

Se o beneficiário da gratuidade for sucumbente, o juiz o condenará no pagamento das custas,


despesas e honorários advocatícios. Mas a condenação não poderá ser executada e ficará sob
condição suspensiva durante o prazo de cinco anos, a contar do trânsito em julgado. Se nesse
ínterim o credor demonstrar a alteração da situação econômica do devedor, que agora tem
condições de arcar com as verbas de sucumbência a que foi condenado, o juiz determinará a
execução delas.

Mas, passados os cinco anos sem que isso ocorra, extinguem-se as obrigações.

A gratuidade da justiça pode ser requerida a qualquer momento no processo. Poderá ser
requerida pelo autor na inicial, pelo réu na contestação e pelo terceiro quando solicitar seu
ingresso.

Se ela for deferida, a parte contrária poderá apresentar impugnação, pedindo ao juiz que a
revogue. Se ela foi requerida na inicial e deferida pelo juiz, a impugnação deve ser formulada
como preliminar em contestação; se requerida na contestação, e deferida pelo juiz, deve ser
impugnada na réplica; se requerida em recurso, deve ser impugnada nas contrarrazões. E se
requerida por simples petição e deferida, poderá ser impugnada no prazo de 15 dias. A
impugnação será sempre nos mesmos autos e não suspenderá o curso do processo.

Caso haja a revogação, e o juiz entenda que houve má-fé, a parte não só terá de recolher as
despesas que tiver deixado de adiantar, mas pagará até o décuplo de seu valor a título de
multa, em benefício da Fazenda Pública estadual ou federal, conforme a ação corra pela
justiça estadual ou federal.

Da decisão judicial que indeferir ou revogar o pedido de gratuidade, cabe agravo de


instrumento (salvo se a questão for apreciada na sentença, caso em que caberá apelação).

Se o recurso não for interposto, a matéria preclui, a menos que se evidencie a existência de
novas circunstâncias fáticas que demonstrem a alteração da condição financeira da parte.

Enquanto não houver decisão do relator sobre a questão, preliminarmente ao julgamento do


recurso de agravo de instrumento, o recorrente fica dispensado do recolhimento das custas
necessárias à continuidade do processo.

E se a decisão de indeferimento ou revogação for


mantida, ela será intimada a fazer o recolhimento em cinco dias. Da decisão que concede a
gratuidade não cabe recurso, mas apenas a impugnação prevista no art. 100.

■ Dos Procuradores

O CPC trata dos procuradores no capítulo que compreende os arts. 103 a 107.

Um dos pressupostos processuais de eficácia é a capacidade postulatória que, em regra, não é


atributo das pessoas em geral. Quem não a tem precisa outorgar procuração a advogado
legalmente habilitado, que o represente.

Há casos excepcionais, porém, em que a lei atribui capacidade postulatória a pessoas que
normalmente não a têm, àqueles que não são advogados, nem integrantes do Ministério
Público.

Exemplo: habeas corpus e das ações no Juizado Especial Cível, até vinte salários mínimos.

Nos casos em que é indispensável a participação do advogado, será necessária a juntada de


procuração, na forma do art. 104 do CPC. Sem ela, o advogado não será admitido a procurar
em juízo salvo para, em nome da parte, intentar ação, a fim de evitar preclusão, decadência
ou prescrição, bem como intervir em processo, para praticar atos urgentes, caso em que terá o
prazo de quinze dias, prorrogável por mais quinze, para exibir o mandato em juízo.
A petição inicial deverá vir acompanhada da procuração do advogado, que conterá os
endereços dele, eletrônico e não eletrônico salvo se o requerente postular em causa própria,
ou nos casos previstos no art. 104.

A falta de procuração nos casos em que é necessária implicará a ineficácia (CPC, art. 104, §
2º), respondendo o advogado por perdas e danos.

Súmula 644 do STF:


Não há necessidade de exibição de procuração por aqueles que ocupam cargos públicos como
os da Defensoria Pública, Procuradoria do Estado ou Procuradoria de autarquia.

A procuração deverá indicar quais os poderes que o outorgante concede ao procurador.

■ Procuração ad judicia (procuração geral para foro)

Caso em que o advogado estará habilitado a praticar todos os atos do processo em geral,
salvo aqueles que exigem poderes específicos, enumerados no art. 105 do CPC: receber
citação inicial, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao
direito sobre que se funda a ação, receber, dar quitação, firmar compromisso e assinar
declaração de hipossuficiência econômica.

Pode outorgada por instrumento público ou particular, como expressamente previsto no art.
105 do CPC, e pode ser assinada digitalmente com base em certificado emitido por
Autoridade Certificadora credenciada, na forma da lei específica.

Mesmo que a parte seja incapaz, a procuração pode ser outorgada por instrumento particular.
Em caso de incapacidade absoluta, será assinada pelo representante legal, e de incapacidade
relativa, pelo incapaz e por quem o assiste. A regra do art. 105 – por ser específica –
prevalece sobre a geral do art. 654 do CC, que só permite a outorga de procuração por
instrumento particular pelas pessoas capazes, exigindo que ela seja pública quando outorgada
por incapazes.

A dispensa do reconhecimento de firma está autorizada por lei quando a procuração ad


judicia et extra é utilizada em autos do processo judicial” (RF 359/252).

Quando o advogado postula em causa própria, a procuração é desnecessária, mas a ele


compete declarar, na petição inicial ou contestação, o endereço, o seu número de inscrição na
OAB e o nome da sociedade de advogados da qual participa, para o recebimento de
intimações, comunicando qualquer alteração (CPC, art. 106).

As prerrogativas e deveres dos advogados estão enumerados na Lei n. 8.906/94, que regula,
de forma geral, a profissão. As primeiras são indicadas no art. 7º, enquanto as proibições, no
art. 34, sendo a advocacia considerada uma das funções essenciais à justiça, pela Constituição
Federal.
■ Da sucessão das partes e dos procuradores

A sucessão das partes ou de seus procuradores, que pode ocorrer por ato inter vivos ou mortis
causa, vem regulada nos arts. 108 a 112 do CPC.

Os arts. 109 e 110 tratam da sucessão de partes, o primeiro por ato inter vivos e o segundo em
caso de morte.

Os arts. 111 e 112 tratam da alteração de procurador, seja por vontade da parte, seja por
vontade do próprio advogado.

A sucessão por ato inter vivos ocorrerá nas hipóteses de alienação de coisa litigiosa.

■ Da alienação da coisa ou do direito litigioso

Vem regulamentada no art. 109. Desde o momento em que ocorre a citação válida, a coisa, ou
o direito disputado pelos litigantes, passa a ser litigioso. E continuará sendo até a conclusão
definitiva do processo, até o trânsito em julgado. Nem por isso ele se torna indisponível.

O caput do art. 109 formula a regra fundamental a respeito da alienação de coisa ou direito
litigioso: a legitimidade das partes não se altera; conquanto tenha havido a alienação, o
processo continua correndo com as partes originárias.

Por exemplo: se A ajuíza ação reivindicatória em face de B, que tem atualmente o bem
consigo, o fato de ele alienar a coisa, transferindo-lhe a posse, não altera a sua condição de
réu.

No entanto, o § 1º do art. 109 permite que, se houver anuência da parte contrária, poderá
haver a sucessão do alienante ou cedente, pelo adquirente ou cessionário. Do contrário, ele
permanecerá como parte: o alienante continuará figurando no processo, em nome próprio,
não mais postulando ou defendendo um direito que alega ser seu, mas que já transferiu ao
terceiro, por força da alienação.

Em outros termos, postulará em nome próprio, mas em defesa de um direito alheio.

Nesse caso, estar-se-á diante de uma hipótese de legitimidade extraordinária ou substituição


processual, ou seja, haverá verdadeira substituição processual quando, apesar da alienação da
coisa litigiosa, as partes permanecerem as mesmas, porque então se terá o alienante em nome
próprio, na defesa de interesse que já transferiu ao adquirente.

Antes da alienação, o alienante era legitimado ordinário, tornando-se extraordinário só


depois. Como não tem mais consigo a coisa ou o direito litigioso, ele figurará como substituto
processual do adquirente, que assume a condição de substituído. Por isso, o substituído pode
ingressar como assistente litisconsorcial. Mas, ingressando ou não, sofrerá os efeitos da
sentença, na forma do art. 109, § 3º.

Além disso, se o alienante for derrotado, a alienação da coisa ou do direito litigioso será
considerada fraude à execução, nos termos do art. 792, I, do CPC, quando sobre a coisa ou
direito pender ação fundada em direito real ou com pretensão reipersecutória; mais um
motivo para que a alienação seja ineficaz perante a parte contrária.

Mas, para isso, é preciso que o alienante seja derrotado, pois, se sair vitorioso, a alienação
será plenamente eficaz.

Mas, mesmo em caso de derrota, o que haverá será apenas ineficácia, e não nulidade ou
anulabilidade.

■ A sucessão em caso de morte

Vem regulada no art. 110 do CPC. As partes, em caso de falecimento, serão sucedidas pelo
espólio ou pelos herdeiros.

Pelo espólio, quando a ação tiver cunho patrimonial e ainda não tiver havido partilha
definitiva de bens.

E pelos herdeiros, quando a ação não tiver cunho patrimonial, mas pessoal (por exemplo, as
ações de investigação de paternidade), ou quando já tiver sido ultimada a partilha.

Pode ocorrer, porém, que a morte de uma das partes implique a extinção do processo, sem
resolução de mérito, como ocorre em ações de caráter personalíssimo, como as de separação
e divórcio.

Desde o momento da morte da parte, o processo ficará suspenso, até a sucessão processual.

Se não houver dúvida sobre quem sejam os sucessores, ela se fará desde logo, nos próprios
autos. Se houver dúvida, será necessário recorrer à habilitação, na forma do art. 313, §§ 1º e
2º, do CPC.

■ Sucessão de procuradores

Os arts. 111 e 112 do CPC, por sua vez, cuidam da sucessão dos procuradores, que pode
ocorrer por vontade da parte ou do próprio procurador.

A parte pode, a qualquer tempo, substituir o advogado, revogando-lhe o mandado e


constituindo um novo, que assuma o patrocínio da causa.
Se a parte outorga procuração a um novo advogado, sem fazer qualquer ressalva quanto aos
poderes do anterior, entende-se que a primeira procuração foi revogada. Se a parte revogar a
procuração anterior, sem constituir novo advogado, o juiz conceder-lhe-á prazo para
regularizar a representação, na forma do art. 76, aplicando as sanções ali previstas para os
casos de omissão.

Também pode haver, a qualquer tempo, renúncia do advogado ao mandato. Não precisa ser
fundamentada, mas incumbe ao advogado provar que cientificou o mandante a fim de que
este nomeie substituto.

A tarefa compete ao advogado e não ao juiz ou aos auxiliares da justiça. Mesmo depois que
ela for feita, o advogado continua, nos dez dias seguintes, a representar o mandante, desde
que necessário para lhe evitar prejuízo.

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