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RELATÓRIO DE OBSERVAÇÃO E AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

Confidencial: As informações contidas neste relatório e transmitidas a docentes ou a outros intervenientes que contribuam
de forma directa ou indirecta no processo educativo do aluno são alvo de sigilo profissional.

Nome: C.
D.N.:
Idade:
Morada:
Escola:
Escolaridade:
Encarregado de Educação e Parentesco:
Referenciado por:

MOTIVO DO PEDIDO
A avaliação psicológica foi solicitada pela mãe, sendo que as principais queixas se relacionam
com dificuldades acentuadas ao nível das aprendizagens escolares (associadas a desmotivação e
desinteresse face às mesmas), e, também, no relacionamento interpessoal com os colegas. Em
casa, a C. demonstra muitos medos e dificuldades em ficar sozinha, acompanhados de choro e
ansiedade.
Desta forma, o presente pedido de avaliação psicológica pretende caracterizar o nível de
funcionamento cognitivo/emocional da C., clarificar as suas principais problemáticas,
capacidades e dificuldades, e, por fim, sugerir estratégias mais adequadas que visem um melhor
ajustamento psicológico.

OBSERVAÇÃO PSICOLÓGICA
A C. é uma jovem bem constituída para a idade, de aspecto cuidado e aparentando ter,
fisicamente, mais do que a sua idade real de 7 anos. Acompanhou livremente a psicóloga até à
sala de avaliação, demonstrando contudo, timidez e sorrindo pouco frequentemente.
Inicialmente apresentou dificuldades na manutenção do contacto visual com a psicóloga, que
foram diminuindo ao longo das sessões de avaliação, conseguindo posteriormente estabelecer
uma relação mais positiva e agradável. Porém, em termos emocionais a tristeza/desânimo foram
as emoções mais presentes.
A C. demonstrou pouca consciência sobre a situação relacionada com a sua avaliação,
demonstrando algum afastamento temporal/espacial, respondendo com palavras curtas e ideias
pouco concretas e não colocando questões adicionais. A C. aderiu às tarefas propostas ainda que
evidenciando ser um esforço, recusando mesmo algumas (nomeadamente uma das provas
projectivas), demonstrando um ritmo de trabalho lento, aparentando fraca motivação, interesse

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ou entusiasmo (excepto nos desenhos) e verificando-se também sinais de ansiedade e/ou
insegurança perante as mesmas (exemplo: apagar e voltar a fazer, mexer muito as mãos/corpo,
etc). O seu discurso é curto, pouco expressivo, em tom de voz baixo, com uma tonalidade infantil
e inferior às crianças da sua faixa etária. Salienta-se também uma predominância da motricidade
grossa sobre a motricidade fina. Quando reforçada ou estimulada pela técnica, a C. reagiu
positivamente, com consequências directas nos seus resultados.

DADOS RELEVANTES DA HISTÓRIA CLÍNICA


A C. reside com a mãe, o pai (actualmente a trabalhar fora de Portugal) e duas irmãs, sendo a
filha mais nova do casal e com uma diferença de idades bastante significativa em relação às
irmãs, já adultas. A gravidez, não planeada, foi clinicamente acompanhada, tendo sido o parto de
cesariana e de termo. O desenvolvimento infantil decorreu de acordo com o esperado nas várias
áreas: controlo dos esfíncteres (enurese, encoprese), desenvolvimento psicomotor, linguagem,
alimentação (desmame), salientando-se, contudo, o choro na altura de dormir e, actualmente, a
presença de muitos medos quando fica sozinha, bem como comportamentos bastante imaturos
(exemplo: usar chucha).
A C. esteve aos cuidados da mãe e irmãs até aos 3 anos, altura em que ingressou no Jardim
Infantil, evidenciando relativas dificuldades de adaptação. Iniciou o 1º Ciclo com 5 anos,
encontrando-se atualmente a frequentar o 2º ano de escolaridade. Terá sido já no 1º ano do 1º
ciclo que se verificaram as dificuldades de aprendizagem e no relacionamento interpessoal com
os colegas.
Relativamente à dinâmica familiar, a mãe e irmã referem um ambiente dentro do normal e não
conflituoso,

PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO /FONTES DE INFORMAÇÃO


• Entrevista Inicial com a mãe e irmã da C.;
• Contacto telefónico com professora da C.;
• Matrizes Progressivas de Raven (RAVEN);
• Teste de Organização Grafo-Perceptiva (BENDER);
• Figura Complexa de Rey-Osterich (REY);
• Bateria de Aptidões para Aprendizagem Escolar (BAPAE);
• Provas Projectivas: Teste de Apercepção Infantil – versão com animais (CAT-A), desenho
livre, desenho da famíla e desenho da figura humana.
A avaliação psicológica foi efectuada ao longo de 2 sessões.

RESULTADOS OBTIDOS
Relativamente às competências cognitivas (RAVEN) observaram-se resultados abaixo da média
esperada para as crianças da sua faixa etária.

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No que diz respeito à organização perceptiva (BENDER) os valores situam-se igualmente abaixo
do esperado para a sua faixa etária, indicando imaturidade grafo-percetiva, verificando-se
dificuldades acentuadas na orientação e posição relativa das figuras e um melhor desempenho
na construção dos ângulos das mesmas.
A prova da Figura Complexa de Rey (REY) revela resultados inferiores à média esperada
relativamente à actividade perceptiva visual, com dificuldades na organização e estruturação
espacial, confirmando os resultados verificados anteriormente.
A BAPAE revela resultados abaixo do esperado, simultaneamente para a sua faixa etária e para
as crianças do mesmo ano de escolaridade (2º ano), indicando igualmente imaturidade para as
aprendizagens escolares. Observam-se maiores dificuldades nas aptidões numéricas, constância
da forma e orientação espacial, e, um melhor desempenho nas provas que remetem para a
compreensão verbal e relações espaciais.
Por fim, no que diz respeito às provas projectivas, verificam-se resultados abaixo do esperado
para a faixa etária. A C. apresenta dificuldades em falar sobre si, sobre sentimentos/emoções e
sobre relacionamentos interpessoais, predominando mais os aspectos formais/descritivos sobre
os de conteúdo, deixando antever um mundo interno pouco desenvolvido. A natureza das
histórias e elaboração da fantasia é contida, passando basicamente pela descrição de elementos
concretos da realidade, verificando-se um distanciamento afectivo das situações, com
dificuldades de elaboração de diferenças de género e de gerações. As histórias acabam por se
tornar sobretudo relatos, com vários elementos confusos e desorganizados, relacionadas com os
temas ansiosos de medo e de abandono.

CONCLUSÕES
Durante as sessões a C. demonstrou-se pouco comunicativa e introvertida, estando pouco à
vontade na realização das tarefas.
Revelou um nível intelectual abaixo da média esperada, e dificuldades acentuadas ao nível da
orientação e posição relativa das figuras, organização e estruturação espacial, aptidões
numéricas e constância da forma. Os melhores desempenhos foram verificados na construção
dos ângulos de figuras e na compreensão verbal.
Relativamente ao desenvolvimento psicoafectivo verificam-se lacunas ao nível da auto-confiança
e das capacidades de autonomia, existindo uma forte dependência do adulto, bem como
dificuldades em interpretar o que se passa à sua volta tendo em conta uma perspectiva menos
focada em si mesma.
As problemáticas apresentadas a nível do desenvolvimento da C. parecem estar a interferir ao
nível das aprendizagens escolares, sugerindo-se a necessidade de:
• Apoio psicológico com os pais/irmãs, com os seguintes objectivos terapêuticos:
- ajudar os pais a encontrar as estratégias mais adequadas para as problemáticas da
C.

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• Apoio psicológico com a C., com os seguintes objectivos terapêuticos:
- trabalhar com a C. essencialmente as questões dos medos, da imaturidade
afectiva, da insegurança, da dependência do adulto, reforçando a auto-estima e
permitindo que as suas competências estejam mais dentro do esperado para a sua
idade;
- Programas de Estimulação: estimulação perceptiva, estimulação da psicomotricidade e
estimulação cognitiva.
• Sugere-se reavaliação psicológica daqui a 6 meses.

INDICAÇÕES E PISTAS DE TRABALHO


Na família:
Objectivos
• Maior envolvimento da família no percurso escolar/contactos com escola e professores;
• Promover a estimulação das áreas problemáticas referidas anteriormente;
• Promover actividades de desenho livre e de coordenação grafo-motora;
• Promover atividades de compreensão da leitura e de escrita;
• Estimular maior autoestima, autoconfiança e autonomia;
• Aumentar o tempo de actividades ao ar livre, e, se possível, frequência em actividades
extra-curriculares de grupo (actividade física, natação, teatro, dança, etc).

Estratégias
• Solicitar a ajuda da C. para a realização de tarefas domésticas que estejam ao seu alcance
fazer e valorizá-las;
• Confiar tarefas “importantes” à C., que transmitam confiança nas suas capacidades
(exemplo: um recado para um familiar);
• Valorizar e elogiar sistematicamente os comportamentos e atitudes adequados;
• “Leitura conjunta” de livros e histórias;
• Desenho de letras e palavras em plasticina, jogos de associação de imagens com palavras;
• Incentivar o desenho livre e o brincar (jogos, puzzles, etc).

Na escola:
Sugere-se que a C. beneficie de apoio escolar especialmente nas disciplinas em que revela
maiores dificuldades, e um maior apoio individualizado por parte do (s) professor (es), com o
objectivo crescente e progressivo de maior autonomização e independência da aluna.

Objectivos
• Promover a aquisição das competências de leitura compreensiva;
• Estimulação cognitiva e estimulação da psicomotricidade, grafomotricidade, coordenação
visuo-motora e organização/estruturação espacial;
• Proporcionar um maior desenvolvimento da autoestima e autoconfiança;
• Conceder maior tempo para realização das tarefas e/ou avaliações escolares.

Estratégias
Cognição, Leitura e Escrita:
• Estimulação cognitiva através de exercícios de raciocínio abstracto (observação/descrição
de características de objectos, observação/descrição de semelhanças e de diferenças de
objectos, classificar e constituir grupos de objectos) e de raciocício verbal (palavras que
têm o mesmo significado, que têm significado diferente, que pertencem à mesma classe,

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que pertencem a classe distinta, identificação de palavras a partir de definições,
completar frases incompletas);
• Propor a realização de um diário escolar, onde todos os dias ao fim da aula a C. coloque o
que de importante aconteceu durante o dia de aulas, e que associe um desenho/recorte
que goste. Ao fim de cada mês pedir a um dos alunos que leia o que de mais importante
ocorreu ao longo desse mês;
• Jogar ao “Descobrir o Erro”. Escrevem-se no quadro várias palavras algumas contendo
erros, sendo lidas tal como se encontram. Os alunos descobrem e corrigem os erros.

Orientação Espacial e Lateralização:


• Estimulação da psicomotricidade, grafomotricidade, coordenação visuo-motora e
organização/estruturação espacial, através de exercícios de percepção da forma
(identificação, ordenação, reprodução e descriminação de formas, conceito de
figura/fundo), percepção do espaço (figuras ou cenas incompompletas, semelhanças e
diferenças, identificação e descriminação da posição, lateralidade), grafismos e
descriminação táctil de letras e palavras (através de plasticina, por exemplo);
• Realizar tarefas com puzzles em que se têm que compor figuras cortadas;
• Criar numa folha A3 ou em cartolina um “cenário” de um bairro (por exemplo) e todos os
elementos que o compõem (casas, estabelecimentos, etc) são construídos através de
recortes de jornais e/ou revistas.

Autoestima:
• Estimular a autoestima e autoconfiança através de reforços positivos constantes;
• Solicitar a ajuda da C. para a realização de tarefas em sala de aula, que estejam ao seu
alcance fazer e valorizá-las;
• Mostrar aos colegas os trabalhos bem realizados pela C. e deixar alguns desses trabalhos
expostos em sala de aula;
• Como forma de preservar a sua autoestima, evitar repreensões em público, relativamente
aos fracassos relacionados com matérias do âmbito escolar;
• Dividir os trabalhos longos em partes mais pequenas;
• Iniciação dos programas com actividades de grau de dificuldade acessível às suas
capacidades e onde a C. possa ter sucesso (com vista à melhoria da auto-estima e
aumento da percepção de si como capaz), para posteriormente se instituírem graus de
dificuldade crescente.

Encontro-me ao dispor para quaisquer contactos ou mais informações.

Melhores cumprimentos,

Lisboa, 02 de Março de 2013.

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(XXXXX, Psicóloga Clínica)

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