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ATENÇÃO

CAROS ALUNOS, este material está sendo enviado com intuito de terem uma
complementação para estudos futuros. Para a nossa prova das aulas nacionais não há
necessidade de focar neste material, sendo os slides e as aulas gravadas suficientes para a
resolução da prova.

Este material é mais denso e não irá cair questões aqui tratadas que não esteja nos slides e
nas aulas gravadas.

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TEMA: RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

O Estado é a pessoa jurídica, então não é pertinente falarmos de responsabilidade civil da administração (é a
estrutura administrativa, não sendo sujeita de direitos e de obrigações). Quando falamos de responsabilidade
civil do Estado, a responsabilidade é da pessoa jurídica, aquela que pode ser sujeita de direitos e obrigações.

Já apareceu em provas de concurso esse questionamento. A responsabilidade civil cai tanto na primeira fase
quanto em segunda fase, já apareceu em prova de sentença, em questão discursiva contextualizada com uma
situação problema, que deveria ser efetivamente enfrentada pelo candidato.
A atuação do Estado é feita para o cidadão de forma impositiva, o cidadão está sujeito à atuação do Estado
querendo ou não. Exemplo: serviço de segurança pública, serviço de saúde pública, etc. Se a atuação estatal
vai acontecer de qualquer maneira, o cidadão não pode recusar, ou seja, se o Estado atuar de forma
equivocada, ele precisa ser responsabilizado de maneira mais rigorosa do que a responsabilidade privada.

A responsabilidade civil do Estado vai ter regras próprias e específicas porque é mais rigorosa e exigente do
que a responsabilidade privada. Com o passar dos anos, quanto mais o Estado se organiza, mais se protege a
vítima. Na evolução da responsabilidade civil do Estado, cada vez mais o Estado se torna responsável e cada
vez mais a vítima fica protegida.

O Estado tem personalidade jurídica própria e, por isso, é sujeito de direitos e obrigações. Nem sempre isso
aconteceu. Na história do nosso país, nem sempre o Estado foi sujeito responsável. Hoje, não há mais dúvidas.
Se ele causa danos, prejuízos a alguém, deve ser responsabilizado.

A ordem jurídica é una, o que significa dizer que todos respondem pelos seus comportamentos violadores do
direito alheio. Imagine que alguém, dirigindo seu carro, atropele uma pessoa. Esse motorista vai ter que
responder e indenizar os prejuízos causados à vítima.
Da mesma forma que, se o agente do Estado, conduzindo o carro do Estado, atropela uma pessoa, ele também
vai ser responsabilizado. A responsabilidade civil do Estado está sujeita ao ordenamento jurídico brasileiro e
o Estado, enquanto sujeito responsável, também vai pagar pelos danos causados, pelas condutas lesivas que
ele praticar.

Quando falamos dessa responsabilidade civil, é importante compreender qual é o fundamento teórico da
responsabilidade civil do Estado, qual sua base. Sempre que o Estado pratica uma conduta ilegal, ilícita, a
responsabilidade civil tem como base o princípio da legalidade.

Princípio da LEGALIDADE → condutas ilícitas. O Estado só pode fazer o que está previsto em lei, autorizado
pela lei e, nesse caso, se ele descumpre a lei praticando conduta ilícita, esse princípio da legalidade é o
fundamento;

➢ Exemplo 1: um delegado de polícia prende o sujeito conforme uma ordem de prisão, mas, não se
contentando, ele prende e tortura o sujeito, o espancando. Essa conduta ilícita gera responsabilidade
civil para o Estado e a base para essa responsabilidade é o princípio da legalidade.

➢ Exemplo 2: Ainda, um motorista de uma autarquia, dirigindo loucamente, atropela uma pessoa. Com
essa maneira de dirigir, ele praticou uma conduta ilícita e, por isso, há responsabilidade civil com base
no princípio da legalidade.

Princípio da ISONOMIA → condutas lícitas.

➢ Exemplo 1: o Poder Público resolveu construir, bem do lado da casa de alguém, um presídio ou um
cemitério. De agora em diante, esse particular não tem mais tranquilidade, fica sempre com medo de
um dia acontecer alguma rebelião no presídio, além do fato da desvalorização imobiliária.

A construção do presídio é um ganho para a sociedade, mas a sociedade ganha enquanto aquele cidadão
perde. Construir o presídio ou o cemitério são condutas lícitas e, mesmo assim, vai ter responsabilidade civil
do Estado porque estamos falando de violação ao princípio da isonomia.

Não é justo que, enquanto toda a sociedade ganha, o vizinho saia perdendo e, para restabelecer esse
equilíbrio, essa sociedade que está ganhando, através do dinheiro público, vai indenizar o vizinho que saiu
perdendo nesse caso.
➢ Exemplo 2: em São Paulo, tem o viaduto que todos conhecem como “minhocão”, que é um viaduto
que passa bem na janela da vizinhança. Quando foi construído, os edifícios já existiam e a sociedade
ganhou com a construção daquele viaduto, mas a vizinhança perdeu.

PRIMEIRA FASE – Teoria da Irresponsabilidade: nesse momento, quem ditava as regras era o rei, que era o
dono da verdade. Se o rei era quem ditava o que era certo ou errado, ele jamais admitiria que errou. O rei não
erra nunca. O Estado não respondia.

SEGUNDA FASE – Responsabilidade em situações pontuais: o Estado passa a ser sujeito responsável. O Brasil
já começa sendo um Estado sujeito responsável. No início dessa segunda fase, o Estado aparecia como sujeito
responsável, mas em situações específicas. Não tínhamos a responsabilidade no formato que temos hoje.
RESPONSABILIDADE SUBJETIVA – CC 1916, uma nova etapa dentro de segunda fase, ampliativa. Na teoria da
responsabilidade subjetiva, o Estado aparece como sujeito responsável, não sendo mais só responsável em
situações pontuais. Sempre que ele praticar uma conduta ilícita, ele passa a ser responsável. A conduta tem
que ser ilícita.

ELEMENTOS

a) Conduta lesiva: condutas ilícitas, nesse momento;


b) Dano: só podemos falar de responsabilidade civil se existir dano porque falar de indenização sem dano
significa falar em enriquecimento ilícito, o que é vedado;
c) Nexo causal: essa conduta gerou esse dano e esse dano nasceu dessa conduta;
d) Elemento subjetivo (fato ou dolo)

- Culpa do agente: em um primeiro momento, a vítima tinha que demonstrar quem era o agente culpado, de
quem era efetivamente a culpa naquela conduta.

➢ Exemplo: determinado Município de um certo Estado resolveu construir um muro de arrimo para
conter a erosão na cidade. Esse muro de arrimo desabou, caiu em uma casa, matou várias pessoas,
destruiu tudo e causou vários danos. O morador da casa queria a reparação dos danos. Nesse caso,
em um contexto de responsabilidade subjetiva, a vítima teria que comprovar a conduta, o dano, o
nexo e o elemento subjetivo, a culpa ou dolo do agente.

O prefeito não assumiria a culpa, dizendo que a culpa era do secretário de obras. O secretário de obras diria
que a culpa era do engenheiro. O engenheiro diria que a culpa foi do mestre de obras. Para a vítima, apontar
quem era o agente culpado não era tarefa fácil.

- Culpa do serviço – faute du service: houve uma evolução. Também foi chamado de culpa anônima. Essa
responsabilidade subjetiva tem como fundamento a teoria francesa do faute du service, em que a vítima não
precisa apontar quem é o agente culpado, basta que ela comprove que o serviço não foi prestado, que o
serviço foi prestado de forma ineficiente ou que o serviço foi prestado de forma atrasada.

RESPONSABILIDADE OBJETIVA – Condutas lícitas e ilícitas. Enquanto na subjetiva, a conduta tem que ser
ilícita, na responsabilidade objetiva pode ser conduta lícita ou ilícita.

ELEMENTOS

a) Conduta lesiva: pode ser lícita ou ilícita;


b) Dano: indispensável;
c) Nexo causal: a conduta gerou o dano e o dano nasceu dessa conduta.

Aqui, temos que ter comprovação de culpa ou dolo? Não precisa. Não temos elemento subjetivo porque se
trata de responsabilidade objetiva. A responsabilidade evoluiu mais uma vez, protegendo mais a vítima porque
o conjunto probatório da vítima ficou reduzido, basta comprovar a conduta, dano e nexo. Além disso, a vítima
está protegida ainda mais porque aqui a responsabilidade civil vale para as condutas lícitas e ilícitas.

Como vamos excluir a responsabilidade? Se pensamos na responsabilidade subjetiva, se para ter direito é
necessário a comprovação de quatro elementos, para excluir essa responsabilidade, basta afastar qualquer
um dos elementos, não só a culpa ou dolo, mas qualquer outro elemento da responsabilidade.

De outro lado, quando pensamos na responsabilidade objetiva, o raciocínio é o mesmo. Temos só três
elementos. Para afastar a responsabilidade objetiva, basta afastar qualquer um dos três elementos e não
somente o nexo de causalidade. Para falarmos de responsabilidade objetiva, aplicamos a chamada teoria do
risco administrativo.
1. TEORIA DO RISCO INTEGRAL: não admite excludente, a responsabilidade civil não pode ser afastada. É
aplicável no Brasil de forma excepcional → questões envolvendo material bélico, substâncias nucleares e no
dano ambiental.

➢ Exemplo: um sujeito resolveu praticar o suicídio, vai até uma usina nuclear e pula em um tanque com
substâncias nucleares. Quando ele faz isso, não temos como afastar a responsabilidade se a teoria é
do risco integral. Não importa se o sujeito foi sozinho praticar o ato. O Estado vai pagar de qualquer
jeito, para essa teoria.

2. TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO: essa é a regra no Brasil. Essa teoria admite excludente, o que significa
dizer que basta afastar qualquer um dos elementos da responsabilidade objetiva.

➢ Exemplos: a culpa exclusiva da vítima, o caso fortuito e a força maior (afastam a conduta do Estado).
No mesmo exemplo do tanque de substâncias nucleares, ele fez sozinho. Se adotamos essa teoria,
nesse caso, a culpa é exclusiva da vítima e o Estado não vai ter responsabilidade.

Se o sujeito resolve praticar suicídio pulando na frente de um carro. O motorista dirigia cuidadosamente o
carro da Administração Pública. O Estado não contribuiu, a culpa é exclusiva da vítima. Assim, excluímos a
responsabilidade e o Estado não vai responder neste caso.
De outro lado, naquela hipótese em que o motorista dirigia loucamente, de forma muito perigosa e o sujeito
resolve praticar o suicídio e pula na frente desse carro. Neste caso, o Estado está contribuindo, mas estamos
falando de culpa concorrente. Em caso de culpa exclusiva, no exemplo anterior, há exclusão da
responsabilidade do Estado.

Quando o motorista dirigia perigosamente a vítima pulou na frente do carro, estamos falando de culpa
concorrente. Nesse caso, não há exclusão da responsabilidade. No entanto, o agente causador do dano e a
vítima que também contribuiu, ambos vão ser chamados à responsabilidade. A conta será dividida, cada um
vai pagar de acordo com sua participação.

➢ E se não for possível medir, mensurar, calcular a participação de cada um? A indenização será
dividida pela metade.

Imagine que um determinado sujeito, motorista da autarquia, dirigindo o carro da autarquia loucamente,
pratica uma conduta que causa dano. Essa conduta, em razão da forma com que ele dirigia, está tipificada no
CTB e configura ilícito penal. Esse motorista também praticou uma infração funcional (ilícito administrativo),
conforme o estatuto dos servidores ao qual ele está sujeito. A conduta dele ainda configura um ilícito civil e,
portanto, o dever de reparar os danos causados.

- Ilícito penal: é um crime tipificado no Código Penal, precisando de uma ação penal.
- Ilícito civil: Código Civil, ação de natureza civil para punir e responsabilizar essa conduta.
- Ilícito administrativo: infração funcional observando o estatuto dos servidores, em que temos um processo
administrativo disciplinar.

INDEPENDÊNCIA DAS INSTÂNCIAS: essa é a regra geral. Podemos ter três processos e três decisões diferentes
em cada um deles. Excepcionalmente, teremos comunicação nas seguintes hipóteses:

a) Se no processo penal, ficar reconhecida a absolvição penal com fundamento na inexistência de fato
e na negativa de autoria, nos processos civil e administrativo deverá ter absolvição geral;

Essa regra está prevista no CPP (art. 66), no CC (art. 935) e no Estatuto dos Servidores da União (art. 126 da
Lei n. 8.112/90). Se o sujeito foi absolvido na ação penal por falta de provas, por exemplo, ou porque praticou
a conduta com elemento subjetivo culpa quando o tipo penal exigia o dolo, isso não vai gerar absolvição geral,
nas outras instâncias.

Art. 126 da Lei n. 8.112/90. A responsabilidade administrativa do servidor será afastada no caso de absolvição
criminal que negue a existência do fato ou sua autoria.

b) Não significa absolvição geral. Se no processo penal ficar reconhecida uma excludente penal, essa
excludente faz coisa julgada no processo civil. Se no processo penal ficar reconhecida uma legítima
defesa, um estado de necessidade ele pode ser absolvido no penal, mas isso não significa que ele será
absolvido no civil ou no administrativo.

Este reconhecimento de excludente penal no processo penal não gera absolvição para os demais processos.
Todavia, há um reconhecimento de coisa julgada para os demais processos, ou seja, não se discute mais que
ele agiu com legítima defesa ou em estado de necessidade.

No entanto, é possível que ele tenha que reparar. Nessa última hipótese, estamos falando da responsabilidade
prevista no art. 65 do CPP.
Art. 37 § 6º da CF: As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços
públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Essa responsabilidade é a extracontratual, aquela que não decorre do contrato administrativo, não estando
vinculado à relação contratual. Se estivéssemos falando da responsabilidade que o Estado cobra de uma
empresa que coleta lixo ou que é prestadora de serviços públicos por meio de contrato, por exemplo, essa é
uma responsabilidade contratual (Lei n. 8.666/93).

No Brasil, a responsabilidade civil do art. 37, § 6º da CF, em regra, é a responsabilidade objetiva, na teoria do
risco administrativo, ou seja, aquela que admite excludente, que pode ser afastada em algumas situações.
Também há hoje algumas situações em que a jurisprudência ainda reconhece a aplicação da teoria subjetiva.

O texto constitucional não diz expressamente teoria objetiva, então, alguns doutrinadores e parte da
jurisprudência ainda reconhece a aplicação da teoria subjetiva em algumas situações. No concurso público, na
dúvida, o aluno deve responder objetiva. Veremos que quando a conduta é omissiva, a jurisprudência ainda
admite a aplicação da teoria subjetiva e as duas coexistem de forma harmônica.
O art. 37, § 6º da CF diz pessoa jurídica de direito público (Administração Direta e os entes políticos,
autarquias, fundação públicas de direito público - Indireta) e pessoa jurídica de direito privado prestadora de
serviço público (empresa pública, sociedade de economia mista, concessionárias e permissionárias).

A autarquia vai pagar a conta do seu motorista porque ela tem personalidade jurídica própria, respondendo
pelos seus atos e estudamos isso na aula da organização da administração pública. As pessoas da
Administração Indireta têm patrimônio e receita próprios e, portanto, respondem pelos seus atos.

➢ O estado responde pelo dando causado pelos agentes públicos de outra pessoa jurídica? Estudamos
a chamada teoria da imputação ou teoria do órgão, em que o agente pratica os seus atos em nome
do Estado. Ele faz como se o Estado estivesse fazendo.

Se a lei diz que o agente age em nome do Estado, quem vai pagar a conta é o Estado. Contudo, no caso de
uma autarquia, em que um motorista da autarquia dirigindo o carro da autarquia e atropela uma pessoa.
Quem paga é a autarquia pela teoria da imputação.

No entanto, se esta autarquia não tiver dinheiro, patrimônio, o Estado pode ser chamado à responsabilidade,
a indenizar por agentes públicos de outra pessoa jurídica? O Estado responde em duas situações:
RESPONSABILIDADE PRIMÁRIA – quando o agente é da própria pessoa jurídica, como o motorista da
autarquia. Quando o Estado descentraliza esses serviços, ele não pode lavar as mãos. O Estado resolveu
transferir, mas continua sendo responsável, mas nesse caso a responsabilidade do Estado é por ato praticado
por outra pessoa jurídica.

RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA – por ato praticado por outra pessoa jurídica, agente público de outra
pessoa jurídica. Quem vai pagar é a pessoa jurídica que recebeu e que presta o serviço. Se essa pessoa jurídica
não tiver patrimônio, o Estado vai ser chamado à responsabilidade.

Se a autarquia e o Estado fossem chamados a pagar ao mesmo tempo, tendo o mesmo grau de
responsabilidade, essa seria uma solidária. Ou seja, tanto a autarquia quanto o Estado responderiam ao
mesmo tempo. Não é o que acontece no Brasil.

No Brasil, o agente da autarquia causou um dano. A autarquia é chamada à responsabilidade. Se a autarquia


não tiver patrimônio é que o Estado é chamado a pagar essa conta, ou seja, neste caso, a responsabilidade do
Estado está em segundo plano, sendo uma responsabilidade subsidiária.

Apesar da jurisprudência e do ordenamento brasileiro reconhecerem a responsabilidade subsidiária, dentro


do processo, isso não é tarefa fácil. A vítima precisa cobrar da empresa, de quem lhe prestou o serviço e o
processo todo anda para, ao final, descobrir que a empresa não tem patrimônio. Só depois se chama o Estado
à responsabilidade. Isso faz com que a vítima muitas vezes perca o seu direito pela prescrição ou pelo próprio
custo do processo.

Um motorista dirigia o ônibus do transporte coletivo e atropela uma pessoa ou então bateu no carro de um
particular. A vítima tem o direito à indenização, precisa ser usuária do serviço de transporte coletivo, também
é uma responsabilidade objetiva?

➢ A vítima precisa ser usuária do serviço? Não. A teoria objetiva é aplicada tanto para usuário quanto
para não usuário do serviço. Essa questão já foi decidida pelo STF no tema 130 da repercussão geral.
Em um dado momento, o STF teve discussão sobre o assunto.

O STF chegou a decidir que só pode adotar a teoria objetiva e aplicar o art. 37, § 6º para prestadora de serviço
público quando fosse usuária do serviço e para o particular atropelado ou que teve seu veículo atingido,
inexistiria tal direito. A jurisprudência atualmente se consolidou no sentido de que não interesse se a vítima é
usuária ou não do serviço público, ela vai ter direito à teoria objetiva.
Quando o sujeito pratica uma conduta comissiva, ele faz o que ele não deveria fazer. Se falamos de ação
estatal, falamos de teoria objetiva. Na responsabilidade objetiva, ela acontece se a conduta é lícita (isonomia)
ou ilícita (legalidade).

➢ Exemplo 1: um delegado tinha ordem de prisão, prendeu o sujeito e o espancou. Com essa ação, a
conduta é ilícita e, portanto, há responsabilidade civil do Estado.

➢ Exemplo 2: o motorista que dirigia loucamente, com imprudência ou alcoolizado. Nesse caso, ele
praticou conduta ilícita, tendo responsabilidade civil do Estado.

➢ Exemplo 3: o Estado construiu um presídio bem do lado da casa de alguém ou um cemitério, um


viaduto que atrapalha tranquilidade. As condutas lícitas também geram responsabilidade, que tem
fundamento no princípio da isonomia com o intuito de restabelecer o tratamento igualitário,
considerando que, com essas condutas lícitas, a sociedade ganha enquanto poucos perdem.

Contudo, na responsabilidade pela conduta omissiva, a responsabilidade é aplicada ainda a teoria subjetiva
(Celso Antônio Bandeira de Mello e decisões do STJ e dos tribunais estaduais). Sempre que falamos em teoria
subjetiva, vamos lembrar que essa teoria tem que ter conduta ilícita.

Um prefeito tinha um dever de cuidar da cidade, mas ele não cuida. Se o prefeito não faz nada, onde está a
conduta ilícita? A conduta ilícita desse caso está no dever de fazer. Ele tinha o dever legal de prestar o serviço
e não prestou e o Estado é chamado à responsabilidade. Houve o descumprimento do dever legal.

Um sujeito está preso e ele resolve praticar o suicídio e bateu a cabeça contra as grades da cela. O Estado
responde? Se o preso resolveu fugir do presídio, entrou na casa do lado e matou uma pessoa e foi embora, o
Estado responde?

Nesses casos, o suicídio foi praticado dentro do presídio. O preso está sob tutela do Estado, sendo dever do
Estado proteger esse preso. Se o Estado não protege, há um descumprimento do dever legal e, com isso, em
tese, ele tem responsabilidade civil. No entanto, o Estado não é onipresente e os agentes carcerários não
vigiam os presos o tempo todo.

Para surgir o dever de indenizar por omissão, temos que ter uma conduta ilícita. No entanto, o Estado não é
salvador universal, anjo da guarda, não tem como estar em todos os locais ao mesmo tempo. Para ter
responsabilidade por omissão, tem que ter um serviço prestado no padrão normal com um dano evitável,
como quando o Estado tinha como impedir e nada faz.

➢ Exemplo: alguém saiu à noite para um barzinho X e parou seu carro na rua. O bandido levou o carro
embora. O Estado responde nesse caso? O Estado tem dever de segurança e não cumpriu o dever dele
porque roubaram o carro, então há conduta ilícita, há um descumprimento de dever legal.

Entretanto, para ter essa responsabilidade, o dano tem que ser evitável. A polícia não tem como estar em
todos os lugares, portanto não se pode responsabilizar o Estado nesse caso. Contudo, imagine que o carro
estava estacionado pertinho de uma guarita da polícia e tinham dois policiais que assistiram à subtração de
braços cruzados. Nesse caso, há responsabilidade civil do Estado.

Se o presidiário pratica suicídio batendo a cabeça na grade, o Estado não tinha como evitar e não vai ter
responsabilidade civil do Estado. Entretanto, se o presidiário resolveu praticar suicídio com a arma que entrou
no bolo da visita. O Estado tinha como evitar essa arma na vistoria e terá responsabilidade.

Temos uma questão importante que é o princípio da reserva do possível que traz exatamente a justificativa
para dizer que o Estado não prestou porque está fazendo dentro do que é possível. Roubaram um carro e
tinha que ter policiais por perto, mas o Estado presta o serviço dentro do que é possível por causa do teto
orçamentário para gastos e investimentos, que não pode ser ultrapassado.

Essa é uma justificativa que já está sendo dada pelos serviços de saúde em tempos de pandemia, o que pode
levar à uma irresponsabilidade. Nossa jurisprudência já consolidou que esse princípio da reserva do possível
não pode se sobrepor ao mínimo existencial, que não pode ser afastado e colocado em risco.

➢ Exemplo 1: um determinado comércio de fogos de artifício pegou fogo, explodindo. Há


responsabilidade do Estado? Essa orientação foi aplicada na RG tema 366. O STF diz que se o Estado
falhou na autorização, na fiscalização que deveria fazer, ele vai responder porque ele está
descumprindo o dever legal. Mas se não ficar comprovado falhas estatais na autorização e fiscalização,
o STF decidiu que o Estado não responde.

➢ Exemplo 2: um preso fugiu do presídio, entrou na casa vizinha, matou uma pessoa, roubou o carro e
foi embora. Há responsabilidade civil do Estado nesse caso? O Estado falhou e deixou o preso fugir.
Há responsabilidade do Estado porque ele tinha o dever de cuidar e descumpriu esse dever legal.
Nesse caso, estamos falando de um nexo de causalidade. Há um entendimento de que, se o preso
foge do presídio e a 300km dali ele assalta uma casa, não há responsabilidade do Estado porque não
está dentro da situação de risco criada pelo Estado. A responsabilidade vai cair na teoria subjetiva
porque está fora da situação de risco, somente respondendo se foi negligente ou agiu com culpa ou
dolo, em conduta ilícita.

Quando estamos falando de situações de risco geradas pelo Estado, falaremos da terceira conduta em que o
Estado gera uma situação que cria o risco, uma ação estatal que cria o risco. Isso é conduta comissiva e terá
responsabilidade objetiva, por se tratar de uma ação.

➢ Exemplo 1: o preso que foge do presídio e entra na casa ao lado, vizinha ao presídio. Quando o Estado
instala o presídio dentro da cidade, ele está assumindo o risco, cria uma situação de risco, gerando
responsabilidade objetiva.

➢ Exemplo 2: o agente penitenciário deixou o preso fugir, o Estado falhou na fiscalização. Estando
vizinho ao presídio está dentro da situação de risco gerada pelo próprio Estado, sequer se pensa na
culpa ou dolo, primeiro vamos para a teoria objetiva.

➢ Exemplo 3: quando o Estado construiu o presídio, não tinha nada em volta, era no meio do mato. Com
o tempo, as pessoas vieram morar em volta do presídio. Essa instalação em torno do presídio vai gerar
responsabilidade porque o Estado autorizou essas pessoas a irem morar ali. Se ninguém permitiu e se
tratarem de construções irregulares, o Estado também errou porque deveria fiscalizar.

➢ Exemplo 4: o Estado resolveu fazer uma operação de confronto da polícia dentro de uma área
densamente habitada. Uma bala perdida matou uma pessoa. O Estado responde? A jurisprudência já
reconheceu que sim, na teoria objetiva porque o Estado decidiu fazer essa operação de confronto
policial criando situação de risco.

➢ Exemplo 5: advogado é morto dentro do prédio do fórum por uma arma que entrou com um preso.
O Estado responde e a jurisprudência diz que é pela teoria objetiva porque o Estado criou o risco,
assumindo o risco maior do que o necessário, havendo responsabilidade objetiva.

➢ Exemplo 6: O preso foi morto dentro do presídio em uma briga com outro preso, estando sob tutela
do Estado. O estado tem que indenizar, mas se ele foi morto dentro do presídio ele vai pagar a conta
se descumprir o dever legal, se ele descumpriu o dever de cuidado. O dano era evitável? Não.

Nesses casos, é importante observar as questões de superlotação, porque se o presídio está superlotado, se
uma cela que seria para dez pessoas tem cinquenta, o Estado assume um risco e, portanto, tem
responsabilidade objetiva.

Na RG de tema 512, foi falado sobre a responsabilidade civil por danos materiais causados à candidatos
inscritos em concurso público em face de cancelamento da prova do certame por suspeita de fraude. A
professora orienta a leitura de todas as RG mencionadas no quadro azul acima.
Imagine que o Estado tinha um museu e, nos arredores do museu, tinham várias lojinhas. O Poder Público
resolveu mudar o museu de local e as lojas do entorno quebraram porque sobreviviam pelo fluxo do museu.
O Estado é chamado à responsabilidade? Não, porque as lojas não tinham o direito de permanecer ali.

Quando falamos de responsabilidade civil do Estado, não basta que a vítima comprove o dano econômico. As
lojinhas do entorno do museu tiveram dano econômico porque quebraram. Elas tiveram dano jurídico? Só
podemos falar em responsabilidade civil do Estado se há reconhecimento de um dano jurídico (lesão a um
direito) não apenas a dano econômico.

Dano jurídico = lesão a um direito, é mais que um dano econômico.


Dano certo = além de ser jurídico, o dano deve ser certo, ou seja, tem que ter como medir, calcular no
processo. Um dano determinado ou ao menos determinável.

➢ Exemplo: determinado município escolheu o prefeito e esse prefeito é um desastre, um péssimo


gestor. Isso gera responsabilidade? A má gestão gera muitos danos para a sociedade, mas só podemos
pensar em reparação civil se tivermos um dano determinado. O dano geral, coletivo, em que todos
perdem com isso, normalmente fica difícil de configurar então a reparação civil nem sempre acontece.

CONDUTAS LÍCITAS:

a. Dano jurídico: lesão a direito;


b. Dano certo: calculável, determinável;
c. Dano especial: particularizado. O dano coletivo e geral não serve;
d. Dano anormal: extrapola os padrões normais.

➢ Exemplo 1: o trânsito da cidade grande em que as pessoas levam duas horas no trânsito para chegar
ao trabalho, mas esse dano já foi entendido pela doutrina e pela jurisprudência como um dano normal,
que não foge do padrão das grandes cidades.

➢ Exemplo 2: poeira e transtorno de obra. Tem que ser particularizado, apenas o vizinho da obra por ser
lícita a obra. Além disso, porque os requisitos são todos cumulativos, tem que ser anormal. Se a obra
está dentro do padrão normal, não gera responsabilidade.

➢ Exemplo 3: em uma cidade tem uma avenida muito movimentada e nessa avenida tem um problema
de saneamento porque duas vezes por ano eles quebram tudo e refazem. Duas vezes por ano as lojas
do entorno ficam paradas por causa das obras. Esse dano fugiu do normal porque o problema não se
resolve. Todos os anos isso acontece. Há responsabilidade civil do Estado.

AÇÃO JUDICIAL

A vítima quer a reparação e vai ajuizar a ação. Em face de quem ela ajuíza? Durante algum tempo, a
jurisprudência reconhecia a possibilidade de ajuizar a ação em face do Estado ou em face do agente. Se a
vítima ajuíza em face do Estado, via de regra, a responsabilidade é objetiva e o conjunto probatório é reduzido.

Todavia, reconhecido o dever de indenizar do Estado, a vítima vai entrar na enorme fila de precatório. Se a
vítima decidiu ir ajuizar em face do agente, os agentes só pagam a conta se eles agirem com culpa ou dolo.
Quando a vítima ajuizava contra o agente, teria que cumprir a teoria subjetiva e o conjunto probatório era
mais extenso, devendo ser demonstrado a culpa ou o dolo, o elemento subjetivo, sem fila de precatório.

Por muito tempo a vítima poderia escolher se ela iria ajuizar a ação contra o estado ou contra ou a gente, mas
esse não é mais o entendimento. Hoje, segundo o tema 940 da RG, a orientação é de que a ação deve ser
ajuizada em face do Estado porque o agente age em nome do Estado (teoria da imputação), a conduta é da
pessoa jurídica e a responsabilidade segue a teoria objetiva, em regra.

Condenado o Estado a indenizar a vítima, ele pode chamar o agente para pagar a conta, à responsabilidade
por meio da ação de regresso. O agente só responde se agir com culpa ou dolo, ou seja, a responsabilidade
para o agente é subjetiva. Só vai ter ação de regresso se ele for condenado.

A vítima ajuíza a ação contra o Estado. O Estado tem a opção de ação de regresso em face do agente. Pode o
Estado chamar o agente para o processo que envolvia a vítima? Hoje, a jurisprudência, em razão do NCPC, diz
que o Estado pode chamar o agente por meio da denunciação à lide.

Para que o Estado traga o agente para o processo, o Estado vai ter que dizer que esse agente agiu com culpa
ou dolo, sendo essa a hipótese de cabimento da denunciação à lide. Quando o Estado diz que o agente é
culpado, ele está reconhecendo a sua responsabilidade. Por isso, ela é facultativa, mas é aconselhável por
economia processual e celeridade.

Como é facultativa, se o Estado não denunciar, não gera nulidade e não compromete a ação de regresso contra
o agente. Nesse sentido, temos vários entendimentos do STJ e o art. 125 do NCPC.
Art. 125 do CPC. É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das partes:
I - ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi transferido ao denunciante, a fim de
que possa exercer os direitos que da evicção lhe resultam;
II - àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo de quem
for vencido no processo.
§ 1º O direito regressivo será exercido por ação autônoma quando a denunciação da lide for indeferida, deixar
de ser promovida ou não for permitida.
§ 2º Admite-se uma única denunciação sucessiva, promovida pelo denunciado, contra seu antecessor imediato
na cadeia dominial ou quem seja responsável por indenizá-lo, não podendo o denunciado sucessivo promover
nova denunciação, hipótese em que eventual direito de regresso será exercido por ação autônoma.

PRESCRIÇÃO – a responsabilidade civil em face da Fazenda Pública aplica-se o decreto 20.810/32 com prazo
prescricional de 5 anos. Se falamos de Fazenda Pública, hoje está claro e o posicionamento da jurisprudência
aplica esse prazo de 5 anos.

Se a reparação civil em face de uma pessoa jurídica de direito público, vale o prazo de 5 anos. Se for em face
de uma pessoa jurídica de direito privado, o entendimento que vem prevalecendo é a aplicação do art. 206, §
3º, V do CC, em 3 anos.
Quanto à ação de regresso, como fica o prazo prescricional? A reparação civil na ação de regresso, pelo que
prevalecendo na nossa jurisprudência, é a aplicação do art. 37, § 5º da CF, que fala que é imprescritível.

Art. 37, § 5º da CF: A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente,
servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.

São Repercussões Gerais do STF importantes sobre esse assunto: STF RG 666, 897, 899.

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