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ASSEMBLEIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A VOZ DAS CRIANÇAS

EM AVALIAÇÕES COLETIVAS, ATRAVÉS DA TÉCNICA


FREINETIANA.

Hilário, Karyna Leandro Almeida1


Machado, Daniel Ribeiro2
Santana, Kaio Aparecido Santos3

Eixo 2: Políticas Públicas Educacionais e Práticas Pedagógicas para a Educação Infantil

Resumo

O presente relato de experiência se desenvolveu a partir das vivências dos residentes


pedagógicos da Universidade Estadual Paulista (UNESP - Campus Marília), sob orientação de
um professor preceptor da Escola Sambalelê, localizada em Marília-SP. O relato descreve a
aplicação da técnica elaborada por Freinet conhecida como jornal de parede (ou jornal mural),
na qual possibilita a prática inspiradora das assembleias, destacando em especial como essa
abordagem possibilita a escuta das vozes das crianças. As assembleias proporcionaram um
ambiente para as crianças expressarem suas opiniões, participarem ativamente contribuindo
para as possíveis soluções, problematizações, planejamentos coletivos e realizando avaliações
das vivências. O relato enfatizou o fortalecimento da autoestima, desenvolvimento das
habilidades de comunicação e pensamento crítico, bem como a preparação das crianças para a
cidadania ativa. A importância da adaptação da técnica à faixa etária das crianças foi
ressaltada, garantindo um ambiente seguro e respeitoso. O relato evidenciou como a
abordagem enriqueceu a educação infantil, promovendo a participação, cooperação, livre-
expressão e desenvolvimento cidadão desde cedo.

Palavras-chave: Educação Infantil, Assembleias, Freinet.

Introdução

A utilização de assembleias na educação infantil é elemento fundamental no processo


educacional, proporcionando um espaço de diálogo e participação ativa para as crianças. Essa
prática pedagógica encontra respaldo na teoria de Célestin Freinet, um pedagogo francês que

1
Graduanda em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC), Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” (UNESP), Campus de Marília, São Paulo.
2
Bacharel em Psicologia pela Universidade Paulista, graduando em Pedagogia e mestrando em Educação pela
Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC), Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP),
Campus de Marília, São Paulo, Brasil. E-mail: daniel-mb98@hotmail.com.
3
Graduando em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC), Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” (UNESP), Campus de Marília, São Paulo.
defendeu a importância da democracia na escola, a valorização das experiências individuais
dos alunos e a construção coletiva do conhecimento.
Nesta introdução, exploraremos o conceito de assembleias na educação infantil sob a
ótica da teoria de Freinet, destacando sua relevância na formação das crianças, bem como os
benefícios que essa abordagem pode proporcionar ao desenvolvimento cognitivo, emocional e
social dos pequenos estudantes.
A teoria de Célestin Freinet, desenvolvida no século XX, preconiza que a educação
deve ser centrada no estudante, e que este é um ser social, dotado de autonomia e capacidade
de expressão. Nesse sentido, as assembleias se tornam uma estratégia pedagógica que se
alinha perfeitamente aos princípios freinetianos, pois permite que as crianças exerçam sua voz
e se sintam parte ativa do ambiente educacional.
A assembleia, em sua essência, é um espaço coletivo de discussão e tomada de
decisões, onde as crianças têm a oportunidade de compartilhar suas ideias, opiniões e
sentimentos, aprendendo a respeitar as diferenças e a conviver democraticamente. Dessa
forma, as assembleias na educação infantil incentivam o desenvolvimento da capacidade de
argumentação, da escuta ativa e da empatia, habilidades essenciais para a formação de
cidadãos críticos e participativos na sociedade.
Além disso, as assembleias permitem que os educadores conheçam melhor cada
criança em seu contexto individual, compreendendo suas necessidades, interesses,
potencialidades e fraquezas. Esse método personalizado contribui para a construção de um
ambiente educacional acolhedor, inclusivo e equitativo, no qual cada criança se sinta
valorizada, escutada e encorajada a se expressar livremente.
Ao longo deste trabalho, abordaremos mais detalhadamente como as assembleias na
educação infantil, seguindo a teoria de Freinet, podem ser aplicadas na prática pedagógica,
ressaltando suas vantagens e desafios. Nesse sentido, espera-se que este estudo contribua para
a reflexão e o aprimoramento constante das práticas educacionais voltadas para a infância,
sempre com o objetivo de promover um aprendizado significativo e transformador para as
futuras gerações.

Relato de experiência
A assembleia foi apresentada aos poucos a turma da pipoca, iniciou-se no começo de
março, após os processos de inserção escolar, respeitando o tempo das crianças. O professor
começou apresentando as plaquinhas feitas com emojis, de “eu felicito” com carinha feliz, “eu
sugiro” com carinha de sugestão e “eu crítico” com carinha de crítica. Após conhecerem as
plaquinhas, começaram a aprender seus significados, eu felicito, para os agradecimentos e
felicitações (aos amigos, ao professor, à escola, a merenda, entre outros), eu sugiro, para as
ideias (novas brincadeiras, jogos e atividades, entre outras) e eu crítico, para criticar as
atitudes, deste modo, a plaquinha não serve para criticar diretamente alguém, mas uma
atitude, como por exemplo descumprimentos dos combinados, a falta de respeito com os
colegas e com o professor, entre outras.
Logo chegou o dia da primeira assembleia, a turma da pipoca sentou-se em roda e o
professor iniciou a discussão, os conceitos das plaquinhas foram relembrados, e assim
escolhidos os alunos que gostariam de falar naquele dia. Iniciou-se então a assembleia da
turma da pipoca, o primeiro escolheu a sua plaquinha e assim por diante, todos tiveram sua
vez de felicitar, sugerir ou criticar, e ao final todos aqueles que falaram e os demais que
também quiseram, assinaram a ata da assembleia, que ficaria guardada na pasta de atas e na
documentação pedagógica coletiva da turma.
A primeira assembleia serviu de exemplo para as próximas que viriam, pois as
crianças, ainda em processo de apropriação dos conceitos, estratégias e dinâmicas da técnica,
fizeram muitas felicitações, aos amigos e ao professor, surgindo apenas uma sugestão e
nenhuma crítica. Após a realização de algumas assembleias semanais, as crianças foram se
apropriando e entendendo os conceitos, por exemplo, que as críticas não eram para os amigos,
mas sim para as atitudes que eles achavam erradas, surgiram mais sugestões, de brincadeiras
atividades e passeios, e novas felicitações, sobre as atitudes legais dos colegas e sobre a
turma.
Após alguns meses de assembleias, quando os conceitos já estavam aprimorados, o
professor decidiu fazer diferente, no salão da escola, todas as crianças pegaram as “cadeiras
dos adultos” (cadeiras grandes, utilizadas em reuniões de professores) e se reuniram em uma
grande roda. As crianças sentiram-se importantes, sentadas nas grandes cadeiras e com uma
missão, se reunir em assembleia e relatar as felicitações, sugestões e críticas daquela semana.
Imagem 1: Plaquinhas utilizadas nas assembleias da turma da pipoca.

Fonte: Arquivo pessoal, 2023.

A placa de "Eu Sugiro" permite que os alunos compartilhem suas ideias e soluções de
maneira aberta e construtiva, e é daqui que saem ideias, que comporão os planejamentos
coletivos futuros, considerando os desejos e as necessidades das crianças. Ao oferecer um
espaço para expressarem suas sugestões, as crianças se sentem valorizadas e reconhecidas
como membros ativos da comunidade escolar. Isso não só fortalece a autoestima dos alunos,
mas também os encoraja a pensar criativamente, a desenvolver o hábito de propor soluções e
a assumir responsabilidade por melhorias no ambiente educacional.
A placa de "Eu Felicito" promove a gratidão e o reconhecimento pelas ações positivas
dos colegas e dos educadores. Essa prática fortalece os laços interpessoais, fomenta uma
cultura de apreço mútuo e constrói um clima de respeito e cooperação. Ao enaltecer as
atitudes e esforços positivos, os alunos aprendem a valorizar as contribuições dos outros e a
cultivar uma atitude positiva em relação à comunidade escolar.
Por outro lado, a placa de "Eu Critico" é um instrumento crucial para o
desenvolvimento do pensamento crítico e da habilidade de expressar opiniões fundamentadas.
Ela proporciona um espaço seguro para a crítica construtiva, onde os alunos podem levantar
preocupações, discutir problemas e contribuir para a resolução de conflitos. Isso ensina os
alunos a comunicar suas discordâncias de maneira respeitosa e a entender que a diversidade
de opiniões é uma parte natural de qualquer comunidade.
Imagem 2: Ata da primeira assembleia, realizada no mês de abril, com a turma da
pipoca.

Fonte: Arquivo pessoal, 2023.

Imagem 3: Ata da assembleia, realizada no mês de julho, com a turma da pipoca.

Fonte: Arquivo pessoal, 2023.

Imagem 4: Ata recente da assembleia, realizada no mês de agosto, com a turma da


pipoca.

Fonte: Arquivo pessoal, 2023.

A prática de que as crianças assinem a ata da assembleia na educação infantil, como


parte da abordagem Freinetiana, possui um significado profundo e valioso. Essa ação não
apenas simboliza o respeito pela voz das crianças, mas também contribui para o
desenvolvimento de habilidades importantes e para a construção de uma consciência cidadã
desde cedo.
Pois, ao assinarem a ata, as crianças estão sendo reconhecidas como participantes
ativos e contribuintes legítimos nas discussões e decisões escolares. Isso envia uma
mensagem poderosa de que suas opiniões são valorizadas e levadas a sério. Esse senso de
reconhecimento e pertencimento, possibilita o aumento da autoestima das crianças,
construindo uma base sólida para a confiança em suas habilidades de expressão e
comunicação.

Resultados e Discussão
As assembleias trabalham valores fundamentais com as crianças, da livre expressão e
da cooperação, é o espaço onde se sentem livres para felicitar, sugerir e criticar, sendo sujeitos
pertencentes da turma, exercendo seus direitos e deveres. Nesse contexto, a técnica
Freinetiana das assembleias surge como uma abordagem inovadora e eficaz para promover e
escutar as vozes das crianças por meio das participações coletivas, estimulando sua
participação ativa no processo educacional.
A voz das crianças nas assembleias da educação infantil é valiosa por várias razões.
Primeiramente, ela proporciona um ambiente que fortalece a autoestima e a autoconfiança das
crianças, uma vez que elas percebem que suas ideias têm importância e impacto real. Isso
ajuda a desenvolver habilidades de comunicação, argumentação e pensamento crítico desde
cedo, capacitando-as a expressar seus pensamentos de maneira clara e respeitosa.
A participação ativa em assembleias contribui para a construção da cidadania desde a
infância. As crianças aprendem sobre direitos, responsabilidades e a importância de contribuir
para o bem comum. Essa experiência as prepara para se tornarem cidadãos engajados e
participativos na sociedade, capazes de compreender e influenciar questões que afetam a
comunidade em que vivem.

Conclusão
As assembleias na educação infantil, através da técnica Freinetiana, representam uma
abordagem enriquecedora, inclusiva e equitativa para escutar as vozes das crianças. Essa
prática não apenas desenvolve habilidades cruciais para a vida, como comunicação e
pensamento crítico, mas também cultiva cidadãos ativos, conscientes e comprometidos desde
cedo. Ao criar espaços nos quais as crianças são ouvidas, valorizadas e respeitadas como
membros ativos da comunidade escolar, estamos construindo um futuro mais participativo e
emancipatório.
Essa prática não apenas permite que as crianças se sintam ouvidas, mas também as
ensinam a respeitar a diversidade de opiniões e a contribuir para a construção de soluções e
questionamentos a partir das estratégias de resolução próprias e autorais. No entanto, é
fundamental que a implementação das assembleias na educação infantil seja feita com
sensibilidade e consideração. Os educadores devem atuar como mediadores, garantindo que o
ambiente seja seguro e respeitoso para todas as crianças. Além disso, é importante adaptar a
linguagem e as dinâmicas das assembleias à faixa etária das crianças, garantindo que elas
compreendam e se sintam à vontade para participar.
Em última análise, a técnica Freinetiana de assembleias na educação infantil, como a
vivenciada pelos residentes pedagógicos na Escola Sambalelê em Marília-SP, promove um
ambiente educacional enriquecedor. As crianças são incentivadas a serem pensadoras críticas,
comunicadoras eficazes e membros participativos da comunidade escolar. Além disso, essa
abordagem inculca valores fundamentais de respeito, empatia e colaboração, preparando as
crianças para um futuro em que suas vozes e contribuições sejam respeitadas e valorizadas,
não apenas na escola, mas também na sociedade em geral.
Referências

ARAÚJO. U. F. ASSEMBLÉIA ESCOLAR: Um caminho para a resolução de conflitos.


São Paulo: Moderna, 2004.

FREINET. C. As técnicas Freinet da escola moderna. Lisboa: Editorial Estampa, 1995.

LÜDKE, M. e ANDRË, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São


Paulo, EPU, 1986.

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