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A obesidade constitui-se em importante desvio nutricional

que deve merecer a atenção dos profissionais da área de


saúde. Na infância e na adolescência, o excesso de peso
pode determinar dificuldades de socializaçao, assim como
risco de morbidade para as principais doenças crônicas.

Os adolescentes obesos têm maior risco de se tornarem


obesos mórbidos. A adolescência é uma época em que a
personalidade está sendo estruturada e a obesidade nesse
período pode deixar marcas profundas.

A obesidade na infância e na adolescência apresenta como


importante característica a possibilidade de prosseguir na
vida adulta. Se em crianças a morbidade não é freqüente,
já nos adolescentes verifica-se a concomitância de fatores
de risco, como dislipidemias, hipertensão e aumento da
resistência insulínica, que aumentarão a probabilidade de
mortalidade na vida adulta.

A relação direta entre criança obesa/adulto obeso e os


resultados desfavoráveis e frustrantes do tratamento da
obesidade na criança, além dos efeitos adversos da
obesidade no adulto, tornam cada vez mais importante sua
prevenção.

Hoje no Brasil, principalmente nas classes menos


favorecidas, a população, de modo geral, passa da
desnutrição para o excesso de peso e obesidade e, se nao
forem aplicadas medidas eficientes para conter essa
tendência, nos próximos 20 anos nosso país se encontrará
na atual conjuntura dos EUA, onde a obesidade e suas
complicações constituem um dos maiores problemas de
saúde pública.

Entre as conseqüências da obesidade, destacamos os


problemas psicossociais como discriminação entre colegas e
familiares, complicações ortopédicas, alterações
posturais, Acanthosis nigricans, apnéia do sono, distúrbios
gastrintestinais (refluxo gastresofágico), além de problemas
metabólicos (hiperinsulinêmica e hiperlipidêmica).

Em relação às complicações da obesidade, o que chama a


atenção é uma entidade recentemente descrita, a esteato-
hepatite nao-alcoólica (EHNA). Inicialmente documentada
em adultos, vem sendo observada também entre crianças e
adolescentes. Sua prevalência está aumentando,
provavelmente devido à ascensao da prevalência de
obesidade e também pelo fato de a classe médica estar
mais atenta para seu diagnóstico.

Essa patologia se destaca por seu curso freqüentemente


latente, podendo ser diagnosticada incidentalmente em
crianças assintomáticas e/ou com queixas vagas, como dor
abdominal intermitente, e por seu amplo espectro
evolutivo, que inclui desde casos com curso benigno até
casos com evoluçao para cirrose, sendo potencialmente
fatal. As opçoes de tratamento ainda sao limitadas, mas a
perda de peso gradual parece ser a medida mais efetiva.

Modificações de comportamento e hábitos de vida são os


pilares fundamentais no tratamento da obesidade, que
também inclui mudanças no plano alimentar e na atividade
física. O objetivo do tratamento da obesidade em crianças e
adolescentes é conseguir manter o peso adequado para a
altura e ao mesmo tempo manter o crescimento e o
desenvolvimento normais.

Por todos esses fatores, o tratamento da obesidade é


complexo. As chances de um indivíduo obeso conseguir
remissão permanente não ultrapassam 30% na maioria dos
estudos. Até o momento, comprovou- se que 95% dos
obesos mórbidos falham no intento da perda ponderal e de
sua manutenção.

Importante ressaltar que ainda não existem tratamentos


100% eficazes para a obesidade. A reeducação alimentar é
a melhor forma de tratamento, que deve ser mantido por
longo prazo.

A dieta obviamente tem papel determinante na regulaçao


energética e de fato constitui o principal fator
desencadeante no desequilíbrio entre a entrada e o gasto
energético. O consumo de alimentos industrializados é cada
vez mais freqüente e esses geralmente têm alto conteúdo
energético, à custa de gordura saturada e colesterol.

Na adolescência, por conta do estirao puberal, as


necessidades calóricas estao aumentadas, com
conseqüente aumento de apetite e ganho de peso. Nessa
etapa, as características de comportamento peculiares,
aliadas ao apelo da mídia e à influência do grupo,
favorecem dietas nao-balanceadas e hipercalóricas devido à
ingestao contínua de alimentos do tipo fast food e lanches
rápidos (com alto valor calórico) ricos em açúcar,
carboidratos refinados e gordura saturada, em detrimento
da alimentação habitual com a família.

A forma de preparar os alimentos e as quantidades


ingeridas fazem com que algumas crianças consumam mais
comida do que precisam e por isso ganham peso. A
associaçao entre o excesso de peso e a ingestao alimentar
é descrita desde o primeiro ano de vida.

Quando se levam em consideraçao as diversas condiçoes


mórbidas associadas à obesidade, bem como sua crescente
prevalência e dificuldades inerentes ao tratamento, torna-
se necessário identificar medidas preventivas eficazes. A
prioridade deve ser dada a medidas simples, de baixo custo
e sem potenciais efeitos adversos.

Sabe-se que é difícil mudar hábitos culturalmente


estabelecidos e que é necessário um trabalho contínuo que
respeite as características da comunidade. No processo de
mudança é preciso conscientizar os profissionais de saúde,
os indivíduos formadores de opiniao e estimular programas
de educaçao para orientar as gestantes e maes sobre a
alimentaçao da criança no primeiro ano de vida.

Algumas áreas merecem atençao especial, sendo a


educaçao, a indústria alimentícia e os meios de
comunicaçao os principais veículos de atuaçao.

Se nao houver mudança radical nos padroes de atividade


física e alimentares de nossas crianças e adolescentes,
teremos uma geraçao de adultos absolutamente acima dos
padroes vigentes de peso, o que agravará ainda mais o
aspecto clínicosocial da obesidade.

Através do conhecimento de fatores associados a hábitos


alimentares, medidas educativas e preventivas podem ser
propostas para a formaçao de um comportamento
alimentar saudável e para a promoçao da saúde da criança
e do adulto.

O indivíduo inicia o seu desenvolvimento na infância até se


tornar um cidadao útil e saudável. Ensiná-lo a comer de
forma correta é tao importante como outras açoes de
prevençao e saúde, tal qual a vacinaçao em massa. Os
bons hábitos alimentares servirao para a profilaxia das
doenças crônicas degenerativas do adulto que sao a
endemia deste século.

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