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Patricia Neumann (2022). A referida obra está em fase de revisão para publicação. Este trecho é
uma cortesia e sua reprodução está vedada.
Capítulo IV
Patricia Neumann
A Sobre-excitabilidade Psicomotora
A Sobre-excitabilidade Sensorial
Aquilo que pode passar despercebido por outro indivíduo, é captado por
quem tem SE sensorial. Por exemplo, a etiqueta da roupa na pele, o
barulho que alguém faz ao mastigar a comida, o tique-taque de um
relógio, a textura de algum alimento etc (Ibid, 2019).
Características que sinalizam este tipo de SE já na infância são as
crianças que demandam muito mais atenção de seus pais, especialmente
da mãe, que outras crianças. Elas buscam frequentemente o contato
físico, gostam de beijos e abraços, de escalar o corpo da mãe. Por sua
constante busca por carinho, são vistas comumente como grudentas
pelos adultos (Ibid, 2019). Destaco que é comum também que a mãe (ou
outro cuidador que faça a função da mãe) de crianças com SE sensorial se
sinta exausta pela frequente demanda de atenção e cuidados amorosos,
ao ponto de se sentir irritada com isso.
Indivíduos com este tipo de SE são mais sensíveis à temperatura
(calor ou frio ou ambas), a texturas, à luz, a sons, ao que gera prazer e
desprazer. Podem apresentar, por exemplo, seletividade alimentar devido
ao gosto e à textura dos alimentos (Ibid, 2019). Acresço que, nas
avaliações de superdotação que tenho realizado, independentemente da
idade, a seletividade alimentar tem se mostrado presente frequentemente
nas pessoas superdotadas, o que se mostra como u m problema de
pesquisa a ser mais profundamente investigado.
Nos primeiros anos de vida, são aquelas crianças que podem
mostrar mais curiosidade e interesse pela sexualidade que as demais.
Tendem a buscar por experiências corporais desse âmbito, mas sua
expressão dependerá do meio social. Importante lembrar que, na infância,
as experiências sexuais são diferentes das de cunho erótico tal qual para
adolescentes e adultos. São experiências vinculadas ao prazer pelo tato,
tal qual aquele sentido em qualquer área do corpo. Na adolescência, são
jovens que procuram constante contato amoroso em busca de sensações
novas e do par mais compatível. Isto pode levar a constantes trocas de
amizades e pares amorosos. Tendem a querer vivenciar mais experiências
sexuais, agora, de cunho erótico. Tal interesse pela variada experiência
sexual, mais especificamente o sexo, pode seguir pela vida adulta
(DĄBROWSKI, 2019).
Também são indivíduos que sentem maior necessidade de serem
admirados pelos outros, de serem notados. Querem despertar a atenção
dos outros para si, pois isto lhes gera prazer. Tal conduta, contudo, ocorre
quando sua vida emocional ainda não está tão amadurecida. Quando a SE
no âmbito sensorial for intensa, o indivíduo tende a ter mais dificuldades
em olhar para si mesmo e, com isto, colocar a responsabilidade das
situações em outrem. Tendem a evitar o contato consigo e, por isso, não
gostam de ficar sozinhos. Ao ficar sozinhos, têm apenas a si mesmos
como companhia e isto lhes é desprazeroso, uma vez que seu prazer está
mais no contato com os outros. Tendem a não sentir prazer em atividades
Trecho do livro “A Sobre-excitabilidade nas Altas Habilidades ou Superdotação”, de autoria de
Patricia Neumann (2022). A referida obra está em fase de revisão para publicação. Este trecho é
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como pensar sobre si mesmos. Sua vida é voltada para fora porque a
diminuição de sensações lhes gera desprazer (Ibid, 2019).
Saliento que, na superdotação, esta SE pode trazer tanto benefícios
quanto dificuldades. Tal sensibilidade sensorial elevada pode ajudar na
resolução de problemas, justamente pela percepção de detalhes que
outros não percebem. Em contrapartida, pode também atrapalhar a
socialização quando há falta de habilidades sociais desenvolvidas. A isto
se soma a visão única de mundo que nem sempre combina com a
percepção dos outros. A grande questão parece estar em como utilizar a
SE sensorial a favor tanto na resolução de problemas quanto na
socialização. Uma discussão mais ampla sobre isso pode ser encontrada
em Dunn (2009). Outra questão importante é a confusão que pode ser
feita entre a SE sensorial e o Transtorno de Processamento Sensorial (TPS)
comum com, por exemplo, a condição do Transtorno do Espectro Autista.
Sobre isso, o trabalho de Webb (2004), Miller (2006) e Souza e Nunes
(2019) traz elucidações.
Em linhas gerais, por fim, a grande diferença entre a SE sensorial e
o TPS é que todos os transtornos trazem algum tipo de prejuízo
significativo no dia a dia da pessoa. O TPS é uma condição heterogênea
que inclui uma variedade de tipos. A pessoa que tem esta condição
apresenta prejuízos no processamento e/ou na organização da
informação sensorial, o que afeta sua rotina e suas atividades. Quanto à
SE sensorial, ela se refere à intensidade na captação, percepção e
interpretação dos dados sensoriais e não com algum prejuízo no
processamento nem na organização d as sensações, salvo casos de
múltipla condição neurodivergente, isto é, quando há tanto a condição de
superdotação quanto alguma condição de transtorno de processamento
juntas.
A Sobre-excitabilidade Imaginativa
pelos demais ou não. A fantasia tem sempre u m cunho real para quem a
cria e nela acredita. Ela acaba por ser u m meio de lidar com as situações
da vida. A fantasia é uma narrativa, como se fosse uma história. Histórias
que criamos sobre nós e sobre o mundo com maior ou menor grau de
consciência delas (Ibid, 1998). Um exemplo de fantasias compartilhadas
são as transpostas para livros e cinema. A maioria das fantasias, contudo,
não são expressas como arte, mas são a respeito de situações do
quotidiano, interpretações daquilo que se julga ser em vez daquilo como
é, realmente.
No que se refere à ilusão, são imagens criadas a partir de uma
percepção das coisas mais como se gostaria que elas fossem do que como
são, de fato. De forma sucinta, a ilusão é algo que não precisa ser
confirmada para se manter em mente. Quer dizer que uma pessoa pode
se manter iludida por muito tempo sobre determinada coisa (Ibid, 1998).
Para melhor entender a ilusão, é só pensarmos em alguma situação que
já tenhamos vivido um a desilusão, ou seja, acreditamos que determinada
situação era ‘x’, mas descobrimos que era ‘y’. A ilusão também está na
arte; o ilusionismo, uma arte performática que consiste em criar uma
situação que é irreal, mas traz a impressão de ser real e que surpreende
quem vê.
Quanto ao devaneio, ele é um tipo de expressão de imagens em que
a pessoa se deixa levar por elas. Elas vêm com tanta força, carregadas de
emoção, que enfraquecem momentaneamente a relação com o mundo
externo. É o comum estado de sonhar acordado. Esta expressão surgiu
justamente porque é como se fosse o sonho, mas em estado de vigília da
consciência (Ibid, 1998). O devaneio é bastante comum nas pessoas que
têm alguma inclinação para as artes. Este estado é, muitas vezes, os
momentos de maior criação nas(os) artistas como poetas, pintoras(es),
escritoras(es) etc.
O delírio é outra expressão de imagens muito comum. O delírio
também é uma narrativa mental, como uma história. Mas é uma narrativa
que não corresponde com os fatos. Na verdade, o delírio é contraditório
com a realidade, mas a pessoa acredita fielmente e ninguém consegue
convencê-la do contrário. O delírio, assim como a fantasia, é u m modo de
lidar com as situações da vida. O delírio é sempre inconsciente. O u seja,
a pessoa não consegue perceber que delira, enquanto a fantasia pode ser
inconsciente ou consciente (Ibid, 1998). Um exemplo para ilustrar é a
pessoa que fielmente acredita que alguém a persegue sendo que ninguém
faz isso, na realidade. Que seu colega de trabalho a persegue, que um
professor a persegue, u m vizinho etc. É a crença inabalável em
suposições. Ela pode contar com detalhes de como e quando é perseguida
e o relato é fortemente carregado de certeza. Isto é u m delírio. Diferente
de quando a pessoa levanta uma hipótese de que alguém a esteja
Trecho do livro “A Sobre-excitabilidade nas Altas Habilidades ou Superdotação”, de autoria de
Patricia Neumann (2022). A referida obra está em fase de revisão para publicação. Este trecho é
uma cortesia e sua reprodução está vedada.
perseguindo, mas não se convence disso sem que haja fatos reais que o
corroborem. O delírio jamais admite dúvida.
Em relação ao sonho, é uma expressão de imagens durante o sono.
As imagens do sonho contam uma história em linguagem simbólica, uma
narrativa. Há sonhos que mostram como está o mundo interno daquela
pessoa em relação com o mundo externo em uma linguagem enigmática.
Por fim, a arte é uma ampla área de expressão de imagens mentais. Não
somente a pintura ou o desenho, mas demais artes também se valem de
imagens mentais para tomarem forma como literatura, cinema ou dança
(Ibid, 1998).
A partir desta breve síntese das muitas formas que as imagens se
mostram, adentremos na SE imaginativa. Quem tem este tipo de SE
mostra uma ampliação da atividade de imaginar. Comumente, ela supera
a experiência sensorial e até o âmbito emocional e intelectual, em alguns
indivíduos. Em indivíduos que não apresentam a SE imaginativa, a
construção de imagens mentais é dependente das sensações e percepções
para ocorrer. O u seja, a imaginação requer uma constante referência às
impressões sensoriais e às percepções. Neste caso, a experiência sensorial
desempenha somente o papel de estímulo e a formação de imagens
mentais é mais literal com a realidade. A relação entre imagem e fatos é
muito mais direta (DĄBROWSKI, 2019).
Em quem apresenta a SE imaginativa, o processo é diferenciado
porque a experiência sensorial vai além de ser mero estímulo para a
formação de uma imagem correlata ao fato. Uma única experiência
sensorial pode desencadear uma série de imagens que, inclusive, podem
se organizar em narrativas. Eis o que vemos em escritoras(es), por
exemplo. Indivíduos com elevada SE imaginativa são menos hábeis em
diferenciar fatos e imaginações sobre os fatos. Eles tendem mais
facilmente e m ais intensamente a vivenciar diferentes tipos de
construções mentais como a ilusão, a fantasia e o devaneio (Ibid, 2019).
Tais imaginações são, inclusive, formas de se relacionar com a realidade.
A experiência sensorial, portanto, leva o indivíduo que tem esta SE
a se ligar ao seu mundo interno e criar a partir dele. Por isso,
frequentemente, podem ser vistos como desatentos, desconcentrados
e/ou até mesmo desastrados. Eles são mais voltados a eles mesmos e ao
seu processo criativo que aos fatos e exigências externas. Seu interesse
só se volta ao mundo externo se ele oferecer condições e oportunidades
para a imaginação e a realização do potencial criativo (Ibid, 2019).
Devido a isso, para muitos indivíduos com SE imaginativa, a
educação formal, da infância à vida adulta, pode ser u m tormento, visto
que a forma como a instituição educacional organiza suas atividades inibe
a criatividade, a inventividade e a originalidade próprias de quem tem
uma fértil imaginação. As condições que são impostas pela escola, dentre
elas, a constante adaptação à realidade sem a criatividade, entra em
Trecho do livro “A Sobre-excitabilidade nas Altas Habilidades ou Superdotação”, de autoria de
Patricia Neumann (2022). A referida obra está em fase de revisão para publicação. Este trecho é
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Sonhei que estava numa cidade da Europa, não sei qual. Lembro que o país era
a Bélgica. O sonho começa num hotel que não é tão chique nem tão simples e
depois passa para uma estação de trem. Eu e dois amigos vamos fazer uma
viagem pela Europa. A estação não era muito nova se comparada às estações de
hoje. Tinha mais pessoas esperando o trem para uma cidade que eu não sabia
qual. O trem logo veio e eu entrei no primeiro vagão. Assim que entrei, as portas
fecharam. Olhei pra ver se meus amigos tinham entrado, mas ainda não. Porém,
o trem andou um pouco e parou de novo para as pessoas entrarem em outros
vagões. A plataforma era menor que o tamanho do trem e o trem era muito
comprimido. Isto eu vi de fora do trem, como se eu tivesse saído apenas em
Trecho do livro “A Sobre-excitabilidade nas Altas Habilidades ou Superdotação”, de autoria de
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mente. Então, meus amigos entraram um pouco mais atrás do meu vagão. Junto
comigo havia dois homens um pouco mais velhos também viajando. Eu não os
vi entrarem, mas estavam lá. Eu ouvia as pessoas falarem francês e tentava
entendê-las. Uma parte eu entendia, mas não tudo. Era só uma questão de falta
de prática. Estes homens também falavam francês, mas um deles parecia falar
um pouco de português também. O que parecia falar português estava sentado
mais perto de mim. Eu estava bem na frente do vagão e podia ver o caminho do
trem, a paisagem. Era bonita, estava dia claro e era de manhã, ainda antes do
meio dia. Vi que havia uns pés de abóbora com abóboras muito grandes de um
tipo diferente das que conheço e cortadas ao meio sem as sementes. As
sementes estavam espalhadas pelo chão. Perguntei aos homens o que era aquilo
em francês: qu’est-ce que c’est? e apontando para as abóboras. Um deles me
respondeu: c’est peu. No sonho, eu entendi que era abóbora e eu disse: ah, c’est
l’abóbora. Eles fizeram um ar de que não entenderam, mas ficaram curiosos e
eu expliquei: à m a langue c’est abóbora. O homem que respondeu minha
pergunta não entendeu muito bem, mas o outro explicou para ele que na minha
língua materna, português, o nome era abóbora para aquele fruto. Então, o outro
entendeu e a viagem seguiu. A paisagem era bonita, mas não tanto quanto eu
achava que era. Porém, isto não me frustrou, pelo contrário, eu me sentia muito
bem e feliz no sonho por estar conhecendo novos lugares. Eu observava tudo o
que podia pra ver o que era diferente do que eu já conhecia e isto me deixava
feliz. Lembro que havia pedras no caminho, árvores, vegetação mais rasteira. A
impressão é que era um lugar meio antigo, o trem era muito confortável, mas
meio antigo também, como quando a gente assiste um filme dos anos 90 ou 80,
e tem aquela impressão que é outra época. Lembro que perguntei aos homens
quantos quilômetros era até o destino final e o mesmo que me respondeu da
abóbora me respondeu agora, mas não entendi o francês dele e não perguntei
de novo. Decidi esperar para ver sem preocupação com a distância. Eu não sabia
para qual cidade eu iria ou se mesmo estava saindo da Bélgica para outro país,
mas eu sabia que chegaria até o final da viagem. O sonho acaba comigo viajando.
A sobre-excitabilidade Intelectual
[...] continua.
Sobre a autora
SOBRE- SOBRE-
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IMAGINATIVA INTELECTUAL
Metodologia:
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o 3 meses de acesso
Interação ao vivo
Teremos 3 encontros especiais
com a professora Patricia
Neumann, comduração média de
duas horas, e será de 20 h (horário
Brasília).
Encontro 1: 13 de julho de 2022
Encontro 2: 20 de julho de 2022
Encontro 3:27 de julho de 2022
Telefones de contato:
43 9986-2915 (Ana)
43 9614-2228
(Bruno)