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Trecho do livro “A Sobre-excitabilidade nas Altas Habilidades ou Superdotação”, de autoria de

Patricia Neumann (2022). A referida obra está em fase de revisão para publicação. Este trecho é
uma cortesia e sua reprodução está vedada.

Capítulo IV

A Sobre-excitabilidade no Desenvolvimento Humano

Patricia Neumann

Dąbrowski, em polonês, fala de wzmożona pobudliwość psychiczna,


que pode ser traduzido por excitação psíquica aumentada, sendo que, ao
ser psíquica, é igualmente corporal. Trata-se de u m organismo que se
excita com mais intensidade a partir dos estímulos vindos dele mesmo e
de fora. A versão em inglês é overexcitability, traduzida por super
excitabilidade, hiper excitabilidade ou sobre-excitabilidade. Todas elas
são traduções cabíveis do inglês. Escolho adotar a versão inglesa e a
tradução sobre-excitabilidade, a qual, em alguns textos meus, utilizo a
sigla SE.
A sobre-excitabilidade é sumamente relevante para que haja
desenvolvimento. Sem ela, o organismo estaciona e não avança. Sobre-
excitabilidade quer dizer excitação em elevado nível. Ela é u m
acontecimento orgânico, ou seja, acontece no corpo e a partir dele. Por
ser corporal, é também neurológico e envolve todo o sistema nervoso
central e periférico. O corpo recebe estímulos das situações que ocorrem
ao redor dele ou estímulos dele mesmo. Estes estímulos são recebidos e
percebidos através dos órgãos de sentido, visão, audição, tato, paladar e
olfato. Dependendo dos estímulos e do nível de desenvolvimento do
indivíduo, o corpo reage de modo mais intenso que o comumente
esperado (DĄBROWSKI, 2016).
Esta reação mais forte do corpo gera u ma atividade psicológica
também mais intensa (ou vice-versa). Corpo/mente, então, ficam sobre-
excitados, isto é, a excitação aumenta. A forma como isso se mostra são
em comportamentos que a maioria dos indivíduos julga como estranhos,
desproporcionais, exagerados etc. Esta excitabilidade elevada pode ser
dividida em cinco âmbitos: intelectual, emocional, imaginativo, sensorial
e psicomotor. Um indivíduo pode apresentar SE em todos os cinco, apenas
um deles ou alguns. A SE também pode se mostrar de modo global ou
parcial. Em seu modo global, ela influencia uma gama ampla de aspectos
e em modo parcial, apenas alguns (Ibid, 2016).
A sobre-excitabilidade é uma característica de indivíduos em
desenvolvimento e ela é necessária para a desintegração positiva. São
vários fatores que são necessários para a passagem de u m nível de
desenvolvimento para o outro e a sobre-excitabilidade é u m deles. Ela é
tão importante que sem a sua presença, o indivíduo não avança de onde
está. Em verdade, quanto maior for a intensidade da SE, maior é o
Trecho do livro “A Sobre-excitabilidade nas Altas Habilidades ou Superdotação”, de autoria de
Patricia Neumann (2022). A referida obra está em fase de revisão para publicação. Este trecho é
uma cortesia e sua reprodução está vedada.

potencial para o desenvolvimento. As três SEs que mais favorecem a


desintegração positiva são a emocional, a imaginativa e a intelectual,
sendo que, destas três, a mais importante é a emocional, pois ela conecta
todas as demais. A presença ou não de SE varia muito de indivíduo para
indivíduo, bem como a sua força e suas interações com outras áreas que
também influenciam o desenvolvimento (DĄBROWSKI, 1967; 1972b;
2016).
A sobre-excitabilidade pode estar presente em indivíduos com as
mais diversas condições. Dąbrowski observou que ela se mostra, por
exemplo, em pessoas com os ditos transtornos mentais, em artistas e em
indivíduos superdotados. No caso de superdotados, u m estudo realizado
por ele, em 1962, com crianças e adolescentes, mostrou que todos
apresentam pelo menos SE em uma área (Ibid, 1967; 1972b). Acresço que
os estudos que tenho realizado corroboram com esta hipótese. Veremos
sobre isso em capítulos seguintes.
Saliento que a sobre-excitabilidade não está, portanto,
exclusivamente na condição de superdotação. Indivíduos que não tem a
condição de desenvolvimento de superdotação também podem
apresentá-la conforme for o seu potencial de desenvolvimento. Isto
porque a presença da SE é evidência que o indivíduo está em
desenvolvimento. A sobre-excitabilidade faz em com que o indivíduo se
torne mais sensível ao que acontece fora e dentro de si, o que gera uma
série de reações incomuns. Geralmente, as queixas em torno das ditas
desordens mentais, psicopatologias, transtornos mentais tem a presença
de sobre-excitabilidade e, consequentemente, a possibilidade de estar em
curso a desintegração positiva.
Culturalmente, é corriqueiro que se veja qualquer conduta
diferente do comum como algo estranho e isso é associado à alguma
doença (patologia) mental. Isso faz com que se pense que tudo que é
diferente seja patologia (a patologização da vida quotidiana) e que aquilo
que é visto como patologia seja algo ruim dentro de um julgamento de
valor social. Nesta lógica, indivíduos que apresentam SE, dentre eles os
superdotados, são facilmente taxados de doentes por familiares, colegas
e até por profissionais da educação e da saúde. De imediato, é comum
que muitos profissionais ainda procurem por uma patologia na qual o
indivíduo possa ser encaixado.
Porém, a sobre-excitabilidade é u m sinal de desenvolvimento. O
indivíduo superdotado não está com um problema, pelo contrário, está
em pleno avanço de seu potencial! Em algumas situações, a sobre-
excitabilidade aponta para condições mentais que requerem cuidados
terapêuticos, as quais são condições que podem surgir em meio ao
processo de desenvolvimento.
Contudo, o que é comumente visto como transtorno, é entendido
por Dąbrowski como u m sinal de desenvolvimento que precisa ser
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aproveitado. Muitos dos ditos transtornos indicam, inclusive, que algo


está a acontecer com o indivíduo; algo já está em processo de
desintegração de u m nível mais baixo para um nível mais elevado
(TILLIER, 2018). Ditas estas palavras iniciais acerca da SE, vejamos mais
sobre os âmbitos que ela se mostra.

A Sobre-excitabilidade Psicomotora

A sobre-excitabilidade psicomotora está relacionada ao corpo e


seus movimentos e várias de suas manifestações podem ser percebidas
justamente a partir do corpo como referência. Iniciemos pelo mais
comum de ser observado que é a inquietação psicomotora, mai s
conhecida por agitação, ou seja, uma super atividade psicomotora. É
quando o indivíduo faz movimentos que, aparentemente, são sem sentido
e desnecessários em sala de aula ou outros lugares como uma fila de
banco. Por exemplo, levantar e andar pela sala todo o momento, mexer
mãos e pés quando sentado, não parar sentado por muito tempo, a fala
não acompanha o pensamento, isto é, o pensamento é mais rápido que a
fala, o que pode levar até mesmo a dificuldades de comunicação
(DĄBROWSKI, 2019).
Quem tem a SE que se mostra no âmbito psicomotor pode ser visto
pelos outros como u m indivíduo explosivo, tanto em suas emoções
quanto em seus movimentos corporais (Ibid, 2019). Exemplo disso são as
crianças que faz em birras colossais e que demoram a conseguir se
acalmar. São explosões psicomotoras geradas por estímulos do ambiente,
geralmente quando são contrariadas, o que também indica a intensidade
emocional, neste caso, a raiva. Em adultos, são os indivíduos que
explodem por qualquer coisa que os desagrade e, muitas vezes, têm
dificuldade em controlar seus impulsos. Também são vistos como
impulsivos.
A isto se liga a questão da frustração que, inclusive, pode ser por
uma pequena coisa. Isto porque qualquer estímulo pode desencadear
uma intensa reação. Coisas que passam despercebidas aos outros pode
acionar u m vulcão interno no indivíduo com SE psicomotora e este vulcão
tende a explodir. Pode ser u m simples empurrão em meio a uma multidão,
mesmo um pequeno atraso, a espera numa fila, a comida que ficou
salgada demais, uma palavra que alguém disse etc. As reações explosivas
são o resultado de certa discrepância entre o estímulo e a reação. Quer
dizer que a reação é muito maior que o estímulo recebido. Isto faz com
que o indivíduo seja visto como exagerado em suas atitudes (DĄBROWSKI,
2019) e, complemento, até mesmo julgado como desagradável.
Frequentemente, a liberação da carga psicomotora nos indivíduos
com SE psicomotora é toda de uma vez num único ponto, (o que dá o tom
de explosão), enquanto outros indivíduos liberam gradualmente e, às
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vezes, em diferentes pontos. Mas uma questão importante é que os


indivíduos com SE neste âmbito tendem a sentir também prazer nos
estados de tensão. Para eles, a baixa tensão é desprazerosa e é justamente
isso que lhes gera ansiedade, como ter que ficar parado numa fila ou
sentado numa cadeira na escola (Ibid, 2019). São indivíduos que tendem
a preferir o estado de tensão e isto faz com que busquem sempre estar
em movimento e em busca de estimulação, principalmente com o corpo.
É de onde provém, em alguns momentos, a constante troca de atividades,
largar de uma para começar outra sem acabar a anterior (Ibid, 2019),
devido, neste caso, à certa dificuldade em autorregulação e
direcionamento dos impulsos.
Em retomada, a busca por excitação está diretamente ligada ao
modo como se sente o prazer. Há o prazer no estado de tensão e há o
prazer na descarga de um alto nível de tensão. É de onde emerge a busca
por certos tipos de esportes ditos radicais e as muitas diversas situações
de perigo como uso e abuso de álcool e demais drogas. Igualmente,
situações de automutilação como roer unhas, arranhar-se, cortar-se,
arrancar cabelos etc (DĄBROWSKI, 2019).
A SE psicomotora dá seus sinais logo nos primeiros meses de vida:
são os bebês que choram muito sem motivos aparentes de mal estar,
demoram para se acalmar, irritam-se com muita facilidade, faz em as
birras mais difíceis de manejar, não param quietos mesmo em momentos
de tranquilidade, preferem brincadeiras que requerem movimento do
corpo, mostram ter uma energia que parece nunca acabar etc (Ibid, 2019).
Acrescento, aqui, duas expressões populares, no Brasil: é aquela pessoa
“ligada no 220” e/ou a pessoa que, para ela, tudo é “8 ou 80”.
Na escola, são crianças que não param quietas, perturbam os
demais colegas em sala transitando de lá para cá, querem conversar o
tempo todo, arrastam-se pelo chão, querem sair da sala a todo momento
e se mostram desatentas e desconcentradas. Podem estar envolvidas nas
brigas com os colegas, começá-las ou tomar partido. Podem ser vistas
como crianças encrenqueiras e que sempre causam alguma confusão. Tais
condutas podem se aprofundar na adolescência e, em alguns casos, rumar
para atos de delinquência que podem se manter ou não na vida adulta
(DĄBROWSKI, 2019). Saliento, inclusive, que tais condutas são, facilmente,
confundidas com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
(TDAH) e/ou Transtorno Opositor Desafiador (TOD). Sobre isso, sugiro a
leitura de Mika (2006) e Webb (2004).
A SE psicomotora pode tanto favorecer que o indivíduo rume para
ações prejudiciais como o abuso de drogas e brigas, já mencionado,
quanto para ações proveitosas como quando jovens e adultos se
envolvem em movimentos estudantis e sociais, tornam-se ativistas de
causas em prol das mais diversas situações, em defesa de direitos e em
busca de transformações sociais. Também entra aqui o desenvolvimento
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em atividades saudáveis como esportes e artes, a exemplo da dança. Tais


atividades podem, inclusive, ajudar o indivíduo a lidar com sua SE
psicomotora, pois é comum que haja dificuldades em manejá-la, de onde
decorrem as explosões e suas consequências nem sempre vantajosas
(Ibid, 2019).
Outras atitudes que sinalizam a SE no âmbito psicomotor são, na
adolescência e vida adulta, a dificuldade em manter um ritmo proveitoso
de estudo e/ou de trabalho, variação do extremo interesse em algo para
o súbito desinteresse total, ter muitos interesses em muitas coisas ao
mesmo tempo e não conseguir focar em um apenas – o que leva a
constantes abandonos de uma atividade e início de outra, trocas
contínuas de escola, de emprego, de pares amorosos etc (Ibid, 2019).
No caso das pessoas superdotadas, tenho observado duas situações
quanto a este aspecto da SE psicomotora. Uma delas é a pessoa que
começa várias atividades e não finda nenhuma e isto tende a lhe gerar
intensa frustração. Outra é a pessoa que começa várias atividades e
realiza um pouco de cada em cada momento. Há uma alternância de uma
para outra. Nestes casos, algumas são levadas até o fim e outras ficam
sem serem findadas pelo desinteresse de terminá-las, já que outra coisa
chama mais a atenção naquele momento. Neste caso, a frustração emerge
diferentemente de em quem nada consegue findar. Tenho observado este
comportamento, em especial, nas pessoas de perfil produtivo-criativo,
para utilizar a terminologia de Joseph Renzulli. Tal questão, contudo,
demanda maiores investigações.
Por fim, SE psicomotora, acrescento, pode estar presente em
qualquer perfil de superdotação, mas sua presença é marcante
justamente no âmbito psicomotor, o qual, em geral, se volta para a área
de esportes e alguns tipos de artes, aquelas que são mais corporais e
requeiram movimento como dança e teatro.

A Sobre-excitabilidade Sensorial

A SE no âmbito sensorial está relacionada aos sentidos: visão,


audição, olfato, paladar e tato. Suas manifestações estão sempre ligadas
a um ou mais sentidos. São pelos sentidos que se capta os estímulos,
tanto do nosso exterior quanto do nosso interior. O s estímulos sensoriais
compõem o que se chama experiência sensorial, por exemplo, a
experiência de ouvir uma música, comer uma fruta ou sentir a textura de
uma roupa na pele. A experiência sensorial pode envolver apenas u m tipo
de estímulo ou vários tipos. Em contato com o estímulo, temos sensações,
as quais são percebidas e interpretadas pelo nosso complexo corpo e
mente (DĄBROWSKI, 2019).
No caso de indivíduos com SE sensorial, eles têm uma experiência
sensorial mais ampliada que os demais. São mais sensíveis aos estímulos.
Trecho do livro “A Sobre-excitabilidade nas Altas Habilidades ou Superdotação”, de autoria de
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Aquilo que pode passar despercebido por outro indivíduo, é captado por
quem tem SE sensorial. Por exemplo, a etiqueta da roupa na pele, o
barulho que alguém faz ao mastigar a comida, o tique-taque de um
relógio, a textura de algum alimento etc (Ibid, 2019).
Características que sinalizam este tipo de SE já na infância são as
crianças que demandam muito mais atenção de seus pais, especialmente
da mãe, que outras crianças. Elas buscam frequentemente o contato
físico, gostam de beijos e abraços, de escalar o corpo da mãe. Por sua
constante busca por carinho, são vistas comumente como grudentas
pelos adultos (Ibid, 2019). Destaco que é comum também que a mãe (ou
outro cuidador que faça a função da mãe) de crianças com SE sensorial se
sinta exausta pela frequente demanda de atenção e cuidados amorosos,
ao ponto de se sentir irritada com isso.
Indivíduos com este tipo de SE são mais sensíveis à temperatura
(calor ou frio ou ambas), a texturas, à luz, a sons, ao que gera prazer e
desprazer. Podem apresentar, por exemplo, seletividade alimentar devido
ao gosto e à textura dos alimentos (Ibid, 2019). Acresço que, nas
avaliações de superdotação que tenho realizado, independentemente da
idade, a seletividade alimentar tem se mostrado presente frequentemente
nas pessoas superdotadas, o que se mostra como u m problema de
pesquisa a ser mais profundamente investigado.
Nos primeiros anos de vida, são aquelas crianças que podem
mostrar mais curiosidade e interesse pela sexualidade que as demais.
Tendem a buscar por experiências corporais desse âmbito, mas sua
expressão dependerá do meio social. Importante lembrar que, na infância,
as experiências sexuais são diferentes das de cunho erótico tal qual para
adolescentes e adultos. São experiências vinculadas ao prazer pelo tato,
tal qual aquele sentido em qualquer área do corpo. Na adolescência, são
jovens que procuram constante contato amoroso em busca de sensações
novas e do par mais compatível. Isto pode levar a constantes trocas de
amizades e pares amorosos. Tendem a querer vivenciar mais experiências
sexuais, agora, de cunho erótico. Tal interesse pela variada experiência
sexual, mais especificamente o sexo, pode seguir pela vida adulta
(DĄBROWSKI, 2019).
Também são indivíduos que sentem maior necessidade de serem
admirados pelos outros, de serem notados. Querem despertar a atenção
dos outros para si, pois isto lhes gera prazer. Tal conduta, contudo, ocorre
quando sua vida emocional ainda não está tão amadurecida. Quando a SE
no âmbito sensorial for intensa, o indivíduo tende a ter mais dificuldades
em olhar para si mesmo e, com isto, colocar a responsabilidade das
situações em outrem. Tendem a evitar o contato consigo e, por isso, não
gostam de ficar sozinhos. Ao ficar sozinhos, têm apenas a si mesmos
como companhia e isto lhes é desprazeroso, uma vez que seu prazer está
mais no contato com os outros. Tendem a não sentir prazer em atividades
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Patricia Neumann (2022). A referida obra está em fase de revisão para publicação. Este trecho é
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como pensar sobre si mesmos. Sua vida é voltada para fora porque a
diminuição de sensações lhes gera desprazer (Ibid, 2019).
Saliento que, na superdotação, esta SE pode trazer tanto benefícios
quanto dificuldades. Tal sensibilidade sensorial elevada pode ajudar na
resolução de problemas, justamente pela percepção de detalhes que
outros não percebem. Em contrapartida, pode também atrapalhar a
socialização quando há falta de habilidades sociais desenvolvidas. A isto
se soma a visão única de mundo que nem sempre combina com a
percepção dos outros. A grande questão parece estar em como utilizar a
SE sensorial a favor tanto na resolução de problemas quanto na
socialização. Uma discussão mais ampla sobre isso pode ser encontrada
em Dunn (2009). Outra questão importante é a confusão que pode ser
feita entre a SE sensorial e o Transtorno de Processamento Sensorial (TPS)
comum com, por exemplo, a condição do Transtorno do Espectro Autista.
Sobre isso, o trabalho de Webb (2004), Miller (2006) e Souza e Nunes
(2019) traz elucidações.
Em linhas gerais, por fim, a grande diferença entre a SE sensorial e
o TPS é que todos os transtornos trazem algum tipo de prejuízo
significativo no dia a dia da pessoa. O TPS é uma condição heterogênea
que inclui uma variedade de tipos. A pessoa que tem esta condição
apresenta prejuízos no processamento e/ou na organização da
informação sensorial, o que afeta sua rotina e suas atividades. Quanto à
SE sensorial, ela se refere à intensidade na captação, percepção e
interpretação dos dados sensoriais e não com algum prejuízo no
processamento nem na organização d as sensações, salvo casos de
múltipla condição neurodivergente, isto é, quando há tanto a condição de
superdotação quanto alguma condição de transtorno de processamento
juntas.

A Sobre-excitabilidade Imaginativa

A SE em âmbito imaginativo está relacionada à produção de


imagens mentais. Esta área é tão ampla que engloba vários tipos de
criações que são compreendidas de m odo diferenciado conforme a
circunstância. Imaginar quer dizer construir imagens mentais a partir das
sensações e percepções, bem como da cognição, da memória, da atenção
e das emoções. É representar coisas no pensamento independente de que
elas estejam ali realmente (ROUDINESCO e PLON, 1998).
Para melhor compreender a SE imaginativa, é útil uma noção inicial
sobre expressões psíquicas que envolvem imagens. Dentre elas, temos a
fantasia, a ilusão, o devaneio, o delírio, o sonho e a arte. Vejamos de modo
breve o que é cada uma delas.
A fantasia é uma criação de imagens que diz de u m modo subjetivo
da pessoa enxergar a ela mesma, u m modo que pode ser compartilhado
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pelos demais ou não. A fantasia tem sempre u m cunho real para quem a
cria e nela acredita. Ela acaba por ser u m meio de lidar com as situações
da vida. A fantasia é uma narrativa, como se fosse uma história. Histórias
que criamos sobre nós e sobre o mundo com maior ou menor grau de
consciência delas (Ibid, 1998). Um exemplo de fantasias compartilhadas
são as transpostas para livros e cinema. A maioria das fantasias, contudo,
não são expressas como arte, mas são a respeito de situações do
quotidiano, interpretações daquilo que se julga ser em vez daquilo como
é, realmente.
No que se refere à ilusão, são imagens criadas a partir de uma
percepção das coisas mais como se gostaria que elas fossem do que como
são, de fato. De forma sucinta, a ilusão é algo que não precisa ser
confirmada para se manter em mente. Quer dizer que uma pessoa pode
se manter iludida por muito tempo sobre determinada coisa (Ibid, 1998).
Para melhor entender a ilusão, é só pensarmos em alguma situação que
já tenhamos vivido um a desilusão, ou seja, acreditamos que determinada
situação era ‘x’, mas descobrimos que era ‘y’. A ilusão também está na
arte; o ilusionismo, uma arte performática que consiste em criar uma
situação que é irreal, mas traz a impressão de ser real e que surpreende
quem vê.
Quanto ao devaneio, ele é um tipo de expressão de imagens em que
a pessoa se deixa levar por elas. Elas vêm com tanta força, carregadas de
emoção, que enfraquecem momentaneamente a relação com o mundo
externo. É o comum estado de sonhar acordado. Esta expressão surgiu
justamente porque é como se fosse o sonho, mas em estado de vigília da
consciência (Ibid, 1998). O devaneio é bastante comum nas pessoas que
têm alguma inclinação para as artes. Este estado é, muitas vezes, os
momentos de maior criação nas(os) artistas como poetas, pintoras(es),
escritoras(es) etc.
O delírio é outra expressão de imagens muito comum. O delírio
também é uma narrativa mental, como uma história. Mas é uma narrativa
que não corresponde com os fatos. Na verdade, o delírio é contraditório
com a realidade, mas a pessoa acredita fielmente e ninguém consegue
convencê-la do contrário. O delírio, assim como a fantasia, é u m modo de
lidar com as situações da vida. O delírio é sempre inconsciente. O u seja,
a pessoa não consegue perceber que delira, enquanto a fantasia pode ser
inconsciente ou consciente (Ibid, 1998). Um exemplo para ilustrar é a
pessoa que fielmente acredita que alguém a persegue sendo que ninguém
faz isso, na realidade. Que seu colega de trabalho a persegue, que um
professor a persegue, u m vizinho etc. É a crença inabalável em
suposições. Ela pode contar com detalhes de como e quando é perseguida
e o relato é fortemente carregado de certeza. Isto é u m delírio. Diferente
de quando a pessoa levanta uma hipótese de que alguém a esteja
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perseguindo, mas não se convence disso sem que haja fatos reais que o
corroborem. O delírio jamais admite dúvida.
Em relação ao sonho, é uma expressão de imagens durante o sono.
As imagens do sonho contam uma história em linguagem simbólica, uma
narrativa. Há sonhos que mostram como está o mundo interno daquela
pessoa em relação com o mundo externo em uma linguagem enigmática.
Por fim, a arte é uma ampla área de expressão de imagens mentais. Não
somente a pintura ou o desenho, mas demais artes também se valem de
imagens mentais para tomarem forma como literatura, cinema ou dança
(Ibid, 1998).
A partir desta breve síntese das muitas formas que as imagens se
mostram, adentremos na SE imaginativa. Quem tem este tipo de SE
mostra uma ampliação da atividade de imaginar. Comumente, ela supera
a experiência sensorial e até o âmbito emocional e intelectual, em alguns
indivíduos. Em indivíduos que não apresentam a SE imaginativa, a
construção de imagens mentais é dependente das sensações e percepções
para ocorrer. O u seja, a imaginação requer uma constante referência às
impressões sensoriais e às percepções. Neste caso, a experiência sensorial
desempenha somente o papel de estímulo e a formação de imagens
mentais é mais literal com a realidade. A relação entre imagem e fatos é
muito mais direta (DĄBROWSKI, 2019).
Em quem apresenta a SE imaginativa, o processo é diferenciado
porque a experiência sensorial vai além de ser mero estímulo para a
formação de uma imagem correlata ao fato. Uma única experiência
sensorial pode desencadear uma série de imagens que, inclusive, podem
se organizar em narrativas. Eis o que vemos em escritoras(es), por
exemplo. Indivíduos com elevada SE imaginativa são menos hábeis em
diferenciar fatos e imaginações sobre os fatos. Eles tendem mais
facilmente e m ais intensamente a vivenciar diferentes tipos de
construções mentais como a ilusão, a fantasia e o devaneio (Ibid, 2019).
Tais imaginações são, inclusive, formas de se relacionar com a realidade.
A experiência sensorial, portanto, leva o indivíduo que tem esta SE
a se ligar ao seu mundo interno e criar a partir dele. Por isso,
frequentemente, podem ser vistos como desatentos, desconcentrados
e/ou até mesmo desastrados. Eles são mais voltados a eles mesmos e ao
seu processo criativo que aos fatos e exigências externas. Seu interesse
só se volta ao mundo externo se ele oferecer condições e oportunidades
para a imaginação e a realização do potencial criativo (Ibid, 2019).
Devido a isso, para muitos indivíduos com SE imaginativa, a
educação formal, da infância à vida adulta, pode ser u m tormento, visto
que a forma como a instituição educacional organiza suas atividades inibe
a criatividade, a inventividade e a originalidade próprias de quem tem
uma fértil imaginação. As condições que são impostas pela escola, dentre
elas, a constante adaptação à realidade sem a criatividade, entra em
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conflito com um modo de ser que é direcionado pelo fluxo involuntário


de associações (Ibid, 2019).
O u seja, de u m estímulo, podem vir inúmeras ideias sobre o assunto
e ideias não convencionais. Um exemplo disso foi uma conversa que tive
com um amigo dentro da sala de aula da universidade em que ele me dizia
que as paredes dos prédios daquele lugar eram muito sem graça e que ele
tinha um projeto em mente de construir prédios em que os canos d’água
fossem transparentes e ficassem à vista, justamente para podermos ver
o fluxo e o movimento da água. Segundo ele, isto faria com que
pudéssemos ver que u m prédio é vivo tal qual u m organismo orgânico e
não trataríamos um espaço físico com tanta insensibilidade, já que ele faz
parte da construção do sentido da nossa existência. Wow!
Esta fala do meu amigo é uma fala típica de quem tem sobre-
excitabilidade imaginativa. De onde ele tirou tal ideia totalmente fora dos
padrões? Pessoalmente, achei a ideia fascinante, mas não raro outras
pessoas veriam como algo estranho ou absurdo. Geralmente, as pessoas
com SE imaginativa são vistas como estranhas e incomuns. Pode ser muito
mais interessante imaginar canos transparentes nas paredes que ouvir
uma apresentação expositiva monótona de um professor ou ter que fazer
tarefas repetitivas em sala de aula, sem poder se mexer, sem poder falar.
São comumente acusadas, então, de não prestar atenção na aula. Quando
se soma com a sobre-excitabilidade psicomotora elevada, podem não
parar quietas, ficarem agitadas e serem, então, vistas como se tivessem
TDAH, afinal, não param quietas e não prestam atenção à aula.
Não raro, crianças, jovens ou adultas(os) ficam deprimidas na
escola e/ou na universidade e sua luz interior gradualmente vai se
apagando a custo de muito sofrimento psíquico. Em meus anos de
universidade, onde já passei mais de uma década entre graduações e pós-
graduação, vi jovens brilhantes no primeiro ano do curso, altamente
criativos, cheios de energia e vontade de aprender, de dialogar, de viver...
desistirem no meio do caminho ou se conseguiram chegar ao final,
chegaram apagados, adaptados e desiludidos, não raro deprimidos. Estas
pessoas tendem a vivenciar muito intensamente as desilusões e sentir
muita frustração com o choque entre suas imaginações – as quais levam
facilmente a ilusões – e os fatos da vida.
Contudo, quando o ambiente educacional, o assunto e a forma
como a(o) professora(or) direciona a aula oportuniza a expressão da
imaginação, tais estudantes podem se tornar aqueles dentre os mais
brilhantes, pois, geralmente, são muito capazes. O que faz com que não
tenham u m desempenho favorável é justamente u m espaço que impõe
muitas limitações e conformações (DĄBROWSKI, 2019).
O s indivíduos com SE imaginativa também são comumente vistos
como imaturos emocionalmente justamente pelo volume de seus
devaneios e fantasias. Mas para eles, as fantasias e a realidade têm igual
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valor emocional. Isto, em muitos momentos, funciona como uma barreira


protetora contra as frustrações da realidade. Eles podem se refugiar nas
imaginações para evitar a dor causada por situações reais como
humilhações, por exemplo. Geralmente, estes indivíduos necessitam
encontrar apoio em outrem devido a certa inabilidade em gerenciar as
situações do dia a dia. É comum, inclusive, que busquem por relações de
apoio como amizades com indivíduos mais velhos e do sexo oposto (Ibid,
2019).
Em condições sociais favoráveis, o indivíduo com esta SE não vê
suas imaginações como estranhas e nem elas lhe causam ansiedade, mas,
pelo contrário, são essenciais ao seu desenvolvimento e, inclusive,
protegem contra fobias e inibições. Frequentemente, este indivíduo se
volta para as artes de modo mais próximo que os outros. Podem apreciar
o estar só consigo, a introspecção e a reflexão (Ibid, 2019). Eles tendem a
se voltar para dentro, para seu interior, ou seja, uma atitude oposta de
quem predomina a SE sensorial, que tende a se voltar mais para fora,
como vimos anteriormente. Quando ambas as SEs são elevadas, temos um
indivíduo que oscila entre seus interesses voltados para dentro e para
fora, conforme o momento.
Quem tem SE imaginativa, geralmente, mostra intenso apego
afetivo com pessoas próximas. Evitam esportes ou atividades
barulhentas, pois gostam muito mais de estar em contato com a natureza,
livros e seus próprios pensamentos. Tendem a amar leitura, música,
cinema e atividades criativas em geral. Podem passar horas e horas com
u m livro sem perceber o tempo transcorrer. Além disso, outra
característica desses indivíduos são os sonhos. Comumente, eles têm
sonhos cheios de significado, detalhados e intensos. O s sonhos que
ocorrem durante o sono são como que continuidade dos devaneios que
eles têm durante o dia. Devido à forte necessidade dessas experiências
imaginativas, o indivíduo pode, algumas vezes, confundir os sonhos que
tem dormindo daqueles que tem acordado. Isto porque os sonhos são
meios de realizar as necessidades emocionais não supridas na vida
quotidiana (Ibid, 2019). Para melhor ilustrar sobre isto, partilho um sonho
de uma superdotada adulta em terapia, com sua permissão:

Sonhei que estava numa cidade da Europa, não sei qual. Lembro que o país era
a Bélgica. O sonho começa num hotel que não é tão chique nem tão simples e
depois passa para uma estação de trem. Eu e dois amigos vamos fazer uma
viagem pela Europa. A estação não era muito nova se comparada às estações de
hoje. Tinha mais pessoas esperando o trem para uma cidade que eu não sabia
qual. O trem logo veio e eu entrei no primeiro vagão. Assim que entrei, as portas
fecharam. Olhei pra ver se meus amigos tinham entrado, mas ainda não. Porém,
o trem andou um pouco e parou de novo para as pessoas entrarem em outros
vagões. A plataforma era menor que o tamanho do trem e o trem era muito
comprimido. Isto eu vi de fora do trem, como se eu tivesse saído apenas em
Trecho do livro “A Sobre-excitabilidade nas Altas Habilidades ou Superdotação”, de autoria de
Patricia Neumann (2022). A referida obra está em fase de revisão para publicação. Este trecho é
uma cortesia e sua reprodução está vedada.

mente. Então, meus amigos entraram um pouco mais atrás do meu vagão. Junto
comigo havia dois homens um pouco mais velhos também viajando. Eu não os
vi entrarem, mas estavam lá. Eu ouvia as pessoas falarem francês e tentava
entendê-las. Uma parte eu entendia, mas não tudo. Era só uma questão de falta
de prática. Estes homens também falavam francês, mas um deles parecia falar
um pouco de português também. O que parecia falar português estava sentado
mais perto de mim. Eu estava bem na frente do vagão e podia ver o caminho do
trem, a paisagem. Era bonita, estava dia claro e era de manhã, ainda antes do
meio dia. Vi que havia uns pés de abóbora com abóboras muito grandes de um
tipo diferente das que conheço e cortadas ao meio sem as sementes. As
sementes estavam espalhadas pelo chão. Perguntei aos homens o que era aquilo
em francês: qu’est-ce que c’est? e apontando para as abóboras. Um deles me
respondeu: c’est peu. No sonho, eu entendi que era abóbora e eu disse: ah, c’est
l’abóbora. Eles fizeram um ar de que não entenderam, mas ficaram curiosos e
eu expliquei: à m a langue c’est abóbora. O homem que respondeu minha
pergunta não entendeu muito bem, mas o outro explicou para ele que na minha
língua materna, português, o nome era abóbora para aquele fruto. Então, o outro
entendeu e a viagem seguiu. A paisagem era bonita, mas não tanto quanto eu
achava que era. Porém, isto não me frustrou, pelo contrário, eu me sentia muito
bem e feliz no sonho por estar conhecendo novos lugares. Eu observava tudo o
que podia pra ver o que era diferente do que eu já conhecia e isto me deixava
feliz. Lembro que havia pedras no caminho, árvores, vegetação mais rasteira. A
impressão é que era um lugar meio antigo, o trem era muito confortável, mas
meio antigo também, como quando a gente assiste um filme dos anos 90 ou 80,
e tem aquela impressão que é outra época. Lembro que perguntei aos homens
quantos quilômetros era até o destino final e o mesmo que me respondeu da
abóbora me respondeu agora, mas não entendi o francês dele e não perguntei
de novo. Decidi esperar para ver sem preocupação com a distância. Eu não sabia
para qual cidade eu iria ou se mesmo estava saindo da Bélgica para outro país,
mas eu sabia que chegaria até o final da viagem. O sonho acaba comigo viajando.

Há muito a dizer sobre SE e sonhos, muito a ser investigado. Mas


quero chamar a atenção para a profunda riqueza de detalhes desta
narrativa onírica. Uma sucessão de imagens plena de sensações e
percepções organizadas que compõem uma estória que facilmente
poderia ser tomada por literatura ou um filme. Nem sempre sonhos
trazem uma narrativa tão nítida como esta. Muitas vezes, as imagens não
seguem uma ordem e o sonho parece uma bagunça. Mas o que importa é
a qualidade das imagens carregadas de minúcias e de significado. O
estudo de sonhos, SE e superdotação é um amplo campo de pesquisa
ainda inexplorado.
Por fim, algo destacado por Dąbrowski (2019) é que, para
indivíduos com elevada SE imaginativa, os maus tratos tendem a gerar u m
profundo sofrimento psíquico. Facilmente a violência psicológica ou
outro tipo gera um forte sentimento de inferioridade, o que pode levar à
busca ainda mais intensa de gratificação nas fantasias e devaneios e,
consequente, dificuldade em lidar com a realidade. Tanto a disposição
Trecho do livro “A Sobre-excitabilidade nas Altas Habilidades ou Superdotação”, de autoria de
Patricia Neumann (2022). A referida obra está em fase de revisão para publicação. Este trecho é
uma cortesia e sua reprodução está vedada.

hereditária quando as questões socioambientais e as desilusões podem


contribuir para que o indivíduo busque escapar da realidade e evitar
enfrentar as dificuldades. Para eles, o melhor caminho para seu
desenvolvimento é aquele permeado pela arte, pois ela lhes proporciona
condições de lidar com os conflitos do dia a dia e construir recursos
internos para manejar os fatos da vida.
Saliento, então, que facilmente a pessoa superdotada com SE
imaginativa pode ser vista como tendo alguma psicopatologia. Isto
porque suas criações podem ser muito destoantes e divergentes daquilo
que é comum. Este olhar negativo dos outros para as criações da pessoa
altamente imaginativa pode lhe trazer prejuízos na construção do seu
autoconceito e da sua autoestima. Para ampliar a compreensão sobre isto,
sugiro a obra literária de Coneglian (2020).

A sobre-excitabilidade Intelectual

A sobre-excitabilidade no âmbito intelectual está relacionada à


cognição. Em linhas gerais, a cognição é um processo psicológico que tem
a função de processar informações e transformá-las em conhecimento. A
cognição está em constante relação com os demais processos
psicológicos como a percepção, a atenção, a linguagem, a memória, as
emoções etc.
Algumas características são marcantes da SE intelectual como o
profundo e insaciável interesse por conhecer desde os primeiros meses
de vida. Crianças com esta sobre-excitabilidade elevada tendem a
apresentar grandes habilidades intelectuais que envolvem a agilidade em
captar, interpretar, compreender, relacionar, analisar, sintetizar,
generalizar e comunicar informações. Habilidades estas fundamentais
para desenvolver o tipo de conhecimento científico (DĄBROWSKI, 2019).
Estas crianças e, depois, adolescentes e adultas(os), olham o mundo
como sempre cheio de problemas a serem investigados e resolvidos. As
perguntas: O que é? Como é? Para que é? Por que é? faz em parte da vida
do indivíduo com esta SE. É comum que tais questionamentos emerjam
na adolescência para a maioria da população, mas nos indivíduos
superdotados já iniciam nos primeiros anos de vida (Ibid, 2019).
A sobre-excitabilidade intelectual se mostra, por exemplo, na
necessidade insaciável e inadiável de obter respostas a problemas os mais
variados. Tais respostas não podem ser simples, pois se forem, não
satisfazem a imensa curiosidade pela complexidade do mundo. Tudo
precisa ser explicado e as relações causais precisam ser elucidadas e
compreendidas profundamente. Perguntas complexas emergem logo em
crianças pequenas, perguntas que, muitas vezes, nem mesmo muitos
adultos as faz em algum dia na sua vida (Ibid, 2019). Da minha experiência
com crianças, saliento que questionamentos em torno de temas
Trecho do livro “A Sobre-excitabilidade nas Altas Habilidades ou Superdotação”, de autoria de
Patricia Neumann (2022). A referida obra está em fase de revisão para publicação. Este trecho é
uma cortesia e sua reprodução está vedada.

complexos como a morte e o sentido da vida são comuns. Tanto que


graças a tais questões, as crianças superdotadas tendem a se posicionar,
desde pequenas, perante a crença ou descrença em Deus, por exemplo.
Encontramos crianças que mostram relação íntima com a fé, sendo esta
conforme também diferentes religiões, e t ambém as que se decidem pelo
ateísmo. Tal posição dependerá se o que compreendem e sentem em
relação ao divino lhes faz ou não sentido.
Quem tem a sobre-excitabilidade imaginativa elevada se mostra
visivelmente mais sensível que os demais, pois sua percepção é mais
aguçada. Detalhes são sempre notados, o que faz com que a cognição
receba mais informações e trabalhe com elas. Outra característica própria
destes indivíduos é que eles tendem a se mostrar, desde criança,
independentes em suas ideias sobre o mundo. Tendem a confrontar
aquilo que já está posto, pois desenvolvem um pensamento próprio a
partir de suas percepções e relações. Facilmente entram em desacordo
com figuras de autoridade, principalmente se não lhes for dada a chance
de pensar por eles mesmos (Ibid, 2019).
Desde a infância, já é possível observar que existe uma percepção
mais refinada quanto às situações do mundo, que estes indivíduos criam
seus próprios métodos de resolução de problemas, que são inventivos e
originais em suas ideias, que pensam aquilo que ninguém mais pensa
naquele contexto. Eles conseguem ver a situação por outro ângulo e
propor novos caminhos. Por serem tão intensos em seu processo
cognitivo, facilmente são incompreendidos pelos demais (Ibid, 2019).
A experiência intelectual em quem tem este tipo de sobre-
excitabilidade é intensa e profunda. Estes indivíduos tendem a mergulhar
em áreas que geram angústia e sofrimento psíquico por serem indivíduos
sempre em busca de respostas e não se acomodarem com aquilo que já
alcançaram. Eles sabem que podem ir além, mesmo que isto lhes gere
momentos de mal estar. A dor do processo de conhecer é compensada
pela resolução do problema, ou seja, a fonte de prazer está em buscar
pelo conhecimento e desenvolvê-lo. É neste processo que emergem,
gradualmente, a autoconsciência e a diferenciação entre si e os outros. É
quando o indivíduo deixa de seguir aquilo que os outros querem que ele
seja para decidir o que ele m esmo quer ser (Ibid, 2019), ou seja, deixa
níveis mais inferiores de desenvolvimento para galgar os níveis mais
superiores.
Ressalto que, na superdotação, a SE intelectual é uma das mais
presentes. Ela está na base da imensa gama de interesses que a pessoa
superdotada apresenta, na sua facilidade em resolver situações-
problema, no seu amplo e rico vocabulário, no gosto pela leitura, no
elevado foco dado a um assunto de interesse, no interesse por uma ampla
gama de assuntos, no perfeccionismo, na insaciável curiosidade, no alto
nível de criatividade e no imenso prazer por aprender sempre. Além
Trecho do livro “A Sobre-excitabilidade nas Altas Habilidades ou Superdotação”, de autoria de
Patricia Neumann (2022). A referida obra está em fase de revisão para publicação. Este trecho é
uma cortesia e sua reprodução está vedada.

disso, ela está também na capacidade em fazer múltiplas relações entre


as mais variadas coisas, o que permite, muitas vezes, o desenvolvimento
de habilidades diversas como as que são requeridas pela ciência, pela arte,
pelos esportes e pela liderança. O s talentos em qualquer uma dessas áreas
ou nelas combinadas se desenvolvem justamente do nível de capacidade
em adquirir conhecimento, desenrolar habilidades e compreender a
experiência vivida, o que também envolve as sensações e as emoções.

[...] continua.

Obs. As referências constarão no livro.

Sobre a autora

Patricia Neumann tem altas habilidades em liderança e é do


tipo acadêmico-intelectual nas áreas linguística e lógico-
matemática. Soube de sua condição aos 28 anos. Tem formação
em Psicologia e em Filosofia. Fez mestrado em Educação e é
cientista nesta área. Fala oito línguas e é professora e tradutora
autodidata de quatro delas. Nas altas habilidades ou
superdotação, trabalha com identificação e avaliação,
atendimento clínico, consultoria a famílias e pessoas adultas,
formação de profissionais e redes sociais como instagrammer. Na
ciência, trabalha com pesquisa, supervisão de pesquisadoras(es),
avaliação de produção científica e consultoria para estudantes.
Seus interesses estão em torno de tudo que se refere ao ser
humano e seu crescimento pessoal e social em prol dos talentos.
Apresentação do curso
Éumagrandesatisfaçãopoderapresentarpara
pais,professores,profissionaisdaáreadasaúdee
educação,osresultadosreunidosnestecursoa
partirdosanosquetenhotrabalhandocomasaltas
habilidades/superdotaçãoapartirdascontribuições
deKazimierzDabrowski.EsperoqueDabrowski
possateajudaraveromundodeumamaneira
diferenteeexpandirhorizontes,assimcomoele
ajudaamim.Equejuntasejuntospossamos
construirnovaspossibilidadesdevida.

Profa. Patrícia Neumann


Conteúdo:

INTRODUÇÃO AO SOBRE- SOBRE-


TEMA EXCITABILIDADE EXCITABILIDADE
PSICOMOTORA SENSORIAL

SOBRE- SOBRE-
EXCITABILIDADE EXCITABILIDADE
IMAGINATIVA INTELECTUAL

Metodologia:

o 3 encontros ao vivo
o 5 aulas gravadas
o Grupo de whats com a professora;
o Textos selecionados sobre o tema;
o 3 meses de acesso
Interação ao vivo
Teremos 3 encontros especiais
com a professora Patricia
Neumann, comduração média de
duas horas, e será de 20 h (horário
Brasília).
Encontro 1: 13 de julho de 2022
Encontro 2: 20 de julho de 2022
Encontro 3:27 de julho de 2022

•Publico Alvo:profissionais da saúde e de


educação, bem como pais e interessados
pela área.
•Carga Horária:30 horas de estudo

•Período de acesso as aulas e gravações:


90 dias
•Certificado:Emitido pela Sapiens/Genus
Informações e inscrições:
https://cursos.institutogenus.com.br/sobre-
excitabilidade-nas-altas-habilidades

Telefones de contato:

43 9986-2915 (Ana)

43 9614-2228

(Bruno)

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