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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2020.0000697758

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal nº


0000460-26.2018.8.26.0076, da Comarca de Bilac, em que são apelantes GABRIEL
FAGNER DOSPIRE, CLEBER ALCÂNTARA DA SILVA, WANDERSON VITOR
ELIZEU DE ARAÚJO e ANDERSON OLERIANO FRACA DE SOUZA, é apelado
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 4ª Câmara de Direito


Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Rejeitadas as
preliminares, deram parcial provimento ao recurso de apelação interposto por
Wanderson Vitor Elizeu de Araújo, apenas para reduzir a sua pena ao patamar de
07 (sete) anos e 1 (um) mês de reclusão, no regime inicial fechado, mais pagamento
de 17 (dezessete) dias-multa, no valor unitário mínimo e negaram provimento aos
recursos de apelação interpostos pelos réus Cleber Alcântara da Silva, Gabriel
Fagner Dospire e Anderson Oleriano França de Souza, mantendo, no mais, a r.
sentença recorrida por seus próprios e jurídicos fundamentos. V.U., de
conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores CAMILO LÉLLIS


(Presidente) e EUVALDO CHAIB.

São Paulo, 31 de agosto de 2020.

ROBERTO PORTO
Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Apelação Criminal com Revisão nº 0000460-26.2018.8.26.0076


Apelantes: Cleber Alcântara da Silva, Gabriel Fagner Dospire,
Wanderson Vitor Elizeu de Araújo e Anderson Oleriano França de
Souza
Apelado: Ministério Público
Comarca de Bilac Vara Única
Juiz: João Alexandre Sanches Bagatelo

Voto nº 8.016

APELAÇÃO Roubo majorado pelo concurso de


agentes, emprego de arma de fogo e restrição de
liberdade das vítimas Recurso da defesa
Preliminar Cerceamento de defesa Improcedência
Ampla defesa e contraditório garantidos Prova da
alegação que incumbe ao réu art. 156, CPP Mídias
íntegras, sem qualquer defeito técnico e plenamente
audíveis Mérito Absolvição Improcedência
Materialidade e autoria demonstradas Depoimentos
das vítimas e testemunhas suficientes para justificar
o édito condenatório Participação de menor
importância em relação ao réu Anderson
Inocorrência Réu que contribuiu ativamente para a
prática delitiva Desclassificação para o crime de
receptação em relação ao réu Gabriel Descabimento
Provas robustas que demonstram que o acusado foi
um dos agentes do roubo Vítimas que o
reconheceram com absoluta certeza, tanto na
Delegacia, quanto em Juízo Imagens da câmara de
segurança que constatam a presença de Gabriel na
ação delitiva Restrição da liberdade das vítimas
bem caracterizada Concurso bem reconhecido
Majorante do emprego de arma comprovada pela
prova oral Desnecessidade de apreensão e perícia do
artefato Condenação de rigor Dosimetria Penas-
base fixadas em 1/4 acima do mínimo legal em razão
da personalidade, das circunstâncias, e das
consequências do crime Manutenção
Circunstância agravante da reincidência afastada
apenas em relação ao réu Wanderson Demais
circunstâncias agravantes bem reconhecidas e
mantidas Pena aumentada de 5/12, em razão da
presença de três majorantes Regime inicial fechado
mantido Roubo praticado em comparsaria, com
restrição de liberdade e emprego de arma Aplicação
do art. 387, § 2º, CPP não acolhida Recursos

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desprovidos.

Trata-se de apelações interpostas contra a r.


sentença de fls. 924/950 que julgou procedente a ação penal movida
em face de Cleber Alcântara da Silva, Gabriel Fagner Dospire,
Wanderson Vitor Elizeu de Araújo e Anderson Oleriano França de
Souza para condenar Cleber, Gabriel e Wanderson ao cumprimento
das penas de 10 (dez) anos, 07 (sete) meses e 15 (quinze) dias de
reclusão, no regime inicial fechado, mais pagamento de 25 (vinte e
cinco) dias-multa, no valor unitário mínimo, e Anderson ao
cumprimento das penas de 08 (oito) anos, 03 (três) meses e 05 (cinco)
dias de reclusão, no regime inicial fechado, mais pagamento de 19
(dezenove) dias-multa, no valor unitário mínimo, como incursos no art.
157, §2º, incisos I, II e V, do Código Penal, com redação anterior (por
ser mais benéfica aos réus) às alterações trazidas pela Lei nº
13.654/18.

Inconformada, recorre a defesa do réu


Anderson pugnando, preliminarmente, pelo cerceamento de defesa,
uma vez que não conseguiu acessar as mídias. No mérito, requer a
absolvição por não ter o apelante participado da ação penal.
Subsidiariamente, requer o reconhecimento da participação de menor
importância e a redução da pena aplicada (fls. 1.019/1.030).

Por sua vez, o réu Cleber pugna pela redução


da pena-base, bem como pelo afastamento da majorante de arma de
fogo (fls. 1.031/1.036).

A defesa de Gabriel postula, preliminarmente,


pelo cerceamento de defesa, uma vez que não foram empregadas
diligências a fim de comprovar o seu álibi. No mérito, pleiteia a
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absolvição do réu por insuficiência probatória, ou, caso não seja o


entendimento, a desclassificação para o delito de receptação.
Subsidiariamente, requer a redução da pena fixada e a aplicação da
detração penal (fls. 1.081/1.098).

Por fim, recorreu a defesa do réu Wanderson,


pugnando pela redução da reprimenda fixada (fls. 1.121/1.123).

Os recursos foram regularmente processados,


com contrariedade oferecida pelo Ministério Público, que pugna por
seus desprovimentos (fls. 1.128/1.131).

A Procuradoria de Justiça opinou pelo parcial


provimento ao recurso de Wanderson, negado provimento aos demais
recursos (fls. 1.182/1.211).

É o relatório.

Inicialmente, diversamente do sustentado nas


razões recursais do réu Gabriel e do apelante Anderson, não ocorreu o
alegado cerceamento de defesa.

Primeiramente, cumpre registrar que não cabe


ao judiciário empregar as diligências necessárias a fim de comprovar o
álibi suscitado por Gabriel, mas sim, ao réu, despender esforços para
demonstrar a sua alegação de que não estava no local dos fatos.

Verifica-se que Gabriel não comprovou


inequivocamente a sua alegação, mesmo que oportunizado o
contraditório e ampla defesa. Vale lembrar, ainda, que o ônus da prova
do fato narrado na denúncia, em regra, é da acusação, no entanto, a
prova da alegação incumbe a quem a fizer, nos termos do artigo 156,

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caput, do Código de Processo Penal.

Por fim, ao contrário do que alega a defesa de


Anderson, anoto que os interrogatórios dos réus, bem como os
depoimentos das testemunhas, estão disponíveis em mídia audiovisual,
a qual se apresenta íntegra, sem qualquer defeito técnico e plenamente
audível. Diante disso, não há que se falar em cerceamento de defesa.

Rejeitam-se, pois, as preliminares arguidas pela


defesa de Gabriel e Anderson.

No mérito, o pleito defensivo de Wanderson


comporta parcial acolhimento, já, os demais, não comportam
acolhimento.

Consta dos autos que, no dia 01 de março de


2018, por volta das 20:30 horas, na Rua Vicente Felício Primo, nº 723,
na cidade de Bilac-SP, Cleber Alcântara da Silva, Gabriel Fagner
Dospire, Wanderson Vitor Elizeu de Araújo e Anderson Oleriano
França de Souza, agindo em concurso, mediante grave ameaça às
pessoas, exercida com o emprego de arma de fogo e com restrição da
liberdade das vítimas, subtraíram, para eles, um veículo
Nissan/Frontier 4x4 SE, placas DGC-0869, Água Clara/MS e sua
CRLV; uma televisão de 55 polegadas, cor preta, Led Smart TV; uma
televisão de 49 polegadas, cor preta, Led Smart TV; um bebedouro de
inox, tamanho médio, adaptado em torneira; uma pulseira tipo
corrente, larga, de ouro; uma pulseira estreita, de ouro; um anel de
ouro, chapeado; uma corrente tipo gargantilha, prateada; dois anéis
dourados e uma aliança com brilhantes; um modem da operadora
VIVO, cor branca; vinte shorts, de marcas e cores variadas e demais
objetos avaliados, direta e indiretamente, perfazendo um montante de

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R$ 54.070,00 (cinquenta e quatro mil e setenta reais), tudo pertencente


às vítimas José Aires Fabre e Yvone Rosseto Fabre, moradores da
residência assaltada.

Consta dos autos que a vítima José, em um


momento de lazer, encontrava-se sentado em frente à sua residência,
manuseando seu celular, quando ouviu alguém dizer “agora”, sendo
que, logo em seguida, foi agarrado por um rapaz alto, sendo-lhe retirado
o celular das mãos, tendo sua boca tapada com a camiseta que estava
em seu próprio ombro.

Ato contínuo, José foi levado ao interior da


residência e colocado sentado no sofá, junto de sua esposa, Ivone,
momento que percebeu que os outros dois homens que acompanhavam
o primeiro malfeitor já estavam no interior da casa; todos os três foram
reconhecidos posteriormente pelos vitimados, por fotografia, como
sendo Cleber, Gabriel e Wanderson.

Em seguida, mediante grave ameaça (à vista de


uma arma de fogo), Wanderson manteve José e Ivone sob sua
vigilância, sempre lhes ordenando que não olhassem para eles e que
mantivessem silêncio, enquanto Cleber e Gabriel percorriam o imóvel
em busca de objetos de valor a serem amealhados.

Após algum tempo, José e Ivone foram levados


para um quarto da residência e lá permaneceram trancados. À medida
que os apelantes reviravam a casa, as vítimas eram trocadas de quarto
e, novamente, levadas à sala, conforme os cômodos do domicílio iam
sendo vasculhados pelos assaltantes, os quais, também, alternavam a
vigilância sobre o casal.

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Nessa empreitada foram roubados os objetos,


joias, eletroeletrônicos e o automóvel já inicialmente mencionados. Logo
após, colocaram todos os itens no interior da camionete
Nissan/Frontier, veículo esse com o qual o quarteto roubador
empreendeu fuga.

Em evidente repartição de tarefas, o quarto


roubador, Anderson, ficou responsável pela vigilância e fuga dos demais
comparsas, já que reconhecido por Antônio Roberto Teofilo de Sousa e
Leonardo Sperandio Furlanetti, como sendo a pessoa que, dirigindo a
citada camionete (acompanhado de Gabriel e mais pessoas), foi em
busca de Leonardo, a fim de que ele guardasse o veículo em um terreno
de sua propriedade (sob a “desculpa” do automóvel estar com defeito).

Assim sendo, pois, tem-se que Cleber, Gabriel,


Wanderson e Anderson manifestaram comportamento que se
subsumiu à conduta típica do roubo qualificado, pelas graves ameaças
exercidas com emprego de arma de fogo, pelo concurso de agentes, e
pela restrição da liberdade das vítimas.

A materialidade do delito ficou demonstrada


pelos boletins de ocorrência (fls. 12/14, 15/17, 18/21, 22/23, 24/25,
49/51, 136/137, 150/152 e 167/168; pela pesquisa do Detran (fl. 26);
pelos autos de recolhimento fotográfico (fls. 29, 32/33 e 47); pelos
autos de reconhecimento de pessoa (fls. 120/121 e 122/123); pelas
fotografias (fls. 34/36 e 48); pelo auto de exibição, apreensão e entrega
(fl. 39); pelos autos de exibição e apreensão (fls. 44, 140 e 155/156);
pelos autos de avaliação (fls. 112/116); pelos laudos periciais (fls.
185/198, 199/204 e 772/775); pela ficha de atendimento ambulatorial
(fls. 205/206); pela carta do réu Gabriel remetida à vítima Ivone e as

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declarações da vítima José à Promotoria de Justiça (fls. 444/445 e


447); pelo laudo do IML da vítima José (fls. 781/782); pelo auto de
entrega (fls. 783/784); bem como pelas provas orais amealhadas aos
autos.

A autoria é incontroversa.

Interrogado judicialmente, o réu Cleber


Alcântara da Silva confessou a prática delitiva. Contou que, estava em
um depósito de bebidas no Bairro Lago Azul, quando o corréu
Wanderson apareceu com um carro, de cor escura, e o chamou para
“fazer dinheiro”. Disse que, juntamente com Wanderson e um outro
indivíduo que não conhecia, pegaram uma arma de brinquedo e foram
para Bilac. Informou que, ao chegar em Bilac, passaram pela casa das
vítimas, que estava com o portão aberto, e entraram na residência.
Confirmou que renderam as vítimas e subtraíram: duas televisões; um
celular; um notebook e outros objetos. Disse que subtraíram, também,
uma camionete. Em seguida, narrou que retornaram para Araçatuba,
em posse dos bens subtraídos. Declarou que dirigiram para uma praça
do bairro Lago Azul, onde encontraram o corréu Gabriel. Informou que,
nessa ocasião, Gabriel comprou a camionete de propriedade das vítimas
por R$ 1.000,00. Confirmou que o corréu Anderson, vulgo “Polenta”,
também estava nessa praça. Esclareceu que Anderson e Gabriel foram
guardar a camionete na casa de um indivíduo de nome Leonardo, perto
do Bairro Jussara. Disse que não chegou a comentar com Gabriel que
havia roubado a camionete, mas acredita que ele sabia. Negou que
Anderson e Gabriel tenham participado do roubo. Afirmou que
renderam as vítimas, que foram colocadas no sofá da residência. Negou
que as vítimas foram amarradas, trancadas ou agredidas. Informou que
permaneceram na residência por, aproximadamente, meia hora (mídia

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digital - fls. 647).

Por outro lado, o corréu Gabriel Fagner


Dospire, interrogado em juízo, negou a participação no roubo. Alegou
que guardou a camionete na casa de um amigo, mas não roubou o
veículo. Contou que comprou a camionete de Cleber, por R$ 1.000,00,
pois ele precisava de dinheiro. Afirmou que Cleber lhe disse que a
camionete era produto ilícito, mas ele não disse que era produto de
roubo. Informou que, no dia dos fatos, estava na pracinha do Bairro
Lago Azul, bebendo em um depósito de bebidas, juntamente com
Antônio, vulgo “Paraíba” (mídia digital - fls. 646).

O apelante Wanderson Vitor Elizeu de Araújo


confessou a prática do delito, revelando que praticou o roubo contra as
vítimas, juntamente com o corréu Cleber e um outro indivíduo que não
sabe o nome. Confirmou o emprego de arma de fogo e a restrição de
liberdade das vítimas. Esclareceu que entrou na residência e revirou-a
para ver se encontrava alguma coisa de valor. Afirma que usou uma
arma de brinquedo durante o crime. Negou que as vítimas foram
amarradas e agredidas. Contou que pegaram os objetos e foram embora
(fls. 701 mídia digital).

Por fim, o corréu Anderson Oleriano França


de Souza, embora devidamente ciente da acusação, deixou de
comparecer em juízo para apresentar sua versão sobre os fatos, sendo
declarado revel (fls. 533/534).

A vítima José Aires Fabre, em seu depoimento


judicial, declarou que, no dia dos fatos, estava sentado na calçada de
sua casa, mexendo no celular, quando, por volta de 20:30 horas, ouviu
alguém dizer “é agora” e, em seguida, um rapaz agarrou em sua mão,

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arrancando o celular, enquanto um segundo rapaz tampou a sua boca


com a sua própria camiseta, que estava sobre seu ombro, e o arrastou
para o interior da casa. Informou que eram três assaltantes e todos
entraram na casa. Contou que foi colocado no sofá com a sua esposa
Ivone. Informou que apenas um dos assaltantes, que era branco, magro
e o menor deles, portava arma de fogo, sendo uma pistola preta ou
cinza. Esclareceu que permaneceu na presença desse agente, enquanto
os outros dois faziam uma varredura no imóvel, sempre ameaçando
para que não olhassem para eles e não conversassem. Declarou que,
após algum tempo, ele e a esposa foram levados para um quarto da
casa e depois para outro, onde foram trancados e, posteriormente,
levados para a sala. Informou que acredita que tenham feito isso para
revirar o quarto onde estavam anteriormente. Informou que antes de
deixarem a casa, os assaltantes carregaram a camionete de sua
propriedade com os objetos subtraídos. Disse que ele e sua esposa
foram levados até um outro quarto e os assaltantes mandaram que
saíssem de lá somente meia hora depois, mas, assim que ouviu o
barulho da camionete saindo da garagem, acionou a polícia militar.
Ainda, afirmou que foram subtraídos todos os objetos descritos na
denúncia; que lesionou a mão direita e o braço esquerdo, quando foi
abordado; e que, reconheceu, na Delegacia e em Juízo, com absoluta
certeza, os apelantes Gabriel, Cleber e Wanderson. Disse que Gabriel foi
aquele que o abordou inicialmente, que Wanderson era o que portava
arma de fogo e que Cleber permaneceu o tempo todo revirando a casa e
coordenando o roubo. Acrescentou que Cleber estava usando uma
bermuda do declarante quando foi preso. Por fim, afirmou que viu
apenas 03 assaltantes, mas acredita que havia um quarto agente no
carro, pois Wanderson sempre conversava, através do celular, com uma
outra pessoa (fls. 535/536).

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A vítima Ivone Rosseto Fabre, em juízo,


esclareceu que, no dia dos fatos, por volta de 20:30 horas, estava
deitada no sofá de sua casa, quando três indivíduos entraram em sua
residência. Informou que o réu Wanderson, de cor branca, baixo e
magro, apontou a arma de fogo, uma pistola, em direção a ela, dizendo
para ter calma que aquilo era um assalto, que não era para gritar senão
matariam eles e que queriam dinheiro, o cofre e joias. Narrou que, em
seguida, o acusado Gabriel, alto, forte e moreno, trouxe seu marido
para o interior da casa e prenderam-no junto com ela em um dos
quartos. Afirmou que foram trancados em um dos quartos pelo réu
Wanderson, que voltava repetidas vezes para vigiá-los. Informou que,
algum tempo depois, foram levados e trancados em outro quarto.
Acrescentou que mais algum tempo se passou até que o acusado
Wanderson foi até o quarto e mandou que saíssem de lá somente meia
hora depois. Contou que os assaltantes partiram na camionete,
momento em que ela e seu marido saíram do quarto, constatando que
os agentes haviam subtraído diversos objetos da casa. Reconheceu, na
Delegacia e em Juízo, com absoluta certeza os acusados Gabriel, Cleber
e Wanderson. Esclareceu que Wanderson é o assaltante branco, baixo
e magro, que portava a arma de fogo; Gabriel o assaltante mais alto, de
cor parda, que a manteve, junto com seu marido na sala da casa; e
Cleber o assaltante alto, moreno claro, que coordenou toda a ação,
liderando os demais. Por fim, disse que acredita que havia uma quarta
pessoa junto com eles, pois Wanderson falava no celular o tempo todo
com outra pessoa (fls. 539/540).

Como é cediço, nesse tipo de delito, geralmente


cometido longe de testemunhas, as palavras das vítimas revestem-se de
relevante valor probatório, dado o contato direito que tiveram com os

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agentes criminosos.

Nesse sentido:

“PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO


REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
ROUBO QUALIFICADO. AUTORIA. SÚMULA N. 7/STJ.
PALAVRA DA VÍTIMA. RELEVÂNCIA. PRECEDENTE.
AGRAVO DESPROVIDO. (...) "A palavra da vítima, nos
crimes às ocultas, em especial, tem relevância na
formação da convicção do Juiz sentenciante, dado o
contato direto que trava com o agente criminoso" (HC
143.681/SP, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Quinta
Turma, DJe 2.8.2010). Agravo regimental desprovido.”
(STJ, HC AgRg no AREsp 482281/BA, 6ª Turma, Min.
Marilza Maynard (Des. conv. TJ/SE), jg. 06/05/2014,
DJe 16/05/2014).

Ademais, todas as vítimas reconheceram


prontamente e com absoluta certeza, tanto na Delegacia, quanto em
Juízo, os réus Gabriel, Wanderson e Cleber como sendo os autores do
roubo em questão.

Não obstante, as palavras das vítimas foram


corroboradas pelos depoimentos das testemunhas ouvidas em Juízo.
Vejamos:

O policial civil Paulo Cesar da Silva, ouvido em


juízo, disse que no dia dos fatos estava em serviço, quando foi
notificado do roubo. Contou que, ao chegarem no local dos fatos, foram
informados, pela vítima José, de que ele estava sentado na calçada de

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sua casa, quando foi surpreendido por 03 indivíduos, todos


encapuzados e trajando roupas escuras, sendo que um deles portava
uma arma de fogo, aparentando ser uma pistola, na cor preta. Foi
informado de que um dos assaltantes segurou José Aires pelo braço e
conduziu-o para dentro da casa. Contou que os assaltantes subtraíram
vários objetos da residência e colocaram dentro da camionete da vítima,
uma Nissan Frontier. Confirmou que os roubadores colocaram José
Aires e sua esposa Ivone em um dos quartos da casa, ameaçando-os,
dizendo para saírem de lá somente meia hora depois, senão voltariam
para matá-los. Ratificou que os agentes fugiram do local com os objetos
subtraídos e a camionete. Por fim, informou que algum tempo depois, a
camionete foi localizada na cidade de Araçatuba-SP e restituída à vítima
José Aires (fls. 541/542).

No mesmo sentido foi o depoimento do policial


militar Fernando Zanardelli (fls. 543/544).

Sabe-se que as palavras dos milicianos na fase


inquisitiva, como a de qualquer testemunha, não estão sujeitas às
garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa, por cuidar
o inquérito policial de procedimento meramente informativo. Todavia,
não menos verdade é que, no caso em testilha, foram ouvidos em Juízo
e, nesta oportunidade, cuidou-se de observar todas as garantias
inerentes ao devido processo legal.

Sendo assim, descabe afastar a validade dos


depoimentos dos policiais militares com fundamento, tão-somente, na
respectiva condição funcional, já que foram submetidos ao contraditório
como qualquer outra testemunha. Ademais, seria um contrassenso o
Estado dar-lhes crédito para atuar na prevenção e repressão da

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criminalidade e negar-lhes esse mesmo crédito quando, perante o


Estado-juiz, dão conta das suas atividades.

De resto, é de maciça jurisprudência, prolatada


inclusive pelas Cortes Superiores:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL. ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO.
ABSOLVIÇÃO. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO DO
ACERVO FÁTICO-PROBATÓRIO. INCIDÊNCIA DA
SÚMULA N. 7 DO STJ. DEPOIMENTO DE AGENTE
POLICIAL COLHIDO NA FASE JUDICIAL. CONSONÂNCIA
COM AS DEMAIS PROVAS. VALIDADE. RECURSO NÃO
PROVIDO. 1. As instâncias ordinárias, após toda a
análise do conjunto fático-probatório amealhado aos
autos, concluíram pela existência de elementos concretos e
coesos a ensejar a condenação do ora agravante pelo
crime de associação para o tráfico, de modo que, para se
concluir pela insuficiência de provas para a condenação,
seria necessário o revolvimento do suporte fático-
probatório delineado nos autos, procedimento vedado em
recurso especial, a teor do Enunciado Sumular n. 7 do
Superior Tribunal de Justiça. 2. São válidas como
elemento probatório, desde que em consonância com as
demais provas dos autos, as declarações dos agentes
policiais ou de qualquer outra testemunha. Precedentes. 3.
Agravo regimental não provido. (STJ, AgRg no AREsp
875769/ES, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta
Turma, j. 07/03/2017).

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No mais, a testemunha Antônio Roberto


Teófilo de Souza (“Paraíba”), em juízo, revelou que, no dia dos fatos,
estava bebendo em um bar com seu amigo Leonardo até umas 10 horas
da noite. Informou que, no dia seguinte, ficou sabendo que Leonardo, a
pedido de um amigo, tinha guardado na oficina dele um carro que havia
sido roubado na cidade Bilac. Afirmou que conhecia o réu Gabriel
(mídia digital - fls. 573).

A testemunha Leonardo Sperandio Furlanetti,


por sua vez, disse, em juízo, que conhecia o acusado Gabriel e, em certa
ocasião, ele ligou pedindo para deixá-lo guardar um veículo, que estava
com problemas, em um terreno que seu pai tinha no Bairro Jussara,
com o que concordou. Afirmou que, na ocasião dos fatos, estava junto
com Antônio. Disse que Gabriel estava na companhia de uma pessoa
que não conhecia, mas que tinha o apelido de “Polenta”. Contou que era
uma camionete de cor cinza. Por fim, disse que não sabia que a
camionete era produto de crime (mídia digital fl. 574).

Por fim, a testemunha de defesa Leonardo


Eugênio Dias, em nada contribuiu para a elucidação dos fatos, pois
limitou-se a afirmar que conhece Gabriel e Cleber (fl. 615 mídia
digital).

Assim, diante dos elementos colhidos durante a


instrução processual, não devem subsistir as teses que buscam a
absolvição dos réus Gabriel e Anderson.

Verifica-se que, além das vítimas terem


reconhecido o réu Gabriel, com absoluta certeza, tanto em Juízo,
quanto na Delegacia de Polícia, há prova cabal de sua participação no
roubo, inclusive com imagens das câmeras de segurança.

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Nas imagens, Gabriel é o último a chegar na


casa das vítimas, tendo primeiro ali ingressado o corréu Wanderson,
acompanhado de Cléber. De acordo com as provas dos autos, Gabriel
agrediu a vítima José Aires, dando-lhe uma gravata e pegando o celular
das mãos dele. Constata-se que Gabriel é o último a entrar na casa,
levando a vítima José Aires consigo e, ainda, alguns minutos depois,
retorna à frente da casa (transcrição da mídia de fls. 185/198 e
filmagem em mídia).

Também não deve subsistir a tese de


desclassificação do delito para o tipo penal previsto no art. 180, caput,
do Código Penal, em relação ao réu Gabriel.

Isso porque restou comprovado que Gabriel


participou do roubo, não só pelas imagens das câmeras de segurança,
como também pelas palavras da vítima.

Em verdade, não adquiriu o veículo da vítima


sabendo tratar-se de produto ilícito, pelo contrário, participou de toda a
ação delitiva, subtraindo os bens dos ofendidos e, posteriormente, junto
à Anderson, tentou ocultar o bem roubado.

Quanto ao réu Anderson, restou evidenciada


sua participação no crime.

As vítimas foram categóricas ao afirmar que


havia um quarto participante no assalto, pois o réu Wanderson
conversava com ele pelo celular.

Antônio viu os acusados Gabriel e Anderson


com a camionete da vítima, logo após o crime, veículo esse que foi
deixado no terreno de propriedade de Leonardo.

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Ainda, em juízo, a testemunha Leonardo


confirma o relato da testemunha Antônio Roberto, demonstrando a
participação de Anderson no assalto. Na ocasião, contou que Anderson,
na companhia de Gabriel, solicitou um local para guardar o veículo
roubado.

Assim, as testemunhas Antônio e Leonardo


viram o acusado Anderson, vulgo “Polenta”, na companhia do corréu
Gabriel e confirmaram que ambos deixaram o veículo na garagem do
genitor de Leonardo. A camionete era pilotada por Anderson na ocasião,
demonstrando que era o assaltante responsável pela fuga.

Clara está, portanto, a participação do corréu


Anderson no crime, sendo certo que ele permaneceu em um veículo, na
esquina da casa das vítimas, vigiando o local e protegendo os demais
comparsas, enquanto acontecia o roubo e, posteriormente, dirigiu a
camionete de José Aires até o terreno de propriedade do pai da
testemunha Leonardo, a fim de escondê-la.

Cumpre mencionar, por oportuno, que não há


como acolher a tese de participação de menor importância em relação
ao réu Anderson, isso porque, embora não tenha adentrado na
residência, todos os acusados, em comparsaria, ou seja, com divisão de
tarefas e alinhamento subjetivo, contribuíram para a prática da ação
delitiva, tanto é assim que Anderson, ainda que do lado de fora, foi
imprescindível para garantir que a prática delitiva lograsse êxito,
contribuindo, com a fuga dos réus, bem como com a ocultação do
veículo roubado.

Diante disso, todos são responsáveis e devem


ser penalizados pela execução do crime como um todo. Todos, mediante

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uma única ação, com emprego de arma de fogo e restrição de liberdade


das vítimas, atingiram o patrimônio das vítimas, pouco importando
quem realizou o que na ação delitiva.

Registra-se, ainda, que não há nos autos


qualquer evidência de que as vítimas, os policiais e as testemunhas
tivessem qualquer interesse em prejudicar os acusados, imputando-
lhes a prática de conduta definida como crime de natureza gravíssima.

No mais, caracterizada a grave ameaça,


exercida com emprego de arma de fogo, uma vez que as vítimas, na fase
judicial, narraram que Wanderson portava uma arma de fogo,
semelhante a uma pistola, de cor cinza/preta.

Diante disso, não há que se falar no


afastamento da majorante do emprego de arma de fogo, pois, ainda que
o artefato não tenha sido apreendido e periciado, sua utilização na
empreitada criminosa pôde ser comprovada nos autos pelos relatos dos
ofendidos, sendo este suficiente para a caracterização da majorante.

Aliás, neste ponto, não prospera a alegação


trazida pelos réus Cleber e Wanderson de que estariam na posse de
réplica de arma de fogo. Isso porque, não trouxeram prova dessa
alegação, lembrando que o ônus da prova do fato narrado na denúncia,
em regra, é da acusação, no entanto, a prova da alegação incumbe a
quem a fizer, nos termos do artigo 156, caput, do Código de Processo
Penal.

A causa de aumento pela restrição da liberdade


das vítimas também restou caracterizada pela prova produzida nos
autos. Repisa-se que as vítimas, em juízo, confirmaram que ficaram

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presas em um dos quartos da residência para que os roubadores


subtraíssem os seus bens, tendo trocado apenas de cômodo para que
os réus revirassem o lugar em que estavam anteriormente. Ademais, o
próprio réu Cléber confessou que a ação durou, aproximadamente, 30
minutos.

Por fim, ficou demonstrado, ao longo da


instrução, que os acusados agiram em concurso na prática do crime,
dado que as vítimas foram claras ao relatar que Cleber, Gabriel e
Wanderson adentraram a residência, enquanto um quarto indivíduo,
que constatou-se ser Anderson, ficou responsável pela fuga pois, a todo
tempo, conversava com Wanderson pelo celular.

Outrossim, os próprios réus Cleber e


Wanderson, em juízo, confessaram a prática do delito com mais de um
indivíduo.

Consequentemente, diante do robusto conjunto


probatório amealhado aos autos, confirmando os fatos descritos na
denúncia, as condenações de Cleber Alcântara da Silva, Gabriel
Fagner Dospire, Wanderson Vitor Elizeu de Araújo e Anderson
Oleriano França de Souza pelos crimes de roubo majorados pelo
concurso de agentes, emprego de arma de fogo e restrição de liberdade
das vítimas, era mesmo medida de rigor.

No tocante à dosimetria da pena, pequeno


reparo a ser feito.

Primeiramente, em relação a todos os réus,


cumpre mencionar que bem fixada a pena-base acima do mínimo legal.
Repisa-se que os acusados demonstraram personalidade deturpada e
agressiva, causando grande temor nas vítimas. Ainda, a ação delitiva

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causou grande prejuízo aos ofendidos. Dessa forma, a personalidade


dos agentes, as circunstâncias e as consequências do crime, autorizam
tal exasperação.

Portanto, observadas as diretrizes do art. 59 do


Código Penal, em especial a audácia e a acentuada reprovabilidade dos
increpados, a pena-base comporta exasperação na fração de 1/4,
resultando em 05 (cinco) anos de reclusão, mais o pagamento de 12
(doze) dias-multa, no valor unitário mínimo.

Cumpre mencionar, ainda, que, em relação ao


réu Anderson, o d. Magistrado “a quo” não valeu-se de qualquer
processo em andamento para majorar a pena-base, tendo-a exasperado
com base nos mesmos fundamentos utilizados para os demais réus.

Na segunda fase, para o réu Anderson,


presente a agravante prevista no art. 61, inciso II, alínea “h”, do Código
penal, a pena foi aumentada em 1/6, resultando em 05 (cinco) anos e
10 (dez) meses de reclusão, e 14 (quatorze) dias-multa, no mínimo legal.

Já, para os réus Cleber e Wanderson, a


agravante do crime praticado contra idoso (art. 61, inciso II, alínea “h”,
do CP) foi integralmente compensada com a atenuante da confissão
espontânea. Em seguida, as penas foram aumentadas da metade, tendo
em conta a reincidência específica (fls. 386/388 e 391/393) de ambos,
resultando em 07 (sete) anos e 06 (seis) meses de reclusão, mais
pagamento de 18 (dezoito) dias-multa, no valor unitário mínimo.

Contudo, em relação a Wanderson, embora de


acordo com a certidão de fls. 391/393 de fato ele ostente condenação
definitiva por roubo (autos nº 0006237-32.2015.8.26.00327), tal

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condenação, conforme consta em consulta ao E-saj, teve trânsito em


julgado em data posterior ao crime tratado nestes autos, de modo que
não seria possível reconhecer a reincidência. Por outro lado, nos autos
nº 0005068-20.2009.8.26.0032 (fls. 391) houve extinção da
punibilidade da pena restritiva de direitos em 20 de março de 2011 (fls.
374), afastada, alguns anos depois, o caráter penal da pena de multa
(fls. 374), e nos autos nº 0010423-40.2011.8.6.0032 foi absolvido em
segundo instância, sendo forçoso reconhecer que não se trata de réu
reincidente, devendo ter afastado o aumento por tal fundamento.

Assim, nesta fase, quanto ao réu Wanderson,


mantenho a pena no patamar de 05 (cinco) anos de reclusão, mais o
pagamento de 12 (doze) dias-multa, no valor unitário mínimo.

Já, quanto ao réu Cleber, cumpre mencionar,


ainda, que bem aplicada a majoração de ½, tendo em vista que a
reincidência, por ser específica, autoriza o aumento da pena em maior
patamar.

Por fim, em relação ao réu Gabriel, a pena foi


aumentada de ½ em razão da agravante da reincidência (fls. 289/390) e
da agravante prevista no art. 61, inciso II, alínea “h”, do Código Penal,
resultando em 07 (sete) anos e 06 (seis) meses de reclusão, mais
pagamento de 18 (dezoito) dias-multa, no valor unitário mínimo.

Na última fase da dosimetria, reconhecidas as


majorantes do concurso de agentes, do emprego de arma de fogo e da
restrição de liberdade das vítimas, o d. Magistrado, corretamente,
aumentou a pena de todos os réus no patamar de 5/12, perfazendo,
definitivamente, para Anderson, a pena de 08 (oito) anos, 03 (três)
meses e 05 (cinco) dias de reclusão, e pagamento de 19 (dezenove) dias-
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multa, no valor mínimo legal; para Wanderson, a pena de 07 (sete) anos


e 1 (um) mês de reclusão, e pagamento de 17 (dezessete) dias-multa, no
mínimo legal; e, para Cleber e Gabriel, a pena de 10 (dez) anos, 07
(sete) meses e 15 (quinze) dias de reclusão, e pagamento de 25 (vinte e
cinco) dias-multa, no piso.

Ressalto que o i. Magistrado bem justificou o


acréscimo aplicado nesta derradeira fase, pois, com fundamento na
redação anterior às alterações trazidas pela Lei nº 13.654/18, fixou a
fração de aumento levando em consideração a quantidade de
majorantes presentes. Assim, tendo em conta que no total existem
cinco causas de aumento no crime de roubo, quando presente apenas
uma delas, deve-se impor o aumento mínimo (1/3); duas, o aumento de
três oitavos (3/8); três, cinco doze avos (5/12); quatro, onze vinte e
quatro avos (11/24); e cinco, o máximo (1/2).

Ausentes os requisitos do art. 44, do Código


Penal, dada a grave ameaça empregada na ação criminosa, os acusados
não fazem “jus” a substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos.

O regime fechado é de rigor, tendo em vista não


só o total da pena aplicada, como também que o roubo foi praticado em
concurso de agentes, com o emprego de arma e restrição de liberdade
às vítimas, circunstâncias reveladoras da ousadia e periculosidade dos
réus, externando a gravidade concreta da conduta dos acusados e
justificando o necessário recrudescimento estatal, que reflete no regime
prisional imposto, nos termos do artigo 33, § 3º, do Código Penal.

Não é o caso, ainda, de ser aplicada a regra

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prevista no §2º, do art. 387, do Código de Processo Penal, conforme


requer a defesa do réu Gabriel, porquanto a imposição do regime
fechado não se deu exclusivamente em razão do total da pena, mas sim
pela análise das circunstâncias fáticas do delito.

Ademais, eventual pedido de progressão de


regime prisional deverá ser direcionado ao Juízo das Execuções, que é o
competente para analisá-lo, nos termos do artigo 66, III, da LEP.

Ante o exposto, pelo meu voto, rejeitadas as


preliminares, DÁ-SE PARCIAL PROVIMENTO ao recurso de apelação
interposto por Wanderson Vitor Elizeu de Araújo, apenas para reduzir
a sua pena ao patamar de 07 (sete) anos e 1 (um) mês de reclusão, no
regime inicial fechado, mais pagamento de 17 (dezessete) dias-multa, no
valor unitário mínimo e NEGA-SE PROVIMENTO aos recursos de
apelação interpostos pelos réus Cleber Alcântara da Silva, Gabriel
Fagner Dospire e Anderson Oleriano França de Souza, mantendo, no
mais, a r. sentença recorrida por seus próprios e jurídicos
fundamentos.

ROBERTO PORTO
Relator

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