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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO NEUROCIÊNCIA


COGNITIVA E COMPORTAMENTO

Resumo capítulo 4- De horas a dias antes (Hormônios)

João Pessoa

2022

Quando falamos em hormônios adentramos em um campo muito vasto, tendo


em vista que existem inúmeros e que fazem funções diferentes. Falar sobre hormônios
se tornou muito comum nos dias de hoje, principalmente por conta da crescente
preocupação das pessoas com sua saúde. No entanto, juntamente com a maior discussão
acerca desses hormônios, algumas informações inexatas também foram difundidas,
principalmente a respeito de hormônios conhecidos, como: a testosterona e a ocitocina.
Diante disso, faz-se necessário compreender de forma mais especifica como esses
hormônios funcionam e como de fato influenciam nossos comportamentos.

Vamos iniciar pela testosterona, hormônio este que é o primeiro que pensamos
quando se fala em agressividade. A testosterona é secretada pelos testículos e a partir
deles tem acesso a diversas outras partes do cérebro, influenciando seu funcionamento.
De fato, estudos comprovam que a agressividade masculina é mais prevalente quando
os níveis de testosterona estão altos. Dessa forma podemos inclusive pensar: “então se
houver a castração os níveis de agressividade diminuem?” Sim. Contudo, estudos com
agressores sexuais hostis que foram castrados comprovam que a agressividade dos
mesmos permaneceu apesar de sua situação biológica estar afetada. Esse dado nos leva
a acreditar e correlacionar a permanência dessa agressividade com a aprendizagem
social. Ou seja, ser menos agressivo após a castração tem mais relação com o
aprendizado social do que com o hormônio da testosterona em si.
Diante disso, pode surgir a pergunta: será que indivíduos mais agressivos
secretam mais testosterona ou altos níveis de testosterona fazem o indivíduo ser mais
agressivo? Bom, para responder essa pergunta foi realizado um estudo pelo
endocrinologista britânico John Archer, onde foram administradas doses de testosterona
nos voluntários e isso não aumentou sua agressividade. O cérebro não se atenta a
flutuações em nível normal desse hormônio. Os impactos da administração da
testosterona passam a se tornar evidentes quando as doses desse hormônio superam o
que pode ser considerado normal, provocando ansiedade e paranoia, o que pode
interferir no aumento da agressividade.
A partir disso uma nova dúvida pode surgir: já que a testosterona em níveis
normais não faz com que um indivíduo fique mais agressivo, então de que forma a
testosterona influencia no comportamento? Níveis mais altos de testosterona diminuem
a aptidão dos indivíduos em reconhecer emoções olhando para os olhos dos outros, bem
como, diminui a imitação empática que tendemos a fazer naturalmente quando vemos
um rosto expressando uma emoção forte. Este mesmo hormônio também tem efeitos
sobre como o indivíduo se sente. A presença da testosterona aumenta a confiança e o
otimismo, diminuindo desta forma a ansiedade e o medo. Contudo, é preciso ter
cuidado, com este hormônio, pois ele pode tornar o indivíduo confiante “demais”,
fazendo com que o mesmo acabe por se tornar arrogante, egocêntrico e narcisista.
A testosterona pode acarretar comportamentos impulsivos e arriscados, tendo em
vista que este hormônio atua no córtex pré-frontal, diminuindo sua atividade, fazendo
com que as conexões realizadas sob a influência de fortes doses do hormônio
impulsionem comportamentos “não tão bem pensados”. Contudo, a testosterona não
atua completamente sozinha. O comportamento que pode vir a ocorrer por conta de sua
presença está intrinsecamente ligado ao contexto, tendo em vista, que o aumento deste
hormônio traz sensações reforçadoras e o reforço para cada indivíduo pode “estar” em
comportamentos diferentes, pois a testosterona eleva a “quantidade” de resposta que foi
aprendida socialmente, sendo assim, se o meio reforça comportamentos agressivos, a
testosterona irá potencializar tais comportamentos já pré-estabelecidos.
Desta forma, podemos compreender que a testosterona e seus efeitos ocorrem
dentro de um contexto social que vai favorecer ou não comportamentos específicos. Se
o contexto que irá promover status social ao indivíduo requer que o mesmo exprima
comportamentos pró-sociais, o indivíduo assim fará. Sendo assim, é possível entender
que a testosterona não é a vilã, afinal de contas, apenas agimos de acordo com o reforço
que o meio nos dá. Se o reforço é dado quando nos comportamos agressivamente, o
hormônio irá apenas potencializar isso, de semelhante modo ocorre com atitudes pró-
sociais.
Um outro hormônio muito conhecido é a ocitocina e a vasopressina (hormônios
similares e que agem de forma semelhante), que carregam inclusive a ideia de que são
os hormônios que fazem que com que as pessoas se tornem mais calmas, mais pró-
sociais e vivam em harmonia. No entanto, esses hormônios também desenvolvem um
papel quando se fala em agressividade. Mas antes de compreendermos sobre como esses
hormônios se relacionam com a agressividade, vamos inicialmente entender como é o
seu funcionamento e onde agem diretamente.
O hormônio da ocitocina tem se mostrado, ao longo dos estudos, imprescindível
para o comportamento maternal, tendo em vista, que a presença de tais hormônios
induzem o parto e a lactação, bem como, possibilitam um maior vínculo afetivo entre a
mãe e o bebê. E este hormônio não se faz presente apenas na vida da mulher, mas
também dos homens, principalmente no momento em que se tornam pai, os níveis desse
hormônio aumentam a nível cerebral estimulando comportamentos mais paternais.
O hormônio da ocitocina, contudo, não se restringe apenas ao vinculo de pais e
bebês, mas também de casais e até mesmo vínculo entre espécies (e.g. seres humanos e
cachorros). A ocitocina tem o “poder” de ativar o sistema nervoso parassimpático, que é
o responsável por diminuir os batimentos cardíacos, relaxar os músculos, entre outras
atividades que promovem um estado mais calmo e estável. Desta forma, podemos
entender que, de forma geral, a ocitocina é o hormônio da pró-socialidade.
Importante salientar que assim como a testosterona a ocitocina se manifesta
dentro de um contexto social, ou seja, a ocitocina possibilita que o indivíduo apresente
comportamentos de caridade, no entanto, ele vai apresentar esse comportamento se já
for caridoso, pois ela atua de acordo com o contexto que envolve aquele indivíduo e sua
história de vida.
Mas há divergências. A depender da situação, a ocitocina pode fazer com que
nos comportemos de formas não tão boas e harmoniosas socialmente. Um estudo
mostrou que os comportamentos pró-sociais foram mais presentes quando se trataram
de pessoas que estão em um mesmo grupo social, ou se veem como iguais. No entanto,
quando se trata de pessoas de grupos sociais diferentes e que são entendidos como uma
possível ameaça, há maior possibilidade que ocorram comportamentos de prejudicar o
outro.
Um outro quesito importante que precisa ser tratado, é sobre o mito de que as
fêmeas são sempre bondosas e amigáveis. Embora em alguns casos as mães se utilizam
de comportamentos agressivos para defender seus filhos não é sobre isso que se trata
esse esclarecimento, mas sobre a atuação da progesterona e estrogênio. Quando
combinados estes hormônios podem promover comportamentos agressivos maternos.
Enquanto que a progesterona quando agindo isoladamente, promove a redução da
agressividade e da ansiedade.
Um outro ponto importante que não se pode deixar de falar quando o assunto é
hormônio é sobre o estresse. Essa condição faz com que as decisões tomadas sejam as
menos acertadas, tendo em vista, que o estresse crônico impossibilita a aprendizagem de
novas estratégias para lidar com as situações, o que faz com que o indivíduo que está
sob estresse permaneça recaindo nas mesmas escolhas erradas de anteriormente. A
condição de estresse faz com que sejamos mais egoístas, pois os altos níveis de estresse
diminuem os níveis de altruísmo no que diz a respeito principalmente a emoções
intensas e pessoais.
Por fim, é possível compreender que os hormônios não determinam nossos
comportamentos, mas sim, facilitam a manifestação de comportamentos que já temos,
ou seja, faz com que nos tornemos sensíveis para os gatilhos sociais fazendo com que os
nossos comportamentos sejam mais “exagerados” e ocorram de forma mais acentuada.

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