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MEDICALIZAÇÃO

DO SOFRIMENTO NA
ATUALIDADE
Mario Eduardo Costa Pereira e Carolina Neumann de Barros Falcão

A psicopatologia [...] se refere, antes de


tudo, a uma impossibilidade da realização
do sujeito.

Mario Eduardo Costa Pereira


Conheça
c o livro da disciplina
-
CONHEÇA SEUS PROFESSORES 3

Conheça os professores da disciplina.​

EMENTA DA DISCIPLINA 4

Veja a descrição da ementa da disciplina. ​

BIBLIOGRAFIA DA DISCIPLINA 5

Veja as referências principais de leitura da disciplina.​

O QUE COMPÕE O MAPA DA AULA? 6

Confira como funciona o mapa da aula.

MAPA DA AULA 7

Links de artigos científicos, informativos e vídeos sugeridos.

RESUMO DA DISCIPLINA 29

Relembre os principais conceitos da disciplina.​

AVALIAÇÃO 30

Veja as informações sobre o teste da disciplina.​

2
Conheça
c seus professores

-
MARCOS EDUARDO COSTA PEREIRA
Professor Convidado

Psicanalista e psiquiatra, possui mestrado em Saúde


Mental pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e
doutorado em Psicopatologia Fundamental e Psicanálise pela
Université de Paris VII - Denis Diderot, na França. É professor
titular de Psicopatologia Clínica pela Aix-Marseille Université,
livre-docente de Psicopatologia do Departamento de
Psiquiatria da UNICAMP e professor do Programa de Pós-
graduação em Psicanálise da UERJ. Atualmente, atua também,
como professor associado do Departamento de Psicologia
Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da
UNICAMP, onde dirige o Laboratório de Psicopatologia:
Sujeito e Singularidade (LaPSuS). É diretor da Seção de
Epistemologia da Psicopatologia da Revista Latino-Americana
de Psicopatologia Fundamenta e diretor do Corpo Freudiano
– Núcleo São Paulo.

CAROLINA DE BARROS FALCÃO


Professora PUCRS

Possui graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade


Católica do Rio Grande do Sul (2002), Mestrado em Psicologia
Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(2007) e Doutorado em Psicologia pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (2014). É Professora Adjunta do
curso de Graduação em Psicologia da Escola da Ciências da Saúde
e da Vida da PUCRS. É Psicanalista com formação pela Sigmund
Freud Associação Psicanalítica (Porto Alegre). Tem experiência
na área de Psicologia, com ênfase em Tratamento e Prevenção
Psicológica, atuando principalmente nos seguintes temas:
psicanálise, técnica psicanalítica, psicopatologia psicanalítica,
trauma, sexualidade e gênero.

3
Ementa da Disciplina
Estudo da psicopatologia e do sofrimento. Reflexão sobre a dor e a medicalização
das experiências humanas. Estudo do hedonismo. Exame das problemáticas da
toxicomania e drogadição.

4
Bibliografia da Disciplina
As publicações destacadas têm acesso gratuito.

Bibliografia básica

BIRMAN, J. Sujeito na contemporaneidade: espaço, dor e desalente na atualidade. Rio


de Janeiro: Civilização Humana, 2020 (obra originalmente publicada em 2012).

BIRMAN, J. (org). A fabricação do humano: psicanálise, subjetivação e cultura. São


Paulo: Zagodoni, 2014.

SAFATLE, V. Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico. São Paulo:


Autêntica, 2021.

Bibliografia complementar

KUPERMANN, D. (org.) Por que Freud Hoje? São Paulo: Zagodoni Editora, 2017.

BAUMAN, Z. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001

FREITAS, F; AMARANTE, P. Medicalização em Psiquiatria. Editora Fiocruz, 2017.

CATÃO, I (org). Mal-estar na infância e medicalização do sofrimento: quando a


brincadeira fica sem graça. Salvador: Agalma, 2020.

SALVADOR, I. N; CORDEIRO, S. N. A medicalização no referencial psicanalítico: uma


revisão sistemática da literatura. Revista Subjetividades, 20(2), 2020.

5
O que compõe
o o

s
Mapa da Aula?
MAPA DA AULA
São os capítulos da aula, demarcam
momentos importantes da disciplina,
servindo como o norte para o seu FUNDAMENTOS
aprendizado.
Conteúdos essenciais sem os quais você
pode ter dificuldade em compreender a
matéria. Especialmente importante para
alunos de outras áreas, ou que precisam
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
relembrar assuntos e conceitos. Se você
estiver por dentro dos conceitos básicos
Questões objetivas que buscam
dessa disciplina, pode tranquilamente
reforçar pontos centrais da disciplina,
pular os fundamentos.
aproximando você do conteúdo de
forma prática e exercitando a reflexão
sobre os temas discutidos.​Na versão CURIOSIDADES
online, você pode clicar nas alternativas.
Fatos e informações que dizem
respeito a conteúdos da disciplina.
PALAVRAS-CHAVE
Conceituação de termos técnicos,
expressões, siglas e palavras específicas
do campo da disciplina citados durante DESTAQUES
a videoaula.
Frases dos professores que resumem
sua visão sobre um assunto ou situação.​
VÍDEOS
Assista novamente aos conteúdos
expostos pelos professores em vídeo.
Aqui você também poderá encontrar ENTRETENIMENTO
vídeos mencionados em sala de aula.
Inserções de conteúdos para tornar
a sua experiência mais agradável e
PERSONALIDADES significar o conhecimento da aula.​

Apresentação de figuras públicas


e profissionais de referência
mencionados pelo(a) professor(a).
CASE
Neste item, você relembra o case
analisado em aula pelo professor.​
LEITURAS INDICADAS
A jornada de aprendizagem não
termina ao fim de uma disciplina. Ela
segue até onde a sua curiosidade MOMENTO DINÂMICA
alcança. Aqui você encontra uma lista
de indicações de leitura. São artigos e Aqui você encontra a descrição detalhada
livros sobre temas abordados em aula.​ da dinâmica realizada pelo professor.

6
Mapa da Aula
Os tempos marcam os principais momentos das videoaulas.

AULA 1 • PARTE 1

Psicopatologia 02:44

O campo semântico do termo psicopatologia


abrange o estudo das doenças mentais, a
psiquiatria clínica, a semiologia psiquiátrica, PALAVRA-CHAVE
a abordagem descritiva de sintomas, a 05:25
nosologia e nosografia dos transtornos
mentais, o estudo de modelos nosológicos Etimologia de Psicopatologia: É
composta por três palavras gregas:
de transtornos mentais e o estudo da relação
psyquê, que produziu “psique”,
entre o sujeito e seus sofrimentos.
“psiquismo”, “alma”; pathos, resultou
A separação dos fenômenos da natureza por em “paixão”, “excesso”, “passagem”,
“passividade”, “sofrimento”,
agrupamentos descritivos (filos, gêneros,
“assujeitamento” e logos, que
espécies) possuem uma racionalidade formal resultou em “lógica”, “discurso”,
e essa ideia tenta encontrar elementos “narrativa”, “conhecimento”. Dessa
comuns que justifiquem uma nomeação. forma, Psicopatologia pode ser
Ao aplicar isso no campo dos transtornos compreendida como um discurso ou
mentais, são organizados a partir da um saber sobre a paixão da mente e
da alma.
observação de semelhanças, ou seja, não
descreve categorias médicas naturais.

Na França, Falret, Baillarger e Morel foram


os primeiros a pensar que suas descrições PERSONALIDADE
poderiam ser doenças manifestas no campo 09:37
mental em um período a mais de 50 anos Philippe Pinel
após as primeiras descrições de Pinel.
Médico e zoologista, integrou a corrente
A ideia da maladie mentale é a base do que que constituiu o saber psiquiátrico por meio
veio a ser uma nosografia propriamente da observação e análise sistemática dos
psiquiátrica. Griesinger fez a definição de que fenômenos perceptíveis de doenças. Pinel
doenças mentais são doenças do cérebro, observou a influência da hereditariedade
legitimando os médicos para trabalharem na evolução do distúrbio mental da mesma
com loucura. forma que apontou as causas morais como
as mais prováveis para a alienação. Por
Kraepelin desenvolve um método de
todo o século XIX outros alienistas deram
observação e descrição minuciosa de fatos
continuidade a tais conceitos a partir das
clínicos, dispostos de forma diacrônica. Ele
observações feitas por ele. Considerava
entende que não basta estudar os fenômenos
a alienação mental como qualquer outra
apenas como um quadro clínico, é necessário
doença orgânica, por concebê-la como
entender a evolução ao longo do tempo. Sua
um distúrbio das funções intelectuais
classificação sistemática tinha como objetivo
(funções superiores do sistema nervoso)
isolar a entidade mórbida. Atualmente, as
sem a constatação de inflamação ou lesão
classificações psiquiátricas como o DSM são
estrutural.
chamadas de neo-Kraepeliniana.

7
PERSONALIDADE Defendia a cura da loucura por meio do
16:03 chamado “tratamento moral”, que consistia
em uma ampla pedagogia normalizadora
Jean-Étienne Esquirol
com horários e rotina rigidamente
estabelecidos, medicamentos receitados
somente pelo médico e atividades de
trabalho e lazer.

CURIOSIDADE
Psiquiatra francês, que cunhou o termo 17:06
alucinação. Reformador de asilos e hospícios Histeria para Charcot
franceses, fundou o primeiro curso para
o tratamento das enfermidades mentais
e lutou pela aprovação da primeira Lei de
Alienados na França. Seu trabalho influenciou
sobremaneira a criação do Hospício de Pedro
II, primeira instituição brasileira de assistência
aos doentes mentais.

PERSONALIDADE
18:07
Jean-Pierre Falret Valendo-se de um rigoroso método de
observação e de comparação de casos,
Charcot tentava demonstrar que a histeria
pertencia ao rol das doenças neurológicas.
Para isso, era-lhe necessário mostrar que
por trás da infinita variedade de suas
formas de apresentação clínica – sob as
quais ela costumava confundir os médicos
Psiquiatra francês, que, após Pinel e Esquirol, e desqualificar-se como entidade digna
foi responsável por dar o acabamento final à de crédito científico – a histeria teria uma
obra de fundação da psiquiatria clínica e da regularidade sintomatológica mínima,
patologia mental. credenciando-se como espécie válida no
grande jardim das categorias médicas.
Ele utilizava a hipnose para demonstrar o
fundamento de suas hipóteses, fabricando
PERSONALIDADE sintomas histéricos em pacientes do hospital
20:01
Salpêtrière a fim de suprimi-los de imediato,
Wilhelm Griesinger comprovando o caráter neurótico da doença.

Neurologista e psiquiatra alemão, é


considerado por muitos um dos pais da
psiquiatria biológica. Sua obra apoia-se
em uma sofisticada teoria do eu e das
desestruturações dos processos mentais na

8
psicopatologia.
CURIOSIDADE
22:11
Concepção unitária da psicose

CURIOSIDADE
24:06
Quadro A Balsa da Medusa

Griesinger defendia que havia somente uma


forma de insanidade, mudando de expressão
sintomática (grupo de sintomas) ao longo do
tempo, refletindo a oscilação de um princípio
vital. Para ele, o transtorno mental e a
perturbação mental seriam uma coisa única,
sendo um fenômeno evolutivo que começa
Esse quadro se inspira no trágico naufrágio,
como mania, passa pela melancolia, segue-se
do verão de 1816, da fragata francesa
no delírio e termina pela diminuição global
chamada Medusa dirigida a Senegal, cujos
das funções mentais.
sobreviventes vagaram pelo oceano sobre
uma balsa. O pintor, Géricault, trabalhou
com figuras de cera, estudou cadáveres
decepados em seu estúdio e usou amigos
como modelos. A pintura é uma visão PERSONALIDADE
sintética da vida humana abandonada ao 25:46
seu destino, os corpos pálidos recebem uma Emil Kraepelin
ênfase cruel de um claro-escuro ao estilo de
Caravaggio. Alguns se contorcem na euforia
da esperança, enquanto outros desconhecem
o navio que passa. Atualmente, o quadro
está exposto no Museu do Louvre, na Salle
Mollien.

Psiquiatra alemão, criador da moderna


psiquiatria e da genética psiquiátrica. Ele
defendia que as doenças psiquiátricas são
principalmente causadas por desordens
genéticas e biológicas.

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AULA 1 • PARTE 2

Psiquiatria e teóricos 00:16

Quando Freud começa a teorizar a


psicanálise, ele busca teorizar sobre
diferentes formas do padecimento mental.
Ao criar as categorias neurose de angústia
PALAVRA-CHAVE
05:33
e neurose obsessiva, inova a psiquiatria. Ele
não define psicopatologia, mas entende Parafrenia: Fazia parte do subgrupo
pathos como parte da normalidade. dos estados paranoides e foi descrita
como psicose paranoide cuja clínica
Ribot entende que, a partir do ponto de se caracterizava pela importante
vista metodológico, a psicopatologia deve presença de alucinações, sem
ser considerada como uma psicologia sintomas afetivos e pensamento
patológica. Minkowski define psicologia do desorganizado e boa preservação da
patológico como uma alteração primária, personalidade.
de caráter biológico, que interfere no
psíquico. Jaspers tem uma abordagem
fenomenológica, buscando entender a
experiência vivida pela psicopatologia
transcendental, sendo o elemento subjetivo, PERSONALIDADE
08:32
fundamental. Kurt Schneider faz uma crítica
a noção de doença mental trazendo a Erasmo de Roterdão
reflexão de que a mente não adoece como o
corpo. Weizsaecker entende que a patologia
supõe o sujeito, enquanto a nosologia é um
fenômeno da natureza.

EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO

Para Foucault:

A relação entre a loucura e a razão Teólogo e filósofo humanista neerlândes.


variou ao longo da história Acreditava que um bom aprendizado
das artes liberais prepararia o jovem para
Resposta desta página: alternativa 1

As concepções de “normal” e entender qualquer coisa com facilidade.


“anormal” são invariáveis ao longo Defendia a possibilidade de chegar à
da história perfeição por via do conhecimento e
seu pensamento era caracterizado pela
O temor acerca da não razão liberação da criatividade e da vontade
sempre esteve presente do ser humano, que ia de encontro ao
pensamento escolástico, segundo o qual
A loucura é um objeto natural todas as questões terrenas tinham resposta
na doutrina religiosa.

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LEITURA INDICADA
08:34
Livro: Elogio da loucura

PERSONALIDADE
10:38
Théodule-Armand Ribot

Escrito em 1509 e publicado em 1511, a obra


é considerado um dos mais importantes
livros da civilização ocidental e um grande
influenciador da Reforma Protestante. Filósofo e psicólogo francês, defendia que a
Neste ensaio singular, repleto de alusões psicologia possuísse autonomia em relação
clássicas – no estilo típico dos humanistas à filosofia. Seus trabalhos versavam sobre a
do Renascimento –, em que a Loucura
relação mente/cérebro, a causalidade mental
é a narradora que ao longo do texto vai
mostrando o quanto está presente no mundo e o problema da identidade pessoal e da
dos homens e que, no fundo, é quem torna natureza do ‘eu’.
a vida mais branda e suportável, Erasmo
critica o ensino da escolástica, os falsos
sábios distanciados da vida simples, a
suntuosidade do alto clero em contraste com
os ensinamentos de Cristo, a hipocrisia das
instituições humanas e as guerras. PERSONALIDADE
11:49
Eugene Minkowski

PERSONALIDADE
15:22
Karl Jaspers

Psiquiatra francês conhecido por sua


incorporação da fenomenologia em
psicopatologia. De acordo com ele, a
esquizofrenia é caracterizada por uma
Filósofo e psiquiatra, seus temas discorrem deficiência da intuição e do tempo vivido
sobre a temporalidade, a historicidade, a e por uma hipertrofia progressiva da
liberdade, a finitude, o sofrimento, a morte inteligência e fatores geográficos.
e a transcendência. Autor do livro de dois
volumes, Psicopatologia Geral, grande
marco em sua carreira e na evolução da
psicopatologia.

11
LEITURA INDICADA
24:37
Livro: O mito da doença mental

PERSONALIDADE
26:29
Viktor von Weizsaecker

Bastante influente no movimento de


antipsiquiatria, o autor, Thomas Szasz,
argumenta que os transtornos mentais são
uma espécie de construtivismo social criado Médico e fisiologista alemão, é conhecido
pelos médicos. por seu trabalho pioneiro na medicina
psicossomática e por suas teorias sobre
antropologia médica. Seu conceito de
Gestaltkreis , uma elaboração da psicologia
O nível patológico tem a ver com a 34:00 da Gestalt, explica que os eventos biológicos
constituição do campo do sujeito, não são respostas fixas, mas dependem
que inclui o campo do outro. de experiências anteriores e estão sendo
constantemente repadronizados por meio da
experiência.

A patologia não é uma expressão 34:23


linear da nosologia.

EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO

Assinale a alternativa correta a


respeito de Karl Jaspers:

Conclui que a experiência de cada


sujeito deve ser escutada

Dedica-se a compreender a
hipersingularidade
Resposta desta página: alternativa 3.

Adapta o método fenomenológico


para estudar os fenômenos mentais

Examina o adoecimento “desde


fora”

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AULA 1 • PARTE 3

Subjetividade e psicopatologia 00:18

Os esforços do campo médico psiquiátrico


contemporâneo de incluir a dimensão
subjetiva na concepção e do tratamento
patológico conta com o International
15:21
Guidelines for Diagnosis Assessement, o [O DSM] me permite uma
Values Based Medicine e o Person Centered abordagem controlável pelos
Medicine. O professor questiona se tratamos critérios habituais de verificação
a pessoa ou o sujeito: lidamos com papéis empírico experimental de um
sociais? Qual é o tópico especifico sob o certo fato.
qual podemos fazer psicopatologia que leve
em conta a posição do sujeito?

A psiquiatria contemporânea, assim


como a medicina em geral, é centrada 16:49
A própria sociedade, em geral, vai
no diagnóstico, funcionando a partir da
delegar para o campo médico a
racionalidade de uma categoria geral
legitimidade de intervir em certos
prevista no manual. Os critérios explícitos
tipos de situação [...] sem ter
do DSM-5 possuem um recorte clínico
que discutir a natureza íntima da
compartilhado e formalizado. Feita a
condição.
locação da doença mental do paciente, os
qualificadores e evidências disponíveis do
caso indicam um caminho de intervenção,
que, a partir de consensos, mostram os
resultados desejáveis. A ideia principal 20:35
O DSM é uma tentativa de
do DSM é que as categorias têm estatuto
escapar do impasse da noção
pragmático e deontológico.
de doença mental pela via
pragmática.

PERSONALIDADE
21:22
Adolf Meyer

Psiquiatra suíço, seu foco sobre a


recolhimento de histórias detalhadas de
casos sobre pacientes é a mais importante
das suas contribuições; juntamente com
sua insistência em que os doentes possam
ser melhor compreendidos através da
consideração das suas situações da vida.

13
AULA 1 • PARTE 4

Psicopatologia 00:38

Com o decorrer do tempo, há uma perda


da importância da psicopatologia e um
aumento de importância do diagnóstico. O
Transtorno Mental ocupa o lugar de doença
PERSONALIDADE
mental, pois é um constructo arbitrário 14:08
organizado de uma maneira objetivável, em
torno de objetivos concretos que devem
John Sadler
ser atingidos. Em 1998, Tucker fez um Psiquiatra estadunidense, abordou as
editorial criticando o processo diagnóstico metafísicas do senso comum como variáveis
por arruinar a essência da psiquiatria por e limitantes culturais no discurso da saúde
causa da perda de contato com a história do mental.
paciente, pelo tratamento do diagnóstico,
pelo estudo da psicopatologia se tornar
quase inexistente e o tédio que se tornou a
psiquiatria.
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
Se existe disorder, seria tarefa dos
psiquiatras trazer os “desordenados” de A psiquiatria contemporânea é
volta à ordem? centrada:

A experiência psicopatológica deve ser


No paciente
tomada em um todo psíquico. Funções
mentais extremamente complexas estão
envolvidas, como linguagem, simbolismo,
No diagnóstico
memória e desejo.
Na intervenção

Na abordagem terapêutica

PALAVRA-CHAVE
25:42

Síndrome de Cotard: Condição


rara caracterizada por melancolia
ansiosa, delírios de não existência
relativos ao próprio corpo e delírios
Resposta desta página: alternativa 2.

de imortalidade. As causas são


desconhecidas, mas a doença tende a
estar associada a outros transtornos
psicológicos, como alterações da
personalidade.

14
AULA 2 • PARTE 1

Psicopatologia 01:13

Eriximaco, em O Banquete, diz que a


medicina é a ciência da erótica do corpo, é
a prática de cuidado que se preocupa das
perturbações de eros no corpo. O termo 09:51
Nós vivemos, [...] nos últimos
medicalização começa a ser moldado nos
300 anos, uma medicina que se
anos 70, evocando a ideia da criação ou
organiza basicamente em torno
da incorporação de um problema não-
do passo inicial do diagnóstico.
médico ao aparato da medicina. A medicina
tornava-se um repositório de verdade, um
campo no qual juízos eram sentenciados
por especialistas que portavam uma moral
supostamente neutra. PALAVRA-CHAVE
25:42
Illich entende a medicalização como um
fenômeno que resulta de certa externalidade Hipocrático: Relativo à doutrina
do poder e sujeição dos indivíduos. Clarke médica de Hipócrates, que representa
a identifica como algo produzido pelos o princípio do não-malefício,
implicando o imperativo de promover
indivíduos a partir de sua própria condição
o benefício.
de homens livres, reflexivos, autônomos
e ativos. Donnangelo discursa sobre o
potencial papel disciplinar e normatizador da
Medicina, como um importante dispositivo
que operacionaliza o poder do Estado
CURIOSIDADE
12:11
capitalista, ao fixar os indivíduos nas suas
diferenças e desvios. Teoria humoral
Atualmente, o poder médico é limitado
por uma maior regulação estatal por
mecanismos ético-legais e novos arranjos
organizacionais e clínicos, como o da
Medicina Baseada em Evidências e a
Atenção Gerenciada à Saúde. Elementos
Constituiu o principal corpo de explicação
como equipes multiprofissionais e processo
racional da saúde e da doença entre o Século
de trabalho interdisciplinar distribuem o
IV a.C. e o Século XVII, entendendo que a
poder médico em diversas profissões da
vida era mantida pelo equilíbrio entre quatro
saúde. O exercício do poder não se dá mais
humores: Sangue, Fleuma, Bílis Amarela e
pela forma da coerção e da força ostensiva,
Bílis Negra, procedentes, respectivamente,
mas pela conquista da adesão consentida a
do coração, cérebro, fígado e baço. Segundo
um modelo de conceber a vida, a sociedade
o predomínio natural de um destes humores
e a produção.
na constituição dos indivíduos, teríamos os
diferentes tipos fisiológicos:

Sanguíneo – sujeitos que possuem


excessivamente sangue. Suas decorrentes
características seriam alegria, otimismo,
confiança e extroversão.

15
PERSONALIDADE Fleumático – sujeitos que possuem
12:54 excessivamente fleuma. Suas decorrentes
Peter Conrad características seriam timidez, apatia,
lerdeza, cansaço e coerência.
Sociólogo, escritor e membro do corpo
docente da Universidade Brandeis. Envolveu- Colérico – sujeitos que possuem
se com pesquisa e escrita que se concentrou excessivamente bile amarela. Suas
na identificação de crianças hiperativas decorrentes características seriam
(TDAH), a medicalização do desvio, a irritabilidade, intensidade, impulsividade e
experiência da epilepsia, programas de bem- rapidez.
estar no local de trabalho, educação médica,
Melancólico – sujeitos que possuem
os significados sociais da nova genética e
excessivamente bile negra. Suas decorrentes
doenças na internet.
características seriam inclinação artística,
tristeza, medo e introversão.

LEITURA INDICADA
24:25
Livro: 24/7: Capitalismo tardio e
os fins do sono

25:00
O poder é a capacidade de
conduzir condutas e de ordenar
as probabilidades do outro.

ENTRETENIMENTO
35:49
Filme: Corações e mentes
Jonathan Crary faz um panorama vertiginoso
de um mundo cuja lógica não se prende mais
a limites de tempo e espaço. Uma sociedade
que funciona sob uma ordem que põe à
prova até mesmo a necessidade de repouso
do ser humano – a última fronteira ainda
não ultrapassada pela ação do mercado.
No entanto, o capitalismo já se movimenta
no sentido de se apoderar dessa esfera da
vida: é o caso, por exemplo, das pesquisas
científicas que buscam a fórmula para
criar o “homem sem sono”. Embora o sono
não possa ser completamente eliminado,
pode ser profundamente atingido. Estudos
sobre formas mais eficazes de tortura e
Emblemático sobre a Guerra do Vietnã, o
sobre a criação de um estado de vigilância
filme disseca a ideologia que engendrou
mais duradouro que eram inicialmente
e sustentou este trágico episódio da
restritos ao campo das técnicas militares,
história americana e mostra o que foram
hoje visam atingir também trabalhadores e
os horrores do conflito para aqueles que o
consumidores.
viveram in loco. Imagens chocantes às quais
a sociedade americana não tinha tido até
então acesso vêm à tona. Ao complexificar a
questão da participação dos Estados Unidos
numa guerra que, a tal altura, já se mostrava
fadada ao fracasso, o filme tornou-se um
marco do período.

16
AULA 2 • PARTE 2

PERSONALIDADE
00:29
Byung-Chul Han

LEITURA INDICADA
00:31
Livro: Sociedade do cansaço

Filósofo sul-coreano radicado na Alemanha,


dedicou-se a analisar as estruturas da
sociedade do século XXI para entender
como o modelo de produção da última fase
do capitalismo tem interferido diretamente
na vida psicológica das pessoas. Partindo
da psicanálise, da filosofia existencialista e
de análises sociológicas, Han tenta entender
o vínculo entre os distúrbios psiquiátricos
comuns em nossos tempos, como a
síndrome de burnout, a depressão e o TDAH, As instituições políticas e empresariais
com o ritmo de vida que a nossa sociedade mudaram o sistema de punição, hierarquia e
cobra das pessoas. combate ao concorrente pelas positividades
do estímulo, eficiência e reconhecimento
social pela superação das próprias limitações.
Byung-Chul Han mostra que a sociedade
disciplinar e repressora do século XX descrita
A medicina e o sujeito 00:49 por Michel Foucault perde espaço para uma
nova forma de organização coercitiva: a
O capitalismo contemporâneo provoca no violência neuronal. As pessoas se cobram
cada vez mais para apresentar resultados -
indivíduo a ideia de que basta ter foco e
tornando elas mesmas vigilantes e carrascas
determinação para atingir objetivos, como de suas ações. Em uma época onde
um “empresário de si mesmo”, e quando poderíamos trabalhar menos e ganhar mais, a
não da certo, é um problema individual, ideologia da positividade opera uma inversão
perversa: nos submetemos a trabalhar mais e
esvaziando a noção coletiva. A dimensão
a receber menos.
produtiva da medicalização produz
subjetividades e formas de existir no mundo,
enquanto a tecnologia médica avançou
superando os limites da natureza.

A invenção do homem moderno pela


medicina faz alusão ao processo de
produção de práticas de saneamento que
criaram “corpos que são disciplinados em
relação à saúde”. Além da definição de
problemas não-médicos como médicos,
quais são os limites das práticas clínicas?
Qual o campo da legitimidade? A medicina
tem uma natureza própria?

17
Foucault entende que a medicina não tem
uma essência ontológica, mas participa de 03:46
A tecnologia no campo médico
um sistema de valores e práticas formatados
produz outras possibilidades de
através de relações políticas e sociais, que inserção do sujeito no mundo.
muitas vezes, não aparentam ater relação
direta.

AULA 2 • PARTE 3

O sujeito 00:26

Freud descentraliza o sujeito cartesiano


e Lacan concebe o sujeito como fruto de
uma articulação significante que depende
da relação com o outro e da linguagem. O 05:11
Aquilo, através do qual, eu me
sujeito humano se descobre falando a língua situo no mundo [...] não é algo
de outros e essa colonização é parcial, pois que é natural, é algo que me
a nossa estrutura simbólica não é completa constitui tão profundamente e
já que o Outro também não é completo. É visceralmente, que posso ter essa
pela herança ser incompleta que temos um experiência de que sou eu.
trabalho próprio e singular de apropriação
do real. A incompletude pode ser vivida
como angústia ou desejo.
PALAVRA-CHAVE
O critério de bem-estar e da restituição da 05:45
funcionalidade são limitados e incapazes de
definir eticamente a direção do tratamento. Afasia: Disfunção que faz com que
o paciente tenha dificuldade de se
comunicar adequadamente, afetando
a compreensão de imagens, sons e
outros tipos de expressão.
O sujeito é, antes de tudo, um 07:41
assujeitado [...] que para poder
existir como humano tem que se
deixar colonizar.

18
LEITURA INDICADA
21:14
Livro: Perto do coração selvagem

O que a pulsão visa é chegar 23:12


em um estado de gozo que seja,
simplesmente, a plenitude de ser.

A psicopatologia [...] se refere, antes 42:01


de tudo, a uma impossibilidade da
A prosa leve discorre com fluência e fluidez
realização do sujeito. nos meandros da protagonista, na sua visão
de mundo e na interação com os demais
personagens. Tudo isso revelou Clarice
Lispector como mais que mera promessa na
prosa da Geração de 45. É o texto do sensível
e do imaginário, ora enfrentando ora diluindo-
se aos incidentes reais de Joana.

AULA 2 • PARTE 4

Ética e tratamento 00:25

A psiquiatria e o discurso psiquiátrico são


hegemônicos no campo da saúde mental.
A finalidade do tratamento é decisiva e faz
parte de uma tomada de posição. A arte 26:36
A estrutura da clínica [...] é que
do profissional é ter, ao mesmo tempo, um nos desafia, com tudo aquilo
conhecimento geral, mas sabendo, de uma que podemos produzir com um
forma poética, como aplicar no melhor conhecimento geral, que precisa
interesse do caso, que é único. ser aplicado em um caso que é
único.

19
LEITURA INDICADA
29:18
Livro: Metafísica

O universal é uma categoria 30:58


racional, não é uma categoria
existente.

Entidade diagnóstica 32:37

O centro das práticas clínicas No conjunto da obra aristotélica, destaca-se


contemporâneas é organizado pelo discurso tanto pelos seus temas vinculados à filosofia
primeira como pela marcante e profunda
psiquiátrico. A lógica do DSM é pragmática,
influência que tem exercido no pensamento
já o RDoC busca alterações biológicas e a ocidental, isso sem mencionar a plêiade de
inteligência artificial identifica padrões. fecundas teses acadêmicas e estudos em
geral por ela motivados e suscitados.
Christophe Boorse propõe, em 1977, que
a concepção médica de “saúde” como
ausência de doença é uma proposição isenta
de caráter valorativo. Para isso, o conceito CURIOSIDADE
de “doença” precisa ser definido enquanto 33:34
estado interno que diminui a capacidade do RDoC
organismo para o desempenho de funções O Research Domain Criteria é uma iniciativa
biológicas, mantendo-as com níveis de desenvolvida pelo Instituto Nacional
eficiência abaixo daqueles que são típicos da de Saúde Mental dos Estados Unidos
espécie. (NIMH) a partir de 2009, cujo objetivo
era fundamentar um novo sistema de
diagnóstico em Psiquiatria a partir do
financiamento de pesquisas em genômica
e neurociências. A justificativa pra um novo
PERSONALIDADE sistema diagnóstico seria a crítica da falta de
39:21
alinhamento dos sistemas de classificação
Christophe Boorse atual (DSM e CID) com a neurociência
Filósofo da medicina que criou, nos anos moderna. Além disso, as categorias
70, a Teoria Bioestatística da Saúde (TBS). diagnósticas no DSM e na CID são muito
Defende uma definição naturalista e heterogêneas e não resolveram o problema
bioestatística de doença. da baixa confiabilidade do diagnóstico em
Psiquiatria.

20
Campo da psicopatologia 45:05

A passagem da psicopatologia do sujeito


para uma clínica do sujeito fundamenta
uma concepção da clínica como prática
orientada para o cuidado com os impasses 53:48 Clínica do sujeito
na realização possível do sujeito. As três
A clínica que decorre da psicopatologia
dimensões importantes dessa posição
do sujeito consiste na construção das
teórica são: a (psico)patologia constitui um
condições de possibilidade para a
campo epistemológico autônomo em relação
emergência e reconhecimento do sujeito
à Biologia, à Psiquiatria e à própria Medicina
em sua peculiaridade, na identificação
em geral; constitui uma disciplina autônoma,
de seus impasses patológicos enquanto
que fornece os fundamentos teóricos
tais como norteadores da direção do
para o exercício da clínica psiquiátrica e
tratamento e, no plano terapêutico, no
suas consequências passam a se estender
emprego técnico dos meios, inclusive
sobre todas as práticas clínicas em geral
biológicos quando for o caso, em vista
e não apenas sobre a Psiquiatria; não visa
da (re)conciliação do sujeito com seus
uma descrição supostamente psíquica, ou
processos de realização possível de sua
mesmo psicogênica, da patologia. Não nega
singularidade no interior do laço social.
a legitimidade de uma definição biológica
de “doença”, mas rejeita a ideia de que a
disfunção orgânica e a busca linear de sua
correção constituam por si só os elementos
59:17
fundantes, supostamente auto evidentes, Uma clínica do sujeito começa
capazes de orientar a direção e os fins do por uma posição ética de
tratamento. pressuposição do sujeito.

EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO

Assinale a alternativa incorreta sobre


(psico)patologia do sujeito:

Não nega a legitimidade de uma


definição biológica de “doença”

Rejeita é a ideia de que a disfunção


orgânica é o único elemento
fundante capaz de orientar o
tratamento
Resposta desta página: alternativa 4.

Patologia também se refere aos


impasses de um sujeito singular

Considera o conceito de “normal”


como socio-histórico, indicando o
desejável em um indivíduo

21
AULA 3 • PARTE 1

História da Loucura 02:00

Foucault percorre, ao longo da obra, muitas


análises arqueológicas e genealógicas
dos fenômenos sociais e culturais. Ele
mostra como a loucura não é natural, é
18:10
historicamente construída a partir de certas Antes da intervenção médica, a
insígnias discursivas disponíveis. O autor única intervenção possível era a
discute a questão de como a sociedade violência.
sempre organiza fenômenos de exclusão,
delimitando a categoria dos normais e dos
anormais.

No início de tudo, eram os leprosos os 21:46 Medicalização da vida


excluídos do convívio social. Na Idade
Média, o louco era um andarilho sábio, que Os manicômios possuíam características
é considerado visionário, por conhecer o que denunciavam a perpetuação da
espaço ao seu redor. Na passagem para o violência como forma de intervenção sob a
Renascimento, opera-se uma transformação loucura. O fenômeno de medicalização da
da posição da loucura para algo não tão vida dá início a uma série de construções
engrandecido, mesmo que ainda vista como na área da medicina, como, por exemplo, o
mística. Aos poucos, o louco tem sua palavra surgimento da psicanálise.
isolada, é julgado por ser errado e é tratado,
muitas vezes, como um criminoso, devendo A medicalização é toda a experiência
estar confinado. humana que está conceitualizada sob uma
lógica médica. É a apropriação da medicina
O século XVII, condena como loucos sob o humano e seus fenômenos. A loucura
os sujeitos que não obedecem a lógica vai, progressivamente, se construindo
da razão. Esses indivíduos — que não como algo patológico a partir de normas
podem ocupar na sociedade o papel de que a situam. O efeito de produção
produtividade — passam a ocupar lugares de “normalização” na população, via
que antes constituíam o leprosário. No estratégias de saber, de controle e de bem-
século XVIII e XIX, constitui-se uma última estar, visa o gerenciamento dos processos
transformação em que a loucura passa a ser vitais humanos.
sistematizada a partir de uma concepção
médica, instalando a medicalização. A O conjunto de técnicas da medicalização
loucura passa a ser vista como doença, determinam os estados esperados para
culminando em intervenções médicas. Essa um sujeito para que eles possam ser
dimensão de exclusão está sustentada na considerados saudáveis. Esta premissa é
ideia de que é necessária e faz bem, pois se articulada ao capitalismo porque, como
pode dar a ajuda especializada. nomeado por Foucault por biopoder,
produz corpos economicamente ativos e
No final do Século XVIII, Phillipe Pinel, politicamente dóceis. A biopolítica interfere
médico e pesquisador, define condições diretamente na produção de subjetividade.
mentais como doença, propondo um
tratamento. Os leprosários que tinham se
constituídos como “hospitais gerais”, passam
a ser chamados de asilos.

22
O asilo abrigaria o poder moral da ENTRETENIMENTO
consolação, da confiança, e de uma 23:23
fidelidade dócil à natureza pela disseminação Filme: Holocausto brasileiro
de valores como religião, família e trabalho
— base do tratamento moral de Pinel. O
tratamento de Pinel incluía métodos como
banhos de água fria e camisa de força, o que,
na visão de Foucault, apenas internalizava
a ideia de julgamento e punição entre os
doentes.

Uma vez que o fenômeno da 25:36


medicalização se organiza, a forma
como a gente compreende o Filme baseado no livro homônimo da
humano muda radicalmente. jornalista Daniela Arbex, que conta a história
dos horrores praticados que causaram a
morte de mais de 60 mil internos que eram
mantidos em condições subumanas em um
manicômio no interior de Minas Gerais.

São as normas que organizam 28:09


determinadas sociedade que ditam
o que é considerado normal e o que
é considerado patológico.

32:01
Todo o saber produz poder e todo
poder sustenta um saber.

A própria produção de patologia 36:55


psiquiátrica está na ordem da
biopolítica.

23
AULA 3 • PARTE 2

Patologização da vida 00:28

Quando a OMS conceitualiza saúde como


“completo bem estar físico, mental e
social, e não mera ausência de doença
PERSONALIDADE
03:35
ou enfermidade”, transforma o critério de
normal, anormal e patológico, mas também
Sandra Caponi
a torna algo produtivo pelo qual devemos
nos esforçar para alcançar. Saúde passa a
ser um projeto contínuo, uma realização em
si, mas também uma realização de si mesma,
contendo um impacto biopolítico.

A patologia também é uma construção


social, entre a dimensão de normalidade e a
da patologia, existe a categoria do anormal Doutora em lógica e filosofia, professora
— incluindo o que está fora do normal, mas titular do Departamento de Sociologia e
não é patológico. A patologização é uma Ciência Política da UDSC. Desenvolve seu
consequência da medicalização. A nossa trabalho na área de epistemologia e história
principal terapêutica especializada é a da psiquiatria, da medicina e na área de
oferta farmacológica e isso produz sujeitos Bioética. Suas áreas de pesquisa são a
que reduzem suas experiências subjetivas Filosofia e a História da Medicina; tendo
ao nível dos processos biológicos. A fim desenvolvido pesquisas, neste último caso,
de estarmos sempre dispostos, produtivos, sobre a história da Clínica, da Psiquiatria,
alegres, entre outros fatores lidos como do Higienismo, da Microbiologia e da
necessários, a medicação se faz acessível Medicina Tropical. Conta com diversas
para regular a vida. teses de doutorado e dissertações de
mestrado orientadas e defendidas. No ano
de 2013 o livro “Loucos e Degenerados:
uma genealogia da psiquiatria ampliada”
PERSONALIDADE foi finalista do 55º Prêmio Jabuti na área de
16:30
Psicologia e Psicanálise.
Julieta Jerusalinsky

23:52
A gente não tem uma costura
entre oferta medicamentosa
e prática psicoterápica. Se
tivéssemos, quem sabe não
tivéssemos um olhar tão critico
Psicanalista e professora especialista em sobre essa biologização da
Estimulação Precoce. Tem publicações psiquiatria.
científicas, experiência clínica e docente
principalmente nos seguintes temas:
psicanálise, clínica interdisciplinar com
crianças e bebês, estimulação precoce, 24:17
A gente tem como principal
maternidade e inclusão.
prática de enfrentamento [...] a
oferta farmacológica.

24
AULA 3 • PARTE 3

Patologização e patologia 00:19

Pensar na patologização não é diminuir a


importância da categoria de patologia, pois
essa demarcação técnica é fundamental para
a intervenção. A patologia sempre vai estar 08:02 Mal-estar e objeto externo
sustentada por uma compreensão teórica,
mas quando isso ultrapassa as delimitações, O uso de drogas é uma resposta muito
o diagnóstico tem uma função alienante. contundente da contemporaneidade ao
nosso mal-estar atual. Estamos organizados
sob a lógica de uma sociedade do
consumo, do desempenho, da busca pela
ausência de mal-estar, através de uma
Quanto menos condições desde 17:48
biopolítica de aflições.
dentro a gente tiver, mais condições
desde fora a gente precisará A contemporaneidade produz certos
recorrer. tipos de subjetivação que estão
fundamentalmente inscritos em três
registros: corpo, ato e intensidade. A
ausência de recursos simbólicos tem
produzido uma descarga do mal-estar em
A gente sempre fala da 18:30 sintomas que atacam diretamente o corpo,
contemporaneidade colocando-a se expressam por passagens ao ato ou
lado a lado com as problemáticas ansiedade que tomam conta do sujeito, ou
do narcisismo. seja, registros que denunciam o fracasso
do enfrentamento psíquico. No fracasso
da capacidade de temporalizar, tudo vira
o agora, e é impossível de ser simbolizado,
precisando ser descarregado nos recursos
LEITURA INDICADA disponíveis.
21:36
Livro: O sujeito na O uso de drogas (lícitas ou ilícitas) é uma
contemporaneidade resposta contemporânea para lidar com o
mal-estar de forma privilegiada, elegendo
um objeto externo para dar conta de
algo que está dentro. Seu uso se torna
problemático quando há a impossibilidade
do sujeito prescindir da droga.

22:31
Na passagem da rigidez
moderna para a liquidez pós-
moderna, perde-se a grande
Trata de uma alteração fundamental, ocorrida capacidade de recalque que
da modernidade à atualidade, que aconteceu faz com que tenhamos que
nas categorias constitutivas do sujeito, lidar simbolicamente com as
redirecionando as linhas de força do seu mal-
experiências.
estar.

25
Toda experiência psíquica 23:14
está no registro da imagem,
no da representação e da
temporalização.

23:46
A gente nunca torna psíquica uma
experiência que está acontecendo
agora, sempre tem uma dimensão
de temporalização.

A experiência que não consegue 25:02


ser simbolizada vai ser vivida pelo
sujeito como dor e não como
sofrimento.

25:31
Sofrimento é algo inevitável na
vida humana, mas é manejável
porque é representado.

PALAVRA-CHAVE
27:37

Desalento: Dor sem sofrimento, que


impossibilita o sujeito de realizar
qualquer ação, pois há o detrimento
da temporalidade e do desamparo.

26
AULA 3 • PARTE 4

Toxicomania 00:20

O uso de substância envolve compulsão à


repetição, produzindo um certo isolamento
em relação ao resto dos investimentos em
nome desse objeto. Para além da biologia,
esse objeto ocupa um lugar psíquico e opera 08:00
A sexualidade sempre pressupõe
a dessubjetivação do sujeito, produzindo
vários objetos.
uma organização dessexualizada. Para
Poulichet, a toxicomania é uma resposta
do narcisismo frente a precariedade da
sua organização e estruturação; toda
toxicomania é a instalação do objeto no PERSONALIDADE
lugar central de estratégia de enfrentamento. 10:21
Para Derrida, o sujeito recorre a um
Sylvie Le Poulichet
elemento para se curar e esse elemento o
Psicanalista francesa, afirma que na
adoece, assim, o objeto passa a ser o filtro
toxicomania o verdadeiro tóxico não é a
pelo qual se lê o mundo, como possibilidade
droga. Esta só entra em cena posteriormente
de conhecimento.
a uma “intoxicação primária” engendrada por
Poulichet divide a toxicomania em duas inadequações nas relações com os objetos
modalidades distintas: primordiais.

• Suplemento: elemento extra com a


tentativa de suprir uma falta; estado
de suspensão do desejo a partir do
LEITURA INDICADA
anestesiamento; está relacionada com a 11:53
constituição de próteses narcísicas que têm Livro: A farmácia de Platão
a função de dar sustentação ao ser; pode ser
considerada como uma maneira de não se
submeter à castração.

• Suplência: supre a falta do outro; paradoxal


tentativa de autoconservação; opera como
sustentáculo narcísico, ao mesmo tempo em
que sua subjetividade desaparece diante
do objeto-droga, o qual passa a ocupar um
lugar totalizante; relação com o objeto-
droga passa a ser dual e exclusiva.

Tomando como ponto de partida o diálogo


do Fedro de Platão,Derrida nos apresenta
Para um sujeito que tem poucas 15:40 aquela que considera sua questão central:
condições de enfrentamento, de escrever é decente ou indecente?
processamento psíquico, uma
experiência boa é uma experiência
de dor.

27
PERSONALIDADE
24:58
Sandra Torossian
Psicanalista, professora e pesquisadora,
coordenou o Centro de Referência e apoio
institucional para políticas de cuidado ao
uso de drogas. Tem desenvolvido trabalhos
e pesquisa na área da Psicanálise em
interface com a Saúde Coletiva e as Políticas
públicas, com ênfase nas temáticas da
infância, adolescência, drogas e contextos de
vulnerabilidade social e crueldade.

28
Resumo da disciplina
Veja, nesta página, um resumo dos principais conceitos vistos ao longo da disciplina.

AULA 1

Com o decorrer do tempo, há


uma perda da importância da
psicopatologia e um aumento de
importância do diagnóstico.
A patologia não é uma
expressão linear da nosologia.

O DSM é uma tentativa de escapar


do impasse da noção de doença
mental pela via pragmática.

AULA 2

A medicina, ao longo do tempo, se


organizou basicamente em torno
do passo inicial do diagnóstico.
A tecnologia, no campo médico, produz
outras possibilidades de inserção do
sujeito no mundo

Uma clínica do sujeito começa por


uma posição ética de pressuposição
do sujeito

AULA 3

A organização do fenômeno da
medicalização muda a forma como
compreendemos o humano.
Não temos uma costura entre
oferta medicamentosa e prática
psicoterápica. A farmacologia
se tornou a principal prática de
Para um sujeito que tem poucas enfrentamento.
condições de enfrentamento, de
processamento psíquico, uma
experiência boa é uma experiência
de dor

29
Avaliação
ca-

-
Veja as instruções para realizar a avaliação da disciplina.

Já está disponível o teste online da disciplina. O prazo para realização


é de dois meses a partir da data de lançamento das aulas. ​

Lembre-se que cada disciplina possui uma avaliação online.


A nota mínima para aprovação é 6. ​

Fique tranquilo! Caso você perca o prazo do teste online, ficará aberto
o teste de recuperação, que pode ser realizado até o final do seu curso.
A única diferença é que a nota máxima atribuída na recuperação é 8. ​

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