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firmemente pressionado na borda esternal esquerda

baixa e com o paciente sentado com o tronco


inclinado para frente;
: - O som lembra o ranger entre duas superfícies
rugosas (ex.: lixas);
- A infamação aguda dos folhetos pericárdicos
pode levar a uma síndrome cujo principal marcador - O atrito pericárdico possui três componentes: um
é a dor torácica; pré-sistólico (pela contração atrial), um sistólico e
um protodiastólico;
- A dor torácica tem características que sugerem
a origem pericárdica: Localização precordial ou - O componente diastólico pode fundir-se ao pré-
retroesternal, tipo contínua, longa duração sistólico na taquicardia, transformando o som em
(horas, dias), irradia para a região cervical e bifásico;
para o trapézio, tipo pleurítica (piora nítida com
- Eventualmente, o atrito pode ser confundido com
a inspiração profunda, tosse e espirro), piora
o som da pele colando e descolando do diafragma
com o decúbito dorsal, alivia na posição sentada
no estetoscópio durante os batimentos cardíacos
com o tronco inclinado para frente.
ou mesmo com o crunch do enfisema mediastino;
- O que mais chama a atenção é o tipo pleurítico e
- Em cerca de 30% das vezes, o atrito possui apenas
a variação da intensidade segundo a posição do
o componente sistólico (isso é comum na fibrilação
paciente.
atrial), confundindo-se com um sopro sistólico de
- Eventualmente, a dor é de caráter constritivo, regurgitação;
com irradiação para o braço esquerdo,
- O diagnóstico é presumido pelo restante do
simulando a dor anginosa.
quadro clínico e pelos exames complementares.
- O paciente também pode queixar-se de dispneia,
- Uma característica particular do atrito é a sua
geralmente, devido à necessidade de respirar
evanescência: sua intensidade pode variar no
superficialmente para evitar a dor;
mesmo dia, podendo mesmo desaparecer e
- Outros sintomas podem ser os de um quadro reaparecer.
gripal (febre, dor no corpo, fadiga), um pródromo
comum da pericardite aguda, geralmente de
etiologia viral.
- Não existe um exame padrão-ouro para a
Exame Físico: confirmação diagnóstica de pericardite aguda;
- Paciente encontra-se frequentemente - O diagnóstico pode ser feito pela relação entre
taquicárdico e um pouco taquipneico; um quadro clínico compatível e exames
- O achado patognomônico de pericardite aguda é complementares com padrões característicos;
o atrito pericárdico, presente em 85% dos casos; - O atrito pericárdico é parte fundamental do
- O atrito pericárdico é um som áspero, geralmente diagnóstico.
sisto-diastólico, mais audível, com o diafragma
Eletrocardiograma:
- O mais característico é o aparecimento de uma
corrente de lesão do tipo supradesnível de ST, com
o ST de aspecto côncavo e a onda T positiva e
apiculada;
- Este aspecto normalmente é visto em várias
derivações, poupando, na maioria das vezes, V1 e
aVR;
- Uma alteração característica, nem sempre vista, é
o infradesnível do PR;
- Se acompanharmos a evolução do ECG,
observaremos que existem quatro fases evolutivas: Ecocardiograma:

Fase I (no momento da dor) – supradesnível de ST - O principal achado neste exame é o derrame
em várias derivações, onda T positiva e apiculada; pericárdico, que pode ser de extensão variável, de
pequena a grande monta.
Fase II (dias após) – volta do ST à linha de base,
com a onda T aplainada; - O mais comum é a ausência de derrame, ou um
derrame leve. A ausência de derrame pericárdico
Fase III (1-2 semanas após) – inversão da onda T; no ecocardiograma, portanto, não exclui o
Fase IV (semanas ou meses após) – normalização diagnóstico de pericardite aguda.
do ECG. Outros exames:
- As quatro fases estão presentes em 50% dos - RX de tórax geralmente é normal, a não ser se
casos; houver um derrame pericárdico de moderada a
- Na pericardite crônica, a inversão da onda T pode grande quantidade;
persistir indefinidamente; - O exame de sangue pode revelar uma leucocitose
- O principal diagnóstico diferencial é com o IAM; discreta e um aumento do VHS.

- O que sugere pericardite é: - Na pericardite piogênica há leucocitose


acentuada, com desvio para a esquerda;
(1) a concavidade mantida do ST quando supra
desnivelado; - As enzimas cardíacas podem elevar-se, porém, de
forma discreta.
(2) o infradesnível do PR;
Diagnóstico:
(3) o fato da inversão da onda T só ocorrer quando
o ST já voltou à linha de base; Confirmado na presença de pelo menos dois
entre os quatro critérios abaixo:
(4) e a ausência de onda Q de necrose na evolução
do ECG. - Dor torácica típica;
- Atrito pericárdico;
- Alterações ao ECG compatíveis (elevação difusa
do segmento ST);
- Derrame pericárdico novo ou pior
evolutivamente.
a dor torácica e a síndrome pericárdica
propriamente dita.
- O atrito pericárdico está presente em menos de
50% dos casos. Isso dificulta o diagnóstico e torna
esta entidade uma doença grave e de alta
mortalidade (70%), pois mesmo com o tratamento
antibiótico parenteral, a chance de tamponamento
Pericardite Viral e Idiopática: cardíaco é muito grande, se o pericárdio não for
- São as duas causas mais comuns de pericardite drenado;
aguda; - A pericardite piogênica geralmente ocorre como
- Entre os vírus, aqueles com mais frequência complicação de uma infecção bacteriana torácica
implicados são o Coxsackie B e o Echovirus tipo ou abdominal alta, como pneumonia, empiema
8, vírus que comumente são causas de gripe e pleural, mediastinite, abscesso subfrênico,
resfriado comum; endocardite bacteriana, pelo mecanismo da
contiguidade.
- Muitos outros vírus podem causar pericardite,
como o vírus infuenza, o vírus Epstein-Barr, o - Pode também ser consequência de uma
citomegalovírus, o vírus do sarampo, da caxumba, bacteremia, por disseminação hematogênica. É
da varicela-zóster, da rubéola, da hepatite B etc; uma das complicações infecciosas do pós-
operatório de cirurgia torácica ou relacionada a
- No quadro clínico, geralmente há um pródromo trauma torácico.
de uma síndrome gripal e de virose de vias
respiratórias superiores, precedendo o quadro de - O derrame pericárdico crônico e a
pericardite em 1-3 semanas; imunossupressão são fatores de risco importantes
para a pericardite piogênica.
- O diagnóstico, em geral, é presuntivo
simplesmente pela clínica compatível, após - As bactérias mais comuns são: Staphylococcus
afastarem-se outras causas; porém pode ser aureus, Streptococcus pneumoniae,
confirmado por uma viragem sorológica viral Streptococcussp., seguidos por Gram-negativos
positiva (aumento dos títulos de anticorpo entéricos (E. coli, Klebsiella sp., ...), Neiseria
antiviral maior ou igual a quatro vezes, em um meningitidis e Haemophilus infuenzae.
período de três semanas) ou mesmo pela detecção - A maioria dessas bactérias geralmente atinge o
do vírus por PCR. pericárdio como complicação de uma infecção
- Tanto os quadros virais quanto idiopáticos contígua, enquanto que o meningococo e,
costumam ser autolimitados, com regressão dos eventualmente, o S. aureus chegam por
sintomas em 1-3 semanas; disseminação hematogênica.

- A complicação mais comum é a pericardite - O H. infuenzae é causa de pericardite piogênica


recorrente, podendo haver raramente em crianças;
tamponamento cardíaco e evolução para pericardite - O diagnóstico deve ser suspeitado em pacientes
constritiva; com quadro clínico sugestivo de infecção
Pericardite Piogênica: bacteriana, hemograma com leucocitose
acentuada e desvio para a esquerda, associado ao
- A síndrome clínica da pericardite bacteriana ou aumento da área cardíaca pela radiografa de
piogênica costuma ser diferente: o paciente tórax.
apresenta um quadro agudo de febre alta (39-40o
C), calafrios, sudorese noturna, dor no corpo, - O ECG frequentemente também é uma pista,
prostração e dispneia, muitas vezes sem valorizar revelando alterações compatíveis com
pericardite aguda.
- Após a suspeita, deve ser realizado Pericardite Pós-Cirúrgica ou Pós-Traumática
imediatamente um ecocardiograma para verificar
- A presença de atrito pericárdico não é incomum
o derrame pericárdico e programada a drenagem
no pós-operatório imediato de cirurgia cardíaca;
pericárdica, normalmente uma pericardiotomia
subxifoide. Paralelamente, um esquema - Eventualmente, o paciente apresenta dor
antibioticoterápico parenteral (ex.: oxacilina + pericárdica, febre baixa e alterações no ECG de
gentamicina) deve ser iniciado – os antibióticos pericardite aguda;
têm boa penetração pericárdica.
- Esta é a pericardite aguda precoce pós-cirurgia
- O líquido pericárdico tem aspecto turvo ou cardíaca, ocorrendo na 1ª semana de pós-
purulento; deve ser colhido e mandado para exames operatório, sua causa é o próprio trauma da
de bacterioscopia (Gram) e cultura bacteriana, com pericardiotomia.
antibiograma, para posterior orientação da
antibioticoterapia. - O tamponamento cardíaco do P.O. imediato é
devido a hemopericárdio agudo;
- Muitos pacientes são diagnosticados já na fase de
tamponamento cardíaco, complicação que ocorre - A síndrome pós-pericardiotomia tem um quadro
em 40% dos casos e é a principal causa de óbito clínico muito semelhante à síndrome de Dressler;
nesses pacientes. - É um quadro de pleuropericardite, associado à
febre baixa, fraqueza e dor no corpo, leucocitose
e aumento do VHS, manifestando-se após a 1ª
semana de P.O. (semanas a meses após,
geralmente, na 2ª ou 3ª semana);
- Sua patogênese é semelhante à síndrome de
Dressler (autoimune), porém com uma participação
provável de infecção viral, como fator permissivo;
- São comuns a dor torácica pleuropericárdica, o
atrito pericárdico e pleural, discreto aumento da
área cardíaca e derrame pleural bilateral ou
apenas à esquerda.
- O ECG pode ter alterações de pericardite, e o
ecocardiograma apresenta derrame pericárdico –
A síndrome costuma ser autolimitada, porém pode
complicar-se com pericardite recorrente,
- Outra complicação relativamente frequente é a tamponamento e pericardite constritiva;
pericardite constritiva precoce. Se o tratamento for Pericardite Urêmica
iniciado nas fases iniciais, antecedendo as
complicações, a mortalidade é baixa: < 10%. - O principal mecanismo proposto para a
inflamação pericárdica na insufciência renal é a
Pericardite relacionada ao HIV ação direta das toxinas nitrogenadas urêmicas
- A pericardite aguda é causada mais comumente sobre os folhetos pericárdicos, que se tornam
por infecção viral ou pelo próprio HIV, entretanto friáveis e propensos a hemorragias; motivo pelo
pode ser causada por infecções oportunistas, qual o derrame geralmente é sanguinolento.
como citomegalovírus, tuberculose, criptococose - Com níveis de creatinina muito elevados, acima
e bactérias piogênicas; de 8,0 mg/dl, na IRC, um quadro de dor pericárdica
- O risco de morte em seis meses aumenta em nove aguda, associada ao aparecimento do atrito
vezes.
pericárdico e derrame pericárdico no - Tem um curso autolimitado, com raras
ecocardiograma, pode sobrevir; complicações;
- O aspecto patológico clássico é o da chamada
“pericardite em pão com manteiga”.

- A pericardite reumatoide ocorre em 10-25% dos


casos de artrite reumatoide, geralmente relacionada
à presença de nódulos subcutâneos, à doença
articular mais avançada e à positividade para o
fator reumatoide;
- Pode complicar-se com tamponamento cardíaco e
com pericardite efusivo-constritiva;

- Este quadro costuma responder muito bem ao - Nos casos duvidosos, em que é feita a
início da diálise. A pericardite urêmica pericardiocentese diagnóstica, o líquido
contraindica o uso de anticoagulantes, e a heparina caracteristicamente contém mais de 20.000
deve ser usada com muito cuidado nas sessões de leucócitos por campo, glicose abaixo de 45 mg/dl,
hemodiálise; e positividade para o FR;

- Eventualmente, a pericardite manifesta-se em - O uso de corticoides não altera o curso da


pacientes já em programa de diálise há mais de pericardite, que costuma melhorar com o período
três meses, o que denominamos pericardite de inativação da doença;
relacionada à diálise; - A pericardite lúpica ocorre em 20-45% dos casos,
- Sabe-se que, na maioria das vezes, o quadro sendo a manifestação cardiovascular mais
melhora com a intensificação da diálise (ex.: passar frequente do LES;
as sessões de hemodiálise para frequência diária). - Manifesta-se agudamente junto a outras
Nos casos não responsivos, indicam-se os AINEs, manifestações de atividade da doença, como artrite,
a pericardiocentese seguida da instilação de pleurite, rash cutâneo, febre e sintomas
corticoide na cavidade ou, nos casos mais constitucionais;
refratários, a pericardiectomia.
- O seu curso acompanha essa atividade. O
Pericardite relacionada às Colagenoses tamponamento cardíaco ocorre em menos de 10%
- As colagenoses que mais comumente podem dos casos, e é rara a evolução para pericardite
cursar com pericardite aguda são a febre reumática, constritiva;
a artrite reumatoide e o lúpus eritematoso - Deve ser diferenciada clinicamente das
sistêmico. pericardites infecciosas, que podem acometer
- A pericardite reumática é uma causa comum de indivíduos que fazem uso crônico de
pericardite aguda em crianças, faixa etária na qual corticosteroides.
a pericardite viral tem menor incidência; - Raramente, é necessária a pericardiocentese
- Pode ocorrer associada ou não ao diagnóstica, que é inespecífca: menos de 10.000
comprometimento das outras estruturas cardíacas; leucócitos por campo e glicose baixa.

- Quando não há sinais de miocardite nem de - O tratamento é feito com AINEs ou com doses
valvulite reumáticas, não é necessário o uso dos anti-inflamatórias de corticoides.
corticosteroides na terapia, que pode ser feita
apenas com AAS;
- Outras colagenoses, em especial a esclerodermia, - Na maioria das vezes, entretanto, a pericardite
podem associar-se à pericardite aguda, porém mais aguda é de causa viral ou idiopática, sendo uma
raramente que as citadas acima. doença autolimitada.
Outras Causas de Pericardite Aguda Internação hospitalar: Não é necessária em todos
os casos, sendo indicada em pacientes com
- A tuberculose pericárdica pode manifestar-se manifestações de alto risco de evolução
como pericardite aguda, porém o mais comum é desfavorável, como:
uma apresentação clínica subaguda ou crônica, - Febre > 38 oC e leucocitose;
com um quadro clínico de uma doença sistêmica, - Evidências de tamponamento cardíaco ou
muitas vezes sem sintomas referentes ao derrame pericárdico importante;
pericárdio; - Curso subagudo da doença (sem quadro agudo de
dor torácica);
- Infecções fúngicas podem causar pericardite. O - Imunodeprimidos;
mais comum nesse contexto é o Histoplasma - Uso de antagonistas da vitamina K (varfarina);
capsulatum, que causa a pericardite secundária a - Trauma recente;
fenômenos imunológicos; - Falência terapêutica ao tratamento com AINE ou
colchicina;
- A pericardite por histoplasma não requer - Troponina elevada (sugere miocardite associada).
tratamento específco (apenas AINEs), a não ser que
faça parte da forma aguda disseminada da doença. - Em geral, o quadro é autolimitado e o tratamento
- Em pacientes imunossuprimidos, Candida e é apenas sintomático, além da retirada do fator
Aspergillus podem ser causa de pericardite; desencadeante (medicamento suspeito =
suspender; uremia = diálise; tratamento específico
- As pericardites relacionadas ao IAM podem se das doenças autoimunes). A atividade física
dever à lesão direta do pericárdio, devido à extenuante deve ser evitada até a resolução dos
infamação secundária a uma isquemia sintomas.
transmural em área contígua (pericardite
epistenocárdica) ou por fenômeno imunológico - O tratamento padrão envolve um agente anti-
(Síndrome de Dressler); inflamatório não esteroidal (por 1-2 semanas),
associado à colchicina. Opções:
- A primeira ocorre já na 1ª semana e só envolve o
pericárdio; a segunda ocorre na 2ª ou 3ª semana e  Ácido acetilsalicílico 650-1.000 mg
acomete também outras serosas (pleura, VO de 8/8 horas (dar preferência na
principalmente). pericardite pós-infarto);
 Ibuprofeno 600-800 mg VO de 8/8
- A pericardite aguda também pode estar
horas;
relacionada ao uso de algumas drogas. Nesse  Indometacina 25-50 mg VO de 8/8
contexto, as drogas mais importantes são as horas;
relacionadas à síndrome lupus-like,
principalmente isoniazida e hidralazina.  Naproxeno 250-500 mg VO de 12/12
horas.
- A hipersensibilidade às penicilinas pode levar à
pericardite aguda, associada a rash cutâneo, Associar à colchicina 0,5 mg VO de 12/12 horas,
eosinoflia e, às vezes, nefrite intersticial. A por 3-6 meses.
doxorrubicina e o minoxidil podem levar à
pericardite por mecanismos desconhecidos. - Se refratariedade a AINE: Substituir por
corticoide e manter colchicina (evitar em pacientes
com pericardite pós-infarto):

- Nos casos específicos, como a pericardite  Prednisona 0,25-0,5 mg/kg VO de


piogênica e a pericardite urêmica, o tratamento 24/24 horas, por 2-4 semanas.
deve ser orientado à causa básica;
Pericardite piogênica: recorrência dos sintomas (dor pericárdica),
Pericardiocentese (drenagem) + antibioticoterapia algumas vezes, de forte intensidade.
empírica (vancomicina + ceftriaxona ou
cefepima): - O tratamento, a princípio, pode ser o mesmo do
primeiro episódio, dando preferência para os
Vancomicina 25 mg/kg EV em dose de ataque + 15 AINEs, em associação ou não com corticoides ou
mg/kg EV de 12/12 horas; colchicina;

- Em casos de dor intratável, podemos recorrer à


Associar à ceftriaxona 2 g EV de 24/24
pericardiectomia, efcaz em uma minoria de
horas ou cefepima 2 g EV de 12/12 horas. pacientes, apenas;
Pericardiocentese - A colchicina, na dose de 1 mg/dia, pode ser
utilizada na profilaxia de recorrências por até dois
Indicações: anos. Embora se tente evitar a corticoterapia
crônica nestes casos, alguns pacientes acabam
Tamponamento cardíaco; necessitando de baixas doses de prednisona para
prevenir as recorrências.
Derrame pericárdico > 20 mm (na diástole);
Pericardite Constritiva e Efusivo-Constritiva:
Suspeita de pericardite purulenta ou tuberculosa.
No caso da pericardite viral e idiopática, são
complicações raras. Não são raras, entretanto,
Contraindicações: quando a causa da pericardite é piogênica,
tuberculosa, neoplásica, actínica ou pela
Suspeita de dissecção aórtica; esclerodermia. Contudo, uma síndrome constritiva
leve ocorre durante a convalescença da pericardite
Diagnóstico pode ser realizado por meios menos viral ou idiopática em 9% dos casos, cedendo após
invasivos; o primeiro mês.

Relativas: coagulopatia não corrigida;


3
trombocitopenia < 50.000/mm .

Tamponamento Cardíaco - O quadro clínico das pericardites subagudas ou


crônicas normalmente não chama a atenção para
- Ocorre em 15% dos casos de pericardite aguda, uma síndrome pericárdica, muitas vezes não
necessitando, na maioria das vezes, apenas de uma havendo dor torácica, atrito pericárdico ou
pericardiocentese de alívio; alterações eletrocardiográfcas clássicas da
pericardite aguda.
- É mais comum na pericardite piogênica (quando
sempre é necessária a drenagem pericárdica) e com - As doenças que causam pericardite
o uso de anticoagulantes. subaguda/crônica podem manifestar-se de três
formas:
Pericardite Recorrente:
(1) evolução insidiosa (semanas ou meses) com
- É a complicação mais comum da pericardite sintomas gerais, tais como emagrecimento, astenia
aguda. e febre baixa (quando a dor torácica está presente,
em geral, não é característica da dor pericárdica
- Em 20-30% dos casos, semanas ou meses após o clássica, manifestando-se mais como uma dor
primeiro episódio, o paciente apresenta uma
retroesternal ou precordial contínua, de leve a Pericardite Tuberculosa
moderada intensidade e de caráter opressivo);
- O Mycobacterium tuberculosis pode chegar ao
(2) derrame pericárdico crônico assintomático; pericárdio de duas formas: por contiguidade de um
foco de infecção torácica ativa (linfonodo
(3) abrir o quadro já com uma complicação,
mediastinal, pleura ou pulmão) ou por via linfo-
como o tamponamento cardíaco, a pericardite
hematogênica, durante a primo-infecção,
constritiva ou a pericardite efusivo-constritiva.
geralmente subclínica, manifestando um quadro de
pericardite anos depois, pela reativação do foco
pericárdico (tuberculose secundária).
- Na maioria das vezes, é suspeitado pelo achado - O quadro clínico caracteriza-se, em sua maioria,
de uma área cardíaca aumentada na radiografa pelo desenvolvimento insidioso de sintomas não
de tórax, confirmando um derrame pericárdico específicos, como emagrecimento, hiporexia
no ecocardiograma; astenia, febre e sudorese noturna;
- Essas doenças também podem se manifestar com - Às vezes, o paciente refere uma dor retroesternal
um quadro de pericardite aguda clássica, ou precordial contínua, de leve intensidade e
diferenciando-se da pericardite aguda viral ou opressiva;
idiopática pelo fato de não serem autolimitadas;
- Outras vezes, um derrame pericárdico crônico
- Diante de um quadro clínico de pericardite, a assintomático é descoberto.
persistência do derrame pericárdico ou dos
sintomas por mais de três semanas indica uma - O exame físico geralmente não tem alterações
pericardiocentese diagnóstica. sugestivas de doença pericárdica, sendo incomum
o atrito pericárdico.
- A maioria dos autores indica um breve ciclo de
anti-inflamatórios, que algumas vezes resolve o - A suspeita diagnóstica de pericardite é feita pela
quadro, antes da pericardiocentese. Nos casos em constatação de aumento da área cardíaca na
que este exame não é diagnóstico, recorre-se à radiografa de tórax e confirmação de derrame
biópsia pericárdica, percutânea ou guiada pela pericárdico no ecocardiograma;
pericardioscopia. - O derrame pleural tuberculoso está presente em
- Com isso, faz-se um diagnóstico específco em 5% 40% dos casos, quase sempre unilateral.
dos casos (os outros 95% são pericardites agudas Eventualmente, o quadro clínico é o de uma
virais ou idiopáticas com um curso protraído ou pericardite aguda clássica, com dor pericárdica,
recidivante); atrito e evolução em 1-2 semanas;

- Quando há tamponamento cardíaco, o - O ecocardiograma revela derrame pericárdico,


geralmente de moderada quantidade e algumas
diagnóstico específco é feito em 50% dos casos.
vezes com imagens hiperecogênicas no espaço
pericárdico, sugestivas de fibrina; este último
aspecto sugestivo do diagnóstico;
- A etiologia da pericardite subaguda/crônica é - A pericardiocentese diagnóstica deve sempre ser
liderada, em nosso meio, pela pericardite realizada, pois o derrame normalmente persiste por
tuberculosa. mais de três semanas;
- As outras causas são: neoplásica, mixedema, - As características do líquido são as de um
uremia, radioterapia, colagenoses (ex.: artrite exsudato, com celularidade moderadamente
reumatoide), pericardite por cristais de colesterol, aumentada (500-2.500/ mm3) e com predomínio de
quilopericárdio e derrame pericárdico crônico linfócitos na maioria dos casos, exceto nas fases
idiopático. iniciais, quando podem predominar os
polimorfonucleares;
- Para a confirmação diagnóstica, a bacterioscopia, - A dose é de 60 mg/dia de prednisona no primeiro
pela coloração Ziehl-Neelsen, deve ser positiva, mês, com redução progressiva nos próximos dois
contudo isso ocorre em menos de 25% dos casos; meses;
- A dosagem da enzima adenosina deaminase no - A pericardiectomia está indicada nos casos em
líquido pericárdico (ou pleural) é de extremo que há derrame pericárdico recorrente ou síndrome
auxílio no diagnóstico: um estudo prospectivo em constritiva precoce, devendo ser realizada entre 4-
26 pacientes mostrou que um valor > 40 U/L tem 6 semanas após o início do tratamento.
uma sensibilidade de 93% e uma especificidade de
Pericardite relacionada ao HIV
97%;
- O derrame pericárdico crônico assintomático é
- O líquido pericárdico sempre deve ser mandado
um sinal de imunodepressão nos pacientes
para cultura, que é positiva em menos de 50% dos
infectados pelo HIV, estando presente em 30-40%
casos. Quando o diagnóstico não é confirmado pela
dos casos;
bacterioscopia, não podemos esperar o resultado da
cultura para indicar a terapêutica, pois o M. - Em sua maioria, não é encontrada nenhuma outra
tuberculosis pode demorar até 60 dias para crescer causa, além da própria infecção pelo HIV;
no meio apropriado;
- Outras vezes, encontra-se o diagnóstico de
- Neste caso, o melhor método diagnóstico é a infecções oportunistas, principalmente a
biópsia pericárdica guiada pela pericardioscopia. O pericardite tuberculosa ou a pericardite por
material biopsiado é mandado para exame Cryptococcus neoformans, ou então de neoplasias,
bacterioscópico, cultura e histopatológico; como o sarcoma de Kaposi e o linfoma não
Hodgkin;
- A bacterioscopia continua tendo baixa
sensibilidade (25%), mas o histopatológico - A presença de sintomas gerais (febre,
frequentemente mostra granuloma caseoso, que no emagrecimento, astenia, sudorese noturna), de
nosso meio é praticamente diagnóstico de um grande derrame ou a evolução para
tuberculose; tamponamento cardíaco aumentam a chance de
se achar uma causa secundária (em cerca de 50%
- Quando todos os exames são negativos, ainda
desses casos), a mais comum sendo a pericardite
assim, não podemos afastar o diagnóstico; nesse
tuberculosa;
caso se impõe uma prova terapêutica. As principais
complicações são o tamponamento cardíaco e a - A investigação diagnóstica deve incluir uma
pericardite constritiva (ou efusivo-constritiva); pericardiocentese, corando-se o líquido com Gram,
Ziehl-Neelsen e Nanquim (criptococo), e
- O primeiro deve ser abordado com
mandando-se o material para cultura de bactérias,
pericardiocentese de alívio e drenagem
microbactérias e fungos para citologia (pesquisa de
pericárdica; na pericardite constritiva está
células neoplásicas);
indicada a pericardiectomia;
- O aspecto hemorrágico sugere o diagnóstico de
- A incidência da pericardite constritiva
sarcoma de Kaposi. Às vezes, é necessária a biópsia
tuberculosa não diminui com o tratamento
pericárdica para o diagnóstico. O tratamento da
específco, ocorrendo em 30% dos casos. O
causa secundária deve ser precoce, pois é comum a
tratamento da pericardite tuberculosa é feito com o
evolução para complicações. A pericardite aguda é
esquema RIP durante seis meses (RIP por dois
mais comum entre os pacientes com HIV, na
meses e RI por quatro meses).
maioria das vezes sem causa secundária, a não ser
- A associação de corticosteroides nos primeiros viral.
três meses da terapia é controverso, porém os
Pericardite Neoplásica
últimos estudos apontam benefício: melhora mais
rápida dos sintomas, menor necessidade de - Na maioria das vezes, o comprometimento
pericardiectomia e menor mortalidade (4% x 11%). neoplásico do pericárdio é por metástase via linfo-
-hematogênica, ou por contiguidade de tumores - Nesses pacientes, se houver derrame pericárdico
intratorácicos; significativo recorrente ou síndrome constritiva,
está indicada a pericardiectomia;
- A neoplasia primária do pericárdio é rara, sendo
o tipo mais comum o mesotelioma maligno - No caso específco do adenocarcinoma de pulmão,
relacionado à exposição a fibras de asbesto; a cisplatina parece ser efetiva em tratar o
envolvimento pericárdico.
- Os cânceres que mais comumente dão metástase
pericárdica são o carcinoma broncogênico - A infusão intrapericárdica de tetraciclina ou
pulmonar, o câncer de mama, a doença de Hodgkin bleomicina é uma alternativa que pode prevenir o
e os linfomas não Hodgkin; reacúmulo de líquido; entretanto, pode facilitar o
surgimento de pericardite constritiva.
- Entre as manifestações clínicas mais comuns
estão o derrame pleural assintomático, a Pericardite Actínica
pericardite aguda clássica e o tamponamento
- Quando a radioterapia é direcionada ao tórax,
cardíaco como primeira manifestação do quadro;
como ocorre no tratamento da doença de Hodgkin,
- O tamponamento cardíaco pode ser pelo derrame nos linfomas não Hodgkin e no câncer de mama, a
pericárdico, frequentemente hemorrágico, ou pela probabilidade de paricardite e/ou miocardite
presença de massas intrapericárdicas comprimindo actínica torna-se importante;
o coração;
- A radioterapia “em manto” direcionada aos
- A infiltração neoplásica difusa do pericárdio pode linfonodos mediastinais geralmente atinge 60% da
levar ao espessamento e quadro de pericardite área cardíaca, com uma incidência de pericardite
constritiva; entre 5-7%, com a dose de 4.000 rads em quatro
semanas;
- O diagnóstico deve ser feito através de uma
pericardiocentese, com exame citológico do - O risco aumenta com o aumento da dose
líquido; cumulativa de radiação e com o aumento do
percentual cardíaco irradiado;
- A sensibilidade deste exame é em torno de 85%,
sendo maior para os carcinomas. Mesmo se o - A pericardite actínica pode manifestar-se como
câncer primário já estiver diagnosticado, é um derrame pericárdico assintomático, como um
mandatório saber se o derrame pericárdico é quadro de pericardite aguda clássica ou como uma
neoplásico ou devido a causas benignas complicação, geralmente uma pericardite
associadas, como a radioterapia, quimioterapia constritiva ou efusivo-constritiva;
ou uma pericardite idiopática;
- A forma precoce ocorre durante a radioterapia,
- O tratamento depende do tipo de câncer, do seu enquanto a forma tardia (mais comum) aparece
estadiamento e se há comprometimento entre quatro meses a vinte anos depois (média de
hemodinâmico (tamponamento ou constrição); doze meses);
- O tamponamento quase sempre deve ser tratado, - O derrame pode ser seroso ou hemorrágico,
pois o seu alívio melhora os sintomas e a qualidade fazendo diagnóstico diferencial com a pericardite
de vida do paciente e impede a morte de um neoplásica. A diferenciação é feita pelo exame
paciente que ainda pode viver muitos meses ou citológico e, quando necessário, pela biópsia
anos; pericárdica. Outro diagnóstico diferencial
importante é com o mixedema pericárdico, pois a
- Se o estado geral do paciente estiver bom, a
lesão actínica da tireoide pode levar ao
sobrevida pode ser maior que um ano em 25% dos
hipotireoidismo;
pacientes tratados com radioterapia e/ou
quimioterapia; O tratamento baseia-se no uso de AINE ou
corticoide para os sintomas da pericardite ou a
pericardiectomia para a síndrome constritiva ou o quilopericárdio é o acúmulo, geralmente
derrame pericárdico recorrente. assintomático de linfa na cavidade pericárdica.
- A mortalidade cirúrgica é particularmente maior - A causa geralmente é uma fístula entre o ducto
(20%), pois, em muitos casos, há torácico e o pericárdio, ou alguma doença que
comprometimento miocárdico associado. comprometa significativamente a drenagem
linfática do pericárdio (neoplasia, tuberculose,
Mixedema pericárdico:
linfangiomatose congênita).
- É uma importante causa de grandes derrames
- O diagnóstico é pelo aspecto leitoso do líquido
pericárdicos assintomáticos;
pericárdico, rico em triglicerídeos e partículas de
- O hipotireoidismo cursa com derrame pericárdico gordura;
em 1/3 dos casos;
- O tratamento é a substituição da gordura
- Esse derrame provém do extravasamento de dietética por triglicerídeos de cadeia média ou, nos
líquido rico em proteína e colesterol, acumulando- casos refratários e sintomáticos, o reparo da fístula
-se lentamente. Algumas vezes, pode atingir grande ou uma pericardiectomia.
monta – até 2-5 litros;
- O líquido tem aspecto amarelado e é viscoso, às
vezes, com uma consistência de gel. Chama a
atenção uma grande área cardíaca na radiografa de
tórax em um indivíduo sem sintomas cardíacos;
- É um tipo de pericardiopatia na qual o
- O tamponamento é muito raro, pois o acúmulo pericárdio está endurecido e exerce um efeito
de líquido é muito lento. Nem sempre o quadro limitante ao enchimento ventricular diastólico,
clínico típico do hipotireoidismo está presente. O desencadeando uma síndrome congestiva;
exame do líquido pericárdico revela altos níveis de
colesterol e/ou um aspecto típico; - O pericárdio vai ficando progressivamente mais
rígido e espesso, formando uma verdadeira
- A confirmação é pela dosagem dos hormônios; “carapaça” em volta do coração;
e o tratamento, pela reposição hormonal. Com ela,
o derrame pericárdico vai sendo reabsorvido ao - Os dois pericárdios (parietal e visceral) se
longo de meses. fundem, obliterando o espaço pericárdico.

Outras Causas de Pericardite Subaguda/Crônica


- A síndrome urêmica e as colagenoses,
- O efeito limitante ao enchimento diastólico
principalmente o LES, a artrite reumatoide e a
ventricular promove a elevação das pressões
esclerodermia, podem cursar com derrame
diastólicas das quatro câmaras cardíacas,
pericárdico crônico ou recorrente assintomático,
tornando-as praticamente idênticas – o fenômeno
eventualmente evoluindo para tamponamento ou
da equalização pressórica, semelhante ao que
pericardite constritiva ou efusivo-constritiva (esta
ocorre no tamponamento cardíaco;
última é mais descrita na artrite reumatoide).
- Quando as pressões de enchimento aumentam
- A pericardite por cristais de colesterol é uma rara
para valores de 10-15 mmHg, instala-se um quadro
entidade, classificada em duas formas: a idiopática
de congestão sistêmica, geralmente a
e a secundária a outras doenças (tuberculose,
manifestação inicial ou predominante da doença.
AR, mixedema, hipercolesterolemia).
Embora rara, a congestão pulmonar pode aparecer
- O aspecto microscópico de “ouro cintilante”, com pressões acima de 20 mmHg;
como são vistos os cristais, é característico. O
tratamento é o da causa secundária ou das
complicações pericárdicas, que são raras. O
- O débito cardíaco pode não aumentar uma pessoa a 30º , quando a altura do pulso jugular
adequadamente com o exercício físico, pois há interno e a turgência da jugular externa reduzem
uma importante limitação à pré-carga; com a inspiração;
Alterações na Curva de Pressão Venosa: aqui - O sinal de Kussmaul é aumento (ou
surge uma das principais diferenças fitopatológicas simplesmente a não redução) da pressão venosa –
entre a pericardite constritiva e o tamponamento altura do pulso venoso ou turgência jugular – com
cardíaco. Enquanto, neste último, o descenso Y a inspiração;
está ausente ou reduzido, na pericardite
- O mecanismo deste fenômeno patológico é a
constritiva, o descenso Y é bastante proeminente.
restrição ao retorno venoso ao coração direito
- A diferença está na fase de enchimento rápido da associado à não transmissão da pressão
diástole: no tamponamento, a restrição contínua da intratorácica (negativa na inspiração) às
pressão intrapericárdica dificulta ou impede este cavidades cardíacas, devido ao “isolamento” pelo
enchimento; na pericardite constritiva, todavia, não pericárdio rígido;
há restrição ao enchimento nesta fase, pois o
O sinal de Kussmaul também pode estar presente
ventrículo ainda não se distendeu o suficiente
em qualquer caso de insufciência ventricular direita
para sofrer a limitação do pericárdio rígido.
grave ou na cardiomiopatia restritiva;
- Logo após o enchimento rápido inicial, há um
- O pulso paradoxal não costuma estar presente
“breque” diastólico, limitando o restante do
e, quando ocorre, é de leve intensidade. O
enchimento. Este fenômeno faz o descenso Y
mecanismo é diferente do tamponamento cardíaco,
ocorrer de forma abrupta, sendo bem notado à
pois não há aumento significativo do retorno
inspeção do pulso venoso;
venoso para o coração direito na inspiração;
- A sístole ventricular não está alterada na
- Neste caso, o motivo da leve redução da PA
pericardite constritiva, havendo, portanto, um
sistólica na inspiração é a redução das pressões no
descenso X normal;
sistema venoso pulmonar, diminuindo o retorno
- O resultado final é uma curva de pressão venosa venoso ao coração esquerdo.
em forma de “W ou M”, com proeminentes
descensos X e Y, assim como ocorre na
cardiomiopatia restritiva;
- O quadro clínico costuma manifestar-se com uma
síndrome congestiva sistêmica, predominando a
turgência jugular patológica, a hepatomegalia
congestiva, a ascite e o edema de membros
inferiores e da genitália;
- A ascite geralmente é de grande monta, chamando
atenção no quadro, frequentemente confundido
com uma hepatopatia crônica primária;
- Outra semelhança com esta última é a curva de - O médico perspicaz, ao examinar um paciente
pressão ventricular diastólica: em forma de “raiz com ascite e hepatomegalia, fará um cuidadoso
quadrada”, devido à rápida queda inicial, seguida exame das veias jugulares, pois a presença ou não
do abrupto aumento pressórico, formando um de turgência patológica é o “divisor de águas”
platô nos dois terços finais da diástole. para a investigação diagnóstica;
Sinal de Kussmaul: em pessoas normais, a pressão - Alguns pacientes podem não ter edema de
venosa central diminui na inspiração, devido ao membros inferiores, porém apresentam uma ascite
aumento do retorno venoso ao coração direito. importante;
Podemos notar isso, observando o pulso jugular em
- Os sintomas de congestão pulmonar, como a abertura mitral, da estenose mitral, e com a B3
dispneia aos esforços, ortopneia e dispneia (esta, porém, é mais afastada da B2 e tem um tom
paroxística noturna, e/ou de baixo débito grave);
cardíaco, como a fadiga, tonteira, indisposição
- Pode haver os estigmas periféricos de hepatopatia
física, podem aparecer nas fases mais avançadas;
crônica, como eritema palmar, telangiectasias,
- Quando o quadro de ICC está avançado, o atrofa testicular e icterícia;
paciente pode apresentar uma caquexia,
- Existem raros casos relatados de coma hepático
geralmente notada no tórax, na face e nos
na pericardite constritiva.
membros superiores;
- O diagnóstico diferencial mais difícil da
pericardite constritiva é a cardiomiopatia restritiva.

Eletrocardiograma:
- Os achados mais comuns neste exame são a baixa
voltagem do QRS e as alterações na
repolarização, geralmente achatamento ou
inversão da onda T;
- A onda P pode apresentar sinais de aumento
atrial esquerdo, comum na pericardite constritiva.
- A presença de doença do sistema de condução e a
presença de ondas Q de fibrose sugerem o
diagnóstico de cardiomiopatia, porém a extensão
do processo fibroso pericárdico para o epicárdio
pode levar a essas alterações.
Radiografa de Tórax:
- O exame físico revela um aumento da pressão - As alterações mais comuns são aumento da cava
jugular, turgência patológica e um pulso venoso superior, do átrio esquerdo, o derrame pleural e a
com dois descensos proeminentes (aspecto “em calcificação pericárdica;
W ou M”);
- Esta última está presente em 50% dos casos e
- A hepatomegalia está associada à detecção de um sugere a etiologia tuberculosa;
pulso hepático venoso visível e palpável à presença
do refluxo hepatojugular; - A calcificação geralmente cobre a superfície do
VD e o sulco atrioventricular. - A sua presença
- A ascite frequentemente é tensa, com o teste de isolada não indica
Piparote positivo; pericardite constritiva,
- O exame do precórdio pode mostrar uma retração porém, diante de um
sistólica da ponta, uma discreta hipofonese de quadro clínico e
bulhas e o achado mais característico: o “knock” ecocardiográfico
pericárdico; sugestivo, insinua muito o
diagnóstico. A área
- Este som protodiastólico, de tom agudo e timbre cardíaca costuma ser
áspero, corresponde ao “breque” no enchimento normal.
diastólico ventricular dado pela limitação
pericárdica. Pode ser confundido com o estalido de
Ecocardiograma: (1) diferença entre as pressões diastólicas do VE e
do VD menor que 5 mmHg;
- É de fundamental importância para afastar a
cardiopatia dilatada e as valvopatias tricúspides, (2) pressão arterial pulmonar sistólica < 50 mmHg;
importantes diagnósticos diferenciais;
(3) pressão diastólica final do VD maior que 1/3 da
- As pistas para o diagnóstico são: pressão sistólica.
- A identificação de duas linhas separadas por - A presença dos três critérios tem 91% de valor
líquido, correspondentes aos dois folhetos preditivo positivo para pericardite constritiva.
pericárdicos, hiperecogenecidade do pericárdio,
- A presença de apenas um ou de nenhum critério
movimento abrupto do septo interventricular no
sugere cardiomiopatia restritiva com acurácia de
início da diástole (septal bounce) e alterações
94%;
características nos fluxos mitral, tricúspide e das
veias hepáticas, de acordo com a respiração, - Em 1/4 dos pacientes em que dois critérios são
determinados através do Doppler. encontrados, o diagnóstico é duvidoso. A biópsia
endomiocárdica, durante o cateterismo, deve ser
- Devido à difícil visualização do pericárdio,
feita nos casos duvidosos, pois o achado de
algumas vezes o ecocardiograma não diferencia
miocardite, fibrose extensa ou uma determinada
entre pericardite constritiva e cardiomiopatia
doença infltrativa faz o diagnóstico de
restritiva.
cardiomiopatia restritiva;
Tomografa Computadorizada e Ressonância
- A análise dos níveis de BNP também pode ser útil
Nuclear Magnética:
na diferenciação entre pericardite constritiva e
- São exames de louvado valor para o cardiomiopatia restritiva. Apesar dos níveis
diagnóstico do espessamento pericárdico, estarem aumentados nas duas patologias, na
normalmente presente na pericardite constritiva, segunda as cifras são muito maiores (valor normal
com sensibilidade superior ao ecocardiograma; < 100 pg/ml; valor médio na pericardite constritiva
= 128 pg/ml; na CMP restritiva = 825 pg/ml).
- O grau de espessamento não está diretamente
relacionado com a repercussão hemodinâmica da
doença;
- A RNM tem uma sensibilidade ainda maior que a - A principal causa de pericardite constritiva é a
da TC. Um aspecto sugestivo de mau prognóstico tuberculose (2/3 complicam com pericardite
após a pericardiectomia é a não visualização da constritiva; o tratamento com RIP não previne
parede posterolateral do VE, significando fibrose e essa evolução).
atrofa miocárdica associada. - Outras causas são: artrite reumatoide, lúpus,
Cateterismo Cardíaco e Biópsia Endomiocárdica: esclerodermia, IAM e uremia.

- O cateterismo cardíaco direito e esquerdo, com a


medida das pressões intracavitárias, constitui um
exame importante para a caracterização do - Sem tratamento, a doença tem um caráter
comprometimento hemodinâmico constritivo, progressivo, culminando com a morte por ICC
diferenciando-o da síndrome restritiva; grave refratária;
- Apesar de tanto a constrição quanto a restrição - O tratamento consiste na pericardiectomia.
cursarem com pressões de enchimento elevadas e
equalizadas, algumas diferenças importantes - Durante esta cirurgia, quase todo o pericárdio
existem; parietal é retirado, corrigindo, assim, na maioria
das vezes, a síndrome constritiva e aliviando o
- Os três critérios que favorecem o diagnóstico de quadro de ICC. A mortalidade da cirurgia oscila
síndrome constritiva são: entre 5-10%, sendo alta naqueles pacientes em fase
muito avançada de doença (ex.: ICC refratária com dificultando a pericardiocentese. Com a
caquexia). Por isso, o procedimento deve ser pericardiocentese, muitos sintomas melhoram,
realizado o quanto antes. No caso da pericardite porém em muitos casos é necessária a
tuberculosa, é aconselhável esperar um período de pericardiectomia.
2-4 semanas de esquema RIP, antes de operar.
Nesse período, diuréticos podem ser úteis no
manejo de sintomas congestivos. Nos pacientes que
sobrevivem à cirurgia, a melhora clínica é
dramática.
- Quando os sintomas não regridem ou recidivam,
devemos pensar em uma das seguintes hipóteses:
disfunção miocárdica associada, pericardiectomia
incompleta (permanência do pericárdio visceral
constritivo) ou recidiva da doença (ex.: neoplasia).
- Uma nova cirurgia pode ser indicada para a - É definida como um processo inflamatório com
decorticação do pericárdio visceral. Uma necrose que envolve o miocárdio;
cineangiocoronariografa pré-operatória está
- Sua marca histológica é um infiltrado
indicada nos pacientes com história de angina ou
inflamatório localizado ou generalizado, com
mais de 50 anos.
dano ao miócito adjacente;
- A inflamação pode não ser restrita ao miocárdio,
envolvendo também o endocárdio adjacente, o
- Esta entidade normalmente é uma fase pericárdio e estruturas valvulares.
intermediária entre uma pericardite aguda ou
subaguda e a pericardite constritiva.
- É caracterizada pela presença de derrame
- Em geral inicia-se com infecção viral, porém o
pericárdico associado à constrição cardíaca pelo
começo do processo patológico pode ser resultado
pericárdio visceral espessado e rígido;
de uma variedade de fatores, com drogas, toxinas,
- Como o líquido pericárdico, nessas condições, reações de hipersensibilidade, doenças vasculares
encontra-se sob pressão, o quadro clínico e do colágeno e reações autoimunes;
hemodinâmico é idêntico ao do tamponamento
- Os vírus cardiotróficos mais prevalentes são:
cardíaco subagudo (pulso paradoxal, pulso
adenovírus, enterovírus, parvovírus B19, herpes-
jugular com ausência do descenso Y, ausência
simples, vírus da hepatite C (HCV),
do sinal de Kussmaul);
citomegalovírus (CMV) e Epstein-Barr (EBV);
- Porém, à pericardiocentese de alívio, segue-se a
instalação de um quadro constritivo (descenso Y
proeminente, sinal de Kussmaul) e a permanência
de alguns dos sintomas;
- A radiografa de tórax geralmente mostra uma
área cardíaca aumentada, por derrame pericárdico,
e o ECG revela baixa voltagem e alterações
inespecíficas do ST-T;
- O ecocardiograma mostra um derrame - As causas não infecciosas de miocardites incluem
pericárdico entre dois folhetos espessados e cardiotoxinas, catecolaminas, cocaína, metais
fibrosos do pericárdio. O líquido pode conter pesados, álcool, arsênico, monóxido de carbono,
imagens sugestivas de fibrina e estar septado, antraciclinas, reações de hipersensibilidade,
antibióticos, diuréticos, lítio, toxoide, terânico, esquerda sistólica ou diastólica, ou de
clozapina, picada de insetos e cobras, doenças taquiarritmias ou bradiarritmias;
sistêmicas, colagenoses, sarcoidose, doença
- Dias ou semanas após uma doença febril aguda,
celíaca, doença de Kawasaki, hipereosinofilia,
particularmente a síndrome influenza-like, surgem
granulomatose de Wegener, tireotoxicose.
os sintomas;
- 60% dos pacientes descrevem uma síndrome viral
prévia (febre, mal-estar, fadiga, artralgia mialgia e
- O espectro clínico da miocardite aguda é bastante erupção cutânea);
amplo. Varia de quadros assintomáticos a casos de
morte súbita ou insufciência cardíaca aguda - Dor torácica (35% dos casos);
fulminante com choque cardiogênico refratário. - Ocasionalmente, apresentam um quadro
- Miocardite aguda: pródromo viral com febre, compatível com IAM;
mialgia, fraqueza e sintomas constitucionais em até - O início abrupto de sintomas de insuficiência
80% dos casos. Dispneia, palpitações, arritmias e cardíaca congestiva em pacientes jovens ou sem
dor torácica são comuns. Esta última pode ser doença arterial coronariana conhecida
difícil de diferenciar da dor de origem isquêmica, frequentemente sugere miocardite.
já que esses pacientes costumam apresentar
alterações de eletrocardiograma (ECG), elevação
de marcadores de necrose miocárdica e perda de
contratilidade segmentar pelo ECG. Alguns casos
se apresentam com insufciência cardíaca e são
sugeridos após exclusão das causas mais frequentes
(valvar, isquêmica e hipertensiva).
- Miocardite fulminante: em geral associada a
quadros de rápida progressão (< 2 semanas) e
evolução para choque cardiogênico associado ou
não a febre e toxemia. O quadro se deve à produção
exacerbada de citocinas infamatórias pelo
hospedeiro em resposta à agressão inicial. Séries de
casos têm relatado reversão da disfunção
ventricular em até 90% dos pacientes, o que
ressalta a importância do adequado suporte
hemodinâmico para aumentar as chances de - As outras manifestações de uma doença viral
recuperação. dominam o quadro clínico, e o envolvimento do
miocárdico, pode tornar-se mais evidente no curso
da doença;

- Em geral, assintomática, sem evidência de - Doença cardíaca pré-existente pode obscurecer os


deficiência orgânica ventricular esquerda; resultados de miocardites em exames.

- O envolvimento miocárdico pode ser


obscurecido ou completamente mascarado pelos
sintomas constitucionais da doença ou outra - O diagnóstico da miocardite tem sido
deficiência orgânica; tradicionalmente baseado nos critérios
- Quando surgem os sintomas cardíacos, histológicos de Dallas, que avaliam a presença de
processo infamatório no miocárdio. Entretanto,
geralmente resultam da deficiência ventricular
em razão de sua baixa sensibilidade e abordagem
invasiva, com necessidade de biópsia miocárdica, - Ecocardiograma: o achado clássico é a
os casos de miocardite têm sido subdiagnosticados. hipocinesia difusa associada ou não a derrame
pericárdico. Podem também ocorrer alteração da
- Diante dessas limitações, uma nova abordagem
contratilidade segmentar com predomínio em
diagnóstica tem sido proposta baseada na avaliação
parede lateral e hipertrofa regional. As formas
de quatro variáveis:
clássicas de miocardite tendem a se apresentar com
1. Quadro clínico sugestivo. dilatação ventricular, enquanto os quadros
fulminantes estão mais associados a hipertrofa
2. Alteração estrutural, funcional ou dano septal e ventrículos normais ou pouco aumentados.
miocárdico na ausência de causa isquêmica.
3. Achados de RNM cardíaca sugestivos.
4. Evidência de infiltrado infamatório (pelos
critérios de Dallas) ou genoma viral em biópsia
miocárdica.
- Suspeita de miocardite: presença de dois
critérios; - Ressonância cardíaca: alteração da
contratilidade segmentar, hipertrofa regional,
- Compatível com miocardite: presença de três dilatação de câmaras cardíacas. Presença de realce
critérios; tardio após infusão de gadolínio e acometimento
que em geral poupa o endocárdio, ao contrário do
- Alta probabilidade de miocardite: presença de
que ocorre na lesão isquêmica. A ressonância pode
quatro critérios.
ser usada para guiar a biópsia miocárdica,
aumentando a acurácia do procedimento.
- Biópsia miocárdica: procedimento realizado por
via percutânea, com acesso venoso central e taxa de
complicações que varia de 2% a 5% (sangramento,
arritmias, perfuração miocárdica e tamponamento).
A baixa sensibilidade da biópsia se deve em grande
parte à natureza desigual do acometimento
miocárdico, que ocorre de maneira regional, por
vezes em segmentos de difícil acesso para o
biótomo. Além disso, o uso dos critérios de Dallas
para avaliação de necrose e infamação miocárdica
- Laboratório: elevação de PCR e VHS; apresenta grande variabilidade interobservador.
Apesar dessas limitações, a biópsia ainda é
- Os marcadores de necrose miocárdica são úteis,
considerada o padrão-ouro para o diagnóstico
porém não podem ser usados para descartar o
inequívoco de miocardite. O procedimento
diagnóstico por causa de suas limitadas
comumente é realizado às cegas em ventrículo
sensibilidade e especificidade;
direito, entretanto, se possível, deverá ser guiado
- Da mesma forma, dosagens de citocinas pela RNM cardíaca, uma vez que a identificação
infamatórias, anticorpos anticoração e sorologias prévia de áreas suspeitas aumenta
virais têm pouca utilidade clínica; consideravelmente o rendimento do procedimento.
- Eletrocardiograma: inversão da onda T,
supradesnivelamento do segmento ST, bloqueios
de ramo, arritmias supraventriculares e
ventriculares.
- Biologia molecular: as amostras histológicas - Exercício: atividade física deve ser restringida
podem ser submetidas à análise por técnicas de para reduzir a demanda cardíaca durante a fase
hibridização in situ ou PCR. O objetivo é a aguda da miocardite, especialmente quando há
detecção de genoma viral. Estudos recentes têm febre, infecção sistêmica ativa ou insuficiência
sugerido que essa avaliação tem valor diagnóstico cardíaca.
e prognóstico. Em geral, a persistência do genoma
viral está relacionada a piora da função ventricular - Tratamento da insuficiência cardíaca aguda:
e resposta desfavorável ao tratamento com
- De acordo com o perfil hemodinâmico do
prednisona e azatioprina. paciente. Para mais informações, acesse
Insuficiência Cardíaca Aguda.

- Tratamento das arritmias:

- As arritmias na miocardite geralmente ocorrem na


fase aguda da doença, havendo muitas vezes
resolução espontânea após essa fase. Uma das
razões para internação hospitalar do paciente em
fase aguda da doença consiste no monitoramento e
identificação precoce de arritmias e defeitos de
condução ameaçadores a vida.

- A droga antiarrítmica de escolha na miocardite é


a amiodarona. Devido aos efeitos pró-arrítmicos e
inotrópicos negativos, outros antiarrítmicos de
classe III e de classe I não são recomendados. Ela é
usada com mais frequência no tratamento de
taquicardia ventricular não sustentada (TVNS)
sintomática e na recorrência de taquicardias
ventriculares sustentadas, após cardioversão
imediata.

- O uso de betabloqueadores e bloqueadores de


canais de cálcio deve ser realizado com extremo
O tratamento da miocardite inclui medidas cuidado em pacientes com IC classe funcional IV.
gerais para a maioria dos tipos, como o tratamento Extrassístoles atriais e ventriculares e TVNS,
padrão da insuficiência cardíaca e para eventuais quando assintomáticas, não devem ser tratadas.
arritmias. Há também terapias específicas para
algumas etiologias selecionadas. Implante de cardiodesfibrilador implantável
(CDI): O implante de CDI geralmente é deferido
em pacientes com miocardite aguda, uma vez que
O que evitar:
todo o quadro pode ser transitório. No entanto,
encontra indicação nos casos de pacientes fora da
- Anti-inflamatórios não esteroidais: devem ser fase aguda e que apresentem arritmias
evitados, pois não são efetivos para a miocardite potencialmente fatais a despeito de terapia
em modelos animais, além do risco de exacerbação farmacológica otimizada, mas que apresentem
da insuficiência cardíaca e possível risco de expectativa de vida com boa classe funcional de
aumento da mortalidade; mais de um ano.
- Consumo de bebidas alcoólicas: deve se Terapia mecânica de suporte circulatório e
restringir ao limite de 14-15 g por dia, uma vez que transplante: Constitui uma opção para pacientes
tal substância pode aumentar a gravidade da com IC classe funcional III-IV refratária ao
miocardite; tratamento clínico otimizado. Quando
hemodinamicamente instáveis, com choque 3. Repouso e contraindicação de práticas de
cardiogênico refratário aos inotrópicos, necessitam exercício.
de terapia mecânica de suporte circulatório através
de dispositivos de assistência ventricular ou Insuficiência Cardíaca Aguda
membrana de oxigenação extracorpórea. Esses
dispositivos são usados como ponte para 4. Vasodilatador: Na dependência do perfil
recuperação espontânea ou para transplante hemodinâmico:
cardíaco.
Nitroglicerina (50 mg/5 mL) 50 mg + SG 5% 245
Terapias específicas: As terapias específicas para mL (concentração: 200 microgramas/mL). Dose
determinadas etiologias de miocardite ainda não inicial: 5-10 microgramas/minuto, até o máximo de
possuem estudos suficientes que comprovem seus 100-200 microgramas/minuto;
benefícios. Terapia imunossupressora é sugerida
para causas autorreativas específicas, como Nitroprussiato de sódio (50 mg/2 mL) + SG 5%
miocardite de células gigantes, sarcoidose, 248 mL (concentração: 200 microgramas/mL).
miocardite eosinofílica não infecciosa e no Dose inicial: 0,5 microgramas/kg/minuto, e
contexto de outras doenças extracardíacas aumentar conforme a pressão arterial, com
autoimunes, como miocardite lúpica. incrementos de 0,5 microgramas.

No contexto de miocardite linfocítica, a 5. Diurético: Furosemida (20 mg/2 mL) 0,5-1


combinação do tratamento padrão com terapia mg/kg EV até de 6/6 horas.
imunossupressora pode ser uma opção para
pacientes cuja biópsia não demonstrou genoma 6. Se em uso de betabloqueador:
viral e são refratários ao tratamento clínico da IC.
Embora as infecções virais sejam a causa mais Avaliar redução da dose pela metade ou suspensão
comum de miocardite linfocítica, a eficácia da da droga, se necessário uso de inotrópicos. Para
terapia antiviral é incerta, assim como a terapia pacientes que nunca tomaram betabloqueadores, é
imunossupressora com imunoglobulina venosa. plausível iniciar o fármaco apenas após
compensação clínica da congestão;
Na endocardite eosinofílica, além do tratamento
imunossupressor com altas doses de corticoide, - Carvedilol (12,5 mg/comprimido) 3,125-25 mg
deve-se afastar o fator causal, através, por exemplo, VO de 12/12 horas;
da suspensão de alguma possível droga causadora.
- Metoprolol (25 mg/comprimido) 12,5-100 mg
Objetivos VO de 12/12 horas;

- Bisoprolol (12,5 mg/comprimido) 1,25-10 mg


Identificar o fator etiológico; VO de 24/24 horas.

Tratamento de arritmias e monitorização cardíaca; 7. Se classe funcional NYHA III ou IV:

Tratamento de insuficiência cardíaca aguda. - Espironolactona (25 mg/comprimido) 25 mg


VO de 24/24 horas.
Tratamento Hospitalar
Se Choque Cardiogênico

Dieta e Hidratação 8. Inotrópicos/vasopressores:


1. Dieta oral hipossódica (2 g de sal/dia) ou - Dobutamina (250 mg/20 mL) 20 mL + SG 5%
suspensa (se paciente instável, com reposição de 230 mL (concentração: 1000 microgramas/mL).
glicose hipertônica por via EV). Dose inicial: 1-2,5 microgramas/kg/minuto; dose
máxima: 15-20 microgramas/kg/minuto;
2. Restrição hídrica se Na+ < 130 mEq/L. ou Dobutamina (250 mg/20 mL) 60 mL puro
(concentração 12500 microgramas/mL). Dose -Mononitrato de isossorbida (5 mg/comprimido)
inicial: 1-2,5 microgramas/kg/minuto; dose 2,5 mg VO. Pode-se repetir a cada 2-3 horas;
máxima: 15-20 microgramas/kg/minuto;
- Propatilnitrato (10 mg/comprimido) 10 mg VO.
- Dopamina (50 mg/10 mL) 50 mL + SF 0,9% 200 Pode-se repetir a cada 5 minutos, por 3 doses;
mL (concentração: 1 mg/mL). Dose: 2-20
microgramas/kg/minuto EV em BI, se PAS > 70 - Sulfato de morfina (10 mg/1 mL) + SG 5% 9 mL
mmHg; (concentração: 1 mg/mL). Administrar 2-5 mg EV
a cada 3-5 minutos, a critério médico.
- Noradrenalina (1 mg/mL) 20 mL + SG 5% 80
mL (concentração: 200 microgramas/mL). Cuidados Gerais
Administrar EV, em BI. Dose inicial: 0,05-0,1
microgramas/kg/minuto, e titular pela resposta; 11. Metoclopramida (10 mg/2 mL) 2 mL EV,
dose máxima: 0,5 microgramas/kg/minuto (~ 40 diluído em AD, até de 8/8 horas, em caso de náusea
mL/hora). ou vômito. Alternativas:

9. Considerar digital: - Metoclopramida (4 mg/mL) 50 gotas VO/SNE


de 8/8 horas;
- Digoxina (0,25 mg/comprimido) 0,125-0,25 mg
VO de 24/24 horas; - Metoclopramida (10 mg/comprimido) 10 mg
VO/SNE de 8/8 horas;
- Deslanosídeo (0,4 mg/2 mL) EV. Digitalização
rápida (24 horas): 0,8-1,6 mg, em 1-4 doses - Bromoprida (10 mg/2 mL) 10 mg EV de 8/8
fracionadas. Atualmente, é pouco utilizado; horas;

- Deslanosídeo (0,4 mg/2 mL) EV. Digitalização - Bromoprida (4 mg/mL) 1-3 gotas/kg VO/SNE
lenta (3-5 dias): 0,6-0,8 mg/dia, podendo ser de 8/8 horas;
fracionada;
- Enoxaparina (40 mg/0,4 mL) 0,5 mg/kg SC de
- Ajuste da posologia pelo nível sérico de digoxina 24/24 horas.
(entre 1-2 ng/dL).
12. Manter cabeceira elevada a 30º.
Sintomáticos/Analgesia
13. O2 sob máscara facial a ~2-5 L/minuto (se
10. Opções: SpO2 < 90-92%).

- Dipirona Sódica (500 mg/mL) 2 mL EV, diluído 14. Monitorização cardíaca.


em AD, em caso de TAX ≥ 37.8ºC ou dor.
Alternativas: 15. Oximetria e PA não invasiva.

- Dipirona Sódica gotas (500 mg/mL) 20-40 gotas 16. Passar cateter vesical de demora.
VO/SNE de 6/6/ horas até de 4/4 horas;
17. Anotar diurese e balanço hídrico.
- Dipirona Sódica (500 mg/comprimido) 500-
1000 mg VO/SNE de 6/6 horas até de 4/4 horas; 18. Pesar diariamente em jejum.

- Paracetamol gotas (200 mg/mL) 35-55 gotas 19. Acesso venoso periférico salinizado.
VO/SNE de 8/8 horas até de 6/6 horas;

- Dinitrato de isossorbida (2,5 mg/comprimido) Observação


2,5 mg VO. Pode-se repetir a cada 5-10 minutos,
por 3 doses; - A escolha pelo vasodilatador deve considerar que
o Nitroprussiato pode induzir "roubo coronariano"
e que não deve ser usado por período superior a 48
horas;

- AINEs e terapia imunossupressora não


apresentam efetividade comprovada no tratamento;

- O uso de terapia antiviral com ribavarina ou


interferon alfa reduz a gravidade das lesões e a
mortalidade em pacientes com miocardite pelo
Coxsackievirus B3, porém sua efetividade está
diretamente relacionada ao início precoce da
terapia;

- O uso de imunoglobulina ainda é controverso


podendo desempenhar uma certa melhora em casos
virais.

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