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Metamorfose da liderança: os

desafios da desaceleração
A organização deve promover ações que auxiliem seus colaboradores a
crescerem e se desenvolverem junto com ela de forma sustentável

Renato Navas
21 de Fevereiro
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O ano de 2023 começou com notícias difíceis para o mercado de


trabalho: o anúncio de grandes demissões tem alterado o clima dentro
das empresas e acende um alerta importante, principalmente, entre as
lideranças. Isso porque as demissões podem provocar um fenômeno
não desejado entre os profissionais, como desânimo, falta de
engajamento e até mesmo tristeza pelo desligamento de algum colega
de trabalho. O clima de insegurança e incerteza provocado pelos
layoffs pode trazer uma sensação de vulnerabilidade e de medo de ser
o próximo a ser demitido; tendo como uma de suas consequências
mais graves o pedido de desligamento por parte dos colaboradores
que ficaram. Vale lembrar que as relações de trabalho passaram por
grandes transformações nos últimos três anos - um curto período de
tempo, mas que acelerou mudanças e colocou antigos modelos em
cheque.

Diante dessas questões, é imprescindível que as lideranças também


passem por uma metamorfose, uma mudança de forma verdadeira
para acompanhar e liderar de maneira assertiva e eficiente. Uma das
principais características dessa nova forma de liderar é saber ouvir.
A escuta, quando realizada de maneira contínua, permite aos
funcionários dizer o que acreditam, como podem melhorar os
processos de trabalho e também contribui para prevenir e/ou resolver
conflitos. Um exemplo prático da necessidade de escuta contínua é o
modelo de trabalho remoto, que teve um boom em 2020 e foi adotado
em definitivo por mais de um terço das empresas no país pós-
pandemia, de acordo com dados divulgados pela FGV. O
distanciamento social deu força a práticas como alinhamentos 1:1 (lê-
se one-on-one), feedback contínuo, entre outras, para tornar as
relações profissionais mais sólidas e saudáveis. Essa estratégia
precisa estar ligada à cultura da empresa para alcançar os resultados
que se esperam. Portanto, deve ser uma prática incentivada e
promovida a partir das lideranças.

Com a desaceleração da pandemia, entra em pauta também a


discussão sobre a gestão de desempenho e produtividade, assim
como a atração e permanência de talentos. Neste cenário, as novas
lideranças devem buscar basear suas decisões e iniciativas a partir de
dados a fim de identificar os pontos de melhoria na equipe. O modelo
de escuta contínua, no qual o colaborador pode dar opiniões através
de "pulsos", que são perguntas rápidas, de forma semanal ou
quinzenal, permite aos gestores ter informações em tempo real. Com
os dados coletados é possível “ouvir” as equipes, responder e ter
dados para um diagnóstico e, assim, traçar estratégias para
desenvolver as competências (ou skills) desejadas para aquele time.

Quando a empresa adota a prática de escuta contínua, ela pode


aproveitar esses dados dos “pulsos” e promover uma metamorfose da
própria organização. Essa transformação começa a partir das
lideranças que, por meio dos dados dos "pulsos", podem traçar planos
de ação para reinventar e melhorar constantemente, engajar os
colaboradores, reduzir a rotatividade e reter os talentos.

O mundo mudou desde 2020 e, agora, neste início de 2023, a gestão


de pessoas e talentos torna-se ainda mais estratégica. Os novos
líderes saem do momento de "apagar incêndio" provocado pela
pandemia para um novo status onde a gestão transparente, ágil,
recíproca e baseada em dados é uma aliada na manutenção do clima
organizacional.

Instrumentalizar a gestão através da escuta contínua é um dos passos


para que as lideranças compreendam e prosperem com suas equipes
neste novo cenário que vivemos. Vale lembrar que as pessoas não
permanecem nos empregos apenas pelo salário, há outros fatores que
interferem na rotatividade de profissionais, dentre eles podemos
destacar a reciprocidade e o vínculo.

Para que uma organização seja sustentável e cresça com uma


mentalidade de prosperidade, ela precisa promover a reciprocidade.
Ou seja, ao promover ações que auxiliem seus colaboradores a
crescerem e se desenvolverem, também olha para a sustentabilidade
da própria organização (simultaneamente). O engajamento é um
fenômeno que pressupõe vínculo. E o vínculo acontece em relações
recíprocas.
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Autoria

Renato Navas
Renato Navas é cofundador e head de People Success da Pulses. Psicólogo,
com pós-graduação em Administração de Empresa pela SOCIESC/FGV e
Dinâmica dos Grupos (SBDG). Atua como professor de Pós-graduação e MBA
em Gestão estratégica de Pessoas (UNIVALI).

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