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Câncer

Processo de desenvolvimento do câncer mais hábeis ao crescimento, sobrevivência, invasão, metástase ou evasão da
resposta imune.
INTRODUÇÃO - Por causa dessa vantagem seletiva, os subclones que adquirem essas mutações
- As células cancerosas violam as regras mais básicas de comportamento podem vir a dominar uma área de um tumor, no local primário ou em locais
celular pelas quais os organismos multicelulares são construídos e mantidos, e de metástase
exploram todos os tipos de oportunidade para fazê-lo. - Como resultado da mutação contínua e da seleção darwiniana, mesmo que os
- Essencialmente, todas as células das linhagens somáticas estão determinadas tumores malignos apresentem origem monoclonal, eles, de forma geral, são
a morrer: elas não deixam descendentes e a sua existência é dedicada a manter geneticamente heterogêneos no momento da apresentação clínica.
as células germinativas, as únicas com chance de sobrevivência. - Nos tumores avançados que apresentam instabilidade genética, a extensão da
- Não há mistério algum nisso, pois o corpo é um clone derivado de heterogeneidade genética pode ser enorme.
um óvulo fertilizado, e o genoma das células somáticas é o mesmo - A evolução genética moldada pela seleção darwiniana pode explicar as duas
das células germinativas que originam os espermatozoides e os propriedades mais perniciosas dos cânceres: a tendência ao longo do tempo
óvulos. para que os cânceres se tornem mais agressivos e menos sensíveis à terapia
- Graças a essa autoimolação em benefício das células germinativas, as células antineoplásica.
somáticas contribuem para a propagação das cópias de seus próprios genes. - Assim, a heterogeneidade genética tem implicações não só na progressão do
- Para coordenar esse comportamento, as células enviam, recebem e câncer, mas também na sua resposta ao tratamento. A experiência mostrou que,
interpretam um conjunto sofisticado de sinais extracelulares que servem como quando os tumores recidivam após a quimioterapia, o tumor recidivante quase
controles sociais, que ditam a cada uma como devem atuar. sempre é resistente ao regime farmacológico original, caso essa terapêutica seja
novamente empregada
- Disso resulta que cada célula comporta-se de uma forma socialmente
responsável – repousando, dividindo-se, diferenciando-se ou morrendo CARACTERÍSTICAS DO CÂNCER
– conforme o necessário para o bem-estar do organismo. - Parece que todos os cânceres apresentam oito mudanças fundamentais na
- As alterações moleculares que perturbam essa harmonia são problemáticas fisiologia das células, que são consideradas as características do câncer.
para a sociedade multicelular. No corpo humano com mais de 1014 células, 1. Autossuficiência nos sinais de crescimento
bilhões de células sofrem mutações que podem romper o controle social.
2. Insensibilidade aos sinais inibitórios de crescimento
- Mais perigoso ainda, uma mutação pode dar certa vantagem seletiva a
uma célula, possibilitando que ela cresça e se divida um pouco mais 3. Alteração do metabolismo celular
vigorosamente e sobreviva mais facilmente que suas vizinhas, vindo a se 4. Evasão da apoptose
tornar, dessa maneira, a fundadora de um clone mutante que passe a
crescer fora do contexto. 5. Potencial replicativo ilimitado (imortalidade)
- Uma mutação que leve um dos indivíduos que participam da cooperação a 6. Angiogênese sustentada
ter esse tipo de comportamento egoísta pode comprometer o futuro de todo o
7. Capacidade de invasão e metástase
conjunto.
8. Evasão da vigilância imune
CARCINOGÊNESE
- Felizmente, na maioria, se não em todas as instâncias, uma única mutação não
é suficiente para transformar uma célula normal em uma célula cancerosa.
- A carcinogênese é, portanto, um processo de múltiplas etapas decorrente do
acúmulo de inúmeras alterações genéticas que geram coletivamente o fenótipo
transformado e todas as características associadas, discutidas mais adiante.
- Como mencionado anteriormente, a presença de mutações condutoras em
algumas lesões precursoras não neoplásicas sugere a necessidade de mutações
adicionais para haver a transição para um câncer e, portanto, dá suporte a esse
modelo
- Além do início do tumor a partir de uma única célula fundadora, é importante
reconhecer que os cânceres continuam a sofrer uma seleção darwiniana e,
portanto, continuam a evoluir

- A aquisição das alterações genéticas e epigenéticas que conferem essas


características pode ser acelerada pela inflamação promotora do câncer e pela
instabilidade genômica. Estas são consideradas características capacitantes
porque promovem a transformação celular e a subsequente progressão
tumoral.

- As mutações em genes que regulam alguns ou todos esses traços celulares são
observadas em todos os cânceres; portanto, essas características constituem a
- Está bem estabelecido que, durante a sua evolução, os cânceres geralmente se base para a posterior discussão sobre as origens moleculares do câncer
tornam mais agressivos e adquirem maior potencial maligno, um fenômeno
conhecido como progressão tumoral. Em nível molecular, a progressão do 1) AUTOSSUFICIÊNCIA NOS SINAIS DE CRESCIMENTO
tumor provavelmente resulta de mutações que se acumulam de forma
independente em diferentes células. - A autossuficiência de crescimento que caracteriza as células cancerosas
geralmente é fruto de mutações de ganho de função que convertem proto-
- Algumas dessas mutações podem ser letais, mas outras podem afetar a função oncogenes em oncogenes
dos genes associados ao câncer (genes do câncer), tornando as células afetadas
- Os oncogenes codificam proteínas chamadas oncoproteínas que promovem - Em princípio, os sinais de anticrescimento podem evitar a proliferação celular
o crescimento celular, mesmo na ausência de sinais normais de promoção do por vários mecanismos complementares. O sinal pode fazer com que as células
crescimento. em divisão entrem em G0 (quiescência), onde permanecem até que sinais
externos estimulem sua reentrada no ciclo proliferativo.
- Para apreciar a forma como os oncogenes geram um crescimento inadequado
de células, é útil rever brevemente a sequência de eventos que caracteriza a - Alternativamente, as células podem entrar em um grupo pós-mitótico,
proliferação celular normal diferenciado, e perder o potencial de replicação. A senescência não replicativa,
descrita anteriormente, é outro mecanismo de escape do crescimento celular
- Em condições fisiológicas, a proliferação celular pode ser facilmente resolvida sustentado
nas seguintes etapas:
- . Como veremos, os genes de supressão de tumor têm todos esses “truques”
a. Ligação de um fator de crescimento ao seu receptor específico na em sua “caixa de ferramentas” projetada para impedir que as células insurgentes
membrana celular se tornem malignas
b. Ativação transitória e limitada do receptor do fator de
 Rb: governador do ciclo celular
crescimento, que, por sua vez, ativa várias proteínas transdutoras de
sinal no folheto interno da membrana plasmática - RB, um gene regulador negativo-chave do ciclo celular, é inativado direta ou
indiretamente na maioria dos cânceres humanos
c. Transmissão do sinal traduzido através do citosol para o núcleo,
por meio dos segundos mensageiros ou por uma cascata de - Nos casos do retinoblastoma familiar, uma cópia defeituosa do gene RB está
moléculas de transdução de sinal presente na linhagem germinativa, de modo que apenas uma mutação somática
adicional é necessária para eliminar completamente a função de RB.
d. Indução e ativação de fatores reguladores nucleares que iniciam e
regulam a transcrição do DNA e a biossíntese de outros - RB exerce efeitos antiproliferativos ao controlar a transição G1 - para-S do
componentes celulares que são necessários para a divisão celular, ciclo celular. Na sua forma ativa, a RB está hipofosforilada e se liga aos fatores
como organelas, componentes da membrana e ribossomos de transcrição E2F. Esta interação evita a transcrição de genes como a ciclina
E que são necessários para a replicação do DNA e, portanto, as células
e. Entrada e progressão da célula no ciclo celular, resultando em
permanecem aprisionadas em G1 .
divisão celular
- A sinalização do fator de crescimento leva à expressão de ciclina D, ativação
- Os mecanismos que dotam as células cancerosas de capacidade de proliferar
de complexos de ciclina D-CDK4/6, inativação de RB por fosforilação e,
podem ser agrupados de acordo com seu papel na cascata de transdução de
portanto, liberação de E2F.
sinal induzida pelo fator de crescimento e na regulação do ciclo celular. Na
verdade, cada uma das etapas listadas é suscetível à alteração nas células - A perda de controle do ciclo celular é fundamental para a transformação
cancerosas. maligna. Quase todos os cânceres apresentam o ponto de controle G1
desativado devido à mutação do gene RB ou genes que afetam a função da RB,
- As oncoproteínas promovem a proliferação celular descontrolada por meio
como ciclina D, CDK4 e CDKIs
de vários mecanismos:
- Expressão independente de estímulo do fator de crescimento e seu  Gene p53
receptor, estabelecendo um circuito autócrino de proliferação celular - O gene TP53 codifica a proteína p53, o monitor central do estresse na célula,
(p. ex., receptor PDGF-PDGF nos tumores cerebrais) que pode ser ativada por anóxia, sinalização inadequada por oncogene ou dano
- Mutações em genes que codificam receptores de fatores de ao DNA. A p53 ativada controla a expressão e a atividade dos genes envolvidos
crescimento ou tirosina cinases que induzem a sinalização na parada do ciclo celular, reparo do DNA, senescência e apoptose.
constitutiva - O dano ao DNA leva à ativação de p53 por fosforilação. A p53 ativada
- Amplificação de genes da família de receptores EGF, como HER2 impulsiona a transcrição de CDKN1A (p21), que impede a fosforilação de RB,
no câncer de mama causando, portanto, um bloqueio de G1 -S no ciclo celular. Essa pausa permite
que as células reparem o dano ao DNA.
- Fusão de porções do gene tirosina cinase ABL e do gene da
proteína BCR, criando um gene de fusão BCRABL que codifica uma  Via do Fator de Crescimento Tranformante-B
tirosina cinas - O TGF-β inibe a proliferação de muitos tipos de células por ativação de genes
- Mutações em genes que codificam moléculas de sinalização que inibem o crescimento, como CDKIs e supressão de genes que promovem
o crescimento, como MYC e aqueles que codificam ciclinas
- RAS comumente sofrem mutações nos cânceres humanos e
normalmente oscilam entre o estado de repouso, quando ligadas à - A função TGF-β está comprometida em muitos tumores por mutações em
GDP, e o estado GTP ativo; as mutações bloqueiam a hidrólise de seus receptores (cólon, estômago, endométrio) ou por mutação de inativação
GTP para GDP, levando à sinalização descontrolada de genes SMAD que traduzem a sinalização de TGF-β (pâncreas)

- Superprodução ou atividade desregulada de fatores de transcrição 3) METABOLISMO CELULAR ALTERADO


- A translocação do MYC em alguns linfomas desencadeia a - Mesmo na presença de oxigênio suficiente, as células cancerosas demonstram
superexpressão e expressão desregulada de seus genes-alvo que uma forma distinta de metabolismo celular caracterizada por altos níveis de
controlam o ciclo e a sobrevivência das células absorção de glicose e maior conversão de glicose em lactato (fermentação)
através da via glicolítica.
- Mutações que ativam genes de ciclina ou inativam reguladores
negativos das ciclinas e as cinases dependentes de ciclina - Este fenômeno, chamado efeito Warburg, e também conhecido
como glicólise aeróbica
- Complexos de ciclinas com CDKs dirigem o ciclo celular por fosforilação de
vários substratos e normalmente são controlados por inibidores de CDK. - Clinicamente, a “fome por glicose” dos tumores é usada para visualizar
Mutações nos genes que codificam as ciclinas, as CDKs e os inibidores de tumores através da tomografia por emissão de pósitrons (PET), em que se
CDK resultam em progressão descontrolada pelo ciclo celular e são injeta nos pacientes uma solução à base de 18F-fluorodesoxiglicose, um
encontradas em uma grande variedade de cânceres, incluindo os melanomas e derivado não metabolizável de glicose que é preferencialmente absorvido pelas
os cânceres cerebral, pulmonar e pancreático. células tumorais. A maioria dos tumores é PET-positiva, e os que crescem
rapidamente são marcadamente positivos.
2) INSENSIBILIDADE AOS SINAIS INIBIDORES DO
CRESCIMENTO - As vias metabólicas (como as vias de sinalização) em células normais e
cancerosas ainda estão sendo elucidadas e os detalhes são complexos, mas na
- Enquanto os oncogenes codificam proteínas que promovem o crescimento essência do efeito Warburg encontra-se uma questão simples: por que é
celular, os produtos dos genes supressores de tumor aplicam “freios” à vantajoso para uma célula cancerosa contar aparentemente com uma glicólise
proliferação celular. ineficiente (que gera duas moléculas de ATP por molécula de glicose) em vez
- A perda de tais genes torna as células refratárias à inibição de crescimento e da fosforilação oxidativa (que gera até 36 moléculas de ATP por molécula de
simula os efeitos promotores de crescimento dos oncogenes. A discussão a glicose)?
seguir descreve os genes supressores de tumor, seus produtos e possíveis - Ao ponderar esta questão, é importante reconhecer que as células normais
mecanismos pelos quais a perda de sua função contribui para o crescimento que proliferam rapidamente, como os tecidos embrionários e os linfócitos,
celular desordenado durante as respostas imunes, também dependem da fermentação aeróbica.
- Assim, “o metabolismo de Warburg” não é especifico do câncer, mas é uma
propriedade geral de células em crescimento que se torna “fixa” nas células
cancerígenas
- A resposta a este enigma é simples: a glicólise aeróbica fornece às células
tumorais, que se dividem rapidamente, os intermediários metabólicos
necessários para a síntese de componentes celulares, enquanto a fosforilação
oxidativa mitocondrial não
- A razão pela qual as células em crescimento “confiam” na glicólise aeróbica
torna-se facilmente perceptível quando se considera que uma célula em
crescimento tem uma estrita necessidade biossintética; ela deve duplicar todos
os seus componentes celulares – DNA, RNA, proteínas, lipídeos e organelas –
antes de poder dividir e produzir duas células filhas.
- Enquanto a fosforilação oxidativa produz ATP abundante, não consegue
produzir quaisquer grupamentos de carbono que possam ser usados para
construir os componentes celulares necessários para o crescimento (proteínas,
lipídeos e ácidos nucleicos)
- Mesmo as células que não estão crescendo ativamente devem desviar alguns
intermediários metabólicos, a partir da fosforilação oxidativa, para sintetizar
macromoléculas que são necessárias para a manutenção celular
- O outro lado da moeda é que os supressores de tumor muitas vezes inibem
- Em contrapartida, nas células que crescem ativamente, apenas uma pequena
as vias metabólicas que sustentam o crescimento. Já discutimos o efeito de
fração da glicose celular é desviada através da via da fosforilação oxidativa, de
“frenagem” dos supressores de tumor NF1 e PTEN em sinais a jusante dos
modo que, em média, cada molécula de glicose metabolizada produz
receptores do fator de crescimento e RAS, permitindo-lhes opor-se ao efeito
aproximadamente quatro moléculas de ATP.
Warburg.
- Presumivelmente, esse equilíbrio (fortemente tendencioso à fermentação
- Na verdade, pode ser que muitos (e talvez todos) supressores de tumores que
aeróbica, com um pouco de fosforilação oxidativa) atinge um “ponto ideal”
induzem uma parada de crescimento eliminem o efeito Warburg.
metabólico que é ótimo para o crescimento. Conclui-se que as células em
crescimento dependem do metabolismo mitocondrial. - Além do efeito Warburg, existem dois outros vínculos entre o metabolismo
e o câncer que são suficientemente importantes para merecer uma breve
- No entanto, uma função importante das mitocôndrias nas células em
menção, autofagia e um conjunto incomum de mutações oncogênicas que
crescimento não é gerar ATP, mas realizar reações que geram intermediários
levam à geração de oncometabólitos, pequenas moléculas que parecem
metabólicos que podem ser desviados e utilizados como precursores na síntese
contribuir diretamente para o estado transformado.
de blocos (substratos) para a construção celular.
- Como pode ser pressuposto, a reprogramação metabólica é produzida por  Autofagia
cascatas de sinalização a jusante dos receptores de fatores de crescimento, as - A autofagia é um estado grave de deficiência de nutrientes no qual as células
mesmas vias que estão desreguladas por mutações em oncogenes e genes não apenas interrompem seu crescimento, mas também canibalizam suas
supressores de tumor nos cânceres. próprias organelas, proteínas e membranas como fontes de carbono para
- Desse modo, enquanto nas células normais que se dividem rapidamente a produção de energia
glicólise aeróbia cessa quando o tecido não está em crescimento, nas células - As células tumorais muitas vezes parecem ser capazes de crescer em
cancerosas essa reprogramação persiste devido à ação dos oncogenes e à perda condições ambientais marginais sem desencadear a autofagia, sugerindo que as
da função dos genes supressores de tumor. vias que induzem a autofagia estão desreguladas.
a. Sinalização do receptor do fator de crescimento. Além de - De acordo com isso, vários genes que promovem a autofagia são supressores
transmitir sinais de crescimento para o núcleo, os sinais dos de tumores. Contudo, se a autofagia for sempre ruim do ponto de vista
receptores do fator de crescimento também influenciam o tumoral, no entanto, continua sendo uma questão de investigação e debate
metabolismo, aumentando a captação de glicose e inibição da ativo.
atividade da piruvato cinase, que catalisa o último passo na via
glicolítica, a conversão de fosfoenolpiruvato em piruvato. Isso cria - Por exemplo, em condições de grave privação de nutrientes, as células
um efeito de represamento que leva ao acúmulo de intermediários tumorais podem usar a autofagia para se tornar “adormecidas”, um estado de
glicolíticos a montante, que são conduzidos para síntese de DNA, hibernação metabólica que permite que as células sobrevivam a tempos difíceis
RNA e proteína por longos períodos.
b. Sinalização RAS. Os sinais a jusante do RAS regulam - Acredita-se que tais células sejam resistentes a terapias que eliminam as células
positivamente a atividade de transportadores de glicose e de que se dividem ativamente e, portanto, podem ser responsáveis por falhas
múltiplas enzimas glicolíticas, aumentando assim a glicólise; terapêuticas. Assim, a autofagia pode ser um evento amigo ou inimigo do
promovem o desvio de intermediários mitocondriais para vias que tumor, dependendo de como as vias de sinalização que a regulam estão
conduzem à biossíntese de lipídeos; e estimulam os fatores que são “conectadas” em um determinado tumor
necessários para a síntese proteica
 Oncometabolismo
c. MYC. Conforme mencionado anteriormente, as vias pró-
crescimento aumentam a expressão do fator de transcrição MYC, - Outro grupo surpreendente de alterações genéticas descobertas através de
que conduz a mudanças na expressão gênica que suportam o estudos de sequenciamento do genoma do tumor são as mutações em enzimas
metabolismo anabólico e o crescimento celular. Entre os genes que participam do ciclo de Krebs. Destas, as mutações na isocitrato
regulados positivamente pelo MYC estão aqueles para várias enzimas desidrogenase (IDH) obtiveram o maior interesse, pois revelaram um novo
glicolíticas e glutaminase, que é necessária para a utilização mecanismo de oncogênese denominado oncometabolismo
mitocondrial da glutamina, uma fonte-chave de grupamentos de - Assim, de acordo com este cenário, a IDH mutada atua como uma
carbono necessárias para a biossíntese de blocos de construção oncoproteína produzindo 2-HG, sendo considerada um oncometabólito
celulares. prototípico
dano ao DNA e ao estresse celular que de outra forma resultariam
na sua morte
- Superexpressão de membros antiapoptóticos da família BCL2. A
superexpressão de BCL2 é um evento comum que protege as células tumorais
da apoptose e ocorre através de vários mecanismos. Um dos exemplos mais
bem compreendidos é o linfoma do tipo folicular

3) EVASÃO DA MORTE
4) Potencial replicativo ilimitado
- As células tumorais frequentemente apresentam mutações em genes que
regulam a apoptose, tornando as células resistentes à morte celular - As células tumorais, ao contrário das células normais, são capazes de
replicação ilimitada
- A apoptose ou “morte celular programada” refere-se ao desmantelamento
ordenado das células em “corpos apoptóticos” que são retirados por células - a maioria das células humanas normais tem capacidade de no máximo 70
vizinhas e fagocitados sem estimular a inflamação duplicações. Posteriormente, as células perdem a capacidade de se dividir e
entram em senescência replicativa.
- Você deve recordar que existem duas vias que levam à apoptose: a via
extrínseca, desencadeada pelos receptores de morte FAS e FAS-ligante; e a via - Este fenômeno foi atribuído ao encurtamento progressivo dos
intrínseca (também conhecida como via mitocondrial), iniciada por telômeros nas extremidades dos cromossomos
perturbações como perda de fatores de crescimento e danos ao DNA
- Os telômeros marcadamente encurtados são reconhecidos pela maquinaria
- As células cancerosas estão sujeitas a uma série de estresses intrínsecos que de reparo do DNA como rupturas na cadeia dupla do DNA, levando a
podem iniciar a apoptose, particularmente o dano ao DNA, mas também os interrupção do ciclo celular e senescência, mediada por TP53 e RB.
distúrbios metabólicos decorrentes do crescimento desregulado e da hipóxia
- Nas células em que os pontos de controle são ineficientes devido às mutações
causada por suprimento sanguíneo insuficiente.
em TP53 ou RB, a via de união não homóloga das extremidades é ativada,
- Esses estresses são potencializados quando os tumores são tratados com como um último esforço para salvar a célula, juntando as extremidades
quimioterapia ou radioterapia, que eliminam as células tumorais ativando a via encurtadas de dois cromossomos
intrínseca da apoptose.
- Esse sistema de reparo ativado inadequadamente resulta em cromossomos
- Assim, há forte pressão seletiva, tanto antes como durante a terapia, para que dicêntricos que são separados na anáfase, o que resulta em novas quebras da
as células cancerosas desenvolvam resistência aos estresses intrínsecos que cadeia dupla do DNA.
podem induzir a apoptose.
- A instabilidade genômica resultante de repetidos ciclos de ruptura e fusão
- Consequentemente, a evasão da apoptose pelas células cancerosas ocorre eventualmente desencadeia uma catástrofe mitótica, caracterizada por
principalmente por meio de mutações adquiridas e alterações na expressão apoptose maciça
gênica que desativam os principais componentes da via intrínseca ou que
- Assim, para que os tumores adquiram a capacidade de crescer
reajustaram o equilíbrio dos fatores reguladores, de modo a favorecer a
indefinidamente, a perda de restrições de crescimento não é suficiente; tanto a
sobrevivência celular em face aos estresses intrínsecos
senescência celular quanto a catástrofe mitótica também devem ser evitadas
- Se, durante a “crise”, a célula consegue reativar a telomerase, os ciclos ponte-
fusão-ruptura cessam, e a célula pode evitar a morte.
- No entanto, durante este período de instabilidade genômica que precede a
ativação da telomerase, numerosas mutações podem se acumular, ajudando a
célula a marchar em direção à malignidade.
- A telomerase, ativa em células-tronco normais, está ausente ou presente em
níveis muito baixos na maioria das células somáticas. Em contrapartida, a
manutenção do telômero é encontrada em praticamente todos os tipos de
câncer.
- Em 85% a 95% dos cânceres, isso se deve a uma regulação positiva da enzima
telomerase. Alguns tumores usam outros mecanismos, denominados
alongamento alternativo dos telômeros, que dependem da recombinação do
DNA.

- Perda da função de TP53. Como já discutido, o TP53 está comumente


mutado em cânceres, quando do diagnóstico, e a frequência de mutações de
TP53 é ainda maior em tumores que recidivam após a terapia.
- Além da mutação de TP53, outras lesões nos cânceres prejudicam
indiretamente a função de p53, principalmente à amplificação de
MDM2, que codifica um inibidor de p53.
- A perda de função de p53 evita a regulação positiva de PUMA, um - De interesse é que, em um estudo sobre a progressão do adenoma colônico
membro BH3-only pró- apoptótico da família BCL2 que é um alvo para adenocarcinoma colônico, as lesões iniciais apresentavam elevado grau de
direto da p53. Como resultado, as células sobrevivem a níveis de instabilidade genômica com baixa expressão da telomerase, enquanto as lesões
malignas apresentavam cariótipos complexos com elevados níveis de atividade
da telomerase, compatível com um modelo de tumorigênese conduzida pelo
telômero no câncer humano.
- Assim, parece que, nesse modelo, a proliferação desregulada em tumores
incipientes leva ao encurtamento do telômero, seguido por instabilidade
cromossômica e acúmulo de mutações. Se a telomerase for então reativada
nessas células, os telômeros são estendidos e essas mutações se tornam fixas, o
que contribui para o crescimento tumoral.
5) Angiogênese sustentada
6) Invasão e metástases
7) Evasão ao sistema imune
8) Inflamação promotora tumoral como facilitadora da malignidade
MICROAMBIENTE E O CÂNCER
- Os cânceres infiltrativos provocam uma reação inflamatória crônica. Em
pacientes com câncer avançado, essa reação inflamatória pode ser tão extensa - Enquanto as células cancerosas em um tumor são as portadoras de mutações
que causa sinais e sintomas sistêmicos, como a anemia (a chamada “anemia da perigosas e costumam ser anormais, existem outras células no tumor –
doença crônica”), fadiga e caquexia. especialmente aquelas de suporte do tecido conectivo, ou estroma – que estão
longe de serem espectadores passivos.
- No entanto, os estudos realizados em modelos animais sobre cânceres
sugerem que as células inflamatórias também modificam o microambiente do - O desenvolvimento de um tumor baseia-se em uma comunicação entre
tumor para permitir muitas das características do câncer. células tumorais e o estroma tumoral, assim como o desenvolvimento
normal de órgãos epiteliais necessita da comunicação entre células epiteliais e
- Esses efeitos podem ser resultantes de interações diretas entre células
células mesenquimais
inflamatórias e células tumorais, ou através de efeitos indiretos de células
inflamatórias em outras células estromais, em particular, fibroblastos - O estroma fornece uma estrutura para o tumor. Ele é composto de
associados ao câncer e células endoteliais. tecido conectivo normal contendo fibroblastos e leucócitos
inflamatórios, assim como células endoteliais que formam vasos
- Os efeitos promovidos pelas células inflamatórias e células estromais no
sanguíneos e linfáticos associadas a pericitos e células musculares lisas
câncer incluem:
- Com a progressão do carcinoma, as células cancerosas induzem
a) Liberação de fatores que promovem a proliferação. Os leucócitos infiltrantes
modificações no estroma pela secreção de proteínas de sinalização que
e as células estromais ativadas secretam vários fatores de crescimento, como o
alteram o comportamento das células do estroma e também enzimas
EGF, e as proteases que podem liberar fatores de crescimento a partir da matriz
proteolíticas que modificam a matriz extracelular.
extracelular (ECM)
- As células estrômicas, por sua vez, secretam proteínas de sinalização que
b) Remoção de supressores de crescimento. Conforme mencionado
estimulam o crescimento das células cancerosas e a divisão celular,
anteriormente, o crescimento de células epiteliais é suprimido pelas interações
assim como proteases que remodelam a matriz extracelular.
célula-célula e MEC-célula. As proteases liberadas por células inflamatórias
podem degradar as moléculas de adesão que medeiam essas interações, - Dessa forma, o tumor e seu estroma se desenvolvem juntos, como erva
eliminando uma barreira ao crescimento. daninha no ecossistema que eles invadem, e o tumor se torna dependente das
células do seu estroma
c) Maior resistência à morte celular. O desprendimento de células epiteliais da
membrana basal e das interações célula-célula pode levar a uma forma CÉLULAS CANCEROSAS DEVEM VIVER E PROLIFERAR
particular de morte celular programada chamada anoiquia. Suspeita-se que os EM AMBIENTE INÓSPITO
macrófagos associados a tumores possam prevenir a anoiquia ao expressar
moléculas de adesão, como integrinas que promovem interações físicas diretas - Em geral, as células cancerosas precisam migrar e se multiplicar para
com as células tumorais. novos locais no corpo com o intuito de nos matar, processo chamado de
metástase. Esse é o aspecto mais letal do câncer – e o menos compreendido
d) Angiogênese. As células inflamatórias liberam numerosos fatores, incluindo –, responsável por 90% das mortes associadas a ele.
o VEGF, que estimulam a angiogênese.
- A partir da disseminação pelo corpo, o câncer se torna quase impossível
e) Invasão e metástase. As proteases liberadas a partir de macrófagos de erradicar, tanto por cirurgia como por radioterapia local.
promovem a invasão do tecido através da remodelação da MEC, enquanto
fatores como o TNF e o EGF podem estimular diretamente a mobilidade - A metástase também é um processo de muitas etapas: primeiro, as células
celular tumoral. Como mencionado anteriormente, outros fatores liberados a devem desprender-se do tumor primário, invadir o tecido local e os
partir das células estromais, como TGF-β, podem promover a transição vasos, mover-se ao longo da circulação, deixar os vasos e, então,
epitelial-mesenquimal (EMT), que pode ser um evento-chave no processo de estabelecer uma nova colônia em locais distantes
invasão e metástase
- Para uma célula cancerosa tornar-se perigosa, ela deve se livrar dos freios
f) Evasão da destruição imune. Observa-se que uma variedade de fatores que controlam a célula normal mantendo-a no seu local e não
solúveis liberados por macrófagos e outras células estromais contribuem para permitindo que invada tecidos vizinhos.
um microambiente tumoral imunossupressor. Os principais suspeitos incluem
- Assim, a invasividade é uma das propriedades definidas de tumores
TGF-β e outros fatores que favorecem o recrutamento de células reguladoras
malignos que se apresentam com um padrão de crescimento
T imunossupressoras ou supressão da função das células T citotóxicas CD8+
desorganizado, com bordas irregulares e com extensões nos tecidos
. Além disso, há evidências abundantes em modelos de câncer e evidências
circunvizinhos
emergentes em doenças humanas de que o câncer avançado contém
principalmente macrófagos ativados (M2). Os macrófagos M2 produzem - Apesar de os mecanismos moleculares não serem bem compreendidos, a
citocinas que promovem a angiogênese, a proliferação de fibroblastos e a invasividade certamente requer a ruptura dos mecanismos de adesão que em
deposição de colágeno, todos eles são comumente observados em cânceres geral conservam as células unidas às suas vizinhas e à matriz extracelular.
invasivos e na cicatrização de feridas, dando origem ao conceito de que os
cânceres são “feridas que não curam
- O conhecimento geral sobre como os cânceres “manipulam” as células
inflamatórias para sustentar seu crescimento e sobrevivência permanece
incompleto.
- No entanto, resultados de estudos com animais são intrigantes e aumentam a
possibilidade de terapias direcionadas à inflamação induzida pelo tumor e suas
consequências.
- Um exemplo de uma dessas intervenções envolve o ácido acetilsalicílico
(Aspirina®) e outros inibidores da COX-2, cujo uso está associado à
diminuição do risco de câncer colorretal em diversos estudos epidemiológicos
- Muitas proteases podem liberar fatores de crescimento de fibroblastos básicos
(bFGF) pró-angiogênicos que são armazenados na MEC; inversamente, os
inibidores da angiogênese, a angiostatina e a endostatina são produzidos por
clivagem proteolítica do plasminogênio e do colágeno, respectivamente.
- O equilíbrio local dos fatores angiogênicos e antiangiogênicos é influenciado
por vários fatores
a) A falta relativa de oxigênio devido à hipóxia estabiliza o HIF1α,
um fator de transcrição sensível ao oxigênio mencionado
anteriormente, que então ativa a transcrição de citocinas pró-
angiogênicas, como VEGF. Esses fatores criam um gradiente
angiogênico que estimula a proliferação de células endoteliais e
orienta o crescimento de novos vasos em direção ao tumor
b) Mutações envolvendo genes supressores de tumor e oncogenes
nos cânceres também favorecem o equilíbrio em favor da
- Para os carcinomas, essa mudança se assemelha à transição epitelial- angiogênese. Por exemplo, a p53 estimula a expressão de moléculas
mesenquimal (EMT) que ocorre em alguns tecidos epiteliais durante o antiangiogênicas, como a trombospondina-1, e reprime a expressão
desenvolvimento normal. de moléculas pró1angiogênicas, como o VEGF. Assim, a perda da
p53 nas células tumorais proporciona um ambiente mais permissivo
- A próxima etapa na metástase – o estabelecimento de colônias em para angiogênese
órgãos distantes – inicia-se com a entrada de células tumorais na
circulação: as células cancerosas invasivas devem penetrar a parede dos c) A transcrição do VEGF também é influenciada por sinais da via
vasos sanguíneos e linfáticos. das RAS-MAP-cinases, e as mutações de ganho de função no RAS
ou MYC aumentam a produção de VEGF. Notavelmente, níveis
- Os vasos linfáticos são maiores e têm paredes mais fracas do que os elevados de VEGF podem ser detectados no soro e na urina de uma
vasos sanguíneos, permitindo que as células cancerosas entrem em fração significativa de pacientes com câncer.
pequenos aglomerados; esses aglomerados podem ficar presos nos
linfonodos, dando origem a metástases nos linfonodos. - A ideia de que a angiogênese é essencial para que os tumores sólidos cresçam
até tamanhos clinicamente significativos proporcionou um poderoso ímpeto
- Ao contrário, as células cancerosas que entram na corrente sanguínea parecem para o desenvolvimento de agentes terapêuticos que bloqueiam a angiogênese.
estar sozinhas.
- Atualmente, esses agentes compõem uma parte do arsenal que os oncologistas
- De todas as células que entram no sistema linfático ou na corrente sanguínea, usam contra o câncer; um exemplo cardinal é o bevacizumab, um anticorpo
apenas uma pequena fração consegue atingir seu objetivo final, alojar-se em um monoclonal que neutraliza a atividade do VEGF e está aprovado para o uso
novo local, sobreviver, proliferar e tornar-se fundadora de metástases no tratamento de vários cânceres.
Angiogênese - No entanto, os inibidores da angiogênese não foram tão eficazes como
inicialmente esperava-se; eles podem prolongar a vida, mas, em geral, por
- Mesmo que um tumor sólido possua todas as aberrações genéticas necessárias apenas alguns meses e com um elevado custo financeiro.
para a sua transformação maligna, ele não pode crescer além de 1 a 2 mm de
diâmetro, a menos que tenha a capacidade de induzir angiogênese. - Os mecanismos que estão subjacentes à persistência e à progressão dos
cânceres diante da terapia com inibidores da angiogênese ainda não estão
- Assim como os tecidos normais, os tumores necessitam de suprimento de claros.
oxigênio e nutrientes e remoção de resíduos; presumivelmente, uma zona de 1
a 2 mm representa a distância máxima através da qual o oxigênio, os nutrientes - O benefício modesto da terapia antiangiogênica realça a natureza perniciosa
e os resíduos podem se difundir a partir dos vasos e para os vasos sanguíneos. dos cânceres avançados, que podem até mesmo se esquivar de terapias
direcionadas para células de suporte estromais, como o endotélio.
- Os cânceres em crescimento estimulam a neoangiogênese, durante a qual os
vasos “brotam” de capilares previamente existentes. - As melhorias só são possíveis com a maior compreensão das “vias de fuga”
através das quais as células tumorais evitam os efeitos dos inibidores da
- Neovascularização exerce um duplo efeito sobre o crescimento do tumor: a angiogênese que estão sendo usados.
perfusão supre a necessidade de nutrientes e oxigênio e as células endoteliais
recém-formadas estimulam o crescimento de células tumorais adjacentes por INTRODUÇÃO
secreção de fatores de crescimento, como fatores de crescimento semelhante à - Quase todos os tecidos dependem de um suprimento de sangue, e o
insulina (IGFs) e PDGF. suprimento de sangue depende de células endoteliais, que formam o
- Embora a vasculatura tumoral resultante seja efetiva na liberação de revestimento dos vasos sanguíneos
nutrientes e na remoção de resíduos, não é inteiramente normal; os vasos são - Se não fossem as células endoteliais que estendem e remodelam a rede
mais permeáveis e dilatados, com um padrão de conexão aleatório, de vasos sanguíneos, o crescimento e o reparo dos tecidos seriam
características que podem ser visualizadas em angiogramas. impossíveis.
- Ao permitir que as células tumorais tenham acesso a esses vasos anormais, a - O tecido canceroso é tão dependente do suprimento de sangue como
angiogênese também contribui para a metástase. A angiogênese é, portanto, o tecido normal, e isso levou a um aumento do interesse pela biologia
uma faceta essencial da malignidade. da célula endotelial, na esperança de que possa ser possível bloquear o
- Dessa forma, como os tumores em crescimento desenvolvem um adequado crescimento de tumores atacando as células endoteliais que lhes trazem
suprimento vascular? O paradigma atual é que a angiogênese é controlada por nutrição.
um equilíbrio entre os promotores e os inibidores da angiogênese; nos tumores FORMAÇÃO DE NOVOS VASOS
angiogênicos, este equilíbrio é desviado em favor dos promotores.
- A formação de vasos sanguíneos no embrião e nas membranas
- No início de seu desenvolvimento, a maioria dos tumores humanos não induz extraembrionárias, durante a 3ª semana, começa quando as células
angiogênese. Sem reserva de nutrientes, esses tumores permanecem pequenos mesenquimais se diferenciam em precursores das células endoteliais, ou
ou in situ, possivelmente por anos, até que uma alteração angiogênica encerre angioblastos (células formadoras de vasos).
este estado de quiescência vascular.
- A formação do sistema vascular embrionário envolve dois processos, a
- A base molecular da promoção angiogênica envolve aumento da produção de vasculogênese e a angiogênese.
fatores angiogênicos e/ou perda de inibidores angiogênicos.
- A vasculogênese é a formação de novos canais vasculares pela
- Esses fatores podem ser produzidos pelas próprias células tumorais ou por união de precursores individuais celulares (angioblastos).
células inflamatórias (p. ex., macrófagos) ou células residentes no estroma (p.
ex., fibroblastos associados a tumores). - A angiogênese é a formação de novos vasos pelo brotamento
e ramificação de vasos preexistentes
- As proteases, elaboradas pelas células tumorais ou por células estromais em
resposta ao tumor, também estão envolvidas na regulação do equilíbrio entre - O mesenquima se diferencia em angioblastos, este que se
fatores angiogênicos e antiangiogênicos. liga ao outro e forma a vasculogênese
- Células mesenquimais ⇀ Viram embrioblastos proteases para ajudá-las a digerir seu caminho ao longo da lâmina basal
do capilar, ou da vênula de origem, e a formar brotos.
Angioblastos ⇀ Se juntam a ilhotas
2) As células da extremidade dos brotos detectam o gradiente de VEGF
e movem-se na direção da fonte deste
Ilhotas ⇀ Surgem cavidades e angioblastos se achatam ⇀ Endotélio
3) À medida que vasos novos se formam, trazendo sangue para o tecido,
Várias cavidades ⇀ Vasos ⇀ Angiogênese a concentração de oxigênio se eleva. A atividade de HIF1a então diminui, a
produção de VEGF é encerrada, e a angiogênese chega a uma pausa

CONTROLE POR SINAIS DAS CÉLULAS ENDOTELIAIS


- A rede vascular é remodelada continuamente enquanto ela cresce e se adapta.
Um vaso recém-formado pode ficar mais espesso; ou dele podem brotar ramos
laterais; ou pode regredir.
- As células mesenquimais ao redor dos vasos sanguíneos endoteliais primitivos
se diferenciam nos elementos de tecido muscular e tecido conjuntivo da parede - As próprias células musculares lisas ou de outros tecidos conectivos que
dos vasos sanguíneos. formam uma camada em torno do endotélio ajudam a estabilizar os vasos
enquanto eles aumentam sua espessura.
- As células sanguíneas se desenvolvem a partir de células endoteliais
especializadas (epitélio hematogênico) dos vasos à medida que eles crescem na - Esse processo de formação da parede do vaso inicia-se com o recrutamento
vesícula umbilical e no alantoide ao final da terceira semana e depois em locais de pericitos. Um número pequeno destas células migra em companhia das
especializados ao longo da aorta dorsal. Células sanguíneas progenitoras células da haste, pela parte externa de cada broto endotelial.
também se originam diretamente de células-tronco hematopoiéticas. - O recrutamento e a proliferação de pericitos e células musculares lisas para
- As células endoteliais da extremidade que abrem caminho para o crescimento formar uma parede de vaso depende do fator B de crescimento derivado de
de capilares normais não apenas se parecem com cones de crescimento plaqueta (PDGF-B) secretado pelas células endoteliais e dos receptores de
neuronal, mas também respondem de forma semelhante aos sinais no PDGF nos pericitos e nas células musculares lisas.
ambiente. - Em mutantes nos quais falta essa proteína sinalizadora ou seu receptor, essas
- De fato, muitas das moléculas de orientação envolvidas são as mesmas, células da parede do vaso estão ausentes em muitas regiões
incluindo netrinas, slits e efrinas mencionadas em nossa descrição de - Como resultado, os vasos sanguíneos embrionários desenvolvem
desenvolvimento neuronal no capítulo anterior. microaneurismas – dilatações patológicas microscópicas – que, por fim,
- Os receptores correspondentes são expressos nas células da extremidade e rompem-se, assim como outras anormalidades, que refletem a importância da
guiam o broto vascular ao longo de vias específicas no embrião, troca de sinais em ambas as direções entre as células externas da parede do vaso
frequentemente em paralelo com os nervos. e as células endoteliais

- Porém, talvez a mais importante das moléculas de orientação para as células TIPOS DIFERENTES DE CÉLULAS ENDOTELIAIS FORMAM
endoteliais seja uma que está dedicada sobremaneira ao controle do TIPOS DIFERENTES DE VASOS
desenvolvimento vascular: o fator de crescimento endotelial vascular, ou - Para criar um circuito novo para fluxo de sangue, um broto vascular
VEGF deve continuar a crescer até encontrar outro broto ou vaso com o qual
FATOR DE CRESCIMENTO ENDOTELIAR VASCULAR ele possa conectar-se.

- Células que necessitam de um suprimento sanguíneo liberam VEGF - Provavelmente, as regras de conexão têm de ser seletivas, para evitar a
formação de circuitos curtos indesejáveis e para manter os sistemas
- Quase todas as células, em praticamente todos os tecidos de um vertebrado, sanguíneo e linfático adequadamente separados.
estão localizadas a uma distância de 50 a 100 mm de um capilar sanguíneo
- Na verdade, células endoteliais de vasos arteriais, venosos e linfáticos
- Os irritantes e as infecções locais também causam uma proliferação de novos em desenvolvimento expressam genes diferentes e têm propriedades de
capilares, a maioria dos quais regride e desaparece quando a inflamação superfície diferentes.
diminuem
- Evidentemente, essas diferenças ajudam a orientar os vários tipos de
- Em todos esses casos, as células endoteliais invasoras respondem a sinais vasos ao longo de diferentes vias, controlam a formação seletiva de
produzidos pelo tecido que elas invadem. Os sinais são complexos, mas conexões e dirigem o desenvolvimento de diferentes tipos de paredes à
um papel-chave é desempenhado pelo fator de crescimento endotelial medida que o vaso aumenta.
vascular (VEGF).
- Por exemplo, as células endoteliais arteriais, ao menos no embrião,
- A regulação do crescimento do vaso sanguíneo, para corresponder às expressam a proteína transmembrana efrinaB2, enquanto as células
necessidades do tecido, depende do controle de produção de VEGF, por endoteliais venosas expressam a proteína receptora
meio de mudanças na estabilidade de seu mRNA e em sua taxa de correspondente, EphB4
transcrição
- Estas moléculas medeiam a sinalização em locais de contato célula-
- O último controle é relativamente bem compreendido. Uma carência de célula e são essenciais ao desenvolvimento de uma rede de vasos
oxigênio, em quase qualquer tipo de célula, causa um aumento no nível corretamente organizada.
intracelular de um fator de transcrição chamado fator induzido por
hipoxia 1a (HIF1a) - A expressão da proteína reguladora de gene Prox1 distingue as células
endoteliais de vasos linfáticos das células endoteliais arteriais e venosas.
- O HIF1a estimula a transcrição do gene Vegf (e de outros genes cujos
produtos são necessários quando o suprimento de oxigênio está baixo). - Este gene ativa um subgrupo de células endoteliais na parede de uma grande
veia no embrião (a veia cardinal), convertendo-as em progenitoras linfáticas.
1) A proteína VEGF é secretada, difunde-se pelo tecido e atua sobre as
células endoteliais próximas, estimulando-as a proliferar, a produzirem
- A partir destas, toda a vascularização linfática deriva-se por brotamento,
como descrito anteriormente.
- A Prox1 faz as células endoteliais linfáticas expressarem receptores
para um membro diferente da família VEGF de moléculas de controle,
bem como proteínas que evitam que as células linfáticas formem conexões com
vasos sanguíneos
TUMORES INDUZEM ANGIOGÊNESE
- Em adição a todos os requerimentos descritos anteriormente, para crescer, o
tumor tem que recrutar um suprimento de sangue adequado para ter
uma quantidade desejável de oxigênio e nutrientes.
- Assim, angiogênese, a formação de novos vasos sanguíneos, é requerida para
que o tumor cresça além de um determinado tamanho.
- Como os tecidos normais, os tumores atraem o suprimento sanguíneo pela
secreção de sinais angiogênicos.
- Tais sinais são produzidos em resposta à hipoxia, que começa a afetar
as células à medida que o tumor se expande além de um milímetro ou
dois em diâmetro.
- A hipoxia ativa uma alteração angiogênica, que aumenta o suprimento
de sangue pelo aumento do nível de fator induzível de hipoxia (HIF-1α,
hypoxia inducible factor-1α) um gene de uma proteína reguladora descrita no
Capítulo 23; esta proteína, por sua vez, ativa a transcrição de genes que
codificam fatores pró-angiogênicos, como o fator de crescimento
vascular endotelial (VEGF, vascular endothelial growth factor).
- Essas proteínas secretadas atraem células endoteliais e estimulam o
crescimento de novos vasos sanguíneos.
- Tais vasos não só ajudam o tumor no suprimento de oxigênio e
nutrientes, como também criam uma via de escape para as células
cancerosas formarem metástase.
- No entanto, os novos vasos são malfeitos, heterogêneos em diâmetro e
frágeis, e ainda possuem muitas ramificações com extremidades mortas.
- Tais anormalidades, que provavelmente resultam de um balanço
anormal de moléculas sinalizadoras, levam a um suprimento
irregular de sangue para o tumor, ajudando a criar novas
regiões de hipoxia
- Hipoxia, por sua vez, seleciona células cancerosas mutantes que são melhor
adaptadas para sobreviver em um ambiente inóspito e estressante, o que
significa células com maior malignidade.
- Finalmente, o crescimento tumoral depende de um suprimento adequado de
sangue, e os vasos defeituosos que são atraídos para o tumor são um alvo óbvio
para quimioterapia, como discutiremos adiante.

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