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ACTIVIDADE FINANCEIRA E DIREITO FINANCEIRO

1. Caracterização da actividade financeira


As exigências de satisfação das necessidades económicas de carácter público e de obtenção de meios
indispensáveis à respectiva cobertura impõem ao Estado, e às outras entidades públicas, uma actividade
económica com características próprias, a actividade financeira.
Destinada a assegurar a satisfação das necessidades públicas, a actividade financeira abrange a
aquisição de meios económicos, o emprego desses meios e a coordenação dos meios obtidos e das
utilidades a realizar.

2. Conceito de Direito Financeiro


Trata-se da definição dos poderes das entidades públicas na obtenção e no emprego dos meios
económicos destinados à realização dos seus fins.
Este conceito, baseia-se numa ideia central de limitação de poderes das entidades públicas, como
tais. Quando as entidades públicas obtêm receitas nos mesmos termos que os particulares não faz sentido
qualquer ideia de limitação específica dos poderes dessas entidades.
Como disciplina jurídica da utilização de meios económicos pelas entidades públicas, o Direito
Financeiro abrange um amplíssimo sector de receitas públicas, todo o sector das despesas públicas e a
coordenação das despesas e das receitas públicas. Excluem-se do Direito Financeiro, fundamentalmente,
as receitas públicas de origem privada, cujas relações jurídicas respectivas hão-de ser definidas por
outros ramos de Direito.

3. Divisão interna do Direito Financeiro


O Direito Financeiro, compreende três ramos que, embora sem autonomia científica, cada um deles,
são nitidamente separáveis – o Direito das Receitas, o Direito das Despesas e o Direito da
Administração Financeira.

4. Noção de Direito Fiscal ou Tributário como Direito dos Impostos


O Direito dos Impostos, Direito Tributário, ou Direito Fiscal, é o ramo de Direito Financeiro que
corresponde á insuficiência do património e do domínio para suportarem as despesas crescentes das
comunidades políticas. É assim logicamente supletório, no sentido de que visa a preencher aquela
insuficiência.

5. Caracteres essenciais do fenómeno tributário


O imposto pode corresponder a uma prestação, a uma relação jurídica ou a um instituto jurídico.
A relação jurídica de imposto tem carácter obrigacional ou creditício, tem por fim a realização de
uma receita pública e não depende de outros vínculos jurídicos, nem determina para o sujeito activo
respectivo qualquer dever de prestar específico.
Tendo carácter obrigacional, creditício, o objectivo da relação jurídica de imposto é de natureza
patrimonial. E a respectiva prestação apresenta geralmente natureza pecuniária. No entanto tal natureza
pecuniária não é essencial.
Tendo por fim a realização de uma receita pública, a relação jurídico-tributária é estruturada em
termos de o respectivo sujeito activo apresentar normalmente a natureza de entidade pública.
Não dependendo de outros vínculos jurídicos nem determinando para o sujeito activo qualquer dever
de prestar específico, a relação de imposto não implica qualquer contraprestação para as entidades
públicas credoras; nem cria para as entidades públicas, o dever de reembolsar as prestações tributárias
por elas recebidas. Contudo, será logicamente admissível o reembolso de impostos, não com
fundamento num direito do contribuinte e no correspondente dever de uma entidade pública, mas sim na
base da mera faculdade desta.

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6. Imposto e a Taxa
O Imposto, é uma prestação obrigatória estabelecida pela lei a favor de entidades que exerçam
funções públicas e para satisfação de fins públicos que não constituam sanção de actos ilícitos.
No plano da economia financeira a separação entre imposto e taxa pode estabelecer-se com relativa
facilidade, na base do critério da divisibilidade ou indivisibilidade dos serviços públicos. As taxas, são
progressivas porque aumentam mais que proporcionalmente, há medida que o rendimento aumenta, taxa
progressiva, é a taxa que varia mais que proporcionalmente à variação do rendimento. O Estado e as
outras entidades públicas prestam serviços cuja utilidade não é divisível pelos cidadãos. A defesa
nacional e a diplomacia constituem exemplos nítidos de serviços públicos indivisíveis e,
consequentemente, suportados pelo imposto. De outros serviços públicos, porém, extraem os
particulares utilidades individualizáveis. É o caso dos serviços de instrução, de justiça e de muitos
outros, ora quando através dos serviços públicos se prestam utilidades particulares, individualizáveis,
quando esses serviços são divisíveis, em suma, há a possibilidade de realizar a sua cobertura financeira,
ou parte dela, através do pagamento de prestações exigíveis dos particulares que utilizam tais serviços.
Atendendo à diversidade de estruturação legal, o vínculo jurídico de taxa tem por causa a prestação por
uma entidade pública de utilidades individualizadas. Quer dizer que a taxa, como aliás o preço também
apresenta origem sinalagmática. É este aspecto precisamente que separa com nitidez a taxa de imposto.
Porque a taxa tem por causa a realização de uma utilidade individualizada, ela depende de outro vínculo
jurídico, o que não acontece com o imposto.

7. Classificações jurídicas de impostos


a) Impostos estaduais e não estaduais:
Nem sempre o Estado é credor do imposto, o sujeito activo da relação jurídico-tributária. Esta
constitui-se, muitas vezes, em benefício de uma Autarquia Local ou de um Instituto Público. Daí a
separação dos impostos estaduais e não estaduais. A origem de uns e de outros é legal e, portanto,
estadual; mas só em relação aos primeiros o Estado se apresenta como credor. Note-se que os impostos
não estaduais são os estruturados no sentido da sua atribuição a uma entidade diversa do Estado. Mas
acontece frequentemente que a receita de um imposto estadual seja cedida pelo Estado a outra entidade
pública.
b) Impostos directos e indirectos:
Os impostos directos, visam atingir faculdades contributivas permanentes, estáveis, enquanto os
indirectos, visam atingir faculdades contributivas intermitentes, instáveis, passageiras, é aquele que
geralmente tem inspirado as leis e contabilidade pública. São impostos directos, aqueles cujo o
lançamento se baseia na elaboração prévia de um rol nominativo de contribuintes; e indirectos os outros.
c) Impostos reais e pessoais:
Os impostos reais, visam a atribuição de bens económicos, de riqueza, em termos objectivos, sem
que nessa tributação se vão reflectir as condições pessoais do contribuinte, os impostos pessoais, pelo
contrário, procuram atingir certos bens por pertencerem, ou respeitarem a determinadas pessoas, cuja
capacidade contributiva e outras circunstâncias pessoais, são tidas em conta, através de alguns aspectos
da tributação.
Raramente se encontrarão impostos que visem apenas aspectos pessoais. Mas pode admitir-se a
classificação na base do maior ou menor relevo desses aspectos. Assim, segundo o critério da
predominância, serão reais, além de todos os impostos de consumo, do selo e aduaneiros, os impostos
prediais. Segundo este mesmo critério de predominância, de aspectos objectivos ou subjectivos, serão
pessoais o imposto sucessório e o IRS, cujas taxas e outros elementos variam, não apenas em função da
capacidade contributiva mas também em função de outros factores respeitantes à pessoa do contribuinte.
Tendo de reconhecer-se que os impostos indirectos são sempre reais, ou objectivos, nota-se
facilmente que a destrinça oferece interesse escasso, do ponto de vista jurídico, porquanto no campo dos
impostos directos é fácil distinguir diversidade de tratamento quanto ao nascimento e à estrutura da
obrigação de imposto entre reais e os pessoais.
d) Impostos de cotidade:
Cada contribuinte tem uma percentagem equivalente a uma cota (variável) dependente do rendimento.

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e) Imposto de repartição:
São todos relativos aos quais a responsabilidade dos financiadores é igual, independentemente da sua
capacidade contributiva.

8. Âmbito e enquadramento do Direito Fiscal


Direito Fiscal, será o sistema de normas jurídicas que disciplinam as relações de imposto e definem
os meios e os processos pelos quais se realizam os direitos emergentes daquelas relações.
O Direito Fiscal tem natureza institucional. As suas normas não se integram no Direito Comum, cuja
disciplina é genérica, comum às mais diversas instituições. Visam, pelo contrário, disciplinar certos
tipos de relações, constituídas na base das instituições tributárias, as quais encontram a sua origem na
ideia-força, enraizada no seu meio social, da necessidade da contribuição dos patrimónios dos
particulares para a sustentação da comunidade. Dir-se-á mesmo que essa raiz institucional dá unidade ao
Direito Fiscal, através do sentido teleológico das suas normas, o qual provém daquela mesma raiz.
O sistema fiscal (art. 103º/1 CRP), visa a satisfação das necessidades financeiras do Estado, e outras
entidades públicas de uma repartição justa dos rendimentos e da riqueza.
O princípio da generalidade, a lei fiscal aplica-se a todos os contribuintes, sejam eles activos ou
passivos.
SOBERANIA FISCAL

9. Soberania estadual soberania fiscal e poder tributário


Não é inteiramente pacífico o entendimento sobre a noção de soberania fiscal. Integrada no conceito
de soberania do Estado, como um dos aspectos que ela reveste, a soberania fiscal deverá compreender
apenas a delimitação de esferas tributárias, frente a outra soberanias estaduais, e a definição de regimes
legais.
As manifestações de soberania fiscal só se nos revelam através da definição internacional de esferas
tributárias e através da abstracção dos comandos tributários legais. Quando o Estado, ou outra entidade
impositora, exerce poderes em relação a determinados contribuintes, é em obediência àqueles comandos,
na posição de sujeito tributário activo.
A soberania fiscal constitui um dos aspectos da soberania financeira, e esta, por sua vez, um dos
aspectos da soberania estadual.
Por soberania fiscal, entende-se o poder de criar impostos, de extingui-los, de alargar ou restringir o
seu âmbito, de estabelecer proibições de natureza fiscal. E, como aspecto da soberania estadual, a
soberania fiscal apresenta as mesmas características. Em consequência, só os Estados quer unitários quer
compostos, quer membros de Estados compostos, podem exercer a soberania fiscal.

10. Fundamento da soberania fiscal


Constituindo a soberania fiscal um dos aspectos da soberania do Estado, o seu funcionamento último
há-de confundir-se como fundamento filosófico-político do próprio Estado, que poderá entender-se
como alheio ao plano da análise jurídica e tem-se entendido frequentemente que, aquém desse
fundamento último, a soberania fiscal há-de encontrar uma fundamentação próxima em princípios gerais
de Direito, cuja simples aplicação justificará o poder estadual de tributar.

11. Limites da soberania fiscal: a limitação pelos fins do Estado


Os poderes fiscais do Estado, mesmo os poderes soberanos, acham-se limitados, não apenas de facto
mas também de Direito. A primeira limitação decorre dos próprios fins do Estado e das vantagens que
advêm da sua prossecução. O Estado não pode criar impostos para satisfazer fins que não sejam os seus
próprios, nem para fazer face a despesas que não se traduzam em vantagens para a respectiva
comunidade. Sem dúvida que essas vantagens têm de ser apreciadas à face de critérios políticos. Mas
definidos estes, com eles terá de conformar-se o poder estadual, e terá consequentemente de admitir, à
mesma luz, cerceamentos à sua capacidade de exigir impostos.

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12. A limitação pelo costume, pelos tratados e pelas leis constitucionais
Os limites da soberania fiscal do Estado dependem, pois, dos seus próprios fins, e do complexo de
princípios e instituições que dominem a vida do país considerado. Mas, além destes limites, aos quais
deve atribuir-se relevo não apenas moral e político, mas também jurídico, os poderes tributários do
Estado acham-se normalmente confinados dentro de fronteiras legais expressamente definidas.
A lei fundamental do Estado limita, embora transitoriamente, pelo tempo que a própria Constituição
vigorar, os poderes tributários estaduais, que embora são restringidos por costumes internacionais e por
tratados, enquanto o Estado que os celebrou, ou a eles aderiu, os não denunciar

13. A territorialidade do imposto


No plano internacional, a soberania tributária do Estado acha-se naturalmente limitada, pela
coexistência de outras soberanias, às suas fronteiras territoriais, só dentro delas se exercendo, em
princípio, o poder de tributar. É esse o significado da chamada territorialidade do imposto. Só
excepcionalmente as normas tributárias emanadas de uma ordem jurídica se projectam para além dos
limites territoriais a que essa ordem jurídica corresponde.
Em obediência ao próprio fundamento da soberania fiscal, o Estado só pode tributar aqueles que,
pela posição assumida, de algum modo se presumem interessados na prossecução dos fins do Estado e
nos benefícios, particulares ou gerais, que o mesmo Estado oferece. Para que atribuição seja legítima
torna-se necessário que quem a suporta tenha estabelecido com a entidade imposta um vínculo político e
económico que justifique o seu interesse em relação às actividades que essa mesma entidade desenvolve.

14. Os conflitos internacionais de tributação


Estes resultam da adopção pelas várias ordens jurídicas de critérios diferentes na definição dos
pressupostos tributários, quando uma situação se acha ligada, pela diversidade dos seus elementos, a
mais de uma ordem jurídica, essa disparidade na definição de pressupostos tributários pode determinar,
ou que mais de um Estado tribute tal situação ou que nenhum tribute, quando, normalmente, sem essa
bilateralidade de conexão, ela seria tributada. No primeiro caso, o conflito é positivo, dele resultando
uma duplicação de impostos; no segundo caso o conflito é negativo, e dá lugar a uma invasão fiscal,
nalguns casos provocada por Estados que, com o fim de atraírem pessoas ou capitais aos seus territórios,
procuram através das suas legislações criar os designados “paraísos fiscais”.
Também as duplas tributações e a evasão fiscal tributária, no plano internacional, têm sido evitadas,
muitas vezes, à falta de convenções, por medidas legislativas unilateralmente adoptadas pelos Estados.
Assim, por exemplo, a Lei 65/90, que aprovou o Orçamento de Estado para 1991, autorizou o Governo,
“até que sejam celebradas convenções para evitar a dupla tributação, a estabelecer medidas unilaterais
com essa finalidade relativamente aos rendimentos auferidos por cooperantes e por sociedades com
sede ou direcção efectiva em Portugal e provenientes de países que foram colónias portuguesas”.

FONTES DE DIREITO FISCAL

15. Princípios jurídicos fundamentais e costume constitucional


A expressão “fontes de Direito” admite diversos entendimentos, ou conteúdos. Um substancial
respeita à origem e à razão vinculativa das normas; outro formal, abrange os revestimentos pelos quais
os preceitos jurídicos se revelam, são enunciados, se apresentam aos seus destinatários. É neste sentido
formal que a expressão vai aqui ser empregada.
A Constituição material, abrange necessariamente, os mais diversos sectores. Assim, não será
concebível que o direito á vida, o direito a constituir família, a não retroactividade da lei penal, o poder
paternal, etc., não tenham relevância, e ao nível das formas fundamentais, impondo-se ao legislador
ordinário, se a Constituição escrita, por demasiado sucinta, ou por qualquer outro motivo, não tiver
enunciado tais princípios ou direitos. Não há dúvida que a difusão das “declarações de direitos” e das
regras fundamentais do chamado “Estado de Direito” vieram reforçar a orientação neo-jusnaturalista e
dar volume à ideia de uma Constituição material que se sobrepõe à Constituição formal. Esta

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sobreposição poderá mesmo suscitar o problema de uma admissível inconstitucionalidade formal, por
inobservância de alguma ou mais regras da Constituição material.
Os princípios tributários fundamentais: nem sempre de ideia de costume constitucional permitirá o
enquadramento de princípios fundamentais, inclusivamente tributários, não enunciados pela
Constituição no sistema jurídico. Porque pode acontecer que alguns desses princípios nunca tenham sido
incluídos em qualquer lei constitucional.
Admite-se que determinados princípios e normas de Direito Fiscal, pelo enraizamento na
consciência dos povos, tenham assento supra-constitucional, que se imponha ao legislador, sem excluir
o próprio legislador constitucional. E, não pretendendo embora qualquer enumeração taxativa em tal
matéria, estariam nesse plano os citados princípios da legalidade e da anualidade do imposto, da
igualdade de tratamento na repartição dos encargos tributários e da capacidade contributiva como base
da incidência fiscal.

16. Lei Constitucional


A lei constitucional ocupa, compreensívelmente, lugar de particular relevo na hierarquia das fontes
de Direito em geral. E no campo do Direito Tributário, para além da sua função comum de supremacia
relativamente à lei ordinária, tem ainda a definir a zona reservada à lei em sentido formal, em obediência
ao princípio da legalidade do imposto. Assim, na Constituição, o princípio da legalidade do imposto,
conjugado com o da anualidade, reflecte-se nos preceitos contidos nos arts. 103º/2, 104º, 165º/1-i.
Também poderá entender-se que o princípio da igualdade fiscal tem acolhimento na Constituição,
através do art. 13º e do art. 104º/1.

17. Lei ordinária formal


O princípio da legalidade não é exclusivo do Direito Fiscal, mas apresenta á face deste um
significado mais rigoroso e exigente. Com efeito, o princípio da legalidade desdobra-se em dois
aspectos: o da preeminência da lei e o da reserva da lei. Quanto à preeminência da lei, ele domina toda
a ordem jurídica, se algum modo excluir o Direito Privado, não obstante o princípio da autonomia da
vontade. Em qualquer sector do Direito, só se pode agir validamente em subordinação à lei, aceitando a
sua preeminência. Mesmo quando as partes interessadas decidem, preferem, optam livremente, de
harmonia com a sua vontade, fazem-no na medida em que a lei ou o costume com relevância de lei
assim o admite. Quanto à reserva de lei, trata-se de um aspecto menos amplo e menos extenso; mas
mesmo assim, atinge sectores do Direito Privado, designadamente os institutos respeitantes ao estado e á
capacidade das pessoas (art. 165º/1-a CRP). Este mesmo aspecto de reserva de lei ganha particular
relevo no campo do Direito Fiscal, porquanto os impostos só podem ser criados e estruturados por lei. E
trata-se de uma reserva de lei em sentido formal, posto que a lei criadora dos impostos deve provir de
um órgão com competência legislativa normal (arts. 103º, 165º/1-i CRP).

18. Decreto-lei
O Governo pode legislar, através de decretos-lei, sobre outras matérias tributárias, alheias àquela
zona reservada. E mesmo sobre as matérias pela Constituição reservadas à lei formal, poderá o Governo
legislar, também através de decretos-lei, na base de autorizações legislativas. Em tal caso, a Assembleia
da República limita-se a “definir o objecto, o sentido, a extensão e a duração da autorização”. Baseado
nessa definição, já o Governo poderá criar o imposto na mesma definição indicado, e formular as
respectivas normas de incidência, incluindo as que fixem taxas e estabelecem benefícios fiscais, assim
como legislar sobre garantias dos contribuintes.

19. Regulamento
Relativamente às matérias reservadas á lei pelo art. 103º CRP, só parecem admissíveis regulamentos
complementares, ou de execução. Em tais matérias não serão admissíveis regulamentos autónomos, ou
independentes. Poderá causar estranheza a afirmação de que os regulamentos complementares
contenham normas sobre matérias reservadas à lei pelo art. 103º CRP. Mas assim acontece com

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frequência. É corrente que em decretos regulamentares se incluam normas de incidência, se fixem taxas
tributárias, se definam benefícios fiscais e garantias dos contribuintes.

20. Ordens internas da administração (despachos, instruções e circulares)


O carácter geral e abstracto dos chamados “despachos genéricos”, das instruções e circulares,
emanados de diversas entidades sobre matérias tributáveis, tem levado, por vezes, a considerar a questão
de saber se tais “resoluções meramente administrativas”, pois essa é a sua natureza, serão fontes de
Direito Fiscal. Não parece que o sejam porquanto a força vinculativa de tais diplomas se acha
circunscrita a um sector da ordem administrativa. E essa mesma força vinculativa resulta tão-somente da
autoridade hierárquica dos agentes onde provêm, e dos deveres de acatamento dos subordinados as quais
se dirigem.

21. Costume
“Tacitus consensus populi longa cosutudine inveteratus” (prática reiterada e constante com
convicção de obrigatoriedade), há-de afirmar-se como fonte de Direito. Mas não parece que tal aconteça
no campo tributário, onde as normas não são criadas espontaneamente pelos destinatários. Não é o
princípio da legalidade do imposto que leva a afastar o costume daquele campo. Porquanto como se
sabe, esse princípio domina apenas alguns aspectos da tributação, especialmente o da incidência fiscal.
Mesmo assim, é difícil admitir que outros aspectos, como o lançamento, o da liquidação ou da cobrança,
possam conformar-se com a disciplina de normas consuetudinárias.

22. Normas internacionais


À face do entendimento para o qual os destinatários das normas internacionais são os Estados e não
os indivíduos, não faria sentido a inclusão das normas internacionais entre as fontes de Direito Fiscal
(arts. 15º/2 e 74º CIRS, evitar a dupla tributação: (1) método da imputação; (2) método da não
incidência; (3) método da isenção).
De harmonia com o art. 8º CRP, “as normas e os princípios de Direito Internacional Geral ou
Comum fazem parte integrante do Direito português”; e “as normas constantes de convenções
internacionais regularmente ratificadas ou aprovadas vigoram na ordem interna”, assim como, mesmo
sem ratificação ou aprovação, as normas emanadas de organizações internacionais de que Portugal faça
parte e cujos tratados constitucionais vinculam, pois, directamente os particulares; e quanto às normas de
carácter geral ou comum sem qualquer limitação ou resguardo, ao nível da legislação constitucional
portuguesa, e prevalecendo, por isso, sobre leis ordinárias do Direito Interno.
Entre essas normas internacionais contam-se algumas de natureza tributária, pelo que não poderá
oferecer dúvidas, na actualidade, a inclusão das normas internacionais entre as fontes de Direito Fiscal.

23. Jurisprudência e doutrina


Nem a jurisprudência nem a doutrina constituem fontes imediatas de Direito Fiscal, salvo, quanto à
primeira. Os Tribunais, normalmente, não criam normas jurídicas através das suas sentenças e dos seus
acórdãos.
No entanto, a jurisprudência e a doutrina desempenham um papel do maior relevo como fontes
mediatas de Direito Fiscal, pela influência que exercem na evolução dos sistemas de Direito Positivo. E
esta influência é ainda mais marcada no campo do Direito Fiscal, por se tratar de um ramo de Direito
que tem sofrido ultimamente e está sofrendo, grandes e profundas alterações, as quais são muito
frequentemente influenciadas pela opinião dos doutrinadores e pelas orientações jurisprudenciais.

24. Categorias de normas fiscais


a) Normas de soberania fiscal: são as que definem o poder de tributar, separando a esfera
patrimonial da comunidade política e as esferas patrimoniais dos particulares, determinando até
onde, dentro dos quais limites, podem desenvolver-se as exigências do poder político quanto aos
sacrifícios patrimoniais daqueles que se situam na sua esfera de domínio político-económico. Os

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quadros dentro dos quais se situam os poderes tributários do Estado são delimitados por normas
de soberania fiscal.
b) Normas de incidência: definem o plano de incidência, ou seja, o complexo de pressupostos de
cuja conjugação resulta o nascimento da obrigação de imposto, assim como os elementos da
mesma obrigação. Determinam quem é o sujeito activo da obrigação de imposto, quem são em
abstracto, os sujeitos passivos da mesma obrigação, qual a matéria colectável, isto é, a riqueza, os
valores económicos sobre que recai a tributação, qual a taxa do imposto, quota ou percentagem,
calculada sobre aquela matéria colectável para efeitos de fixação da colecta, da prestação
tributária a pagar e qual o facto dinamizante, gerador que, reunindo, pondo em contacto, os
pressupostos tributários, permitirá que nasça, se constitua, uma obrigação de imposto.
c) Normas de lançamento: consiste no conjunto de actos e operações pelos quais os serviços
fazendários, ou os contribuintes, nos casos de auto-lançamento, determinam, em concreto, os
elementos da obrigação de imposto.
d) Normas de liquidação: operações que consistem na aplicação da taxa de imposto à matéria
colectável, para determinação da colecta, do quantitativo da prestação tributária.
e) Normas de cobrança ou de pagamento: conforme a operação seja considerada do ponto de vista
do fisco ou do contribuinte, são todas aquelas que disciplinam a cobrança ou pagamento dos
impostos.
f) Normas de organização de serviços: são nitidamente de índole administrativa, não se podendo
razoavelmente atribuir-lhes natureza diversa daquela que corresponde às normas de organização
de outros quaisquer serviços do Estado.
g) Normas de fiscalização: entre estas à a distinguir duas espécies: umas respeitam à fiscalização dos
serviços e essas são nitidamente de natureza administrativa; outras respeitam à fiscalização dos
contribuintes e de terceiros, que se julgue disporem de elementos susceptíveis de possibilitar, ou
facilitar, as operações fiscais orientadas para uma regular percepção dos impostos.
h) Normas de sanção: destinam-se a penalizar os contribuintes e, por vezes, também terceiros, por
actos cometidos susceptíveis de comprometer as operações de lançamento, de liquidação ou de
cobrança dos impostos, participam da natureza das normas penais, ou seja, punitivas.
i) Normas de contencioso: as que se encontram no Código do Processo Tributário.

APLICAÇÃO DAS NORMAS FISCAIS NO TEMPO E NO ESPAÇO

25. Vigência das normas fiscais


Poderá entender-se que as normas fiscais, ou pelo menos, as de incidência, têm a força vinculativa
condicionada pela autorização parlamentar anual de cobrança de receitas, que se integrará, ou não no
Orçamento de Estado. Quanto a outros aspectos, nenhuma particularidade oferecem as normas fiscais
quanto à sua vigência e quanto à respectiva “vacatio legis”. Pelo que se lhes aplicam os prazos
estabelecidos no art. 2º da Lei 6/83, quando o legislador não tenha fixado outros especialmente.
Também quanto á cessação da vigência das normas fiscais essa cessação se verifica nos termos comuns,
pela revogação ou pela caducidade, nos casos em que a vigência daquelas normas tenha sido pelo
legislador limitada no tempo, ou colocada na dependência de condições que deixaram de verificar-se. É
relativamente frequente no campo do Direito Fiscal a suspensão da vigência de normas, embora essa
suspensão deva atribuir-se a precipitações do legislador, orientado para pôr em rigor normas de difícil
aceitação pelo meio social respectivo.

26. Problemática da não retroactividade das normas fiscais


A questão em causa não consiste em saber se a norma fiscal é aplicável antes da sua entrada em
vigor, após o período de “vacatio legis”, estabelecido em termos genéricos ou específicos. Mas, mesmo
aplicando a norma fiscal apenas a partir do momento da sua entrada em vigor, importa fixar a quais
situações, a quais relações, é essa norma aplicável. Se todas as situações a todas as relações que
correspondem à previsão de comando normativo, ou se somente àquelas que se consubstanciam já
durante a vigência da norma considerada. Na primeira hipótese, a norma estará a ser aplicada

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retroactivamente quanto àquelas situações, àquelas relações constituídas antes da sua entrada em vigor.
Na segunda hipótese, observar-se-á o princípio da não retroactividade.
Em favor da não retroactividade das normas jurídicas em geral, é invocável um princípio de
segurança, de respeito da boa fé. Porquanto os regimes jurídicos aplicáveis deverão ser aqueles com os
quais os seus destinatários podiam razoavelmente contar, tendo em face deles estabelecido os seus
planos e realizados as suas opções.
Em homenagem a um princípio da certeza, de segurança, a norma nova deverá aplicar-se às relações
constituídas no domínio da norma anterior; pois, de outro modo, todas as razoáveis expectativas sobre as
consequências das opções dos membros de uma sociedade seriam fundadas.
Este mesmo princípio de segurança impôs ao legislador a consagração da regra da não
retroactividade das normas civis (art. 12º CC).
Os princípios da legalidade e da tipicidade do imposto podem servir de fundamento à tese de que
não são susceptíveis de aplicação retroactiva das normas fiscais respeitantes às matérias contempladas
pelo art. 103º/2/3 CRP. Mais frouxa parece ser a argumentação baseada num princípio de igualdade
tributária ou nas regras fundamentais do Estado de Direito, demasiado fugidias em muitos aspectos para
serem utilizadas por uma teoria da aplicação da lei no tempo. Também não parece consistente fazer
duvidar um princípio geral de não retroactividade das normas desfavoráveis aos cidadãos da “legalidade
democrática” e da submissão do Estado à lei constitucional (art. 3º CRP).

27. Territorialidade das normas fiscais


Da territorialidade do imposto resulta a delimitação do âmbito de aplicação no espaço das normas
fiscais. Estas, em princípio, só se aplicam no território do Estado de que dimanam, ou mesmo apenas
num espaço delimitado desse território, quando, pela extensão e diversidade de características das
parcelas de um Estado, os regimes tributários se aplicam apenas a um dos espaços.

28. Relação jurídica de imposto: sua natureza


Os caracteres essenciais da relação tributária ou relação de imposto: vinculo jurídico obrigacional ou
creditício, constituído comum fim de obtenção de uma receita pública e autónomo, no sentido de não
depender de situações jurídicas anteriores nem criar novos vínculos legais.
A relação jurídico-fiscal é pois, uma relação obrigacional, embora de Direito Público. Nem se trata
de uma particularidade do Direito Fiscal que possa interpretar-se como correspondendo àquela
conhecida orientação que visa aproximar esse ramo jurídico do Direito Civil.

29. As “relações tributárias acessórias”


Admite-se que o sentido teleológico e a natureza institucional do Direito Tributário aconselhem a
inclusão de todas as relações que visam a defesa de interesses fiscais no âmbito daquele Direito. Mas
importará, em qualquer caso, considerar as dúvidas que razoavelmente podem suscitar-se a tal respeito.
Para mais, as legislações fiscais têm, por vezes, adoptado terminologia, e até metodologia, que tornam
inaceitável o desconhecimento puro e simples do problema.
Parece teoricamente possível ou enquadrar todos os deveres cujo o fim tributário na obrigação de
imposto, ou separá-los desta, ou incluir tão-somente aqueles deveres de que é também sujeito o
contribuinte, o devedor da prestação tributária.
A questão deverá ser resolvida na base do conceito de obrigação tributária. E, assim, onde se
reconhece um vínculo obrigacional constituído com o fim de realizar uma certa receita pública e do qual
não nasce qualquer dever para o sujeito activo, não se estará também em presença de uma obrigação
tributária. Poderá duvidar-se se o dever de prestar declarações terá natureza obrigacional, e se se destina,
directamente ao menos a criar uma receita pública. Mas, sendo mesmo o seu fim último e quando tem
por sujeito, o sujeito passivo de uma relação de imposto, aquele dever, como poder correspondente,
integrar-se numa relação tributária acessória, ou subsidiária que, depende da relação principal, perde
autonomia.
A obrigação fiscal, obrigação tributária ou obrigação de impostos é uma relação jurídica e constitui
mesmo a relação jurídico-tributária ou jurídico-fiscal por excelência. Nela poderão incluir-se os vínculos

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tributários acessórios quando se verifique coincidência de sujeitos; mas já parece inconveniente nela
integrar tais vínculos quando sejam diversos os sujeitos. Não faz sentido uma relação jurídica incluindo,
não apenas poderes e deveres diversos, mas repartidos por sujeitos aos quais corresponderiam posições
de natureza muito variável também.

CONSTITUIÇÃO DA RELAÇÃO JURÍDICA DE IMPOSTO

30. Conjugação dos “pressupostos tributários” como facto constitutivo da relação de imposto
O facto constitutivo, ou facto gerador da relação de imposto, será aquele facto que conjugou os
pressupostos previstos na lei tributária. É a realidade com vigor jurídico bastante, que lhe advém da lei,
para pôr em movimento, para combinar, os pressupostos tributários, considerados estes como aquelas
situações, pessoais e reais, previstas expressa ou tacitamente, pelas normas de incidência tributária.
Um pressuposto, em si mesmo, como tal, não é causa, não é facto constitutivo. É qualquer coisa sem
a qual a causa, o facto constitutivo, se não verifica, não actua.
O pressuposto de facto, no sentido global de conjunto de pressupostos é sempre indispensável para
que qualquer obrigação tributária se constitua.

31. Pressupostos da relação de imposto


Os princípios da generalidade, da proporcionalidade ou da progressividade, por exemplo serão
pressupostos político-financeiros da relação tributária. Mas, numa construção jurídica, interessam,
fundamentalmente os pressupostos jurídicos, isto é, os factos de cuja conjugação a lei de imposto faz
depender, expressa ou tacitamente, o nascimento da relação tributária.
Os pressupostos jurídicos de uma relação tributária podem ser muito variáveis. Uma das
classificações que se impõe divide os pressupostos tributários por duas grandes categorias, a dos
subjectivos e a dos objectivos. Com efeito, os pressupostos tributários podem dizer respeito a pessoas e
bens.
Outra classificação indispensável divide os pressupostos tributários em genéricos, os que procedem
toda e qualquer relação de imposto; e específicos, aqueles que precedem as relações de imposto de certo
tipo.
Tendo-se definido pressupostos tributários, como aquelas situações previstas, expressa ou
tacitamente, pelas normas de incidência tributária, é admissível fazer-lhes corresponder todas as
realidades jurídicas que correspondem para a constituição de qualquer vínculo tributário. Os
pressupostos podem abranger, assim, não apenas o plano da projecção directa de uma lei de imposto mas
todo o complexo legal dos comandos impositivos e mesmo o plano supra-legal da soberania tributária.
Assim, para que se constitua qualquer relação de imposto, seja qual for a sua espécie é necessário
que exista um Estado soberano, o exercício dos seus poderes fiscais, que o respectivo crédito tributário
seja atribuído a alguém que possa, pela sua natureza, integrar-se numa relação tributária como sujeito
activo, que o respectivo débito tributário recaia sobre um ente cuja personalidade passiva seja
reconhecida pelo Direito Fiscal, que esse ente se encontre num certa posição de presumível benefício
relativamente a um ente económico, e que se mantenha o necessário enquadramento jurídico de um
sistema fiscal. Mesmo conjugando-se todos esses pressupostos genéricos, a verificação de uma isenção
fiscal, funcionando como pressuposto negativo, obstará a que se constitua um vínculo jurídico de
imposto.
SUJEITOS DA RELAÇÃO JURÍDICA DE IMPOSTO
32. Personalidade tributária
A personalidade tributária, constitui um dos aspectos da personalidade jurídica. Consiste no
reconhecimento de centros de imputação de direitos e deveres tributários. É a susceptibilidade desses
direitos e desses deveres.
As leis fiscais, visando transferir para as entidades públicas a parte dos patrimónios que se julga
devida pela participação daquelas no processo de formação de riqueza, atingem pela incidência
tributária, realidades económicas, que nem sempre correspondem a situações jurídicas regularmente
definidas.

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A personalidade jurídica sofre, limitações e cerceamentos, ditados pelas particularidades dos ramos
de Direito face aos quais não faria sentido, não teria causa, atribuir personalidade a determinadas
entidades. E acontece também, por vezes, que a personalidade jurídica é atribuível apenas como
susceptibilidade de certos direitos e deveres em determinados tipos de relações jurídicas.

33. Natureza da personalidade tributária activa


A susceptibilidade em obrigações tributárias como sujeito activo, isto é, a personalidade tributária
activa é nitidamente separável da soberania fiscal. Não apenas porque aquela qualidade de sujeitos
activos é atribuída a entidades diversas do Estado, não soberanas, mas também porque a personalidade
do Estado se desdobra por dois planos, o do Estado-soberano, legislador, e o Estado-administrador. E é
este que aparece nas relações tributárias como sujeito activo.
A lei de imposto, ao definir os pressupostos tributários de que faz depender o nascimento da relação
jurídico-fiscal, atribui a certas entidades determinados direitos, dependentes da verificação daqueles
pressupostos e integrados na relação jurídico-fiscal respectiva. Mas a lei de imposto não pode atribuir
uma qualidade de credor um vínculo tributário a uma entidade que não goze da personalidade tributária
activa. Põe-se, pois, o problema de saber de que condições depende essa personalidade, a que poderá a
lei de imposto atribuir a qualidade de sujeito tributário activo.
A personalidade tributária activa parece depender da prossecução de interesses colectivos. Poderá
admitir-se que o Estado legislador seja livre na concessão dessa personalidade tributária activa; mas aos
sistemas políticos e jurídicos evoluídos repugnaria a atribuição de créditos fiscais a entidades que não
prosseguem fins de interesse público.

34. Personalidade tributária activa do Estado


O Estado, pela sua mesma natureza, carece de órgãos para através deles exprimir a sua vontade
soberana, de império, no exercício da sua função legislativa, ou governativa. De igual modo, o Estado,
ao exercer funções executivas, administrativas, carece de órgãos que, normalmente, exprime a vontade
do Estado, no plano da Administração é o Governo.
O Governo é também o órgão por meio do qual o Estado manifesta a sua vontade nos quadros da
relação jurídica de imposto, através de actos de conteúdo individual (lançamento, liquidação, cobrança,
fiscalização) realizados por agentes situados na hierarquia da orgânica governamental.

35. Personalidade tributária passiva


As especialidades do conceito tributário de personalidade avultam quanto à susceptibilidade de ser
sujeito passivo da obrigação fiscal, quanto à personalidade tributária passiva.
Não oferece dúvidas a atribuição de personalidade tributária passiva às entidades que como pessoas
são tidas pela generalidade de outras disciplinas jurídicas, quer se trate de pessoas físicas quer de
pessoas meramente jurídicas.

36. Sujeito tributário passivo, contribuinte de direito e contribuinte de facto


O sujeito da relação de imposto, pessoa a quem é juridicamente exigível a prestação tributária,
apresenta-se-nos como o contribuinte, ou contribuinte de Direito, para distingui-lo da figura do
contribuinte de facto, que se desenha em consequência de, por vezes, o sacrifício económico resultante
do pagamento do imposto ser suportado por pessoa diversa a quem é juridicamente exigível.

37. Sujeitos tributários passivos originários e não originários


Tem-se procurado distinguir o sujeito passivo – titular de uma situação jurídico-tributária passiva –
do contribuinte – pessoa em relação à qual se verificam os pressupostos tributários – e do devedor de
imposto – aquele sobre quem recai o dever de prestar.
Não deverá pretender-se que o substituto de impostos ou que o responsável tributário sejam
devedores mas não sejam contribuintes, nem sujeitos passivos, da relação de imposto. O substituto como
o responsável, como o devedor solidário, como o sucessor devem o imposto, são devedores, porque são

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contribuintes, porque são sujeitos passivos a relação jurídica de imposto. Apenas não são sujeitos
passivos, nem contribuintes, nem devedores originários.
O sujeito tributário passivo pode sê-lo por um débito originário ou por um débito não originário. O
débito do sujeito tributário passivo é normalmente originário.
Mas também quanto ao carácter originário do débito tributário importa ter presente que aquele
carácter não coincide sempre e necessariamente com o desenvolvimento normal da relação jurídica de
imposto. Não serão sujeitos passivos não originários apenas as pessoas daquela relação. Há casos em
que a entidade obrigada a pagar na base de um desenvolvimento normal da relação de imposto é um
sujeito passivo não originário. Assim acontece com os substitutos de imposto, chamados a pagar a
prestação tributária normalmente, isto é, na base de um desenvolvimento normal da relação jurídica de
imposto. Mesmo assim, os substitutos de impostos são devedores, sujeitos passivos, não originários;
porquanto em relação a eles não se estabelece uma presunção de benefício que justifique a incidência
tributária.

38. Fundamento genérico da personalidade tributária passiva


A atribuição de personalidade tributária passiva depende de vínculos de carácter político e
económico. É o factor político que fixa os limites da atribuição no espaço. A ordem jurídico-fiscal
tributa situações económicas, mas apenas aquelas que se desenvolvem na esfera da respectiva soberania.
Esta esfera é limitada por elementos políticos, tais como a cidadania, o domicílio, a residência, a
passagem pelo território estadual, a situação de bens nesse mesmo território, a propositura de uma acção
judicial perante os Tribunais do Estado, etc. Assim, sujeito passivo de uma relação tributária predial, ou
de contribuição autárquica, será quem se presume auferir um rendimento – elemento económico –
proveniente de um prédio situado no território do Estado – elemento político: será sujeito de uma relação
tributária de imposto do selo quem, tendo celebrado um contrato no estrangeiro, queira invocá-lo perante
a ordem jurídica portuguesa.
Personalidade tributária em especial
Não basta o gozo de personalidade tributária passiva, em geral, para que uma entidade se integre,
como sujeito passivo, em qualquer tipo de obrigação de imposto. A estrutura característica de cada
espécie tributária exige preenchimento de certos requisitos de cuja verificação depende a personalidade
tributária em especial.
As isenções pessoais ou subjectivas, funcionam como condições negativas relativamente à
atribuição de personalidade tributária passiva específica. Esta só será atribuída a certa entidade se ela
não beneficiar de uma isenção.
As isenções – quer as subjectivas quer as objectivas – não devem confundir-se com as situações de
não incidência. Para que se verifique uma isenção tributária é indispensável precisamente uma situação
de incidência, da qual a isenção tem o efeito de afastar uma pessoa – caso de isenção subjectiva – ou um
bem – caso da isenção objectiva.

39. Situações de personalidade tributária passiva


Quando várias pessoas se acham na posição de sujeitos passivos de um mesmo vínculo tributário, é
de admitir que a lei fiscal a considere solidariamente obrigadas. E nesse caso, o sujeito activo poderá
exigir de uma só o pagamento da totalidade da prestação tributária nos termos comuns do regime de
solidariedade (art. 521º e 524º CC).

OBJECTO DA RELAÇÃO JURÍDICA DE IMPOSTO

40. Pressupostos objectivos da tributação


Os pressupostos tributários são uns subjectivos e outros objectivos. Ou, se se considera um único
pressuposto tributário, no sentido de facto constitutivo, facto gerador, haverá sempre nele uma zona
subjectiva, correspondendo a aspectos pessoais e uma zona objectiva, correspondendo a aspectos reais
do plano de incidência fiscal.

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Pressuposto objectivo genérico, sem a verificação do qual nenhum vínculo jurídico-tributário se
constitui, é a matéria colectável. Não havendo riqueza, bens materiais, bens económicos, assim como
uma entidade à qual se atribua a usufruição dessa riqueza, não há também imposto. No entanto, é de
notar que essa riqueza pode ser presumida pelas leis fiscais. A constituição do vínculo tributário nem
sempre depende de uma produção, ou de uma circulação real, de riqueza, pode depender de factos que a
lei tenha definido como índices de tal produção ou dessa circulação, as quais se presumem. E embora as
últimas reformas tributárias portuguesas tenham afirmado o princípio da tributação dos rendimentos
reais, princípio recebido a nível constitucional quanto à tributação das empresas, os impostos continuam
a incidir, em larga medida, sobre presunções, o que, por vezes, determina injustiças menores do que
tributar, como se fossem reais, rendimentos cuja realidade não pode ser apreendida, por deficiências da
contabilização e outras razões ainda.

41. Objecto imediato da relação jurídica de imposto


O objecto mediato, é aquele constituído pelo próprio conteúdo do vínculo, pelos direitos e deveres
que nele se integram; este correspondendo à prestação.
O objecto imediato da relação de imposto, também designado por conteúdo, é pois, constituído
pelos direitos e deveres nessa relação incluídos. E como cada direito de um dos sujeitos encontra
contrapartida num dever do outro, bastará indicar os direitos e os deveres correspondentes ao sujeito
activo, ou ao sujeito passivo, para se fixar o conteúdo da relação de imposto. Indicar-se-ão, assim, os
deveres e os direitos do sujeito passivo, do contribuinte.
O dever fundamental do sujeito tributário passivo é o de realizar a prestação de imposto, que
corresponde ao objecto mediato da relação.
Quanto aos direitos do contribuinte, afirmando-se correntemente que a relação jurídica de imposto é
unilateral, respeitando essa unilateralidade para uns autores apenas à origem mas para outros também ao
conteúdo, poderá parecer duvidoso que naquela relação se incluam direitos do sujeito passivo.

42. Objecto mediato da relação jurídica de imposto


O objecto mediato da relação jurídica de imposto é uma conduta, uma prestação positiva, “de dare”,
“de facere”, ou negativa “de non facere”.
Entende a generalidade da doutrina que a prestação tributária principal é sempre ”de dare”, só se
apresentando como “de facere” ou “de non facere” as prestações acessórias. E assim será se se negar
natureza tributária ao aspecto negativo dos monopólios fiscais, isto é, à proibição de fabricar ou vender
produtos monopolizados.
As prestações tributárias acessórias, quer “de facere” quer “de non facere”, geralmente não são
fungíveis, pois pressupõem uma conduta pessoal do contribuinte.
Distinguem-se, frequentemente, a prestação tributária principal, resultante da aplicação da taxa
básica do imposto, os adicionais e os adicionamentos. Mas importará observar que a prestação global,
resultante da aplicação da taxa básica, dos adicionais e dos adicionamentos, é, em regra, incidível.

FACTO EXTINTIVO DA RELAÇÃO JURÍDICA DE IMPOSTO

43. Cumprimento da obrigação tributária


Facto tributário, está sujeito ao princípio da tipicidade (fechada), o que leva a alguma especificação
na integração de lacunas, toda a riqueza ou rendimento é possível de imposto. Subsunção do facto à
norma, aplica-se ao facto tributário a norma que potência a determinação de imposto.
O cumprimento, ou pagamento, constitui a forma normal de extinção da obrigação tributária, como
de qualquer outra. O princípio fundamental em matéria de cumprimento é o da pontualidade, o que
significa que o cumprimento há-de corresponder, em todos os aspectos ao montante à época, ao local e
ao modo.
A pontualidade não exige, normalmente, que a obrigação deva ser cumprida pelo próprio sujeito
passivo, directamente ou através dos seus representantes, legais ou voluntários. Compreende-se bem que
assim seja em relação à generalidade das prestações tributárias, por não se tratar de prestações de coisa,

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ou de facto, mas sim, normalmente, de prestações pecuniárias. No entanto, algumas prestações
acessórias poderão ser exigidas pessoalmente do contribuinte.
A prestação tributária deverá ser realizada no prazo e no local estabelecidos e pela forma legalmente
prevista. Quanto ao prazo do cumprimento, ele é muitas vezes estabelecido directamente pela lei, que
tem definido um período de cobrança à “boca do cofre”, durante o qual os impostos podem ser pagos
sem juros de mora, um período de cobrança voluntária, durante o qual os impostos já só podem ser
pagos acrescidos dos respectivos juros de mora, e um período de cobrança coerciva, iniciado com o
relaxe das contribuições. Assim acontece com os impostos directos periódicos.

44. Dação em cumprimento da obrigação tributária


A dação em cumprimento, dação em pagamento, ou “datio in soliutum”, que, tal como o próprio
cumprimento, extingue imediatamente a obrigação, distinguindo-se assim, da “datio pro solvendo”, ou
“dação em função de pagamento” é admitida, por vezes, no Direito Fiscal português.
Não deverão ser entendidas como casos de dação em cumprimento as formas de pagamento por
cheque, por vale de correio, ou por transferência de conta. Pela liquidez imediata que aquelas formas
evolvem, elas não correspondem à figura da dação em cumprimento, a qual, para mais, implica a
prestação ao credor de uma coisa diversa da inicialmente prevista e estipulada.

45. Prescrição da obrigação tributária


Como qualquer outra obrigação também a relação jurídica de imposto se extingue quando o
cumprimento respectivo não é realizado num certo período de tempo. Importa determinar qual seja o
momento em que esse período se inicia e qual a sua duração. No Direito Privado tem-se entendido que o
instituto da prescrição extintiva encontraria o seu fundamento na negligência, no desinteresse, do credor,
que seriam interpretados como renúncia tácita ao seu direito. E como geralmente se afirma que os
créditos tributários são irrenunciáveis, poderia também julgar-se que as obrigações tributárias não
fossem prescritíveis. Mas o instituto da prescrição encontra também fundamento na certeza e na
estabilidade das relações sociais, que não se compadecem com a cobrança de impostos cujos
pressupostos, ou cujo o vencimento, se situem em épocas muito remotas.

GARANTIAS DA RELAÇÃO JURÍDICA DE IMPOSTO

46. Garantias tributárias em geral


O cumprimento de qualquer obrigação acha-se assegurado pela faculdade conferida ao credor de
obter coercivamente do devedor a respectiva prestação. A acção creditória sobre o património do
devedor constitui, a garantia comum das obrigações (arts. 601º e 817º CC). Também o património do
sujeito tributário passivo constitui a garantia geral das obrigações fiscais. Mas estas beneficiam de um
regime particularmente favorável quanto à acção creditória sobre o património do devedor, que
corresponde á execução fiscal.
Em regra, a realização coerciva do interesse do credor é precedida de uma acção declarativa, na qual
se reconheça o crédito, embora esse reconhecimento prévio não seja, muitas vezes, necessário, como no
caso da acção, da letra, que são ao mesmo tempo declarativas e executivas.

47. Garantias tributárias em especial


São pessoais, as garantias resultantes da responsabilidade que as leis fiscais frequentemente
atribuem no sentido de melhor assegurar o cumprimento da obrigação tributária pela vinculação de
outras pessoas, além do obrigado originário. São garantias reais ou privilégios creditórios,
estabelecidos em favor da Fazenda Nacional e das Autarquias Locais, a hipoteca legal, de que uma e
outra gozam, e ainda a prestação de caução, nalguns casos admitida.
Admite ainda a lei que o cumprimento da obrigação tributária seja assegurado através de uma caução
pelos contribuintes que queiram beneficiar de certas vantagens, nomeadamente exercer determinados
direitos, sem pagamento prévio de imposto que, em princípio, seria exigível.

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48. Juros de mora e compensatórios como garantias tributárias
Se o imposto não for pago no prazo legalmente estabelecido, começam a vencer-se juros de mora, a
uma taxa mensal de 2%. Os juros de mora só serão devidos quando o cumprimento não tenha sido
pontual. Mas poderá não haver mora do contribuinte e, no entanto, o pagamento ser retardado por se ter
procedido tardiamente às operações de lançamento e liquidação. Se esse atraso não for imputável ao
contribuinte, este só terá que realizar a prestação tributária, não acrescida de quaisquer juros. Mas se tal
atraso lhe for atribuível, à prestação acrescerão juros de compensatórios, sem prejuízo das multas e
outras penas porventura aplicáveis.
Também as multas fiscais e outros meios compensatórios, poderão, em termos paralelos constituir
garantias de cumprimento da obrigação tributária.

PROCESSO DE LANÇAMENTO E LIQUIDAÇÃO

49. Competências quanto ao processo de lançamento e liquidação


É às repartições de finanças que tem cabido, geralmente, instaurar o processo de lançamento e
liquidação na generalidade dos impostos.
A competência das repartições de finanças é determinada em função do domicílio, da residência, da
sede, da direcção efectiva ou do estabelecimento do sujeito passivo para os processos de lançamento da
generalidade dos impostos. Mas essa competência depende da situação dos bens cujo rendimento, ou
cuja transmissão, constituam objecto do imposto.
Quanto às competências no processo de lançamento da generalidade dos impostos, elas não
dependem, arbitrariamente, do domicílio, da residência, da sede, da direcção efectiva, ou do
estabelecimento, ao sabor da preferência pessoal dos funcionários ou dos contribuintes.

50. Iniciativa no processo de lançamento e liquidação: a iniciativa do contribuinte


O processo de lançamento inicia-se, normalmente, com a declaração do contribuinte. É através dela,
que o sujeito activo, em regra, toma conhecimento de que determinados pressupostos tributários se
verificam e, com essa verificação, uma certa relação jurídica de imposto se constitui. Assim se passa
com os impostos sobre o rendimento, pela declaração do contribuinte no sentido de que iniciou, ou se
propõe iniciar, uma actividade comercial, industrial ou profissional, ou de que auferiu um certo
rendimento, ou de que participou um acto que lhe confere o direito a um certo rendimento.
As declarações tributárias, em processos de lançamento e cobrança eventuais correspondem, por
vezes, a uma solicitação do próprio contribuinte, no sentido de lhe ser lançado o imposto.
A ideia de autoliquidação só será aceitável em relação a certas declarações iniciais, porquanto estas
nem sempre contêm qualquer determinação de colecta, da prestação a pagar. Também a declaração
inicial, às vezes altera-a; e porque não tem força probatória plena contra o declarante (art. 358º CC),
porquanto através de reunir elementos não constantes da declaração inicial e de concluir até num sentido
mais favorável ao declarante do que aquele que resultaria da sua declaração.
Ao contribuinte são exigíveis também, por vezes, declarações subsequentes. Sobretudo quando se
verifica alguma alteração das situações tributárias respectivas. Tais declarações subsequentes são
geralmente disciplinadas pelos mesmos princípios e regras respeitantes à declaração inicial.

51. A iniciativa de terceiro


A iniciativa no processo de lançamento tributário cabe, por vezes, a um terceiro. Quer se trate de um
particular quer de um funcionário.
É admissível porém que um terceiro preste a declaração inicial. E parece facilmente compreensível
que a um terceiro, nem responsável nem substituto, particularmente conhecedor da verificação dos
pressupostos tributários, seja exigida a declaração inicial. Mas poderá a declaração inicial de terceiro
apresentar-se nalgumas relações tributárias como normal.
Também são exigíveis a terceiros declarações subsequentes. Sobretudo para efeitos de fiscalização.
É mesmo mais frequente que a iniciativa não caiba a terceiros; mas que as declarações destes conjugadas

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com as dos contribuintes, permitam confrontá-las, dando lugar a pedidos de esclarecimento e,
eventualmente a correcções.

52. A iniciativa oficiosa


A iniciativa no processo de lançamento é oficiosa quando o contribuinte, ou um terceiro a quem
coubesse fazê-lo, não tenha prestado a declaração inicial. Porque quando os serviços fiscais têm
conhecimento, seja por que via for, de factos tributários que deram lugar ao nascimento de uma relação
de imposto, instauram o respectivo processo de lançamento, além do processo de contra-ordenação, pela
falta de declarações. A via pela qual os serviços têm conhecimento daqueles factos, quando falta a
declaração inicial, é muito frequentemente a da denúncia.
Muitas vezes a denúncia é indirecta, através da comunicação dos factos a funcionários com
competência para levantarem autos de notícia.
Importa separar com nitidez a denúncia da declaração de terceiro, ou de todo e qualquer dever
tributário acessório. Quem declara um facto tributário porque a lei fiscal lhe impõe essa declaração não é
um denunciante. Cumpre um dever. Pelo contrário, a denúncia não é obrigatória, parte da pessoa que
não tem o dever de prestar qualquer declaração tributária. As leis fiscais admitem a denúncia; mas não a
impõem.

ILICITUDE TRIBUTÁRIA E INFRACÇÃO FISCAL

53. Ilicitude tributária


A infracção, de “infringere”, consiste em toda e qualquer quebra, toda e qualquer violação, de uma
norma, seja qual for a sua natureza. Mas, tratando-se de infracção qualificada como fiscal, a norma por
ela violada há-de ser de natureza tributária também. Infracção fiscal, é pois, toda e qualquer violação,
toda e qualquer inobservância, de uma norma tributária.
As normas de Direito Tributário são heterogéneas. E, necessariamente, todas elas poderão consistir
objecto de violação. Qualquer atitude oposta a um comando tributário será qualificada como ilícito fiscal
(“quod non licet”). Mas essa ilicitude apresentará natureza e terá efeitos diversos, em conformidade
com a diversidade dos sectores do Direito Fiscal em que a violação se verifique.
Na esfera do Direito Tributário material a ilicitude apresenta-se em termos que não diferem dos
correspondentes à ilicitude civil. Assim, a violação das normas de Direito Tributário material,
respeitantes, à relação jurídica de imposto, suscita apenas a reconstituição do património lesado pela
violação. Se o sujeito passivo do vínculo jurídico, não pagar a prestação tributária devida, a ordem
jurídica, ao reagir contra essa violação, não exige senão o cumprimento daquela mesma prestação; a
qual, porque não foi realizada pontualmente, há-de ser acrescida de juros de mora, correspondentes ao
período de tempo que tenha mediado entre o momento em que o imposto deveria ter sido pago e aquele
em que tenha sido efectivamente recebido nos cofres do Estado.
54. Infracção fiscal em sentido amplo e em sentido restrito
Em sentido amplo a infracção consistirá na quebra, na violação, de toda e qualquer norma. Assim
também poderá empregar-se a expressão relativamente à ofensa de uma norma fiscal, seja qual for a sua
natureza. A infracção depara-se, à luz desse sentido restrito, como sinónimo de crime ou delito,
abrangendo tanto os julgados mais graves como os menos graves (contravenções e contra-ordenações).
Nesse sentido restrito se compreenderá aqui a expressão. A infracção fiscal será considerada, assim,
como a violação de um comando tributário susceptível de provocar uma sanção de tipo penal, e de tipo
punitivo.
PROCESSO DE EXECUÇÃO FISCAL

55. Natureza e objecto do processo de execução fiscal


O processo de execução fiscal integra-se, como espécie característica, no género correspondente ao
processo executivo. Trata-se, portanto, de um meio processual de reparação efectiva de um direito
violado. Este é o traço distintivo em relação ao processo declarativo que tem por objecto a definição de
um direito ou de uma situação.

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O processo executivo não tem por objecto uma definição de direito, que já se há-de achar definido.
Visa, sim, torná-lo efectivo, obter a prestação devida ao titular de direito. Essa prestação poderá
consistir, no processo executivo comum, na entrega de uma importância pecuniária, na entrega de uma
coisa certa ou na prestação de um facto. Mas não assim no processo executivo fiscal. Neste a prestação
exequenda consiste sempre numa importância pecuniária, certa, líquida e exigível.
O processo de execução fiscal, caracteriza-se, especialmente, pela simplicidade e pela celeridade.
Por isso, de todos os incidentes da instância só admite o da falsidade, estabelecendo-se, neste processo,
que a citação de herdeiros tenha lugar sem prévia habilitação, assim como a penhora sem despacho que a
ordene, a não suspensão da execução no caso da penhora de bens comuns, etc.
Sistema fiscal português, IRS, imposto pessoal único:
1- Incide sobre o rendimento das pessoas singulares;
2- Atendendo às características do agregado familiar.

APURAMENTO DO IRS

Rendimento Bruto = Rendimento Ilíquido de cada Categoria


-
Deduções Específicas (despesas próprias da actividade fixadas no Orçamento de
Estado – art. 21º/1, 25º, 54º CIRS)
=
Rendimento Global Líquido (procede-se ao englobamento) (art. 21 CIRS)
-
Abatimentos e Benefícios Fiscais (pensões declaradas em sentenças transitadas
em julgado), art. 55º CIRS
=
Rendimento Colectável
X
Quociente Conjugal (:2), art. 72º/1 CIRS
X
Aplicação da Taxa de Imposto (de acordo com os escalões (*2), art. 71º CIRS)
X
Quociente Conjugal (*2), art. 72º/2 CIRS
=
Colecta Total
-
Deduções à Colecta (natureza pessoa ou real), art. 80º CIRS
=
Imposto Liquidado
-
Retenções na Fonte
=
VALOR APURADO

Bibliografia:
 Martinez, Soares:
Direito Fiscal, Almedina

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