DESENVOLVENDO A AUTONOMIA COMO PROPULSORA DO PROCESSO DE
INCLUSÃO NA ESCOLA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NO AEE DA EMEF
CASTRO ALVES
Bárbara Gai Zanini Panta
Escola Municipal de Ensino Fundamental Castro Alves
O presente trabalho traz um relato de experiência do trabalho no Atendimento
Educacional Especializado da Escola Municipal de Ensino Fundamental Castro Alves. Com a identificação e avaliação inicial dos estudantes que frequentam o Atendimento Educacional Especializado na escola e suas famílias, surgiu a necessidade de elaborar um projeto de trabalho baseado nestas relações a fim de identificar problemas e buscar soluções para a melhor forma de adaptação entre a escola e os estudantes. De acordo com a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), a educação especial como modalidade de ensino tem o papel de disponibilizar os serviços e recursos próprios deste atendimento. Partindo deste princípio, pensou-se a elaboração deste tema de acordo com os objetivos da modalidade de Educação Especial e do Atendimento Educacional Especializado. Além das atividades planejadas para cada estudante especificamente, foram trabalhadas as relações entre educação e cultura, formação de valores e atitudes, assim como a questão ambiental e de sustentabilidade e a atenção ao sentido emocional e afetivo das relações entre estudantes, professores e outros profissionais da instituição. Foi valorizado o desenvolvimento da linguagem oral, corporal e expressiva assim como o avanço nas relações sócio afetivas, de cooperação e solidariedade e a constituição do sujeito como cidadão autônomo, inserido em seu contexto sociocultural. Objetivos específicos e traçados individualmente foram desenvolvidos através das atividades diárias, tendo em vista a reorganização do esquema corporal, aprimoramento da coordenação motora, orientação espaço-temporal, equilíbrio e lateralidade. Sempre considerando as particularidades de cada estudante atendido, buscaram-se atividades que estimulassem a autogestão da vida prática, visando à autonomia, noções de alimentação, higiene, vestuário, entre outras necessidades pessoais e o estímulo da comunicação utilizando métodos orais, gestuais e de comunicação alternativa a fim de desenvolver a linguagem oral, compreensiva e expressiva. A utilização de materiais pedagógicos e dos jogos visou possibilitar e incentivar a criatividade, imaginação e reflexão do estudante estimulando a autodescoberta, autoestima e percepção de si e do outro. A Educação Especial é uma modalidade da Educação Básica que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades de ensino e atende os estudantes público-alvo. Todos os estudantes com deficiências, transtornos do espectro autista e com altas habilidades/superdotação são atendidos em suas especificidades com o desenvolvimento de práticas colaborativas entre a sala de aula regular e o Atendimento Educacional Especializado (AEE). O serviço de Educação Especial desenvolvido na EMEF Castro Alves tem sua ação norteada pelas leis federais, estaduais e municipais de inclusão, assim como a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008). Conforme a Lei Federal 9394/96 (LDB), mais especificamente o Capítulo V que regulariza a Educação Especial, onde os sistemas de ensino assegurarão aos estudantes com necessidades especiais: currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específica, para atender às suas necessidades; terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados. A escola também atende ao Parecer CNE/CEB Nº17/01, no qual se destaca que a inclusão dos estudantes na escola regular não consiste apenas na presença física junto aos demais estudantes, mas sim em rever concepções e paradigmas, além de desenvolver as potencialidades destas pessoas respeitando as diferenças e atendendo às necessidades de cada um. O trabalho do AEE na escola também é norteado de acordo com a Resolução CMESM Nº 31, de 12 de dezembro de 2011, que define as Diretrizes Curriculares para a Educação Especial no Sistema Municipal de Ensino de Santa Maria – RS. No Artigo 4º desta resolução, destacam-se as dimensões norteadoras para a organização curricular da educação básica, dentre elas o desenvolvimento das diferentes linguagens e seus códigos; o respeito às fases do desenvolvimento humano; a construção da autonomia e o respeito à diversidade. Atualmente no AEE da escola Castro Alves são atendidos estudantes com Deficiência Intelectual, Deficiência Visual e Transtorno do Espectro Autista. Conforme Ciola (2009), Aprender é um processo ativo onde o estudante tem responsabilidade no processo e o papel do professor não é mais de detentor do saber, e sim um mediador do conhecimento. O professor trabalha com estratégias de aprendizagem que auxiliam o estudante a assumir certa autonomia sobre o aprendizado. O trabalho no AEE neste ano, além de estimular a autonomia dos estudantes em relação à aprendizagem, buscará no diálogo com a família, auxiliando neste processo. Foi observada certa resistência por parte da família dos estudantes atendidos, em estimularem a autonomia de seus filhos até mesmo nas atividades básicas do dia a dia. Entretanto, percebe-se que estes estudantes são capazes de realizar as atividades que muitas vezes são feitas para eles, o que dificulta o processo de desenvolvimento. Uma das principais funções do AEE é justamente promover a autonomia do estudante na escola para que a inclusão seja satisfatória. Esta autonomia não está só na adaptação arquitetônica para a deficiência física, ou recursos para deficientes visuais ou auditivos. A autonomia para o deficiente intelectual, visual ou para o autista acontece no dia a dia, nas atividades básicas que o estudante pode realizar em casa ou na escola. As atividades realizadas em Sala de Recursos são pautadas sempre em carácter lúdico, utilizando jogos para desenvolver as potencialidades individuais dos estudantes. Após a elaboração do Plano de AEE, são selecionados os jogos e atividades lúdicas que serão utilizados a cada semana, voltados para o alcance de alguns dos objetivos estabelecidos. Indo ao encontro de todos os objetivos estabelecidos para o trabalho no AEE da escola, foi integrado ao projeto inicial, um projeto de Práticas Restaurativas. Por atuar no Atendimento Educacional Especializado da escola, ocorreu a ideia de iniciar a prática envolvendo o próprio trabalho com a inclusão escolar, ou seja, nas turmas onde há estudantes público-alvo da Educação Especial. De maneira a integrar o trabalho do AEE, foram planejados círculos com os familiares destes estudantes, no início e final de semestre. Os círculos de paz com os professores estão sendo realizados em horários de reunião e formação pedagógica, previamente marcados. Percebeu-se a importância de realizar os Círculos de Paz com o grupo de professores e pais, para que os adultos responsáveis pelos estudantes pudessem conhecer os princípios das Práticas Restaurativas e assim promover a cultura da paz de maneira a prevenir os conflitos. De acordo com o Artigo 4º da Lei nº 6.185/2017, o programa tem por objetivo a criação de um espaço de “diálogo permanente destinado ao corpo docente e discente para fortalecimento de vínculos profissionais e pessoais de construção de soluções coletivas frente aos desafios do cotidiano escolar”. A realização das atividades de cultura de Paz foi inserida no planejamento dos professores. Nos Anos Iniciais, estão sendo combinados momentos dentro deste planejamento, com os professores das turmas. Nos Anos Finais, está sendo realizada uma parceria com os professores que ministram a disciplina de Ensino Religioso a também com outros professores que se interessam em incluir as atividades de Cultura da Paz em seus planejamentos. Estas práticas colaborativas realizadas em sala de aula estão trazendo resultados positivos em vários aspectos relacionados à inclusão na escola. O trabalho da educação especial e da sala de recursos frente aos alunos e comunidade escolar está mudando de maneira positiva, uma vez que está perpassando todos os espaços da escola. A visão deturpada do atendimento educacional especializado com caráter clínico dentro da escola está sendo desmistificado. Os estudantes estão reconhecendo o setor de educação especial como parte integrante da escola como um todo. Os estudantes público-alvo da educação especial estão se mostrando muito mais motivados por estas atividades e demonstram gostar da presença do educador especial em sala de aula, não como seu tutor individual, mas como um dos professores que estão auxiliando no processo de inclusão escolar como um todo. Também, percebe-se o trabalho de uma forma muito mais ampla, podendo observar as relações em sala de aula, saber como todos os estudantes relacionam-se e como acontecem os processos de aprendizagem. Sobretudo, o trabalho está tornando possível ratificar o fato de que a inclusão escolar é a inclusão de todos os estudantes, tanto os considerados público-alvo da educação quanto todos os estudantes da escola.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. A Educação Especial na
Perspectiva da Inclusão Escolar. MEC/SEESP, 2010.
BRASIL. CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE SANTA MARIA. Define
Diretrizes Curriculares para a Educação Especial no Sistema Municipal de Ensino de Santa Maria – RS. RESOLUÇÃO CMESM Nº 31, de 12 de dezembro de 2011.
BRASIL. Lei Nº 6185/2017. Cria o Programa Municipal de Práticas Restaurativas nas
Escolas de Santa Maria e dá outras providências. Santa Maria, Rio Grande do Sul, 2017.
CIOLA, Ana Carla Lanzi. Autonomia E Estratégias De Aprendizado. In: II Congresso
Brasileiro de Línguas na Formação Tecnológica. Americana: FATEC, 2009. v. 2.