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MEDITANDO NA ESCOLA: UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

PEDAGÓGICA NO AEE

Lara Giovana Fischer de Matos


EEEF Presidente João Belchior Marques Goulart;
laragfischer@gmail.com; cursista
Cristiane Griebeler
Professora da Rede Estadual de Santa Maria;
griebelercris@gmail.com; tutora
Renata Corcini Carvalho Canabarro
Professora da Rede Municipal de Santa Maria;
renata.canabarro@prof.santamaria.rs.gov.br; orientadora

Introdução
A Educação Inclusiva é uma educação voltada para todos e as políticas
públicas que vem sendo construídas nesses últimos anos, tem este viés de
construção de sistemas educacionais inclusivos que geram mudanças
estruturais e sociais. A Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), contempla uma educação
inclusiva, garantindo a matrícula de todas as crianças e adolescentes no
ensino comum nas suas diversas necessidades educacionais específicas.
A modalidade de ensino da Educação Especial oferta o Atendimento
Educacional Especializado (AEE), que por sua vez tem como função
complementar ou suplementar o processo de escolarização dos estudantes
público-alvo da Educação Especial, derrubando as barreiras da aprendizagem
e garantindo o prosseguimento dos estudos na escola regular. As políticas
públicas são essenciais, mas para que de fato sejam colocadas em prática e
garantam os direitos das pessoas com deficiência, temos que ampliar nossos
conhecimentos em relação à legislação e em relação ao tema aqui abordado.
A formação continuada dos professores e todos os envolvidos no
processo educativo são primordiais, para que o AEE seja de fato uma oferta
inclusiva que proporcione o desenvolvimento integral dos estudantes através
de recursos pedagógicos e de acessibilidade que rompem as barreiras e
levam em consideração as necessidades de acordo com a singularidade do
estudante.
Nesse sentido, o Curso de Aperfeiçoamento em Serviço de Atendimento
Educacional Especializado (AEE) como Prática Pedagógica Inclusiva, da
Universidade Federal de Santa Maria – RS, ampliou nossos conhecimentos
proporcionando reflexões sobre a legislação e elementos fundamentais para
uma prática pedagógica e intervenções mais assertivas no Atendimento
Educacional Especializado e nas práticas do ensino colaborativo com os
demais envolvidos no processo de ensino e aprendizagem.
A escola em que foi realizada a intervenção pedagógica decorrente o
trabalho de conclusão do Curso de Aperfeiçoamento SAEE, o qual constitui o
presente estudo, pertence à rede estadual de ensino do estado do Rio
Grande do Sul. A instituição de ensino encontra-se localizada num bairro de
periferia da cidade de Alvorada.
A instituição oferta o ensino fundamental completo entre os turnos da
manhã, tarde e noite. Atualmente são 19 turmas de anos iniciais, 14 turmas
de anos finais e quatro turmas de EJA, e mais um curso técnico de EJA
(Parceria com IFRS). A escola conta com 916 alunos e 47 servidores.
O processo inclusivo desta escola vem ocorrendo através de uma longa
e árdua caminhada nesses últimos anos. Foi conquistada uma Sala de
Recursos Multifuncional no ano de 2014 e na sala de aula há um esforço
enorme em incluir as crianças e adolescentes público-alvo da Educação
Especial, atendendo as suas necessidades, potencialidades e singularidades.
Quando os estudantes concluem o ensino fundamental I e progridem
para o ensino fundamental II há dificuldades quanto à adaptação e dinâmica
dos anos finais no processo de ensino e aprendizagem. Para tanto a equipe
pedagógica da escola está permanentemente orientando, proporcionando
reuniões, interações com a professora do AEE e oportunizando espaços de
formações e reflexões sobre o tema.
O público-alvo do AEE, na instituição, são estudantes com deficiência
intelectual, deficiência física e com o Transtorno do Espectro Autista.

Desenvolvimento
Com base na realidade da escola, no período de pandemia e retorno
presencial após dois anos de aulas remotas, se intencionou desenvolver um
ciclo de momentos de prática de meditação com os estudantes público-alvo da
Educação Especial intitulado “Meditando na escola”. Esta prática teve como
objetivo a autorregulação emocional, ampliação da consciência e da
criatividade, redução do estresse e da ansiedade, melhora das funções
cognitivas como a atenção, a memória e a aprendizagem.
As práticas de meditação foram realizadas em 05 encontros
consecutivos com os estudantes atendidos no AEE, sendo que no último, após
a meditação os alunos pintaram uma tela expressando como foi esse processo
e como se sentiam após os cinco encontros. Os encontros tiveram a duração
de 30 minutos, sendo que para a prática da meditação por volta de 15 minutos
e outros 15 minutos para a conversa e partilha sobre o momento vivenciado.
A proposta de intervenção pedagógica foi desenvolvida a partir das
aulas e estudos nos dez módulos do Curso de Aperfeiçoamento SAEE como
Prática Pedagógica Inclusiva, enfatizando o Módulo I referente ao Atendimento
Educacional Especializado para os estudantes do AEE.
As práticas de meditação foram realizadas na escola, com a participação
expressiva de quase 90% dos estudantes de 1º ao 9º ano do AEE nos períodos
da manhã e da tarde. Um estudante com autismo do primeiro ano ficou
desconfortável com a meditação e participou somente de um encontro, bem
como outra estudante do 9º ano com deficiência intelectual, que explicitou não
querer participar de todos os encontros. Os encontros foram organizados em
uma sequência de cinco dias na Sala de Recursos Multifuncional.
Inicialmente a proposta foi apresentada em um círculo de conversa com
os estudantes da Educação Especial sobre algumas concepções importantes
na prática meditativa, como conceitos de meditação, a importância e benefícios
desta prática para a vida em geral, respiração, atenção, aprendizagem, dentre
outros fatores através de situações concretas e lúdicas que estimulam o
interesse em participar da proposta oportunizada. A sala foi preparada em
formato de círculo com o uso de almofadas grandes e coloridas, no centro
deste uma mandala, ao fundo tocando uma música instrumental evidenciando
os sons da natureza, difusor de ambiente com óleos essenciais naturais
exalando aromas relaxantes, para que proporcionasse o momento de atenção
e estado de presença à atividade em questão.
Os estudantes foram muito receptivos à proposta dentro do AEE. A
maioria queria ficar mais tempo do que o proposto, explicitando que estavam
se sentindo bem, relaxados e que conseguiram se concentrar na meditação.
Recebi alguns feedbacks de alguns responsáveis dizendo que observaram que
seus filhos estavam mais calmos, menos agitados e que falavam muito do que
vivenciaram na meditação.
A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva, destaca que

O Atendimento Educacional Especializado tem como função


identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de
acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação
dos alunos, considerando suas necessidades específicas. As
atividades desenvolvidas no Atendimento Educacional Especializado
diferenciam-se daquelas realizadas na sala de aula comum, não
sendo substitutivas à escolarização. Esse atendimento complementa
e/ou suplementa a formação dos alunos com vistas à autonomia e
independência na escola e fora dela. (BRASIL, 2008).

Nessa ótica, a meditação pode ser, e é uma ferramenta pedagógica que


constrói pontes nesse processo de construção do conhecimento e interações
de forma acessível que impulsiona o desenvolvimento integral dos estudantes,
pois de maneira colaborativa entre o AEE, professor da sala de aula comum,
família e equipe pedagógica buscam em conjunto as flexibilizações e
adequações necessárias de acordo com a subjetividade de cada sujeito. Em
uma entrevista no Jornal O Tempo (2015), Elisa Harumi Kozasa, pesquisadora
do Instituto do Cérebro do Hospital Israelita Albert Einstein e professora titular
do Programa Acadêmico em Ciências da Saúde da Faculdade Israelita de
Ciências da Saúde Albert Einstein, explicita que,

Nos estudos sobre os efeitos da meditação no cérebro foram


encontrados alguns dados interessantes, como melhora da função
cognitiva (atenção, memória), processamento emocional relacionado
a mudanças na função de áreas como o córtex pré-frontal, hipocampo
e a ínsula, por exemplo. Em alguns estudos, encontramos mudanças
na estrutura cerebral dos praticantes de meditação, como o córtex
cerebral mais espesso, em algumas regiões do cérebro. (2015, s/p.)

Nesse sentido a neurociência evidencia que a meditação sendo


desenvolvida com frequência, como o simples exercício de focar em
determinado objeto ou construir uma imagem mental na qual se possa manter
a atenção pode causar uma sensação de relaxamento, auxilia na saúde mental
e física, potencializa a capacidade criativa, favorece o aumento da atenção,
pois faz com que o aluno se torne mais consciente do momento presente,
ampliando a percepção no seu entorno, bem como auxilia na organização,
melhora a autoestima e os relacionamentos interpessoais, possibilitando
avanços significativos no processo de construção do conhecimento.
Portanto, a meditação traz muitos benefícios e subsídios como proposta
pedagógica em parceria com o AEE, professor da sala de aula comum e
envolvidos no processo educativo. O estudante com a atenção sustentada nas
aulas, terá mais recursos internos para desenvolver outras funções cognitivas,
que por sua vez abrirão janelas para o conhecimento e evolução da pessoa na
sua integralidade.

Considerações Finais
O Curso de Aperfeiçoamento em SAEE como Prática Pedagógica
Inclusiva em seus dez módulos contribuiu expressivamente para o alargamento
da visão e aprofundamento do conhecimento sobre a Educação Inclusiva e
Educação Especial. As discussões nas aulas síncronas e assíncronas
enriqueceram a bagagem através das diferentes vivências e proporcionou
diversos momentos de reflexão para mudanças mais assertivas na prática. A
aprendizagem gera mudança de comportamento, e foi isso que o curso
oportunizou. Com certeza o fazer pedagógico será mais inclusivo evidenciando
um olhar mais amplo com o desejo de aprender cada dia mais.
O conhecimento aprofundado sobre o AEE e sua importância na escola,
bem como o trabalho colaborativo associado à proposta de práticas de
meditação no âmbito escolar, foi uma experiência grandiosa que visa uma nova
proposta para o AEE, visando o desenvolvimento de habilidades e funções
cognitivas essenciais no processo de ensino e aprendizagem.

Referências
BAPTISTA, Claudio Roberto. Ação Pedagógica e Educação Especial: a sala de
recursos como prioridade na oferta de serviços especializados. Rev. Bras. Ed.
Esp., Marília, v.17, p.59-76, Maio-Ago. 2011.
BRASIL. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação
Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008.

Turchielio, Silva e Guareschi (2022, no prelo). Atendimento Educacional


Especializado. Módulo 1, curso SAEE/UFSM.

SNEL, Eliane. Quietinho feito um sapo: exercícios de meditação para crianças.


Rio de Janeiro: Bicicleta Amarela, 2016.

COSSIA, T., & Andrade, M. de F. R. de. (2020). Contribuições da meditação


em âmbito escolar. INTERFACES DA EDUCAÇÃO, 11(31), 153–176.
https://doi.org/10.26514/inter.v11i31.4111

DINIZ, Ana Elizabeth. Onde a neurociência e a meditação se encontram. O


Tempo, 15 set.2015. Disponível em :
https://www.otempo.com.br/interessa/onde-a-neurociencia-e-a-meditacao-se-
encontram-1.1112992

Índice Remissivo
A Atendimento Educacional Especializado (AEE), 1; atenção, 2; aprendizagem,
2; C colaborativa,3; E Educação Inclusiva,1; Educação Especial; F funções
cognitivas,2; Flexibilizações,3; I intervenções mais assertivas, 1; M meditação,
3; O o momento de atenção e estado de presença à atividade em questão, 3; P
prática de meditação, 2; R recursos internos para desenvolver outras funções
cognitivas, 5; s subjetividade de cada sujeito,3.

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