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Inteligência

Diferenças entre grupos: NSE, etnia,


género e geração
Índice

Diferenças entre grupos


• Raça e etnia e estatuto social/classe social/nível socioeconómico
• Aspetos metodológicos: Raça ou etnia e como inferir NSE?
• NSE: situação portuguesa e “reprodução social”
• Diferenças de QI médio em adultos e crianças
• Viés cultural nos testes de inteligência
• Sexo/género
• Aspetos metodológicos - sexo ou género?
• Capacidade verbal
• Capacidade numérica
• Capacidade espacial
• Inteligência estimada e avaliada
• Geração
• Aspetos metodológicos dos estudos longitudinais da população
• Evolução das tendências médias (efeito Flynn).
• Conclusão
Diferenças intelectuais em função da raça/etnia e NSE
Daley & Onwuegbuzie, 2011, p. 301

O que temos é uma relação forte entre dois fenómenos fracos (raça e
inteligência), um dos quais … mensurável por testes de QI … que estão
relacionados com o NSE e que representam um conjunto de aptidões
cognitivas insuficientemente definidas que, de forma não surpreendente,
predizem também as aptidões académicas e, por conseguinte, o sucesso
profissional e a riqueza que, por sua vez, predizem a inteligência
representada por um score de QI.

Constructos defeituosos, instrumentos defeituosos e relações defeituosas


conduzem a inferências defeituosas e a políticas educacionais e sociais
defeituosas.
Raça ou etnia?

Raça na sua apropriação “científica” refere-se ao modo como as pessoas com


diferentes traços fenotípicos apresentam diferenças sistemáticas em diferentes
variáveis, contribuindo para a “essencialização” dessas diferenças,
desempenhando uma função simbólica associada ao preconceito e discriminação
(Smedley & Smedley, 2005).

Etnia refere-se a características culturais (e.g., como o país/região de origem, a


língua, a religião, …). Ainda que raça e etnia designem pertenças identitárias
distintas, frequentemente a inclusão de uma pessoa num grupo está associada à
sua pertença a outro grupo e o uso de etnia tem sido privilegiado (Coll et al.,
1996).
Raça ou etnia? (APA, 2010, p.75)

Preferences for terms referring to racial and ethnic groups change often. (..) Authors
are reminded of the two basic guidelines of specificity and sensitivity.
(…)Language that essentializes or reifies race is strongly discouraged and is
generally considered inappropriate. For example, phrases such as the Black race
and the White race are essentialist in nature, portray human groups
monolithically, and often serve to perpetuate stereotypes. Authors sometimes
use the word minority as a proxy for non-White racial and ethnic groups. This
usage may be viewed pejoratively because minority is usually equated with being
less than, oppressed, and deficient in comparison with the majority (i.e., Whites).
Use a modifier (such as ethnic or racial) when using the word minority. When
possible, use the actual name of the group or groups to which you are referring.
Raça ou etnia? (APA, 2020)
https://apastyle.apa.org/style-grammar-guidelines/bias-free-
language/racial-ethnic-minorities

Race refers to physical differences that groups and cultures consider


socially significant. (…). Ethnicity refers to shared cultural
characteristics such as language, ancestry, practices, and beliefs. (…).
Be clear about whether you are referring to a racial group or to an ethnic
group. Race is a social construct that is not universal, so one must be
careful not to impose racial labels on ethnic groups. Whenever
possible, use the racial and/or ethnic terms that your participants
themselves use. Be sure that the racial and ethnic categories you use are
as clear and specific as possible. Use commonly accepted designations
(e.g., census categories) while being sensitive to participants’ preferred
designation.
Diferenças intelectuais em função do NSE:
como inferir ou avaliar o NSE?

• Dificilmente apreendido pela observação direta.

• Profissão e o nível de instrução: forma indireta de avaliar o


nível sócio-económico (NSE) dos sujeitos.

• Critérios devem ser devidamente explicitados nos estudos.


Raça ou etnia? (APA, 2020)
https://apastyle.apa.org/style-grammar-guidelines/bias-free-
language/socioeconomic-status

Socioeconomic status (SES) encompasses not only income but also


educational attainment, occupational prestige, and subjective
perceptions of social status and social class. SES encompasses quality
of life attributes and opportunities afforded to people within society and is
a consistent predictor of a vast array of psychological outcomes. (…)
Because SES is complex, it is not indexed similarly in all studies;
therefore, precise terminology that appropriately describes a level of
specificity and sensitivity is essential to minimize bias in language
around SES

Likewise, instead of writing about an “achievement gap,” write about an


“opportunity gap” to emphasize how the context in which people live
affects their outcomes or opportunities.
Diferenças intelectuais em função
do NSE e da ETNIA

QI médio – adultos
NSE
baixo = 85-108
alto = 111-135
Etnia
Branca = 100
Asiática = 97
Hispânica = 87
Negra = 85
(Jensen, 1980)
Diferenças intelectuais em função
do NSE e da ETNIA
Diferenças de 15 pontos entre Etnia Branca e Negra, com poucos
novos resultados empíricos diretos (Neisser et al., 1996);

Diferenças de raça/etnia devem-se sobretudo a fatores do meio


(e.g., ameaça de estereótipo), com um aumento observado no QI
para a etnia negra entre1972 até 2002 (de cerca de 5.5) (Nisbett et
al., 2012);

Sendo difícil distinguir influências hereditárias e do meio,


diferenças entre NSE’s devem-se, pelo menos em parte, a fatores
do meio (ex. aumento entre 12-18 pontos em crianças de NSE
baixo adotadas por pais de NSE mais elevado) (Nisbett et al.,
2012);

Instrumentos especificamente desenvolvidos para minorias


revelam superioridade intelectual dessas minorias: ex. BITCH
Black Intelligence Scale of Culture Homogeneity (Willims, 1972).
Diferenças intelectuais em função do NSE

NSE Adultos
A
MA
M
MB
B

70 80 90 100 110 120 130 140


Média 85 98 108 116 132
Diferenças intelectuais em função do NSE

NSE Crianças
A
MA
M
MB
B

70 80 90 100 110 120 130 140


média 93 99 105 108 116
Diferenças em função do NSE em pais e filhos
regressão para a média

NSE I II III IV V

Pais 85 98 108 116 132

Filhos 93 99 105 108 116

(Burt,1961)
A influência do NSE
correlações entre QI e NSE

NSE e QI
Prediz 1/3 do estatuto social e 1/5 do salário na idade
adulta (Jenckns, 1972; 1979)

Correlação entre NSE dos pais e QI: evolução com idade


NSE – QI .33 (White, 1982; Mackintosh, 1998)
NSE – QI crianças .30 - .40 (Jensen, 1998)
NSE – QI adultos .50 - .70 (Jensen, 1998)

Correlação entre NSE do próprio e QI


.40 - .60 (Jensen, 1973)
.50 - .60 (Mackintosh, 1998)
A influência do NSE
Projeto Talento (Project Talent)

• Um dos primeiros projetos a analisar a relação entre o NSE e o


desempenho escolar e os efeitos da personalidade, família e decisões
vocacionais que permitiu retirar algumas implicações para a mudança no
ensino secundário;

• O background socioeconómico do estudante, em particular a profissão


e habilitações literárias dos seus pais, é o preditor mais importante do
desempenho educacional, mais do que recursos da escola, rácio
professor-aluno ou qualidade dos professores;

• O rendimento económico da família, mais do que a competência


académica, é um preditor forte do acesso ao Ensino Superior, embora
afete menos os casos dos estudantes com níveis excecionalmente
elevados de talento.
http://www.projecttalent.org/
Diferenças em função do NSE:
NSE e a situação portuguesa
• Um dos países da Comunidade Europeia onde existe um maior
hiato entre classes sociais ou desigualdade na distribuição de
rendimento (coeficiente Gini entre 31 e 34.5%) (EUROSTAT,
2020).

• Taxa de risco de pobreza em Portugal: 17.2% em 2018, sendo


maior entre mais jovens (menores de 18 anos) e os mais
velhos (mais de 65 anos) (INE, 2019).
Diferenças em função do NSE:
NSE e a “reprodução social”-
Paradigmas de Sociologia da Educação

Paradigma do consenso ou estruturo-funcionalismo: fase de


otimismo pedagógico (até à década de 70 do século passado), em que a
escola é vista como fator de democratização, de equidade entre grupos
sociais, de distribuição e redistribuição do capital económico e cultural e,
por conseguinte, de melhoramento da condição humana.

Paradigma do conflito ou estruturalismo: fase de pessimismo


pedagógico, de acordo com a qual a escola reproduz ou agrava as
diferenças sociais, sendo instrumento de sujeição das classes mais
baixas à hegemonia das classes dominantes, eternizando a ordem
vigente.
A influência do NSE
correlações entre aptidões cognitivas e habilitações
literárias- Porquê?

• Escolarização fornece informações relevantes;

• Escolarização treina a concentração em problemas;

• Escolarização inculca modos de cognição que são


valorizados em testes de inteligência;

• Nível educacional é preditor do fator g, mas sobretudo


através do seu efeito sobre os fatores de inteligência de
primeira ordem (ex. compreensão verbal, velocidade
percetiva) (e.g., Tommasi et al, 2015).
Diferenças intelectuais em função do NSE:
viés cultural nos testes de inteligência

Testes livres de cultura

Resultados médios de NSE alto


mantêm-se superiores:
conteúdo ou reação aos testes?

Piores preditores de
desempenho escolar e
profissional
Diferenças entre homens e mulheres
Sexo ou género?
(ex. Carothers & Reis, 2013)

Sexo ou diferenças taxonómicas: diferenças biológicas e fisiológicas


entre homens e mulheres (ex. cérebros masculinos maiores e mais
lateralizados e efeito da ativação de hormonas sexuais nas regiões
neurais) que se refletem em diferenças categoriais essencialistas não
arbitrárias.

Género ou diferenças dimensionais: padrões comportamentais e de


atividades que, embora possam estar associados ao sexo, são
determinados pela sociedade e cultura (identidade, estereótipos e papéis
de género) e que se refletem em diferenças de grau.
Sexo ou género?
(APA, 2020)
https://apastyle.apa.org/style-grammar-guidelines/bias-
free-language/gender

Gender refers to the attitudes, feelings, and behaviors that a given


culture associates with a person's biological sex. Gender is a social
construct and a social identity. Use the term “gender” when
referring to people as social groups.

Sex refers to biological sex assignment; use the term “sex” when
the biological distinction of sex assignment (e.g., sex assigned at birth)
is predominant. Using “gender” instead of “sex” also avoids ambiguity
over whether “sex” means “sexual behavior
Diferenças em função do sexo/género

• Resultados contraditórios: influência dos estereótipos e


grupos de pressão? – resistência em aceitar e à mudança;

• Sucesso escolar ou profissional: indicadores válidos de


inteligência?

• Diferenças não são globais mas específicas? – testes de


inteligência desenhados de modo a não detetar diferenças
globais que dependem da seletividade e outras características
da amostra (Jensen, 1998; Johnson & Bouchard, 2007);

• A importância de meta-análises de estudos sobre diferenças


(tentando contrariar a subjetividade).
Diferenças em função do sexo/género
Meta-análises

• métrica uniforme (notas Z: média = 0; desvio-padrão = 1);

• fatores de homogeneidade/heterogeneidade dos estudos


(idade, dimensão da amostra, tipo de tarefas, ano da
publicação, etc.);

• effect size ou magnitude do efeito (.20 = pequeno; .50 =


médio;.80 = elevado ou importante)
Diferenças em função do sexo/género:
Capacidade verbal
Diferenças qualitativas
Raparigas aprendem a falar mais cedo, apresentam menos
perturbações da fala (gaguez, dislexia, …), melhor fluência no
vocabulário,… (mais evidentes até 4/5 anos e por volta dos 11).
Melhores resultados na leitura e na escrita (Nisbett et al., 2012).

Geral
F>M
d = .25 (Maccoby & Jacklin,1974)
d = .11 (Hyde & Linn, 1988)
- fatores geracionais
- seletividade da amostra
Diferenças em função do sexo/género:
Tipos de capacidade verbal

capacidade verbal geral F>M

produção de discurso (qualitativa) F>M

produção de discurso (quantitativa) F<M

produção escrita F>M

anagramas F>M

analogias F<M

compreensão verbal F=M

vocabulário F=M
Diferenças em função do sexo/género:
Capacidade numérica
Geral
M>F
d = .45 (Maccoby & Jacklin,1974)
d = .20 (total); d = .15 (sem SAT); d = -.05 (população geral)
(Hyde & Linn, 1988)
Homens com resultados mais extremos na distribuição (Nisbett
et al., 2012).

Conteúdos
F = M em aritmética, álgebra
F < M na SAT matemática (geometria, probabilidades,
resolução de problemas)
Diferenças são insignificantes quando refletem conteúdos
escolares (Hyde, Lindberg, Lilnn, Ellis, & Williams, 2008).
Diferenças em função do sexo/género:
Capacidade numérica – fatores em interação

Idade
< 15 anos F>M
> 15 anos F<M

Tipo de Capacidade (conteúdos com progressão da escolaridade)


cálculo F>M
resolução de problemas F<M
conceitos básicos F=M
Seletividade da amostra (abandono com progressão da escolaridade)
não selecionada F > M (d = -.05)
moderadamente selecionada F < M (d = .33)
muito selecionada F < M (d = .54)
sobredotados F < M (d = .35 a .43)
Diferenças em função do sexo/género:
Desempenho a Matemática – Quest, Hyde, & Lynn, 2010

• Sub-representação das mulheres em carreiras científicas e


tecnológicas- Porquê?

• Hipótese de estratificação: maior estratificação societal


baseada no género e maior desigualdade de oportunidades
leva a atitudes menos positivas, afeto mais negativo e pior
desempenho das raparigas, enquanto que uma menor
estratificação refletir-se-á numa maior equidade.
Diferenças em função do sexo/género:
Desempenho a Matemática – Quest, Hyde & Lynn, 2010
Diferenças em função do sexo/género:
Auto-confiança a Matemática – Quest, Hyde & Lynn, 2010
Diferenças em função do sexo/género:
Desempenho a Matemática – Quest, Hyde, & Lynn, 2010

• Meta-análise dos estudos TIMSS (Trends in International Mathematics and


Science Study) e PISA (Programme for International Student Assessment)

• Equidade de género nos estudantes matriculados, a partilha, por parte


das mulheres, de trabalhos de investigação e de lugares no Parlamento
são, paradoxalmente, os maiores preditores da variabilidade entre
nações nas diferenças de género nas atitudes e afeto em relação à
matemática (ex. comparações intra-grupo em países menos equitativos e
mais inter-grupo em países mais equitativos ou diferentes prioridades de
acordo com a pirâmide de necessidades de Maslow).

• As raparigas terão um nível de desempenho matemático semelhante aos


rapazes quando são encorajadas a ser bem sucedidas, quando lhes são
dadas ferramentas educativas e quando existem modelos femininos de
excelência matemática (ex. teoria social cognitiva de Bandura, Betz &
Hackett, 1981, 1983, 2006).
Diferenças em função do sexo/género
Halpern, Beninger, & Straight, 2011, p.266

Os dados acerca da inteligência demonstram que ambos os


géneros, em média, têm as suas forças e as suas fraquezas.
Contudo, a investigação argumenta que muito pode ser feito para
ajudar as mulheres a ter bons resultados em ciência e para as
encorajar a segui-la como profissão…. [de modo a ultrapassar]
viés, discriminação e desigualdade. (…) [tais mudanças]
beneficiam mulheres, homens, a economia e a própria ciência.
Diferenças em função do sexo/género:
Capacidade espacial

• Capacidade para representar, transformar e armazenar


informação simbólica não linguística ou numérica (e.g. imaginar
posições e movimentos de objetos no espaço);

• Existem 3 tipos: perceção espacial, visualização espacial e


rotação mental.

• Maior diferenciação entre os sexos.


Diferenças em função do sexo/género:
Capacidade espacial

Geral
F<M
d = .50 (Block,1977)
Diferenças percetíveis aos 3 meses de idade (Quinn
& Liben, 2008).
Tipo de capacidade
visualização espacial F = M d = .13
perceção espacial F < M d = .44
rotação mental F < M d = .73
Diferenças em função do sexo/género
Visualização espacial

• Identificação de figuras simples entre


figuras complexas

• Implica mobilização de processos


diferentes, por exemplo, estratégias
metacognitivas que orientem a
escolha das estratégias de
resolução;

• M > F d = .13 mas com diminuição


ou mesmo ausência de diferenças
entre os sexos quando há
possibilidade de utilização de
estratégias diferentes.
Diferenças intelectuais em função do sexo/género:
Perceção espacial

Perceção de horizontais e verticais no


espaço, a partir de indicadores que
permitam estabelecer comparações
(e.g. Rod and Frame Test, RFT)

M > F (a partir dos 8 anos)


d = .44

♂ privilegiam critérios posturais ou


gravitacionais (mais dependentes de si
próprios)
versus
♀ privilegiam critérios visuais (mais
dependentes da situação)
Diferenças em função do sexo/género:
Rotação mental

Rotação de um objecto no
espaço (2 ou 3 dimensões)
(e.g. Mental Rotation Test)

M > F a partir dos 13 anos

d = .73

♂ recorrem a estratégias
globais (abstração)
versus
♀ recorrem estratégias mais
analíticas (raciocínio lógico)
Diferenças mais relevantes entre os sexos nas
tarefas de rotação mental:
PORQUÊ?

• Lateralização cerebral?

• Maturação sexual?

• Seletividade da amostra?
Diferenças na rotação mental:
lateralização cerebral

Buffery & Gray (1972)


Melhor capacidade espacial dos homens deve-se à sua menor especialização
hemisférica.

Levy (1976); Ellis (2008)


Melhor capacidade espacial dos homens deve-se à sua maior especialização
hemisférica (conexões neuronais mais simples, menor interferência com a
capacidade verbal).

♂: maior especialização hemisférica, i.e., utilizam preferencialmente o


hemisfério direito para resolver tarefas espaciais.
versus
♀: menor especialização hemisférica, i.e., utilizam os dois hemisférios para
resolver tarefas espaciais (corpo caloso mais denso e desenvolvido).

Como o processamento da informação verbal se sobrepõe ao processamento


da informação espacial, o desempenho das mulheres é inferior ao dos homens
em tarefas espaciais, particularmente na rotação mental.
Diferenças na rotação mental:
maturidade sexual
seletividade da amostra
Precoce verbal > espacial
Tardia verbal < espacial
Correlações
• visualização espacial e QI
• visualização espacial e capacidade verbal (F)
• visualização espacial e capacidade espacial (M)
• Diferenças visíveis apenas se QI suficiente
• Redução das diferenças com as gerações
Diferenças entre homens e mulheres:
Inteligência estimada e inteligência avaliada
(Furnham, 2001; Neto & Furnham, 2006, Neto, Furnham, & Paz, 2007)

a) Correlações de cerca de .30 entre inteligência auto-estimada


e inteligência avaliada psicometricamente;
b) Os homens tendem a estimar valores mais elevados de
inteligência geral;
c) Os homens tendem a estimar valores mais elevados de
inteligência lógico-matemática e espacial;
d) As pessoas tendem a estimar a inteligência dos outros de
modo semelhante à forma como estimam a sua própria
inteligência;
e) As pessoas tendem a acreditar que existe uma evolução
geracional da inteligência (cada geração é mais inteligente
do que as anteriores).
Aspectos metodológicos no estudo das
diferenças em função das gerações:
estudos longitudinais versus transversais

Estudos transversais: não distinguem os efeitos da idade dos


efeitos geracionais.

Estudos longitudinais:
• comparam amostras representativas da população, usando
pessoas equivalentes em gerações diferentes;
• em intervalos regulares, durante um longo período de tempo;
• utilizando os mesmos instrumentos de avaliação,
frequentemente com mesma padronização.
Diferenças em função das gerações
Evolução das tendências médias

• Aumento geral do QI nos últimos 40 anos.


• Tendência a passar despercebido devido à aferição regular
dos testes.
• Utilizando as mesmas normas, as diferenças aparecem.

• Aumento em todas as idades.


• Por exemplo, se se limitasse às crianças, poderia ser
interpretado em termos de aceleração da velocidade de
maturação

• Aumento, apesar da crescente inclusão nas amostras de


minorias étnicas e socialmente desfavorecidas.
Estudos longitudinais de população
Autores Datas Testes Países Amostra Resultados
1937/ Stanford-Binet
Flynn,1984 Weschler, SAT E.U.A. 2-48 anos 13,8 pontos
1978
1963/
Zajonc,1986 SAT verbal E.U.A. 18 anos 27 pontos
1981
Stanford-Binet
1937/ Europa
Flynn,1987 Weschler, 2-48 anos 5-25 pontos
1978 Matrizes Ásia

Escócia 2,28 pt/15 anos


Lynn & 1,71 pt/10 anos
1932/ Verbal, G.B.
Hampton, performances
1950 3,00 pt/10 anos
1985 E.U.A. 1960 7,70 pt/10 anos
1986
Japão 5,00 pt/10 anos
Flieller,
1944/ Mosaicos de
Saintigny & Gille França 8 anos 48,8 pt/40 anos
Schaeffer,1986 1984

1970/ Verbal, Mat. 9, 13, 18


Jones, 1984 SAT mat, verb E.U.A. 8%
1983 anos
Diferenças em função das gerações
O efeito Flynn

• Foi observado um aumento, por geração, de 9 pontos na inteligência


cristalizada e de 15 pontos na inteligência fluida (e.g. Matrizes
Progressivas de Raven) atribuídos à influência de fatores materiais e
sociais (nutrição, urbanização, TV) (Flynn, 1984, 1987, 1994);

• Entre 1947 e 2002, os ganhos nas provas de aritmética, vocabulário e


informação da WISC são de apenas 3 pontos, enquanto que nas
matrizes de Raven são de 27.5 (Flynn, 2007);

• Estimulação ambiental e escolar parece promover sobretudo a


capacidade das crianças para a resolução de problemas
descontextualizados, uma vez que o aumento nos níveis de raciocínio
específicos (e.g. aritmético, vocabulário, criatividade e velocidade de
aprendizagem) são bastante mais modestos (Flynn, 1998; 2007).
Diferenças em função das gerações
O efeito Flynn- e depois? (Sternberg, 2010)

A interpretação de Flynn (2007) de que o aumento se deve a melhorias


tecnológicas e educacionais parece plausível, mas não existe nenhuma
explicação satisfatória para a uniformidade desse aumento, dado que a
tecnologia e educação não aumentaram em qualidade e disponibilidade
em todos os lados. Provavelmente, existem múltiplas causas em
interação, incluindo a complexidade crescente do mundo e o aumento da
inteligência necessário para se adaptar com sucesso a esse mundo. (…)
As aptidões desenvolvem-se em parte como reflexo das exigências
do meio: o raciocínio abstracto tornou-se mais importante no mundo
de hoje, caçar e colheita menos. As aptidões éticas, pelo contrário,
eram importantes no passado e mantêm-se cruciais hoje. (…) Como
educadores, sugiro que temos a responsabilidade ética de ensinar os
nossos estudantes a pensarem e agirem não apenas de forma inteligente,
mas também sábia e ética—a desenvolver não apenas a sua inteligência
cognitiva, mas também a sua inteligência ética.
(Sternberg, 2010, p.435-439)
Diferenças em função das gerações
Conclusões
• QI aumenta com as gerações, sendo bastante provável a influência de
fatores materiais e sociais;

• Parece ter aumentado sobretudo a capacidade de lidar com problemas


abstratos (fluida, operações formais de Piaget) e não tanto com
problemas concretos (cristalizada) – diferentes aspetos da inteligência
são reforçados em diferentes gerações/contextos.

• Sobredotação deve ser avaliada em termos relativos e não absolutos;

• Previsão de diminuição da capacidade intelectual das sociedades,


baseada numa perspetiva de transmissão excessiva de patrimónios
genéticos considerados de menor qualidade (NSE baixo), não se
verifica.
The Bell Curve: the reshaping of American life by
difference in intelligence
Herrnstein & Murray (1994)

• Obra socio-darwinista: as diferenças entre seres humanos são


baseadas em argumentos da biologia evolutiva (estratificação em castas
com fundamentação genética);

• Invoca um igualitarismo paradoxal: a meritocracia não tem funcionado e,


por isso, os mais inteligentes estão distribuídos por diferentes classes
sociais (deveriam estar todos na superior…);

• A inteligência deve por isso ser quantificável, imutável e todos os


indivíduos podem ser classificados numa escala linear.

• Deveria existir estratificação por classes sociais em função das


capacidades intelectuais hereditárias e, por isso, o mesmo deveria
acontecer de acordo com as raças/etnias (asiática e caucasiana >
negra) – elevada hereditabilidade do QI.
A falsa medida do Homem de Stephen Jay Gould
(2004, edição Portuguesa)
Crítica a The Bell Curve

…a abstracção da inteligência como


entidade única, a sua localização no
cérebro, a sua quantificação num valor
numérico para cada indivíduo, e o uso
destes números na hierarquização das
pessoas segundo uma única escala de
valor, para descobrir de qualquer forma
que os grupos oprimidos e em
desvantagem – raças, classes ou
sexos – são inatamente inferiores e
merecem essa categoria. Em suma, é
…a Falsa Medida do Homem (p. 21-
22)
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