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Direito Constitucional

Ellen Thaynná Mara Delgado Brandão


Milena Barbosa de Melo

Unidade 1
Unidade 1| Introdução

Iniciaremos nossos estudos conceituando o que vem a ser o Direito


Constitucional, trazendo sua definição, assim como sua classificação,
para que possamos melhor compreender em que consiste essa
disciplina.
Além disso, estudaremos todas as Constituições que fizeram parte
do ordenamento jurídico do Brasil e o cenário em que elas surgiram.
Unidade 1| Objetivos

1. Definir a classificação da Constituição.


2. Analisar as constituições sob o contexto histórico.
3. Classificar os diversos tipos de Constituição, contextualizando cada um
deles.
4. Identificar o que vem a ser o Poder Constituinte e suas aplicações.
1. Conceito de Constituição Federal

O Constitucionalismo consiste em uma


teoria que ergue o princípio do governo
limitado, portanto é indispensável à
garantia dos direitos em dimensão
estruturante da organização político-social
de uma comunidade. Nessa dimensão, o
constitucionalismo moderno representa
uma técnica específica de limitação do
poder com fins de garantia. Desse modo, Fonte: Pixabay

o conceito de constitucionalismo remete-


nos a um juízo de valor (LENZA, 2007).
O constitucionalismo corresponde à busca do homem pela limitação do
poder absoluto que é exercido por aquele que detém o poder de Estado,
além de representar uma forma de estabelecer uma justificação ética,
moral e espiritual da autoridade, deixando de lado a ideia de submissão
da sociedade a quem se encontra no poder.
De forma a complementar esse conceito e explicando de maneira geral,
podemos dispor que o constitucionalismo foi um movimento social,
político e jurídico que teve a finalidade de fazer emergirem as
constituições, e seu marco foi a Constituição dos Estados Unidos da
América, em 1787, e a Constituição da França, em 1791.
Sendo assim, deve ser considerado que: a Constituição norte-americana
veio como forma de garantir direitos e de limitar os poderes; e que a
Constituição da França estabeleceu um poder supremo com um titular,
sendo ele o povo, que começa a deter um poder constituinte que
possibilita a criação de uma nova ordem política e social.
O constitucionalismo surgiu para que as Constituições fossem
promulgadas. Ele foi o marco inicial para que houvesse a limitação dos
poderes e para que a soberania emergisse do povo.
Dessa forma, sabendo em suma o que vem a ser o constitucionalismo e
sua luta para garantir a igualdade, a justiça e os direitos dos cidadãos,
cabe-nos agora retratar o que vem a ser o Direito Constitucional.
Conceito de Constituição Federal

Juridicamente, porém, Constituição


deve ser entendida como a lei
fundamental e suprema de um Estado,
que contém normas referentes à
estruturação do Estado, à formação dos
poderes públicos, à forma de governo e
aquisição do poder de governar,
distribuição de competências, direitos,
garantias e deveres dos cidadãos. Além
disso, é a Constituição que individualiza
os órgãos competentes para a edição
de normas jurídicas, legislativas ou Fonte: Wikimedia Commons

administrativas. (MORAES, 2003, p. 29)


De forma inicial, vale retratar que a Constituição deve possuir os seguintes
elementos:
• Ser escrita.
• Conter a separação dos poderes.
• Conter um sistema de direitos fundamentais individuais.
• Adotar um sistema democrático formal.
De forma a explicar o que vem a ser Constituição, Lenza (2007) divide essa
concepção em quatro sentidos, sendo eles:
Sentido sociológico – determinando que uma Constituição só é legítima se
representar o efetivo poder social, de forma a refletir as forças sociais que
constituem o poder. Caso isso não acontecesse, ela seria considerada
ilegítima. Dessa forma, a Constituição, de acordo com esse sentido,
constitui uma soma dos fatores reais do poder dentro de uma sociedade.
Sentido político – apresenta uma distinção entre Constituição e lei
constitucional, de forma que a Constituição se refere à decisão política
fundamental, por exemplo, a estrutura e órgãos do Estado, direitos
individuais, vida democrática, entre outros. A lei constitucional, por sua
vez, corresponde aos demais dispositivos contidos no texto do documento
constitucional, sem conter a matéria de decisão política fundamental.
Sentido material e formal – primeiramente, devemos tratar do sentido
material, em que pese, nesse sentido, para que se possa dizer que uma
norma tem caráter constitucional, deverá ser levado em consideração o
seu conteúdo, pouco importando o modo com que a norma foi
introduzida no ordenamento jurídico. Dessa forma, será considerado
constitucional a norma que defina e trate das regras que estruturam a
sociedade, os seus alicerces fundamentais.
Sentido jurídico – é estabelecido que a Constituição corresponde a um
dever ser e não a um ser, sendo ela, então, caracterizada como o
resultado de uma vontade racional do homem, e não das leis naturais.
2. Constituições

A Constituição pode ser entendida


como a Lei fundamental e suprema de
um Estado, a qual, em suas normas,
estabelece a estrutura e a organização
do Estado, estabelecendo a forma de
Estado, a forma de governo, o sistema
de governo e demais normas
relacionadas aos Poderes do Estado Fonte: Pixabay
(MORAIS, 2019).
Masson (2015) afirma que a Constituição não se desliga do fator social e
do contexto dos valores que pretende realizar.
Esse contexto histórico revelado por meio da Constituição pode ser muito
bem percebido na história das Constituições brasileiras, isso porque
tivemos, ao menos, sete Constituições de 1824 a 1988.
História das constituições

Em 1808, as terras portuguesas


foram ocupadas pelas tropas
napoleônicas. Sabendo que
tinha conquistado o Brasil, a
família real portuguesa decide
se mudar para a colônia
brasileira, que, a partir daí,
começa a se chamar de Reino
Unido a Portugal e Algarves. Fonte: Pixabay
No ano de 1821, Dom João VI, rei de Portugal, vê-se obrigado a retornar
ao seu país, deixando seu filho, Dom Pedro de Alcântara, como Príncipe
Regente. Esse foi o marco histórico que desencadeou o processo gradual
de construção de um país democrático.
Dom Pedro I proclamou a independência do Brasil em 1822 e, no ano
seguinte, convocou uma Assembleia Constituinte e Legislativa, com ideais
liberais. No entanto, ela veio a ser dissolvida em virtude da existência de
divergências com seus ideais e com pretensões autoritárias (LENZA, 2018).
Logo após dissolver a Assembleia, D. Pedro I cria o Conselho de Estado
com o objetivo de tratar dos negócios de maior monta e, portanto,
elaborar uma Constituição que estivesse de acordo com os interesses
totalitários (LENZA, 2018).
Em 25 de março de 1824, foi outorgada a Constituição Política do Império
do Brasil, a qual durou cerca de 65 anos, tendo como características o
centralismo político e administrativo, a manutenção do absolutismo e o
unitarismo do Poder do Estado, além da criação do Poder Moderador.
A Constituição de 1824 estruturou o Estado Brasileiro como sendo um
Estado unitário e governado por uma Monarquia Constitucional. Assim, o
território brasileiro passou de capitanias hereditárias para províncias, a
religião oficial era a da Igreja Católica Apostólica Romana, mas permitiam-
se cultos domésticos e particulares de outra religião (LENZA, 2018).
Outro ponto interessante previsto na Constituição de 1824 foi a instituição
do Rio de Janeiro como capital do Império e posterior transformação
deste em Município da Corte, tendo sua submissão direta ao Poder
Central, e não ao poder da Província. Isso ocorreu por meio de adição à
Constituição sob o fundamento do Ato Adicional de 1834 e Lei nº 12/1832
(LENZA, 2018).
Mesmo expondo todos esses pontos trazidos pela Constituição de 1824,
eles não foram os mais importantes, dado que o ato considerado de
extrema importância contido nesse diploma foi a previsão do Poder
Moderador. Na contramão da teoria da Montesquieu, na qual o poder do
Estado seria separado em três Poderes – no caso, o Poder Executivo, o
Poder Legislativo e o Poder Judiciário –, o Brasil, por meio da Constituição
de 1824, inspirando-se nas ideias de Benjamin Constant, instituiu um
quarto Poder, o Poder Moderador (LENZA, 2018).
Segundo Lenza (2018), para conceituar o Poder Moderador, há duas linhas
de pensamento: a primeira linha é mais liberal, estabelecendo que o
Poder Moderador representaria um Poder de coordenação entre os
demais Poderes; e a segunda linha é mais conservadora, estabelecendo
que ele é um Poder superior, que possibilitaria intervenções e imposições
do Poder Moderador sobre os demais Poderes.
Foi com a Constituição de 1891 que foi instituído o federalismo no Brasil,
inclusive, com previsão expressa da proibição de dissolução de qualquer
dos Estados-membros, bem como a previsão do presidencialismo como
sistema de governo.
O Governo Provisório deteve os poderes do Estado até a promulgação da
Constituição de 1934. (LENZA, 2018).
A Constituição de 1934 deparou-se, em 1937, com um golpe de Estado.
No que diz respeito a essa nova Constituição de 1946, podemos dizer que
ela trouxe de volta os conceitos de Estado Liberal e de Estado Social,
buscando um equilíbrio entre a livre iniciativa e os direitos sociais.
A Constituição de 1967 colocou em uma Carta Magna todas as intenções
dos Atos Institucionais. Seguido na linha da Constituição de 1937,
restringiu direitos individuais e retirou garantias.
A Constituição Federal de 1988 encontra-se vigente até os dias atuais. Ela foi
responsável por estabelecer direitos e garantias fundamentais, estabelecendo
o Brasil novamente como uma Federação Republicana e Democrática e, após o
plebiscito de 1993, previsto pelo art. 3º das Disposições Transitórias, firmou-se
como sistema de governo o presidencialismo. A partir de 1993, foi firmado o
sistema de presidencialismo no país, quando o voto passou a ser direto, secreto
e universal.
3. Classificação das constituições

A classificação ocorre a partir ORIGEM:


promulgadas
de critérios específicos outorgadas
dispostos por Lenza (2018),
nomeadamente: ALTERABILIDADE:
ELABORAÇÃO:
rígidas
• Origem. flexível
dogmáticas
históricas
semirrigidas CONSTITUIÇÃO
• Modo de elaboração. FEDERAL

• Conteúdo.
• Forma.
FORMA: CONTEÚDO:
• Alterabilidade. escritas formal
não escritas material

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2020.


O critério de origem das constituições dispõe que elas podem ser
promulgadas ou outorgadas. Podemos, então, dizer que elas consistem em:
promulgadas e outorgadas.
Quando dispomos da classificação acerca do modo de elaboração, queremos
dizer que ela é classificada de acordo com a maneira como foi elaborado seu
texto constitucional. Por isso, podem ser dogmáticas e históricas.
A Constituição pode ter seu conceito formado a partir tanto do sentido da
matéria quanto do sentido formal.
Na classificação de acordo com a forma, as Constituições podem ser
classificadas como escritas ou não escritas.
Quanto à alterabilidade, essa classificação recebe diversos nomes de
acordo com os doutrinadores que a sustentam, por exemplo, mutabilidade,
estabilidade e consistência. No entanto, independentemente do nome que
recebe, ela estabelece que as constituições podem ser classificadas
segundo a alterabilidade em rígidas, flexíveis e semirrígidas.
As constituições que vigoraram no Brasil e a sua
classificação

Sabemos que o Brasil possuiu várias


constituições até chegar na que temos
em vigência atualmente. Assim,
sabendo da classificação acima
mencionada, cabe a nós discutir em
que consiste a classificação de cada
uma das constituições que já
vigoraram no Brasil.

Fonte: Pixabay
Constituição de 1824:
Quanto à origem – outorgada.

Quanto ao modo de elaboração – dogmática.

Quanto ao conteúdo – material.

Quanto à forma – escrita.

Quanto à alterabilidade – semirrígida.


Constituição de 1891:
Quanto à origem – promulgada.

Quanto ao modo de elaboração – dogmática.

Quanto ao conteúdo – formal.

Quanto à forma – escrita.

Quanto à alterabilidade – rígida.


Constituição de 1934:

Quanto à origem – promulgada.

Quanto ao modo de elaboração – dogmática.

Quanto ao conteúdo – formal.

Quanto à forma – escrita.

Quanto à alterabilidade – rígida.


Constituição de 1937:

Quanto à origem – outorgada.

Quanto ao modo de elaboração – dogmática.

Quanto ao conteúdo – formal.

Quanto à forma – escrita.

Quanto à alterabilidade – rígida.


Constituição de 1946:

Quanto à origem – promulgada.

Quanto ao modo de elaboração – dogmática.

Quanto ao conteúdo – formal.

Quanto à forma – escrita.

Quanto à alterabilidade – rígida.


Constituição de 1967:

Quanto à origem – outorgada.

Quanto ao modo de elaboração – dogmática.

Quanto ao conteúdo – formal.

Quanto à forma – escrita.

Quanto à alterabilidade – rígida.


Constituição de 1969:
Quanto à origem – outorgada.

Quanto ao modo de elaboração – dogmática.

Quanto ao conteúdo – formal.

Quanto à forma – escrita.

Quanto à alterabilidade – rígida.


Constituição de 1988:
Quanto à origem – promulgada.

Quanto ao modo de elaboração – dogmática.

Quanto ao conteúdo – formal.

Quanto à forma – escrita.

Quanto à alterabilidade – rígida.


4. Poder Constituinte

Barroso (2019), ao tratar de Poder


Constituinte, observa que, assim
como a Constituição surge
historicamente antes de uma
conceituação enquanto fenômeno,
o mesmo ocorre com o Poder
Constituinte, ou seja, existindo
uma organização política, haverá Fonte: Pixabay
uma força inicial que constituiu
aquela organização, conferindo-lhe
uma forma, normas e instituições.
O Poder Constituinte “trata-se do poder de elaborar e impor a vigência de
uma Constituição. Situa-se ele na confluência entre Direito e Política, e
sua legitimidade repousa na soberania popular” (BARROSO, 2019, p. 117).
A titularidade do Poder Constituinte é a Nação, uma vez que tem ligação
com a ideia de soberania (MORAIS, 2019). Na modernidade, por outro
lado, entende-se que a titularidade do Poder Constituinte pertence ao
povo (LENZA, 2018).
O Poder Constituinte é dividido em originário, derivado, difuso e
supranacional.
O poder originário é aquele que instaura uma nova ordem jurídica,
rompendo por completo com a ordem jurídica precedente.
O poder derivado é aquele que altera formalmente a Constituição.
O poder difuso é aquele que atua na etapa da mutação constitucional,
chamado de difuso porque não vem formalizado nas constituições.
Mesmo assim, está presente na vida dos ordenamentos jurídicos.
Poder Constituinte supranacional

O poder supranacional busca


a sua fonte de validade na
cidadania universal, no
pluralismo de ordenamentos
jurídicos, na vontade de
integração e em um conceito
remodelado de soberania.

Fonte: Pixabay
É acrescentado por Bulos (2018) que o Poder supranacional almeja romper
as fronteiras dos Estados em nome de uma integração, alcançando, assim,
uma comunidade de nações. Essa ideia de supranacionalismo, também
chamada de transnacional, está diretamente ligada à
metaconstitucionalidade.

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