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Educação Alimentar e

Nutricional para professores


da Educação Básica
Conteudistas
Michelle C. M. Jacob
Natalia Araújo do N. Batista

UNIDADE
Feijão com Arroz
1 UNIDADE 2
Matérias-primas da
UNIDADE
Modos de Fazer
3
da Nutrição Educação Alimentar Educação Alimentar
e Nutricional nas e Nutricional na
Escolas Minha Escola
1
UNIDADE 1
FEIJÃO COM ARROZ DA NUTRIÇÃO
Como melhorar minha alimentação? Se eu contar o final no início estraga
a história? Lá vai: coma mais frutas, verduras e legumes, em pequenas
quantidades, e cozinhe mais. Parece que o segredo não mudou desde
a época das nossas bisavós e bisavôs. Ah, Michelle, o problema não é
saber, é fazer. Verdade. E por que parece tão difícil transformar essas
ideias em atitudes? Agora chegamos em um ponto legal da nossa con-
versa. Qual o modo de fazer desse prato bem preparado chamado ali-
mentação saudável? Vamos colocar a mão na massa? Comecemos com
o Feijão com arroz da Nutrição. Vem comigo.

Ao final desta Unidade, você será capaz de:

• Descrever as funções da alimentação;

• Reconhecer alimentos adequados e saudáveis;

• Listar diretrizes para uma alimentação adequada e saudável.

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AULA 1 - Por que comemos?
ALGUMAS FUNÇÕES DA ALIMENTAÇÃO

Essa resposta parece meio óbvia, não é? Comemos porque essa é uma
necessidade biológica. Precisamos dos nutrientes. É verdade. Agora,
pense na sua alimentação. Qual a sua comida preferida? Por que você
gosta tanto dela? O que faz dessa comida algo especial? Geralmente, as
comidas preferidas estão ligadas às nossas histórias com outras pesso-
as: nossas mães, avós e outros familiares.

Antes de desvendarmos as funções da alimentação, gostaria de propor


uma atividade que requer meramente memórias, lápis e papel. Essa ativi-
dade auxiliará você no ato de refletir sobre a história da sua alimentação.

Que tal construir sua autobiografia alimentar? Pegue um papel


e um lápis, ou abra um arquivo no seu computador, e conte
essa história. Comece pelas suas primeiras memórias e termine
falando de sua última refeição. Escreva entre 2 e 3 folhas. Essa
é uma forma muito efetiva de analisar esse aspecto de sua vida
e de usar o conhecimento que você obterá nesse curso para se
autotransformar. Depois disso, falar em Educação Alimentar
e Nutricional vai ficar fácil.

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Daí, já podemos começar a pensar sobre a pergunta que inicia essa aula:
por que comemos? Vou te dar mais um exemplo.

Imagine que essa comida que você pensou, como eu, foi uma pamonha. Nutriente, masc.:
componente químico
Agora, suponha que, ao invés da sua desejada pamonha acompanha-
necessário ao meta-
da com café quentinho, eu te ofereça uma cápsula contendo todos os bolismo humano que
nutrientes dessa refeição. Qual você escolheria? proporciona energia
ou contribui para o
crescimento, o desen-
volvimento e a manu-
tenção da saúde e da
vida. Normalmente, os
nutrientes são rece-
bidos pelo organismo
por meio da inges-
tão de alimentos. A
Falando em nutriente, você sabe que nutrientes entram na carência ou excesso de
constituição da comida que comemos? nutrientes pode provo-
car mudanças quími-
Macronutriente, masc.: nutriente que é necessário ao orga-
cas ou fisiológicas.
nismo em grande quantidade em relação aos micronutrientes.
Os macronutrientes são especificamente os carboidratos, as Fonte: Brasil (2013a)
gorduras e as proteínas, amplamente encontrados nos alimentos.
Micronutriente, masc.: nutriente necessário ao organismo
em pequenas quantidades (em miligramas ou microgramas)
em relação aos macronutrientes. As vitaminas (A, D, E, K, com-
plexo B, biotina, niacina e vitamina C) e os minerais (cálcio,
ferro, magnésio, manganês, fósforo, sódio, potássio, cobre e
zinco) são tipos de micronutrientes.
Caso você queira saber mais sobre a composição dos alimentos
que você consome, visite a Tabela Brasileira de Composição
de Alimentos (TACO), projeto da Universidade de Campinas,
disponível aqui.

Fonte: adaptado de Brasil (2011, 2013a).

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Com essa situação, fica fácil perceber que comemos não só para obter
nutrientes necessários ao funcionamento do organismo. Comemos para
conviver, para relembrar, para festejar e tantas outras coisas. Concorda?

Podemos dizer, assim, que a alimentação tem algumas funções:

Fisiológica: a alimentação fornece energia para o corpo e


atua na construção de tecidos e regulação dos processos do
organismo. Isso aí já aprendemos na escola, lembra? Alimentos
construtores, blá-blá-blá....

Social: a alimentação atua na construção de vínculos e de papéis


sociais entre os indivíduos e sua comunidade. Por isso, tão impor-
tante quanto quais nutrientes ingerimos é o fato de comermos
em companhia. Já percebeu que a comida é sempre um pretexto
para encontros? A comida serve para conectar pessoas.

Psicológica: a alimentação delimita um sistema de comunicação


que é indicador de algumas de nossas necessidades emocionais,
tais como o amor e o conforto. Já percebeu que, às vezes a comida
é utilizada para aliviar a ansiedade e a tristeza? Pois é. Nesse caso,
é sempre bom parar e pensar: eu tenho fome de quê?

Fonte: adaptado de Counihan e Van Esterik (2013)

Na mesma medida em que a alimentação possui essas funções também


acaba sendo determinada por esses fatores. O fato de sermos indivíduos
singulares, que experienciam essas dimensões de forma única, resulta
na impossibilidade de haver uma receita universal para comer saudável:
tudo depende de quem somos, onde estamos e como vivemos. Uau! Isso
é quase filosofia. E é mesmo. É tanto que a comida foi tema de refle-
xão de muitos filósofos. O filósofo alemão Friedriech Nietzche (2004),
por exemplo, em seu texto Aurora, lamentou o fato de que o estudo do
corpo e do regime dietético ainda não fizesse parte das matérias obri-
gatórias em todas as escolas primárias ou superiores. Ele compreendia
que a alimentação, mais do que uma necessidade, era uma poética, uma
oportunidade de autoconstrução do indivíduo.

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Um bom jeito de conhecer mais sobre as funções e deter-
minantes da comida no tempo e no espaço é aprender mais
sobre a História. Luís da Câmara Cascudo nos presenteou com
o uma obra que conta um pouco sobre a História da culinária
nacional, o livro História da Alimentação no Brasil, com mais
de 900 páginas. É um livro para ser petiscado aos bocadinhos.

Se sua fome não aguenta e o tempo é curto, aqui vai uma dica:
a série homônima produzida pela Heco Produções. História
da Alimentação no Brasil, a série, faz em 13 episódios, de 30
minutos cada, uma tradução visual do próprio tema do livro.
Você pode encontrar mais informações aqui neste link.

HISTÓRIA da Alimentação no Brasil. Direção: Eugenio Puppo.


Heco Produções. 2017.

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AULA 2 - Por que e como
comer melhor?

Nossa crescente preocupação com uma ali-


mentação mais saudável é justificada: as doen-
ças relacionadas com a dieta são a principal
causa de morte no mundo. Você sabia? Dados
da Organização Mundial da Saúde (WHO,
2017) mostram que as Doenças Crônicas
Não Transmissíveis, tais como as doenças
cardiovasculares, obesidade e diabetes, são
responsáveis por 70% das mortes em todo
o mundo. O Brasil (2017) é um dos países
que mais é afetado por esses números. Nos
últimos dez anos, por exemplo, a obesidade
cresceu mais de 60% nos país. Preocupante,
não é? Como virar esse jogo?

Glossário
Doenças crônicas não transmissíveis, fem. pl. Sin. DCNT.:
grupo de doenças que se caracterizam por ter uma etiologia
incerta, múltiplos fatores de risco, longos períodos de latência,
curso prolongado e por estarem associadas a deficiências e
incapacidades funcionais. São exemplos de DCNT: doenças
cardiovasculares, doenças cerebrovasculares, doenças coro-
narianas, doenças isquêmicas do coração, diabetes, doenças
pulmonares obstrutivas crônicas. Essas doenças têm em comum
um conjunto de fatores de risco modificáveis e passíveis de
ações de promoção da saúde e prevenção, como tabagismo,
sedentarismo, alimentação inadequada, alcoolismo.

Fonte: adaptado de Brasil (2013b).

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DOS NUTRIENTES À COMIDA
Lembra da nossa conversa sobre a pamonha na nossa primeira aula? Eu
sugeri que, ao invés da sua desejada pamonha acompanhada com café
quentinho, você ingerisse uma cápsula contendo todos os nutrientes
equivalentes a essa refeição. Esse exemplo deixa claro a primeira coisa
que precisamos saber sobre o feijão com arroz da Nutrição: comida é
mais do que nutriente.

Com esse exemplo, fica fácil perceber que o alimento não é igual à soma
de seus nutrientes, apesar da ideia comum que circula em nossos dias
é de que a chave para compreender o alimento é o nutriente. Essa ideia
recebe o nome de nutricionismo, uma abordagem nada científica que
reduz o alimento a seus nutrientes. Você já ouviu falar sobre isso?

Quem primeiro propôs esse termo foi o Dr. Gyorgy Scrinis (2013), profes-
sor de Política Alimentar na Universidade de Melbourne. Qual o proble-
ma do nutricionismo? Bem, pelo que você já aprendeu até agora, essa
é uma forma reducionista de pensar o alimento. Posso dar pelo menos
dois exemplos para ilustrar essa ideia.

Primeiro, o nutricionismo reduz o alimento à sua funcionalidade fisio-


lógica e nós já vimos que há outras funções além dessa. Segundo, ele
trabalha com o foco isolado em certos alimentos, ou seja, analisa alimen-
tos isolados de outros alimentos, dietas e contextos mais amplos. Isso é
perigoso porque acaba gerando aquela ideia de que existem alimentos
bons e maus. E já conversamos que em se tratando de alimentação as
coisas não são tão absolutas assim.

O que é certo é que a publicidade e o mercado de alimentos faturam


muito com a criação de superfoods, alimentos milagrosos que prometem
ser a cura de todos os males (já ouviu falar no tal sal rosa do Himalaia?;
pois é...), e vilões alimentares, como muitos de nós presenciamos com o
ovo, que passou a ser trucidado devido ao seu colesterol. É daí que nas-
cem as modas alimentares, pois há sempre uma renegociação do que é
saudável e bom, acompanhada da promessa de resultados milagrosos
em um curto período de tempo. Nesse ponto de nossa aula, eu não pre-
ciso dizer que isso não funciona. A moda muda a cada estação, não é
verdade? E eu acredito que seu objetivo, assim como o meu, é ter uma
alimentação melhor para vida toda. Então, o que funciona? Educar-se.

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O trabalho da Nutrição
deveria andar de mãos
dadas com o da Educação.

ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL: EDUCANDO-SE


COM TRÊS LIÇÕES BÁSICAS

Quem melhor pode te ajudar nessa caminhada rumo a uma alimenta-


ção adequada e saudável é o profissional de Nutrição, que atua em
uma infinidade de espaços. Vou citar alguns: serviços de alimentação
coletiva, como restaurantes; em serviços de saúde, tais como as unida-
des básicas de seu município; em consultórios particulares; e, claro, toda
escola da rede básica que tem alimentação escolar, que conta com o
apoio desse profissional como responsável técnico.

Glossário
Alimentação adequada e saudável, prática alimentar apro-
priada aos aspectos biológicos e socioculturais dos indivíduos,
bem como ao uso sustentável do meio ambiente. Ou seja, deve
estar em acordo com as necessidades de cada fase do curso da
vida e com as necessidades alimentares especiais; referenciada
pela cultura alimentar e pelas dimensões de gênero, raça e
etnia; acessível do ponto de vista físico e financeiro; harmônica
em quantidade e qualidade; baseada em práticas produtivas
adequadas e sustentáveis com quantidades mínimas de con-
taminantes físicos, químicos e biológicos.

Fonte: adaptado de Brasil (2013b).

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A ideia de Nietzsche, de que a escola deveria ensinar sobre alimentação,
é muito boa. Veja, nós comemos, em média, de três a seis vezes ao dia. E
poucas vezes fomos ensinados sobre como deveríamos fazer isso. Tudo
foi sendo feito de forma muito intuitiva e tida como natural. Em geral,
não somos educados para alimentação. Nisso, nós, professores e nutri-
cionistas, temos muito a fazer. Eu posso começar aqui mostrando uma
síntese daquele feijão com arroz da Nutrição. Vamos lá?

Primeira coisa: ainda que haja uma infinidade de modas alimentares, o


consenso de que as dietas baseadas em vegetais trazem benefício à saú-
de não mudou nos últimos 50 anos e vem sendo cada vez mais reforçado
por pesquisas científicas, como nos mostra a nutricionista Marion Nestle
(2007). Então, a primeira regra é: coma plantas. Privilegie os seguintes
grupos alimentares: feijões, cereais (tais como o milho e o arroz), legu-
mes, verduras, frutas, castanhas. Essa deve ser a nossa principal fonte
de alimentos. E importante: quanto mais variedade melhor. Lembra que
não existe um alimento bom por si só? Pois é.

Você já ouviu falar em grupo de alimentos?

Grupos de alimentos são conjuntos de alimentos que possuem


uso culinário e perfil nutricional semelhantes. Aqui, listamos
oito grupos que estão presentes na alimentação cotidiana
dos brasileiros, conforme nos mostra o Guia Alimentar para a
população brasileira (BRASIL, 2014).

1. Feijões: inclui vários tipos de feijão e outros vegetais


conhecidos como leguminosas, que nascem em favas, tais
como: fava, lentilha, ervilha, grão de bico e soja.
2. Cereais: inclui o arroz, milho, trigo, aveia, cevada, centeio.
As farinhas produzidas a partir desses cereais também estão
incluídas neste grupo.
3. Raízes e tubérculos: inclui a macaxeira, raiz nativa do
Brasil, também chamada de mandioca ou aipim, batata,
batata-doce, inhame, cará, beterraba, cenoura.
4. Legumes e verduras: imaginou a diversidade de legu-
mes e verduras que temos? Pois é, aposto que você ainda
não provou nem a metade deles.
5. Frutas: digo o mesmo sobre as frutas. A lista, só aqui das
nativas do Brasil, é graaaaande!
6. Castanhas e nozes: inclui a castanha de caju, do Brasil,
também chamada do Pará, baru, amendoim, nozes e outras.
7. Leite e queijos: inclui o leite de vaca, cabra, ovelha, coa-
lhadas, iogurtes naturais e queijos.

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8. Carnes e ovos: inclui carnes de gado, porco, cabrito e
cordeiro, carnes de aves, de pescados e ovos de galinha e de
outras aves.

Os alimentos do grupo das carnes e ovos, bem como do leite


e queijos, devem ser consumidos com muita moderação ou,
preferencialmente, não devem ser consumidos. Há evidência
científica em profusão as quais apontam que as dietas basea-
das em vegetais, bem balanceadas, trazem benefícios à saúde,
além de atuarem na manutenção da integridade ambiental
(MASON; LANG, 2017).

Quer começar uma dieta baseada em vegetais e não sabe por


onde? Comece explorando a versatilidade do grupo dos feijões,
as leguminosas! Esse grupo é a principal fonte de proteínas
no reino dos vegetais. Não se esqueça também da água, um
alimento essencial para a manutenção da vida.

Uma variedade incrível caracteriza, especialmente, os grupos alimentares


que envolvem os vegetais. Portanto, sair da monotonia alimentar se tor-
na realmente acessível quando conhecemos, valoramos e valorizamos a
biodiversidade brasileira. Ah, lembra-se da questão dos nutrientes? Então,
quanto mais variada a dieta, mais elevada é a chance de obter esses com-
ponentes e promover a saúde, por exemplo.

A biodiversidade é peça-chave na Nutrição.

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Estima-se que existam no mundo mais de 300.000 espécies de
plantas comestíveis. Ainda assim, mais da metade da energia
que consumimos advém de quatro vegetais: arroz, batatas,
trigo e milho (FAO, 2010b).

Pesquisas atuais relacionam a biodiversidade, ou seja, a diver-


sidade de espécies, com a qualidade da dieta. Quanto mais
diversa a dieta, melhor ela será para você! A diversidade de
espécies, além de essencial para Nutrição, tem impactos positi-
vos sobre a resiliência dos sistemas agrícolas – particularmente
em face de choques como alterações climáticas, pragas e flu-
tuações do mercado (LACHAT et al., 2018).

No Brasil, 90% da flora nativa não faz parte da dieta da popu-


lação (OLIVEIRA, 2017). Açaí, araçá, babaçu, beldroega, buriti,
caju, croá, fisalis, jaboticaba, licuri, major gomes, mangaba,
maracujá, murici, pinhão, ora-pro-nobis, pitanga, taoiba, umbu
e urucum são algumas espécies nativas da flora brasileira
com valor alimentício. Na sua região, que outras plantas você
conhece que poderiam fazer parte de sua alimentação e ainda
não fazem?

Quer ler mais sobre o assunto? Conheça a ferra-


menta Biodiversidade & Nutrição, resultado de um esforço
conjunto do Projeto Conservação e Uso Sustentável da
Biodiversidade para Melhoria da Nutrição e do Bem-Estar
Humano (Biodiversidade para a Alimentação e Nutrição - BFN,
sigla em inglês), Ministério do Meio Ambiente, Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação e Universidades Federais. A
ferramenta permite conhecer a composição nutricional de
alimentos bem como receitas de espécies nativas da biodi-
versidade brasileira.

Divirta-se!

Isso significa que devemos privilegiar o consumo de alimentos in natura ou


minimamente processados, limitar a ingestão de alimentos processados
e evitar o consumo de produtos ultraprocessados. Falei grego? Vamos lá:

Alimentos in natura são aqueles obtidos diretamente de


plantas ou de animais e que não sofrem qualquer alteração
após deixar a natureza. Por exemplo, um milho na espiga é
um alimento in natura.

Alimentos minimamente processados correspondem a


alimentos in natura que foram submetidos a processos de

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limpeza, remoção de partes não comestíveis ou indesejáveis,
fracionamento, moagem, secagem, fermentação, pasteu-
rização, refrigeração, congelamento e processos similares
que não envolvam agregação de sal, açúcar, óleos, gorduras
ou outras substâncias ao alimento. Ou seja, caso eu pegue
aquela mesma espiga de milho in natura, debulhe e congele
os grãos, para aproveitar a safra depois, eu tenho um alimento
minimamente processado.

Alimentos processados são alimentos fabricados essencial-


mente com a adição de sal, açúcar, óleo ou vinagre a um ali-
mento in natura ou minimamente processado. Se, ao invés de
congelar esse milho, eu fizer uma conserva com sal, eu tenho
um alimento processado. O consumo de alimentos processados
deve ser limitado. Pense no nosso exemplo: a adição de sal no
milho transforma sua composição nutricional e sabemos que
o consumo excessivo de sal (Sódio) está relacionado a doenças
crônicas não transmissíveis, lembra?

Produtos ultraprocessados são formulações industriais que


querem imitar comida, mas passam longe disso, apesar de
serem amplamente consumidas pela população. São produzidas
substâncias extraídas de alimentos, frações de constituintes
alimentares ou produtos sintetizados em laboratório, como
gordura hidrogenada, xarope de frutose, corantes, aromatizan-
tes e outros. Seguindo nosso raciocínio: pegue aquele milho e
transforme em farinha, misture uma variedade de óleos, sal,
maltodextrina, realçadores de sabor, antiumectantes, proteína
hidrolisada de trigo. No final das contas, você terá um salgadi-
nho de milho, um snack muito conhecido por aí.

Fontes: Monteiro et al. (2010) e Brasil (2014).

Falando em processados, deixo aqui outra lição: procure sempre pro-


cessar seus alimentos em casa. Ou seja, cozinhe. Há um vasto escopo
de evidências científicas que apontam o ato de cozinhar como um pas-
so importante para melhorar a alimentação (WOLFSON; BLEICH, 2015;
HARTMANN; DOHLE; SIEGRIST, 2013; CHEN et al., 2014; ADAM et al.,
2015). Sabemos que as principais fontes de sal, gorduras saturadas e
açúcares simples da dieta são provenientes dos alimentos processados
industrialmente e de refeições prontas. Cozinhando em casa e comendo
comida de verdade, aquela que nós preparamos com ingredientes que
conseguimos reconhecer, podemos ter mais controle sobre isso e cami-
nhar em direção a uma alimentação e uma vida mais saudável.

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Que habilidades culinárias básicas você acredita que sejam fundamen-
tais para serem ensinadas na escola? Fomos fazer essa pergunta para a
nutricionista Juliana Morais. Quer saber o que ela respondeu? Vai lá no
podcast “Bê-a-bá da culinária com Juliana Morais” e dá uma conferida.”

Acesse o podcast Bê-a-bá da culinária


com Juliana Morais disponível no AVASUS.

Falando nisso, você costuma ler os rótulos dos produtos que


você consome? Ter informações sobre os alimentos é tarefa
imprescindível no processo de educar-se para alimentação
e nutrição. Pegue um produto na despensa de sua casa que
tenha rótulo. Pegou? Ótimo! Agora, dá um pulinho aqui neste
manual elaborado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária,
que ensina os consumidores a destrinchar cada informação
que vem no rótulo.

E mais uma coisa: busque a moderação. E o que é a moderação? Evite


extremos e comece a decifrar os sinais de seu corpo. Para isso, é impor-
tante que se coma com atenção plena (MONROE, 2015). Sente-se à mesa,
coma lentamente, evite distrações, coma o que você gosta, sinta o gosto
da comida, viva a experiência desfrutando dela. Assim, você conhecerá
mais sobre o que gosta, de como faz suas escolhas, do quanto você real-
mente precisa e saberá avaliar melhor as pistas que seu organismo dá
sobre fome e saciedade.

Em resumo: coma vegetais produzidos localmente, privilegiando a


diversidade; prepare suas refeições; e coma com moderação. Na próxi-
ma aula, iremos finalizar esse feijão com arroz com algumas recomen-
dações adicionais.

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AULA 3 - Por onde começar?
DEZ PASSOS PARA UMA ALIMENTAÇÃO
ADEQUADA E SAUDÁVEL

Você já ouviu falar no Guia alimentar para a população brasileira? Ele é uma
ferramenta elaborada pelo Ministério da Saúde, em parceria com o Nú-
cleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade
de São Paulo (Nupens/USP) e com o apoio da Organização Pan-Americana
da Saúde (Opas/Brasil), que visa apresentar “um conjunto de informações
e recomendações sobre alimentação que objetivam promover a saúde de
pessoas, famílias e comunidades e da sociedade brasileira como um todo,
hoje e no futuro”. (BRASIL, 2014, p. 11)

O guia resume suas recomendações sobre alimentação adequada e sau-


dável em dez passos. Vamos dar uma olhada?

PREFIRA IN NATURA
DESCONFIE SEMPRE Fazer de alimentos in natura MODERE A MÃO
ou minimamente processados
Ser crítico quanto a informações, Óleos, gorduras, sal e açúcar
a base da alimentação.
orientações e mensagens em pequenas quantidades ao
sobre alimentação veiculadas temperar e cozinhar alimentos
em propagandas comerciais. e criar preparações culinárias.

PREFIRA COMIDA FRESCA LIMITE PROCESSADOS


Dar preferência, quando fora de Limitar o consumo de alimentos
casa, a locais que servem processados.
refeições feitas na hora.

PLANEJE O TEMPO
EVITE ULTRAPROCESSADOS
Planejar o uso do tempo para
Evitar o consumo de produtos
dar à alimentação a importância
ultraprocessados.
que ela merece.

COZINHE E PARTILHE TENHA ATENÇÃO AO


COMPRE DO LOCAL COMER
Desenvolver, exercitar e
partilhar habilidades culinárias. Fazer compras em locais que Comer com regularidade e
ofertem variedades de atenção, em ambientes
alimentos in natura ou apropriados e, sempre que
minimamente processados.
possível, com companhia.

Figura 1 - Dez passos para alimentação adequada e saudável


Fonte: Brasil (2014).
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Talvez você já soubesse de muitas dessas orientações. Foi exatamente isso
que conversamos no início de nossa unidade, lembra? Eu fiz uma pergun-
ta: por que parece tão difícil transformar essas ideias em atitudes? Você
pensou sobre ela? Ainda não? Vou te dar 10 minutinhos. Tente fazer uma
lista sobre essas possíveis razões.

A reflexão é o início para toda


mudança. Tire um tempo para
pensar sobre o que te distancia
de uma alimentação mais saudável.

Tempo acabado! Vamos conversar mais sobre isso na nossa última aula
dessa unidade?

VENCENDO DESAFIOS EM BUSCA


DE UMA ALIMENTAÇÃO MELHOR

Bem, vou começar falando que essa distância entre o desejo de mudar e
a impossibilidade de fazê-lo não é só questão de querer. Vou dar alguns
exemplos para ilustrar o que eu estou dizendo.

Você, por exemplo, até que gostaria de poder seguir nossa recomendação
de cozinhar mais, mas trabalha dois turnos e perde muito tempo no des-
locamento de sua casa para o trabalho. Em casa, as tarefas não são divi-
didas. Se você for mulher, tudo isso, muito provavelmente, sobraria para
você: comprar, limpar, preparar, servir, arrumar e recomeçar o ciclo. Ufa!

Consumir mais vegetais: “Hum, seria uma boa”, você pensa. A saída para
as compras toma muito tempo, sobretudo se você for frequentador de
supermercados. Comprando em feiras, além de economizar, você tem
acesso a produtos mais saudáveis, movimenta a economia local, retiran-
do o atravessador da relação entre produtor e consumidor. Resultado:
você paga menos e come melhor, e o produtor recebe uma remuneração
mais justa. “Ah, não há feiras livres no meu bairro”. Isso é um problema.
O seu acesso a espaços de comercialização de produtos saudáveis está
comprometido. Assim como o do produtor, que vira refém dos espaços
dos super e hipermercados para repassar sua mercadoria.

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Os desafios da vida moderna para a alimentação saudável.

Ou, caso você tenha filhos, até que seria mais fácil oferecer uma alimen-
tação mais saudável se na televisão e na internet as crianças e adolescen-
tes não fossem estimulados a consumir produtos tão danosos à saúde.
Geralmente, esses produtos vêm com propagandas de desenhos anima-
dos. Ainda que você não compre esses produtos, quando a criança chega
na escola vê seus colegas com o lanche daquele personagem super que-
rido. Você já sabe onde essa história termina, não é?

Esses exemplos servem para ilustrar o que mora entre o nosso desejo de
mudar e a mudança concreta rumo a uma alimentação mais saudável:
os determinantes sociais, ou seja, “fatores sociais, econômicos, culturais,
étnico-raciais, psicológicos, comportamentais e ambientais que influen-
ciam o processo saúde-doença”. (BRASIL, 2013, p. 21). Um preconceito
social que naturaliza o papel das mulheres no âmbito doméstico, jorna-
das de trabalho exaustivas, cidades mal planejadas, falta de regulação
na publicidade de alimentos dirigida a crianças e tantos outros. Viabilizar
uma mudança dessa natureza não depende só do nosso desejo, da nossa
força de vontade, como você já deve ter percebido. O que pode ser feito?

Uma das coisas é saber que lutar por uma alimentação mais saudável
é questão de cidadania. Chamamos de democracia alimentar um cená-
rio em que os cidadãos têm conhecimento e se envolvem ativamente
com as questões que perpassam o sistema alimentar no qual se inserem
(HASSANEIN, 2003). O fortalecimento da democracia alimentar ocorre
quando, por exemplo, os cidadãos têm participação ativa em Conse-
lhos de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), valorizam produ-
tos, produtores locais – além de espécies e saberes da biodiversidade

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local –, espaços públicos de comercialização de alimentos livres de atra-
vessadores, percebem o relevo da ação comunitária nos assuntos liga-
dos à alimentação, por exemplo, via construção de hortas comunitárias.
Olha quanta coisa!

O Consea é um espaço institucional para o controle social e


participação da sociedade na formulação, monitoramento e
avaliação de políticas públicas de segurança alimentar e nutricio-
nal. Na sua composição estão dois terços de representantes da
sociedade civil e um terço de representantes governamentais.

Quer saber mais sobre o CONSEA? Visite esse site.

Aqui, você pode consultar informações sobre o Consea do


seu estado.

E enquanto essas mudanças maiores não se concretizam? O que fazer?


Há algumas habilidades que podemos desenvolver para conseguir
algum controle sobre esses determinantes e galgar êxitos nessa tarefa.
O Guia, mais uma vez, nos ajuda a caminhar em direção a uma alimen-
tação mais saudável.

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VENCENDO OBSTÁCULOS

1. Informação: busque informações sobre o que você come


em fontes confiáveis.

2. Oferta: procure comprar alimentos em feiras ou em peque-


nos comércios próximos de sua casa.

3. Custo: o custo de uma dieta baseada em vegetais é menor


que aquela composta por produtos ultraprocessados.

4. Habilidades culinárias: valorize o ato de preparar seu


alimento.

5. Tempo: planeje com sua família a gestão da alimentação


servida em casa, dividindo responsabilidades.

6. Publicidade: leia com criticidade a publicidade de alimentos.


Seu objetivo é vender produtos e não educar para alimentação
saudável.

Fonte: Brasil (2014).

Ufa! Chegamos ao fim desta unidade. Aposto que você já começou a fazer
algumas mudanças na sua alimentação. Agora que você já sabe um pou-
co sobre as funções da alimentação, retorne à autobiografia alimentar que
você escreveu durante esta aula.

Quais funções você identificou na sua autobiografia alimentar?


O que mudou na sua alimentação desde que começamos o
feijão com arroz da Nutrição?

• v
Acesse a avaliação desta unidade
disponível no AVASUS.

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