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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA

TEMA:

Os prazos da coroa em Moçambique

DAVID CELESTINO RAIMONE. 708223686

Curso: Licenciatura em Ensino de História


Disciplina: História das Sociedades II
Ano de Frequência: 2º

Chimoio, Maio, 2024


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gerais
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Referências 6ª edição em das
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Bibliográficas citações e citações/referências
bibliografia bibliográficas
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Índice

CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO ................................................................................................... 5

1.1.CONTEXTUALIZAÇÃO .............................................................................................................. 5
1.1.2.OBJECTIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................................... 5
1.2.METODOLOGIAS ...................................................................................................................... 6

CAPÍTULO II: AS ANTIGAS SOCIEDADES MOÇAMBICANAS ....................................... 7

2.1.OS PRAZOS E SUA ORIGEM EM MOÇAMBIQUE .......................................................................... 7


2.2.CAUSA DA CRIAÇÃO DO SISTEMA PRAZO ................................................................................. 7
2.3. ORGANIZAÇÃO SOCIAL DOS PRAZOS ...................................................................................... 8
2.4.PAPEL E INFLUÊNCIA DOS PRAZOS EM MOÇAMBIQUE ............................................................ 11
2.5.DIFICULDADES ENFRENTADAS PELOS PRAZOS DESDE O INÍCIO. ............................................. 11
2.6.A EXTINÇÃO DOS PRAZOS...................................................................................................... 13
2.7.IDEOLOGIA ............................................................................................................................ 13

CAPÍTULO III: CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................... 15

3.1.CONCLUSÃO.......................................................................................................................... 15

4.REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 16


CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO

1.1.Contextualização

O presente trabalho da cadeira de História das Sociedades aborda sobre os prazos da


coroa em Moçambique. É importante salientar que os prazos eram concessões do domínio útil
da terra, em troca do pagamento de um foro à coroa. Estes aforamentos tinham a duração de três
vidas, sendo que a atribuição de terras estava sujeitas à confirmação régia. Esperava‑se dos
foreiros o enquadramento político das populações locais e a defesa desses territórios.
O regime de prazos adquiriu em cada território particularidades decorrentes das normas
construídas nas sociedades locais e da dinâmica da evolução dos grupos sociais existentes. Estes
constituíram um modelo de estruturação da sociedade, assim como um instrumento de
administração do território, que conferia aos senhores o poder para administrar as populações
africanas. A riqueza dos senhores baseou-se no comércio e mineração. Mas para tal foi
necessário o controlo da terra e das populações africanas. De um modo geral os senhores
dispuseram também de uma considerável mão-de-obra escrava, que assegurava o funcionamento
da maioria das diversas atividades económicas.
A pesquisa está dividida em três grandes partes, compreendendo um total de três
capítulos. Na primeira parte, o autora oferece uma visão geral do que eram os prazos em
Moçambique. De seguida, o autor dá ênfase ao contexto do surgimento dos prazos da coroa em
Moçambique.Na terceira e última parte são realçada as considerações finais assim como a visão
dos autor em relação ao sistema de prazos em Moçambique.

1.1.Objectivos

1.1.1.Geral

o Explicar o contexto do surgimento dos prazos da coroa em Moçambique;

1.1.2.Objectivos Específicos

o Descrever a influência social dos prazos para a Sociedade Moçambicana.


o Explicar a ideologia e a extinção dos prazos em Moçambique;

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1.2.Metodologias

Para a realização deste trabalho o autor recorreu a revisão bibliográficas que consistiu em
consulta de manuais físicos assim como virtuais na Internet, importante deste trabalho surge na
medida em que o mesmo contribui para o avanço da ciência fornecendo conhecimento acerca do
tema na qual o mesmo se subordina-se-me salientar que em ciência nenhum trabalho é estanque
por isso o autor deste trabalho espera pela análise crítica para que os próximos trabalhos sejam
melhorados.

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CAPÍTULO II: AS ANTIGAS SOCIEDADES MOÇAMBICANAS

2.1.Os prazos e sua origem em Moçambique

De acordo com Godinho, (1967), o conceito de Prazos da Coroa termo usado a partir do séc XVI
para designar pequenas unidades políticas estruturadas dentro do império dos Mwenemutapa por
mercadores de origem portuguesa e indiana (goesa).
Os chefes destas unidades politicas recebiam o nome de Senhores Prazeiros, estes que obtinham
terras por três vias:

o Doações dos chefes africanos ao governo português;


o Conquista militar por parte de alguns mercadores ricos;
o Compra aos chefes africanos pelos mercadores.

2.2.Causa da criação do sistema prazo

A coroa portuguesa pretendia:

o que os exilados para Moçambique que tinham terras não exercessem o seu poder
absoluto sem prestar contas a ninguém;
o tirar benefícios económicos e políticos com a presença portuguesa na região do Vale do
Zambeze;
o acelerar a dominação colonial e a “civilização” com o incremento do povoamento branco.

Este sistema é resultante da penetração política - militar e económica do colonialismo


português no estado do Muenemutapa que dá origem aos prazos.
Prazos, é o resultado dos mercadores, guerreiros, soldados e aventureiros portugueses, que vão se
fixar em Cuama (nome primitivo do rio Zambeze), onde vão ocupar grandes extensões de terras.
Prazo inicialmente foi o resultado de terras conquistadas por esses homens, e terras que os chefes
locais lhes deram em troca de ajuda militar contra outros chefes locais (Barata, 2002).

O termo prazo aparece pela primeira vez no século XVII, oriundo de Portugal ou da Índia.
Neste século XVII, ter-se-ia instituído Índia a prática de aforar ou conceder terras da coroa

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portuguesa obtidas por conquistas na condição obrigatória do foréiro viver nelas e ter homens
preparados militarmente para a sua defesa.

Para a Índia chamou-se de prazo a concessão porque a terra era concedida mediante uma
renda anual e na durabilidade de duas ou três vidas (duas ou três gerações), findo o prazo a terra
voltava à coroa.

Prazo na situação moçambicana pequenas unidades políticas que eram estruturadas


dentro do império por mercadores de origem portuguesa ou indiana.

As terras onde foram erguidas estas pequenas unidades tiveram essencialmente três
origens:

o Terras doadas pelos chefes africanos ao governo português, essa era uma das formas
de aquisição de terras para a formação de prazos.
o Terras conquistadas aos chefes por exército de mercadores ricos;
o Terras compradas aos chefes africanos por mercadores.
o Razões da obrigatoriedade da renovação das concessões de três em três gerações e da
transferência de propriedade por via feminina em caso de morte dos titulares.

Antigamente era anormal que uma branca casasse com um negro e isso permitia o
controlo dos brancos sobre essas terras, enquanto era fácil um colono casar-se com uma mulher
negra; e caso isso acontecesse, a terra voltaria para as mãos dos moçambicanos. (Barata, 2002).

2.3. Organização Social dos prazos

Em Moçambique, a cedência de terras da Coroa – os prazos – ficou associada ao vale do


Zambeze (Rios de Cuama ou de Sena), embora ocorressem idênticas concessões nas Quirimbas,
em Sofala e no litoral da Ilha de Moçambique. A instituição dos prazos foi interpretada, desde o
século XIX, quer como uma herança árabe ou africana, quer como uma criação do império
português. Estabelecida a sua origem portuguesa, mesmo passando por uma africanização, o
enquadramento legal das doações foi remetido ora para a enfiteuse, ora para as sesmarias. Essa
discussão historiográfica prende-se com a própria história dos prazos.

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A instituição do regime jurídico dos prazos ocorreu no contexto no Estado da Índia, que
incorporava Moçambique. Verificando-se já a doação de terras desde os anos de 1580, apenas no
início de Seiscentos, à medida que o império português se territorializava, o governo de Goa
estabeleceu normas para essas concessões, pelos alvarás de 6 de Fevereiro de 1608 e de 14 de
Dezembro de 1633. Tal como já ocorria no Estado da Índia, a cedência das terras de
Moçambique combinava aspectos da enfiteuse e da concessão de bens da Coroa. Do ponto de
vista normativo, elaborou-se um regime híbrido, pois a doação dos bens da Coroa, regulada pela
Lei Mental, divergia no plano legal da enfiteuse. Com efeito, a enfiteuse implicava que a Coroa
retinha o domínio directo da terra e cedia o domínio útil ao foreiro, em troca do pagamento de
um foro, em ouro desde 1633. Mas, estas concessões não eram meros contratos enfitêuticos, pois,
enquanto bens da Coroa, remuneravam serviços, designando-se “mercês”. Igualmente, coagiam
os mercenários a residirem na terra e a prestarem serviços, sobretudo militares, uma condição
inerente à concessão de bens não patrimoniais da Coroa. Quanto à duração, as concessões eram
em vidas, geralmente três, prevalecendo a perpetuidade para as instituições religiosas. Era
reconhecido o direito de renovação, permitindo ao último detentor apontar um sucessor, que
alcançava mais vidas. A transmissão destes prazos, tal como a dos bens da Coroa, regulava-se
pela indivisibilidade, obrigando à nomeação de um único sucessor, e pela inalienabilidade,
demandando a autorização régia para designar a vida seguinte. Relativamente à sucessão,
vigorou a livre nomeação, transmitindo-se a terra a parentes ou a estranhos, o que assegurava a
continuidade de casas sem descendentes, numa zona onde o controlo do território dependia dos
exércitos dos foreiros. Todavia, entre 1698 e 1751, um terço dos prazos foi concedido a mulheres
com a cláusula de casarem com europeus ou de sucederem filhas. Esta norma, que tendia a
recrutar reinóis, surgiu para a Província do Norte, por carta régia de 1626, actualizada por
posterior legislação. A sua transposição para Moçambique decorreu da interpretação dos
funcionários de Goa, pelo que na maioria dos títulos persistiu a livre nomeação.
Independentemente disso, muitas mulheres sucediam em prazos, quer devido à alta mortalidade
masculina, quer como estratégia familiar para alcançar alianças com estranhos.

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Em Moçambique, as concessões enfitêuticas implicavam, para além do domínio da terra,
a jurisdição sobre as populações africanas, o que permitia aos senhores, geralmente detentores de
largos territórios, colectarem rendas e serviços e construírem um enorme poder. A emissão dos
títulos de aforamento, competindo a múltiplas autoridades, no início de Setecentos, transitou para
o tenente-general dos Rios. Tanto as mercês novas como a sucessão de vidas obrigavam, ainda, à
obtenção da confirmação régia junto do vice-rei. Essa exigência, imposta para os bens da Coroa,
funcionava como um meio de controlar os foreiros. Este conjunto normativo constituía um
instrumento de estruturação social. A concessão de terras associada à remuneração de serviços
colocava no topo da sociedade uma elite recrutada em todo o império, mormente em Portugal e
na Índia. A sua reprodução biológica foi assegurada pelo casamento com mulheres da região e de
Goa. Visava-se, também, a construção de um modelo de administração que conferia a essa elite o
governo dos africanos e a responsabilizava pela defesa das fronteiras, (Bernadino, 1978).

Transferida a administração de Moçambique para a dependência de Lisboa, em 1752, o


ordenamento jurídico e o discurso sobre a concessão de terras aproximou-se do que vigorava
para o Brasil, as sesmarias, conforme a prática do Conselho Ultramarino. Pelo aviso de 5 de
Abril de 1760, o governo de Moçambique passou a regular-se pelos regimentos do Brasil,
enquanto a provisão de 3 de Abril definiu normas inspiradas na legislação decretada para a
América. A área dos prazos não excederia três léguas por uma, reduzidas a meia légua em quadra,
nas terras minerais ou situadas junto aos rios e à costa. As concessões transitavam para o
governador-geral e a confirmação para o Conselho Ultramarino. A aplicação deste diploma,
restringindo a área dominada por cada senhor, implicava profundas transformações, mas, na
prática, persistiram as antigas normas. As alterações subsequentes ocorreram no final do século,
visando estabelecer a política de um prazo por enfiteuta. A sucessão foi restringida a
descendentes ou ascendentes, transformando as concessões em prazos familiares. Com base em
ordens régias de 1753 e de 1783, interditando novas doações aos detentores de terras, um
conjunto de medidas determinou que os foreiros só obteriam outro prazo, mais rentável, por
concessão directa da Coroa, casamento ou sucessão, mediante a desistência dos direitos sobre o
que fruíam. Foi, ainda, estabelecido que as mercês novas beneficiariam as mulheres, alegando
ordens régias para as terras serem dadas a mulheres brancas para casarem com europeus. De
facto, a instrução de 20 de Abril de 1752 dispusera que as filhas de foreiros reinóis e goeses
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casassem com portugueses, sob pena de perderem as terras. Esta medida conjuntural, destinada a
fixar os soldados a enviar para a colónia, também garantiu os direitos sucessórios dos filhos das
uniões entre portugueses e africanas, não impondo a feminilidade no acesso e na sucessão dos
prazos. Tal ordem, porém, serviu de argumento ao governo-geral para favorecer as descendentes
dos mercadores da Ilha de Moçambique, uma elite recente e apostada em territorializar-se.
Esboroava-se, assim, a relação entre serviço e mercê para associar a concessão das terras ao
povoamento europeu, ao desenvolvimento agrícola e à segurança.

2.4.Papel e influência dos prazos em Moçambique

O regime de prazos adquiriu em cada território particularidades decorrentes das normas


construídas nas sociedades locais e da dinâmica da evolução dos grupos sociais existentes. Estes
constituíram um modelo de estruturação da sociedade, assim como um instrumento de
administração do território, que conferia aos senhores o poder para administrar as populações
africanas.

A riqueza dos senhores baseou-se no comércio e mineração. Mas para tal foi necessário o
controlo da terra e das populações africanas. De um modo geral os senhores dispuseram também
de uma considerável mão-de-obra escrava, que assegurava o funcionamento da maioria das
diversas atividades económicas.

O exercício da autoridade por parte dos senhores dos prazos acolheu-se ao abrigo dos
padrões sociais e políticos africanos. Podia refletir-se na oferta de presentes, ou no uso de
violentas formas de coerção, o que podia levar à fuga de pessoas dos prazos.
As relações entre os africanos dos prazos iam além da oposição homens livres e escravos. Houve
laços de parentesco entre indivíduos de ambos os grupos, o que podia frustrar as intentadas ações
de violência, (Martinez, 1989).

Por tudo o que foi exposto, considero que estamos perante uma grande investigação, que
resultou numa obra muito relevante para a historiografia

2.5.Dificuldades enfrentadas pelos prazos desde o início.

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A instituição prazéira enfrentou desde o início uma série de dificuldades que vão se
circunscrever pelas seguintes razões:

o A maioria dos prazéiros eram criminosos, opositores do regime e desertores do exército


que cumpriam suas penas em Moçambique. A coroa não tinha controlo sobre essas
pessoas.
o Na prática, a coroa portuguesa nunca marcou presença política nessas terras porque quem
as sustentava eram os opositores do regime.
o A inferioridade numérica e o isolamento a que os prazéiros estavam votados, nunca
conseguiram impor a cultura; eram africanizados, (no lugar de civilizar, eles é que eram
civilizados).
o A autoridade portuguesa estabelecida principalmente na costa era praticamente impotente
de obrigar aos prazéiros na obediência das leis da coroa.
o As maiorias das terras dos prazos haviam sido obtidas sem a concorrência do governo
português.
o O poder militar crescente dos prazos reduzia a capacidade pressão do governo sobre eles.
o A autonomia dos prazéiros em relação a autoridade portuguesa era em muitos casos
quase absoluta, não havia nenhuma subordinação entre o prazo e a coroa portuguesa. Se
ele as conseguiu sem a participação do governo português, porquê é que ele havia de se
submeter às leis portuguesas?

Para Martinez, (1989) o resultado prático da instituição prazeria foi ligeiramente


alcançado mas a medida que os tempos iam passando, o sistema veio a desenvolver-se como uma
instituição completamente diferente do que estava previsto. Isto é, em vez de funcionar em
função dos interesses da monarquia portuguesa, o interesse dos prazéiros passou a ser
predominantemente egocêntrico.

Do ponto de vista administrativo os prazéiros gozavam de uma independência quase total,


eram eles que ditavam os impostos a serem pagos pela população africana residente dentro do
prazo e seus arredores. Eram frequentes os casos de condenação a morte à revelia da legislação
da coroa (ao bel prazer); tinham os seus exércitos constituídos por escravos através de guerras de
conquistas e ou de dívidas que se entregavam ao senhor prazéiro. Não respeitava a ninguém;
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(nem aos chefes africanos, nem as autoridades portuguesas); colaboravam ou faziam guerra com
uns e com os outros).

2.6.A extinção dos prazos

Vários factores conjugados contribuíram para a decadência dos prazos dos quais
podemos destacar:

o A intensificação do tráfico de escravos na segunda metade do século XVIII, levou os


senhores de terras a exportar os camponeses que constituíam suporte para a produção de
alimentos e elevação da economia prazéira e, os posteriormente os a - chicundas que
protegiam militarmente os prazos, os quais se revoltam e atacam os mesmos prazos.
o Entre 1820/1835, a força do Bárue e Monomotapa atacam os prazos.
o A invasão Nguni (de Zwanguendaba e Nguna Masseko) nas regiões de Sena, Manica,
Báruè e Lualo, veio agravar a situação, tendo provocado o despovoamento do vale
tornando-o vulnerável.
o Em 1840, 28 dos 46 prazos até então existentes foram ocupados passando a pagar tributo
ou prestar vassalagem aos Gaza-ngunis

Este sistema é resultante da penetração política - militar e económica do colonialismo


português no estado do Muenemutapa que dá origem aos prazos.

Dentro do sistema prazéiro para além da classe dominante (senhores de terras), existia a
classe donde se destacam os escravos com dois grandes grupos com funções diferentes: A-
chicunda e escravos domésticos, em número de (4 a 5000 mil homens) adquiridos a partir de
trocas por panos e missangas, ou oferecidos a partir da ajuda militar aos chefes locais, ou ainda
em períodos de fome, os camponeses locais aceitavam tornar-se escravos para não morrer.

Outros se ofereciam como escravos quando fugiam doutras aldeias por terem praticado
crimes.

2.7.Ideologia

Os prazos aproveitaram das práticas mágicas - religiosa dos nativos para garantir a
reprodução das relações de produção. Usavam muavi para descobrir a culpabilidade de alguém
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acusado de feitiçaria. Na morte dum prazéiro, realizava-se uma cerimónia tipo camente local, (o
chiriro). Os prazéiros recorriam aos adivinhos para realizar qualquer negócio ou viagem que é
uma prática meramente africana. Em fim, adquiriram hábitos e tradições africanas, tornaram-se
chefes e escravizaram as populações dos seus territórios.

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CAPÍTULO III: CONSIDERAÇÕES FINAIS

3.1.Conclusão

Em Moçambique, as concessões enfitêuticas implicavam, para além do domínio da terra,


a jurisdição sobre as populações africanas, o que permitia aos senhores, geralmente detentores de
largos territórios, colectarem rendas e serviços e construírem um enorme poder. A emissão dos
títulos de aforamento, competindo a múltiplas autoridades, no início de Setecentos, transitou para
o tenente-general dos Rios. Tanto as mercês novas como a sucessão de vidas obrigavam, ainda, à
obtenção da confirmação régia junto do vice-rei. Essa exigência, imposta para os bens da Coroa,
funcionava como um meio de controlar os foreiros. Este conjunto normativo constituía um
instrumento de estruturação social. A concessão de terras associada à remuneração de serviços
colocava no topo da sociedade uma elite recrutada em todo o império, mormente em Portugal e
na Índia.A sua reprodução biológica foi assegurada pelo casamento com mulheres da região e de
Goa. Visava-se, também, a construção de um modelo de administração que conferia a essa elite o
governo dos africanos e a responsabilizava pela defesa das fronteiras, (Bernadino, 1978).

O termo prazo aparece pela primeira vez no século XVII, oriundo de Portugal ou da Índia.
Neste século XVII, ter-se-ia instituído Índia a prática de aforar ou conceder terras da coroa
portuguesa obtidas por conquistas na condição obrigatória do foréiro viver nelas e ter homens
preparados militarmente para a sua defesa.

Para a Índia chamou-se de prazo a concessão porque a terra era concedida mediante uma
renda anual e na durabilidade de duas ou três vidas (duas ou três gerações), findo o prazo a terra
voltava à coroa.

O processo de desagregação dos prazos, incubava-se outro fenómeno. Famílias luso-afro-


portu-islamizadas, reagrupando a-chicundas dispersos em troca de tecidos, bebidas espingardas,
teceram laços de parentesco com famílias de aristocratas locais e fundaram poderosos estados
mais extensos em todo vale do Zambeze até a foz; a destacar o estado militar de Massangano, (da
família cruz ); Gorongosa (de Manuel António de Sousa); Macanga (dos Caetanos); Massingir
(de Vaz dos Anjos); Maganja da Costa ( de João Bonifácio da Cilva). A oeste de Tete até Zâmbia
pertencia a José do Rosário Andrade, José dos Anjos Lobo, Firmino Luís Germano e outros.
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4.Referencias Bibliográficas

Barata, S.(2002):Introdução as Ciências Sociais. Vol 1. 10ª ed. viseu, Bertrand Editora.

Bernadini, B.(1978): Introdução aos Estudos Antropológicos. Lisboa, Edições 70.

Godinho, M. (1967): A História Social: Problemas, Fontes e Métodos. Lisboa, Edições

Martinez, L.(1989): O Povo Macua e a sua Cultura. Lisboa, IICT, cosmos.

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