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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

A Hierarquização das Sociedades e a Formação de Classes Sociais

Nome do estudante:
Código do estudante:

Curso: Administração Pública


Cadeira: História das Sociedades
Ano de Frequência: 1o Ano, I semestre.
Tutora:

Pemba, Abril de 2023

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 Capa 0.5
 Índice 0.5
Aspectos  Introdução 0.5
Estrutura organizacionai
s  Discussão 0.5
 Conclusão 0.5
 Bibliografia 0.5
 Contextualização
(Indicação clara 1.0
do problema)
 Descrição dos
1.0
Introdução objectivos
 Metodologia
adequada ao
2.0
objecto do
trabalho
 Articulação e
domínio do
discurso
académico
Conteúdo 2.0
(expressão
escrita cuidada,
coerência /
Análise e coesão textual)
discussão  Revisão
bibliográfica
nacional e
2.
internacionais
relevantes na
área de estudo
 Exploração dos
2.0
dados
 Contributos
Conclusão 2.0
teóricos práticos
 Paginação, tipo e
tamanho de letra,
Aspectos
Formatação parágrafo, 1.0
gerais
espaçamento
entre linhas
Normas APA  Rigor e
Referências
6ª edição em coerência das
Bibliográfic 4.0
citações e citações/referênc
as
bibliografia ias bibliográficas

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Folha para recomendações de melhoria: A ser preenchida pelo tutor

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Índice

Introdução .............................................................................................................................................. 1
1.1. Objectivos do trabalho .......................................................................................................... 2
1.1.1. Objectivo geral ...................................................................................................................... 2
1.1.2. Objectivos específicos .......................................................................................................... 2
1.2. Metodologia de Trabalho ..................................................................................................... 2
2. Conceito de hierarquização e classes sociais ..................................................................... 3
2.1. Conceito de hierarquização .................................................................................................. 3
2.2. Conceito de classe social ...................................................................................................... 4
3. O processo de hierarquização das sociedades no Egipto, Méroe, Axum e Suméria .... 6
3.1. A sociedade do Egipto .......................................................................................................... 6
3.1.2. Hierarquização e a formação das classes na sociedade egípcia ...................................... 7
3.2. A sociedade do Méroe .......................................................................................................... 7
3.2.1. Hierarquização, organização político-social e o processo de formação das classes .... 8
3.3. O Reino de Axum ................................................................................................................. 8
3.3.1. Localização geográfica de Axum ........................................................................................ 8
3.3.2. Principais Actividades Económicas do Reino de Axum.................................................. 8
3.3.3. O processo de formação das classes sociais na sociedade de Axum.............................. 9
3.4. O reino da Suméria ............................................................................................................... 9
3.4.1. Estratificação e o processo de formação das classes sociais na sociedade da
Suméria….. .......................................................................................................................................... 10
Conclusão ............................................................................................................................................ 12
Referências Bibliográficas ................................................................................................................ 13

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Introdução

Um dos recorrentes temas nas sociedades, desde as antigas, passando pelas feudais e as
despóticas, até às modernas sociedades industriais é o das desigualdades sociais, as quais
tendem hoje a subsumir-se sob o termo de “exclusão social”. Assim, o presente trabalho tem
como tema a Hierarquização das Sociedades e a Formação de Classes Sociais. Abordar-
se-á, de igual modo, sobre a hierarquização e classes sociais, o processo de hierarquização das
sociedades no Egipto, Méroe, Axum e Suméria, e por último, vai se abordar sobre o processo
de formação das classes sociais nas sociedades do Egipto, Méroe, Axum e Suméria.

Importa frisar que falar da hierarquização das sociedades é portanto um artifício


inconscientemente desenvolvido por intermédio do qual as sociedades asseguram que as
posições mais importantes sejam criteriosamente preenchidas pelos mais qualificados. Donde,
cada sociedade, independentemente de ser simples ou complexa, deve diferenciar as pessoas
em termos de prestígio e estima e deve, por isso, possuir um determinado volume de
desigualdade institucionalizada”.

Quanto ao processo de hierarquização das sociedades, vale destacar que as diferentes


sociedades em vários estados, como o caso de Egipto, do Méroe desenvolveram-se depois do
declínio do império novo no Egipto e tinha como principais actividades económicas a
agricultura, criação de gado, artesanato e o comércio.
Portanto, é nessa perspectiva que os aspectos acima apresentados pretendem ser discutidos, e
de igual modo, apresentam-se como proposta para a discussão neste trabalho de campo,
olhando sobretudo, a Hierarquização das Sociedades e a Formação de Classes Sociais, sem se
esquecer, sobretudo, o processo de hierarquização das sociedades e o processo de formação
das classes sociais nas sociedades do Egipto, Méroe, Axum e Suméria.
Quanto a sua organização, o presente trabalho obedece a seguinte estrutura: a presente
introdução, onde faz-se a contextualização do estudo, e apresentam-se os objectivos e as
metodologias usadas para a realização deste trabalho, o desenvolvimento, a conclusão e a sua
respectiva referência bibliográfica, onde apresenta-se a lista de todos os autores citados no
corpo do trabalho.

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1.1. Objectivos do trabalho

Para realização deste trabalho, traçaram-se os seguintes objectivos:


1.1.1. Objectivo geral
Analisar o processo de Hierarquização das Sociedades e a Formação de Classes Sociais das
sociedades no Egipto, Méroe, Axum e Suméria.
1.1.2. Objectivos específicos
Conceituar hierarquização e classes sociais;
Descrever o processo de hierarquização das sociedades no Egipto, Méroe, Axum e
Suméria;
Explicar o processo de formação das classes sociais nas sociedades acima citadas.

1.2.Metodologia de Trabalho

Para a concretização do estudo em causa, apoiou-se na pesquisa bibliográfica. Conforme


defendido por Gil (2008, p. 50), a pesquisa bibliográfica visa coleccionar material já
desenvolvida por diferentes autores, constituído principalmente de livros e artigos científicos,
com o propósito de colocar o pesquisador em contacto directo com o material, e acima de
tudo, analisando a veracidade do mesmo.
Portanto, neste trabalho, a pesquisa bibliográfica consistiu em manter um contacto directo
entre o estudante e as diversas literaturas existentes que abordam sobre o tema em causa, ou
seja, a Hierarquização das Sociedades e a Formação de Classes Sociais, de modo a contrastar
as diferentes informações e analisar a sua autenticidade.

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2. Conceito de hierarquização e classes sociais
2.1. Conceito de hierarquização
As Hierarquias Sociais constituem-se um dos temas fundadores das Ciências Sociais. De
Marx a Max Weber, dentre outros, essa problemática é fundamental.
Stavenhagen (1977, p. 134) afirma que “aceita-se universalmente que todas as sociedades
humanas estejam estratificadas ou hierarquizadas de uma ou de outra maneira. Isso significa
que os indivíduos ou grupos estão dispostos hierarquicamente numa escala”. Assim, o autor
elabora quatro problemas referentes ao estudo da estratificação:
a) O primeiro problema é se essas hierarquizações existem realmente na sociedade ou se
são apenas construções abstractas de investigação para serem usadas como
instrumento de classificação na pesquisa social. Stavenhagen busca respostas em
Davis e Moore (1977) que afirmam que as hierarquizações são universais e
representam a distribuição desigual de direitos e obrigações numa sociedade, a base
para diferentes estruturas sociais, constituídas pelo prestígio diferencial das diversas
posições na sociedade e das pessoas que as ocupam, sendo que a determinação dessa
base de prestígio depende do critério adoptado.
b) O segundo problema é o de determinar quais são os factores empregados para
estabelecer as hierarquias sociais. Davis e Moore (1977) constatam que existem dois
factores de uma hierarquia - a sua importância ou função para a sociedade e o
treinamento ou talento necessário para ocupá-la.
c) O terceiro problema relaciona-se a se são os indivíduos os hierarquizados segundo
certos atributos individuais ou se a estratificação implica a hierarquização de grupos
sociais bem definidos e delimitados. Davis e Moore (1977) respondem da seguinte
maneira: no caso de ser o indivíduo, o status do indivíduo é o resultado de uma série
de atributos individuais baseados nos factores de hierarquização, ou seja, a posição de
um indivíduo num sistema de estratificação é considerada como seu status social. Para
o caso de ser um grupo social bem definido (também chamado de estrato, camada ou
classe) é geralmente categoria estatística organizada em um conjunto de pessoas que
têm em comum um número determinado de características mensuráveis, ou seja, um
status comum.
d) O quarto problema – qual a relação existente entre a hierarquização e a estrutura da
sociedade principalmente em relação às mudanças sociais. A resposta é dada por
Weber (1977, pp. 61-63) ao relacionar o poder determinado economicamente e a

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ordem social que organiza a estrutura social. Cada uma dessas dimensões possui uma
estratificação própria: na dimensão económica, a estratificação é dada pelos
rendimentos, bens e serviços de que o indivíduo dispõe; na social, é de prestígio e
honra que o indivíduo desfruta, e na política é o poder que o indivíduo ostenta.
Por outro lado, Weber citado por Cruz (1989, p. 737) afirma que apesar das sociedades
modernas poder económico poder condicionar a posição social e a posição política, não pode
considerar o factor económico. Assim, na perspectiva desse autor, a hierarquização social
refere-se às posições que os indivíduos ocupam na sociedade. Pode-se dizer ainda que seu
conceito está atrelado às divisões de níveis existentes dentro da estrutura social, levando-se
em consideração diversos factores, tais como: género, raça e etnia.

2.2. Conceito de classe social

Relativamente ao conceito de classe social, vale destacar que o conceito de classe social não
manteve nas últimas décadas a mesma relevância que antes tivera na abordagem sociológica
da estrutura social e dos comportamentos colectivos.

De acordo com Benschop (1993, p. 65), o conceito de classe, entendido no senso comum
como grupo social definível e classificável pela ocupação ou profissão, idade ou sexo,
rendimento, prestígio ou poder nomeadamente político ou, numa conceptualização mais
abstracta, analisada em termos mais complexos e multidimensionais. Na linguagem corrente
são, porém, indiferentemente utilizadas noções, ora de estrato, ora de classe social,
pressupondo mesmo, num e noutro caso, uma referência categorial à esfera socioeconómica e
à distribuição desigual de recursos e recompensas.

Wright (1998, p. 272) afirma que etimologicamente, “classe”, enquanto grupo estamental,
deriva do termo latino classis, utilizado no século VI antes de Cristo, ao tempo de Sérvio
Túlio, para designar a classificação dos cidadãos na base da sua participação no serviço
militar ou a ordenação da população conforme a sua capacidade tributária em vista do
sustento do exército. O termo “classe”, tendo sido, durante a Idade Média, substituído pelos
de “ordem” e “estamento” (estate) – por exemplo, a nobreza, o clero, o povo –, só viria a ser
reutilizado no século XVII por Lineu, no âmbito das ciências naturais, para classificar as
espécies vegetais e animais, surgindo o termo com este sentido em 1751 na Enciclopédia de
Diderot e de D’Alembert.

Wright (2018, p. 62) ainda sustenta que o conceito de classes sociais está
umbilicalmente ligado à desigualdade e à exploração: seu cerne reside na presença
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de um mecanismo de expropriação da riqueza, ocasionando sua transferência
unilateral ou desigual de uns para outros. Essas relações engendram um quadro de
interdependência conflitiva e potencialmente explosiva, cuja resultante é a
coexistência de grupos antagónicos - as classes. O grau de homogeneidade e a
capacidade de acção das várias classes reais que venham a corresponder (em grau
variável) àquelas classes teóricas, dependem das circunstâncias históricas.

De acordo com Gaiger (2003, p. 66), a importância das classes sempre dependerá da
relevância que se atribuir às relações sociais de exploração: se há clivagens sociais instituídas
por e instituintes de relações de exploração, uma análise de classes bem construída torna-se
fundamental. Isto implica distinguir as linhas divisórias fundamentais, que cindem a
sociedade em grandes campos opostos, de outras linhas subordinadas às primeiras, que
fraccionam os grupos sociais ou acrescentam figuras adjacentes, típicas de uma nova
totalidade social ou remanescentes da sociedade anterior, uns e outros secundários do ponto
de vista teórico da contraposição central entre exploradores e explorados.

O conceito de classe social para Marx se forma a partir de três aspectos: o filosófico, o
econômico e o histórico, ou seja, uma abordagem estrutural-funcional e dinâmica. Para
Stavenhagen (1977,p. 150), essa abordagem implica em uma série de questões, expostas a
seguir:

a) Os estratos (camadas ou classes no sentido de uma estratificação) constituem


categorias descritivas e estáticas. Já as classes sociais constituem categorias analíticas,
ou seja, fazem parte da estrutura social com a qual mantêm relações específicas. Seu
estudo conduz ao conhecimento das forças motrizes da sociedade ao permitir passar da
descrição à explicação no estudo das sociedades.
b) A classe social é uma categoria histórica, isto é, as classes sociais estão ligadas à
evolução e ao desenvolvimento da sociedade, sendo encontradas no interior das
estruturas sociais construídas historicamente. Por isso é que faz pouco sentido os
sociólogos da escola da estratificação falarem de classes altas, médias e baixas em
todas as sociedades em todos os tempos. Ainda, as classes sociais não são imutáveis
no tempo, formam-se, desenvolvem-se e modificam-se à medida que a sociedade
também se transforma.
c) Desde que Weber distinguiu as dimensões económicas, política e social, certos autores
só reconhecem no conceito de classe uma base económica, sendo esta posição
geralmente atribuída ao marxismo. Vale lembrar que a concepção que Weber tinha
sobre a ordem económica não corresponde à de Marx.

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Para alguns autores “as semelhanças culturais, mentais, morais e de conduta dos membros de
uma classe social são devidas à base objectiva de suas posições profissionais, económicas e
legais semelhantes de seus membros” (Sorokin apud Stavenhagen 1977,p. 150).
Relativamente ao acima exposto, pode-se perceber que a hierarquização social refere-se às
posições que os indivíduos ocupam na sociedade. Assim, a hierarquização social seria,
portanto, funcional na medida em que os indivíduos que, por talento herdado ou por treino e
formação adquiridos, denotem maior competência para desempenharem funções superiores
deverão ser mais bem gratificados ou recompensados económica, social, política ou
culturalmente. Por outro lado, classe social refere-se à desigualdade resultante na coexistência
de grupos antagónicos na sociedade ou simplesmente, os lugares sociais de cada indivíduo e
de cada grupo, da sua posição em relação ao poder das elites, cujos vão alternando-se nas
várias formas de dominação sobre as ‘massas’. Na definição dos conceitos acima, vale a pena
destacar que todos os modos de análise de classes sociais podem potencialmente contribuir
para melhor compreensão dos processos micro e macrossociais envolvidos na produção das
desigualdades sociais. Portanto, Estas podem ser estudadas em termos atributivos ou em
termos relacionais, enfocando predominantemente a distribuição dos atributos ou os processos
estruturais de reprodução social.
3. O processo de hierarquização das sociedades no Egipto, Méroe, Axum e Suméria
3.1. A sociedade do Egipto
De acordo com Stavenhagen (1971, p. 51) afirma que a sociedade do Egipto possuía uma
forma de organização bem eficiente, embora injusta, garantindo seu funcionamento e
expansão. Esta sociedade era hierárquica, ou seja, cada segmento possuía funções e poderes
determinados, sendo que os grupos com menos poderes tinham que obedecer quem estava
acima. Ela era também patriarcal (os homens eram favorecidos em cargos, poder e posições
sociais).
O faraó era o governante do Egipto. Possuía poderes totais sobre a sociedade
egípcia, além de ser reconhecido como um deus. O poder dos faraós era transmitido
hereditariamente, portanto não havia nenhum processo de escolha ou votação para
colocá-lo no poder. O faraó e sua família eram muito ricos, pois ficavam com boa
parte dos impostos recolhidos entre o povo. A família real vivia luxuosamente em
grandes palácios. Ainda em vida, ordenava a construção da pirâmide que iria abrigar
seu corpo mumificado e seus tesouros após a morte, (Stavenhagen, 1971, p. 51).

Uma das características principais da sociedade egípcia era que a quase totalidade das
actividades económicas estavam sobre o controle estatal. Aqui, como também o fora na
Mesopotâmia, o complexo estatal era formado por um corpo burocrático e sacerdotal,
espalhado por uma rede de palácios e templos.
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3.1.2. Hierarquização e a formação das classes na sociedade egípcia

Stavenhagen (1971, p. 51) afirma que a sociedade do Egipto era estratificada, burocratizada e
estamental (dividida em grupos sociais hierarquizados pelos papéis que desempenhavam). As
pessoas de classe mais abastada moravam em habitações cercadas de jardins e bosques e sua
alimentação era farta e variada. As classes menos favorecidas viviam em moradias pequenas,
muitas vezes colectivas, de paredes de tijolos feitos de uma mistura de barro e de palha
recortada, cobertas de folhas de palmeira.

A população do estado de Egipto era dividida em classes sociais. A primeira era constituída
pelos membros da família real. Depois, os sacerdotes, os nobres, os escribas, os guerreiros,
os mercadores e os artesões. Os lavradores, operários e servos faziam parte da classe baixa
da população. As classes privilegiadas eram as classes dos nobres e dos sacerdotes. Os nobres
eram funcionários que administravam, em nome do faraó, os nomos, antigas divisões
territoriais do Egipto. O único governo vigente era a Monarquia teocrática, que é o sistema de
governo em que as acções políticas do líder (rei) são legitimadas pelos aspectos da vida
religiosa, (Giddens, 1975).

Vale destacar que os Faraós eram os reis do Egipto que acumulavam muitos poderes por
serem figuras sagradas, pois eles eram considerados deuses encarnados (vivos) entre os
egípcios. A maior parte das terras agricultáveis era controlada pelo governo central. Quando
cessavam as inundações e chegava a época da semeadura, funcionários ligados à estrutura do
Estado avaliavam a extensão das terras aráveis disponíveis para o ano em questão, e a
disponibilidade de mão-de-obra para cultivá-las. Era de acordo com essa avaliação que se
distribuíam as sementes necessárias e estipulava-se a quantidade de grãos que seriam pagos
como impostos aos celeiros do Estado. Dessa forma a maior parte da produção agrícola era
canalizada para a máquina estatal.

3.2. A sociedade do Méroe


De acordo com Giddens (1975, p. 11), a sociedade do Méroe O reino de Méroe desenvolveu-
se depois do declínio do império novo no Egipto e tinha como principais actividades
económicas a agricultura, criação de gado, artesanato e o comércio.
Grande parte da cultura meroita teve a marca da civilização egípcia, embora tenha algo de
original, como são os casos da criação do Deus local Leão Apedemak que, juntamente com
Amon, era o Deus principal em Méroe.

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3.2.1. Hierarquização, organização político-social e o processo de formação das classes

A sociedade meroita estava dividida em duas classes sociais: a dominante, composta pelo rei,
família real, clero e a nobreza. Estes grupos sociais desempenhavam importantes funções na
corte e exerciam também funções de governadores provinciais. A classe dominada formada
pelos artesãos, comerciantes, camponeses e escravos, tinha como obrigações pagar impostos e
prestar serviços a classe dominante, (Giddens, 1975, p. 13).
3.3. O Reino de Axum
3.3.1. Localização geográfica de Axum
De acordo com Caminos (1994, p. 76), o reino de Axum situava-se na área planáltica da
actual Etiópia, limitado pelo mar vermelho a leste, região sudanesa a ocidente e pelo reino de
Méroe a noroeste. O reino de Axum, que mais tarde se tornou império da Etiópia, começou a
crescer na sombra. As suas origens são pouco claras.

Desde o primeiro milénio a.C., tribos árabes do Íemen entravam no mar vermelho pelo
estreito de Bab-el-Mandeb e instalavam-se nas encostas das montanhas próximas. Um dos
seus clãs, os Habashats, deu nome de Abissínia a este reino. Estes árabes encontraram na
Etiópia, bem como em toda costa do corno de África, negróides de língua hamita, com os
quais se misturaram intimamente dando origem a grupos negros-semíticos tão originais que
são os etíopes e os somalis. Na fundação do reino de Axum, contribuiriam, entre outros
factores, o declínio do reino de Méroe e o controlo de rotas comerciais pelos axumitas.

3.3.2. Principais Actividades Económicas do Reino de Axum


O território de Axum, situado num grande e elevado planalto, era sulcado por vários rios, o
que tornava o solo favorável a prática agrícola. Para melhor aproveitamento das condições
naturais da região, construíram canais de irrigação, diques e tanques.
Produziam trigo, vinha e outros cereais. Nos trabalhos agrícolas, os
camponeses utilizavam arado puxado por bois. O povo de Axum dedicava-
se, também a criação de gado (bois, carneiros e cabras), domesticavam ainda
elefante (reservado ao uso da família real). O artesanato e o comércio foram
outras actividades económicas importantes. Graças a sua localização
geográfica, Axum passou a constituir um ponto de encontro de rotas
marítimas e de caravanas que ligavam o Egipto à Arábia, Caminos
(1994).
No séc. d.C., Axum já era um importante entreposto comercial. O tráfego marítimo no mar
vermelho intensificou, tornando Adulis no centro de cruzamento de várias rotas que ligavam o
mediterrâneo à Índia.

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Entre os produtos em circulação, destaque vai para as exportações de marfim, chifres de
rinoceronte, ouro, esmeraldas, perfumes, entre outros produtos. Importavam artigos de vidros,
tecidos jóias e produtos alimentares. Toda está intensa e dinâmica actividade comercial
apoiava-se no uso da moeda que ostentava a face dos reis. Foi a partir destas moedas que se
conheceram os nomes dos primeiros dezoito reis de Axum, entre eles Ezana e Caleb.
3.3.3. O processo de formação das classes sociais na sociedade de Axum

Caminos (1994) ainda acrescenta que a sociedade Axumitas estava estratificada em várias
camadas sociais, que se resumiam em duas: classe dominante e classe dominada. A classe
dominante era composta pelo rei dos reis ou imperador, sacerdotes e a nobreza (grande parte
parentes do rei). Eram os nobres que administravam os negócios públicos, cobravam
impostos, faziam cumprir as leis, chefiavam o exército, entre outras actividades.

A classe dominada era composta por artesãos, comerciantes, camponeses (grupo social
maioritário) e escravos. Constituem principais manifestações culturais, as inscrições em
blocos de pedra consagradas aos deuses, em especial a Mahren (deus da guerra e da
monarquia), inscrições reais em grandes monólitos que relatavam as vitórias alcançadas pelo
rei, as estrelas colossais que se supõe terem carácter religioso, os palácios reais, etc. Para além
da originalidade da arte, a cultura de Axum também teve influência de outros povos, tais
como de Méroe, Arábia, Índia e do Império Romano de Oriente.

Portanto, o reino de Axum, que se supõem ter sido fundado pelo Menelique no séc. a.C.,
conheceu grande desenvolvimento graças a sua localização geográfica que o tornou num
importante entreposto comercial.

3.4. O reino da Suméria


Caminos (1994, p. 52) afirma que a mais antiga das primeiras civilizações surgiu na
Suméria, na zona sul do vale da Mesopotâmia3, actual Iraque. Sumariamente, vejamos então
as condições geográficas desta região. A Mesopotâmia era uma extensa faixa de terra banhada
por dois rios: Eufrates e o Tigre. Delimitando-os a oeste temos o deserto arábico e a leste uma
cordilheira montanhosa: ao montes Zagros.
Os rios Eufrates (2850Km de extensão) e Tigre (1050Km) nascem nas montanhas do Taurus,
atravessam o planalto iraniano, percorrem as planícies mesopotâmicas e desaguam no Golfo
Pérsico.

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Da nascente das montanhas da Anatólia, o Eufrates vai descendo precipitadamente para o
vale, carregando na sua corrente neves derretidas e sedimentos orgânicos misturados com
calcário. Chegado à planície, as suas águas transbordam facilmente, inundando as margens
onde depositam os sedimentos (aluviões), irrigando e adubando as terras. Os aluviões deram à
Suméria uma paisagem natural muito característica. Abundavam os pântanos com canaviais
onde se multiplicava uma fauna variada: búfalos, patos, pelicanos, gansos, flamingos-rosados
e peixes.
Assim, desde o Neolítico, a fertilidade das margens do Eufrates e do Tigre, atraiu populações
que aí se fixaram em aldeamentos; dedicavam-se à agricultura, à pecuária, à pesca e ao
fabrico da cerâmica. A pouco e pouco, estes povoados foram crescendo e deram origem a
cidades. Por volta de 3500 a.C., os mais importantes centros urbanos da região eram: Uruk,
Ur e Kish.
Caminos (1994, pp. 53-54) ainda destaca que Grande parte da população Suméria vivia nos
campos, dedicando-se à agricultura e à pecuária. Na agricultura produziam, sobretudo cereais
(trigo e cevada); também cultivavam árvores de fruto e palmeiras tamareiras.
No domínio da pecuária, os sumérios produziam, sobretudo gado bovino, criado nos pântanos
que existiam nas margens do Eufrates e do Tigre.
Não obstante, os Sumérios possuíam também uma organizada e próspera actividade artesanal.
Nas cidades, os artesãos dedicavam-se à cestaria, à cerâmica, à tecelagem, à metalurgia do
bronze e ao trabalho da pedra e da madeira; a maioria deles trabalhava em oficinas
pertencentes aos templos ou ao palácio. Na Suméria praticava-se o comércio, tanto interno
como externo. Como o país era pobre em recursos naturais, tais como a pedra, a madeira e os
metais (cobre, estanho, prata, ouro e lápis-lazuli), os Sumérios tinham de os importar de
regiões distantes. Em troca, ofereciam os seus excedentes agrícolas (trigo e cevada) e
produtos artesanais.

3.4.1. Estratificação e o processo de formação das classes sociais na sociedade da


Suméria

Por volta de 3500 a.C., existiam na Suméria cerca de doze grandes cidades-estado – eram
cidades independentes, com governo próprio, e exerciam domínio sobre uma vasta região
rural circundante. Em termos físicos, as cidades eram cercadas por fortes e maciças muralhas;
no espaço urbano abundavam as habitações de adobe e as ruelas eram apertadas e sinuosas.
No centro situavam-se os edifícios públicos: o palácio real e os templos. Neles estavam

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concentradas as mais importantes funções da cidade: a administrativa, a religiosa e a
económica.
Nos primeiros tempos da civilização Suméria, as cidades parecem ter sido
governadas por assembleias de anciãos; com o decorrer dos tempos, estes órgãos de
poder perderam influência e foram substituídos por chefes individuais (monarcas),
com origem na aristocracia guerreira. A estes monarcas os Sumérios chamavam En,
Ensi ou Lugal. As suas funções mais importantes eram: administrar e defender a
cidade e aplicar a justiça. Para os ajudar no cumprimento destas terefas possuíam
uma autêntica corte de funcionários.
Por outro lado, os monarcas das cidades Sumérias eram também encarados como
representantes terrenos das divindades – tinham um poder sacralizado, (Caminos,
1994).

Daí que tivessem a seu cargo a direcção dos sacerdotes. Assim, para além das suas funções
administrativas, tinham igualmente funções religiosas: orientavam os principais rituais
religiosos e ordenavam a construção de templos. Junto ao monarca, no palácio, viviam os
mais poderosos aristocratas da cidade; estes, para além de possuírem propriedades agrícolas,
dirigiam o exército. As guerras constantes entre as cidades-estado Sumérias favoreceram o
crescimento de vastos exércitos, organizados e comandados por guerreiros profissionais.
No interior de cada templo vivia uma comunidade de sacerdotes, que se encarregava de
executar rituais e sacrifícios à divindade. Para além destas funções, os templos detinham e
administravam propriedades e bens – tanto rurais como urbanos. Junto aos santuários e na sua
dependência havia espaços reservados ao artesanato e ao comércio; ai trabalhavam imensos
artífices e comerciantes.
Portanto, duma forma resumida, pode-se perceber que a hierarquização das sociedades e a
formação de classes sociais é uma prática bastante antiga. Pois a sociedade no Nordeste da
África, no Médio e Extremo Oriente remo estava organizada em estratos sociais diferenciados
e hierarquizados. Os privilegiados, que detinham o poder e a riqueza, e os não privilegiados,
que produziam essa riqueza.

11
Conclusão

Da pesquisa bibliográfica desenvolvida em torno da problemática levantada foi possível


constatar que as classes sociais não existem de maneira isolada, mas como parte de um
sistema de classes, o que define e distingue as classes sociais são as relações específicas que
se estabelecem entre elas. Entretanto são essas posições diferenciais que permitem que uma
classe social se aproprie do trabalho de outra determinam que os interesses objetivos das
classes não sejam distintos, mas, sobretudo, contrários e opostos.

Relativamente ao processo de hierarquização das sociedades em estudo, vale destacar que a


sociedade do Egipto era estratificada, burocratizada e estamental dividida em grupos sociais
hierarquizados pelos papéis que desempenhavam. As pessoas de classe mais abastada
moravam em habitações cercadas de jardins e bosques e sua alimentação era farta e variada.
As classes menos favorecidas viviam em moradias pequenas, muitas vezes colectivas, de
paredes de tijolos feitos de uma mistura de barro e de palha recortada, cobertas de folhas de
palmeira. Quanto as restantes sociedades, relativamente a sua divisão, percebeu-se que todas
estavam divididas em duas classes sociais: a dominante, composta pelo rei, família real, clero
e a nobreza, e a classe dominada formada pelos artesãos, comerciantes, camponeses e
escravos, tinha como obrigações pagar impostos e prestar serviços a classe dominante.

Portanto, desta pesquisa de campo, fica evidente que a hierarquização das sociedades e a
formação de classes sociais é uma prática bastante antiga. Pois a sociedade no Nordeste da
África, no Médio e Extremo Oriente remo estava organizada em estratos sociais diferenciados
e hierarquizados. Os privilegiados, que detinham o poder e a riqueza, e os não privilegiados,
que produziam essa riqueza.

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