IMPOSTOS FEDERAIS IMPOSTO SOBRE OPERAÇÕES FINANCEIRAS Prof.ª. DSc. Sabrina Araújo Feitoza Fernandes Rocha IMPOSTO sobre OPERAÇÕES FINANCEIRAS: Competência
• O imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguros e
sobre operações relativas a títulos e valores mobiliários, também conhecido como IOF pertence à competência tributária da União Federal. (CF. art. 153, V e CTN, art. 63). • Tratando-se de imposto que se presta como instrumento de política de crédito, câmbio, seguros e transferências de valores, a competência para sua instituição há de ser realmente da União Federal, a quem compete privativamente legislar sobre tal matéria (art. 22, VII, CF). • Assim, cabe a legislação federal dispor sobre as questões envolvidas nestas matérias. IMPOSTO sobre Operações Financeiras: Função. • O imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguros ou relativas a títulos e valores mobiliários, ou, na forma resumida, como é mais conhecido, imposto sobre operações financeiras/IOF, tem função predominantemente extrafiscal. • Efetivamente, o IOF é muito mais um instrumento de manipulação da política de crédito, câmbio e seguro, assim como de títulos e valores mobiliários, do que um simples meio de obtenção de receitas, embora seja bastante significativa a sua função fiscal, porque enseja a arrecadação de somas consideráveis. IMPOSTO sobre Operações Financeiras: Fato Gerador • É importante ressaltar a insuficiência da denominação imposto sobre operações financeiras. • Na verdade o conceito de operação financeira é exageradamente vago, e por isso mesmo não compatibiliza com a regra constitucional definidora do âmbito desse imposto, que só poderá ter como fato gerador “operações de crédito, câmbio e seguros, ou relativas a títulos ou valores mobiliários” (CF, art. 153, V). IMPOSTO sobre Operações Financeiras: Fato Gerador • Segundo o CTN, podem constituir hipóteses de incidência desse imposto: A) a efetivação de uma operação de crédito, pelo entrega total ou parcial do montante ou do valor que constitua objeto da obrigação, ou sua colocação à disposição do interessado; B) a efetivação de uma operação de câmbio pela entrega da moeda nacional ou estrangeira, ou documento que a represente, ou sua colocação à disposição do interessado, em montante equivalente à moeda estrangeira ou nacional, ou posto à disposição por este; C) a efetivação de uma operação de seguro, pela emissão da apólice ou do documento equivalente , ou recebimento do prémio, na forma da lei aplicável; D) a emissão, transmissão, pagamento ou resgate de títulos e valores mobiliários, na forma da lei aplicável (CTN, art. 63). IMPOSTO sobre Operações Financeiras: Fato Gerador • Se uma operação de crédito está representada pela emissão, pagamento, ou resgate de um título, a incidência é uma só. • Não haverá uma incidência sobre a operação de crédito e outra sobre a emissão, pagamento ou resgate do título que a represente (CTN, art. 63, parágrafo único). • A lei 5.143/66, que instituiu o IOF, em seu art. 1º, estabeleceu que esse imposto “incide nas operações de crédito e seguro, realizadas por instituições financeiras e seguradoras, e tem como fato gerador: • I – no caso de operações de crédito, a entrega do respectivo valor ou sua colocação à disposição do interessado; • II – no caso de operações de seguro, o recebimento do prêmio. IMPOSTO sobre Operações Financeiras: Fato Gerador • Como se vê, a referida lei somente definiu como hipótese de incidência do imposto as operações de crédito e as de seguro. • Não se referiu às operações de câmbio nem às relativas a títulos e valores mobiliários. • O CTN, como se sabe, não institui tributo. Ele apenas estabelece regras a serem seguidas pelo legislador ordinário. E estabeleceu, no caso, uma área dentro da qual o legislador poderá definir as hipóteses de incidência do imposto. Essa área, como se viu, não foi inteiramente utilizada pela Lei 5.143/66. • O Decreto-lei 1.783, de 18.04.1980, entretanto, refere-se ao IOF como o imposto incidente nos termos do art. 63 do CTN, mencionando, inclusive para fixação das alíquotas, também as operações de câmbio e as operações relativas a títulos e valores mobiliários (art. 1º). • Resta a questão de saber se essa definição da alíquota pode ser entendida como instituição do tributo. IMPOSTO sobre Operações Financeiras: Fato Gerador • O imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguros, e sobre operações relativas a títulos e valores mobiliários, ou abreviadamente, como é mais conhecido, o imposto sobre operações financeiras/IOF, cuja administração e cobrança competem hoje à Secretaria da Receita Federal, está regulamentado pelo Decreto 6.306, de 14.12.2007, que consolida em texto único dispositivos de diversas leis e decretos-leis, além de acordos e convenções internacionais. • A vigente Constituição Federal definiu o âmbito do imposto em exame, que compreende as operações de crédito, câmbio e seguros, ou relativas a títulos ou valores mobiliários. Tendo em vista a supremacia constitucional, o legislador não pode definir como fato gerador desse imposto algo que esteja fora desse âmbito, sendo, por isso mesmo, de decisiva importância o exame dos conceitos utilizados em sua definição. IMPOSTO sobre Operações Financeiras: Fato Gerador • O conceito de operação, aqui, está ligado aos qualificativos de crédito, câmbio ou de seguro, ou ainda, relativa a títulos ou valores mobiliários. • Operação corresponde ao conjunto de meios convencionais ou usuais empregados para atingir um resultado comercial ou financeiro, com ou sem objetivo de lucro (Pedro Nunes). • Diz-se operação de crédito quando o operador se obriga a prestação futura, concernente ao objeto do negócio que se funda apenas na confiança que a solvabilidade do devedor inspira (Pedro Nunes). Ou, então, quando alguém efetua uma prestação presente contra promessa de uma prestação futura (Luiz Souza Gomes). Está sempre presente no conceito de operação de crédito a ideia de troca de bens presentes por bens futuros, daí por que se diz o crédito tem dois elementos essenciais, a saber: a confiança e o tempo (Luiz Emygdio Franco da Rosa Júnior). IMPOSTO sobre Operações Financeiras: Fato Gerador • Em face dessas ideias, evidenciado fica não ser o saque em caderneta de poupança, ou de um depósito bancário qualquer, uma operação de crédito, como pretendeu a Medida Provisória 168, de 15.03.90. • Ressalte-se que o Fisco Federal tem pretendido cobrar o IOF até sobre o levantamento de depósitos feitos para fins do art. 151, II do CTN – o que é um verdadeiro absurdo. O fato de depositar, para suspender a exigibilidade do crédito tributário, não poder ser considerado uma operação financeira, até porque o depósito pode, se vencido o contribuinte, ser convertido em renda. IMPOSTO sobre Operações Financeiras: Fato Gerador • Operação de câmbio é a troca de moedas. Não de uma moeda que se extingue e outro que se cria, ou restabelecer, mas de uma por oura moeda, ambas com existência e valor atuais. • Operação de seguro é o contrato pelo qual se garante algo contra o risco de eventual dano. É conceito bem definido no Direito brasileiro, e que não tem suscitado divergências no campo tributário. • Operação relativa a títulos e valores mobiliários é aquela que implica transferência de propriedade desses títulos. Por Títulos ou valores mobiliários se há de entender os papéis representativos de bens ou direitos. Podem representar direitos de propriedade de bens, como acontece com os títulos de participação societária, que corporificam parcelas do direito de propriedade sobre o patrimônio social, ou direitos de crédito, como acontece com papéis relativos a financiamentos. IMPOSTO sobre Operações Financeiras: Fato Gerador • A Lei 9.532, de 10.12.1997, definiu como hipótese de incidência do IOF a alienação de direitos creditórios resultantes de vendas a prazo a empresas de factoring, atribuindo a estas a responsabilidade pelo recolhimento do imposto (art. 58 e seu § 1º). • Como se trata de típica operação relativa a títulos e valores mobiliários, tem-se que o casuísmo legislativo pode ter o efeito de excluir o imposto nas operações não abrangidas pela referida hipótese de incidência. IMPOSTO sobre Operações Financeiras: Alíquota • Em face da CF de 1988, a alteração das alíquotas do IOF pode ocorrer por ato do Poder Executivo, configurando exceção tanto do princípio da anterioridade (art. 150, § 1º), como ao princípio da legalidade (art. 153, § 1º). • Isso significa dizer que: a) as alíquotas desse imposto podem ser alteradas mediante norma editada pelo Poder Executivo, atendidas as condições e os limites fixados em lei (exceção do P. da Legalidade) e b) Os aumentos porventura decorrentes da elevação de alíquotas por norma infralegal, assim como aquelas decorrentes de lei que estabeleça novas hipóteses de incidência, ou novas bases de cálculo, podem ser exigidos no mesmo exercício em que ocorrerem tais alterações (exceção ao P. da anterioridade). IMPOSTO sobre Operações Financeiras: Alíquota • Diz-se, por tudo isso, que o IOF é um imposto flexível. É importante, todavia, deixar claro que sempre há de constar de lei a alíquota-limite, que não pode ser ultrapassada por ato do Poder Executivo. • Os aumentos de alíquotas do IOF, dentro dos limites da lei, podem ser feitos por ato administrativo; mas este, para ser válido, deve ser devidamente fundamentado; vale dizer, no ato administrativo que aumenta a alíquota desse imposto deve ser indicada a finalidade desse aumento. • Os impostos fiscais, ou arrecadatórios, submetem-se plenamente às limitações ao poder de tributar. Já os impostos extrafiscais, ou regulatórios, constituem exceções no que diz respeito às referidas limitações, ou a algumas delas. Por isso mesmo foram encartadas na Constituição Federal regras que estabelecem expressamente exceções no que diz respeito a determinados princípios limitadores do poder de tributar. IMPOSTO sobre Operações Financeiras: Alíquota • É claro que a Constituição não atribui – nem seria razoável que o fizesse – ao chefe do Poder Executivo poder para alterar as alíquotas desse imposto sempre que entenda conveniente. Essa faculdade – que é, evidentemente, excepcional – há de ser exercida nas condições e nos limites estabelecidos em lei. • Sendo o aumento da alíquota do IOF feito mediante decreto, essa motivação deve ser colocada sob a forma de considerando. E deve indicar qual é o objetivo da política monetária ao qual o imposto está sendo, com ele, ajustado. IMPOSTO sobre Operações Financeiras: Alíquota • Não basta a indicação genérica, a dizer que o aumento de alíquotas está sendo feito para ajustar o imposto aos objetivos da política monetária, porque indicação assim, excessivamente genérica, não se presta como elemento de controle. • Na prática, todavia, o IOF tem sido aumentado mediante atos administrativos inteiramente desprovidos de motivação – o que demonstra mais uma vez que a Fazenda Pública não tem o menor apreço pelos direitos dos contribuintes. IMPOSTO sobre Operações Financeiras: Base de Cálculo • Segundo o art. 64 do CTN, a base de cálculo do imposto é: I – quanto às operações de crédito, o montante da obrigação, compreendendo o principal e os juros; II – quanto às operações de câmbio, o respectivo montante em moeda nacional, recebido, entregue ou posto à disposição; III – quanto às operações de seguro, o montante do prêmio; IV – quanto às operações relativas a títulos e valores mobiliários: a) Na emissão, o valor nominal, mais o ágio, se houver; b) Na transmissão, o preço ou o valor nominal, ou o valor da cotação em Bolsa, como determinar a lei; c) No pagamento ou resgate, o preço. IMPOSTO sobre Operações Financeiras: Base de Cálculo • Coerente com a definição de fato gerador, também na definição de base de cálculo, que é um dos aspectos deste, reportou-se o CTN às operações de câmbio e às relativas a títulos e valores mobiliários. • A legislação, todavia, define a base de cálculo do IOF adotando fórmulas complicadas, cuja compatibilidade com os dispositivos do CTN é no mínimo discutível. As instituições financeiras, no entanto – seja porque funcionam em regime de submissão ao Banco Central do Brasil, seja porque de algum modo são favoráveis com as fórmulas adotadas – jamais questionaram essa compatibilidade. • Ressalte-se que em face da vigente Constituição Federal o Poder Executivo já não pode alterar as bases de cálculo desse imposto, mas tão somente suas alíquotas. IMPOSTO sobre Operações Financeiras: Contribuinte
•Segundo o Código Tributário
Nacional, contribuinte do IOF pode ser qualquer parte nas operações tributáveis, ficando a critério do legislador ordinário essa indicação. (art. 66). IMPOSTO sobre Operações Financeiras: Lançamento
• O lançamento do IOF é feito por homologação.
Nos termos do art. 150 do CTN. • O responsável, vale dizer, a instituição financeira ou o segurador, efetua o recolhimento do valor respectivo independentemente de qualquer exame ou verificação por parte da Secretaria da Receita Federal, incumbida pelo Decreto-lei 2.471/1988 da administração do tributo em causa.