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Reconhecer crianças em risco –

Quando referenciar e como?


Cr istia n a Co sta | I n te r n a d e F o r m a ç ã o E s p e c íf ic a d e P e d ia tr ia d o H o s p ita l
D o n a E s te f â n ia , C H U L C

18 de maio de 2021
ORDEM DE TRABALHOS
 Contextualização da Intervenção Precoce na Infância (IPI)
 Porquê Intervir Precocemente?
 Em que é que consiste a IPI?
 Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância (SNIPI)
 Quando referenciar uma criança?
 Como referenciar?
 Take Home Messages

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INTERVENÇÃO PRECOCE NA INFÂNCIA (IPI)
A evidência científica estabelece uma base empírica sólida que demonstra a importância dos
primeiros anos, no estabelecimento da aprendizagem ao longo da vida.
 A interação entre a genética e as experiências precoces cria uma base para o desenvolvimento
e comportamento subsequentes.
O sucesso de estratégias de intervenção precoce deve-se em grande parte à plasticidade
neuronal.

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INTERVENÇÃO PRECOCE NA INFÂNCIA (IPI)
A IPI assume grande importância na prestação de apoio às famílias, nomeadamente na
identificação e coordenação de recursos na comunidade que deem resposta às necessidades da
criança, no alívio do stress, na melhoria do bem-estar e consequentemente dos padrões de
interação pais-filhos.

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PORQUÊ INTERVIR PRECOCEMENTE?
 Sabemos que o nosso desenvolvimento e comportamento não são fixos ou pré-determinados
ao nascer, e que são modificados por influências ambientais.
 A primeira infância é um momento notável de desenvolvimento cerebral, onde o
desenvolvimento e a aprendizagem decorrem com maior rapidez.
Os primeiros anos de vida da criança são um grande desafio para a família.
As relações parentais e familiares vão-se construindo e é importante que a criança desenvolva
sentimentos de segurança e de bem-estar, e experimente várias atividades de aprendizagem
ricas em estímulos.

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EM QUE É QUE CONSISTE A IPI?
 Não é uma “técnica” específica…
 É um processo que se inicia na identificação dos
problemas do desenvolvimento, passa por
reconhecer os casos a apoiar, pela avaliação da
criança, pela identificação de preocupações,
prioridades, recursos e dificuldades da família e pela
elaboração de um Plano Individualizado de
Intervenção Precoce (PIIP).

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EM QUE É QUE CONSISTE A IPI?
 As práticas de IPI têm evoluído de um modo muito positivo e significativo nas últimas
décadas.
 A IPI evoluiu para a prestação de serviços centrados na família, prestados por equipas
transdisciplinares numa base comunitária.
 O alvo dos serviços passou a incluir crianças de alto risco, biológico ou ambiental.
 O infantário, o centro de saúde, o domicílio ou qualquer outro local na comunidade podem
ser perfeitamente adequados desde que sejam contextos naturais para aquela criança.

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EM QUE É QUE CONSISTE A IPI?
 Cada criança apresenta necessidades únicas e vive numa família também única, com recursos
e prioridades diferentes de todas as outras.
 Uma das principais mudanças conceptuais da IPI nos últimos anos tem a ver com o crescente
reconhecimento da necessidade duma relação entre pais e profissionais, menos hierárquica
e mais colaborativa.

Profissionai
Criança Família
s de saúde

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SNIPI
 O Decreto-lei 281/09 de 6 de outubro criou formalmente o SNIPI.
 “O Sistema Nacional de Intervenção Precoce integra um conjunto
organizado de serviços da responsabilidade dos Ministérios da Saúde, do
Trabalho e da Segurança Social e da Educação dirigido a crianças entre
os 0 e os 6 anos e suas famílias e tem como missão garantir a
Intervenção Precoce na Infância.”

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SNIPI – OBJETIVOS
 Assegurar às crianças a proteção dos seus direitos e o desenvolvimento
das suas capacidades;
 Intervir em função das necessidades do contexto familiar de cada
criança, de modo a prevenir ou reduzir os riscos de atraso no
desenvolvimento;
 Apoiar as famílias no acesso a serviços e recursos dos sistemas da
segurança social, da saúde e da educação;
 Envolver a comunidade através da criação de mecanismos articulados
de suporte social.

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SNIPI – ORGANIZAÇÃO

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QUANDO REFERENCIAR? CRITÉRIOS DE
ELEGIBILIDADE
 Crianças dos 0 aos 6 anos com:
1 - «Alterações nas funções ou estruturas do corpo» que limitam o
normal desenvolvimento e a participação nas atividades típicas, tendo em
conta os referenciais de desenvolvimento próprios, para a respetiva idade
e contexto social;
2 - «Risco grave de atraso de desenvolvimento» pela existência de
condições biológicas, psicoafetivas ou ambientais, que implicam uma alta
probabilidade de atraso relevante no desenvolvimento da criança.
São elegíveis para acesso ao SNIPI, todas as crianças do 1º grupo e as
crianças do 2º, que acumulem 4 ou mais fatores de risco biológico e/ou
ambiental.

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QUANDO REFERENCIAR? CRITÉRIOS DE
ELEGIBILIDADE
1 – Crianças com alterações nas funções ou estruturas do corpo
1.1 Atraso de desenvolvimento sem etiologia conhecida
Abrangem uma ou mais áreas (motora, física, cognitiva, da linguagem e comunicação, emocional,
social e adaptativa), validado por avaliação fundamentada, feita por profissional competente para
o efeito.
1.2 Condições específicas
- Cromossomopatias (Tri21, Tri18, S. X-frágil)
- Patologia neurológica (paralisia cerebral, neurofibromatose)
- Doenças congénitas (síndromes polimalformativos)
- Doenças metabólicas (mucopolissacaridoses, glicogenoses)
- Défices sensoriais (surdez, baixa visão/cegueira)

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QUANDO REFERENCIAR? CRITÉRIOS DE
ELEGIBILIDADE
- Doenças relacionadas com exposição pré-natal a agentes teratogénicos ou a narcóticos, cocaína
e outras drogas (p. ex. síndrome fetal alcoólico)
- Doenças relacionadas com infeções severas congénitas (p. ex. HIV, grupo TORCH, meningite)
- Doença crónica grave (p. ex. tumores do SNC, D. renal, D. hematológica)
- Perturbações da relação e comunicação (p. ex. perturbações do espectro do autismo)
- Perturbações graves da vinculação e outras emocionais

2 – Crianças com risco grave de atraso do desenvolvimento


2.1 Crianças expostas a fatores de risco biológico
Inclui crianças que estão em risco de vir a manifestar limitações na atividade e participação por
condições biológicas que interfiram claramente com a prestação de cuidados básicos, com a saúde
e o desenvolvimento.

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QUANDO REFERENCIAR? CRITÉRIOS DE
ELEGIBILIDADE
 História familiar de anomalias genéticas, associadas a  Complicações neonatais graves (sépsis, meningite,
perturbações do desenvolvimento; alterações metabólicas ou hidroeletrolíticas,
convulsões)
 Exposição in utero a tóxicos (álcool, drogas de abuso);
 Hemorragia intraventricular;
 Complicações pré-natais severas (Hipertensão,
infeções, hemorragias, etc.);  Infeções congénitas (Grupo TORCH);

 Prematuridade <33 semanas de gestação;  Criança HIV positiva

 Baixo peso à nascença ( < 1,5Kg);  Infeções graves do SNC (meningite bacteriana,
meningoencefalite)
 Atraso de Crescimento Intra-uterino (ACIU): Peso de
nascimento <percentil 10 para o tempo de gestação;  Traumatismos cranianos graves

 Asfixia perinatal grave (Apgar ao 5º minuto <4 ou pH  Otite média crónica com risco de défice auditivo
do sangue do cordão <7,2 ou manifestações
neurológicas ou orgânicas sistémicas neonatais).

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QUANDO REFERENCIAR? CRITÉRIOS DE
ELEGIBILIDADE
2.2 Crianças expostas a fatores de risco ambiental
Consideram-se condições de risco ambiental a existência de fatores parentais ou contextuais, que
atuam como obstáculo à atividade e à participação da criança, limitando as suas oportunidades de
desenvolvimento e impossibilitando ou dificultando o seu bem-estar.
2.2.1 São entendidos como fatores de risco parentais, entre outros:
- Mães adolescentes < 18 anos;
- Abuso de álcool ou outras substâncias aditivas;
- Maus-tratos ativos (maus-tratos físicos, emocionais e abuso sexual) e passivos (negligência nos
cuidados básicos a prestar à criança (saúde, alimentação, higiene e educação);
- Doença do foro psiquiátrico;
- Doença física incapacitante ou limitativa.

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QUANDO REFERENCIAR? CRITÉRIOS DE
ELEGIBILIDADE
2.2.2 Consideram-se fatores contextuais, entre outros:
- Isolamento (ao nível geográfico e dificuldade no acesso a recursos formais e informais;
discriminação sociocultural e étnica, racial ou sexual; discriminação religiosa; conflitualidade na
relação com a criança) e/ou pobreza (recurso a bancos alimentares e/ou centros de apoio social;
desempregados; famílias beneficiárias de RSI ou de apoios da ação social);
- Desorganização familiar (conflitualidade familiar frequente; negligência da habitação a nível da
organização do espaço e da higiene);
- Preocupações acentuadas, expressas por um dos pais, pessoa que presta cuidados à criança ou
profissional de saúde, relativamente ao desenvolvimento da criança, ao estilo parental ou
interação mãe/pai-criança.

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COMO REFERENCIAR?
 Após o reconhecimento da criança em risco devemos referenciar
para a Equipa Local de Intervenção (ELI) da área de residência
da criança e, se justificar a orientação para a consulta de
referência.
 Recorde-se que são dois processos independentes e sendo
geralmente o tempo de espera para primeira consulta de
neurodesenvolvimento elevado, não se justifica o atraso no
acompanhamento da criança e família pela equipa local!

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COMO REFERENCIAR?
Email das ELIs disponíveis em:
https://snipi.gov.pt/rede-servicos/eli#no-back

Para além da ficha de referenciação, podem


elaborar um resumo clínico para melhor
esclarecimento da situação.

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TAKE HOME MESSAGES
 A IPI é um conjunto de medidas de apoio da área social, da educação e da saúde, para crianças
entre os 0 e os 6 anos e suas famílias.
 Os objetivos principais são: melhorar as oportunidades de aprendizagem da criança e fortalecer
as competências parentais.
 A IPI deve dar resposta às crianças com problemas no seu desenvolvimento físico, cognitivo, da
comunicação e linguagem, social, emocional ou que, por exposição a situações de risco, tenham
alta probabilidade de os vir a ter.
 Com a publicação do Decreto – Lei 281/09, intervir precocemente nos problemas de
desenvolvimento deixou de ser apenas um imperativo moral e ético e passou a ser uma imposição
legal.

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TAKE HOME MESSAGES
 É uma prática que continua a evoluir e a refletir a vontade e determinação de investir muito
precocemente em crianças com problemas de neurodesenvolvimento e suas famílias.
 Cabe aos profissionais de saúde em geral e aos médicos em particular, um importante papel
nesta área, reconhecer as crianças em risco e referenciá-las com a maior celeridade possível.
 Na dúvida, devem sempre referenciar !

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BIBLIOGRAFIA
 OLIVEIRA, Guiomar (coord.); SARAIVA, Jorge (coord.) - Lições de Pediatria Vol. I e II.
Coimbra: [s.n.]. 714 p. ISBN 978-989-26-1300-0 (PDF). DOI: 10.14195/978-989-26-1300-0

 Site do Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância: https://snipi.gov.pt/

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Reconhecer crianças em risco –
Quando referenciar e como?
Cristiana Costa | Interna de Formação Específica de Pediatria do Hospital Dona
Estefânia, CHULC
C R I S T I A N A 2 1 9 4 @G M A I L . C O M

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