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PACIENTE SAUDÁVEL E

RASTREAMENTO DE
DOENÇAS
Interno: Cleber Oliveira
• Caso clínico:

• O Sr. João, 59 anos, ouviu no rádio a propaganda do “Novembro


Azul”. Embora não estivesse sentindo nada, decidiu ir ao
laboratório fazer o exame de sangue, pois não precisaria nem
pagar por ele. Uma semana depois recebe o resultado – PSA total:
4,5.
Quais as possíveis causas para o resultado deste
exame?
1. Quais as possíveis causas para o resultado deste exame?

• Ejaculação
• Atividades como: andar de moto, bicicleta, cavalgar
• Infecção urinária
• Prostatite (que pode ser assintomática)
• ABP
• Câncer de Próstata
AUMENTO BENIGNINO PROSTÁTICO
• Retenção urinaria crônica  indolor
• Sintomas obstrutivos  Iniciar tto empírico da retenção urinária
• Quantificar os sintomas  escore IPSS (> 8 = tto)
• Alfabloquadores (doxazosina, tansulosina)  1º escolha
• Inibidores de 5-a-redutase  se próstata de volume aumentado
• Até 6 meses para resposta
• Reduzem em até 40%
• Oxibutinina  se refratários ao tto com os dois anteriores
AUMENTO BENIGNINO PROSTÁTICO
• Retenção aguda
• Bexigoma, dor abdominal, aumento abrupto de creatinina, IRA pós-renal

• Emergência

• Cateterização

• Alfabloqueador por 3 dias antes de retirar a sonda


PROSTATITE AGUDA
• Início súbito e intenso, podendo haver septicemia

• Inicia com febre, mialgias, calafrios

• Dor é principal queixa  retal, perineal, suprapúbica, lombar

• Diagnostico clínico
• Coletar urocultura antes de ATB
• Não realizar Teste de Stamey-Meares em 4 frascos  massagem é
contraindicada
PROSTATITE AGUDA
• Bactérias são as mesmas da ITU
• E. coli, Proteus, Providencia, Enterococos

• Tto  Bactrim, quinolona ou tetraciclina

• Não responsivo ao tto  abcesso?


• USG ou TC
• Conduta cirúrgica
PROSTATITE CRÔNICA BACTERIANA
• ITU de repetição, disuria persistente, dor a ejaculação

• Dor irradiada para pênis/testículos

• Infecção pode ser assintomática entre os quadros de ITU

• Urocultura é classicamente negativa

• Tto com clindamicina, trimetoprima, fluoroquinilonas


• Adc alfabloqueador melhora os sintomas
PROSTATITE CRÔNICA NÃO
BACTERIANA/SD DA DOR PERLVICA
CRÔNICA
• Lombalgia, dor a ejaculação, perineal, parte interna das coxas, pênis, testículos

• Regra  não há ITU de repetição

• Associada a fibromialgia e transtornos de humor

• Cultura em duas amostras urina é negativo


• Pré e pós massagem de próstata

• Fazer doxiciclina ou eritromincina por 14 dias


• Alfabloqueadores para sintomas
• Alpurinol, massagem prostática periódica
• Gabapentina, tricíclicos
CA PRÓSTATA
• Pode haver sintomas obstrutivos
• Dor óssea é a primeira manifestação  metástase
• Pelve e coluna
• STUI não indicam rastreio
• Maioria absoluta é por ABP
• STUI mesma prevalência da população geral
• PSA ou toque retal alterados  USG ou RM
• Diagnóstico  biópsia guiada por USGTR
Qual o Plano indicado para o Sr. João?
1. Qual o Plano indicado para o Sr. João?

Plano

• Solicitar PSA livre e PSA total


• Solicitar USG de próstata
PACIENTE ASSINTOMÁTICO
• Repetir dosagem de PSA
• PSA total e livre
• USG preferencialmente TR
• Biópsia guiada por USGTR se:
• Nódulo suspeito a USG
• PSA > 4
• PSA livre < 25% do total

• Biópsia positiva  urologia

• Biopsia normal
• PSA > 10  repetir
• 4-10  acompanhar
O que é rastreamento? É o principal papel
do médico da APS?
Rastreamento
• Aplicação de testes em pessoas assintomáticas com objetivo de
selecionar indivíduos para intervenções cujo beneficio temporal seja
maior que o dano potencial.

• Pretende-se reduzir a morbimortalidade da condição


Rastreamento
• Não é prioridade na organização dos cuidados do MFC
• Alta complexidade
• Dificuldade de avaliação
• Vieses envolvidos
• Rigor ético inerente a intervenção potencialmente danosa em possas sadias
Quais as principais indicações de
rastreamento de doenças do Ministério
da Saúde / INCA no Brasil?
Fonte: Cadernos de Atenção Primária n. 29, 2010.
RASTREAMENTOS CLÍNICOS
• DM 2
• Adultos com PA >135x80 (BRASIL, 2010)
• Pessoas > 45 anos sem fatores de risco (SBD, 2018)
• Sem fator de risco: cada 3 anos. Com fator de risco: Anual (SBD, 2018)

• Gestação
• Anemia
• Incompatibilidade sanguínea
• Bacteriúria
• Toxoplasmose
• Sorologias
• DMG/DHEG

• ISTs
• HIV (OWENS, 2019)
• Sífilis (MANGIONE, 2022)
• Hep B (KRIST, 2020)
RASTREAMENTOS CLÍNICOS
• ANEURISMA DE AORTA ABDOMINAL
• Homens 65 a 75 anos que já fumaram: Ultrassonografia de abdome total,
anualmente

• Homens que nunca fumaram  de forma seletiva considerando os demais


fatores de risco

• Para mulheres com idade de 65 a 75 anos  não apresenta benefício

SBACV, 2015
RASTREAMENTOS CLÍNICOS
• ANEURISMA DE AORTA ABDOMINAL

• Homens de 65 a 75 anos que já fumaram


• Triagem única com ultrassonografia
• Homens 65 a 75 anos que nunca fumaram  individualizar
• Não recomenda em mulheres

OWENS, 2019
RASTREAMENTOS CLÍNICOS
• OSTEOPOROSE
• Mulheres com idade igual ou superior a 65 anos
• Pós menopausa se risco aumentado de fratura

• Intervalos de triagem com base na idade, na DMO basal e no tempo projetado


calculado para a transição para a osteoporose.

• Possibilidade de nenhum benefício na previsão de fraturas pela repetição de


testes de medição óssea 4 a 8 anos após a triagem inicial.

JIN, 2018.
ONCOLÓGICOS
• CA COLO DE ÚTERO
• 25 aos 64 anos
• CCO
• Após 2 anos negativos, repetir a cada 3 anos

Resultados:
• Amostra insatisfatória  repetir em 6-12 sem
• ASC-US  normal
• LSIL (baixo grau)  repetir em 6 meses
• HSIL (alto grau)  colposcopia
ONCOLÓGICOS

• CA MAMA

• 50 aos 69 anos
• Mamografia
• A cada 2 anos
ONCOLÓGICOS
• CA COLORRETAL
• 50 e 75 anos
• Recomenda-se com SOF, colonoscopia ou signoidoscopia,
• Principal estratégia é o SOF
• Anual quanto o bienal  mesma taxa de mortalidade

• No BR, rastreamento não é viável e nem custo-efetiva

Brasil, 2010.
ONCOLÓGICOS
• CA COLORRETAL

• Médio risco
• Anual ou bianual com SOF
• Colonoscopia para confirmar SOF positivo
• Alto risco
• De acordo com as categorias de risco, seguindo protocolos clínicos, com
periodicidade e grupo etário diferenciados
INCA, 2021.
ONCOLÓGICOS
• CA COLORRETAL
• 45 e 75 anos
• A escolha do método é individualizada
• Exame de sangue oculto nas fezes de guaiaco de alta sensibilidade (HSgFOBT) ou
teste imunoquímico fecal (FIT) todos os anos
• Fezes DNA-FIT a cada 1 a 3 anos
• Colonografia por tomografia computadorizada a cada 5 anos
• Sigmoidoscopia flexível a cada 5 anos
• Sigmoidoscopia flexível a cada 10 anos + FIT anual
• Triagem por colonoscopia a cada 10 anos
• Adultos com 76 e 85 anos  individualizada
DAVIDSON, 2021.
E quais não são preconizados?
Justifique as razões.
RASTREAMENTOS NÃO
PRECONIZADOS
• Princípios éticos

• Pessoas saudáveis  certeza de mais benefícios do que malefícios


• Assintomático  maleficio do rastreio e não ter a condição

• Sintomáticos  um grau de dano é razoável pelo potencial benefício do


rastreio
• Segurança na relação custo-benefício  MBE
• Ensaios clinico randomizados  padrão-ouro

• Se contradições  princípio da não maleficência prevalece  não rastrear


CA DE PRÓSTATA
• Não há consenso sobre corte ideal e clinicamente significativo de PSA
• Valores de 3 a 10 ng/ml

• Corte em 4,0 ng/ml


• Sensibilidade de 35% a 71%
• Especificidade de 63% a 91%

• Valor preditivo positivo de 28%


• 72% dos pacientes com dosagem do PSA alterada são submetidos a biópsias
desnecessárias
CA DE PRÓSTATA
• 55 a 69 anos  individualizada após discussão dos potenciais
benefícios e danos do rastreio

• Não recomendada em homens com 70 anos ou mais

GROSSMAN, 2018.
CA DE PELE
• Não há benefícios no rastreamento da população geral (U.S.
PREVENTIVE SERVICES TASK FORCE et al., 2016).

• Não há recomendação no rastreamento do melanoma por não haver


evidências sólidas na redução da mortalidade (CANADIAN TASK
FORCE ON PREVENTIVE HEALTH CARE, 2008).
CA DE PELE
• Ineficácia do rastreamento de melanomas:
• Agressividade  incapacidade de detecção em uma fase curável
• Alguns melanomas detectados são indolentes
• Baixa incidência

• Detecção precoce do câncer de pele


• população e os profissionais de saúde estejam alertas para lesões de pele
com características anormais e de que seja realizada a confirmação
diagnóstica.
CÂNCERES DE LÁBIOS E CAVIDADE
ORAL
• Não há evidências científicas
• Sem comprovação de impacto nas taxas de mortalidade.
PULMÃO
• Com TC  50 e 80 anos + 20 maços ou mais / ano e que atualmente
fumam ou pararam de fumar nos últimos 15 anos (U.S. PREVENTIVE
SERVICES TASK FORCE, 2021).

• Não há uma recomendação do INCA sobre essa modalidade de


rastreamento no BR.

• No Brasil, pode aumentar a probabilidade de resultados falsos-


positivos (SANTOS et al., 2016).
• alta prevalência de TB, gerando imagens radiológicas que criam dificuldades
no diagnóstico diferencial
AAS NA PREVENÇÃO PRIMÁRIA
• 40 a 59 anos  individualizado
• o benefício é pequeno.

• Não recomenda se 60 anos ou mais.

USPSTF, 2022.
Quais critérios devem ser utilizados ao
se pensar em um programa de
rastreamento?
Quais critérios devem ser utilizados ao se pensar em um
programa de rastreamento?
Qual o impacto dos falso-positivos em
um programa de rastreamento? Discuta
sobre sensibilidade e especificidade.
ESPECIFICIDADE E SENSIBILIDADE
• São características de testes diagnósticos

• Não são alteradas pela prevalência da doença


SENSIBILIDADE
• Capacidade do teste em detectar os verdadeiros-positivos entre os
doentes
• Probabilidade do individuo doente ter o teste positivo
• A sensibilidade olha para a população doente
• GJ tem sensibilidade de 90,7%
• Em 1000 diabéticos, 907 terão o exame alterado

• Muito sensível  alta proporção de verdadeiro-positivos e baixa de


falso-negativos
ESPECIFICIDADE
• Capacidade de detectar os verdadeiro-negativos em entre os não
doentes
• Probabilidade de um indivíduo não doente ter o teste negativo
• Especificidade olha para a população não doente
• GJ tem especificidade de 83,5%
• 1000 não diabéticos  835 terão exame normal e 165 terão exame alterado

• Muito especifico  alta proporção de verdadeiro-negativos e baixa de


falso-positivos
IMPACTO DOS FALSO-POSITIVOS
• Aumento de falso-positivos
• Apesar de sensível, o teste é pouco específico

• Pacientes não doentes são submetidos a cascatas de exames e


investigações não necessárias.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Rastreamento /
Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília : Ministério da
Saúde, 2010. 95 p. : il. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Cadernos de Atenção Primária, n. 29)
CANADIAN TASK FORCE ON PREVENTIVE HEALTH CARE. Guidelines. Appraised guidelines. Melanoma 2008:
critical appraisal report. [S.l.]: CTEPHC, 2008. Disponível em:
https://canadiantaskforce.ca/guidelines/appraised-guidelines/melanoma/. Acesso em: 24 dez. 2020
DAVIDSON, Karina W. et al. Aspirin use to prevent cardiovascular disease: US Preventive Services
Task Force recommendation statement. Jama, v. 327, n. 16, p. 1577-1584, 2022.
DAVIDSON, Karina W. et al. Screening for colorectal cancer: US Preventive Services Task Force
recommendation statement. Jama, v. 325, n. 19, p. 1965-1977, 2021.
GROSSMAN, David C. et al. Screening for prostate cancer: US Preventive Services Task Force
recommendation statement. Jama, v. 319, n. 18, p. 1901-1913, 2018.
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA. Detecção precoce do câncer / Instituto
Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. – Rio de Janeiro : INCA, 2021.
JIN, Jill. Screening for osteoporosis to prevent fractures. JAMA, v. 319, n. 24, p. 2566-2566, 2018.
REFERÊNCIAS
KRIST, Alex H. et al. Screening for hepatitis B virus infection in adolescents and adults: US Preventive Services
Task Force recommendation statement. Jama, v. 324, n. 23, p. 2415-2422, 2020.
SANTOS, R. S. dos et al. Do current lung cancer screening guidelines apply for populations with high prevalence of
granulomatous disease? results from the first brazilian lung cancer screening trial (BRELT1). The Annals of Thoracic
Surgery, [Amsterdam], v. 101, n. 2, p. 481-488, Feb 2016. DOI 10.1016/j.athoracsur.2015.07.013.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR. Aneurismas da aorta abdominal diagnóstico e
tratamento, 2015. Disponível em: https://sbacv.org.br/storage/2018/02/aneurismas-da-aorta-abdominal.pdf. Acesso em
04/10/2023.
U.S. PREVENTIVE SERVICES TASK FORCE et al. Screening for colorectal cancer: US Preventive Services Task Force
Recommendation Statement. JAMA, [Chicago], v. 315, n. 23, p. 2564-2575, June 2016. DOI 10.1001/jama.2016.5989.
MANGIONE, Carol M. et al. Screening for Syphilis Infection in Nonpregnant Adolescents and Adults: US
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2022.
OWENS, Douglas K. et al. Screening for abdominal aortic aneurysm: US Preventive Services Task Force
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OWENS, Douglas K. et al. Screening for HIV infection: US preventive services task force recommendation
statement. Jama, v. 321, n. 23, p. 2326-2336, 2019.

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