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Direito das Pessoas

e das
Situações Jurídicas
Princípios básicos de Direito Civil

• Princípio do Personalismo
• dignidade do ser humano
• carácter pré-jurídico da personalidade humana
• reconhecimento dos direitos de personalidade
• Princípio da autonomia
Liberdade de autovinculação (405º)

celebração

estipulação

direito subjectivo
• Princípio da responsabilidade
responsabilidade
civil

objectiva subjectiva

pré-contratual

pelo risco
contratual

por factos lícitos extracontratual


• Princípio da protecção da aparência
“o que parece é”

1º) boa fé

em sentido ≠ em sentido
subjectivo objectivo

2º) investimento na aparência


• Princípio da paridade

igualdade formal

autonomia da vontade
• Princípio da equivalência

Nos contratos onerosos, deve existir


equilíbrio de prestações

mas só o manifesto desequilíbrio é


sindicável (282º)
Pessoas Singulares
• Personalidade jurídica
qualidade para ser titular de direitos e deveres

Início:
“nascimento completo e com vida”?

- direitos sem sujeito?


- personalidade retroactiva?
- condição suspensiva?
- personalidade do nascituro?

Termo:
a) morte cerebral
b) morte presumida (68º/nº3)
c) morte presumida (114º)
• Capacidade jurídica (26º/nº1 e nº4, Constituição)

• De gozo: quantidade de direitos e deveres de que se pode ser titular (em abstracto)
• nas pessoas singulares é genérica (67º)

• De exercício: quantidade de direitos e deveres que se podem exercer pessoal e


livremente (em abstracto)
• nas pessoas singulares é igualmente genérica
• Legitimidade:
• aptidão jurídica para actuar no caso concreto por causa da ligação
existente entre o titular exercente e o interesse que se exerce (v.g.
892º)

• Titularidade:
• designação que se dá à ligação que existe entre o direito
subjectivo e a pessoa a quem este pertence

• Capacidade natural:
• aptidão congénita para actuar no caso concreto
• só é relevante nos casos “previstos na lei ” (v.g. 125º/nº1/b))
• normalmente para alargar o âmbito da capacidade de exercício
• Esfera jurídica:
• quantidade de direitos e deveres de que se é efectivamente titular
num certo momento, abrangendo

• Hemisfério pessoal: composto pelos direitos e deveres insusceptíveis


de avaliação pecuniária
• Hemisfério patrimonial: composto pelos direitos e deveres
susceptíveis de avaliação pecuniária

Os direitos formam o património líquido, o qual


constitui a “garantia geral dos credores” (601º)
Menoridade
• O menor (quem tiver menos de 18 anos ou não tiver sido emancipado
pelo casamento) carece de capacidade genérica de exercício (123º)

• É representado (124º) pelo:


• Poder paternal
• Tutela
• Administração de bens
• Pelo que a prática de actos pelo próprio menor, fora das hipóteses
do 127º, torna-os anuláveis (125º):
• Pelos representantes, até à maioridade ou emancipação
• Pelo próprio ex-menor, após a maioridade ou emancipação
• Pelos seus herdeiros, se o menor falecer dentro do prazo que
dispunha para anular

• Tais actos podem, porém, ser confirmados (125º/nº2 e 288º) pelos


respectivos representantes
• O regime da menoridade mantém-se mesmo depois da:
• Maioridade, na hipótese do 131º
• Emancipação, na hipótese do 1649º
Acompanhamento de maiores
• Fundamentos:
• Problema de saúde que torne a pessoa especialmente débil do ponto de vista
psíquico (estados avançados de demência, Parkinson, Alzheimer ou doenças
afins).
• Deficiência psíquica ou, mais precisamente, anomalia psíquica que, em
qualquer caso, volva o indivíduo inapto para governar a sua pessoa e os seus
bens (artigo 138.º, n.º 1, antiga redação).
• Comportamento errático ou anómalo (devido v.g. a prodigalidade ou a abuso
de bebidas alcoólicas ou de estupefacientes).

• Não basta que as referidas imperfeições, insuficiências ou fraquezas (físicas ou psíquicas)


atinjam certa pessoa. É sobretudo necessário que delas resulte uma elevada
incapacidade para gerir a sua própria pessoa e património.
• Fundamental, em todos os casos, é que por alguma das razões
expostas (ou mais que uma, em simultâneo) a pessoa se encontre
impossibilitada de “exercer, plena, pessoal e conscientemente, os
seus direitos ou de, nos mesmos termos, cumprir os seus deveres”.

• A plenitude supõe a inexistência de restrições ou limitações factuais.
• A pessoalidade exige que a pessoa seja competente para agir sem
necessidade de intermediação de um substituto (representante), sendo
incapaz, portanto, sempre que não puder agir por si própria.
• A consciência pressupõe a presença de normal compreensão acerca do
significado e alcance dos efeitos (jurídicos) da atuação.
• Quando o recurso ao instituto do acompanhamento acarrete a
atribuição de poderes representativos gerais ao acompanhante, o
maior acompanhado equipara-se ao menor. O que significa, nos casos
mais radicais, que a pessoa acompanhada passa a sofrer de uma
incapacidade genérica de exercício equivalente à daquele.

• Mas, ao contrário da menoridade que opera automaticamente os


seus efeitos a partir de uma determinação legal (a vertida v.g. no
artigo 122.º), a incapacidade do acompanhado somente existe
juridicamente a partir do instante em que haja sido ordenada por
decisão judicial.
• Ante a necessidade de indigitação de um acompanhante, ao tribunal
cabe adotar a medida de acompanhamento mais drástica instalando
um representante (legal). Pode fazê-lo com fundamento:

• (i) na titularidade das responsabilidades parentais [145.º, alínea a)], nos


termos dos artigos 1878.º, n.º 1, e 1881.º, se, designadamente, o
acompanhante selecionado for algum dos progenitores;
• (ii) na sujeição do substituto ao regime da tutela [145.º, n.º 2, alínea b), e n.º
4];
• (iii) na nomeação, nos termos dos artigos 1967.º a 1972.º, de um
administrador relativamente a parte ou à totalidade dos bens do
acompanhado [145.º, n.º 2, alínea c), e n.º 5].
• Nas situações (i) e (ii), o acompanhante exercerá tanto os direitos e deveres de natureza
patrimonial na titularidade do acompanhado como os de caráter pessoal.

• Na segunda hipótese, no entanto, será necessariamente assim apenas quando a


representação tenha âmbito geral. Ao invés, quando ela seja especial (limited
guardianship), tudo dependerá, por “indicação expressa” do tribunal, “das categorias de
atos para que seja necessária” [145.º, n.º 2, alínea b)].

• Em qualquer caso, porém, não ficam sujeitos ao descrito regime de representação legal,
podendo ser praticados pessoalmente:
• (i) os atos patrimoniais integráveis na categoria dos chamados negócios da “vida corrente” e
• (ii) os “actos pessoalíssimos” (147.º)

Em vez de nomear um substituto, o tribunal pode proceder à nomeação de um curador


que, a título de assistente legal, se limite a conferir autorização para as atuações que o
acompanhado esteja autorizado a realizar pessoalmente ou a dar-lhe auxílio para qualquer
outro efeito [145.º, n.º 2, alínea d)].
• São anuláveis:

• Nos termos do artigo 125.º, n.º 1, alínea a), os atos do acompanhado para os
quais ele não disponha da pertinente capacidade de exercício quando hajam
sido realizados depois de inscrita no registo civil [artigos 1.º, n.º 1, alínea h), e
69.º, n.º 1, alínea g), Código de Registo Civil] a decisão de promover a
instituição de acompanhante.
• Também nos termos do artigo 125.º, n.º 1, alínea a), os atos do potencial
acompanhado praticados antes do referido registo se encontrar lavrado, mas
“depois de anunciado o início do processo”, desde que (i) os seus efeitos o
hajam prejudicado e (ii) a decisão que decrete o regime de acompanhamento
seja final.
• Nos termos do “regime da incapacidade acidental” (artigo 257.º), os atos do
eventual acompanhado praticados antes daquele anúncio.
Mandato com vista a acompanhamento

• Para esquivar o recurso à representação ou à assistência, permite-se ao


potencial acompanhado celebrar contrato de mandato com alguém da sua
confiança que, até porventura ser proferida decisão judicial em idêntico
sentido, o auxilie juridicamente. As particularidades que apresenta são:

• Se, por qualquer razão, alguma das pessoas identificadas pelo artigo 141.º entender
dever requerer a instituição judicial do acompanhante, ao tribunal cabe aproveitar
“o mandato, no todo ou em parte”, e tê-lo “em conta na definição do âmbito da
proteção e na designação do acompanhante”.

• Esclarece-se, mediante o respetivo reconhecimento legal, que o contrato de


mandato não só se pode celebrar sob condição suspensiva, como, sobretudo, que a
futura e “eventual necessidade de acompanhamento” de que o mandatário venha a
carecer é razão suficiente para o efeito.
Testamento vital:
Acto através do qual o respectivo autor declara por
antecipação quais os cuidados de saúde que pretende (ou não)
receber caso, eventualmente, se torne inapto para expressar,
nesse sentido, a sua vontade de modo pessoal e autónomo

• Trata-se de acto:
1. Inter vivos (os seus efeitos produzem-se em vida do seu
autor)
2. Pessoalíssimo (não admite representação)
3. Unipessoal (apenas pode envolver uma pessoa)
4. Unilateral (tem uma única parte)
• O teor do testamento vital não é, por inteiro,
livremente conformável pelo declarante. Mediante a
respectiva celebração, ele apenas pode preordenar
acerca da sua:
• i) Não submissão a tratamento de suporte artificial das funções
vitais (v.g. pacemakers, desfibriladores, máquinas de diálise ou
ventiladores) = morte natural ou ortotanásia.
• ii) Não sujeição a tratamento fútil, inútil ou desproporcionado no
seu quadro clínico …, nomeadamente no que concerne às medidas
de suporte básico de vida e às medidas de alimentação e
hidratação artificiais que apenas visem retardar o processo natural
de morte (proibição de distanásia que incide sobre os médicos por
dever deontológico).
• iii) Disponibilidade para receber os cuidados paliativos adequados
(ortotanásia).
• iv) Não aceitação de tratamentos que se encontrem em fase
experimental.
• v) Permissão, ou falta dela, para participar em programas de
investigação científica ou ensaios clínicos.

• As hipóteses que ficam descritas constituem casos paradigmáticos.


Por isso, outras situações que futuramente se possam identificar
devem manter, para serem lícitas, forte analogia com elas (assim v.g.
a rejeição prévia de transfusão sanguínea para quando esta se tornar
eventualmente indispensável não se pode considerar afim).
Direitos de Personalidade
• Direitos sobre bens ligados à própria pessoa (v.g. 24º,
25º, 26º, 27º, CRP; 79º, 80ºCC)
• Absolutos
• Pessoais
• Indisponíveis (v.g. 67º)
• Atípicos

• Distinguem-se formalmente dos


• Direitos Humanos (para o Direito Internacional)
• Direitos, Liberdades e Garantias Pessoais (Direito Constitucional)
• Para o Direito Constitucional o que está em causa,
nesta matéria, é a limitação da soberania do Estado
para protecção dos direitos dos cidadãos: 18º, CRP

• Em Direito Privado, dado o princípio da paridade,


qualquer limitação sobre direitos de personalidade a
favor de terceiros somente se pode fundar no
consentimento do titular atingido
• O consentimento pode ser:

• Tolerante (340º): quando apenas está em causa a


justificação da ilicitude de uma conduta
• Autorizante (81º): quando, por contrato, se concede a
terceiro o direito de lesar a esfera jurídica do lesado
• Vinculante (405º): quando os usos sociais aceitam que
certos riscos para bens primordiais são, apesar disso,
aceitáveis e, portanto, obrigam quem a eles se sujeitou
livre e esclarecidamente
• Protecção dos direitos de personalidade:
• Responsabilidade civil (483º)
• Responsabilidade penal
• Remédios adequados ao caso concreto (70º/nº2; 878º/879º, CPC)
• Direito à liberdade pessoal

Regra: art. 27º/n.º 1

Excepções

Sentença judicial
privativa desde que a lei
puna com prisão ou medida
de segurança

Casos do 27º/n.º 3

contra a detenção ou
prisão ilegal: habeas
corpus (31º)
• A liberdade pessoal fundamenta:

A liberdade de movimentos, logo, liberdade de


deslocação, fixação, emigração e imigração (44º)

Proibição de expulsão
(33º)

Somente os estrangeiros (Lei 23/2007) podem ser expulsos mas desde que:
a) Não tenham título de permanência válido
b) Tendo-o, tenha existido decisão judicial nesse sentido

Os portugueses podem ser extraditados desde que:


a) Se verifiquem condições de reciprocidade
b) Em casos de terrorismo e criminalidade internacional organizada
c) Com garantia de processo justo e equitativo
d) Em que haja garantia de não aplicar pena de prisão perpétua
e) Que não tenha fundamento político
f) A que não corresponda pena de morte ou lesão irreversível da integridade física
g) Que seja autorizada por decisão judicial
• Direito à identidade pessoal

História pessoal

Nome
(direito-dever)

Nome pessoal

Nome profissional

Pseudónimo

Firma (por analogia)


• Direito ao bom nome e reputação
• É ilícito “afirmar ou difundir um facto capaz de prejudicar o crédito
ou o bom nome de qualquer pessoa, singular ou colectiva” (484º
CC).

• 1º: A solução é evidente sempre que em causa estejam factos ou


qualidades inexistentes ou inverídicas

• 2º: afirmação ou a divulgação de factos verídicos há-de fazer-se no


respeito por duas condições decorrentes da fórmula contida no nº2
do art. 80º do Cód.Civil:
- primeira, que a violação do “bom nome e da
reputação” alheia se funde em alguma causa justificativa (por
exemplo, o interesse público);
- segunda, que o meio ou o instrumento utilizado
para o efeito não envolva uma ofensa excessiva ao referido “bom
nome e reputação” (v.g., no conhecido exemplo, justifica-se que uma
dívida fiscal de um membro do Governo seja anunciada nos meios de
comunicação social, mas já não o mesmo género de dívida de um
qualquer particular ainda que se trate de pessoa com notoriedade
pública)
• Direito à imagem (79º CC)
• Regra: a imagem só pode ser obtida/divulgada:
• 1º: mediante o consentimento do visado
• 2º: para o efeito consentido

• Excepção: não se requer o consentimento tratando-se:


• de “figura pública” (por si ou pelo cargo que represente)
• de exigências de polícia ou de justiça
• de finalidades científicas, didácticas ou culturais
• de “factos públicos” (lugares públicos, factos de interesse público ou
que tenham sucedido publicamente)

• Contra-excepção: requer-se o consentimento se a divulgação


ofender a honra, reputação ou decoro
• Direito à palavra

Direito à voz

Direito às “palavras ditas”

• Regime: o mesmo do direito à imagem


• Direito à intimidade privada (80º CC)
• Regra: a intimidade alheia só pode ser acedida e/ou divulgada:
• 1º: mediante o consentimento do visado
• 2º: para o efeito consentido

• Esta regra pode entender-se em termos:


• absolutos – de modo em que existe um conteúdo mínimo
intangível
• relativos – de modo em que existe um conteúdo mínimo
variável consoante o caso concreto: parece ter sido esta a
orientação geral do CC pois “a extensão da reserva é definida
conforme a natureza do caso e a condição das pessoas”
(80º/nº2);
• todavia, há um conjunto de informações pessoais quase
inatingível – 35º/3 CRP
• Self-ownership e integridade física

• A) sobre o próprio corpo: o respectivo domínio é objecto de um direito de


personalidade (o caso não pode ser visto como propriedade simples porque o
conteúdo típico desta – 1305º – não é genericamente extensível à self-
ownership)

• B) sobre partes do corpo que dele hajam sido separadas: o direito que sobre
elas incide é de propriedade, ainda que porventura sujeito a diversas
especialidades de regime

• Do domínio sobre o corpo decorre o direito de exigir o respeito pela integridade física e
psíquica
• Decorre igualmente o dever de respeito pela vida contida no corpo
• Personalidade post mortem (artigo 71º)?

• Continuação da personalidade?
• Sucessão em direitos pessoais?
• Direito à memória
Curadoria
Ausência provisória

Curadoria
definitiva

Morte
presumida
Pessoas
colectivas

Fundação (de
interesse social)

Corporação

Associação

Sociedade
Aquisição de personalidade:

escritura pública

Associação
com as indicações
do 167º/nº1
em alternativa,
“associação na
hora”
escritura pública ou
testamento

Fundação

acto individual de
reconhecimento
• Sociedades

- anónimas
- por quotas
- em nome colectivo
- em comandita
Comerciais
(objecto Pessoas
comercial) Colectivas

sob forma comercial

Civis
(objecto não
comercial)

sob forma civil


Capacidade de gozo (160º/nº1):

- a entender que o 160º/nº1 consagra o


princípio da especialidade, serão nulos os actos
praticados pela pessoa colectiva fora dos seus fins

- se, para protecção de terceiros, se entender


que a capacidade de gozo das pessoas colectivas é
genérica, tais actos serão válidos e vinculativos
(podendo, no máximo, gerar eventual
responsabilização interna daqueles que os
praticaram)
Capacidade de exercício:

As pessoas colectivas são sempre capazes de


agir (salvo no caso de insolvência, mas apenas
entendendo-se esta como incapacidade)

Essa capacidade efectiva-se


através dos respectivos órgãos externos – nisto
consiste a chamada representação orgânica (o órgão
é a pessoa colectiva)
Desconsideração do ente colectivo
• A personalidade colectiva é um instrumento

Por isso pode ser mal usado, designadamente defraudando terceiros

É para estes casos que se diz que se pode desconsiderar (“disregard”) a


personalidade colectiva
TIPOS
i) desvio de finalidade
• utilização dolosa da pessoa jurídica
• com o propósito de lesar credores
• para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza.

ii) confusão patrimonial (ausência de efectiva separação factual entre


os patrimónios) :
• I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio
ou do administrador ou vice-versa;
• II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas
contraprestações, exceto o de valor proporcionalmente
insignificante
• Há essencialmente dois modos de proceder à
desconsideração:
• Fraude à lei
• Abuso do direito

• Efeitos:
• Manutenção da personalidade mas tornando-a irrelevante para o
caso concreto
• Responsabilidade civil
• Organização e funcionamento
• Órgãos:
• Direcção Colegiais,
com n.º ímpar
• Conselho Fiscal
de titulares
(mas o CF pode,
pelos estatutos,
ter titular único)

• E, nas corporações, Assembleia Geral

• Os titulares dos órgãos são designados pela forma estabelecida nos


estatutos – nas corporações, na falta de estatuto, cabe à assembleia
geral fazer a designação (170º)

• Os estatutos são o conjunto de normas que regulam a


organização e o funcionamento da pessoa colectiva
• Nas associações, os estatutos podem ser modificados por
deliberação da assembleia (170º/nº2) embora com maioria
qualificada (175º/nº3); nas fundações, os estatutos podem ser
modificados pela entidade competente para o reconhecimento
desde que “se não contrarie a vontade do fundador” (189º)

• Nas corporações, a assembleia geral tem uma competência


necessária (172º/n.º2) e uma competência residual (172º/n.º1)

• Em princípio, a qualidade de associado é pessoal (180º), pelo que:


• é intransmissível
• não admite representação voluntária
Associações sem personalidade

• Associações “vulgares” em tudo o que não pressuponha


personalidade
• Regime específico de responsabilidade social
• 1º: fundo comum
• 2º: património daqueles que tiverem contraído a dívida
• 3º: património dos (demais) associados

• Fundo comum: conjunto de bens em compropriedade mas com regime especial pois
nenhum associado tem o poder potestativo de fazer a respectiva divisão
Comissões especiais

• Associações de fim transitório


• Responsabilidade por dívidas sociais:
• 1º: os bens entregues pelos subscritores
• 2º: os membros da comissão

• Os subscritores só podem exigir o valor que tiverem subscrito quando se não cumpra,
por qualquer motivo, o fim para que a comissão foi constituída
Direito subjectivo
Situações
jurídicas

activas passivas

direito relativo
obrigação
direito
subjectivo
direito absoluto dever genérico
direito
potestativo sujeição

direito- ónus
-dever

expectativa
• Direito subjectivo:
• Para a teoria da vontade, o direito subjectivo é a vontade
juridicamente protegida
• Para a teoria do interesse, o direito subjectivo é um interesse
juridicamente protegido
• Para as teorias mistas, o direito subjectivo é, por exemplo, a
vontade juridicamente protegida através da tutela do
correspondente interesse

• O problema subjacente está nisto: na origem, o direito subjectivo


coincidia com os “direitos dos cidadãos” e, portanto, tinha um
âmbito muito circunscrito; hoje, é um instrumento técnico de
extraordinária abrangência e, portanto, de grande abstracção
• Direitos absolutos: são aqueles que valem por si, não
dependendo de nenhuma situação passiva simétrica
que os sustente (por isso não pressupõem relação
jurídica) – v.g. direitos reais, de autor, de
personalidade, de propriedade industrial
• Direitos relativos: ao contrário, são aqueles cuja
existência depende de relação jurídica inter-subjectiva
(v.g., direitos de crédito)
• Direito potestativo: é o direito de provocar, por
declaração unilateral de vontade, efeitos jurídicos na
esfera jurídica de outra pessoa (v.g. 1550º)

• Podem ser:
• De exercício necessariamente judicial
• Ou de exercício extrajudicial

• Podem ter efeitos:


• Constitutivos
• Modificativos
• Extintivos
• Direito-dever: é o direito subjectivo ou potestativo
concedido para a protecção de um interesse distinto
daquele que radica no titular destes direitos (v.g.,
poder paternal ou tutela)
• Expectativa jurídica: é uma situação jurídica que
surge integrada num processo de aquisição de um
(outro) direito e que (v.g., arts. 272º e 273º):
• É protegida por si, quer desemboque quer não na aquisição desse
direito
• Subsiste enquanto a possibilidade de aquisição desse direito se
mantiver
Situações passivas
• Obrigação: é o recíproco dos direitos relativos (art. 397º)
• Dever genérico: é o neminem laedere – dever de não lesar a esfera
jurídica alheia; é a correspondência passiva dos direitos absolutos
• Sujeição: dever de suportar os efeitos jurídicos decorrentes do
exercício de um direito potestativo
• Ónus jurídico: “dever” no interesse próprio, ou seja, possibilidade de
optar entre duas condutas (pelo menos), igualmente lícitas, mas em
que a adopção de uma delas evita desvantagens ou traz vantagens
(916º/917º)
Limites ao exercício
• A) Colisão de direitos (335º)
• Entre direitos de igual espécie
• Entre direitos de espécie diferente
• B) Abuso de direito (334º)
• Venire contra factum proprium
• Surrectio
• Inalegabilidades formais
• Consequências:
• impossibilidade de exercício do direito no sentido pretendido
• responsabilidade civil se o abuso for subjectivo
AQUISIÇÃO

ORIGINÁRIA

TRANSLATIVA
DERIVADA

CONSTITUTIVA

ABSOLUTA

PERDA
RELATIVA
prestações

Bens

Corpóreas/incorpóreas

coisas

Dentro e fora do
comércio
Prédios rústicos/
urbanos árvores e
águas

imóveis
imóveis por partes
incorporação componentes

partes ≠ coisas
“direitos integrantes acessórias
inerentes”

registáveis

móveis
não
registáveis
presentes

coisas
objectivamente

futuras

subjectivamente
simples

coisas

compostas = universalidades de facto

≠ universalidades de direito
necessárias

benfeitorias úteis

voluptuárias
Representação
• Representação: substituição de uma pessoa (representada) por outra
(representante) no exercício jurídico

• Espécies:
• Legal: sempre que a lei imponha a existência do representante
• Voluntária: quando decorra da vontade do representado através do negócio jurídico
procuração
• Efeitos: o acto jurídico realizado pelo representante em
nome do representado produz os seus efeitos na esfera
jurídica deste último

• Considera-se, porém, anulável o acto celebrado pelo


representante consigo mesmo, seja em nome próprio, seja
em representação de terceiro, a não ser:
• 1 - que o representado tenha especificadamente consentido na
celebração, ou
• 2 - que o negócio exclua por sua natureza a possibilidade de um
conflito de interesses
• Constituição da relação de representação voluntária:
• Forma: a do negócio para o qual se concederam poderes
representativos (excepto “as procurações que exijam intervenção
notarial podem ser lavradas por instrumento publico, por documento
escrito e assinado pelo representado com reconhecimento presencial da
letra e assinatura ou por documento autenticado” – 116º/nº1, Cod.Not. )
• Capacidade de agir: basta a capacidade natural
• O procurador só pode fazer-se substituir por outrem:
• se o representado o permitir ou
• se a faculdade de substituição resultar do conteúdo da procuração ou
da relação jurídica que a determina
• Extinção da relação de representação voluntária:
• Renúncia do procurador
• Cessação da relação jurídica que lhe serve de base
• Caducidade
• Revogação
• Sem necessidade de justa causa, por regra
• Com justa causa ou por acordo se
• a procuração tiver sido conferida também no interesse do
procurador
• a procuração tiver sido conferida também no interesse de
terceiro
• Abuso de representação: sempre que o procurador actue
fora do âmbito das instruções recebidas ou contra a
vontade conjectural do representado

• Representação sem poderes ou aparente: sempre que o


“procurador” nem sequer tenha poderes representativos

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