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PÓLIPOS FIBROVASCULARES DO
ESÔFAGO
O pólipo fibrovascular do esôfago
(PFVE) é um tumor benigno raro que aco-
mete mais freqüentemente o sexo mascu-
lino (71,5%) e o faz antes da quinta década
de vida em 75% dos casos.17 A raridade
dessa lesão está documentada em séries
de autópsias de mais de 15.000 e 13.000
exames, quando foram encontradas ape-
nas 26 e 7 lesões, respectivamente.5 A
maioria desses pólipos (80%) localiza-se no
A B terço superior do esôfago e estes são tipi-
camente grandes, maiores que 7 cm, po-
Papiloma de células escamosas do esôfago: aspecto endoscópico. Observa-se no esôfago uma dendo atingir até 20 cm.7 Histologicamen-
pequena lesão elevada, séssil, de coloração brancacenta e superfície verrucosa, aspecto
endoscópico clássico de papiloma de células escamosas (A). Outra apresentação endoscópica desta
te o PFVE consiste de uma mistura hetero-
lesão é a forma pediculada, um pouco maior e mais facilmente observada à tração com pinça de gênea de tecido fibrovascular, mixóide, cé-
biópsias (B). lulas adiposas e estroma com vasculariza-
ção variável, que emerge da mucosa ou
submucosa, sendo recoberta por epitélio
epitélio escamoso estratificado, dando nor manipulação possível, normalmente escamoso.17,26,46 Esta variedade de tecidos
aspecto verrucoso ou digitiforme na su- usando uma pinça de biópsias e, ocasio- levou ao uso de termos como fibroma, fi-
perfície.68,69 O PEE deve ser distinguido nalmente, alça de polipectomia, com con- bromixoma, fibrolipoma e por fim pólipo
do carcinoma verrucoso, que também é firmação do diagnóstico pela histologia. fibrovascular.22 Não há relato de degenera-
uma lesão papilar bem diferenciada, mas Na presença de papilomatose, a associa- ção maligna da lesão, mas pode ocorrer as-
que apresenta displasia epitelial e invasão ção com o HPV é confirmada pelos efeitos sociação com carcinoma.17,26
carcinomatosa superficial. Se houver dú- citopáticos (alterações celulares de etiolo- Em relação à sintomatologia do
vida baseada no aspecto endoscópico e gia viral) e pela detecção do vírus no teci- PFVE, a disfagia ocorre em cerca de 70% e
na histologia dos fragmentos de biópsias do (imunofluorescência). Uma vez confir- a dor retroesternal em aproximadamente
colhidos por endoscopia, a ressecção en- mado o diagnóstico de PEE, ele é removi- 25% dos casos.48 Outros sintomas incluem
doscópica deverá ser realizada.44 do e não se justifica sugerir acompanha- regurgitação intermitente de resíduos ali-
A presença de papilomatose de esô- mento endoscópico em razão da nature- mentares, perda de peso, soluço, tosse,
fago (múltiplos papilomas) ocorre rara- za benigna desta condição e pela raridade estridor inspiratório e até dispnéia.83 A re-
mente e, quando presente no esôfago de associação com lesões malignas.20,62 gurgitação do pólipo após tosse ou vômi-
proximal, tem sido associada à infecção
pelo papilomavírus humano (HPV) e de-
nominado papiloma viral.69 Embora a pre- Papilomatose de esôfago
sença de papilomas na laringe e no trato
genital feminino esteja relacionada à in-
fecção pelo HPV e seja considerada condi-
ção pré-maligna, a associação de papilo-
matose, HPV e carcinoma do esôfago não
está bem estabelecida.85,86 Alguns auto-
res85,86 relatam casos isolados de carcino-
ma associado ou complicando pacientes
com PEE ou papilomatose, enquanto ou-
tros55,56 negam esta possível natureza
pré-maligna, considerando que o PEE não
predispõe ao câncer do esôfago e não
está associado ao HPV.55,56 O aspecto en-
doscópico das lesões é mais grosseiro que
o papiloma isolado, com lesões múltiplas
ora esparsadas ora aglomeradas com ta-
manho variado, coloração brancacenta e Papilomatose de esôfago: aspecto endoscópico. Observam-se difusamente no esôfago várias
superfície verrucosa (Fig. 28-2). lesões elevadas, sem pedículos definidos, com superfícies verrucosas e coloração brancacenta. As
lesões foram removidas completamente com alça de polipectomia, em duas sessões. O
Quando presente ao exame endoscó- anatomopatológico confirmou a impressão endoscópica de papilomas de células escamosas de
pico, o PEE deve ser removido com a me- esôfago (papilomatose).
Capítulo 28 TUMORES BENIGNOS DO ESÔFAGO 215
A suspeita diagnóstica do CE ocorre uma técnica segura para o diagnóstico des- em decorrência da doença do RGE. Alguns
em pacientes com alterações ao exame ra- sas lesões, existindo um pequeno risco de pacientes podem apresentar, no colo da
diológico de rotina e/ou à endoscopia di- infecção nas lesões císticas, o que é minimi- hérnia gástrica hiatal, uma prega gástrica
gestiva alta. Normalmente, a primeira hipó- zado pelo uso de antibióticos.32,88,89 No en- espessada, usualmente pelo lado da curva-
tese é de um tumor benigno do esôfago. O tanto, os achados da USE de pacientes com tura maior, e que termina na junção esca-
esofagograma mostra uma falha de enchi- cistos de esôfago têm sido menos unifor- mocolunar. Na margem cefálica dessa pre-
mento regular, lisa, com mucosa normal, e mes que o esperado, não sendo possível ga pode ser notada uma estrutura polipói-
a endoscopia digestiva confirma a natureza ainda determinar com exatidão a acurácia de, arredondada, às vezes com uma pe-
benigna da lesão, exclui ulcerações, mas as do método.88 quena erosão (Fig. 28-6). Embora o aspec-
biópsias não alcançam a lesão.4 Esses estu- Os cistos do esôfago têm sido tradi- to endoscópico deste pólipo inflamatório
dos não permitem a diferenciação entre cionalmente tratados por ressecção cirúr- seja característico, recomenda-se realizar
cisto e tumor benigno intramural. Exames gica, mesmo em pacientes assintomáticos, biópsias para diferenciá-lo de adenoma,
de ultra-sonografia transesofágica, tomo- para prevenir ou tratar complicações e es- que pode ocorrer como manifestação ma-
grafia computadorizada e ressonância nu- tabelecer o diagnóstico.70,89 Entretanto, croscópica de displasia em pacientes com
clear magnética oferecem mais dados so- com a experiência atual da USE, não se jus- esôfago de Barrett. A histologia mostra
bre a morfologia da lesão, mas na maioria tifica a indicação de cirurgia unicamente epitélio colunar com inflamação aguda ou
das vezes não firma o diagnóstico.32 O para firmar o diagnóstico.53,89 Cistos pe- crônica. Com o tratamento anti-refluxo e a
diagnóstico diferencial inclui as lesões su- quenos em pacientes assintomáticos po- supressão ácida, há tendência de diminui-
bepiteliais do esôfago, como o leiomioma, dem ser acompanhados considerando a ção e até mesmo de desaparecimento des-
o lipoma, o fibroma e o neurofibroma. Al- natureza benigna dessas lesões e a rarida- ta estrutura polipóide.20
guns trabalhos mostram que punção e as- de da malignização. Uma vez indicado o
piração desses cistos, por via transesofá- tratamento, existe a opção de abordagem
gica, transbrônquica ou transcutânea guia- menos invasiva com aspiração completa e ACANTOSE GLICOGÊNICA
da por fluoroscopia ou tomografia compu- coleta de material para biópsias por me- A acantose glicogênica ou glicoacan-
tadorizada, com análise citológica do con- diastinoscopia ou toracoscopia ou mesmo tose é uma lesão benigna da mucosa do
teúdo, auxiliam no diagnóstico.89 por endoscopia com orientação ultra-so- esôfago e sua prevalência exata é desco-
Pequenas séries de pacientes e relatos nográfica, levando à resolução completa e nhecida. Quando pesquisada em autóp-
de casos têm sugerido que a USE pode ser definitiva.89 A recidiva pode ocorrer pela sias, pode atingir até 100%,10 porém, em
uma boa alternativa aos outros métodos manutenção do epitélio secretor.32 Outra exames endoscópicos, estaria em torno
de imagens13,32,89 para o diagnóstico do opção é a ressecção endoscópica usando de 5 a 15%.21,76 A discrepância desses da-
CE, pois pode claramente definir a origem técnicas de injeção e mucosectomia eco- dos é parcialmente explicada: pelo lado
intramural ou extramural e a extensão do guiadas.70 da endoscopia, haveria pouco interesse
cisto, assim como distinguir entre lesão só- em diagnosticar essa alteração, e a disten-
lida e cística32 (Fig. 28-5). Esse método po- são das pregas durante o exame endoscó-
derá também definir a presença de cama- PÓLIPO INFLAMATÓRIO pico prejudicaria o diagnóstico; pelo ou-
das musculares e a relação da lesão com a O pólipo inflamatório é também co- tro lado, efeitos pós-morte poderiam au-
parede esofágica. Além disso, é possível a nhecido como pólipo sentinela e ocorre mentar a detecção nas autópsias.
punção e aspiração desses cistos guiada
pela USE, existindo dados de que esta é Pólipo inflamatório de esôfago
Do ponto de vista endoscópico, são do ponto de vista endoscópico, histológi- RGE, processos infecciosos com cicatriza-
múltiplas placas elevadas, arredondadas, co e imuno-histoquímico.10 Além disso, há ção, evoluem para a perda do epitélio es-
entre 2 mm e 4 mm de diâmetro, esbran- evidências de que a acantose glicogênica camoso e aparecimento do epitélio gás-
quiçadas e facilmente vistas ao exame. Po- não tem potencial maligno como a leuco- trico embrionário formado por ilhotas de
dem ser encontradas ao longo do esôfago, plasia e não está associada ao carcinoma, mucosa gástrica.25
mas são mais comuns no terço inferior, co- pois não apresenta hiperqueratose, atipia As HMGE se apresentam como áreas
mumente múltiplas, encontradas em gru- celular ou displasia, e as lesões potencial- de mucosa alaranjada ou avermelhada,
pos de 5 a 20, tendendo a se localizar so- mente malignas contêm pouco ou ne- superfície levemente rugosa ou aveluda-
bre as pregas da mucosa, atingindo pre- nhum glicogênio.21,76 A monilíase tem as- da, de formato arredondado ou ovalado,
dominantemente a população mais ido- pecto endoscópico característico e à histo- únicas ou múltiplas; e, quando duplas,
sa.10,21 Essas placas podem ser mais bem logia mostra a presença de hifas e esofagi- contralaterais e de tamanho semelhante,
evidenciadas com a cromoscopia com so- te. são chamadas lesões “em espelho”39 (Fig.
lução de Lugol, tornando-se de tonalidade 28-7).
marrom-escura em razão da grande con- As HMGE se constituem de tecido co-
centração de glicogênio, enquanto lesões HETEROTOPIAS lunar típico de qualquer área gástrica co-
neoplásicas e inflamatórias persistem com As heterotopias mais comumente en- mo o antro, corpo ou fundo, podendo coe-
a mesma tonalidade original. Histologica- contradas no esôfago são as de epitélio xistir na mesma heterotopia mais de um
mente, a lesão se caracteriza por hiperpla- de mucosa gástrica. As heterotopias de tipo de epitélio gástrico.40 Estas mucosas
sia epitelial acantótica com grande núme- mucosa gástrica no esôfago (HMGE) fo- heterotópicas podem produzir ácidos,
ro de células epiteliais alargadas e conten- ram descritas pela primeira vez por Schaf- além de outros peptídeos, como a gastri-
do glicogênio em abundância, sem hiper- fer,71 em 1898. A origem deste epitélio no na, bombesina e somatostatina.24 Excep-
queratose, atipias ou displasia. esôfago ainda é incerta, existindo duas te- cionalmente é sede de complicações como
A etiologia da acantose glicogênica é orias para explicá-la. Uma delas é a congê- erosões, úlceras, estenoses, fístulas, meta-
desconhecida. Não é possível estabelecer nita, em que há uma falha de diferencia- plasia intestinal, displasia ou adenocarci-
relação com etilismo, tabagismo ou outro ção celular durante o período embrioná- noma.8,12,54,64,79 Podem estar contamina-
fator irritativo.10 Tem sido sugerido que a rio, pois até a décima semana de gestação das pelo Helicobacter pylori, independen-
presença dessas lesões seria um indicador o esôfago é recoberto por mucosa colu- temente do tipo de mucosa gástrica que
do RGE,21,84 baseado na histologia da mu- nar e, por volta da vigésima semana, o constitui a heterotopia e, quanto maior a
cosa adjacente, que mostra evidência de epitélio estratificado escamoso aparece densidade dessa bactéria no estômago,
esofagite. Contudo, a acantose glicogêni- no terço médio e se estende proximal e maior é o índice de infecção na heteroto-
ca tem sido encontrada no terço superior distalmente recobrindo todo o esôfago; pia.36 As biópsias endoscópicas simples se-
de pacientes sem sinais de esofagite, e as caso haja uma falha nesse processo, po- lam o diagnóstico da HMGE, e como não
lesões se mantêm mesmo após períodos dem persistir ilhotas de mucosa gástrica provocam sintomas ou apresentem gran-
prolongados de tratamento clínico da do- no esôfago proximal ou distal.8,34 A outra des riscos de degeneração maligna, as
ença do RGE.10 É possível que a presença teoria, chamada também de teoria mista, HMGE não devem ser ressecadas.
da esofagite facilite o reconhecimento denota que pacientes com alguma anor- Mais raramente, podemos encontrar
dessas lesões, mas certamente não está malidade congênita da lâmina própria, no esôfago tecido heterotópico de glân-
sempre presente entre as placas, não é após a exposição a traumas repetidos, dulas sebáceas, tecido pancreático ou nó-
necessária para a sua formação e nem
para o seu diagnóstico endoscópico.10,84 Mucosa gástrica heterotópica no esôfago
Estudos cinéticos não mostraram dimi-
nuição no turnover celular e na utilização
de glicogênio ou aumento na capacidade
de estocá-lo.
A acantose glicogênica não causa sin-
tomas e seu significado clínico é desconhe-
cido, porém por ser lesão sem potencial de
malignização e por seu aspecto endoscó-
pico característico, as biópsias sistemáticas
não estão indicadas. Todavia, deve ser feito
diagnóstico diferencial endoscópico com
lesões de reconhecido significado clínico
como a monilíase, leucoplasia e carcinoma A B
precoce do esôfago.10,76 Placas de leuco-
plasia na cavidade oral são relativamente Mucosa gástrica heterotópica no esôfago. Presença de duas áreas de mucosa ovalada,
alaranjada, superfície lisa e brilhante, localizadas no esôfago proximal logo após o cricofaríngeo,
freqüentes, com potencial de malignização aspecto clássico de mucosa gástrica heterotópica (A). A forma circunferencial da mucosa gástrica
de 5 a 10%. No esôfago, a leucoplasia é in- heterotópica no esôfago proximal (B) é menos comum e, neste caso, houve impactação de bolo
comum e difere da acantose glicogênica alimentar em paciente idosa. A histologia das biópsias confirmou a suspeita endoscópica.
Capítulo 28 TUMORES BENIGNOS DO ESÔFAGO 219
LEIOMIOMA E LEIOMIOMATOSE
São os tumores benignos não-epi-
teliais mais comumente encontrados no
esôfago.20,65 Originam-se da muscular
própria e, raramente, da muscular da mu-
cosa. Ocorrem mais freqüentemente em
A B
homens do que em mulheres, na idade
entre 20 e 59 anos,72 sendo raros nas
crianças.14 Geralmente são assintomáti- Leiomioma de esôfago: aspecto em “ferradura”. O aspecto endoscópico do esôfago é de 2
abaulamentos regulares da mucosa (A), mas a ecoendoscopia mostrou uma lesão hipoecogênica,
cos, sendo um encontro casual em endos- localizada na camada muscular própria e circundando o órgão, aspecto conhecido como “em
copias digestivas de rotina ou até que ferradura” (B).
atinjam grande tamanho para apresentar
sintomas como disfagia, dor retroester- O diagnóstico endoscópico é de pre- Quando múltiplos, os leiomiomas
nal, pirose, tosse, odinofagia, perda de sunção, não devendo o endoscopista se são chamados de leiomiomatose, com ca-
peso e sangramento digestivo.75 aventurar a um diagnóstico definitivo no racterísticas endoscópicas e ecoendoscó-
A forma de apresentação mais co- seu laudo, pois se trata de lesão da parede picas semelhantes.80
mum é a ovalada, mas pode ser arredon- do esôfago, não sendo de diagnóstico en-
dada, semicircular ou “em ferradura” e doscópico e, portanto, é limitação do mé-
até mesmo anular, simulando às vezes um todo e não do profissional; e, dificilmente, LIPOMA
quadro de acalasia38 (Figs. 28-8 e 28-9). se consegue firmar um diagnóstico histo- É a segunda causa mais freqüente de
Localizam-se preferencialmente nos ter- lógico, pois as biópsias não atingem o pla- lesão benigna não-epitelial de esôfago.
ços médio e inferior do esôfago, com ta- no muscular de origem das lesões, exceto Raramente apresenta sintomas, sendo na
manho variável, consistência endurecida, em casos onde exista uma ulceração e o te- maioria dos casos achado de exame de ro-
apresentando superfície lisa e regular e, cido muscular se encontre exposto. tina.61
em alguns casos, multilobulada, recober- Geralmente está localizado no esôfago
Em virtude de sua natureza miogêni-
ta por mucosa de coloração normal, sem superior, tem consistência macia, quando
ca, o método de eleição para confirmação
solução de continuidade, que desliza li- tocado por pinça ou cateter, tende a abaixar
do seu diagnóstico é a USE,15,35,42,67,78,82,92
vremente sobre a lesão, a não ser que o centro e levantar as bordas, conhecido
seja esta realizada com miniprobes,90 eco-
apresente erosão ou ulceração apical. como pillow-sign (“sinal do travesseiro”).74
endoscópios convencionais ou setoriais.
Lesão de submucosa do esôfago Com facilidade, localiza-se a camada mus- Apresenta uma coloração amarelada carac-
cular própria (quarta camada) do esôfago terística, é macio e raramente ocorre erosão
de onde mais freqüentemente se origina ou ulceração, podendo ser pedunculado
o leiomioma, que se apresenta como le- quando atinge grande tamanho.94
são hipoecogênica e homogênea (Fig.
28-10). Quando se tem dúvida da nature- Lesão miogênica do esôfago
za benigna da lesão miogênica, pode-se
realizar o diagnóstico histológico da lesão
através de biópsias ecoguiadas.27
Em geral o leiomioma não necessita
de ressecção, ficando esse tratamento in-
dicado nos casos sintomáticos ou quando
houver dúvida sobre a natureza da lesão,
sendo realizada enucleação da lesão por
toracotomia ou videotoracoscopia.9
A ressecção endoscópica é de difícil
Lesão de submucosa do esôfago. No execução e com risco de perfuração e he-
esôfago proximal, identificou-se pequena lesão morragia, ficando reservada apenas quan- Lesão miogênica do esôfago. A
elevada, arredondada, com mucosa de do a origem é da muscular da mucosa (se- ecoendoscopia com miniprobe mostrou lesão
revestimento lisa, elástica e deslizante sobre ela miogênica, hipoecogênica localizada na quarta
à tração com pinça de biópsias. Há necessidade
gunda camada do esôfago), bem docu- camada do esôfago (muscular própria),
de se realizar a USE para melhor definir a mentada pela USE e, às vezes, com ressec- medindo 17 mm por 10,5 mm, compatível com
natureza da lesão. ção ecoguiada.29,11 leiomioma.
220 SOBED – ENDOSCOPIA DIGESTIVA DIAGNÓSTICA E TERAPÊUTICA
O diagnóstico endoscópico é feito que a lesão se origine na própria mucosa terminar exatamente a localização, a pro-
baseado nas características do lipoma e o e não na submucosa.55,57 Deve ser feito o fundidade e o tamanho da lesão19,57 e,
histológico é realizado através de bióp- diagnóstico diferencial com outras lesões conseqüentemente, definir o tipo de tra-
sias que atinjam a camada submucosa. benignas da submucosa, como leiomio- tamento a ser empregado.73 Se a lesão
A ecoendoscopia do lipoma evidencia ma, neurofibroma e glândula sebácea he- está localizada na submucosa e não inva-
uma lesão hiperecogênica, de bordas lisas e terotópica.2 Pode ser único ou múltiplo e, de a muscular própria, o tratamento en-
regulares, com origem na camada submu- quando múltiplo (5 a 14%), a maioria é sin- doscópico pode ser realizado.18,57,60,77,91
cosa, ou seja, na terceira camada ecogênica crônico, mas há relato de lesões metacrô- Seu aspecto ecoendoscópico pode ser
da parede do esôfago.15,35,42,67,78,90,92 nicas evidenciadas de 4 meses até 3 anos confundido com o de um lipoma.19,77 São
A ressecção do lipoma não é necessá- após o primeiro diagnóstico31,45 (Fig. descritas alterações da motilidade esofá-
ria, desde que este não apresente sinto- 28-11). gica em razão da destruição dos plexos
mas ou complicações como hemorragia Ao estudo contrastado, apresenta-se nervosos pelo próprio tumor. Por isso, al-
ou obstrução. como um defeito de enchimento homo- guns autores recomendam a realização de
gêneo, de fácil reconhecimento, exceção manometria em casos de tumores não
para as pequenas lesões. Nas lesões mai- obstrutivos com clínica de disfagia.45
TUMOR DE CÉLULAS ores, pode-se ter uma imagem de esteno- É considerado benigno, apesar de
GRANULARES se.16,33 O diagnóstico de certeza é dado existirem casos relatados de malignidade,
O tumor de células granulares (TCG) pelo exame histológico das biópsias, pois, inclusive com metástases a distância23,
foi descrito inicialmente por Abrikossoff, apesar de ser uma lesão de submucosa, 33,41,43 e, aproximadamente, 2% compor-
em 1926,1 como de origem no músculo apresenta ninhos de células imediata- tam-se como malignos.31,33,43 Os sinais
estriado e denominado mioblastoma de mente abaixo da mucosa.23,41 Recomen- macroscópicos que sugerem tal caracte-
células granulares, embora exista contro- dam-se múltiplas biópsias no mesmo lo- rística são: tumores com tamanho supe-
vérsia a respeito dessa origem. Entre as cal para melhor acesso à submucosa (bi- rior a 4 cm, crescimento rápido e recor-
opiniões recentes, a maioria acredita nu- te-on-bite).45 O aspecto histopatológico é rência. Os critérios histológicos que de-
ma origem neural e não muscular.16,18 Por característico: células poligonais ou fusi- vem ser preenchidos para o diagnóstico
apresentar reação imuno-histoquímica formes, de citoplasma eosinofílico abun- de malignidade são pelo menos 3 dos se-
fortemente positiva para proteína S-100 e dante, núcleo pequeno e centralizado, guintes: necrose celular, núcleo aumenta-
para a enolase neuroespecífica encontra- dispostas em ninhos separados por faixas do, nucléolo grande, atividade mitótica,
da no citoplasma, ambos marcadores es- de tecido conjuntivo oriundos da muscu- pleomorfismo nuclear e alongamento das
pecíficos para as células de Schwann, é lar da mucosa.2,45 As células tendem a es- células.33,43 A citologia do material aspira-
muito provável que essas células origi- tar bem agrupadas e os nódulos de tumor do por punção ecoguiada pode auxiliar
nem-se de tecido neural, mais especifica- bem individualizados, mas sem cápsula.2 no diagnóstico diferencial.23,77
mente das células de Schwann.16,43 Ou- Em alguns casos, pode haver uma hiper- O tratamento do TCG depende da
tros autores inclinam-se para uma origem plasia do epitélio que recobre a lesão, difi- apresentação clínica, das características
histiocística, um processo fibroblástico cultando o diagnóstico diferencial com macroscópicas e profundidade da lesão.
ou mesmo uma origem em células mesen- carcinoma de células escamosas inva- Casos de pequenas lesões assintomáticas
quimais indiferenciadas.59 sor.31,41,43 A USE tem grande valor para de- podem ser apenas acompanhados endos-
O TCG é localizado subepitelial que
foi encontrado inicialmente na língua.16,31 Tumor de células granulares de esôfago
Pode ser encontrado em vários outros lo-
cais, sendo os mais comuns: língua (40%),
pele (30%), mama (15%) e trato respiratório
(10%).23 Acomete o tubo digestório em 5 a
11%, sendo um terço destes no esôfa-
go,23,77 com a seguinte distribuição: terço
distal 65%, terço médio 20% e terço supe-
rior 15%.23,45 Ocorre com maior freqüência
em pacientes com idade inferior a 45 anos,
masculinos (61%) e de raça negra.41,45
O aspecto endoscópico é de uma le-
são elevada, séssil, nodular ou em placa,
de cor cinza a branco-amarelada, superfí-
A B
cie lisa ou levemente irregular, endureci-
da e tamanho entre 4 mm e 40 mm.23,45,91
Os tumores maiores se apresentam como Tumor de células granulares de esôfago. Nota-se no esôfago uma lesão elevada e ovalada, com
discreta retração da mucosa, endurecida à palpação com pinça de biópsias (A). A ecoendoscopia
uma massa polipóide de coloração bran- mostrou uma lesão hipoecogênica, originária da submucosa, mas atingindo a mucosa profunda (B).
co-amarelada, recoberta por mucosa mui- Esta lesão foi retirada com alça de polipectomia e a histologia mostrou tratar-se de tumor de células
to fina e homogênea, podendo sugerir granulares.
Capítulo 28 TUMORES BENIGNOS DO ESÔFAGO 221
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