Você está na página 1de 3

SUBSÍDIO DE NATAL OU 13.

º MÊS EM ANGOLA
Por: Valdano Afonso (Advogado Estagiário inscrito na OAA)
Razão de ordem
Um dos assuntos, que toma conta das conversas de muitos trabalhadores e até
empregadores nas suas residências, nos bares, e até mesmo nas empresas no mês de
Dezembro é justamente o tema subsídio de Natal ou comummente designado 13.º mês.
Neste diapasão e porque estamos em Dezembro, vamos neste pequeno artigo discorrer
sobre o mesmo, curando de frisar o que é subsídio de Natal, quem tem direito ao mesmo,
e qual a consequência jurídica, i.é, sanção em caso de não pagamento do mesmo.
O presente artigo, porém, cingir-se-á apenas aos trabalhadores que exercem actividade
profissional remunerada ao abrigo de um contrato de trabalho, nos termos da legislação
laboral, ficando, portanto, apartado o tratamento jurídico-legal que neste quesito é dado
aos funcionários públicos ou trabalhadores exercendo a sua actividade profissional na
Administração Pública Central ou Local, num Instituo Público ou qualquer outro
organismo do Estado.
Introdução. Conceito
Para o Professor LEAL AMADO, o subsídio de Natal caracteriza-se por ser uma
“prestação retributiva de formação progressiva ao longo do ano civil, num salário diferido
que se vai sedimentando gradualmente”.
MONTEIRO FERNANDES diz que o “subsídio é uma prestação complementar porque
não tem correspectividade directa com certa quantidade de trabalho”.
Como diz a Dra. Inês Catarina Azevedo da Costa Santos, “o legislador laboral, através do
subsídio de Natal, quis conceder ao trabalhador uma maior disponibilidade financeira na
quadra natalícia, através do pagamento de uma prestação pecuniária, para aquele fazer
face ao acréscimo de despesas características desta época do ano.”
Enquadramento Jurídico
Como espécie do género “gratificação anual obrigatória”, o subsídio de Natal ou 13.º mês
vem expressamente consagrado na LGT- (Lei Geral do Trabalho - Lei n.° 7/15 de 15 de
Junho em vigor, cfr. artigo 158.º).
Nos termos da LGT, trave-mestra do que podemos chamar ordenamento jurídico-laboral
angolano, todos os trabalhadores têm direito, por cada ano de serviço efectivo, a 50% do
salário-base a título de subsídio de Natal, pago em simultâneo com o salário do mês de
Dezembro ou de acordo com o estabelecido no contrato individual de trabalho ou
convenção colectiva de trabalho.
Note a lei diz “todos os trabalhadores…”, trabalhador é toda a pessoa singular, nacional
ou estrangeira residente, que voluntariamente se obriga a colocar a sua actividade
profissional mediante remuneração, ao serviço de um empregador, no âmbito da
organização e sob a autoridade e direcção deste, portanto quer exista contrato escrito ou
não, quer a pessoa trabalhe na cantina de um “Mohamed”, quer trabalhe no Estúdio
Kónica de um Vietnamita, etc., tem direito ao subsídio de Natal.
A percentagem estabelecida (i.é, os 50%) pode ser alterada para um valor superior por
convenção de trabalho ou contrato individual de trabalho. Sendo que o trabalhador que
no momento do pagamento do subsídio de Natal não tenha prestado um ano de serviço
efectivo, em virtude da data de admissão ao trabalho, de suspensão ou extinção da relação
jurídico-laboral, tem direito a receber as referidas gratificações calculadas em valor
proporcional aos meses completos trabalhados.
Atribuição do subsídio de Natal aos pensionistas
Aos pensionistas de velhice, invalidez e sobrevivência é-lhes abonado, anualmente, um
subsídio de Natal, a conceder em Dezembro, de valor igual à pensão mensal a que tenham
direito nesse mês, sendo inalienável e impenhorável, não estando sujeito a quaisquer
descontos. (Cfr. Decreto n.º 25/93 - de 16 de Julho).
Atribuição do subsídio de Natal ao empregado doméstico
O empregado doméstico tem direito ao subsídio de Natal, nos termos estabelecido na Lei
Geral de Trabalho, isto por força do que vem estabelecido no artigo 13.º Decreto
Presidencial n.º 155/16, de 9 de Agosto – Diploma que aprova o Regime Jurídico do
Trabalho Doméstico e de Protecção Social do Trabalhador de Serviço Doméstico.
Subsídio de Natal vs Desconto a favor da Segurança Social
Salvo o disposto no Decreto n.º 25/93 - de 16 de Julho, o subsídio de natal, salvo melhor
opinião, integra a base de incidência contributiva, nos termos do artigo 13.º do Decreto
Presidencial n.º 227/18, de 27 de Setembro – Diploma legal que estabelece o Regime
Jurídico de Vinculação e de Contribuição da Protecção Social Obrigatória, nestes termos
parece-nos que o Empregador deve efectuar do subsídio de natal o desconto a favor da
Segurança Social.
Subsídio de Natal vs Imposto Sobre os Rendimentos do Trabalho (IRT)
Nos termos da alínea m) do n.º 1 do artigo 2.º do Código do Imposto Sobre os
Rendimentos do Trabalho (IRT) – aprovado pela Lei n.º 18/14 de 22 de Outubro, não
constitui matéria colectável, o subsídio de natal até ao limite máximo de 100% do salário
- base do trabalhador, ou seja este subsídio até ao limite máximo de 100% do salário -
base do trabalhador não está sujeito a desconto para efeito de IRT.
Sanção em caso de não pagamento do subsídio de Natal
É um facto que muitos, são os empregadores que não gostam de pagar o subsídio de Natal,
para os mesmos (recalcitrantes) vale aqui informar que, o não pagamento do subsídio de
Natal, constitui contravenção punível com multa de 4 a 8 vezes o salário médio mensal
praticado na empresa, nos termos do artigo 43.º do Decreto Presidencial n.º 154/16, de 5
de Agosto (Diploma legal que estabelece o regime das multas por contravenção ao
disposto na Lei Geral do trabalho), sendo da competência exclusiva da Inspecção Geral
do Trabalho a aplicação da multa. E porque está a decorrer a “Operação resgate”, melhor
será não continuarem com tal conduta, que se traduz afinal na violação de um direito e
consequente inobservância da lei.
Conclusão
Posto isto, podemos com toda certeza concluir que, independentemente da nomenclatura
que se prefira usar, o subsídio de Natal ou comummente designado 13.º mês é um direito
subjectivo e como tal deve ser respeitado pela contraparte no caso o empregador, cabendo
ao trabalhador em caso de violação accionar os mecanismos legais e/ou judiciais à sua
disposição para exigir o seu cumprimento.
Bibliografia
Inês Catarina Azevedo da Costa Santos - A Retribuição e as Prestações Complementares
Análise das repercussões na retribuição de férias, subsídios de férias e de Natal - Tese de
Mestrado.
Legislação Consultada
Lei Geral do Trabalho - Lei n.° 7/15 de 15 de Junho
Código do Imposto Sobre os Rendimentos do Trabalho (IRT) – aprovado pela Lei n.º
18/14 de 22 de Outubro.
Decreto Presidencial n.º 227/18, de 27 de Setembro
Decreto Presidencial n.º 154/16, de 5 de Agosto
Decreto Presidencial n.º 155/16, de 9 de Agosto
Decreto n.º 25/93 - de 16 de Julho

Você também pode gostar