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Constitucional II - Lígia Abreu (1ª frequência)

Órgãos de soberania:

Conceito de órgão: o órgão é um centro autónomo institucionalizado de emanação da vontade relativa


a uma pessoa jurídica.

Pressupostos da existência de um órgão: olhando para a definição, para existir um órgão, tem de
existir uma vontade de uma pessoa singular e física que é o titular (ou os titulares) desse órgão e essa vontade é
importada ao Estado (ou a uma pessoa coletiva / jurídica, o que significa que os órgãos dessa pessoa jurídica
agem em nome dessa pessoa jurídica / coletiva). Temos aqui uma representação funcional que assenta na
integração de um órgão na pessoa jurídica ao qual corresponde um conjunto de funções que lhe permitem agir
em nome dessa pessoa jurídica. É uma representação diferente da representação voluntária (procuração /
representação legal). A representação funcional é uma das características desse órgão para além da característica
de estabilidade da estrutura institucionalizada que é um órgão. Os órgãos podem ser permanentes ou temporários
mas, quando existem, eles agem e imanam a vontade que é a vontade do órgão que representam.

Classificação do órgão:

• Quanto ao tipo de órgão ou às relações com outros órgãos: os órgãos singulares, ou seja, os órgãos
compostos por um único titular (o Presidente da República, por exemplo);
Os órgãos colegiais, que são compostos por uma pluralidade de titulares (pessoa singular e física).
Exemplos: Assembleia da República artigo 148 e 180 da Constituição (Comissões permanentes e
temporárias, que são nomeadamente de inquérito, artigos 178 e 179); Governo, artigos 183 e 184;
Tribunais, que podem ser ou não órgãos colegiais (os juizes, enquanto membros do tribunal, são titulares
do órgão de soberania e as decisões de um juiz de primeira instância são singulares porém, um acordão,
do Tribunal da Relação ou o Supremo Tribunal de Justiça, já é uma decisão coletiva de vários juizes para
a resolução do mesmo problema)

• Quanto à importância das atividades exercidas: órgãos principais são órgãos com competências
próprias atribuídas pela Constituição. Todos os órgãos de soberania são órgãos principais (Presidente da
República, Governo, tribunais)
Órgãos subsidiários, são aqueles que podem exercer certas competências na impossibilidade de estas
serem exercidas pelo órgão principal (Presidente da República Interino, artigos 132 e 139 da CRP)

• Quanto ao estatuto jurídico: órgãos de soberania (art. 110 da CRP), que são órgãos que se enquadram
numa função jurídico-pública mas que produzem / são responsáveis por atos decisórios. Poder de impor
uma determinada ordem, fazer cumprir a lei, aplicar e interpretar a lei, num determinado território.
Órgãos de Estado, que diz respeito a órgãos que imanam uma vontade associada ao Estado, também são
órgãos de soberania (provedor de justiça, art. 23, outras entidades de Estado, como a entidade reguladora
da Comunicação Social, art. 39, Conselho Económico e Social, art. 92)

• Órgãos Constitucionais: todos os órgãos previstos na Constituição, que podem ser ou não órgãos de
soberania (Conselho de Estado que é órgão consultivo do Presidente da República, art.141 ao 146)

• Quanto à força jurídica dos atos: se são atos que vinculam ou se são apenas recomendações sem força
vinculante. Aqui temos os órgãos deliberativos que produzem atos obrigatórios e vinculativos
(Assembleia da República, Governo) e os órgãos consultivos, que apenas emitem pareceres ou
recomendações (Conselho de Estado, é obrigatório consultar este órgão mas não significa que a proposta
de alteração seja aceite)

• Classificação entre órgãos eletivos e não eletivos: eletivos vem de eleição que é uma forma de
designação dos titulares do poder público, esta pressupõe uma escolha feita por parte de um órgão
colegial. O Presidente da República é um órgão que, apesar de ser eleito pelos cidadãos, não é um órgão

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eletivo porque ele não elege, não é um órgão colegial.
Órgão eletivo: Assembleia da República é um órgão eletivo (art. 163 alínea g) e h) da CRP), órgão que
tem capacidade eletiva porque é um órgão colegial. Escolher alguém por meio de eleição.
Órgão não eletivo: o Presidente da República é não eletivo porque não é um órgão colegial, ele designa
os órgãos do poder público através de nomeação (art. 133 alínea f) e h) da CRP).

• Modos de designação dos titulares dos órgãos independentemente da vontade: não tem a
haver com a vontade de uma pessoa escolher outra. Os modos de designação não dependem da
vontade de quem escolhe.

- Inerência: alguém é escolhido para ser titular de um órgão porque é titular de outro órgão.
Por exemplo, o Presidente da República preside o Conselho de Estado e é membro do
Conselho de Estado porque é Presidente da República.

- Sorteio: é utilizado pelos órgãos de soberania para escolher uma determinada pessoa para
uma função, para um órgão. Meio para designar um titular de um órgão, mas não de
soberania. Não depende da vontade. Utiliza-se muito para órgãos menores e para questões
internas da própria Assembleia da República.

- Rotação: escolha de alguém por se encontrar no momento da assunção do cargo numa


sequência plural de igual distribuição de pessoas.

- Antiguidade: escolha de uma pessoa por esta ser mais antiga na função ou cargo que
exerce, quer em função da idade quer por estar à mais anos naquele órgão.

• Modos de designação dos titulares dos órgãos dependentes da vontade:

- Eleição: escolha de alguém tendo por base um universo pluralista no colégio de votantes,
assim como um conjunto dos candidatos apresentados. Artigo 163 alínea g) e h) da CRP.

- Nomeação: escolha de alguém por indicação unilateral. Artigo 163 alínea f) e h) da CRP.

- Cooptação: escolha de alguém para fazer parte de um órgão por parte de titulares desse
órgão. Artigo 222 nº1 e 2 da CRP.

- Aquisição revolucionária: escolha de alguém na sequência de um processo


revolucionário. Por exemplo, na sequência da Revolução de 25 de Abril de 1974 a
governação do país ficou nas mãos de uma junta de salvação nacional.

- Aclamação: escolha do titular de um órgão através da vontade coletiva, dos cidadãos.

Natureza das competências dos órgãos de soberania:

- Competência legislativa: consiste em criar atos legislativos (estes são leis, decretos-leis, decretos
legislativos regionais), nascem de um processo legislativo solene, através de um órgão colegial. Nem todos
os atos normativos são atos legislativos Esta competência tem a haver com o facto de se criar a lei, decreto-
lei e decretos legislativos regionais. A competência legislativa dos órgãos de soberania é dividida entre a
Assembleia da República (artigo 161 alínea a), b), c), d), e), g) e i) + artigo 164, 165 e 166 da CRP) e o
Governo (artigo 198 da CRP). O Presidente da República também pode elaborar decretos presidenciais mas
estes não são atos legislativos, enquadram-se no âmbito das competências políticas do Presidente da
República.

- Competência administrativa ou executiva: consagrada no artigo 199 da Constituição. O Governo é o chefe


da administração pública.

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- Competência política: da Assembleia da República incide sobre o artigo 161 alínea h), l), m), ou seja, todas
as competência que não estão relacionadas com a criação de um ato legislativa.
Há quem distinga competência política de competência de fiscalização mas, a competência de fiscalização
da Assembleia da República em relação à atividade do Governo insere-se no contexto político — artigo 162
alíneas b), d), e) + alínea c) que é uma competência de fiscalização da Assembleia da República no âmbito
da ação legislativa do Governo, ou seja, é a Assembleia da República que vai puder fazer cessar alguns
decretos-lei do Governo. Artigo 162 alínea a) diz respeito à competência da Assembleia da República de
fiscalização do cumprimento da Constituição, quer em relação a si própria quer em relação aos atos do
Governo e da Administração Pública.
Artigo 163 temos um conjunto de competências quanto a outros órgãos, todas estas competências aqui
citadas estão relacionadas com a competência política da Assembleia. As competências políticas inserem-se
no contexto da função política da Assembleia da República, nomeadamente no conjunto de competências de
prossecução do interesse público e das prioridades do Estado. Estas não estão relacionadas com a criação de
normas e que podem, em certos casos, anteceder a própria norma.
A competência política do Presidente da República e de representação política do Estado e competências
políticas no âmbito dos artigos 133 ao 136 da CRP. Não existe aqui a criação de um ato legislativo, há aqui
competências de representação do Estado, competências de condução do destino do país através de atos
políticos. Estes atos políticos podem influenciar o próprio procedimento legislativo, como o Presidente da
República tem o direito de veto político, quando recebe um diploma da Assembleia da República ou do
Governo para promulgação, ele pode não concordar por motivos meramente políticos, pelas suas ideias
políticas, como pelo conteúdo daquele diploma. Desta forma, não vai promulgar este diploma. Nem todos os
diplomas carecem de promulgação do Presidente da República. Artigo 137 da CRP
Função política do Governo, artigo 197 da CRP (referendar os atos do Presidente da República, por
exemplo).
O Presidente da República também tem poder de fiscalização ou controlo da atividade dos outros órgãos de
soberania que a Constituição integra nas competências políticas. Primeiro, porque o Presidente da República
pode requerer a fiscalização da constitucionalidade e quando o Tribunal Constitucional se pronuncia no
sentido de que aquela norma é inconstitucional, o Presidente da República é obrigado a vetar o diploma por
inconstitucionalidade. Mas também a fiscalização no âmbito político, através de um poder de veto político
(diferente do veto por inconstitucionalidade). O veto político é o poder do Presidente da República
fundamentado apenas em argumentos políticos. São formas de fiscalizar o cumprimento ou não dos outros
órgãos da Constituição. Os deputados da Assembleia da República também podem accionar o Tribunal
Constitucional em certos casos. Por exemplo, quando entendem que determinada norma da própria
Assembleia da República é inconstitucional ou uma norma de um decreto do Governo. Os próprios
deputados também podem acionar o Tribunal constitucional. O Primeiro ministro, enquanto membro do
Governo, também pode, em certos casos, acionar o Tribunal Constitucional (quando entende que
determinado decreto, que será promulgado como lei orgânica, é inconstitucional, por exemplo). O próprio
Governo pode fiscalizar, desta forma, a atividade da Assembleia da República, através do acionamento do
Tribunal Constitucional.

- Competência jurisdicional: interpretar e fazer cumprir a lei. Podem criar normas ad hoc.

O que são competências: é um complexo de poderes funcionais atribuídos a um órgão para a


prossecução de tarefas de que está incumbido determinado órgão de acordo com a Constituição.

Princípio da tipicidade das competências: determinado órgão de soberania só pode ter as


competências que lhes são atribuídas pela Constituição ou pela lei (em sentido lato). Princípio que se aplica no
Direito Internacional.

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Competências:

Competências exclusivas legislativa: competências atribuídas a um único órgão. O Presidente da


República tem como competência exclusiva o artigos 133 a 137 da CRP. Competência exclusiva ou
concorrencial legislativa da Assembleia, artigos 164 e 165 da CRP (destas matérias só a Assembleia pode
legislar sobre elas). Alusão à responsabilidade legislativa exclusiva da Assembleia no âmbito do artigo 161
alínea c) primeira parte + alíneas a), b), d) da CRP. O Governo tem as competências políticas e administrativas
exclusivas que estão consagradas nos artigos 197 e 199 da CRP. Mas, também têm uma competência legislativa
exclusiva residual (artigo 192 nº2 da CRP — só o Governo pode legislar sobre matéria da sua própria
organização e funcionamento). Competência exclusiva ao nível da iniciativa de lei, ou seja, apenas e
exclusivamente o Governo tem iniciativa de lei de Orçamento de Estado assim, só o Governo pode apresentar
uma proposta de lei de Orçamento de Estado pois ele é o órgão que vai executar o Orçamento de Estado. Os
tribunais têm competência exclusiva de administrar a justiça, aplicar e interpretar a lei em casos concretos ou, no
caso do Tribunal Constitucional, em casos não concretos também (casos que se aplicam a todos os cidadãos).

Competências concorrenciais legislativa: são competências que podem ser exercidas


simultaneamente por mais do que um órgão. Competências concorrentes não significa interdependência de
poderes. Existe uma competência concorrente ao nível da competência legislativa entre a Assembleia da
República e o Governo, ou seja, ambos podem legislar sobre a mesma matéria, ou seja, sobre todas as matérias
que não estão incluídas nos artigos 164, 165 e 198 nº2 da CRP. Esta referência está nos artigos 161 alínea c)
primeira parte + 198 nº1 alínea a). Tudo o que não esteja escrito nos artigos 164 e 165, nem no artigo 198 nº2 da
CRP é da competência concorrencial entre os dois órgãos (Assembleia e Governo).

Competências partilhadas: quando a existência jurídica de um ato legalmente exercido ao abrigo de


uma competência atribuída pela Constituição depende de um ato de outro órgão.
Exemplo: a promulgação da lei é um ato próprio e exclusivo do Presidente da República mas a lei não existe se
não existir a referenda ministerial (artigo 140 da CRP). Só o Presidente pode declarar a guerra e fazer a paz. No
entanto, para que o decreto do Presidente da República exista politicamente é necessário o caso do Estado de
sítio de emergência ouvir o Governo e a autorização da Assembleia da República (artigo 138 da CRP). Artigo
135 alínea c) da CRP na declaração de guerra e paz.

Competências quadro: competências legislativas partilhadas entre dois órgãos. Um dos órgãos define
as bases ou os princípios gerais de determinado ordenamento jurídico e o outro órgão desenvolve essas bases
(conceitos, princípios, regras muito gerais) gerais. Entre a Assembleia da República e o Governo, no âmbito do
artigo 165 da CRP, a Assembleia da República fixa os princípios/regras e as bases de determinado ordenamento
jurídico e o Governo pode assim desenvolver, através do decreto-lei, essas bases (regras gerais) e princípios
fixados por lei da Assembleia da República. Não só o Governo mas também a Assembleia Legislativa Regional
(artigos 198 nº1 alínea b) e c)). Artigo 198 alínea b) + artigo 198 alínea c) onde também podemos enquadrar
algumas matérias do artigo 164 da CRP (como por exemplo o decreto-lei que desenvolve as bases do sistema de
ensino). No âmbito das regiões autónomas artigo 227 nº1 alínea a) (competência exclusiva), b) (competência
autorizada pela Assembleia da República) e c) (competência quadro, de desenvolvimento) da CRP.

Formas de incompetência dos órgãos de soberania: quando um órgão é incompetente para uma
determinada função, quando pratica um ato para o qual não existe uma norma atributiva dessa competência. Ou
seja, nem a Constituição nem a lei atribui essa competência a esse órgão nem a órgão nenhum. O mais comum é
um órgão praticar um ato que só pode ser praticado por outro órgão (usurpação de competências). Outro caso é
quando o órgão exerce as competências que lhes foram atribuídas mas falta o exercício de outras competências
para que o ato seja válido, ou seja, constitucional.
Qual a consequência destes casos? É a nulidade do ato (no caso da usurpação de poderes), a ilegalidade ou
ilegalidade por inconstitucionalidade da lei.

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Princípio da separação e interdependência de poderes — aspetos a ter em conta:

• Artigo 111 da CRP;


• Separação de poderes que pode ser entendida de uma forma vertical, ou seja, entre poderes diferentes
(legislativo, administrativo, legislativo e judicial) mas também, dentro de cada um destes poderes podemos
ter separação de poderes;
• A violação da separação de poderes é o único motivo / fundamento da iniciativa do Presidente da República
para demitir o Governo, artigo 195 nº2 da CRP;
• A violação do princípio da separação de poderes, no âmbito dos órgãos de soberania, é um vício por
usurpação de poderes / competências (artigo 19 nº7 da CRP);
• A separação de poderes também tem de ser conjugada com a interdependência de poderes, ou seja, uma
competência é limitada por outra competência. Por outras palavras, a existência jurídica de um ato de
determinado órgão vai depender da existência de um ato de outro órgão — caso da declaração de Estado de
sítio e Estado de emergência;
• O poder moderador, no âmbito da Constituição de 1976, também está associada à separação de poderes.
Neste âmbito do poder moderador, cabe ao provedor de justiça que vai zelar para que a Administração
Pública não exerça poderes para os quais não tem competência, violando os direitos fundamentais dos
cidadãos;

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Acórdão sobre o caso da AZAE // ACÓRDÃO do TC N.o 391/2010

A) Hipótese em que o decreto-lei do Governo é inconstitucional, posição defendida pelo Tribunal Judicial
y.

Tanto o Governo quer a Assembleia da República têm competência legislativa, nos termos dos artigos
161 alínea c) primeira parte + 161 alínea a), b), d), e) e g) + 198 da CRP.Assim, a Assembleia da República cria
a lei e o Governo o decreto-lei (artigo 112 nº1). No entanto, a competência legislativa entre estes dois órgãos
não e toda concorrencial, ou seja, nem todas as matérias podem ser legisladas (objeto de legislação) por ambos
os órgãos. Certas matérias são da competência exclusiva da Assembleia da República (artigos 164 e 165 da
CRP) e outras são exclusivas do Governo (artigo 198 da CRP).
No caso concreto, o Governo legislou sobre forças de segurança. No caso concreto poderíamos estar
perante a violação do princípio da separação de poderes ao nível do poder legislativo (artigo 111 nº1 + 164 nº1
da CRP) para além da violação do princípio da reserva exclusiva de lei (ou da reserva absoluta de lei). Só a
Assembleia da República pode legislar sobre as matérias do artigo 164, nem sequer pode existir uma autorização
legislativa, portanto o Governo não pode usurpar este poder (se não é inconstitucional). O Governo só violará o
princípio da separação de poderes se, em substituição da Assembleia da República, criar um regime jurídico de
força de segurança. Ou seja, se não respeitar a lei da Assembleia da República que cria o regime ou os regimes
jurídicos das forças de segurança. Se tal acontece-se também estaria em causa a violação do princípio da
tipicidade das competências, ou seja, apesar da Constituição atribuir a competência legislativa ao Governo e à
Assembleia da República, estas competências são limitadas. Assim, nem a Assembleia da República pode
legislar sobre matéria da exclusiva competência do Governo nem o Governo pode legislar sobre as matérias da
exclusiva competência da Assembleia da República. Isto sob pena de violar a Constituição, nomeadamente o
princípio da separação de poderes, da tipicidade e da reserva de lei (se for o Governo a violar e legislar sobre
matérias do artigo 164 ou 165).
Acresce ainda que, quando existe a violação da separação de poderes também se viola o princípio da
imodificabilidade da competência. Como o próprio nome indica, as competências dos órgãos (neste caso, de
soberania) fixadas na Constituição ou na lei não podem ser modificadas por esses órgãos de forma arbitrária,
sem obedecer à Constituição e à lei, nem sequer delegadas (artigo 111 nº2 da CRP).

Nota: Princípio da imodificabilidade da competência (artigo 111 nº2). Quais são as excessões ao princípio
da imodificabilidade das competências?

1. Existir uma autorização legislativa da Assembleia da República ao Governo (artigo 165 da CRP). Ou
seja, o Governo só tem competência legislativa sobre as matérias do artigo 165 se a Assembleia da República
lhe der uma autorização para legislar sobre essas matérias
2. Existir uma autorização legislativa da Assembleia da República às Assembleias Legislativas
Regionais (artigo 227 nº1 alínea b) da CRP). Ou seja, há uma autorização que habilita aquele órgão a legislar
sobre a matéria que não poderia legislar (sem essa autorização). Assim, há uma transferência dessa competência
legislativa
3. A delegação de competência do Conselho de Ministros (artigo 200 nº2 da CRP)
4. A delegação de competência administrativa do Governo nos Governos regionais (artigo 229 nº4)
5. A delegação de competências dos órgãos de freguesia em organizações de moradores (artigo 265 nº3
da CRP)
6. A substituição do Presidente da República pelo Presidente da República interino (artigo 132 da CRP)
7. A substituição do Primeiro Ministro (artigo 185 nº1 da CRP)
8. Substituição dos ministros (artigo 185 nº2 da CRP)
9. Substituição do Representante da República nas Regiões Autónomas (artigo 230 nº3 da CRP)

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Conclusão: Quando um órgão de soberania exerce uma competência ou excede os limites, impostas pela
Constituição ou pela lei, a essa competência atribuída a um outro órgão existe a violação do princípio da
separação de poderes, do princípio da tipicidade das competências e do princípio da imodificabilidade das
competências. Se o Governo legisla sobre matéria da exclusiva competência da Assembleia da República ele
viola também o princípio da reserva de lei. Se a Assembleia legisla sobre matéria da exclusiva competência
legislativa do Governo então viola também o princípio da reserva do decreto-lei.

B) Partindo do princípio que o decreto-lei é constitucional.

O decreto-lei é constitucional, ou seja, não viola nenhum dos princípios referidos da alínea a) porque:

1. Ao criar a AZAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica) o Governo não está a criar o
regime geral de uma força de segurança. Existe uma lei da Assembleia da República que cria os regimes gerais
de força de segurança e o Governo respeitou, ao criar este decreto-lei, o conteúdo dessa lei. Esta posição foi
assumida pelo Ministério Público e pelo Tribunal Constitucional no acórdão (deste tribunal) nº391/2010
processo nº294/10. Atendeu também, o tribunal, que o artigo 15 do referido decreto-lei não viola nenhum
preceito da Constituição, nomeadamente nem o artigo 164 nº1, nem a alínea d) e u) do referido artigo, nem
sequer o artigo 165 alíneas d) e c) (tal como foi entendimento no Tribunal Judicial y).

De acordo com o referido acórdão do Tribunal Constitucional, a AZAE não é uma força de segurança,
ou seja, o decreto-lei do Governo não cria uma força de segurança porque, de acordo com o entendimento do
Tribunal Constitucional (parágrafo 6, página 4) a AZAE não tem como principal função ações de proteção dos
cidadãos contra agressões ou ameaças.Ou seja, no caso concreto dos jogos de fortuna e azar não se enquadram
no contexto de ações de prevenção de agressões e ameaças próprias de uma polícia judiciária.
A lei da Assembleia da República fixou o que é uma força de segurança e não inclui a AZAE, nesta lei,
como sendo uma força de segurança. Desta forma, o Governo pode legislar sobre esta matéria. De acordo com o
entendimento do Tribunal Constitucional, a matéria relativa à AZAE, com poderes de órgão de polícia criminal,
é uma matéria concorrencial. Nem é da exclusiva competência da Assembleia da República nem da exclusiva
competência do Governo. Assim, por outras palavras, nem está nos artigos 164, 165 e 198 nº2 da CRP. Tanto o
Governo como a Assembleia da República podem legislar sobre esta matéria e tanto a lei como decreto-lei
podem-se revogar e modificar mutuamente neste contexto (princípio da tendencial paridade entre lei e decreto-
lei).
O Tribunal judicial y também invocou a violação do artigo 164 alínea d), ou seja, o Governo estava a
criar um órgão de defesa nacional, a AZAE não é um órgão de defesa nacional. As forças armadas e a GNR é
que são exemplos de órgãos de defesa nacional (artigos 275 e 276 da CRP). Também não existe a violação do
artigo 265 alínea b) e c) da CRP porque o decreto-lei do Governo não define o crime nem medidas de segurança.
Apenas define os poderes da AZAE. Também o Governo, no decreto-lei, não limita os direitos fundamentais dos
detidos ou dos arguidos, a AZAE tem de respeitar a lei da Assembleia da República e da Constituição.

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Artigo 202 da Constituição:

nº4: no nosso país temos tribunais com função jurisdicional e que seguem a lei da organização do
sistema judiciário (lei nº 62/2013 de 26 de agosto, atualizada no nº19/2019 de 19 de fevereiro) e para além deste
sistema judiciário temos outras formas de resolução de conflitos, nomeadamente, o recurso a tribunais arbitrais,
em que as partes de um litígio podem submeter uma questão-litígio livremente à apreciação de um centro de
arbitragem (ou um tribunal arbitral já existente) ou então, livremente, criar um tribunal arbitral ad hoc (onde as
partes escolhem o juiz, escolhem aquilo que vão submeter a este e a sua decisão é obrigatória, tal como num
tribunal judicial). Os árbitros podem não ser obrigatoriamente juízes, podem ser professores universitários de
direito ou pessoas com entendimento jurídico (juristas por exemplo). Num tribunal normal as decisões demoram
muito mais tempo a ser feitas do que num tribunal arbitral e os custos são mais caros (apesar de ser relativo).
Há outros, chamados de mediação ou de conciliação. Estes, à semelhança da arbitragem, as pessoas
decidem livremente submeter uma questão-litígio a centros de mediação ou de conciliação, em que um
mediador põe as partes a negociar ou, em certos casos, dá uma sugestão de solução. Mas ao contrário da
arbitragem, as decisões no âmbito da mediação e a conciliação não são obrigatórias. Estas são as formas de
resolver litígios, para além de existirem os julgados de paz para certo tipo de questões civis e que têm um valor
reduzido.

Artigo 203 da Constituição:

Princípio da independência dos tribunais. Ou seja, os juizes têm de ser imparciais, não podem estar
submetidos ao poder político ou a interesses privados, mas sim à lei e à justiça.

Artigo 204 da Constituição:

“Nos feitos submetidos a julgamento não podem os tribunais aplicar normas que infrinjam o disposto
na Constituição ou os princípios nela consignados.” — Os tribunais têm de estar em concordância com a
Constituição e com os princípios nela consagrados.

Artigo 205 a 210 e 221 a 223 da Constituição

Estatuto dos juizes: princípios que regem o estatuto dos juizes. Para além do princípio da
independência e do princípio da constitucionalizado temos também artigo 216 da Constituição e, em relação ao
Tribunal Constitucional, artigos 222 nº5. Aos juizes não se aplica o princípio de renovação de mandatos à
excessão de um caso, alguns juizes do Tribunal constitucional são designados pela Assembleia da República e,
como tal, são juizes designados politicamente então, artigo 222 nº3.

Princípio da inamovibilidade: artigo 216 nº1 segundo o estatuto dos magistrados judiciais
(quando no artigo se refere “lei”); os juizes podem ser aposentados
Princípio da irresponsabilidade dos juizes pelas suas decisões: artigo 216 nº2; excessões no
estatuto dos magistrados judiciais;
Princípio da não acumulação de funções: artigo 210 nº3,4 e 5;

Princípio da independência está no artigo 4, princípio da irresponsabilidade no artigo 5, princípio da


inamovibilidade no artigo 6 da Lei nº 21 85 30 de junho, alterada já várias vezes, a última alteração foi a lei nº
114/2017 de 29 de dezembro; No artigo nº7, da referida lei, temos os impedimentos que associamos ao princípio
da independência dos tribunais; Artigo 11e 12 relacionados com o princípio da imparcialidade; Artigo 13 temos
a questão da proibição da acumulação de funções exceto da investigação científica; Artigo 16 associado à
questão da responsabilidade dos magistrados judiciais (os magistrados, quando responsabilizados por um crime,
não podem ser presos ou detidos antes de ser proferido um despacho que designe que são condenados); Artigos
17, 81 até ao 109 não sai na frequência.

Artigo 218 + artigo 111 e 148 da Constituição: um órgão importante para os juizes é o Conselho
Superior de Magistratura. Ou seja o CSM é o órgão superior dos juizes e a Procuradoria Geral da República e o
órgão superior do Ministério Público, artigo 220. Ou seja, o CSM é aquele que aplica as penas, as infrações

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disciplinares aos juizes, avalia os juizes e dita as regras que regulam, de acordo com a lei, o estatuto dos juizes.
A PGR é designada pelo Presidente da República, artigo 133 alínea m) e o procurador geral da República é o
garante do interesse público.

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Questões que podem sair no teste:

1. O que são atos legislativos? Que atos legislativos conhece?

Nos termos do art. 112 nº1 da Constituição, são atos legislativos apenas as leis da Assembleia da
República, os decretos-lei do Governo e os decretos legislativos regionais das Assembleias Legislativas
Regionais dos Açores e da Madeira. Os atos legislativos são atos normativos e são compostos por regras e
princípios (por normas) mas, ao contrário de outros atos normativos, como por exemplo os regulamentos, as
portarias, os estatutos (não das Regiões Autónomas), etc., nascem de um procedimento legislativo formal: a lei
da Assembleia da República nasce no contexto de um procedimento legislativo parlamentar, o decreto-lei surge /
nasce no contexto de um procedimento legislativo governamental (no âmbito do Conselho de ministros) e o
decreto legislativo regional surge no contexto do procedimento legislativo parlamentar (mas de âmbito regional,
na Assembleia Legislativa Regional).

2. Explique o que entende por princípio da reserva de lei e da prevalência da lei.


Pirâmide:

1º - Constituição
.

2º - leis da Assembleia da República com valor reforçado

3º - atos legislativos da Assembleia da República sem valor reforçado,


os decretos-lei do Governo e os decretos legislativos regionais**

4º - restantes atos normativos (regulamentos, portarias, estatutos, etc.)

Primeiro é o princípio da reserva de lei que significa que certas matérias só podem ser objeto de lei da
Assembleia da República, ou seja, nenhum outro órgão poderá legislar sobre as matérias que, na Constituição,
são reservadas à competência legislativa exclusiva da Assembleia da República.
A reserva de lei pode ser absoluta ou relativa. Reserva absoluta de lei diz respeito às matérias do artigo
164 da Constituição que só podem ser objeto de lei da Assembleia da República (e nunca existir uma
autorização para legislar). A reserva relativa da competência legislativa da Assembleia da República, nos termos
do artigo 165 + 198 nº1 alínea b) + 227 alínea b), as matérias incluídas no referido artigo 165 só podem ser
objeto de lei da Assembleia da República, salvo se a Assembleia autorizar o Governo a legislar sobre as matérias
do referido artigo 165 (+198 nº1 alínea b)), através de uma lei de autorização, ou autorizar as Assembleias
Legislativas Regionais a legislar sobre algumas (não todas) das matérias que constam no artigo 165, tal como é
referido no artigo 227 nº1 alínea b) da Constituição.

O princípio da prevalência da lei significa que certas leis da Assembleia da República estão
posicionadas na pirâmide hierárquica normativa acima de qualquer outro ato normativo com excessão da
Constituição. Ou seja, por outras palavras, essas leis não podem ser modificadas nem revogadas por nenhum
outro ato normativo ou legislativo, com excessão da lei constitucional ou outras leis com valor reforçado. Essas
leis designam-se por leis com valor reforçado e só podem ser modificadas ou revogadas por outras leis de valor
reforçado ou quando existir uma alteração da Constituição. Por exemplo: uma lei de bases pode ser modificada
ou revogada por outra lei de bases mas nunca por um decreto-lei, nem por uma outra lei da Assembleia da
República sem valor reforçado.
Tipos de lei com valor reforçado (todas ao mesmo nível e em conformidade umas com as outras):
Lei orgânica, leis que nos termos do artigo 168 nº6 para serem aprovadas carecem de terem voto
favorável de 2/3 de deputados presentes, desde que superior há maioria absoluta dos deputados em efetividade

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de funções, leis de autorização, leis de bases, leis de enquadramento ou leis quadro. Este tipo de leis só está
abaixo da Constituição, todos os atos normativos têm de obedecer a estas.
Estas leis da Assembleia da República com valor reforçado situam-se no âmbito da competência
exclusiva legislativa da Assembleia da República. Então, este princípio encontra-se no segundo patamar na
pirâmide hierárquica normativa acima referida, bem como a reserva de lei.

3. Explique o que entende por princípio da tendencial paridade entre lei e decreto lei.
Significa que as leis da Assembleia da República sem valor reforçado e os decretos-lei estão numa
situação de paridade ou igualdade, no sentido em que uma lei da Assembleia da República sem valor reforçado
pode modificar ou revogar um decreto-lei e o decreto-lei do Governo pode modificar ou revogar uma lei da
Assembleia da República sem valor reforçado (por exemplo, um decreto-lei novo pode modificar uma lei da
Assembleia da República mais antiga desde que esta não tenha valor reforçado), princípio este que se encontra
no 3º patamar da pirâmide hierárquica. Este princípio situa-se ou pode ser invocado no contexto da competência
legislativa concorrencial entre a Assembleia da República e o Governo. Competência concorrencial incide sobre
matérias que não são objeto da atividade legislativa exclusiva do Governo ou da Assembleia da República. Por
outras palavras, a competência concorrencial pode ser fundamentada com o artigo 161 alínea c) (primeira parte)
+ 198 nº1 alínea a).
** Apesar de não ser possível invocar o princípio da tendencial paridade entre decreto-lei ou lei e
decreto legislativo regional, o decreto legislativo regional encontra-se no 3º patamar da pirâmide hierárquica
normativa porque as Assembleias Legislativas Regionais (Açores e Madeira) têm competência legislativa
própria, ou seja, podem legislar para a Região Autónoma respetiva sem que esses decretos legislativos regionais
possam ser modificados ou alterados por uma lei (sem valor reforçado) ou por um decreto-lei, em virtude do
princípio da autonomia legislativa da Região Autónoma (art. 227 nº1 alínea a)).

4. O que são leis de valor reforçado?

As leis de valor reforçado são leis da Assembleia da República que só podem ser modificadas ou
revogadas por outras leis de valor reforçado ou pela lei Constitucional. Todos os restantes atos legislativos ou
normativos têm de obedecer a essas leis.

Lei orgânica: incide sobre procedimento de criação e eleição de órgãos, procedimentos de aquisição de
nacionalidade, organização de órgãos;
Decretos da Assembleia da República: incidem sobre matérias do artigo 166 nº2 devem ser
promulgados pelo Presidente da República como lei orgânica.

Um decreto da Assembleia da República que será promulgado como lei orgânica ou que incide sobre
matéria de lei orgânica, a Constituição exige, nos termos do artigo 168 nº5, que tal decreto seja aprovado por
maioria absoluta pelos deputados em efetividade de funções.
Para que a Assembleia da República consiga ultrapassar um veto político do Presidente da República
quando o decreto da Assembleia da República incide sobre matéria de lei orgânica, é necessário nos termos do
artigo 136 nº3 uma maioria mais agravada, ou seja, uma maioria de 2/3 dos deputados presentes desde que
superior à maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções.
No processo de fiscalização preventiva da Constitucionalidade (quando a norma ainda não está em
vigor) que incide sobre um decreto de matéria de lei orgânica tem legitimidade para requerer para o Tribunal
Constitucional não só o Presidente da República mas também o Primeiro Ministro ou 1/5 dos deputados em
efetividade de funções (ou seja, 1/5 dos 230). Art. 278 nº4.

Leis que incidem sobre as matérias do artigo 168 nº6 da Constituição. Tal como as leis orgânicas, estas
leis também carecem de maioria ou maioria agravada para serem aceites, pelo art. 168 nº6. Outras leis com valor
reforçado são as leis de autorização cujo regime está previsto no artigo 165 da Constituição.

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Lei de autorização - é uma lei da Assembleia da República que incide apenas sobre matéria da
competência exclusiva relativa deste orgão, ou seja, sobre as matérias do art. 165 nº1. Esta lei de autorização,
nos termos do art. 165 nº2, fixa o objeto, o sentido, a extensão e a duração da autorização legislativa ao
Governo ou à Assembleia Legislativa Regional. Objeto sobre a matéria que pode legislar, identifica qual é a
alínea, o sentido fixa que o Governo pode legislar obedecendo a determinados princípios, qual é a finalidade e
os limites dessa autorização (quer limites de conteúdo, quer temporais). Ou seja, vai fixar uma data até à qual o
Governo pode legislar e de que forma o Governo ou a Assembleia Legislativa Regional legisla de acordo com
uma lei da autorização: 1º se for o Governo, pode legislar sobre qualquer uma das matérias do artigo 165,
obedecendo a uma lei de autorização, através de um decreto-lei autorizado; 2º se for a Assembleia Legislativa
Regional, pode legislar sobre algumas das matérias do artigo 165 (+227 alínea b)) através de um decreto
legislativo regional autorizado.
Nos termos do artigo 165 nº3, para cada decreto lei autorizado ou para decreto legislativo regional
autorizado pode existir uma lei de autorização, no entanto, o conteúdo da lei de autorização pode permitir a
execução parcelada do ato legislativo em conformidade com a lei de autorização.
Nos termos do artigo 165 nº4, as autorizações legislativas caducam (ficam sem efeito) com a demissão
do Governo, se tiverem sido concedidas antes da demissão do Governo e este não as utilizou. Esta é uma lei
apenas dirigida ao Governo e às Assembleias Legislativas Regionais, ou por outras palavras, não vinculam
diretamente os particulares. O que vincula diretamente os particulares são os decretos-lei autorizados e os
decretos legislativos regionais autorizados (para as Regiões Autónomas). No entanto, os cidadãos (particulares)
podem invocar uma lei de autorização em tribunal, por exemplo, quando um decreto lei autorizado está em
contradição com o conteúdo de uma lei da autorização, tornando-o inválido. Os particulares podem invocar essa
ilegalidade. Nota: Existe uma ilegalidade quando um ato normativo viola uma lei com valor reforçado.
Ainda no âmbito deste artigo, as autorizações legislativas (ou lei de autorização) caducam também com
o termo da legislatura (fazer a remissão para o art. 171 nº1 e deste fazer uma remissão para o art. 174 nº1 e 2).
As autorizações legislativas caducam com a dissolução da Assembleia da República.
Nos termos do artigo 165 nº5, a lei do Orçamento de Estado é aprovada pela Assembleia da República,
sob proposta do Governo, pois quem executa o Orçamento de Estado é o Governo. Na lei do Orçamento de
Estado podem existir autorizações legislativas ao Governo. Se essas autorizações legislativas incidirem sobre
matéria fiscal (criação de impostos, benefícios fiscais, etc.) estas só caducam no termo do ano económico a que
dizem respeito.
A competência legislativa autorizada do Governo está prevista no artigo 198 nº1 alínea b) e a
competência legislativa autorizada da Assembleia Legislativa Regional está prevista no artigo 227 nº1 alínea b),
ou seja, competência que só pode ser exercida mediante uma lei de autorização da Assembleia da República.

Leis de base - leis da Assembleia da República que podem existir quer no contexto da competência
exclusiva da Assembleia da República, quer absoluta, quer relativa, quer no âmbito da competência
concorrencial entre a Assembleia da República e o Governo. Estas leis fixam apenas os princípios e as regras
gerais de um determinado regime jurídico que será desenvolvido por:
Governo: decreto-lei de desenvolvimento ou decreto-lei de desenvolvimento autorizado (artigos 164 alínea i) e
165 alíneas f), g), n), t), u) e z) + artigo 198 nº1 alínea c) da Constituição)
Assembleia Legislativa Regional: desenvolve os princípios e regras das leis de base através de um decreto
legislativo regional de desenvolvimento, que pode ser também um decreto legislativo regional de
desenvolvimento autorizado no contexto do artigo 165, conjugado com os artigos 227 alínea b) (no que diz
respeito às matérias sobre as quais a Assembleia República não pode legislar) + competência de
desenvolvimento (artigo 227 nº1 alínea c)). No entanto, há matérias sobre as quais a assembleia legislativa
regional não pode legislar (exemplo, artigo 165 alínea t)).

As leis de bases não têm prazo fixado para o seu desenvolvimento e vinculam diretamente os
particulares, para além de vincularem diretamente os restantes órgãos do poder político. Esta não contém
procedimentos, não é uma lei processual, é apenas uma lei substantiva (substância). A lei de bases, no âmbito da
competência concorrencial legislativa entre o Governo e a Assembleia da República segue o princípio da
tendencial paridade entre lei e decreto lei, pois não incide em matérias da exclusiva competência da Assembleia
da República (pode incidir em todas as matérias exceto as dos artigos 164, 165 e 198 nº2). A lei de bases, neste
âmbito, continua a ser uma lei da Assembleia da República, no entanto, no âmbito da competência concorrencial
legislativa, o Governo pode modificar, através de decreto-lei, uma lei de bases.

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Leis de enquadramento ou leis quadro - leis da Assembleia da República que fixam um determinado
regime jurídico, nomeadamente os princípios e as regras de um determinado regime, podendo incidir também
sobre procedimentos ou sobre leis processuais (legitimidade, formas de conseguir alguma coisa, procedimento
de determinado processo de obtenção de algo, etc.) e surgem no contexto da competência legislativa exclusiva
absoluta e relativa da Assembleia da República. Assim, é só excluir as matérias de leis de base ou de leis
orgânicas. Ou seja, excluindo as alíneas do artigo 166, tudo o resto pode ser objeto de leis de enquadramento.
Exemplo: artigo 164 alínea r) e u) como exemplo de lei de enquadramento. No artigo 165, tudo o que não seja
lei de bases pode ser uma lei de enquadramento, como a alínea m), a) ou b), do referido artigo, desde que fixe
princípios e um conteúdo. Esta lei pode ser desenvolvida, quer pelo Governo, quer pela Assembleia Legislativa
Regional no âmbito das suas competências de desenvolvimento (artigos 198 nº1 alínea c) e 227 nº1 alínea c)). A
diferença mais simples entre a lei de bases e a lei de enquadramento é que esta última pode conter leis
processuais e a lei de bases apenas contém apenas princípios, conceitos e regras gerais.

Diferenças:
Lei de enquadramento:
Versa sempre sobre matérias de reserva absoluta ou relativa de lei;
A Assembleia da República está obrigada pela Constituição a criar uma lei de enquadramento, pois são
matérias da exclusiva competência;
Lei medida, ou seja, pode conter normas ou regras processuais;
É desenvolvida por atos legislativos complementares. Exemplo: decreto lei de desenvolvimento e o
decreto legislativo regional de desenvolvimento;
Só não revoga o ato legislativo complementar que obedece à lei de enquadramento anterior se essa lei
de enquadramento for a lei orçamental pois, esta tem a duração de 1 ano. A nova lei de enquadramento só
produz efeitos para o futuro. Exemplo: a lei de enquadramento das forças de segurança pública que entrou em
vigor em janeiro de 2019, se entrar uma nova lei de enquadramento das forças de segurança pública em março
de 2019, ela pode modificar ou revogar a lei de enquadramento antiga e pode ainda modificar e revogar os
decretos de desenvolvimento complementares que foram criados ao abrigo da lei antiga.
Lei de base:
Versa sempre sobre matérias absoluta, relativa ou concorrencial;
A Constituição só obriga a Assembleia da República a legislar, mediante lei de bases, as matérias da
competência exclusiva deste orgão de soberania. A Assembleia da República não está obrigada, pela
Constituição, a criar lei de bases em matéria concorrencial;
É apenas lei substância (geral e abstrata), não contém regras processuais;
Também é desenvolvida por atos legislativos complementares;
Exemplo: a lei de bases nova, que entrou em vigor em março de 2019 pode modificar ou revogar a lei
de bases antiga, que vigorou até 28 fevereiro de 2019 e ainda pode modificar e revogar os atos legislativos de
desenvolvimento, criados ao abrigo das leis de bases antiga.
Lei de autorização:
Versa sempre sobre matérias da competência exclusiva relativa da Assembleia da República;
A Assembleia da República está obrigada pela Constituição a criar uma lei de enquadramento, pois são
matérias da exclusiva competência;
Não refere procedimentos, apenas impõe limites à atividade legislativa do Governo, quanto ao objeto,
ao sentido e à duração / extensão do conteúdo do ato legislativo autorizado;
Serve de fundamento e de limite a atos legislativos, nomeadamente ao decreto-lei autorizado ou ao
decreto legislativo regional autorizado;
Tem uma duração. Exemplo: a lei de autorização de fevereiro de 2019 que imponha ao Governo o
prazo de um mês para legislar sobre determinada matéria, não pode revogar o decreto do Governo que foi
emitido ao abrigo da lei de autorização de fevereiro mas, a Assembleia da República, se o Governo não legislar
no prazo referido, pode não voltar a conceder a autorização legislativa. O que acontece também com a
Assembleia Legislativa Regional. Antes de terminado o prazo para o Governo legislar, a Assembleia da
República pode revogar a autorização e conceder uma outra autorização com um novo prazo. Quando uma lei de
autorização antiga (de fevereiro, por exemplo) concede uma autorização ao Governo uma autorização para ele
legislar até ao final de março e este legisla no prazo autorizado, se a Assembleia da República conceder uma
nova autorização sobre o mesmo objeto, mesmo com sentido diferente da anterior autorização, esta nova
autorização revoga a anterior mas não revoga o ato legislativo do Governo ou da Assembleia Legislativa
Regional criada ao abrigo da autorização anterior. No entanto, o Governo ou a Assembleia Legislativa Regional
respectivamente, será ele a criar o decreto-lei que esteja em conformidade com a nova lei de autorização.

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Válido para todos: Quando um decreto lei ou decreto legislativo viola o conteúdo de uma lei de
enquadramento, de uma lei de bases, de uma lei de autorização, de uma lei orgânica ou mesmo qualquer outra
lei com valor reforçado, esse ato legislativo menor é ilegal. Quando o ato legislativo do Governo, um decreto
legislativo ou um decreto legislativo regional é aprovado sem que exista uma lei de autorização que permita a
atividade legislativa do Governo ou da Assembleia Legislativa Regional, no âmbito do artigo 165 da
Constituição, estamos perante uma inconstitucionalidade.
Para que exista uma ilegalidade, é necessário que um ato legislativo não obedeça ao conteúdo de uma
lei de valor reforçado.
Existe uma inconstitucionalidade, neste âmbito, quando: existe uma ilegalidade (violação do principio
da legalidade, violação do principio da prevalência da lei) e quando o Governo ou a Assembleia Legislativa
Regional legislam sobre uma matéria que era da competência absoluta da Assembleia da República ou da
competência relativa, sem que para tal tenha existido uma autorização, violando-se assim o princípio da reserva
de lei.

Uma lei de bases e uma lei de enquadramento vinculam diretamente os cidadãos, para além de
vincularem as identidades públicas. A lei de autorização só vincula diretamente o Governo e as Assembleias
Legislativas Regionais.

5. Defina, através de um exemplo prático, no contexto do poder legislativo o que entende por:

• Competência absoluta legislativa: refere-se à competência exclusiva da Assembleia da República ou


do Governo, sendo que o termo competência absoluta está associado, expressamente na Constituição,
ao princípio da reserva absoluta de competência legislativa da Assembleia da República (artigo 164).

• Competência relativa: refere-se à competência legislativa exclusiva relativa da Assembleia da


República (artigo 165), no âmbito da reserva relativa de lei.

• Competência legislativa exclusiva: refere-se à competência exclusiva absoluta e relativa da


Assembleia da República no âmbito dos artigos 164 e 165, à competência legislativa exclusiva do
Governo, artigo 1998 nº2 e à competência legislativa própria das regiões autónomas, no âmbito do
artigo 227 alínea a) (conjugada com o acórdão).

• Competência concorrencial: refere-se à competência legislativa concorrencial entre a Assembleia da


República e o Governo, no âmbito do princípio da tendencial paridade ou posição de igualdade entre
lei e decreto-lei (ou seja, ambos se podem modificar e revogar mutuamente).

—————————————————————————————————————————————

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Artigo 112
Artigo 112 nº2:

Primeira parte: Princípio da tendencial paridade entre lei e do decreto-lei, no âmbito da 161 alínea c) (primeira
parte). Em relação ao governo artigo 198 nº1 alínea a) que diz respeito à competência concorrencial do
Governo, ou seja, conjunto de matérias que não estão nos artigos 164 e 165 e sobre a qual o Governo pode
legislar. Este princípio significa que ambos se podem revogar e modificar mutuamente.

Segunda parte: diz respeito ao princípio da prevalência da lei com valor reforçado, nomeadamente (neste artigo)
a lei de autorização e a lei de bases da Assembleia da República às quais, respetivamente, os decretos-lei
autorizados ou os decretos-lei de desenvolvimento estão / são subordinados, em relação às leis reforçadas (artigo
165 — leis de autorização — + artigo 198 nº1 alínea b) — em relação aos decretos leis autorizados =
competência legislativa autorizada / delegada —; artigo 164 alínea i) + 165 alíneas f), g), n), t), u) e z) — em
relação às leis de bases no uso da competência legislativa exclusiva da Assembleia da República — + 198 nº1
alínea c) — competência de desenvolvimento ou complementar)

Artigo 112 nº3: tem valor reforçado as leis orgânicas (artigo 166 nº2), as leis que carecem de
aprovação por maioria de 2/3 (artigo 168 nº6), “bem como aquelas que por força da Constituição sejam
pressuposto normativo de outras… respeitadas” que são as leis de bases, as leis de autorização e as leis de
enquadramento (estas leis estão acima de qualquer outra lei da Assembleia da República). As leis de valor
reforçado são superiores e as outras têm de estar de acordo com estas leis superiores. Nesta última parte do
artigo, quando diz “pressuposto necessário de outras leis…” refere-se ao princípio da prevalência da lei.

Artigo 112 nº4: os decretos legislativos regionais, quer da Assembleia Legislativa Regional dos Açores
quer da Assembleia Legislativa Regional da Madeira, só podem ser aplicados na região respetiva (âmbito
regional). As Assembleias Legislativas Regionais têm competências legislativas exclusivas (artigo 227 nº1
alínea a)) o que significa que, em matéria de interesse específico da região, as Assembleias Legislativas
Regionais podem legislar sobre essas matérias, que não estão abrangidas nem na competência legislativa
exclusiva da Assembleia da República nem na competência legislativa exclusiva do Governo (artigo 164, 165 e
198 nº2). No entanto, as Assembleias Legislativas Regionais podem:

- legislar sobre algumas matérias da competência legislativa exclusiva relativa da Assembleia da


República se, por esta, forem autorizadas (artigo 165 + 227 nº1 alínea b)). Assim, a Assembleias
Legislativas Regionais podem aprovar decretos legislativos regionais autorizados, mas não sobre
todas as matérias (artigo 227 alínea b));

- competência legislativa autorizada ou delegada da Assembleia Legislativa Regional (remete para o


artigo 165);

- As Assembleias Legislativas Regionais podem desenvolver as leis da Assembleia da República de


bases e de enquadramento, no âmbito da sua competência de desenvolvimento ou complementar
(artigo 227 nº1 alínea c));

- As Assembleias Legislativas Regionais também podem desenvolver os princípios, os regimes dos


decretos-lei do Governo;
-

Estatuto da Região Autónoma dos Açores: artigos do próprio estatuto da região autónoma
- Competência legislativa exclusiva própria - artigo 37
- Competência legislativa complementar ou de desenvolvimento (leis de bases, leis de enquadramento
ou de decretos-lei que contenham regimes gerais) - artigo 38
- Competência legislativa delegada ou autorizada por lei de autorização - artigo 39
- Entre o artigo 49 e o artigo 67 estão descriminadas as matérias de interesse específico para a região
(matérias da sua competência própria)

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Estatuto da Região Autónoma da Madeira: artigos do próprio estatuto da região autónoma
- Competência legislativa própria - artigo 37 nº1 alínea c) + artigo 40
- Competência delegada - artigo 37 nº1 alínea d), nesta alínea acrescentar “+ 227 nº1 alínea b) da
Constituição”
- Competência de desenvolvimento - artigo 37 nº1 alínea e) + artigo 227 nº1 alínea c) da Constituição

Artigo 112 nº5: princípio da tipicidade dos atos legislativos, só existem os atos legislativos que estão
previstos na Constituição e nenhum outro ato normativo pode revogar, modificar ou interpretar estes atos
legislativos. Só existem os atos legislativos que estão previstos no artigo 112 nº1 (lei, decreto-lei e decreto
legislativo regional). Nem a Assembleia da República nem o Governo podem criar outros atos legislativos.

Casos práticos das Leis de Valor Reforçado:

1. AR decide alterar a lei-quadro da política de emprego que estabelece os princípios gerais de


enquadramento da política de emprego.
a) Será que a Assembleia da República pode alterar esta lei-quadro? Uma lei de enquadramento é
uma lei aprovada pela Assembleia da República, uma lei com valor reforçado aprovada pela Assembleia da
República. As leis de enquadramento só incidem sobre matéria da exclusiva competência, quer absoluta quer
relativa, da Assembleia da República. Se esta lei de enquadramento diz respeito a princípios fundamentais do
direito de trabalho é uma matéria que estará relacionada com os direitos fundamentais e, desta forma, a
Assembleia da República pode legislar sobre esta matéria no âmbito do artigo 165 nº1 alínea b).
b) Será que esta lei pode conter normas procedimentais sobre a prática de actos jurídicos pelos
Centros de Emprego? A lei de enquadramento não é só substantiva mas também processual, pode conter
normas procedimentais.
c) Será que o Governo pode criar uma lei quadro sobre esta matéria? Não, o Governo não pode
criar uma lei de enquadramento, só a Assembleia da República, no âmbito da sua competência exclusiva.
d) Será que o Governo pode desenvolver esta lei quadro? Sim, pode desenvolver esta lei quadro, se
for autorizado, nos termos do artigo 165 nº1 alínea b) + 198 nº1 alínea c) (primeira parte) + 198 nº1 alínea b), se
existir uma lei de autorização da Assembleia da República que lhe permita (ao Governo) desenvolver a lei de
enquadramento.
E a Assembleia Legislativa Regional da Madeira? Em regra geral a Assembleia Legislativa Regional
da Madeira pode desenvolver as leis de enquadramento da Assembleia da República, no entanto, existem certas
matérias que, nos termos do artigo 227 nº1 alínea b), c) (primeira parte) + artigo 37 nº1 alínea e), não podem ser
objeto de um decreto legislativo regional. Se a lei de enquadramento incide sobre os direitos fundamentais
associados ao emprego, a Assembleia Legislativa Regional (Madeira e Açores) não poderá legislar.

2. A Assembleia da República decide alterar a Lei de Bases do Ambiente.


a) Será que o pode fazer? Sim, a Assembleia da República pode criar uma lei de bases sobre o
ambiente, uma vez que esse competência está prevista no âmbito da reserva relativa de lei do artigo 165 nº1
alínea g). Como tal, a Assembleia da República pode alterar essa lei de bases. É uma lei de bases com valor
reforçado, só podendo ser alterada por outra lei, com o mesmo conteúdo, de valor reforçado.
b) E o Governo? E a Assembleia legislativa regional? Não, nem o Governo nem a Assembleia
Legislativa Regional podem alterar uma lei de bases do ambiente porque trata-se de uma lei com valor reforçado
aprovada no contexto do princípio da reserva relativa de lei da Assembleia da República.
c) Será que o Governo e a Assembleia Legislativa Regional podem desenvolver esta lei de bases?
O Governo pode desenvolver esta lei de bases através de um decreto-lei de desenvolvimento, nos termos dos
artigos 165 nº1 alínea g) + 198 nº1 alínea c). A Assembleia Legislativa Regional pode desenvolver a lei de bases
através de um decreto legislativo regional de desenvolvimento nos termos dos artigos 227 nº1 alínea c) + as
normas dos estatutos dos Açores e da Madeira, respetivamente, artigos 38 e 37 nº1 alínea e).

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d) Será que a lei de bases pode conter normas procedimentais? Não, a lei de bases é apenas lei
substantiva e não contém regras processuais.
e) Será que lei de bases pode revogar um decreto- lei de desenvolvimento anterior contrário às
disposições novas da lei de bases? Uma nova lei de bases ou uma lei de bases que entre em vigor em
1.01.2019 que altera lei de bases anteriores, sobre a mesma matéria, vai revogar um decreto-lei de
desenvolvimento da lei de bases antiga em tudo o que esse decreto for contrário a essa nova lei de bases, porque
a lei de bases é uma lei com valor reforçado, superior ao decreto-lei de desenvolvimento, que é uma norma
complementar da lei de bases.
f) Se a lei de bases for modificada e o decreto-lei de desenvolvimento não o for, qual a
consequência? A lei de bases é uma lei com valor reforçado. Se algumas das disposições da lei de bases, por
exemplo, do ambiente, forem modificadas por outra lei de bases do ambiente, o Governo deve modificar os
decretos-lei de desenvolvimento da referida lei de bases de acordo com o conteúdo da nova lei de bases, sob
pena de existir uma ilegalidade por violação do princípio da prevalência da lei de bases sobre o decreto-lei de
desenvolvimento. O princípio da prevalência da lei é um princípio constitucional (artigo 112 nº2 - última parte).

3. A Assembleia da República decide conceder uma lei de autorização ao Governo para que este legisle
sobre matéria de saúde pública?
a) Será que o pode fazer? Pode, nos termos do artigo 165 nº1 alínea b) e alínea f) (segunda parte, se
for uma matéria relativa aos hospitais públicos, ás taxas moderadoras, ao serviço nacional de saúde, etc.). É uma
matéria da competência exclusiva relativa da AR e encerse também na competência legislativa autorizada /
delegada do governo (artigo 198 alínea b)).
b) Será que um particular pode invocar num tribunal uma lei de autorização para fazer valer os
seus direitos? As leis de autorização vinculam diretamente apenas os destinatários dessa autorização legislativa,
ou seja, o Governo e a Assembleia legislativa regional, no entanto, num caso / processo concreto levado a
tribunal, um decreto-lei autorizado ou um decreto legislativo regional autorizado sobre determinada matéria
pode aplicar-se ao caso concreto e se este decreto lei autorizado ou o decreto legislativo regional autorizado não
está de acordo com o conteúdo da lei de autorização (artigo 165 nº2) então, o decreto lei ou o decreto legislativo
regional, são ilegais por violação do princípio da prevalência da lei (também é uma inconstitucionalidade).
Se o Governo ou a Assembleia legislativa regional criam um decreto sobre matérias do artigo 165 sem
que a AR aprove sobre essa matéria uma lei de autorização, então, os decretos são inconstitucionais (não são
ilegais pois não estão na lei) por violação do princípio da reserva relativa lei.
c) A modificação do sentido da lei de autorização tem por consequência a revogação de um
decreto-lei autorizado sobre matérias objecto da anterior autorização? Uma lei de autorização, ao contrário
de uma lei de bases ou ao contrário de uma lei de enquadramento, estabelece um prazo para o Governo ou a
Assembleia Legislativa Regional legislar (artigo 165 nº2 e 3). As autorizações legislativas equivalem a uma
autorização para o Governo ou Assembleia Legislativa Regional legislar sobre uma determinada matéria num
certo prazo (artigo 165 nº3) sem prejuízo do Governo puder executar essa autorização legislativa mediante
vários decretos-leis autorizados (o mesmo se aplica à região autónoma) sobre a mesma matéria, no tempo fixado
pela lei de autorização. Chama-se a isto (a esta possibilidade) a execução parcelada da autorização legislativa.
Tem de ser no prazo previsto. Se o Governo legisla dentro do prazo fixado pela lei de autorização e de acordo
com a lei de autorização e se a Assembleia da República, após essa data, aprova uma nova lei de autorização
sobre saúde pública, esta nova lei de autorização não revoga automaticamente o decreto-lei autorizado do
Governo ao abrigo da lei de autorização anterior. No entanto, o Governo tem de emitir um novo decreto-lei
autorizado em conformidade com a nova lei de autorização, revogando o decreto-lei do Governo, emitido ao
abrigo da lei de autorização anterior.
d) A lei de autorização autoriza o Governo a legislar sobre esta matéria até ao dia 27 de Março.
No dia 5 de Março a Assembleia da República decide revogar a autorização. Será que o Governo ainda
poderia legislar? Não, porque o Governo, se até ao dia 4 de março não tivesse ainda legislado, não poderia
legislar após essa data, supondo que, no dia 5 de março foi revogada a autorização e entrou em vigor essa
revogação da autorização nesse dia. O Governo já não poderia legislar porque já não existia a autorização
legislativa.

Artigos do estatuto político administrativo dos Açores: 1, 2, 3, 5, 7, 10, 36 até 39, 49 até 67, 106, 107

Artigos do estatuto político administrativo dos Madeira: 1, 3, 4, 5, 6, 37, 40, 82, 83, 84, 85, 86, 97 até 100

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Estatuto Político Administrativo da Região Autónoma dos Açores – artigos importantes:
Artigo 1:

A região autónoma pode adotar políticas autónomas para a região e tem capacidade de criar atos
legislativos, através das Assembleias Legislativas Regionais, para além do próprio Governo poder criar decretos
que se aplicam apelas na região autónoma. Tem património próprio e bens próprios da região. O que nos
interessa é a autonomia legislativa (poder legislativo da Assembleia Nacional).

Autonomia Legislativa das Regiões Autónomas

O poder legislativo da Assembleia Legislativa Regional, ou seja, o poder de criar decretos-legislativos


regionais. Um dos princípios que resultam, quer da Constituição (art. 227 e art. 6, nº 2), consagra o princípio da
autonomia legislativa, sabendo que a região autónoma também tem autonomia política, pode criar autonomia
financeira, pode criar o orçamento regional, significando assim: a região autónoma pode criar as suas políticas
(e outras) através/com recurso ao seu orçamento próprio, autonomia administrativa (poder de emitir atos
administrativos e regulamentos, independentemente do poder administrativo central, apenas devendo obediência
à lei), autonomia patrimonial (bens móveis e imóveis próprios).

O princípio da aplicabilidade das políticas e da legislação regional apenas num território da região
autónoma, por exemplo: a Assembleia Legislativa Regional da Madeira não pode aplicar um decreto nem no
Continente nem nos Açores, apenas na Madeira.

A região autónoma deve executar a sua legislação política tendo em conta o seu orçamento regional
respetivo.

Na sua atividade política, legislativa e administrativa, a região autónoma deve obedecer ao princípio da
igualdade. Isto significa que, só é possível criar um ato legislativo regional com conteúdo desigual a um ato
legislativo que se aplica no continente, quando a situação de facto da região autónoma é diferente da situação do
continente e, desta forma, se justifica um tratamento diferenciado – em função da situação geográfica, acessos à
saúde, cuidados médicos, entre outros.

Artigo 36, nº 1: competência de iniciativa legislativa, que significa que uma identidade pode
apresentar propostas ou projetos de lei à Assembleia da República; os deputados da Assembleia Legislativa
Regional vão apresentar projetos do seu estatuto da Região Autónoma, para serem aprovados, pela Assembleia
Legislativa Regional.Quando o projeto é aprovado, a Assembleia Legislativa Regional transforma-o e proposta
de lei a apresentar à Assembleia da República porque é a Assembleia da República que vai aprovar o Estatuto da
Região Autónoma, que é uma lei com valor reforçado — artigo 168 nº6 alínea f) da Constituição — e é uma
competência exclusiva da Assembleia Legislativa Regional, ou seja, esta vai apresentar a proposta à Assembleia
da República mas só a Assembleia da República pode aprovar (= artigo 37 alínea a) e b) do Estatuto da Madeira)

Artigo 37: competência legislativa própria, ou seja, quando é que a Assembleia Legislativa Regional
pode legislar sem interferência do Governo e da Assembleia da República (conjugar com art. 227, nº 1, alínea
a) da Constituição)

Artigo 49 ao artigo 67: matérias de competência própria. (= Artigo 37 nº1 alínea c) + artigo 40 do
Estatuto da Madeira)

A competência legislativa própria da Assembleia Legislativa Regional é limitada,


cumulativamente:

1. Princípio da autonomia legislativa regional, de acordo com os Estatutos das Regiões Autónomas
(referidos artigos, 37 alínea c), 49 a 67 e artigo 40) podem legislar sobre matéria de interesse específico, apenas
para o território da região. O conteúdo da legislação regional não pode violar o princípio da igualdade de
direitos entre os cidadãos do Continente e das Ilhas. No entanto, de acordo com o princípio da igualdade, é
possível tratar diferente aquilo que é diferente em virtude, por exemplo, de fatores geográficos, as condições de

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acesso à saúde, etc. (não viola o princípio da igualdade). A execução da legislação tem de estar apoiada /
suportada pelo Orçamento Regional e não pelo Orçamento Nacional. As Regiões Autónomas têm um Orçamento
próprio.

Exemplo: tanto a Assembleia da República (artigo 165 alínea b) e g)) como as Assembleias Legislativas
Regionais (artigo 57 do Estatuto dos Açores + artigo 40 nº jj e oo) podem legislar sobre o ambiente. No entanto,
certos aspetos relacionados com o ambiente estão englobados na competência exclusiva da Assembleia da
República, como por exemplo o conteúdo do direito fundamental ao ambiente. Tanto a Assembleia dos Açores
como a da Madeira, podem criar legislação de forma exclusiva exclusiva sobre o ambiente tendo em conta,
cumulativamente, os supramencionados princípios. Assim, por exemplo, um decreto legislativo regional sobre a
proteção da foca monge (espécie que aparece nas águas ao largo da Madeira), a Assembleia Legislativa
Regional legisla sobre esta matéria aplicando apenas esta legislação ao território da Madeira (se aplicar ao
Continente ou à Região Autónoma dos Açores é inconstitucional). A proteção de uma espécie não viola a lei de
bases da Assembleia da República sobre o ambiente e não viola o princípio da igualdade dos direitos dos
cidadãos (a proteção de uma espécie beneficia todos) e as medidas de proteção são suportadas pelo Orçamento
Regional.

Artigo 38 (= artigo 37 nº1 alínea e) do Estatuto da Madeira): competência legislativa complementar –


certas matérias são criadas por decreto-lei do Governo logo, existe uma legislação que se aplica a todo o
território português então, também a Assembleia Legislativa Regional pode desenvolver os decretos-leis do
Governo (art. 227, nº 1, alínea b), última parte – não pode desenvolver, nem sequer autorizar).
nº 3: a competência legislativa complementar da Assembleia Legislativa Regional vai para
além das matérias elencadas no Estatuto como competência própria da Assembleia Legislativa Regional, uma
vez que, as matérias da competência complementar da Assembleia Legislativa Regional, são aquelas que estão
elencadas no artigo 165 da Constituição e que não estão vedadas pelo artigo 227, nº 1, alínea b), última parte.
nº 4: quando as leis da Assembleia da República ou os decretos-leis do Governo,
nomeadamente as leis de bases da Assembleia da República e os decretos-leis de bases do uso de competência
concorrencial entre a Assembleia da República e o Governo, incidem sobre matérias abrangidas na competência
legislativa própria da Assembleia Legislativa, por exemplo, promoção da concorrência ou leis de concorrência, a
Assembleia Legislativa Regional pode optar por desenvolver para o território nacional os princípios ou as bases
contidos nessas leis e decretos-leis ou então criar uma legislação própria baseada/apoiada no orçamento regional
sobre essa matéria. No âmbito do art. 165, a Assembleia Legislativa Regional não pode desobedecer a esta lei de
bases porque tem valor reforçado, no entanto, as matérias fora do art. 165, mas que são consideradas como
matéria própria da Assembleia Legislativa Regional, então a Assembleia Legislativa Regional pode optar ou por
desenvolver essas leis de base da Assembleia da República no uso da competência concorrencial ou desenvolver
os decretos-leis de bases que apenas têm princípios ou então, no uso da sua autonomia legislativa, optarem por
criar a sua própria legislação aplicada à região autónoma sustentada pelo orçamento regional, tendo em conta
que essa matéria está no estatuto da região autónoma como sendo uma matéria de competência própria.

Leis de bases da Assembleia da República: artigo 164 alínea i) + artigo 165

É desenvolvida pelo decreto-lei É desenvolvida por um decreto legislativo regional de


de desenvolvimento do Governo desenvolvimento - artigos 227 nº1 alínea c) com as limitações
- artigo 198 nº1 alínea c) do artigo 227 nº1 alínea b) (última parte) + artigo 38 do Estatuto
dos Açores + artigo 37 nº1 alínea e) do Estatuto da Madeira

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Lei de bases da Assembleia da República & decretos-lei de bases (que desenvolvem princípios) em matéria
concorrencial

Desenvolvidos através de decretos legislativos regionais de desenvolvimento ou artigo 38


nº4 do Estatuto dos Açores + artigo 37 nº1 alínea e) do Estatuto da Madeira ou a Assembleia
Legislativa Regional, quando essa matéria concorrencial, não exclusiva do Governo ou da
Assembleia da República pode criar um decreto legislativo regional nessa matéria, que
também é matéria do interesse da região (de acordo com os princípios da autonomia
legislativa, da igualdade e da autonomia financeira). Por exemplo: a matéria comércio-
indústria (promoção da concorrência leal) não é uma matéria da competência exclusiva nem
do Governo nem da Assembleia da República. É uma matéria que aparece como interesse
específico da região assim, ou a região desenvolve os princípios da lei de bases em matéria
da concorrência leal ou cria uma legislação nova (desde que respeite o princípio da
autonomia regional).

As leis de enquadramento também se situam na competência legislativa complementar. Estas são


criadas pela Assembleia da República no âmbito da sua competência exclusiva (apenas).

Competência legislativa delegada significa que, para existir um decreto da Assembleia Legislativa
Regional sobre determinada matéria que se enquadra na competência legislativa relativa da Assembleia da
República, tem de existir previamente uma lei de autorização sem valor reforçado — artigo 165 + 227 nº1 alínea
b) da Constituição + artigo 39 da Estatuto dos Açores + artigo 37 nº1 alínea d) do Estatuto da Madeira.

Casos práticos:
Poder legislativo das Regiões Autónomas Versus Poder Legislativo da Assembleia da República

A Assembleia Legislativa Regional (ALR) dos Açores cria um decreto legislativo regional em
matéria de saúde. Explique se a ALR poderia legislar sobre esta matéria. Quais os poderes legislativos
próprios da ALR e quais as limitações do poder legislativo das regiões autónomas?

(…) Pelo princípio da autonomia legislativa regional, segundo o qual a Assembleia Legislativa
Regional só pode legislar em matéria do seu interesse específico que não é matéria da exclusiva competência
legislativa da Assembleia da República nem do Governo (artigos 164, 165 e 198 nº2 da Constituição) e apenas
para o território, neste caso concreto, dos Açores e o conteúdo do decreto não pode violar o princípio da
igualdade de direitos e deveres entre os cidadãos do Continente e os cidadãos das Regiões Autónomas (artigo
13 da Constituição). A execução do decreto tem de ser sustentado pelo Orçamento Regional. O exemplo dos
limites do poder legislativo entre os órgãos de soberania e a Assembleia Legislativa Regional dos Açores (neste
caso) está presente no acórdão do Tribunal Constitucional nº304/2011 processo nº125/2010.

Sobre o Acórdão: princípio da autonomia legislativa da região autónoma, aplicada ao caso concreto, a
região autónoma pode legislar sobre matéria de saúde, pois é uma matéria do seu interesse específico (artigo 59
do Estatuto dos Açores) e o decreto legislativo regional aplica-se apenas ao território dos Açores. O decreto em
questão não incide sobre matéria da exclusiva competência da Assembleia da República, nem do Governo.
Apesar da saúde ser uma matéria da competência exclusiva relativa da Assembleia da República (artigo 165
alínea b), f) da Constituição), a Assembleia da República nesta matéria, e de forma exclusiva, só tem
competência para criar a lei de bases do Sistema Nacional de Saúde e o conteúdo do direito fundamental à
saúde, bem como as suas limitações. O decreto regional nem cria as bases do Sistema Nacional de Saúde nem
concretiza ou limita o conteúdo do direito fundamental à saúde, apenas se limita a atribuir subsídios a cidadãos
açorianos com a doença Machado Joseph. Porém, não basta apenas o princípio da autonomia legislativa regional
mas também é necessário não ser violado o princípio da igualdade.

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Olhando aos factos, foi constatado que, nos Açores, existe um maior número de doentes com Machado
Joseph do que no resto do país. Para além disso, as populações de certas ilhas têm mais dificuldade em aceder
aos cuidados de saúde. Assim, existe aqui uma diferença que legitima a aplicação do princípio da igualdade no
sentido da descriminação positiva (tem em conta as diferenças).
Por fim, os subsídios são suportados pelo Orçamento Regional.

A Assembleia Legislativa Regional (ALR) da Madeira pretende legislar em matéria de fronteiras


marítimas. Poderá fazê-lo?

Não pode legislar porque é uma matéria para competência legislativa absoluta da Assembleia da
República, nos termos do artigo 164 alínea g) da Constituição. A Assembleia Legislativa Regional da Madeira
apenas pode legislar, sobre o espaço marítimo, no âmbito da proteção das espécies marinhas ou do ordenamento
da orla marítima (artigo 40 mm9, pp) oo) do Estatuto da Madeira). Isto no âmbito da competência própria.
Nos termos do artigo 227 nº1 alínea s) da Constituição, sempre que os espaços marítimos tenha
importância para a Região Autónoma, os órgãos de soberania são obrigados a ter em conta a opinião Região
Autónoma, quer a nível legislativo quer a nível político.

A Assembleia Legislativa Regional da Madeira aprova um decreto legislativo regional sobre atos
ilícitos de mera ordenação social sem lei de autorização da Assembleia da República. Qual a
consequência?

Artigo 165 nº1 alínea d) segunda parte.


Nos termos do artigo 227 alínea b) da Constituição é uma matéria que a Assembleia Legislativa
Regional pode legislar mas tem de existir primeiro uma lei de autorização que autorize a legislar e fixe o
conteúdo, objeto e extensão do decreto legislativo regional autorizado.

Procedimento Legislativo Parlamentar: artigos 167 e 168 da Constituição


Artigo 167: Primeira fase do procedimento legislativo é a iniciativa de lei. Esta consiste em apresentar o projeto
ou a proposta aos deputados da Assembleia da República.

nº1: a iniciativa de lei da Assembleia da República pode ser interna à Assembleia da República, esta
provém dos deputados (pode ser 1, 2, um grupo parlamentar, não tem limite mínimo mas máximo, que é 20).
Também é interna quando provém dos cidadãos pois os deputados da Assembleia da República representa estes
mesmos. Esta iniciativa de lei dos cidadãos chama-se de iniciativa de lei popular (regulada na lei nº17/2003 de 4
de junho, artigo 6 desta lei). Iniciativa de lei externa toma a forma de proposta de lei por parte do Governo ou
das Assembleias Legislativas Regionais (estas podem apresentar propostas de lei à Assembleia da República).
Existem limites para esta apresentação.
Outra classificação da iniciativa de lei é: originária e superveniente. Consagradas no artigo 118 e 119
do regimento da Assembleia da República. Iniciativa de lei superveniente — artigo 119 nº2 — são os projetos
ou as propostas de alteração aos projetos e propostas iniciais.

Artigo 168

nº2 e 3: isto significa que as iniciativas de lei têm normas travão. Por exemplo, em matéria de
Orçamento de Estado, ou seja, quem pode apresentar uma proposta de Orçamento de Estado é só o Governo.
Artigo 120 nº2 do regimento da Assembleia da República para complementar.
Existe outra norma travão que é a iniciativa de lei exclusiva das Assembleias Legislativas Regionais
sobre matéria dos seus Estatutos, ou seja, as alterações aos Estatutos das Regiões Autónomas são da iniciativa
de lei exclusiva das Assembleias Legislativas Regionais.
Artigo 165 nº1 alínea d) segunda parte. Nos termos do artigo 227 alínea b) da constituição é uma
matéria que a Assembleia Legislativa Regional pode legislar mas tem de existir primeiro uma lei de autorização
que autorize a legislar e fixe o conteúdo da matéria a legislar.
Outra norma travão é, em matéria de ensino, os cidadãos têm iniciativa de lei sobre as bases do sistema

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de ensino, no entanto, não têm iniciativa de lei sobre as restantes matérias do artigo 164 da Constituição. Os
cidadãos só têm iniciativa legislativa sobre matéria de ensino e não sobre as restantes matérias do artigo 164 da
Constituição. Norma travão da iniciativa de lei dos cidadãos.

Nota1: uma coisa é iniciativa de lei outra é competência legislativa exclusiva ou própria. Por exemplo, o
Governo pode apresentar uma proposta de lei à Assembleia da República sobre matéria da reserva absoluta da
Assembleia, ou da reserva relativa (sobre os referendos, sobre os titulares dos órgãos de soberania, etc.), o que
não pode é aprovar porque a aprovação é da exclusiva competência da Assembleia da República.

Nota2: das Regiões Autónomas, a iniciativa exclusiva de lei diz respeito aos seus próprios Estatutos mas existe
u travão a esta iniciativa de lei. As Assembleias Legislativas Regionais só tem iniciativa de lei sobre matérias
que lhe diga respeito. Artigo 36 do Estatuto dos Açores e artigo 37 nº1 alínea a) e b) do Estudo da Madeira no
que diz respeito à iniciativa de lei das Regiões Autónomas.

Primeira fase da iniciativa de lei:

Artigo 120 do Regimento da Assembleia da República: requisitos materiais (conteúdo) dos projetos
e propostas e indica-nos também os limites da iniciativa de lei, normas travão.

Artigo 121 do Regimento da Assembleia da República = Artigo 167 nº5 e 6 da Constituição.

Artigo 122 do Regimento da Assembleia da República: diz respeito ao cancelamento da iniciativa

Artigo 123 do Regimento da Assembleia da República: nenhum projeto de lei pode ser subscrito por
mais de 20 deputados

Artigo 124 do Regimento da Assembleia da República: requisitos formais dos projetos e propostas
de lei.

Segunda fase da iniciativa de lei: fase da instrução ou de apreciação do projeto ou da proposta (menos
importante do ponto de vista Constitucional); fase e que o Presidente da República recebe os projetos e
propostas e vai verificar se esses respeitam os limites materiais e formais impostos quer pela Constituição quer
pelo Regimento da Assembleia da República. Esta fase vai do artigo 125 até ao 142 da Constituição.

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Discussão e votação do projeto proposta de Lei
Se o Presidente da Assembleia da República não rejeitar a proposta, ele envia para as respetivas
comissões parlamentares competentes em razão da matéria nos termos do artigo 126, nº1, primeira parte e,
são as comissões parlamentares que vão apreciar os projetos e as propostas antes da fase de discussão e
votação da proposta pelo plenário da Assembleia da República. As comissões podem apresentar propostas de
alteração de emenda ou substituição desses projetos e propostas artigo 127.

• Artigo 129 do Regimento da Assembleia da República – facto do Presidente da Assembleia enviar o texto /
proposta à Comissão Parlamentar competente.

• Artigo 132 - a Comissão Parlamentar elabora um parecer sobre o projeto ou a proposta nos termos do artigo
135 e 136.
Quando se trata matéria sobre o Direito do Trabalho – legislação laborar – nos termos do artigo 134, bem
como sobre matéria que diga respeito aos municípios, nos termos do artigo 141 e, ainda, em matéria que diga
respeito às regiões autónomas nos termos do artigo 142 do regimento , a Comissão é obrigada, sob pena de
incorrer numa inconstitucionalidade, de consultar as entidades referidas nesses artigos.

• Artigo 134; artigo 141; artigo 142

• Nos termos do artigo 140, se a matéria for de relevante interesse para os cidadãos, a comissão parlamentar
competente pode propor ao presidente da assembleia a discussão pública, ou seja, a consulta pública aos
cidadãos.

• Artigos 143 até ao artigo 158 do regimento + artigo 168 da CRP

Uma discussão é quando os deputados de forma ordenada de acordo com as regras do regimento,
debatem entre si, o conteúdo do projeto ou proposta de lei que foi unificada num só documento pela comissão
na fase de apreciação, ou seja, a Comissão reúne num só documento todos os projetos e propostas para no final
ser votada apenas num documento. A discussão pode ser:

- Na generalidade – artigo 168, nº1, da CRP; artigo 147 até 149 no regimento – cada lei tem
um objetivo e é composta por princípios que a fundamentam, então, a discussão na
generalidade é sobre os fundamentos que tiveram na origem daquela lei;

- Votação na generalidade – artigo 148, 149 do regimento + 168 nº2 (primeira parte) da
CRP + 168, nº3 da CRP – versa sobre cada projeto ou proposta de lei, é saber se rejeita ou
não aquela proposta de lei ou projeto. Os deputados vão votar se aprovam ou não legislar
sobre aquela matéria, sobre se é oportuno legislar sobre aquela matéria tendo em conta o
conteúdo e finalidade da proposta de lei. Se o projeto ou as proposta forem rejeitados o
procedimento legislativo cessa, se os deputados aprovarem o projeto ou a proposta na
generalidade passa-se ao debate na especialidade – artigo 168, nº3;

- Discussão na especialidade – artigos 168, nº1, última parte, nº2, segunda parte, nº3, nº4 –
é o debate dos deputados sobre cada artigo e cada alínea de cada projeto ou proposta de lei,
depois do debate na especialidade temos a votação na especialidade;

- Votação na especialidade – incide sobre a aprovação de cada artigo e de cada alínea desse
artigo do projeto ou da proposta de forma a ser aprovado ou não um único projeto ou
proposta que será votado na votação final – artigo 150 até 154 do regimento da Assembleia
da República;

Nos termos do artigo 168, nº3, os textos que são aprovados na generalidade, podem ser apreciados e
votados na especialidade pelas comissões parlamentares competentes em razão da matéria. No entanto, sempre
que a assembleia entender ela pode chamar a si a apreciação e votação na especialidade e, nas matérias que
constam do artigo 168, no4, a assembleia tem sempre de obrigatoriamente votar na especialidade em plenário.
Alínea q, do artigo 165 – essas matérias têm de ser votadas na especialidade do plenário.

Por fim, temos a votação final, é a aprovação de um único projeto ou proposta de lei que toma a forma
de decreto da assembleia da república, só será lei se o presidente da república promulgar como lei.

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Como é que os decretos são ou não aprovados?

• 1ª Regra – Maioria simples ou maioria relativa – artigo 116, no3, da CRP – é uma regra para todos
os órgãos colegiais. As abstenções só se contam para saber o número de deputados presentes, mas não
se contam para o aprovamento da maioria. Ex.: contam-se os votos a favor, contam-se os votos contra
e ganha a proposta com maior número de votos.

• 2ª Regra – Maioria Absoluta dos deputados em efetividade de funções – artigo 168, nº5, da CRP –
as leis orgânicas (remissão para o artigo 166, nº2, da CRP); artigo 136, no2 – maioria absoluta para a
assembleia da república ultrapassar o veto político do presidente da república desde que o decreto não
revista a forma de lei orgânica. O decreto tem de ser aprovado no artigo 168, no5, ou confirmado nos
termos do artigo 136, no2, por pelo menos 116 votos a favor

• 3ª Regra – Maioria de 2/3 dos deputados presentes desde que superior à maioria absoluta dos
deputados em efetividade de funções – artigo 168, no6, da CRP + a confirmação pela AR de leis
orgânicas e de outras leis – artigo 136, no3, da CRP. Com os votos a favor, votos contra e abstenções
estão presentes 114 deputados, se os votos a favor foram 100, então, a soma dos votos a favor tem de
ser superior à maioria de 2/3 dos deputados presentes. Então, 2 vezes 114 a dividir por 3 = 76, então
100 é superior a 76, então 2/3 dos presentes dá 76, está preenchido o primeiro requisito, mas para o
decreto ser aprovado ou confirmado é necessário que os votos a favor sejam também superiores à
maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções (que são 230), ou seja, superior a 116, tem
de ser pelo menos 117 votos a favor, as duas regras têm de ser cumulativas. Se estivessem presentes
200 deputados e 70 votassem a favor, já não estaríamos perante o primeiro requisito.

• 4ª Regra – Maioria de 2/3 dos deputados em efetividade de funções, ou seja 2/3 de 230 que dá
153 – artigo 286 da CRP – as alterações à constituição só podem ser aprovadas, no mínimo, por 153
votos a favor.

• 5ª Regra – Maioria de 4/5 dos deputados em efetividade de funções – artigo 284, no2 – tem de ser
aprovada por 184 votos a favor uma revisão extraordinária da constituição.

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Artigo 136 da Constituição: diz respeito ao veto político (nº1 ao 3)
nº1: O Presidente da República pode, quando recebe o diploma para promulgação, vetar politicamente
e, se veta politicamente não pode, ao mesmo tempo, enviar o diploma para o Tribunal Constitucional, ou seja,
não pode ao mesmo tempo requerer a fiscalização da constitucionalidade. Tem o prazo de 20 dias para vetar
politicamente o diploma, contados da receção desse mesmo diploma. Ou então, o Presidente da República
requer a fiscalização preventiva da constitucionalidade, nos termos dos artigos 278 e 279 e se o Tribunal
Constitucional entender que o diploma não viola a constituição, o Presidente da República pode: promulgar o
diploma ou vetar politicamente o diploma, no prazo de 20 dias, contados da decisão de não
inconstitucionalidade por parte do Tribunal Constitucional.

Nr.2: Se o Presidente da República vetar politicamente o diploma, a Assembleia da República pode:


nada fazer e terminam o procedimento legislativo (concorda com o veto político) ou, quando recebe o diploma
do Presidente da República reformula o diploma e envia novamente o diploma para o Presidente da República;
ou, nos termos do artigo 136 nº2, pode confirmar o diploma, regra geral por maioria absoluta pelos deputados
em exercício de funções (116) e, neste caso, o Presidente da República é obrigado a promulgar a lei.

Nr3: Se o diploma da Assembleia da República incidir sobre matéria de lei orgânica ou sobre uma das
matérias que estão descritas nas alíneas a), b) e c) do 136 nº3, a Assembleia da República necessita de uma
maioria de 2/3 dos deputados presentes, desde que superior à maioria absoluta dos deputados em efetividade de
funções, para poder confirmar o diploma. Neste caso também, se confirmar, o Presidente da República é
obrigado a promulgar. Ou seja, esta maioria tem de ser sempre, no mínimo, 117.

—— // ——

Nr.4: diz respeito ao veto político do Presidente da República sobre um decreto do Governo. Então,
pode promulgar o decreto ou por motivos políticos vetar politicamente o diploma ou, então, requerer a
fiscalização preventiva da constitucionalidade junto do Tribunal Constitucional e: se o Tribunal Constitucional
se pronunciar pela constitucionalidade das normas ou de algumas normas do diploma o Presidente da República
pode: promulgá-lo no prazo de 40 dias a contar da decisão do Tribunal Constitucional ou então, no prazo de 40
dias a contar da publicação da decisão do Tribunal Constitucional, pode exercer o veto político.
O Governo pode, após o veto politico do Presidente da República: nada fazer e termina o procedimento
legislativo governamental ou então pode reformular o diploma ou então, pode transformar esse decreto em
proposta de lei (desde que não incida sobre matéria da exclusiva competência do Governo) e submeter essa
proposta à Assembleia da República.

Nr.5: o Presidente da República, quando requer a fiscalização preventiva da constitucionalidade junto


do Tribunal Constitucional e, se a decisão do Tribunal Constitucional for no sentido da norma do diploma ou
várias normas do diploma ser ou serem inconstitucionais (violarem o conteúdo da constituição) o Presidente da
República só pode vetar por inconstitucionalidade o diploma. O veto por inconstitucionalidade é um ato
obrigatório pelo Presidente da República quando existe (tem de existir obrigatoriamente) uma decisão de
inconstitucionalidade por parte do Tribunal Constitucional.
Será que o veto por inconstitucionalidade pode ser ultrapassado? Pode. Artigo 279 nº2: O veto por
inconstitucionalidade pode ser ultrapassado só pela Assembleia da República. Quando a Assembleia da
República ultrapassa um veto por inconstitucionalidade o Presidente da República não está obrigado a
promulgar o diploma.

Nas Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores: quem assume o poder de vetar politicamente ou
por inconstitucionalidade é o Representante da República. O Representante da República tem poderes neste
âmbito iguais aos do Presidente da República para os decretos legislativos da Assembleia Legislativa regional.
Artigo 230 da Constituição.

Estatuto dos Açores e da Madeira: o poder de assinatura e veto político do Representante da


República está no artigo 107 nº1 alínea c) e para exercer o veto político em relação a um diploma artigo 107 nº2
e 3.
Quando o Representante da República recebe um diploma da Assembleia Legislativa Regional para ser
assinado pode: assinar o diploma ou vetar politicamente o diploma, no prazo de 15 dias contados da receção do
diploma, ou então requerer a fiscalização preventiva da constitucionalidade junto do Tribunal Constitucional e,
se o Tribunal Constitucional se pronunciar pela não inconstitucionalidade do diploma (entende que o diploma
está de acordo com a constituição) o Representante da República pode assinar o diploma ou então, nos 15 dias

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contados da publicação da decisão do Tribunal Constitucional de não inconstitucionalidade, vetar politicamente
o diploma. Se o Representante da República veta politicamente o diploma a Assembleia Legislativa Regional
pode: nada fazer e termina o procedimento legislativo ou reformular / expurgar a norma sobre a qual o
Representante da República não concorda ou, então, pode confirmar o diploma por maioria absoluta dos seus
membros em efetividade de funções (diferente da Madeira para os Açores). Se a Assembleia Legislativa
Regional ultrapassar o veto político do Representante da República, o Representante é obrigado a assinar o
diploma. No estatuto dos Açores isto está no artigo 107 nº2 e 3 e em relação ao Estatuto da Madeira está no
artigo 83 e 84 nº1, 2 e 4. Se o Tribunal Constitucional se pronunciar pela inconstitucionalidade do diploma o
Representante da República é obrigado a vetar por inconstitucionalidade o diploma e a Assembleia Legislativa
Regional não pode ultrapassar o veto por inconstitucionalidade, ou seja, não pode confirmar o diploma. Nos
Açores artigo 107 alínea d) e na Madeira artigo 99.
Em relação ao veto político dos diplomas do Governo Regional, para o Estatuto dos Açores artigo 107
nº4 e para a Madeira artigo 84 nº3.

O Representante da República, quando veta politicamente o Governo Regional pode: nada fazer e
termina o procedimento normativo ou então modifica o diploma ou ainda converte o diploma em proposta de
decreto legislativo regional a apresentar à Assembleia Legislativa Regional. Portanto, não pode ultrapassar o
veto político.

Artigo 169 da Constituição:

Nr.1: remissão para o artigo 198 nº2; A requerimento de pelo menos 10 deputados, a contar 30 dias da
data de publicação do decreto-lei do Governo pode, a Assembleia da República, apreciar esses decretos, desde
que tais diplomas não incidam sobre matéria da exclusiva competência do Governo, para efeitos da cessação de
vigência de diploma ou da sua alteração. Então, estes decretos-lei são aqueles que, no âmbito da competência
concorrencial entre a Assembleia da República e o Governo (artigo 198 nº1 alínea a)) ou no âmbito da
competência legislativa do Governo autorizada ou da competência complementar ou de desenvolvimento.

Nr2: se o decreto-lei incidir sobre matéria do artigo 165 da Constituição, a Assembleia da República
pode, e só neste caso, suspender em todo ou em parte a vigência do decreto-lei autorizado até à publicação da lei
da Assembleia da República que irá alterar o decreto-lei autorizado ou até à decisão de rejeitar todas as
propostas de alteração do referido decreto-lei. Isto só quanto aos decretos-lei autorizados, ou seja, aqueles
decretos-lei que depende de uma lei de autorização.

Nr.3: a suspensão do decreto-lei autorizado caduca após 10 reuniões do plenário da Assembleia sem
que tenha sido aprovado uma alteração ao decreto-lei.

Nr.4: se a Assembleia da República aprovar a cessação de um decreto-lei, a cessação do diploma só


produz efeitos para o futuro, ou seja, a cessação do diploma só começa a contar, só produz efeitos, a partir da
publicação da resolução da Assembleia da República que faz cessar o decreto-lei e não poderá voltar a ser
publicado no decurso da mesma sessão legislativa, ou seja, no período de 15 de setembro a 15 de junho.

Nr.5: se os deputados da Assembleia da República para pedir a apreciação de um decreto-lei, por


exemplo, a 15 de março e se a Assembleia da República não se tiver pronunciado, ou então pronunciou-se no
sentido de produzir alterações mas que não foram vetadas até 15 de setembro, o processo só caduca se, tiverem
decorrido 15 reuniões plenárias.

Nr.6: entre, por exemplo, a aprovação de uma nova lei e fazer cessar um decreto-lei, tem prioridade o
processo de apreciação do decreto-lei da Assembleia da República.

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Casos Práticos:

1. A 23 de Fevereiro de 2017, a Assembleia da República aprovou com votos favoráveis de 117


Deputados, 100 votos contra e 2 abstenções, um decreto com alterações sobre o procedimento de aquisição
de nacionalidade por naturalização. O Presidente da República recebe o diploma a 27 de Fevereiro. A 8 de
Março, o Presidente da República entende que o decreto é inoportuno e devolve-o à AR para nova
apreciação. A AR reaprecia o decreto a 19 de Abril, que lhe tinha chegado no dia 10 de Março, aprovando
o mesmo por 114 deputados, 40 votos contra e 10 abstenções.

• a) A Assembleia da República é competente para legislar sobre a matéria em causa? Sim, é


competente, no âmbito do artigo 164 alínea f), competência legislativa exclusiva absoluta da
Assembleia da República. Se um decreto-lei for aprovado sobre esta matéria a lei terá de ser lei
orgânica, artigo 166 nº2 (lei orgânica da nacionalidade), de acordo com o princípio da reserva absoluta
de lei.

• b) O decreto da Assembleia foi correctamente aprovado? É um decreto sobre matéria de lei


orgânica, desta forma, tem de obedecer à regra do artigo 168 nº5. Votos a favor 117 então, foi aprovada
por maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções. Ou seja, em efetividade de funções
estão 230, metade de 230 são 115, 115 + 1 é a maioria absoluta dos deputados em efetividade de
funções. 117 é mais que 115 e bastava 116 votos a favor.

• c) Qual foi o mecanismo constitucional utilizado pelo Chefe de Estado? Foi o mesmo exercido no
tempo devido? O Presidente da República vetou politicamente o diploma por razões políticas, de
inoportunidade política, que é um poder próprio e livre do Presidente da República, artigo 136 nº1. O
Presidente da República, segundo este artigo, tem 20 dias a contar da sua recessão para vetar o
diploma. 27 de fevereiro recebeu e a 8 de março vetou, ou seja, assinou no prazo devido.

• d) E a Assembleia da República em segunda deliberação, agiu atempadamente? Quais as


consequências dessa votação? Artigo 160 do regimento da Assembleia da República. Nos termos
deste artigo, a Assembleia da República só pode reapreciar o decreto a partir do 15º dia, posterior ao da
receção da mensagem fundamentada. A Assembleia da República agiu atempadamente quanto à
confirmação do diploma, ou seja, a nova apreciação do diploma por parte da Assembleia da República
foi, nos termos do artigo 160 nº1 do regimento da Assembleia da República, efetuada a partir do 15º dia
posterior ao da receção da mensagem fundamentada do Presidente da República em relação ao veto
politico. Ou seja, a mensagem chegou no dia 10 de março e a Assembleia da República reapreciou o
diploma no dia 19 de abril.
A consequência é ultrapassar o veto político do Presidente da República, reformular o diploma ou nada
fazer. N caso concreto, aplicamos o artigo 136 nº3 porque esta matéria é uma matéria de lei orgânica.
Segundo este artigo, temos de somar os votos a favor, mais os votos contra, mais as abstenções (=164),
2/3 dos deputados presentes dá 109 deputados. 109 deputados é inferior a 114 que foram os votos a
favor, assim o primeiro requisito está preenchido. Os votos a favor têm também de ser superiores à
maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções, que são 116 +1. 114 é inferior a 117, então
o diploma não foi confirmado, mantém-se o veto político e termina o processo legislativo.

• e) Suponha que em vez de 114 deputados, tinham votado favoravelmente, em 2a deliberação, 130
deputados e 50 deputados contra. O que poderia fazer o Presidente da República? Artigo 136 nº3,
de lei orgânica.130 + 50 = 180. 2/3 de 180 são 120. 120 é inferior a 130 assim, o primeiro requisito está
preenchido. 120 é superior a 117 que é a maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções e
assim, o 2º requisito também está preenchido. Foi confirmado o diploma e o Presidente da República é
obrigado a promulgar o diploma.

2. O governo cria um decreto lei (não autorizado) sobre arrendamento rural que altera um
decreto-lei autorizado sobre a mesma matéria. É possível? O que poderá fazer o Presidente da República?
Isto não é possível porque a matéria do arrendamento, seja urbano seja rural, é da competência
exclusiva relativa da Assembleia da República (artigo 165 nº1 alínea h)). Assim, o Governo só pode alterar o
decreto-lei autorizado sobre esta matéria se, previamente, existir uma lei de autorização da Assembleia da
República que autorize o Governo a aprovar um novo decreto-lei autorizado para alterar o anterior decreto-lei
autorizado, sob pena de incorrer, o Governo, na violação do princípio da reserva relativa de lei. O Presidente da
República pode requerer a a fiscalização preventiva da constitucionalidade nos termos do artigo 136 nº5 + 278 +
279 da Constituição, baseado num argumento jurídico que é a violação do princípio da reserva relativa de lei.

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3. O Governo alterou o decreto-lei sobre a sua organização interna, extinguindo um ministério. O
Presidente da República não concorda com o conteúdo do decreto. O que pode fazer? Isto é competência
exclusiva do Governo, artigo 198, nº2. Se não concorda por razões políticas, nos termos do artigo 136, nº4, pode
vetar o diploma politicamente e o Governo não pode ultrapassar o veto político. Se o argumento do Presidente
da República for apenas jurídico, baseado na violação da Constituição, pode requerer a fiscalização preventiva
da constitucionalidade nos termos do artigo 136, nº5, + 278 +279.

4. A 23 de Fevereiro de 2017 foi publicado um decreto-lei autorizado. A 15 de Março de 2017, a


Assembleia da República a requerimento de 28 Deputados, apreciou o mencionado decreto-lei. Nessa
data, por 110 votos a favor, 22 abstenções e 30 votos contra, são aditados 2 novos artigos.

a) Explique de acordo com a CRP se a Assembleia da República poderia apreciar nestas


circunstâncias o decreto do Governo. Pode, nos termos do artigo 169 nº1 e nº2. O requerimento foi feito por
28 deputados, bastava ser assinado por 10 deputados, e foi apresentado no prazo de 30 dias subsequentes à
publicação do decreto-lei autorizado, que foi a 23 de fevereiro.

b) E se o decreto-lei fosse um decreto-lei sobre a organização interna do Governo? Não podia, nos
termos do artigo 169 nº1 + 198 nº2 porque este decreto incide sobre matéria da exclusiva competência
legislativa do Governo.

c) E se fosse um decreto-lei do Governo no uso da sua competência legislativa concorrencial? Sim,


podia, nos termos do artigo 169 nº1. O que não pode fazer neste caso, quando se trata de uma matéria do uso da
competência concorrencial, é o que está previsto no artigo 169 nº2, suspender a vigência do decreto-lei até a
uma decisão da Assembleia da República. Só pode suspender a vigência os decretos-lei autorizados.

d) E se Assembleia da República em vez de aditar 2 artigos ao decreto-lei autorizado aprovasse a


sua cessação? Pode, nos termos do artigo 169 nº4.

e) Poderá o Presidente da República apreciar a resolução da Assembleia da República que


aprova ou que faz cessar a vigência do Decreto-lei Autorizado? Não pode, as resoluções não são
promulgadas pelo Presidente da República nem ele as pode apreciar. O Presidente da República assina uma
resolução e não pode recusar esta mesma. Artigo 166 nº5 e 6.

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Casos Práticos - Procedimento legislativo e Atos legislativos:

1. O Governo apresentou uma proposta de lei à Assembleia da República sobre eleições dos órgãos de
soberania.

a) Será que o Governo é competente para apresentar a proposta de lei? E a Assembleia


Legislativa Regional?
Nos termos do artigo 167 nº1 da Constituição + artigo 118 da Regimento da Assembleia da República
+ artigo 119 nº1 da Regimento da AR, o Governo tem iniciativa originária de lei, ou seja, pode apresentar
propostas de lei à Assembleia da República sobre qualquer matéria, salvo se estiver impedido pela Constituição.
Por exemplo, no caso da norma travão que sobre o Estatuto da Regiões Autónomas, é uma norma travão para o
Governo, para os deputados da Assembleia da República e para os cidadãos, porque só as Assembleia
Legislativa Regional pode apresentar matérias de lei sobre esse assunto. No caso concreto, a matéria é sobre as
eleições dos orgãos de soberania (artigo 164 nº1 alínea a) - reserva absoluta de lei).
Em relação à Assembleia Legislativa Regional esta tem iniciativa originária de lei nos termos dos
artigos 167 nº1 da Constituição, 118 e 119 nº1 do Regimento da Assembleia da República, artigo 36 do Estatuto
dos Açores e artigo 37 nº1 alínea a) e b) do Estatuto da Madeira. Mas, esta iniciativa de lei é limitada às
matérias de interesse específico da região, com base no princípio da autonomia legislativa da Região Autónoma.
A matéria de eleições de órgãos de soberania não diz respeito exclusivamente à região, por isso, a Região
Autónoma, nomeadamente as Assembleia Legislativa Regional não têm iniciativa de lei neste caso.
b) Será que o Presidente da AR pode rejeitar a proposta?
O presidente da Assembleia da República só pode rejeitar as propostas se estas não respeitarem os
requisitos formais e materiais da iniciativa de lei, dos artigos 120 e 124 do regimento da Assembleia da
República, bem como os limites do artigo 167 nº2 da própria Constituição. Em relação à proposta do Governo, o
enunciado não nos indica que o Governo desrespeitou alguns destes limites. Em relação à proposta da
Assembleia Legislativa Regional o presidente da Assembleia da República deveria rejeitar a referida proposta,
com base no artigo 120 nº1 alínea a) do Regimento da Assembleia da República, ou seja, a proposta da
Assembleia Legislativa Regional viola a Constituição, nomeadamente o princípios da autonomia legislativa
regional conjugado com a reserva de iniciativa de lei sobre esta matéria aos órgãos de soberania. Ou seja, por
outras palavras, o princípio da autonomia legislativa regional tem como limite o interesse específico da região.
c) Suponha que o Presidente da AR admitiu a proposta. A proposta foi votada pelos deputados:
120 votos a favor, 20 votos contra e 60 abstenções. Será que o decreto da AR foi aprovado?
Esta matéria deverá revestir a forma de lei orgânica após promulgação do Presidente da República, nos
termos do artigo 166 nº2. Neste caso, a votação final tem de respeitar a maioria referida no artigo 168 nº5. O
decreto foi directamente aprovado porque a maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções é 116
(230 : 2 + 1). Os votos a favor foram 120, ou seja, superiores à referida maioria. Poderia ser igual ou superior,
mas foi superior neste caso.

2. A Assembleia Legislativa Regional da Madeira apresentou à AR uma proposta sobre a alteração do seu
Estatuto.

a) Será que a ALR é competente para apresentar a proposta de lei?


Nos termos dos artigos 167 nº1 da Constituição + 118 e 119 nº1 do Regimento da Assembleia da
República + artigo 37 nº1 alínea a) do estatuto da Madeira, a Assembleia Legislativa Regional tem poder de
iniciativa exclusiva de lei sobre esta matéria, de acordo com o princípio da autonomia legislativa regional.
b) A proposta foi votada pelos deputados: 140 votos a favor e 60 votos contra. Será que o decreto
da AR foi aprovado?
O estatuto das Regiões Autónomas são leis com valor reforçado. Desta forma, os decretos da
Assembleia da República, sobre esta matéria, têm de ser aprovados em votação final pela maioria do referido no
artigo 168 nº6 alínea f). Assim, tem de estar preenchidos cumulativamente os seguintes requisitos: os votos a
favor têm de ser iguais ou superiores à maioria de 2/3 dos deputados presentes (presentes 200 x 2 : 3 = 133). 140
votos a favor é superior a 133, logo, o primeiro requisito está preenchido; os votos a favor têm de ser em número
superior à maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções, ou seja, superior a 116, ou seja, no
mínimo, 117. Os votos a favor foram 140, logo, este requisito também está preenchido.
O decreto foi corretamente aprovado.

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c) Um grupo de cidadãos da Madeira pede ao PR para que este vete politicamente ou por
inconstitucionalidade o diploma. Pronuncie-se sobre a viabilidade deste pedido?
Um grupo de cidadãos pode pedir que o Presidente da República vete politicamente ou por
inconstitucionalidade um diploma, no entanto, este pedido pode não ser viável, porque: o veto político é um
poder livre do Presidente da República, só ele decide se veta ou não politicamente o diploma e o veto por
inconstitucionalidade do Presidente da República depende de uma decisão prévia de inconstitucionalidade por
parte do Tribunal Constitucional.
d) Suponha que o decreto da AR é aprovado e o PR veta politicamente o diploma. O que poderá
fazer a AR?
Pode nada fazer e acaba o procedimento legislativo ou pode alterar o diploma retirando / expurgando a
norma sobre a qual incidiu o veto político ou então, nos termos do artigo 136 nº2 pode confirmar o diploma e, se
este diploma for confirmado, o Presidente da República é obrigado a promulgar o diploma.
Neste caso bastava a confirmação de 116 deputados porque esta não é uma matéria de lei orgânica.
3. O Conselho de Ministros aprovou um decreto sobre licenciamento ambiental.
a) O Governo é competente para legislar sobre esta matéria?
Apesar desta matéria se incluir no âmbito da proteção do ambiente, o Governo poderia legislar sobre
esta matéria, no âmbito da sua competência concorrencial com a Assembleia da República (artigo 198 nº1 alínea
a)), se o conteúdo desta lei apenas se reportasse a um procedimento de licenciamento ambiental e não ao
desenvolvimento de uma lei de bases ou de uma lei de autorização. Por exemplo, se o Governo fixasse um
conteúdo de um direito fundamental ao ambiente, este decreto só poderia existir se fosse autorizado pela
Assembleia da República (artigo 165 nº1 alínea b)). Tudo depende da matéria.
b) O PR recebe o diploma a 25 de Março de 2019. O PR não concorda com o diploma pois
entende que o diploma viola o conteúdo da lei de bases do ambiente. O que pode fazer?
O Presidente da República pode, nos termos do artigo 136 nº5 requerer a fiscalização preventiva da
constitucionalidade (e nunca da legalidade), apesar daqui estar uma ilegalidade, com o fundamento no princípio
da violação da ilegalidade da prevalência da lei com valor reforçado sobre o decreto-lei.
c) O PR recebe o diploma a 20 de Fevereiro de 2019. A 1 de Março de 2019 veta politicamente o
diploma. O que pode fazer o Governo?
O Governo pode nada fazer e acaba o procedimento legislativo ou então pode reformular o diploma,
retirando a norma sobre a qual incide o veto político ou então, como não se trata de matéria exclusiva do
Governo, pode transformar o decreto em proposta de lei a apresentar à Assembleia da República (artigo 136
nº4).

Revisão da Constituição ou Poder Constituinte Derivado:

Artigo 284 até ao 289 da Constituição: regras relativamente à revisão da Constituição (alteração da
Constituição)

Artigo 284: este artigo diz respeito à iniciativa de revisão constitucional, o começo do processo.
nº1: revisão ordinária da Constituição.
nº2: revisão extraordinária da Constituição.

Artigo 285:
nº1: é da exclusiva competência dos deputados e de mais ninguém a competência da revisão
constitucional.
nº2: há uma iniciativa e qualquer deputado pode apresentar uma iniciativa de revisão constitucional.

Artigo 286:
nº1: aqui refere-se à aprovação, votação final (2/3 dos 230 deputados em efetividade de funções).
nº2: podemos ter vários projetos e há um documento único que aprova a lei constitucional, ou seja,

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existe o decreto lei da AR que será promulgado como lei constitucional (esta contém todas as disposições que
foram aprovadas e que podem ser de um ou de vários projetos).
nº3: o PR não pode nem vetar politicamente nem requerer a fiscalização preventiva da
constitucionalidade de uma lei de revisão constitucional, só pode promulgar.

Artigo 287: menos importante. As alterações vão alterar os artigos da própria Constituição.

Artigo 289: os Estados de Sítio e os Estados de Emergência (quando ligados a terrorismo), muitas vezes, têm a
haver com a alteração da lei. Exemplo: coletes amarelos em França. Assim, se há um tumulto não pode haver
uma revisão Constitucional.

Artigo 284 até ao artigo 287 + artigo 289: são limites formais à revisão da Constituição, ou seja, estes são
limites que dizem respeito às regras de procedimento de revisão constitucional, incluindo a legitimidade para
rever a constituição e aos limites circunstanciais da revisão (ou seja, tem a haver com o procedimento). Limites
formais é apenas de procedimento da revisão (temporais, circunstanciais, etc.)

Limites materiais da revisão: dizem respeito ao conteúdo da Constituição


Artigo 288:

alínea a): artigo 5, artigo 6, artigo 7 nº1, artigo 3 (relativamente à soberania, etc.).
alínea b): artigo 1 da CRP.
alínea c): o Estado é laico, se há um senado constituído pelo Clero na AR o Estado deixa de ser laico.
Artigo 41 nº4 da Constituição.
alínea d): direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Artigo 12 até ao artigo 79 da Constituição +
artigo 2.
alínea e): os direitos dos trabalhadores também são direitos fundamentais mas o legislador quis dar
ênfase a estes direitos fundamentais (dos trabalhadores) pois estes na época de 70 (os trabalhadores) eram
desvalorizados. Artigos 73 até ao 79.
alínea f): artigo 82 alínea f).
alínea g): Economia mista. Artigos 90 e 91 da CRP.
alínea h): artigo 10 e 49 da CRP (sufrágio universal).
alínea i): “pluralismo de expressão…” também faz parte dos direitos fundamentais mas esta vertente
de democracia que o legislador quis dar ênfase. Artigo 2, 48, 50 e 51.
alínea j): artigo 2 e 111 (princípio da separação de poderes).
alínea l): artigo 277.
alínea m): o legislador quis dar ênfase à dependência dos tribunais (este faz parte da ideia de separação
de poderes mas quis dar ênfase). Artigo 203.
alínea n): só controla o cumprimento da legalidade e não das decisões de mérito. Artigo 235 até ao 254
+ artigo 6 nº1.
alínea o): autonomia administrativa dos arquipélagos. Artigo 100 nº2 + artigos 225 até ao 234.

O que são limites absolutos? Um limite formal ou material à revisão da Constituição é absoluto
quando não pode ser alterado pela revisão da Constituição ou pela lei de revisão constitucional. O limite formal
e material à revisão da Constituição é relativo quando é respeitado pelo poder de revisão constitucional (ou seja,
pelos deputados) enquanto ele vigorar na Constituição. Mas, pode ser objeto de lei de revisão constitucional e,
por conseguinte, ser alterado.
Limites relativos da Constituição: todos os limites formais à exceção dos artigos 285 nº1 e 286 nº3, e
em certos casos (de acordo com a perspectiva da Dr. Lígia) o artigo 289, são todos limites relativos. Ou seja, por
exemplo, quando um deputado apresenta o projeto de revisão constitucional tem de respeitar os limites
temporais e circunstanciais impostos pela Constituição (pois ainda estão em vigor, não foram alterados). No
entanto, esse projeto, pode conter uma proposta de alteração de qualquer um destes limites formais relativos e os
deputados podem aprovar essa alteração. Por exemplo, podem aprovar uma alteração ao artigo 284 nº1, ou seja,

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a revisão Constitucional ordinária passa a ter como limite 6 anos (6 anos passados da última revisão ordinária).
Só não pode, de acordo com o prof. Jorge Miranda e da prof. Lígia, não podem, os deputados, alterar uma
revisão constitucional ao artigo 285 nº1 e 3 (isto não é consensual). O prof. Jorge Miranda entende que o
sistema do Governo português é um sistema semi-presidencialista, então, a revisão constitucional será sempre
da iniciativa dos deputados e deverá ser aprovada por estes (artigo 286 nº1 também pode ser um limite formal
absoluto).
Todos os limites formais, no pensamento da prof. Lígia, são relativos se entendermos que o sistema de
Governo semi-presidencialista não e uma característica essencial ao Estado de Direito. O Estado de Direito é
que é a base de tudo. O que é uma característica essencial, no âmbito do Estado de Direito, à constituição de 76
é o princípio da separação de poderes e esta separação pode ser concretizada através de outros sistemas de
Governo, nomeadamente o sistema parlamentar ou sistema presidencialista.
Limites circunstanciais: limite formal, artigo 289, há quem entenda que se pode alterar este artigo
289. Enquanto estiver em vigor tem de ser respeitado mas, há quem entenda que o projeto com alteração do
artigo 289 pode ser aprovado porque não viola os princípios essenciais da Constituição de 76. A professora Dr.
Lígia entende que este limite do artigo 289 pode até ser absoluto (não é necessariamente) se estiver instalado
num país o Estado de Sítio e que a iniciativa de revisão constitucional possa causar mais tumulto no futuro.
Será que os limites materiais são relativos ou absoluto?
1ª teoria
1º todos os limites materiais são limites relativos seria flexível, tudo é possível de alterar, todos os
limites.
2º não é a maioria dos limites materiais que são absolutos, não podem ser alterados, isto significa que a
constituição é rígida, há quem entenda que os limites materiais são absolutos.
3º segundo o Dr. Jorge Miranda, dupla revisão constitucional significa que os limites materiais numa
primeira revisão têm que ser respeitados porque estão ainda em vigor na constituição, porque o projeto de
revisão constitucional pode alterar estes limites de revisão constitucional, pode retirar a alíneas f) ou g) do artigo
288 e, só depois, numa segunda revisão constitucional, respeitados os tais 5 anos, é que se pode aprovar
alterações ao conteúdo da constituição que estava associado às alíneas que foram anteriormente retiradas ou
alteradas na Constituição, porque os limites materiais de revisão constitucional não têm natureza constitutiva de
direitos mas meramente declarativa. O Dr. Jorge Miranda entende que nem todos os limites materiais podem ser
suprimidos da Constituição, nomeadamente os limites que dizem respeito aos direitos fundamentais as alíneas c)
a i).
2ª teoria - Os limites materiais só são absolutos se estiverem associados à essência da constituição, ou
seja, ao Estado Republicano de direito democrático e social e Estado laico. Isto não significa que não se pode
mexer nos direitos fundamentais (dos trabalhadores e da interdependência de poderes, por exemplo), não se
podem retirar essas alíneas do artigo 288, no entanto, os deputados podem aprovar projetos com alterações ao
conteúdo dos direitos fundamentais da constituição para promover o Estado de direito democrático e social e o
Estado laico.

Casos Práticos desta matéria:


O governo português invocando o seu direito de iniciativa legislativa, entregou na mesa da
Assembleia da República uma proposta de lei de revisão do atual texto constitucional.
De entre as modificações propostas destacam-se, entre outras, as seguintes:
• A intenção de alterar o número de votos necessários para a aprovação de um pedido de revisão
extraordinária, que passaria dos 4/5 previstos atualmente no texto constitucional (artigo 284 no 2
CRP) para apenas 3/5 dos deputados em efetividade de funções;

• A possibilidade de um texto de revisão ser aprovado durante a vigência de situações de exceção


constitucional (estado de sítio e estado de emergência), desde que os demais termos do processo de
revisão se tenham desenrolado anteriormente à declaração da situação de exceção.

Confrontados com esta proposta de revisão, os partidos da oposição reagiram prontamente


alegando que ela contém vários atropelos ao texto constitucional. Referiram, nomeadamente, que o
Governo, apesar de ter direito de iniciativa legislativa em geral, não tem de todo competência para
apresentar uma proposta de revisão da Constituição. Para além disso, dado o teor desta proposta, o
Executivo está a pôr em causa limites constitucionais de revisão, alguns dos quais intransponíveis (limites
absolutos).

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1) Poderia o executivo, no caso concreto da revisão, ter iniciativa legislativa? Não, quem tem iniciativa de
revisão constitucional são apenas os deputados, no âmbito do artigo 285 nº1.

2) Tendo em conta o argumento dos partidos da oposição de que esta proposta de revisão não respeita
alguns dos limites de revisão, diga o que entende por:

a) Limites formais e limites materiais de revisão: artigo 284 nº2 + 289 é formal porque diz
respeito ao procedimento de revisão constitucional, nomeadamente ao limite temporal à revisão ordinária e não
é um limite material porque não diz respeito ao conteúdo material da Constituição que começa no artigo 1 e
acaba no artigo 283.

b) Limites absolutos e limites relativos de revisão: artigo 284 nº2 é um limite formal
relativo, na medida em que, enquanto estiver em vigor na Constituição, tem de ser respeitado mas pode ser
objecto de um projeto de lei de revisão e a sua alteração ser aprovada pelos deputados da Assembleia da
República. Não é um limite absoluto porque a nossa Constituição não é completamente rígida. Os limites
absolutos são aqueles associados aos princípios básicos da Constituição de 76 (princípio do Estado de Direito
Democrático, de Estado laico, por exemplo). O artigo 289 é um limite formal relativo pelas mesmas razões mas,
se os deputados entenderam que uma alteração à Constituição da República Portuguesa pode instigar a violência
ao Estado de Sítio, pode tal projeto não ser aprovado.

3) Numa aula prática de Direito Constitucional discutia-se a validade desta proposta de revisão
constitucional, havendo posições divergentes acerca deste assunto:

António tinha como assente que é sempre obrigatória a observância dos limites de revisão
previstos no texto constitucional (qualquer que seja a sua natureza), pois o poder de revisão é um poder
constituinte constituído.
Para o António a nossa constituição é rígida, ou seja, quer os limites formais quer os limites materiais
são sempre absolutos, não podem ser alterados.

Luís, por sua vez, considerava a parte final da afirmação do seu colega completamente destituída
de sentido, pois o poder constituinte originário, na sua opinião, tem carácter omnipotente.
O Luís confunde o poder de revisão constitucional com o poder constituinte originário (que é o poder
de criar uma constituição). De acordo com o Luís, ele entende que o poder de revisão constitucional não
obedece a limites que são todos absolutos, para ele, certos limites formais podem ser relativos, bem como os
limites materiais (podem ser relativos). Para o Luís a nossa constituição não é rígida, no entanto, ele entende que
o poder constituinte originário é omnipotente, ou seja, não tem limites. De facto, este poder não obedece a
nenhuma constituição, no entanto, não é omnipotente porque, quando e pretende criar uma constituição com o
respeito dos direitos humanos e dos princípios democráticos, o poder constituinte originário tem de obedecer a
esses princípios (nomeadamente ao Estado de Direito democrático) e tem de obedecer também à vontade do
povo, tem de ser querida pelo povo.

Intervindo também na discussão, Joana afirma que, apesar de estarem previstos, no texto
constitucional, uma série de limites de revisão, todos eles, sem exceção, podem ser ultrapassados através
da técnica da dupla revisão.
A Joana defende a teoria da dupla revisão do professor Jorge Miranda, ou seja, numa primeira revisão,
os deputados têm de respeitar todos os limites impostos pela constituição (artigo 284 a 289). No entanto,
qualquer projeto nessa primeira revisão pode incidir sobre a alteração de qualquer uma destas alíneas (dos
referidos artigos). Por exemplo, é possível retirar da constituição a alínea g) do artigo 288, porque os limites à
Constituição são apenas declarativos (não são constitutivos de direito). Só numa segunda revisão constitucional,
após os 5 anos da revisão ordinária ou numa revisão extraordinária, os deputados podem aprovar uma alteração
ao conteúdo material da Constituição associada à alínea que foi retirada na primeira revisão Constitucional
porque essa alínea já não existe na Constituição.

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Fiscalização da Constitucionalidade: artigos 277 até ao 283
A fiscalização da constitucionalidade e da legalidade consiste em o Tribunal Constitucional apreciar se
as normas criadas pelo poder legislativo estão ou não de acordo com a Constituição. Podemos ter dois grandes
tipos de fiscalização da Constitucionalidade: pode incidir sobre a inconstitucionalidade por ação ou por omissão.
• Por ação: é quando existe um ato legislativo que viola o conteúdo da Constituição e os processos
de fiscalização da Constitucionalidade por ação podem ser:
- fiscalização preventiva da constitucionalidade: significa que o ato legislativo, e não
todos os atos normativos, ainda não entraram em vigor (daí ser preventiva), ou seja,
ainda não foram promulgados ou publicados. O seu regime está previsto nos artigos 278
e 279 da Constituição;
- fiscalização sucessiva da constitucionalidade: aqui, as normas já estão em vigor.
Sucessiva por isto mesmo. Ou seja, já foram promulgadas ou assinadas e já estão
publicadas no diário da república. Divide-se em 2 processos de fiscalização:
- A fiscalização sucessiva concreta da constitucionalidade: é concreta
porque os efeitos da decisão do Tribunal C se aplicam apenas a um
caso em concreto. Por exemplo, os senhores A e B têm um processo
no tribunal da comarca x, uma ação de despejo, por exemplo e uma
norma que se vai aplicar àquele processo é entendida pelo juiz como
sendo inconstitucional. Se o TC se pronunciar pela
inconstitucionalidade , os efeitos da inconstitucionalidade só se
aplicam ao caso concreto dos senhores A e B. Artigo 280 da
Constituição
- A fiscalização sucessiva abstrata da constitucionalidade: abstrata
porque a decisão do TC não se aplica a um caso em concreto, tem
efeito erga homnes (a norma que é decretada inconstitucional deixa
de estar em vigor no ordenamento jurídico português). A norma que
é apreciada pelo TC não retirada do caso em concreto. Artigos 281 e
282 da Constituição
• Por omissão: ou seja, quando o poder legislativo não cumpre uma imposição legiferante ou uma
ordem para legislar imposta pela Constituição.
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Artigo 278 e 279
É uma fiscalização abstrata e preventiva, no sentido em que é uma norma que se pretende que se
aplique, se for promulgada, a todos os destinatários da norma (e não num caso em concreto). A fiscalização
preventiva é abstrata porque se incide numa norma que se vai aplicar aos cidadãos e não a um caso em concreto.
Artigo 278
nº1: legitimidade do Presidente da República para requerer a fiscalização preventiva da
constitucionalidade
nº2: é legitimidade dos Representantes da República para requerer a fiscalização preventiva da
constitucionalidade junto do Tribunal Constitucional de uma norma constante de um decreto legislativo regional
que lhe é enviado para a assinatura; remissão para os Estatutos das Regiões Autónomas artigos 99 (Madeira) e
107 nº1 alínea d) (Açores)
nº3: quer o Representante da República quer o Presidente da República têm 8 dias para requerer a
fiscalização preventiva da constitucionalidade, a contar do momento que recebe o diploma ou por promulgação
ou para assinatura (respetivamente)
nº4: relativo à legitimidade para requerer a fiscalização preventiva da constitucionalidade quando o
decreto incide sobre matéria de lei orgânica (166 nº2); 1º ministro e o 1/5 deputado em efetividade de funções
também tem legitimidade para requerer a fiscalização preventiva da constitucionalidade se o decreto da
Assembleia da República (neste caso) incidir sobre matéria de lei orgânica
nº5: o Presidente da Assembleia da República dá conhecimento ao 1º ministro e aos grupos
parlamentares de que enviou o decreto de lei orgânica (e só este) ao Presidente da República ao 1º ministro e aos
grupos parlamentares de forma a que estes, se quiserem, possam requerer a fiscalização da constitucionalidade
nos termos do artigo 278 nº4
nº6: 1/5 dos deputados da Assembleia da República em efetividade de funções e o 1º ministro têm 8
dias, a contar da notificação do Presidente da Assembleia da República sobre o envio do decreto sobre matéria
de lei orgânica ao Presidente da República, para requerer a fiscalização preventiva da constitucionalidade
nº7: quando o decreto da Assembleia da República (só nestes casos) incide sobre matéria de lei
orgânica, o Presidente da República, se não pretender requerer fiscalização preventiva da constitucionalidade,
não pode, nos 8 dias contados da receção do diploma, quer por si quer pelo 1º ministrou pelos grupos
parlamentares: exercer o veto político nem promulgar o diploma. Se o quinto dos deputados da Assembleia da
República em efetividade de funções ou o 1º ministro requerer a fiscalização da constitucionalidade, o
Presidente da República tem de esperar pela decisão do Tribunal Constitucional antes de promulgar se a decisão
for de constitucionalidade ou, antes de exercer o veto político, se a decisão do Tribunal Constitucional for de
constitucionalidade (artigo 136 nº1) ou exercer o veto por inconstitucionalidade quando a decisão do Tribunal
Constitucional é de inconstitucionalidade.
nº8: prazo de 25 dias
Artigo 279
nº1: obrigatoriedade do veto por inconstitucionalidade por parte do Presidente da República e do
representante da república, sendo que para o representante da república só os decretos da Assembleia Legislativa
Regional (são só esses os decretos que ele recebe para assinar) e também o dever de devolver o diploma ao
orgãos que o aprovou (ou à Assembleia da República, ou ao Governo ou à Assembleia Legislativa Regional)
nº2: após um veto por inconstitucionalidade a Assembleia da República pode: ou nada fazer e acaba o
procedimento legislativo ou então retirar a norma considerada inconstitucional reformulando o diploma e enviar
novamente o diploma para o Presidente da República ou então ultrapassar o veto por inconstitucionalidade
(confirmar o diploma) por maioria de 2/3 dos deputados presentes, desde que superior à maioria absoluta dos
deputados em efetividade de funções. Primeiro, os votos a favor têm de ser iguais ou superiores ao número de
2/3 dos deputados presentes e este valor tem, cumulativamente, de ser superior à maioria absoluta dos deputados
em efetividade de funções, ou seja, superior a 116 (tem de ser no mínimo 117). Neste caso, o Presidente da
República não está obrigado a promulgar o diploma ao contrário no veto político. O Governo e as Assembleias
Legislativas Regionais só podem: ou nada fazer ou reformular o diploma, isto em relação ao do veto por
inconstitucionalidade.
nº3: —

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Casos práticos: Fiscalização Preventiva da Constitucionalidade

1. A Assembleia da República aprovou um decreto sobre as eleições dos órgãos do poder local. O
Presidente da República tem dúvidas sobre a conformidade deste diploma com a Constituição. O que
poderá fazer? E o Primeiro - Ministro? Poderá o Presidente da República promulgar o decreto antes
de decorrerem os oitos dias após a recepção do referido diploma? Poderá o Presidente da República
após essa data vetar politicamente o diploma? Suponha que o Tribunal Constitucional considera o
diploma inconstitucional o que poderá a Assembleia da República fazer?

O Presidente da República pode requerer a fiscalização preventiva da constitucionalidade nos termos


do artigo 278 nº1.
Como o decreto incide sobre matéria de lei orgânica (artigo 166 nº2 + 164 alínea l) primeira parte) o
Primeiro Ministro é competente / tem legitimidade para requerer a fiscalização preventiva da
constitucionalidade, nos termos do artigo 278 nº4.
Nos termos do artigo 278 nº7, o Presidente da República não pode promulgar o decreto nem vetar
politicamente o decreto, antes de decorrer os 8 dias do prazo fixado no artigo 278 nº5. Ou seja, os 8 dias a contar
da notificação do decreto sobre matéria de lei orgânica (e só este) ao Primeiro Ministro e aos grupos
parlamentares, para que estes, se assim entenderem, poderem também requerer a fiscalização preventiva da
constitucionalidade.
O Presidente da República, passados esses 8 dias da notificação do decreto, pode vetar politicamente o
diploma se o Primeiro Ministro ou 1/5 dos deputados não tiver requerido a fiscalização preventiva da
constitucionalidade. Caso contrário, tem de esperar pela decisão do Tribunal Constitucional e só após uma
decisão do Tribunal Constitucional, que não se pronuncie pela inconstitucionalidade da norma, é que o
Presidente da República pode vetar politicamente o diploma. Artigo 136 nº1.
O Presidente da República é obrigado a vetar por inconstitucionalidade nos termos do artigo 279 nº1 e
a Assembleia da República pode, nos termos do artigo 279 nº2, confirmar o diploma e devolve-lo ao Presidente
da República sendo que o Presidente da República não está, neste caso, obrigado a promulgar o diploma. Ou
então, pode reformular o diploma, retirando a norma inconstitucional e enviando o diploma para o Presidente da
República novamente, nos termos do artigo 279 nº2 ou então nada fazer e promulgar o diploma.

2. Assembleia legislativa regional dos Açores aprova um decreto (legislativo regional) sobre atos ilícitos
de mera ordenação social sem lei de autorização da Assembleia da República. O que poderá fazer o
Presidente da República e o Representante da República? E a Assembleia Legislativa Regional?

O Presidente da República não recebe o diploma das Assembleia Legislativa Regional para assinatura,
quem recebe este diploma, para este efeito, é o representante da república e, desta forma, o Presidente da
República não pode nem assinar o diploma nem vetá-lo politicamente nem requerer a fiscalização preventiva da
constitucionalidade. Estes poderes, em relação ao decreto da assembleia regional, são atribuídos ao
representante da república. No caso concreto, a Assembleia Legislativa Regional só poderia legislar sobre esta
matéria se autorizada, através de uma lei de autorização, pela Assembleia da República. Estamos perante uma
violação do princípio da reserva relativa de lei (artigos 227 nº1 alínea b. + 165 nº1 alínea d. segunda parte) o
representante da república tem legitimidade para requerer a fiscalização preventiva da constitucionalidade, nos
termos do artigo 278 nº2. Açores, artigo 39 nº1.
Se a decisão do Tribunal Constitucional for de inconstitucionalidade a Assembleia Legislativa
Regional, nos termos do artigo 279 nº2, podia expurgar / retirar a norma inconstitucional reformulando o
diploma, devolvendo o diploma reformulado ao representante da república ou então nada fazer.

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Casos práticos:

1. A ALR dos Açores aprova um decreto sobre requisição por utilidade pública de bens próprios
da região.

a) Suponha que este decreto foi aprovado tendo por base uma lei de autorização da AR. Os deputados
da Assembleia dos Açores são, no total, 57, o diploma foi aprovado por 40 votos a favor e 6 votos
contra. Explique se a Assembleia era competente para legislar sobre esta matéria e se o diploma foi
corretamente aprovado.
A Assembleia Legislativa Regional tem competência para legislar sobre a referida matéria, mediante uma
lei de autorização da Assembleia da República, artigo 227 + 165 nº1 alínea e) da Constituição
(competência delegada da Assembleia Legislativa Regional). Pode legislar sobre a matéria tendo em conta
o território da região autónoma, de acordo com o princípio da autonomia legislativa regional. Regra geral,
artigo 116 nº3 da Constituição, as decisões dos orgãos colegiais são adotadas por uma maioria simples ou
relativa, ou seja, contam-se os votos a favor e os votos contra e se os votos a favor forem superiores aos
votos contra é aprovado o decreto, neste caso. Em relação às Assembleias Legislativas Regionais, existem
outras maiorias, nomeadamente para confirmar um diploma regional objeto de veto político por parte do
representante da república.

b) O representante da república não concorda politicamente com o diploma, o que pode fazer? E a
Assembleia Regional o que pode fazer?
O Representante da República pode, nos termos do artigo 107 nº2 do Estatuto os Açores, exercer o seu
direito de veto político, fundamentando em motivos políticos ou de interesse público ou bem comum no
prazo de 15 dias contados da data de receção de qualquer decreto. A Assembleia Legislativa Regional pode
nada fazer e da-se por terminado o procedimento legislativo ou então reformular o diploma, retirando a
norma sobre a qual incidiu o veto político ou ainda pode confirmar o diploma nos termos do artigo 107 nº2
do estatuto dos Açores por voto da maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções, ou seja, eles
são 57, a dividir por 2 dá 29, têm de ser 29 deputados. Neste caso, o representante da república é obrigado
a assinar o diploma.

c) O representante da república entende que o decreto regional não está em conformidade com o
conteúdo da lei de autorização da AR, o que pode fazer? E a ALR, que pode fazer?
Quando um diploma regional não obedece ao conteúdo de uma lei de autorização da qual depende,
estamos perante uma violação do princípio constitucional da legalidade e da prevalência da lei com valor
reforçado sobre o decreto legislativo regional. Artigo 112 nº2 segunda parte + 112 nº3 segunda parte.
Então, sendo assim, existe uma violação da constituição, o representante da república, nos termos do
artigo 278 nº2 da Constituição pode requerer a fiscalização preventiva da Constitucionalidade. Se o
Tribunal Constitucional se pronunciar pela inconstitucionalidade da norma do diploma, o Representante da
República é obrigado a vetar o diploma por inconstitucionalidade, nos termos do artigo 279 nº1.
A Assembleia Legislativa Regional, nos termos do artigo 279 nº2 da Constituição pode reformular o
diploma, expurgando / retirando a norma sobre a qual incidiu o veto por inconstitucionalidade e devolver o
diploma reformulado ao representante da república.

2. Revisão da Constituição:
Explique se as seguintes disposições da Constituição são limites formais, materiais, relativos ou
absolutos: artigo 285 nº1, artigo 284 nº2, artigo 288 alínea o), artigo 288 alínea b), artigo 66 nº1 e o artigo
63 da Constituição.
Artigo 285 nº1 é uma norma travão para os outros órgãos que não podem rever a Constituição, só os
deputados têm iniciativa de lei de revisão Constitucional. É um limite formal pois diz respeito à legitimidade de
iniciativa de lei de revisão constitucional, ou seja, é um limite de procedimento. O limite à revisão da
Constituição é relativo quando, enquanto estiver em vigor na Constituição, tem de ser respeitado mas, pode ser
objeto de um projeto de lei e ser aprovada a sua modificação ou supressão da Constituição. Estes limites
relativos não incidem sobre o conteúdo essencial da constituição de 1976 (Estado de Direito Social Democrático
Independente Republicano e Laico). O Dr. Jorge Miranda entende que podemos considerar este artigo 285 nº1
um limite formal absoluto porque o sistema de Governo português é um sistema semi-presidencialista e não
presidencialista. No entanto, no sistema semi-presidencialista parlamentar existe separação de poderes, ou seja,
não se viola o princípio da separação de poderes, que é um limite absoluto à revisão da Constituição, se em
virtude de uma lei constitucional se passar a um sistema de governo paramentar ou presidencialista, apenas de
altera certas competências dos órgãos de soberania (mas a separação de interdependência de poderes continua
presente na Constituição).

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Artigo 284 nº2 é um limite formal relativo, porque os limites temporais são relativos, enquanto
estiverem em vigor têm de ser respeitados mas podem ser objeto de uma revisão da Constituição e, se for
aprovado o texto de alteração ou supressão do artigo 284 nº2 (ou nº1), é possível aprovar, por exemplo, a
supressão deste artigo ou a alteração do quorum necessário de 4/5 para 2/3.
Artigo 288 alínea o) é um limite material porque diz respeito ao conteúdo da constituição. Este
conteúdo é relativo à autonomia política administrativa das Regiões Autónomas que está nos artigos 225 até
234. Há quem entenda que todos os limites materiais são relativos (tudo pode ser alterado na Constituição -
Constituição flexível), há quem entenda que todos os limites materiais são absolutos (Constituição rígida) e há
quem entenda que a Constituição é semi-rígida, ou seja, os limites materiais só são absolutos se disserem
respeito ao conteúdo essencial da Constituição, ou seja, ao Estado de Direito Democrático Independente
Republicano e Laico. A teoria de Jorge Miranda é a teoria da dupla revisão Constitucional na qual os limites do
artigo 288 têm natureza declarativa e não constitutiva. Numa primeira revisão o legislador de revisão
constitucional (deputados) têm de respeitar os limites que estão em vigor na Constituição porém, podem aprovar
a alteração, supressão de qualquer uma das alíneas do artigo 288, exceto os direitos fundamentais. Ou seja, só se
pode fazer uma revisão ao artigo 288 mas não se pode alterar o resto da constituição numa primeira revisão. Há
quem não concorde com esta teoria de Jorge Miranda. De acordo com a teoria maioritária da Constituição semi-
rígida os limites à revisão da Constituição podem ser relativos e absolutos. O artigo 288 alínea o) é um limite
material. Se entendermos que este princípio da autonomia regional é um princípio essencial do Estado de Direito
Democrático, então, este artigo é um limite absoluto. De acordo com a teoria de Jorge Miranda, se formos de
acordo com esta, este artigo é um limite relativo, ou seja, este tem natureza declarativa, enquanto estiver em
vigor deve ser respeitado mas, numa primeira revisão, os deputados podem aprovar uma lei de revisão
constitucional que suprima ou modifique o artigo 288 o) mas já não podem nesta revisão modificar os artigos da
Constituição material (artigo 6 nº2 + 225 a 234) porque, aquando desta primeira revisão, o limite material do
artigo referido ainda não foi suprimido. Só numa segunda iniciativa de revisão Constitucional é que os
deputados podem alterar os restantes artigos da Constituição material, que dizem respeito à autonomia regional.
Artigo 288 alínea b) é um limite material e absoluto, ou seja, não pode ser alterado ou suprimido da
Constituição.
Artigo 66 nº1 é um limite (direito ao ambiente) que corresponde a um direito fundamental, ou seja é
um limite absoluto (artigo 288 alínea d)) na medida que não pode ser retirado aos cidadãos. Então, não pode ser
retirado da constituição mas, não é absoluto na medida em que pode ser modificado de forma a clarificar o
sentido desse direito ou transformar esse direito melhorando o conteúdo desse direito. Pode ser reformado este
artigo, para melhorar, clarificar o sentido deste direito.
Artigo 63 é um limite absoluto (corresponde a um direito fundamental, artigo 288 d)). Porém, este
entendimento pode ser diferente.

3. A AR, por 105 votos a favor, 40 contra e 18 abstenções, aprovou em 10 de janeiro de 2019 um
decreto que estipulava que só seria aprovados os meus de comunicação (jornais, revistas, etc.) de
comprovada qualidade. O PR tem dúvidas quanto à constitucionalidade do diploma porque entende que
viola a liberdade de imprensa. Requereu a 23 de janeiro de 2019 à apreciação da constitucionalidade do
decreto da Assembleia que lhe tinha chegado a 27 de janeiro. O TC pronunciou-se pela
inconstitucionalidade a 8 de fevereiro. Face ao sucedido o PR votou o diploma a 18 de fevereiro e
devolveu-o à AR a 20 de fevereiro. A 10 de março a AR, por 118 a favor, 10 contra e 30 abstenções,
confirmou o decreto e o PR promulgou o diploma. Aprecie a conformidade destes atos à luz da
Constituição.
Artigo 165 alínea b), é uma matéria da reserva relativa da Assembleia da República. Em votação final,
esta matéria é aprovada por maioria relativa. Os votos a favor são superiores aos votos contra, ou seja, foi
aprovado. Nos termos do artigo 278 nº3, o Presidente da República tem 8 dias, contados da receção do diploma,
para requerer a fiscalização preventiva da constitucionalidade. Cumpriu o prazo do artigo e a fundamentação é
jurídica (violação de um direito fundamental). O Tribunal Constitucional cumpriu o prazo nos termos do artigo
278 nº8. O Presidente da República vetou o diploma a 18 de fevereiro por inconstitucionalidade, o que também
respeita o prazo de 20 dias (a contar da decisão do Tribunal Constitucional que se pronuncie pela
inconstitucionalidade — aqui aplicamos, por analogia, o artigo 136 nº1). Nos termos do artigo 279 nº2, a
Assembleia da República pode confirmar o diploma apenas por maioria de 2/3 dos deputados presentes desde
que superior à maioria absoluta dos deputados em efectividade de funções. 105+40+18 = 158 votos. 2/3 de 158
são 106, 118 é superior a 106 e tem de ser superior (e é superior) a 117. Artigo 160 nº1 do regimento da AR.
Foram cumpridos os preceitos da Constituição e do regimento.

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O que sai na frequência?
- Parte da organização do Estado: sai apenas a competência legislativa exclusiva partilhada, competência
concorrencial, saber o que são os órgãos e as suas características; saber as formas de designar os titulares do
poder político; no âmbito dos tribunais saber o que é o TC e os princípios constitucionais que se aplicam aos
tribunais (trazer o estatuto dos magistrados); princípio da separação dos poderes sobretudo no âmbito
legislativo (trazer o acórdão do TC sobre os poderes da AZAE)

- Atos legislativos: interpretar e aplicar o artigo 112 do nº1 até ao 5


- Saber o que são leis de valor reforçado, as suas características saber o que é o princípio da reserva de lei,
saber o que é o princípio da prevalência da lei com valor reforçado; saber qual é o princípio da tendencial
paridade entre lei e decreto lei; saber explicar o que é a competência própria da ALR (trazer o acórdão do TC
sobre esta matéria, trazer o estatuto das RA); artigo 164, 165, 166, 198 e 227 alínea a, b e c da Constituição

- Procedimento legislativo: o que é uma iniciativa de lei originária e superveniente, o que é a iniciativa de lei
interna e externa, quais são os limites matérias (incluindo o que são normas travão à iniciativa de lei); limites
formais (saber limite máximo); na segunda fase saber qual é o papel do Presidente da AR papel das
comissões parlamentares (possibilidade de recurso quando há rejeição) e saber que certas entidades têm de
obrigatoriamente ser consultadas quando se trata de matéria de lei laboral, autarquias locais e RAs. Terceira
fase: saber o que é a discussão na generalidade e votação na generalidade (de forma sumária) e votação final
(de certeza que sai para quantificar e saber se foi ou não bem aprovada o decreto lei); trazer o regimento da
AR (artigos que a prof. disse), não esquecer o artigo 116 nº3, 167 e 168 nº5 e 6 (na votação final, não
esquecer as regras do artigos referidos)

- Poder de promulgação do presidente da república: artigo 134 alínea b) da constituição + artigo 137
- Poder de veto político: todo o artigo 136 até ao nº5
- Fiscalização preventiva da constitucionalidade: ver os artigos 278 e 279 das RAs
- Revisão constitucional saber o que são limites formais e materiais; limites relativos e absolutos e no âmbito
destes absolutos, explicar as teorias que conhecemos (teoria do dr. Jorge Miranda da dupla revisão).

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