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Neurotoxoplasmose
Quadro clínico
Paciente do sexo feminino, 43 anos de idade, HIV positivo, descontinuou tratamento com
antirretrovirais há 2 anos. Evolui com quadro de cefaleia há 1 mês; na última semana,
apresentou déficit de força em hemicorpo esquerdo e há 1 dia, confusão mental. Realizou TC
de crânio com múltiplas lesões com captação de contraste em anel.
Comentário
Paciente HIV positivo, sem tratamento, presumivelmente com contagem baixa de linfócitos
CD4, apresenta quadro de cefaleia, déficit neurológico e múltiplas lesões que captam contraste
em tomografia. A principal hipótese é neurotoxoplasmose, que será discutida a seguir.
Neurotoxoplasmose
A toxoplasmose é uma doença causada por parasita com distribuição mundial, cujo agente é o
Toxoplasma gondii, que é um protozoário intracelular obrigatório. Em pacientes
imunocompetentes, pode causar síndrome mono-like ou cursar assintomático; infecção
latente pode persistir por toda a vida. Em imunodeprimidos, particularmente no paciente com
Aids, pode cursar com reativação da doença, em geral quando a contagem de linfócitos CD4 se
torna menor que 100 cels/mm3. Todos os pacientes HIV positivos devem realizar rastreamento
com sorologia para toxoplasmose e, para os casos indicados, a profilaxia deve ser iniciada.
O quadro clínico costuma ser subagudo, com duração de duas a três semanas. Os sinais e
sintomas mais frequentes são: alterações sensoriais que ocorrem em 50 a 90% dos casos,
hemiparesia e outros sinais focais ocorrem em cerca de 60% dos pacientes. Cefaleia ocorre
entre 50 e 55% dos casos; convulsões (30%), acidentes cerebrovasculares (30%) e sinais de
irritação meníngea (menos de 10%) também são descritos. Febre é uma queixa comum em
47% dos pacientes; confusão e coma podem estar presentes.
Ao exame neurológico, o paciente muitas vezes está sonolento, com déficit motor focal, como
hemiparesia, com sinais de liberação piramidal, ataxia e lentificação psicomotora, com
manifestações sobretudo quanto ao nível de consciência, que podem ser flutuantes.
A ressonância magnética é mais sensível que a tomografia, mas só deve ser feita se o exame
tomográfico for inconclusivo. Um estudo demonstrou que a ressonância pode achar até 40%
de lesões não encontradas no estudo tomográfico, as quais influenciariam o manejo do
paciente. Nos casos com achado de lesão única na ressonância magnética, a biópsia cerebral
estereotáxica provavelmente será necessária. Vale lembrar que o diagnóstico diferencial de
lesões ocupadoras de espaço em pacientes com sorologia positiva para HIV é extenso e deve
incluir:
Linfoma primário do SNC: cerca de 20 a 30% dos casos, inclusive eventualmente com lesões
múltiplas;
Meningites/meningoencefalites
Neurotoxoplasmose
Neurotuberculose
Neurocriptococose
Meningite viral
O diagnóstico definitivo é feito por biópsia cerebral, entretanto, na maioria das vezes, não é
necessária. O diagnóstico presuntivo de neurotoxoplasmose pode ser realizado em paciente
com Aids e menos de 100 linfócitos CD4/mm3, desde que os 3 critérios seguintes estejam
presentes:
Tratamento
O tratamento deve ser iniciado empiricamente em todos os casos, exceto em pacientes com
lesões grandes que precisam de descompressão externa e biópsia, pacientes com lesões
sugestivas de linfoma na tomografia (T1 SPENT ou com emissão de pósitrons FDG-PET) e em
pacientes com lesão única e sorologia negativa para T. gondii.
Em pacientes alérgicos a sulfas (ou intolerantes), pode-se substituí-la por clindamicina (2,4 a
4,8 g/dia divididos em 4 doses), mantendo a pirimetamina e o ácido folínico.
Regimes alternativos
Lembrando que todos os regimes com pirimetamina necessitam de uso de ácido folínico.
Os estudos com TMP-SMX mostram eficácia similar ao dos regimes de primeira linha. Ainda
assim, não pode ser considerado regime de primeira linha, pois as evidências de sucesso são
menores que o do regime com sulfadiazina.
Corticosteroides
Seu uso é controverso, podendo mascarar sintomas de outras doenças com efeito de massa,
como linfoma, mas deve ser considerado se houver edema significativo e lesões com efeito de
massa importante. A literatura considera indicações do uso de glicocorticoides as seguintes
situações:
Anticonvulsantes
Usar em pacientes com antecedente de epilepsia, uso profilático não parece ter benefício.
Pacientes soropositivos para T. gondii devem receber profilaxia, que é indicada em pacientes
com CD4 < 100 cels/mm3 com sorologia IgG positiva para toxoplasmose. Em pacientes com
síndrome de reconstituição imune, pode-se descontinuar a profilaxia quando a contagem de
CD4 estiver acima de 200 cels/mm3 por mais de 3 meses.
Profilaxia secundária
Após 6 semanas de tratamento para neurotoxoplasmose, pode-se utilizar doses menores das
medicações, o que se considera profilaxia secundária. Sua indicação é obrigatória, pois, sem
ela, a taxa de recorrência chega a 60%; já com uso de profilaxia secundária, a taxa é de 20%.
Dapsona (100 mg/dia) com pirimetamina (25 a 50 mg/dia) e ácido folínico (10 a 15 mg/dia);
Atovaquona 750 mg, 2 a 4 vezes/dia, com ou sem pirimetamina e ácido folínico (o uso da
atovaquona sem pirimetamina é associado a recidiva em 25% dos pacientes).
Critério para descontinuação da profilaxia: contagem de CD4 > 200 cels/mm3 por 3 meses
consecutivos.
Prescrição
Prescrição
Comentário
Paciente com quadro de confusão mental e lesão neurológica ainda sem rebaixamento
significativo de nível de consciência, mantida a dieta assistida
Sulfadiazina 1,5 g a cada 6 horas e pirimetamina 200 mg no primeiro dia, seguido de 75 mg/dia
Medicações
A medicação inibe a síntese do ácido fólico, precursor das purinas, componente do material
genético. Ocorre inibição da atividade da enzima di-hidropteroato-sintetase, com diminuição
da síntese do ácido di-hidrofólico.
Na maioria das infecções, usa-se 800 mg de SMX com 160 mg TMP a cada 12 horas (EV ou IM).
Para pneumocistose, usa-se 75-100 mg/kg/dia de SMX e 15 a 20 mg/kg/dia de TMP, com a
dose dividida a cada 6 ou 8 horas por 21 dias. É necessário ajuste para função renal e hepática.
Indicações
Efeitos adversos
Reações gastrintestinais como náuseas e vômitos são frequentes. Também são descritas
anemia aplástica, anemia hemolítica e megaloblástica. Reações cutâneas com dermatite
esfoliativa, Stevens-Johnson e necrólise epidêmica tóxica podem ocorrer, sobretudo em
idosos, mas são raras.
Apresentações comerciais
Os nomes comerciais são vários entre eles: Bactrim®, Assepium®, Bacgen®, Bacteracin®,
Benectrim F®, Bactrisan®, Bacfar®, entre outros.
Monitoração
Classificação na gestação
Classe C.
Interações medicamentosas
Uso com metotrexato e pirimetamina podem piorar citopenias graves. Pode ainda
potencializar os efeitos de varfarina, fenitoína e clorpropamida.
Modo de ação
Indicações
Efeitos adversos
Apresentações comerciais
Hemograma periódico.
Classificação na gestação
Classe C.
Interações medicamentosas
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