Você está na página 1de 10

ESTÁGIO SUPERVISIONADO III – SAJULP – TURMA 3244

PROFESSOR: PAULO BENINCÁ


ACADÊMICA: MAYUMI MARYNEY ALVES MOREIRA

ATIVIDADE AVALIATIVA - PEÇA PROCESSUAL

AO JUÍZO DE DIREITO DA 1ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE PALMAS

MARIA ALVES, brasileira, solteira, assistente administrativo, RG n. 000.000,


CPF n. 000.000.001-00, residente e domiciliada na Vila da Paisagem, nº 00, CEP
77000-000, Bairro Carioca, na cidade de Palmas – Tocantins, vem mui
respeitosamente à presença de V.Exa. por intermédio de sua advogada, com
procuração anexa, junto a AÇÃO DE EXECUÇÃO mencionada acima, propor
EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE em face de CARLA SOUZA, brasileira,
casada, empresária, RG n. 010.101, CPF n. 001.001.000-11, residente e
domiciliada à Rua Baião de Dois, n. 02, CEP 77-7777, Bairro Nobre, também
nesta comarca, pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas:

I. PRELIMINARES
I.I. DA JUSTIÇA GRATUITA

A executada não tem condições de arcar com as despesas do processo. São


insuficientes seus recursos financeiros para pagar todas as despesas
processuais, conforme se depreende pela demonstração de seus contracheques
do último ano, documentos anexos (ressalte-se que por diversos meses, a
executada nada recebeu, sofrendo desconto de todas as suas verbas). Destarte,
formula pleito de gratuidade da justiça, o que faz por declaração de sua patrona,
sob a égide do art. 99, § 4º c/c 105, in fine, ambos do CPC, quando tal
prerrogativa se encontra inserta no instrumento procuratório acostado.
II. SÍNTESE DOS FATOS
A exequente ingressou com AÇÃO DE EXECUÇÃO em 23 de junho de 2019
contra a executada, juntando NOTA PROMISSÓRIA no valor de R$ 2.000,00
(dois mil reais). Observe Vossa Excelência os diversos erros no título
extrajudicial juntado: o nome da executada está errado, constando como MARIA
MADALENA, quando seu nome é MARIA ALVES; a nota promissória foi
preenchida de má fé, onde o valor discriminado em números, foi transcrito por
extenso errado, ocorrendo rasura. Como se não bastasse, quem recebeu a
citação por correio, assinando o AR – Aviso de Recebimento, foi seu filho que à
época era menor de idade, Mário Alves.

Diante de tantos erros que inviabilizariam a AÇÃO DE EXECUÇÃO caso a


executada consultasse um advogado, a exequente começou a procurar a
executada incessantemente, ligando poucos dias depois para fazer um acordo,
que “seria melhor que a ação” (repare, Exa., que todo o trâmite entre a
propositura da ação de execução com título extrajudicial ceifado de erros e
rasuras, recebimento incorreto de citação postal pelo filho da executada, até
juntada de homologação de acordo durou apenas 11 dias!!!) e propôs uma
homologação de acordo que seria assinado no escritório de sua advogada.

A executada sabia que tinha assinado uma nota promissória em branco como
garantia de que pagaria sua dívida com a “amiga”, mas nunca poderia imaginar
o crime que ela estaria disposta a cometer para auferir lucro indevido.

Naquele período, julho de 2019, a executada estava passando por uma séria
crise familiar, pois tinha sofrido ameaças e agressões físicas de seu ex-
namorado, que também passou a ameaçar seus filhos, conforme se depreende
dos Termos de Declarações junto a Polícia Civil, documentos anexos.

Contudo, a exequente não a deixava em paz, insistindo veementemente que


deveria assinar o acordo no escritório da advogada, sob pena de ser mais
prejudicada ainda pela crescente dívida.... Sendo assim, a executada, de forma
ingênua e sem orientação profissional, assinou o acordo que foi homologado em
juízo, acreditando que de fato devia o valor discriminado na nota promissória,
pois confiava na “amiga”; não se recordava das compras que havia feito na loja
da exequente, para ela e para as filhas, em 2018 e 2019, tampouco do valor total
que devida.

Por isso, assinou o documento no mesmo dia em que passou a manhã toda
numa delegacia, junto com seu filho mais velho (dia 10 de julho de 2019). Estava
esgotada física e emocionalmente, sem a menor condição de questionar nada.

A executada, de boa-fé, passou a pagar os valores acordados junto a


homologação (comprovantes de depósito bancários, anexos, iniciando os
pagamentos em agosto de 2019 até abril de 2020), mesmo sofrendo grande
dificuldade financeira, contando com a ajuda de parentes e amigos para
sobreviver, como comprovam seus contracheques, já mencionados.

Ocorre que encontrou em seus guardados uma planilha impressa pela


exequente elencando os valores das roupas que comprou, entregue pela própria
exequente na residência da executada, com o timbre da loja “Diva Quenga” de
propriedade da exequente, cujo valor da dívida verdadeira é de R$ 1.000,00 (mil
reais) já corrigidos monetariamente, e não o valor homologado no escritório de
sua advogada, R$ 4.000,00 (quatro mil reais).

Sendo assim, parou de pagar a dívida e mesmo tendo alegado a exequente que
tomaria medidas legais cabíveis, esta não titubeou e ingressou com o
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA em 08 de agosto de 2019, ignorando a
executada por completo, arguindo que ela já havia assinado “confissão de dívida”
e que “o juiz não vai parar pra ver isso, não”.

Ressalte-se que neste momento a exequente tomou o devido “cuidado” para não
enviar mais citação para o endereço da executada, e sim, para seu local de
trabalho, “legitimando” o recebimento da citação. Indignada, a executada
procurou uma delegacia e promoveu um Boletim de Ocorrência por falsidade
ideológica de documento particular, anexo.
II.I. DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
Conforme já foi descrito, o valor de R$ 4.000,00 não foi pago em sua totalidade
porque a executada achou documento expedido pela exequente que comprova
que sua dívida era de apenas R$ 1.000,00.

Sendo assim, não é devedora do montante de R$ 2.917,57 (dois mil, novecentos


e dezessete reais e cinquenta e sete centavos).

Em verdade, a executada está sendo cobrada em dobro, indevidamente!

Demonstra, através de comprovantes bancários, que já honrou com os seguintes


valores:

PLANILHA XXXXXXXXXXXXXXX

Total pago: R$ 1.800,00

Restante: R$ 162,12

Totaliza assim o valor de R$ 1.800,00 (mil e oitocentos reais). E considerando


que a dívida real era de R$ 1.962,12, o valor que falta para quitar é R$ 162,12
(cento e sessenta e dois reais e doze centavos). Com correção monetária e juros
de 1% ao mês, da data de 10 de maio de 2019, data esta em que deveria
continuar pagando pela dívida, o valor de R$ 162,12 passará a ser R$ 170,95
(cento e setenta reais e noventa e cinco centavos), conforme planilha abaixo:

Valor da dívida

Correção monetária

Maio/2018 1,0043000

Juros 1% ao mês

(5 meses – maio até setembro de 2019)


Total
R$ 162,12

R$ 162,81

R$ 8,14

R$ 170,95

III. DO DIREITO
III.I. DA NULIDADE DA CITAÇÃO
Necessário frisar que o meio utilizado para a citação da executada foi por via
postal mediante juntada de AR, recebida e assinada por seu filho, fls. 12v, que
à época, inclusive, era menor de idade. Sendo assim, de acordo com a Ementa
97 das Turmas Recursais dos Juizados Especiais Cíveis, tal citação não
procede, devendo ser considerada, portanto, nula.

III.II. DA INEXIGIBILIDADE DO TÍTULO OU DA OBRIGAÇÃO

A nota promissória foi assinada pela executada em branco. A executada não se


arreda à sua responsabilidade, por ter lisura em todos os atos de sua vida, ela
sabia que devia a exequente e assinou nota promissória em branco, movida por
boa fé e confiança na “amiga”. Infelizmente, não age da mesma forma a
exequente. De má fé, com o ardil de auferir valor indevido e usando de sua
amizade e da situação de fragilidade da executada, a exequente atribuiu valor
incorreto, cobrando o dobro do valor da dívida, conforme se depreende do
documento anexo, original, expedido pela exequente com o timbre de sua loja
(documento anexo). Embora seja devedora, a executada não deve o valor que
está sendo cobrado, tendo praticamente pago a totalidade da dívida.

Segue jurisprudência:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. EMBARGOS À


EXECUÇÃO. CONFISSÃO DE DÍVIDA. POSSIBILIDADE DE REVISÃO DE
CONTRATOS ANTERIORES. Nos termos do assentado pelo Egrégio Superior
Tribunal de Justiça, a renegociação de contrato bancário ou a confissão da dívida
não impede a possibilidade de discussão sobre eventuais ilegalidades dos
contratos anteriores (Súmula n. 286). Sentença desconstituída diante da
necessidade de juntada dos contratos anteriores. SENTENÇA
DESCONSTITUÍDA, APELAÇÃO PROVIDA. UNÂNIME. (Apelação Cível n.
70078162229, Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator
Paulo Sérgio Scarparo, julgado em 30 de agosto de 2018).

Vale ressaltar, novamente, os diversos erros junto ao título executivo


extrajudicial, como nome incorreto, valor em número transcrito incorretamente
por extenso, e data incorreta de cobrança, com o intuito de abusiva cobrança de
juros e correção monetária desde 19 de maio de 2015. Por fim, a citação por AR
foi recebida pelo menor de idade à época, filho da executada, que sequer
percebeu o nome errado. Clara estão as rasuras junto a nota promissória (três
tipos de grafia e cores de canetas diferentes, além do erro material do nome, do
valor declarado e o valor descrito), donde se permite concluir ausência de
certeza e liquidez.

Eis jurisprudências a respeito:

APELAÇÃO CÍVEL - EMBARGOS À EXECUÇÃO - NOTA PROMISSÓRIA -


RASURA - ADULTERAÇÃO - AUSÊNCIA DE CERTEZA E LIQUIDEZ -
RECURSO NÃO PROVIDO. O preenchimento de nota promissória rasurada em
momento posterior à assinatura do emitente retira a certeza e liquidez da
obrigação do título, que fica sem eficácia executiva (Processo AC
10390120015628001 MG, Órgão Julgador Câmaras Cíveis / 14ª CÂMARA
CÍVEL, Publicação 25/04/2014, Julgamento 10 de Abril de 2014, Relator Rogério
Medeiros).

III.III. DO EXCESSO DE EXECUÇÃO E CASO MODIFICATIVO DA


OBRIGAÇÃO
O excesso de execução ocorre quando há extrapolação dos limites do título
executivo, e como já relatado, foi o título preenchido e executado com valor maior
que a dívida real, demonstrada por documento juntado aos autos, qual seja,
planilha da loja da exequente com valores já corrigidos monetariamente.
A própria exequente apresentou planilha à executada com valor muito abaixo do
que foi cobrado em ação de execução (valor real da dívida era de R$ 1.000,00).

III.IV. DA CLÁUSULA PENAL COMPENSATÓRIA EXCESSIVA


Na homologação de acordo trazida aos autos, fls. 14, bem como no cumprimento
de sentença, fls. 17, faz-se menção a multa de 30% (trinta por cento) que deverá
ser calculada sobre o valor total do débito apurado.

Por esse motivo, como se não bastasse a executada ser cobrada por dívida em
dobro pela exequente que utilizou-se de má-fé e ardil, diante das provas juntadas
aos autos, ainda foi cobrada em 30% de multa contratual no valor de R$ 673,28
(seiscentos e setenta e três reais e vinte e oito centavos).

Cristalina são as razões para que Vossa Excelência acate a presente objeção e
acolha os argumentos, considerando que resta pouco mais de R$ 170,00 (cento
e setenta reais) para a devida quitação da verdadeira e justa dívida.

Assim, em hipótese de não serem acatados os argumentos e provas, o que não


se crê em hipótese alguma, requer desde já, diante das circunstâncias tais, e
cabendo intervenção do juízo para promover o reequilíbrio da equação financeira
estabelecida, que tal penalidade seja afastada ou reduzida ao mínimo.

Eis o que reza o artigo 413 do Código Civil:

Art . 413. A penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a


obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade
for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do
negócio.

Exa., a cláusula penal de 30% de multa contratual é manifestamente excessiva,


diante da aplicação de juros e correção monetária ocorridos ao longo da ação,
sem contar o absurdo de toda a execução em si! Ressalte-se ainda que, havendo
invalidade da obrigação principal, ipso facto estará inválida a cláusula penal.
Pelo exposto, requer seja invalidada a cláusula penal que arbitra multa
excessiva, ou reduzida a um valor mínimo, a critério de Vossa Excelência.

III.V. DA LITIGÂNCIA DE MÁ FÉ E DO ATO ATENTATÓRIO A DIGNIDADE


DA JUSTIÇA
O Código de Processo Civil estatui sobre litigância de má-fé em seu art. 80:

Art. 80 - Considera-se litigante de má-fé aquele que:

I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso;

II - alterar a verdade dos fatos;

III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal;

IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo;

V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo;

VI - provocar incidente manifestamente infundado;

VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.

Faltou a exequente com o dever da verdade, da lealdade e boa-fé, quando


apresentou nota promissória rasurada, com nome distinto ao da executada, com
valor cobrado em dobro, com data que não condiz com a realidade, apenas para
auferir benefício financeiro, ignorando qualquer princípio ético e moral.

Ressalte-se que quando o Código de Processo Civil fala em “partes”, inclui,


implicitamente, seus representantes, seus patronos, porque, em última análise,
são eles que agem em nome dos clientes.

Sobre este alicerce, requer seja a exequente condenada as penalidades


previstas no art. 81 do CPC, a pagar multa de 9% (nove por cento) por litigância
de má fé sob o valor corrigido da causa, indenizando a executada.

Ainda, requer que os patronos da exequente respondam solidariamente pela


litigância de má fé, sugerindo a V.Exa. remeta ofício à OAB/TO, Subseção de
Palmas/TO, com cópia integral dos autos, onde deverá ser apurada
responsabilidade dos patronos diante dos fatos já expostos.

IV. DOS PEDIDOS

Em face das razões acima apresentadas, e na busca da melhor aplicação da


justiça, roga-se a Vossa Excelência o seguinte:

a) seja deferida a gratuidade da justiça;

b) seja considerada nula a citação, declarando extinto o presente cumprimento


de sentença, anulando o processo até a citação, momento em que a executada
poderá apresentar sua defesa e exercer o contraditório;

c) seja a exceção recebida diante da tempestividade, do cabimento, dos fatos,


fundamentos e provas;

d) seja intimada a exequente para, querendo, manifestar-se;

e) no mérito, seja reconhecida a ausência de exigibilidade do título extrajudicial


- nota promissória, diante do valor abusivo e incorreto em que foi preenchido,
face a existência de uma planilha cuja dívida verdadeira vem descrita;

f) requer impugnação aos cálculos da exequente, porque ceifados de


inverdades, desde o valor até a data, além dos juros, correções e multas
excessivas, julgando procedente e reconhecendo o excesso de execução, com
a consequente diminuição do valor para R$ 170,95 (cento e setenta reais e
noventa e cinco centavos);

g) seja condenada a exequente por litigância de má-fé, bem como seus patronos,
solidariamente, a pagarem multa e indenização previstas em lei, bem como as
custas processuais e honorários advocatícios (art. 55, 1ª parte, Lei nº 9.099/95);

h) todas as intimações dos atos processuais vindouros sejam procedidas em


nome da advogada, sob pena de nulidade nos termos do art. 236, § 1º do Código
de Processo Civil.
Requer a produção de todas as provas em direito admitidas, em especial a
documental, consoante o disposto no art. 369 e 378 do CPC.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Palmas, 21 de novembro de 2020.

Dra. Mayumi Maryney

OAB/TO n. 000.000

Você também pode gostar