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IVº.

Grupo

Assia Amade João


Belmira da Paula Mateus
Carlota Simão Manuel Mateté
Fátima Calisto
Leolinda Amone
Victória Aualo

Casos de Violência de Género e Profilaxia Pós-Explosição as Vitimas de Violência


Sexual

(Curso de Enfermagem em Saúde Materno Infantil)

Instituto Politécnico de Moçambique


Lichinga
2022
IVº. Grupo

Assia Amade João


Belmira da Paula Mateus
Carlota Simão Manuel Mateté
Fátima Calisto
Leolinda Amone
Victória Aualo

Casos de Violência de Género e Profilaxia Pós-Explosição as Vitimas de Violência


Sexual

(Curso de Enfermagem em Saúde Materno Infantil)

Trabalho de Cancro Ginecologia PF.


Violência Sexual, a ser apresentado no curso
de enfermagem em saúde materno infantil
para fins avaliativos, sob orientação da
Formadora: Farida.

Instituto Politécnico de Moçambique


Lichinga
2022
Índice

1. Introdução ........................................................................................................................... 4
1.1. Objectivos ................................................................................................................ 4
1.1.1. Objectivo geral .......................................................................................... 4
1.1.2. Objectivos específicos .............................................................................. 4
1.2. Metodologia ............................................................................................................. 4
2. Casos de Violência de Género e Profilaxia Pós-Explosição as Vitimas de Violência
Sexual...................................................................................................................................... 5
2.1. Violência de Género ................................................................................................ 5
2.1.1. Tipos de violência de género contra a mulher .......................................... 5
2.2. Violência sexual....................................................................................................... 6
2.2.1. Epidemiologia da violência sexual ........................................................... 6
2.2.2. Violência sexual no sexo feminino ........................................................... 6
2.2.3. Impactos na saúde da mulher ................................................................... 7
2.2.3.1. Repercussões da violência contra a mulher ............................... 7
2.3. Identificação das lesões gerais ................................................................................ 7
2.4.1. Sintomas causados por traumas psicológicos ............................................................... 9
2.5. Despiste activo de violência sexual ...................................................................... 10
2.6. Mecanismos de produção de lesões ....................................................................... 10
2.6.1. Crimes sexuais ........................................................................................ 10
2.7. Protocolo medico de assistência as vitimas de violência sexual ........................... 11
2.8. Profilaxia Pós-Explosição ao HIV ........................................................................ 11
2.8.1. Atendimento inicial é de Urgência ......................................................... 11
2.9. Rastreio de gravidez e despiste de ITS ................................................................. 12
2.10. Referência de casos para o nível técnico correspondente .................................... 13
2.11. Importância da medicina legal e elaboração do relatório médico-legal ............ 14
3. Conclusão ......................................................................................................................... 15
4. Referências Bibliográficas ................................................................................................ 16
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1. Introdução

A violência sexual (VS) é um fenómeno global que afita crianças, adolescentes e


adultos de todas as etnias, independentemente de sexo, nível económico e cultural. Faz parte
do fenómeno de violência como um todo, grave problema de saúde pública, que inclui
homicídios, violência física, psicológica e sexual, sendo mais comum o sexo masculino sofrer
agressão fora de domicílio e as mulheres e crianças no peridomicílio por parentes ou
conhecidos.

Segundo Beebe, (1998)

A violência sexual é considerada uma violação dos direitos humanos,


um grave problema de saúde da mulher e um crime hediondo pelos tratados
internacionais da Organização das Nações Unidas.
Apesar de ser relatada há muitos séculos, a VS foi reconhecida como um agravo à
saúde pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a partir de 1994, associada ou não a outros
tipos de violência. Desde então houve nos países desenvolvidos investimentos em pesquisas
relacionadas à estimativa da prevalência de VS, à caracterização de grupos de risco para esse
agravo e à efectividade de possíveis intervenções em saúde para as vítimas.

1.1. Objectivos

1.1.1. Objectivo geral

 Analisar os Casos de Violência de Género e Profilaxia Pós-Explosição as Vitimas de


Violência Sexual

1.1.2. Objectivos específicos

 Contextualizar o termo violência de género;


 Descrever o impacto da violência na saúde das mulheres;
 Explicar a profilaxia pós-explosição ao HVI.

1.2. Metodologia

Para a elaboração da presente pesquisa, foi possível pelo uso do método de pesquisas
bibliográficas. Que segundo Lakatos e Marconi (1987, p. 66) a pesquisa bibliográfica trata-se
do levantamento, selecção e documentação de toda bibliografia já publicada sobre o assunto
que está sendo pesquisado, em livros, revistas, jornais, boletins, monografias, teses,
dissertações, material cartográfico, com o objectivo de colocar o pesquisador em contacto
directo com todo material já escrito sobre o mesmo.
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2. Casos de Violência de Género e Profilaxia Pós-Explosição as Vitimas de Violência


Sexual

2.1. Violência de Género

A violência de género está presente na cultura de todos os países, independentemente


do seu grau de desenvolvimento, expressando-se em maior ou menor escala. Culturalmente se
reproduz por meio de comportamentos irreflectidos, aprendidos histórica e socialmente, nas
instituições como igreja, escola, família e Estado que contribuem directamente para a
opressão masculina sobre a feminina.

Historicamente podemos afirmar que a mulher vem sendo socialmente oprimida de


acordo com valores específicos de uma determinada época, influenciados pelas principais
instituições sociais que contribuíram e contribuem para disseminar a ideia de que esta é um
ser inferior, frágil e com instintos de protecção apenas.

Inicialmente, o modelo neoliberal tentou impor uma igualdade formal


para garantir às mulheres iguais chances de acesso ao mercado de trabalho, ao
prestígio social e ao poder político. Tal situação pode ser percebida pelo
grande número de mulheres nas faixas salariais mais baixas, gerando uma
nova forma de discriminação, ou seja, a existência de obstáculos à figura
feminina. (Beebe, 1998).
A violência contra a mulher é considerada uma epidemia global pela ONU. Após
relatórios da OMS, a conclusão foi de que a predominância é da violência física e sexual
praticada pelo parceiro íntimo. Destaca-se o fenómeno da violência de género como algo que
não está restrito a uma cultura, ou seja, não obstante o grau de desenvolvimento do país, a
violência de género se encontra presente, ainda que em maior ou menor escala

2.1.1. Tipos de violência de género contra a mulher

 Violência física: dano não acidental por meio de força física ou arma.
 Violência psicológica: acção e/ou omissão que cause dano a auto-estima, identidade
e/ou desenvolvimento pessoal.
 Violência sexual: variedade de actos ou tentativas de relação sexual sob coação ou
fisicamente forçada no casamento ou em outros relacionamentos.
 Violência económica ou financeira: acto ou omissão que afecta a saúde emocional
e/ou sobrevivência.
 Violência institucional: acção ou omissão exercida nos/ pelos serviços públicos.
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2.2. Violência sexual

2.2.1. Epidemiologia da violência sexual

A violência sexual é fenómeno universal que atinge mulheres de todas as classes


sociais, etnias, religiões e culturas. Ocorre em populações de diferentes níveis de
desenvolvimento económico e social, em espaços públicos e privados, e em qualquer etapa da
vida da mulher (Heise, Pitanguy e Germain, 1994). Contudo, a violência sexual pode alcançar
níveis inaceitáveis em alguns países, como o ocorrido em tempo recente na Bósnia-
Herzegovina, Croácia e Libéria. Embora considerado crime de guerra, a violência sexual foi
amplamente empregada durante os conflitos armados nesses países. A ONU estima, por
exemplo, que foram estupradas entre 20 a 50 mil mulheres na antiga Iugoslávia, com a
finalidade de promover uma faxina étnica. (Zuchi, Silva, 2018).

As exactas incidências e prevalência da violência sexual são


desconhecidas devido ao problema de subnotificação. Calcula-se que apenas
16% dos estupros são comunicados às autoridades competentes nos EUA. Em
casos de incesto, estes percentuais não atingem os 5%. Acredita-se que a
maior parte das mulheres não registem queixa por constrangimento e
humilhação, ou por medo da reacção do parceiro, familiares, amigos, vizinhos
e autoridades. Também é comum que o agressor ameace a mulher, caso
revele-se o ocorrido (Zuchi, Silva, 2018).
No entanto, a mulher teme, principalmente, não ser acreditada. Esse sentimento,
aparentemente infundado, de fato se justifica. São incontáveis os relatos de discriminação,
preconceito, humilhação e abuso de poder em relação às mulheres em situação de violência
sexual.

2.2.2. Violência sexual no sexo feminino

A violência sexual é uma violência de género. O sexo feminino em qualquer idade é o


mais atingido pela VS, levando a uma série de repercussões físicas, de saúde sexual e mental.

A VS atinge, em sua maioria, as mulheres jovens, em idade


reprodutiva, repercutindo em sua própria saúde e na de membros de sua
família. Estudos mais recentes distinguem, com propósito didáctico, a VS
sofrida por mulheres em idades acima de 14 anos entre as ocorrências
perpetradas pelo parceiro íntimo e aquelas não relacionadas ao parceiro,
podendo nesses casos o agressor ser caracterizado como desconhecido, par,
colega de trabalho, vizinho, professor ou outro. (D’oliveira, 1999).
Deve-se, contudo, perceber a VS como apenas um aspecto da violência de género,
que, frequentemente incide no contexto de outras formas de violência. Independentemente da
VS ser perpetrada por parceiro íntimo ou não, ela é geralmente traumática para a vítima,
embora o padrão, grau e efeito da violência possam diferir, dependendo do perpetrador
7

2.2.3. Impactos na saúde da mulher

O trauma da violência sexual pode deixar marcas permanentes nas vitimas, gerando
muitas vezes transtornos psicológicos como depressão, Transtorno do Estresse Pós-traumático
(TEPT), Bipolaridade, entre outros, e sem o acompanhamento adequado essas vitimas podem
também apresentar dificuldades de se relacionar amorosamente e também de se socializar, o
que pode impactar inclusive na vida económica dessas mulheres, já que estas podem ter
problemas nas relações de trabalho, por exemplo.

2.2.3.1. Repercussões da violência contra a mulher

Repercussões e impactos sociais

 Suicídio
 Altas taxas de morbimortalidade
 Perda de emprego
 Abandonos dos estudos
 Afecta a liberdade e o pleno potencial de desenvolvimento
 Agravos à saúde sexual e reprodutiva
 Aborto inseguro
 Trauma ginecológico
 Disfunção sexual
 IST/Aids
 Gravidez não planejada
 Agravos à saúde mental
 Depressão
 Abuso de álcool e/ou outras drogas
 Fobias
 Ansiedade
 Transtorno de estresse pós-traumático

2.3. Identificação das lesões gerais

A violência doméstica, a mais comum das violências contra a mulher, deve ser
detectada pelo profissional de saúde e encarada como questão de saúde pública. Ângulo-
Tuesta ressalta que as mulheres em situações de violência procuram os serviços de saúde por
agravos à saúde física, mental e reprodutiva, como consequência dessa agressão, porém os
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profissionais de saúde têm sérias dificuldades para identificar este fenómeno, e na ampla
maioria dos casos em que se suspeita de violência, estes não são investigados.

Para Chauí, (1984).

"a maioria das disciplinas de saúde, medicina, odontologia e


enfermagem, entre outros, não contemplam em seus currículos nem em seus
programas de educação continuada, formação nos aspectos relacionados com a
violência doméstica, e por isso não se encontram preparados para oferecer
uma atenção que seja efectiva na saúde da mulher maltratada".
Dentre as ocorrências mais frequentes de agressão está a lesão corporal dolosa e os
maus-tratos. A lesão corporal pode se apresentar de diversas maneiras: agressões físicas
(socos, chutes, tapas, violência sexual) ou agressões com qualquer tipo de objecto que possa
machucar ou prejudicar a saúde da pessoa.

A lesão corporal de natureza leve é aquela que não causa grande ofensa à integridade
corporal, embora, deixe também um trauma psicológico muito grande.

É considerada lesão corporal de natureza grave, a agressão que resulta:


incapacidade para as ocupações habituais por mais de trinta dias; perigo de
vida; debilidade permanente de membro, sentido ou função; aceleração de
parto; incapacidade permanente para o trabalho; enfermidade incurável; perda
ou inutilização de membro, sentido ou função; deformidade permanente;
aborto. (Chauí, 1984).
Os maus-tratos também representam agravos à saúde da mulher, principalmente
crianças adolescentes, idosas e adultas absolutamente incapazes, já que é um crime praticado
por quem tem o dever de zelar pela pessoa, seu responsável.

2.4. Reconhecimento de traumas psicológicos

Traumas psicológicos são respostas emocionais para eventos stressantes que as


pessoas não conseguem administrar. O desgaste emocional e psicológico é tamanho que elas
perdem noção da realidade e de si mesmas.

Embora existam determinados eventos que são considerados


traumáticos, como acidentes ou assaltos, uma pessoa pode desenvolver um
trauma em resposta a qualquer situação considerada física ou emocionalmente
ameaçadora. Os traumas diminuem consideravelmente o aproveitamento da
vida das pessoas traumatizadas e podem levar ao surgimento de condições
psicológicas severas, como estresse pós-traumático e depressão profunda.
(Cohen e Matsuda, 1991).
O trauma psicológico é uma resposta emocional a um evento que deixou feridas na
memória e no conceito de identidade de uma pessoa. Ela pode sentir uma série de emoções
negativas logo após o acontecimento terrível ou a longo prazo.
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Pessoas traumatizadas frequentemente se sentem desamparadas, oprimidas e


paranoicas. Elas têm consciência que são poucos os que conseguem compreender o que
passaram, tornando a experiência do trauma muito solitária.

Como consequência do trauma, algumas podem desenvolver mania de perseguição e


acreditar que os outros querem lhe causar mal. Já outras optam por se afastar das relações
interpessoais por completo por temerem reviver situações semelhantes.

Existem vários tipos de trauma, tais como:

 Trauma crónico: resultado da exposição constante e prolongada aos eventos


stressantes;
 Trauma agudo: resultado de um único evento estressante ou perigoso;
 Trauma complexo: resultado da exposição a vários eventos traumáticos; e
 Trauma secundário: resultado de estar em contacto com alguém que passou por um
acontecimento traumático.

2.4.1. Sintomas causados por traumas psicológicos

As pessoas reagem de forma diferente aos traumas. Os sintomas experienciados


dependem da pré-existência de condições psicológicas, da qualidade das experiências de vida,
da intensidade do estresse, da capacidade de administrar emoções e da personalidade de cada
um.

Os sintomas incluem reacções emocionais e físicas. Quando uma emoção é muito


forte, é comum que a pessoa perca momentaneamente o controle do corpo até que ela
desapareça. Por exemplo, é costumeiro perder a sustentação e cair de joelhos quando
choramos de alegria ou de tristeza. (Cohen e Matsuda, 1991).

2.4.2. Sintomas dos traumas psicológicos

 Negação;  Raiva;
 Vômito ou náuseas;  Tristeza;
 Vergonha;  Insônia;
 Confusão;  Ansiedade;
 Tremores pelo corpo;  Sensação de estar anestesiado;
 Apatia;  Choque;
 Taquicardia;  Suor excessivo;
 Culpa;  Medo;
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 Desesperança;  Desconforto intestinal;


 Irritabilidade; e  Dificuldade de concentração.
2.5. Despiste activo de violência sexual

Exame técnico detalhado para identificação de lesões de importância médico-legal


conceitos de dano corporal e de dano na pessoa. O trauma. Aspectos médico-legais.
Metodologia pericial na Clínica Forense. Noções gerais. Conceitos de cura, consolidação
médico-legal, sequelas e sua estabilização, nexo de causalidade. estado anterior e
agravamento.

Avaliação do dano corporal nas vertentes penal, civil e do trabalho. Elaboração dos
respectivos relatórios médico-legais. Normas e modelos.

2.6. Mecanismos de produção de lesões

Diagnóstico do mecanismo e circunstâncias da produção das lesões: lesões provocadas


por instrumentos e objectos cortantes, perfurantes, contundentes e mistos, por armas de fogo e
explosivos, por agentes físicos (queimaduras térmicas, electricidade industrial e atmosférica,
hipo e hipertermia, outras) e químicos (ácidos, bases, sais e gases bélicos), por asfixia
mecânicas (constrição do pescoço - enforcamento, esganadura e estrangulamento, sufocação e
submersão), por abortamento e por inibição. Biomecânica das lesões.

2.6.1. Crimes sexuais

O Exame Físico, etapa relevante para o planejamento do cuidado do


enfermeiro, busca avaliar o cliente através de sinais e sintomas, procurando
por anormalidades que podem sugerir problemas no processo de saúde e
doença. Este exame deve ser realizado de maneira sistematizada, no sentido
céfalo-caudal, através de uma avaliação minuciosa de todos os segmentos do
corpo utilizando as técnicas propedêuticas: inspecção, palpação, percussão e
ausculta. Para isto o enfermeiro necessita de recursos materiais, tais como
esfigmomanômetro, estetoscópio, termómetro, diapasão, martelo de reflexo,
espéculo de Collin, lanternas, ortoscópios, luvas de procedimento estéril e não
estéril, dentre outros. Além destes instrumentos básicos para a realização do
exame físico, o enfermeiro deve utilizar os órgãos do sentido: visão, audição,
tacto e olfacto para subsidiar o seu plano de cuidar/ cuidado. (Heise, Pitanguy
e Germain, 1994).
A anamnese é definida como a primeira fase de um processo, na qual a colecta destes
dados permite ao profissional de saúde identificar problemas, determinar diagnósticos,
planejar e implementar a sua assistência. Alguns autores apresentam quatro tipos de dados
colectados nessa primeira fase do Processo de Enfermagem que são: dados subjectivos,
objectivos, históricos e actuais. Estes podem ser obtidos, utilizando-se: a entrevista, a
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observação, o exame físico, os resultados de provas diagnósticas, a revisão de prontuário e a


colaboração de outros profissionais.

2.7. Protocolo medico de assistência as vitimas de violência sexual

Como objectivos gerais do atendimento, encontram-se: humanização


do atendimento; garantia da contracepção de emergência; prevenção de
infecções sexualmente transmissíveis; atendimento simultâneo pericial e
médico; garantia de aborto seguro previsto em lei, ou assistência pré-natal ou
adopção; disponibilização de atendimento de enfermagem, psicológico,
assistência social e jurídica; melhorar a qualidade, agilizar e evitar a perda das
provas periciais; estimular as notificações. (Heise, Pitanguy e Germain, 1994).
Vítimas de violência sexual exigem amplo suporte emocional, por isso serviços
multidisciplinares devem ser oferecidos a todos os atores envolvidos nessa situação (por
exemplo: companheiro, pai, mãe, filhos etc.). A avaliação precisa ser muito cuidadosa, porque
o processo em si pode ser “traumatizante”, caracterizando um carácter de “revitimização”,
que pode agravar os sentimentos da vítima, tais como vergonha e culpa, entre outros. Assim,
entendemos que essa avaliação deve contemplar o tripé:

1. Avaliação do estado mental;


2. Avaliação do suporte social;
3. Diagnóstico da reacção aguda de estresse e do estresse pós-traumático.

A avaliação ou tratamento não deve ser “forçado” e tem de permitir que a vítima tenha
o seu tempo para construir uma relação de confiança e segurança com os profissionais. Isso é
fundamental, pois observamos que as pacientes vivem um paradoxo: ao mesmo tempo em que
se sentem precisando do atendimento, também, mantêm sentimentos que dificultam sua
adesão ao acompanhamento.

2.8. Profilaxia Pós-Explosição ao HIV

PEP significa Profilaxia Pós-Exposição. É uma forma de prevenção da


infecção pelo HIV usando os medicamentos que fazem parte do coquetel utilizado
no tratamento da Aids (Zidovudina + Lamivudina), para pessoas que possam ter
entrado em contacto com o vírus recentemente, através da exposição ocupacional,
no caso de profissionais de saúde ou pela exposição não ocupacional (sexual),
ocorrida em casos de sexo sem camisinha ou de violência sexual. Esses
medicamentos, precisam ser tomados por 28 dias, sem parar, para impedir a
infecção pelo vírus, sempre com orientação médica. (Chauí, 1984).
Essa forma de prevenção já é usada com sucesso nos casos de violência sexual e de
profissionais de saúde que se acidentam com agulhas e outros objectos cortantes
contaminados.

2.8.1. Atendimento inicial é de Urgência


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No caso de um possível contacto com o HIV, seja nos casos de violência sexual e de
profissionais de saúde que se acidentam com agulhas e outros objectos cortantes
contaminados, busque, o quanto antes, um serviço credenciado. Esse primeiro atendimento
é considerado de urgência porque o uso dos medicamentos deve começar o mais cedo
possível.

O ideal é que você comece a tomar a medicação em até 2 horas após


a exposição ao HIV e no máximo após 72 horas. A eficácia da PEP pode
diminuir à medida que as horas passam. Quanto mais rapidamente for
administrada a profilaxia, melhor será o resultado. Dados experimentais
indicam que os índices de infecção são mais baixos quando ela é iniciada
nas primeiras 36 horas. Um estudo mostrou que filhos de mães infectadas
apresentam menor chance de contrair o HIV quando tratados nas primeiras
48 horas depois do parto. (Chauí, 1984).
2.9. Rastreio de gravidez e despiste de ITS

O abuso sexual está ligado a problemas de saúde pública e reprodutiva tais como,
doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada, além das disfunções sexuais que
podem produzir. A violência sexual praticada durante a gravidez representa factor de risco
para saúde da mulher e do feto, por aumentar a possibilidade de complicações obstétricas,
abortamento e de recém-nascidos de baixo peso. As infecções de transmissão sexual,
adquiridas durante o estupro, quando não tratadas, podem levar a quadros de doença
inflamatória pélvica e esterilidade; dentre estas pode estar a infecção pelo HIV.

O trauma emocional do abuso sexual resulta da violência em si e


também do medo de gravidez ou de ter adquirido uma DST, inclusive o HIV.
A reacção imediata é de medo persistente, perda de auto-estima e dificuldade
de relacionamento. Os efeitos psicológicos crónicos do abuso sexual se
enquadram no distúrbio de estresse pós-traumático. O medo de ter contraído
infecção pelo HIV aumenta a ansiedade da vítima. (Beebe, 1998).
O grau de risco de contrair HIV depende da condição clínica e sorológica do agressor,
do tipo de trauma e das frequências das agressões. O tipo de exposição sexual (vaginal, anal
ou oral), o trauma associado, a presença de outra DST inflamatória ou ulcerativa, e a
exposição a secreções sexuais e/ou sangue, são relevantes na avaliação do risco de
transmissão do HIV.

O atendimento à vítima de estupro é complexo, necessitando


idealmente de cuidados de uma equipe multidisciplinar familiarizada
com casos similares. As vítimas de estupro necessitam de diagnóstico e
acompanhamento cuidadosos para uma multiplicidade de condições
clínicas, incluindo apoio psicológico, amparo forense, prevenção da
gravidez indesejada e profilaxia das DST. Cabe ao médico atender a
vítima da violência, não sendo aceitável a recusa que pode gerar
infracção segundo o artigo 13, § 2º do Código Penal Brasileiro
13

(qualquer consequência para saúde física e mental decorrente da


omissão de atendimento). Os casos de violência sexual contra a mulher
devem ser notificados pelos serviços que prestam atendimento segundo
Lei 10.778/03. (Heise, Pitanguy e Germain, 1994).
Os pacientes devem ser informados sobre os efeitos físicos e psicológicos do abuso
sexual e da necessidade de:

 Profilaxia da gravidez (nos casos de coito desprotegido para mulheres em período


fértil);
 Início da antibioticoprofilaxia para DST;
 Colecta imediata de sangue para sorologia para sífilis, HIV, hepatite B e C (para
conhecimento do estado sorológico no momento do atendimento para posterior
comparação); e
 Agendamento do retorno para acompanhamento psicológico e realização de sorologia
para sífilis (após 30 dias) e para o HIV (após no mínimo 3 meses).
 Vacina e imunoterapia passiva para hepatite B.
 Profilaxia do HIV.

No atendimento à mulher, que corresponde à maioria dos casos, deverão ser colhidos
espécimes de conteúdo vaginal para exame directo à fresco e corado pelo Gram, endocérvice
e recto para cultura em meio Thayer-Martin (gonococo) e endocérvice para
imunofluorescência direta (clamídia) quando disponíveis.

A prevalência de DST em situações de violência sexual pode ser elevada e o risco de


infecção depende de diversas variáveis, incluindo o tipo de violência sofrida (vaginal, anal ou
oral), o número de agressores, a ocorrência de traumatismos genitais, a idade e suscetibilidade
da mulher, a condição himenal e a presença de DST ou úlcera genital prévia.

Profilaxia das DST não virais em mulheres que sofrem violência


sexual visa os agentes mais prevalentes e de repercussão clínica relevante.
Está indicada nas situações de exposição com risco de transmissão,
independente da presença ou gravidade das lesões físicas e idade da mulher.
Não deverão receber profilaxia de DST não virais casos de violência sexual
em que ocorra exposição crónica e repetida ao agressor, situação comum em
violência sexual intra-familiar, ou quando ocorrer uso de preservativo,
masculino ou feminino, durante todo o crime sexual. Diferente do que ocorre
na profilaxia da infecção pelo HIV, a prevenção das DST não virais pode ser
eventualmente postergada, em função das condições de adesã da mulher, mas
recomenda-se que seja realizada imediatamente, sempre que possível. (Heise,
Pitanguy e Germain, 1994).
2.10. Referência de casos para o nível técnico correspondente
14

A implementação do Mecanismo é da responsabilidade de todos os actores chaves envolvidos


na prestação de serviços ao atendimento integrado às mulheres vítimas de violência.

Actores Tarefas e Responsabilidades


Ministério da Mulher e Acção  Coordenação multissectorial do plano;
Social  Assistência social às mulheres vítimas de violência.

 Assistência médica de emergência e reabilitação


Ministério da Saúde  Apoio psicológico às mulheres vítimas de violência.
Assistência médico-legal às  Assistência médico-legal às mulheres vítimas de
mulheres violência.
 Providência de apoio jurídico gratuito as mulheres
Ministério da Justiça vítimas que não possuem meios para tal através do
IPAJ
 Advocacia para promulgação de leis contra violência
de género
 Protecção e assistência policial através dos GAMC e
secções de atendimento
Ministério do Interior  Registo e encaminhamento das queixas para PIC,
detecção dos perpetuadores e garantia da aplicação
das leis.
2.11. Importância da medicina legal e elaboração do relatório médico-legal

O conhecimento da Medicina Legal é importante para todos os profissionais. Para


aqueles que já trabalham como médicos assistentes, é fundamental conhecer e dominar todos
os documentos da área, independente de sua especialidade. Este documento, com
características técnicas, é na maioria das vezes usado pelos pacientes com o intuito de solicitar
benefícios junto ao Instituto Nacional do Seguro Social – INSS. Todavia, não se trata do
diagnóstico médico de determinada enfermidade, embora resulte do atendimento que o
paciente recebeu.
A Medicina Legal tem seu papel contundente no desvendar de muitos
crimes, pois é vasto o conhecimento que englobado com outras ciências como
a Sociologia, Filosofia, Botânica e Zoologia e outras ciências, agregam
conhecimentos favorecendo na formulação de teorias e técnicas que auxiliam
os peritos nas mais variadas investigações criminosas. (Heise, Pitanguy e
Germain, 1994).
O Relatório Médico é, antes de mais nada, um direito do paciente e também um dever
legal que o médico deve cumprir. E tem grande importância, uma vez que deve conter
detalhadamente todas as informações necessárias para que o paciente passe por uma perícia
médica. Este documento é utilizado tanto no momento em que o médico assina a alta do
paciente quanto no seu encaminhamento para outra unidade de Saúde. Assim como todos os
outros documentos médicos, pode ser utilizado em acções judiciais.
15

3. Conclusão

Findado o presente chegamos a compreender de que, a violência contra as mulheres é


uma violação básica dos direitos humanos e tem um poder extremamente destrutivo para a
comunidade e para a sociedade. Não existe nada de natural na violência. A violência não tem
nada a ver com as normas culturais aceites. O aumento de violência nas famílias e nas
comunidades pode ser sintoma de perda de controle, de lutas contra as mudanças dos papéis
de género, de lacunas nos sistemas jurídico, económico e de saúde que falham em estabelecer
limites, de processos de aculturação, etc. Enquanto os países e as sociedades mantiverem os
olhos fechados para a violência contra as mulheres e as crianças, eles estão, em termos
psicológicos, em processos de auto-destruição.
16

4. Referências Bibliográficas

1. Beebe, D. K. (1998). Sexual assault: the physician’s role in prevention and treatment.
J Miss State Assoc. n° 39, p.366-9.

2. Chauí, M. (1984). Participando do debate sobre mulher e violência. Perspectivas


Antropológicas da Mulher. Rio de Janeiro: Zahar Ed., p.25-62.

3. Cohen, C., Matsuda, N. E. (1991). Crimes sexuais e sexologia forense: estudo


analítico. Rev Paulista Med, n° 109, p.157-64.

4. D’oliveira, A. F. P. L. (1999). Violência de género como uma questão de saúde: a


importância da formação de profissionais. Jornal da Rede saúde, n° 19, p.3-4.

5. Guimarães, R. C. S, Soares M. C da S. (2018). Impacto na auto-estima de mulheres


em situação de violência doméstica atendidas em Campina Grande, Brasil. Rev Cuid.

6. Heise, L., Pitanguy, J., Germain, A. (1994). Violence against women: the hidden
health burden. Washington: The International Bank for Reconstruction and
Development/The World Bank, 255p.

7. Zuchi, C. Z., Silva, E. B da. (2018). Violência contra as mulheres: concepção de


profissionais da estratégia de saúde da família acerca da escuta. REME.

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