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I) Se trata de uma obrigação acessória, pois se trata de um encargo

assumido por Carlos, uma vez que tem como finalidade agradecer o
comodante por ter dado o carro em comodato para ele, bem como o
valor não tem relação com o bem dado em comodato, e por fim, se
trata de uma obrigação acessória, pois perdurará enquanto estiver na
posse do bem até que restitua o bem ao comodante.

II) Não entendo estar desnaturado o contrato, uma vez que não há
vedação legal para que seja celebrado de tal maneira o comodato,
bem como não extrapola os limites da doutrina, para tanto citamos o
seguinte entendimento doutrinário:

“Gravam o uso da coisa certas obrigações, que


podem representar um tipo especial de prestação a
favor do comodante. Não contrata ele para receber,
mas recebe porque contratou. A intenção do lucro,
do ganho, da compensação, não integra o conteúdo
do negócio. É a mesma um elemento acidental,
acessório, secundário e representa restrição na
liberdade praticada, independente de constituir ou
não essa vantagem, um enriquecimento de uma
parte e um correspondente empobrecimento da
outra. Não há equivalência de prestações.”
(RIZZARDO, Arnaldo, Contratos, p. 589)

Ou seja, o encargo assumido no caso em tela não extrapola o valor


do bem dado em comodato, não tem configurado um caráter de
contraprestação, não há uma intenção de lucro, de remuneração em
relação ao comodato.

Devemos sempre lembrar dos princípios que regem os contratos, no


caso, a livre manifestação de vontade das partes em pactuar um
comodato modal, no qual o encargo assumido tem o intuito de
agradecer o comodante pelo bem dado em comodato, o que nos
leva também ao princípio pacta sunt servanda, que significa dizer
que a lei faz lei entre as partes, sendo assim eficaz entre as partes
contratantes.

Portanto, se trata de um contrato lícito e eficaz, que não desvirtua a


figura do contrato de comodato modal, não há que se falar em
desnaturalização do contrato.

III) O não cumprimento do encargo assumido gera a rescisão contratual,


podendo o comodante ajuizar ação reintegratória de posse, conforme
lhe dá direito o artigo 560 do CPC, preenchido os requisitos do art.
561 do mesmo tomo.
Em relação ao direito cobrar a obrigação assumida que resta em
atraso, citaremos a seguinte jurisprudência apresentada em aula:

APELAÇÃO – RESCISÃO CONTRATUAL


CUMULADA COM REPARAÇÃO DE DANOS –
CONTRATO DE COMODATO–Alegação de nulidade
de cláusula que impõe à comodatária a compra de,
no mínimo, cem placas por mês da comodante–
Inocorrência –Comodato modal–Imposição de tal
ônus que, por si só, não desnatura a gratuidade do
contrato de comodato– Ré que anuiu livremente com
o quanto pactuado – Aplicação do princípio da
"pacta sunt servanda" – Ressarcimento das
quantias devidas pelas placas que deveriam ter
sido adquiridas pela ré pelo período em que o
bem objeto do comodato permaneceu em seu
estabelecimento [...] RECURSO PROVIDO EM
PARTE. (TJSP; Apelação Cível 1007702-
14.2016.8.26.0068; Relator (a): Luis Fernando Nishi;
Órgão Julgador: 32ª Câmara de Direito Privado; Foro
de Barueri - 1ª Vara Cível; Data do Julgamento:
05/04/2018; Data de Registro: 09/04/2018). (grifo
nosso)

Ou seja, caberá sim ação de cobrança contra Carlos para que seja
ressarcido em relação ao prejuízo ocasionado pelo descumprimento
contratual e a mora do comodatário.

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