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Agregado Familiar: Vive com a esposa Frequência de atendimento: 4 vezes por semana
→ vai passar a 3 vezes por semana (2ª,4ª,6ª)
Profissão: Reformado, antes era vendedor
de confeção. Regime de atendimento: Externo
Por vezes quando realiza alguma sessão de fisioterapia mais intensa, ressente-se nos
dias seguintes, com o surgimento de dores musculares ao nível dos membros
superiores e inferiores, dores estas que avalia como sendo 5/10 na END. Este quadro
de DOMS (Delayed Onset Muscle Soreness) provavelmente está associado ao ainda
fraco condicionamento físico que o utente apresenta e pelo facto de não realizar uma
recuperação ativa nos dias intercalados com as sessões, onde praticamente se
encontra em repouso.
Atividades/Passatempos
Hábitos de Risco
O utente foi fumador durante cerca de 40 anos (35 UMA), tendo entrado em
abstinência dos seus hábitos tabágicos desde 2015, aquando do seu internamento
devido a infeção por Influenza B e Strep pneumoniae. Fruto desse mesmo episódio o
utente cessou também os seus hábitos etílicos
Apresenta algum excesso de peso, no entanto refere que este tem vindo a diminuir ao
longo do tempo “cheguei a pesar 90kgs” sic
O paciente revela não ter grandes problemas, isto pode ser justificável pelo facto deste
ser uma pessoa manifestamente pouco ativa, como tal não consegue definir nem
hierarquizar alguma atividade para a qual ainda não se sinta capaz de realizar porque
não realiza nenhuma atividade no seu dia a dia mais exigente que exponha a
dificuldades que possa sentir. Não tem por isso nenhuma estratégia que use para
atenuar quaisquer sintomas indesejados
Sono
O utente não revela ter quaisquer perturbações ao nível do sono, afirma dormir por
norma, sensivelmente 7h. Não tem insónias durante a noite nem dificuldade em
adormecer. Durante a noite o utente utiliza AutoCPAP com 02 a 3l/min, ao qual está
perfeitamente adaptado.
Interpretação
Diminuição do volume expiratório máximo no 1º segundo (FEV1) e consequentemente
do índice de Tiffeneau. Por outro lado, a Capacidade vital forçada mantém-se normal,
embora haja uma diminuição dos débitos expiratórios máximos forçados. A
Capacidade Pulmonar Total (CPT) e Volume Residual (VR) mantêm-se normais, com
aumento da relação VR/CPT.
Existe, como tal, uma alteração funcional ventilatória suscetível do tipo obstrutivo.
Exame Objetivo
Observação do estado geral aparente do doente
O utente encontra-se consciente, orientado no tempo e no espaço e colaborante,
bastante comunicativo e relativamente empenhado no seu plano de tratamento em
questão. Desloca-se até ao serviço de Fisioterapia de forma autónoma, realiza marcha
independente, não recorrendo a auxiliares de marcha. Por outro lado, utiliza
oxigenoterapia quando faz atividade física, (1L)
Inspeção
O utente não apresenta sinais de dificuldade respiratória, sendo que não possui
tiragem supraesternal. Relativamente ao padrão ventilatório, este tem uma relação de
1:3, apresentando um ligeiro padrão de hiperinsuflação, o utente faz por isso grande
parte da sua respiração ao nível costal superior.
Postura
No que diz respeito à postura, o utente apresenta algumas alterações ao nível das
curvaturas fisiológicas. Deste modo, apresenta uma retificação da lombar e ligeira
cifose torácica, com anteriorização e elevação dos ombros. Ao nível da cabeça, possui
um padrão de anteriorização. A alteração postural mais pronunciada trata-se de uma
constante do tronco na posição de pé a sensivelmente 10º.
Em relação aos membros inferiores é de notar um ligeiro varismo ao nível do joelho,
no entanto estes encontram-se numa posição “neutra” no que diz respeito às rotações
da coxa e da tíbia.
FR (cpm) 10
TA (mmHg) 121/77
SaO2 (%) 97
IMC
Relativamente ao IMC do utente, este mede
1,67m de altura e pesa 86,2Kgs, o que perfaz um
IMC de30,8kg/m2, que corresponde ao Grau I de
Obesidade.
Body Chart
Legenda:
: DOMS (5/10)
PIM e PEM
Grande parte das diretrizes de reabilitação respirantória recomenda exercícios
aeróbicos e de fortalecimento muscular dos membros superiores e inferiores como
base do seu programa. No entanto, tem vindo a ser sugerido que o treino dos
músculos respiratórios, em particular dos musculos inspiratórios (TMI) pode melhorar
a dispneia e, consequentemente, a qualidade de vida dos pacientes. No entanto ainda
não existe nenhuma diretriz adquada que estabeleca qual o nivel minimo de
frequeza/força dos músculos inspiratórios que necessite de TMI (1).
Foi realizado o teste de Pressão Inspiratória Máxima, com o intuito de determinar qual
o contribuito dos mus culos respiratarios na ventilação. O utente alcançou o valor
máximo de 54 (cmH20). Portanto, batante abaixo dos valores de referência para a
faixa etária do utente tanto a nivel internacional (2), como para os valores obtidos a
nivel nacional (3).
Não foi avaliado a PEM, uma vez que este indicador não varia significativamente de
acordo com a gravidade da DPOC e não existem, como tal valores de referência
adequados (1).
Auscultação
Diminuição do Ruido Respiratório Normal ao nível do pulmão esquerdo,
principalmente na base do pulmão esquerdo. Não se observaram ruídos respiratórios
adventícios (fervores e sibilâncias) nas distintas fases do ciclo respiratório.
Mobilidade Torácica
Direita Esquerda
Costal Superior N ↓+
Costal Média N ↓+
Costal Inferior N ↓++
Diafragma ↓+ ↓+
Legenda:
N – Normal, ↓+ Diminuição Ligeira; ↓++ Diminuição Moderada; ↓+++ Diminuição Severa.
Prova de Marcha
Sit to Stand
Com o propósito de avaliar a funcionalidade dos membros inferiores, bem como a sua
força e resistência, foi realizado o teste funcional “Sit to stand”. Uma vez que se trata
de um teste ao qual o utente pertence à “população alvo” a que se destina este teste.
O teste consiste em levantar e sentar de uma cadeira, sem o apoio dos braços, durante
30 segundos o maior número de vezes possível.
Estes resultados podem ser explicados pelo fraco condicionamento físico do utente ao
nível dos membros inferiores, praticamente não realiza nenhuma atividade física para
alem das sessões de Fisioterapia.
LCADL
Com o intuito de se avaliar quais as limitações nas AVDs provocada pela DPOC no
utente, foi lhe pedido que preenchesse o questionário LCADL (London Chest Activity of
Daily Living), já validada e traduzida para português, apresentando valores elevados
tanto de consistência interna α= 0,86, como de reprodutividade r= 0.98 (9).
Atualmente, está definido como diferença mínima clinicamente importante uma
variação entre -2.1 a -5.96 pontos, sugerindo-se assim que se considere uma variação
de -3 pontos (10).
O LCADL é composto por 15 itens que avaliam as AVDs, que se dividem em quatro
domínios:
SQRQ
Para avaliar a qualidade de vida do utente foi utilizado o questionário SGRQ (St.
George's Respiratory Questionnaire), este questionário foi desenvolvido
especificamente para avaliar o impacto de patologias respiratórias específicas (DPOC,
asma, bronquiectasias) (11). Isto porque diversos estudos mostram que o SGRQ é mais
discriminativo do que o SF-36 (questionário de saúde geral) para medir qualidade de
vida em pacientes portadores de DPOC (12). Este questionário apresenta valores
elevados tanto de consistência interna α > 0.70, como de reprodutividade r entre
0.795 e 0.900 (13).
O SGRQ é composto por 50 questões e considera três domínios distintos em que essas
condições podem infligir o doente, são estes:
Sintomas (8 questões);
Atividade (16 questões);
impactos psicossociais (26 questões).
Os resultados variam entre 0 e 100, quanto maiores forem os valores, piores os níveis
de qualidade de vida (14). No que diz respeito à diferença mínima clinicamente
importante, especula-se que uma variação de 4 pontos está associada a tratamento
ligeiramente eficaz, uma variação de 8 pontos para uma mudança moderadamente
eficaz e uma variação de 12 pontos para um tratamento muito eficaz (13). O utente
alcançou uma pontuação de 31. O que até se aproxima dos limites inferiores dos
valores de referência de pontuações para este questionário referentes ao estadio da
GOLD que o utente ocupa.
CAT
Também para avaliar a Qualidade de vida, foi utilizado o questionário CAT (COPD
Assesment Test), isto porque segundo as diretrizes da GOLD, a monitorização da DPOC
não deve estar apenas estratificada pela classificação espirométrica, mas também
através de uma avaliação multidimensional dos atributos específicos do paciente, e
reportados pelo mesmo “PROM” (Patient-Reported Outcome Measures) (15). Como tal
a GOLD propõe o uso da escala de dispneia modificada mMRC do (British Medical
Research Council) ou questionário CAT; no entanto, a recomendação preferencial é
dada ao CAT, uma vez que este fornece uma cobertura mais completa do impacto da
DPOC no bem-estar (15).
Este questionário é composto por apenas 8 questões pontuadas entre 0 e 5. Sendo que
quando maior for a pontuação, maior são as repercussões na vida do doente. O CAT
apresenta os seguintes valores de consistência interna e de reprodutividade: α entre
0,85–0,98 e r entre 0.80-0.96 (16). Até ao momento apenas um estudo
metodologicamente adequado relatou uma DMCI para o CAT, sendo este de 2
unidades (17). O utente alcançou uma pontuação de 12
Expetativas/Objetivos do utente em relação á fisioterapia:
O paciente não tem qualquer tipo de expetativas dado que o mesmo nunca
frequentou a fisioterapia, para a patologia que apresenta. Apenas refere que
quer melhorar a sua saúde e qualidade de vida, e “pode ser que a fisioterapia
consiga”.
Principais problemas
Para a CAT, tentar manter os resultados obtidos dentro dos valores de impacto
médio (entre 10-20 pontos, o utente alcançou 12) e se possível atingir
porventura a DMCI estabelecida (2 pontos).
Exercícios de “Gato assanhado”- Estimular a mobilidade do tronco com o intuito de promover uma
Mobilidade do Tronco ativação ao nível diafragmático mais funcional e percetível. Inspirações profundas com o
(“gato assanhado” e mesmo propósito anterior.
com bola de Bobath)
Treino Aeróbio, com a Aumento da tolerância ao esforço e aumento da força muscular (de resistência) dos membros
utilização de inferiores e superiores, de modo o mesmo a diminuir níveis de dispneia e cansaço, aquando da
Ciclobraços; de realização de caminhadas a grandes distâncias
Bicicleta ergonómica e
passadeira (10, 20
minutos
respetivamente)
(ANEXO 1)
.
Aumentar a força dos membros com o intuito de promover uma melhor a tolerância ao
Treino de esforço aquando da realização de AVD´s, desenvolvendo assim, as capacidades da força em
Fortalecimento dos ações motoras benéficas e funcionais para o indivíduo, aumento do recrutamento das unidades
MS(s) e MI(s) – RM a musculares, ativação de um maior número de fibras musculares. O fortalecimento muscular,
50% irá promover a execução de determinadas tarefas de forma mais otimizada, desencadeando
um menor consumo de energia dispendida o que, consequentemente irá melhorar tolerância
ao esforço e a sensação de dispneia.
100
20
80
15
60
10
40
5
20
0 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Para tal, procedeu-se a uma nova auscultação. Desta feita notou-se apenas
uma ligeira diminuição do Ruido Respiratório Normal ao nível da base do
pulmão esquerdo, continuando a não se observar ruídos respiratórios
adventícios (fervores e sibilâncias) nas distintas fases do ciclo respiratório.
Hiperinsuflação
Dispneia Limitação na Disfunção
DPOC Manifestações locais muscular
em esforço realização das
Diminuição do VEF1 AVD´s periférica
Avaliando este caso numa visão mais “periférica” e holística, a meu ver foi
realizada uma prática centrada no utente pois foram-lhe facultadas diversas
hipóteses de tratamento e explicadas quais as vantagens e desvantagens de
cada uma delas. Penso que, ao longo de todo o processo foi realizada uma
prática clínica baseada na evidência mais atual disponível sobre esta condição,
tal como foi demonstrado ao longo desta ficha clínica.
Anexo
1
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