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Resumo com perguntas - Transtorno do humor bipolar

1. No transtorno bipolar os pacientes podem apresentar períodos de depressão e períodos de mania.


Conceitue mania.
- Mania: paciente com humor eufórico + ao menos 3 sintomas típicos por um período consecutivo de 7 dias,
em alta intensidade. Dica: alucinações/psicose em bipolar (manifestações graves) = mania;
Obs. Também é considerado mania se o quadro for grave o suficiente para que ocorra uma internação hospitalar, mesmo antes dos
7 dias de duração.
- Hipomania: paciente com humor eufórico + ao menos 3 sintomas típicos por um período consecutivo de 4
dias, em intensidade moderada. Raramente cursa com sintomas psicóticos.

2. Como funciona o diagnóstico do transtorno bipolar?


- O diagnóstico pode ocorrer de duas formas:
● Transtorno bipolar tipo 1 = mania → Registro de ao menos
um episódio maníaco (grande intensidade de sintomas) durante a vida.
Pode ter ocorrido algum episódio de depressão, mas não é necessário
ao diagnóstico;
● Transtorno bipolar tipo 2 = depressão + hipomania →
Registro de ao menos um episódio de hipomania (moderada intensidade
de sintomas) e um episódio depressivo (independente da ordem dos
acontecimentos).
● Estado misto = Os pacientes apresentam alternância de
sintomas de depressão e euforia em um curto espaço de tempo, muitas
vezes no mesmo dia.

3. Qual a epidemiologia do transtorno bipolar?


- Assim como a maioria dos transtornos do humor, o transtorno bipolar é mais comum no sexo feminino, sua
prevalência atinge cerca de 2% a 4% da população geral e possui forte componente genético bem como
alta herdabilidade
4. Qual o curso do transtorno do humor bipolar?
- Frequentemente se inicia no final da adolescência ou início da vida adulta, com uma média de idade do
início dos sintomas perto dos 25 anos de idade;
- Curso crônico, com diversas recaídas durante a vida, principalmente em quadros depressivos. Estima-se
que um paciente bipolar viva até metade da vida com sintomas depressivos, inclusive na “abertura do
quadro”.
5. Como funciona o tratamento farmacológico do transtorno do humor bipolar?
- Geralmente associa-se estabilizadores de humor (como Lítio e Ácido
Valpróico) + Antipsicótico atípico (Quetiapina é primeira linha);

Obs. antidepressivos não são indicados nem em casos de depressão bipolar, pelo
risco de virada maníaca e quadro misto.

Obs. Lamotrigina = estabilizador de humor com importante efeito antidepressivo,


escolha para tratar sintomas depressivos de difícil controle. ATENTAR aos
colaterais → aumente a dose gradativamente, para reduzir o risco de farmacodermias (Síndrome de Stevens
Johnson);

- A psicoterapia + cessar uso de álcool, cafeína, nicotina e de outras drogas que podem desestabilizar o
humor devem ser SEMPRE incentivadas;
6. Comente sobre a psicofarmacologia dos medicamentos utilizados no transtorno bipolar.
Drogas que atuam prevenindo tanto episódios de mania ou hipomania quanto depressão, mantendo o paciente em “eutimia”.
- Lítio - Padrão ouro.
● Medicamento acessível, barato e eficaz. Possui propriedades antimaníacas, antidepressivas e
antissuicidas;
Obs. Estudos recentes indicam ação antidemencial (função neuroprotetora). Pode aumentar o volume do córtex cerebral e dos
hipocampos → associação com melhora cognitiva.
● Mecanismo de ação pouco compreendido: bloqueia efetivamente a cascata de sinalização do
fosfatidilnositol → diminuição da neurotransmissão adrenérgica central muscarínica e
serotoninérgica;
● Excreção: não sofre metabolização e é excretado de forma inalterada pelo rim;
Obs. Desidratação e medicações que alteram a capacidade de filtração glomerular (como IECAs, BRAs, diuréticos, AINE, etc)
podem causar aumento da litemia.
● Faixas séricas do Lítio - dose terapêutica e dose tóxica
Obs. O lítio apresenta estreita faixa terapêutica e há variações nas taxas de excreção dessa droga, portanto, recomenda-se
monitorização periódica de seus níveis séricos.
➔ A dosagem deve ser feita SEMPRE 12h após a ingestão do comprimido de lítio.
➔ Geralmente, dosa-se os níveis séricos de 5-7d dias após o início e, posteriormente, o
controle é feito a cada 3-6 meses;
Obs 1. É necessário fazer aferição de litemia 7 dias após cada ajuste de dose;
Obs 2. Durante o tratamento de manutenção, a litemia deve ser coletada semestralmente (para estratégiaMED, para medcurso é de
3-6m), bem como hemograma, função renal, eletrólitos, glicemia de jejum, TSH e T4 livre;
➔ Os níveis recomendados são de 0,6-1,2mEq/l;

● Efeitos colaterais: acne, vômitos, diarreia, retenção hídrica, queda de cabelo, aumento do apetite,
ganho de peso e tremores finos → A longo prazo: hipotireoidismo, diabete insípido e insuficiência
renal;
Obs. Uma maneira de minimizar/ neutralizar os sintomas é iniciar com doses baixas e realizar aumentos progressivos.
Obs 2. A inibição da entrada de K+ nos miócitos pelo lítio resulta em anormalidades de repolarização da membrana, com
consequente observação de anormalidade das ondas T no ECG.
● Contraindicações do lítio: durante a amamentação, em pacientes com doença renal crônica e em
cardiopatas graves. CI relativas: gestação, hipotireoidismo;
Obs. se o uso do lítio for considerado indispensável para o tratamento da bipolaridade durante a gestação, deverão ser usadas
doses inferiores a 900 mg por dia (risco de anomalia cardíaca de Ebstein);
- Ácido valproico (AVP)
● Metabolização hepática;
● Mecanismo de ação: Pouco compreendido, mas acredita-se que essa droga exerça efeitos sobre o
ácido-gama-aminobutírico (GABA)
● Considerada 1ª linha na fase aguda ou manutenção;
● Sua dosagem deve ser controlada com medições da valproatemia → faixa terapêutica, entre 50 e
100 μg/mL;
● Efeitos colaterais do AVP: sedação, ganho de peso, tremores, queda de cabelo e elevação
temporária e benigna das transaminases;
● Contraindicações: hepatopatas graves e em gestantes. Considerado seguro durante amamentação;
- Quetiapina
● Antipsicótico atípico;
● Uso liberado para transtorno bipolar em adultos e dos 10-17 anos, para transtornos psicóticos e
comportamentais em crianças e adolescentes, ansiedade grave resistente ao tratamento;
● Pode ser usado em monoterapia ou adjunto ao lítio/valproato → potencialização para resposta
parcial ou resistência ao tratamento;

- Carbamazepina
● Anticonvulsivante com propriedades estabilizadoras de humor → menos utilizada q o lítio e AVP por
ser + hepatotóxica e ter + interações medicamentosas;
● Mecanismo de ação: age através da modulação glutamatérgica e da ação sobre canais de sódio.
● Útil no TTO da neuralgia do trigêmeo e no TTO da síndrome de abstinência alcoólica.
● Nível sérico terapêutico: 4 e 12 g/mL;
● Efeitos colaterais: náuseas, vômitos, sedação e ataxia → graves: anemia aplásica, hepatite
medicamentosa e Síndrome de Stevens-Johnson;
● Contraindicações: portadores de doenças hematológicas graves e durante a gravidez.
- Lamotrigina
● Bem tolerado e apresenta poucos efeitos colaterais se introdução lenta;
● DROGA DE ESCOLHA PARA PERÍODO GESTACIONAL, mas CI relativa durante a amamentação
(se usada, deve preceder em ao menos 4h a amamentação)
● Estabilizador de humor + anticonvulsivante + ações antidepressivas (forte efeito) + ação discreta
em episódios maníacos;
● Efeitos colaterais: síndrome de Stevens-Johnson, sedação, náuseas, rash cutâneo;
● Contraindicação: insuficiência hepática;
Obs. como deve ser introduzida lentamente, demora para chegar na faixa terapêutica, não sendo a droga de escolha na fase aguda;
Não tomar com Ácido valproico, pois aumenta seu nível serico. valproato promove uma diminuição da degradação hepática da
lamotrigina.

7. Como reconhecer e tratar um episódio de intoxicação por lítio?


- A intoxicação por lítio pode causar tremores, ataxia rigidez muscular, distúrbios gastrointestinais, como
vômitos, diarreia e náuseas com um gosto metálico na boca. Casos graves: rebaixamento sensório,
convulsões, insuficiência renal aguda, arritmias cardíacas e depressão respiratória.
- Tratamento é baseado em suporte clínico, pois NÃO HÁ ANTÍDOTO ESPECÍFICO;
● Convulsões podem ser tratadas com benzodiazepínicos;
● Nos casos de ingestão em menos de 1h → lavagem gástrica pode ser indicada
Obs. Carvão ativado não adsorve lítio.
● Em casos extremos a hemodiálise pode ser indicada;
8. Ciclotimia é sinônimo de bipolaridade?
- NÃO! Ciclotimia é um transtorno de humor de curso crônico e flutuante, com duração superior a 2 anos e
distribuído entre sintomas leves e hipomaníacos brandos, não sendo classificado como depressão ou
bipolaridade.
- Apesar de ser considerado de “menor gravidade”, acarreta prejuízo funcional nesses pacientes, causando
sofrimento importante.

ARTIGOS CIENTÍFICOS

Medicina | Texto Completo Grátis | Risco de suicídio no transtorno bipolar: uma breve revisão (mdpi.com)
- Fatores de risco de Suicídio no transtorno bipolar
1. Tentativas prévias de suicídio são consideradas um dos mais poderosos preditores individuais de
tentativas futuras e morte por suicídio;
2. Período logo após a alta hospitalar pode ser caracterizado por níveis extremamente elevados de
suicídio;
3. Período imediatamente após admissão hospitalar;
4. Grande número de internações anteriores;
5. Idade precoce do início do transtorno - sendo os 1ºs anos do diagnóstico o período de maior risco;
6. A comorbidade com outros distúrbios psiquiátricos, viciantes ou somáticos graves também aumenta
o risco de todas as formas de comportamento suicida;
7. O curso de ciclismo rápido e a polaridade depressiva predominante durante o curso anterior também
estão associados a maiores riscos de comportamento autodestrutivo;
8. A duração mais longa da doença não tratada;
9. Em relação aos fatores sociodemográficos, o sexo masculino é um fator de risco para suicídios letais,
enquanto, de acordo com alguns resultados, o sexo feminino é um fator de risco para tentativas;
10. Bipolares divorciados, solteiros ou solteiros ou que vivem em isolamento social;
11. Idade (menos de 35 anos de idade e acima de 75 anos de idade correm maior risco de se envolver em
comportamentos relacionados ao suicídio);
12. Adversidades na história pessoal e estressores agudos, como sofrer abuso sexual ou físico e perda
parental na infância ou luto, violação da lei / condenação criminal e desastres financeiros também são
importantes precipitantes do suicídio;
13. Alguns atributos de personalidade, por exemplo, traços impulsivos / agressivos, desesperança e
pessimismo também aumentam.e o risco de suicídio.
- Fatores protetores do Suicídio no Transtorno bipolar
1. Um bom apoio familiar e social, a paternidade e o uso de estratégias de enfrentamento adaptativas
parecem ter alguns efeitos protetores;
2. Um forte percepção do sentido da vida e o temperamento afetivo hipertímico;

Bipolar desorder - Artigo NEW ENGLAND


Serão aqui elencados apenas informações ainda não lidas no artigo anterior:
Outros fatores de risco para tentativas de suicídio são: condições psiquiátricas coexistentes, tabagismo, consumo de
café, obesidade e sobrepeso, parentes de 1º grau com transtornos de humor/que já tenham se suicidado, trauma
precoce (maus tratos na infância), conflitos interpessoais, problemas ocupacionais e luto.

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