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Direito

Constitucional

Processo
Constitucional
Prof.ª Dra. Caroline Müller Bitencourt
Prof. Dr. Janriê Reck
Prof. Me. Mateus Silveira
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

Olá, Ceisquer!

Esperamos que você tenha uma excelente jornada na sua


preparação para da prova de 2ª fase da OAB.

Serão meses intensos de muito estudo, muita entrega, mas


com toda a certeza valerão a pena quando o sonho de cada
um de vocês se concretizar! Confiem no processo de
construção do conhecimento, venham com alegria e
focados. Estamos juntos!

Profª. Caroline Bitencout | @carolinemullerbitencourt


Prof. Janriê Reck | @janriereck
Prof. Mateus Silveira | @professormateussilveira

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

SUMÁRIO

Remédios constitucionais..................................................................................................... 4
Ação popular...........................................................................................................................5
Mandado de injunção............................................................................................................. 18
Ação civil pública................................................................................................................... 28
Habeas data............................................................................................................................ 37
Mandado de Segurança Individual e Coletivo..................................................................... 48
Reclamação constitucional................................................................................................... 65
Recurso ordinário constitucional......................................................................................... 73
Recurso Extraordinário..........................................................................................................81
Controle de Constitucionalidade.......................................................................................... 95
Controle concentrado de constitucionalidade.................................................................... 117
Ação Direta de Inconstitucionalidade.................................................................................. 127
Ação Direta de Inconstitucionalidade por omissão............................................................ 140
Ação Declaratória de Constitucionalidade.......................................................................... 149
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental...................................................155
Súmulas vinculantes.............................................................................................................. 169

Olá, Ceisquer! Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso para a 2ª Fase do 37º
Exame da OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as respectivas aulas. Além disso, recomenda-
se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação pertinente.

Bons estudos, Equipe Ceisc.


Atualizado em fevereiro de 2023.

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Remédios constitucionais

Introdução
Os remédios constitucionais estão dispostos no artigo 5º da Constituição Federal como
forma de proteção e tutela dos direitos fundamentais (exceto a ação civil pública, mas esta
também é interpretada nesse sentido).

Para todos verem: lista com palavras em cinza escuro com o fundo azul claro, escrito Habeas
corpus, Habeas data, Mandado de Injunção, Mandado de Segurança, Ação Popular e Ação Civil
Pública.

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Ação popular

1. Fundamento legal

➙ Art. 5º, inciso LXXIII, da Constituição Federal.


➙ Lei nº 4.717/1965.

➙ Rito ordinário.

2. Conceito
Segundo Maria Silvia Zanella Di Pietro (Curso de Direito Administrativo), a Ação Popular
é ação civil pela qual todo cidadão pode pleitear a invalidação de atos praticados pelo poder
público ou entidades de que participe, lesivos ao patrimônio público, ao meio ambiente, à
moralidade administrativa ou patrimônio histórico e cultural, bem como a condenação por perdas
e danos dos responsáveis pela lesão
Trata-se de um remédio constitucional pelo qual qualquer cidadão fica investido de
legitimidade para o exercício de um poder de natureza essencialmente política e constitui
manifestação direta da soberania popular consubstanciada no art. 1º, parágrafo único, da
Constituição: “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos
ou diretamente. Sob esse aspecto, é uma garantia constitucional política. [...]”. Ela dá a
oportunidade de o cidadão exercer diretamente a função fiscalizadora, que, por regra, é feita por
seus representantes nas Casas Legislativas. Mas ela é também uma ação judicial porquanto
consiste num meio de invocar a atividade jurisdicional visando a correção de nulidade de ato
lesivo:

➙ a) ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe;

➙ b) à moralidade administrativa;

➙ c) ao meio ambiente; e

➙ d) ao patrimônio histórico e cultural.


Sua finalidade é, pois, corretiva, não propriamente preventiva, mas a lei pode dar, como
deu, a possibilidade de suspensão liminar do ato impugnado para prevenir a lesão (SILVA, José
Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo).

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A ação popular é um instrumento processual de controle objetivo da regularidade da


atividade administrativa. Sua existência deriva da concepção de que todo e qualquer cidadão é
investido do dever-poder de participar do processo de fiscalização da regularidade dos atos
administrativos. Sua existência está prevista no art. 5°, LXXIII, da Constituição Federal e
disciplinada na Lei nº 4.717/65, com inúmeras alterações posteriores (JUSTEN FILHO, Marçal.
Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Editora Saraiva, 2005. p. 776).

3. Objeto
O objeto da Ação Popular é anular atos comissivos ou omissivos que sejam lesivos ao
patrimônio público e condenar os responsáveis pelo dano a restituir o bem ou indenizar por
perdas e danos.
Na Ação Popular pede-se a anulação do ato lesivo e a condenação dos responsáveis ao
pagamento de perdas e danos ou à restituição de bens e valores, conforme a letra da lei.
Assim, pode-se extrair a própria finalidade da ação, o direito de fiscalizar a coisa pública,
um importante instrumento posto à disposição do cidadão para a proteção do patrimônio da
comunidade.

Para todos verem: colunas com detalhes em azul, escrito na primeira


coluna: subjetivo, legitimidade ativa do cidadão – requisito é possuir
condição de eleitor, não tendo legitimidade os órgãos de classe, nem
partidos políticos, nem qualquer pessoa jurídica. Súmula 365:
pessoa jurídica não tem legitimidade para propositura de ação
popular. Na segunda coluna está escrito: objetivo, proteção ao
patrimônio da ilegalidade da lesividade.

4. Fatos atacáveis via Ação Popular


Quais são os atos nulos e quais são anuláveis por meio de ação popular?

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A Lei n° 4.717/65, embora definindo os atos nulos (art. 2°) e os atos anuláveis (art. 3°),
dando a impressão de que exige demonstração de ilegalidade, no artigo 4° faz uma
indicação casuística de hipóteses em que considera nulos determinados atos e contratos,
sem que haja qualquer ilegalidade, como, por exemplo, no caso de compra de bens por
valor superior ao corrente no mercado, ou a venda por preço inferior ao corrente no
mercado. Trata-se de hipóteses em que pode haver imoralidade, mas não ilegalidade
propriamente dita. (PIETRO, Maria Sylvia Zanella di. Direito Administrativo. São Paulo:
Editora Atlas S.A., 2012. p. 864.)

Para todos verem: colunas com detalhes em azul, escrito na parte de


central de cima Teoria dos atos nulos verso anuláveis. Na primeira coluna
está escrito: artigo 2º são nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades
mencionadas no artigo anterior, nos casos de: a) incompetência; b) vício
de forma; c) ilegalidade do objeto; d) inexistência dos motivos; e) desvio
de finalidade. Combinado com artigo 4º. Na segunda coluna está escrito:
artigo 3º os atos lesivos ao patrimônio das pessoas de direito público ou
privado, ou das entidades mencionadas no art. 1º, cujos vícios não se
compreendam nas especificações do artigo anterior, serão anuláveis,
segundo as prescrições legais, enquanto compatíveis com a natureza
deles.

Diga-se que o ato inválido não precisa ser ilícito na sua origem, mas deve ser ilegal na
sua formação ou no seu objeto, logo, a ação destina-se a invalidar atos praticados com
ilegalidade de que lesou o patrimônio público, podendo ser proveniente de vício formal ou
substancial ou até mesmo de vício de desvio de finalidade. (art. 2º “a” e “e”).
Ato lesivo é todo ato ou omissão administrativa que desfalca o erário ou prejudica a
Administração, da mesma forma como o que ofende bens ou valores artísticos, cívicos, culturais,
ambientais e históricos. Pode esta ser presumida, em conformidade com o que dispõe o art. 4º,
bastando a prova do ato naquelas circunstâncias elencadas para considerar o ato lesivo e nulo
de pleno direito.

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5. Conceito de patrimônio público

Quanto ao patrimônio público, abrange, nos termos do artigo 1° da Lei n° 4.717/65, o da


União, Distrito Federal, Estados, Municípios, entidades autárquicas, sociedades de
economia mista, sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente os
segurados ausentes, empresas públicas, serviços sociais autônomos, instituições ou
fundações para cuja criação ou custeio o tesouro público haja concorrido ou concorra com
mais de 50% do patrimônio da União, Distrito Federal, Estados, Municípios, e de quaisquer
pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres públicos. (PIETRO, Maria
Sylvia Zanella di. Direito Administrativo. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2012. p. 865.)

É o mais amplo possível, abrange coisas corpóreas ou incorpóreas, móveis, ou imóveis,


créditos, direitos, ações que pertençam a qualquer ente administrativo, bem como sua
administração indireta.
Segundo o artigo 1º, §1º da Lei nº 4.717/65: “bens e direitos de valor econômico, artístico,
estético, histórico e turístico”.

6. Cabimento
Fundamente sua tese de cabimento com o art. 5º, inciso LXXIII, da Constituição Federal
e o art. 1º, da Lei nº 4.717/1965.
STF e repercussão geral:

(...) Não é condição para o cabimento da ação popular a demonstração de prejuízo


material aos cofres públicos, dado que o art. 5º, inciso LXXIII, da Constituição Federal
estabelece que qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular e impugnar,
ainda que separadamente, ato lesivo ao patrimônio material, moral, cultural ou histórico
do Estado ou de entidade de que ele participe. (...) (RE 824781).

7. Legitimidade

Ativa Passiva
Serão réus na Ação Popular, simultaneamente, a pessoa
Cidadão (todo aquele que estiver no gozo dos direitos jurídica da qual se emanou o ato contestado, os seus
políticos e fizer prova com título de eleitor). respectivos agentes responsáveis pelo mesmo ou os
Neste caso, trata-se sempre de pessoa física. omissos, no caso em que o dano já ter acontecido e os
beneficiários do ato.
Falta legitimidade ativa:
a) quem teve cancelada a naturalização por sentença
Observação: quase sempre teremos a pluralidade de
transitada em julgado;
sujeitos no polo passivo, invocando também aqueles que
b) quem teve sua nacionalidade cancelada
de alguma forma tenham contribuído para ação ou
administrativamente;
omissão e, até mesmo, terceiros beneficiados.
c) suspensão dos direitos civis por incapacidade
absoluta;

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d) suspensão dos direitos políticos por condenação


criminal transitada em julgado;
e) perda do direito político por recusa de cumprimento
de obrigação a todos impostas sem o cumprimento
de prestação alternativa;
f) suspensão dos direitos políticos por condenação
em ato de improbidade

Os beneficiários que devem figurar no polo passivo são aqueles que se favorecem
diretamente do ato ou da omissão lesiva, os beneficiários indiretos, geralmente, não precisam
integrar a lide.
É um litisconsorte simples, pois a decisão não precisa ter o mesmo conteúdo para todos
os réus.
O ato legislativo de efeito concreto é passível de impugnação através de ação popular,
nesse caso, o legitimado passivo será a pessoa jurídica a qual integra a casa legislativa.
Exemplo: se for ato do Congresso Nacional, figura no polo passivo a União.
Atentar para a peculiar situação da fazenda pública – vide art. 6º parágrafo 3º:

Art. 6º da Lei nº 4.717/1965: (...)


§ 3º A pessoas jurídica de direito público ou de direito privado, cujo ato seja objeto de
impugnação, poderá abster-se de contestar o pedido, ou poderá atuar ao lado do autor,
desde que isso se afigure útil ao interesse público, a juízo do respectivo representante
legal ou dirigente.

Logo, admitem-se não só a inércia da pessoa jurídica, bem como sua posição ativa ao
lado do cidadão.
Não há preclusão no deslocamento da pessoa jurídica do polo passivo para o polo ativo,
desde que útil ao interesse público. Logo, poderá fazer a qualquer tempo, mesmo após a
contestação.

8. Ministério Público
Ministério público não é parte autônoma, mas tem função singular, devendo agir com total
independência funcional.

9. Competência
A Constituição Federal não prevê competência originária do STF e do STJ como nos
demais remédios constitucionais, assim a competência é indicada conforme a origem do ato
impugnado. Além disso, a competência será determinada pela lei judiciária de cada Estado
segundo o interesse político e a origem do ato impugnado.

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Exemplo: se a Ação Popular versar sobre bem público pertencente a União, a


competência será da justiça Federal; havendo interesse do Estado ou do município, o juízo
competente será a vara da Fazenda Pública.

Art. 5º da Lei nº 4.717/65: Conforme a origem do ato impugnado, é competente para


conhecer da ação, processá-la e julgá-la o juiz que, de acordo com a organização judiciária
de cada Estado, o for para as causas que interessem à União, ao Distrito Federal, ao
Estado ou ao Município.
§ 1º Para fins de competência, equiparam-se atos da União, do Distrito Federal, do Estado
ou dos Municípios os atos das pessoas criadas ou mantidas por essas pessoas jurídicas
de direito público, bem como os atos das sociedades de que elas sejam acionistas e os
das pessoas ou entidades por elas subvencionadas ou em relação às quais tenham
interesse patrimonial.
§ 2º Quando o pleito interessar simultaneamente à União e a qualquer outra pessoa ou
entidade, será competente o juiz das causas da União, se houver; quando interessar
simultaneamente ao Estado e ao Município, será competente o juiz das causas do Estado,
se houver.

Súmula 508 STF - Compete à Justiça Estadual, em ambas as instâncias, processar e


julgar as causas em que for parte o Banco do Brasil S. A.

Súmula 556 STF - É competente a Justiça comum para julgar as causas em que é parte
sociedade de economia mista.

Como observar a competência? Olhar o critério conforme a origem do ato.


Exemplo:
 ato emanado por autoridade federal – justiça federal;
 autoridade Estadual e Municipal - Justiça estadual.
Definida a Justiça, precisa-se identificar qual a competência territorial que depende da
autoridade que emanou o ato. Vide a importante regra do art. 109, parágrafo 2º, da CF:

Art. 109 da CF: Aos juízes federais compete processar e julgar:


(...)
§ 2º As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que
for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à
demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal.

Competência por equiparação é o que se encontra no art. 5º, parágrafo 1º, da Lei 4.717/65.
No âmbito estadual e municipal, essa equiparação notadamente para pessoas jurídicas de direito
privado (uma vez que autarquias e fundações já se inserem no conceito de Fazenda Pública por
terem personalidade jurídica). Assim, atos e omissões de empresas públicas estaduais e
municipais, instituições privadas que recebam recursos estaduais e municipais, serão julgadas.

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10. Procedimento
O Juiz despacha a inicial e ordena a citação dos réus, a intimação do Ministério Público e
requisita documentos e informações a serem prestadas pelos réus que sejam importantes para
a elucidação dos fatos.
Para isso, tem-se o prazo de (15) quinze a (30) trinta dias.
A citação será feita no modo comum do Código Processual Cível.
O prazo para a contestação é de 20 (vinte) dias para todos os réus, prorrogável por mais
(20) vinte dias caso necessário para a produção da defesa, contados da juntada do último
mandado de citação ou do transcurso do prazo do edital.
Caso não exista requerimento de produção de provas até o despacho saneador, o Juiz
abrirá vista aos interessados por (10) dez dias, para as alegações finais. Logo após, os autos
irão para conclusão, devendo o Juiz proferir sentença em 48 horas.
No caso de requerimento de produção probatória, o rito será o ordinário, sendo então, de
(15) quinze dias o prazo para a prolatação de sentença.

11. Desistência
Não se admite desistência.
A partir desse momento, serão publicados editais e, no prazo de 90 (noventa) dias da sua
última publicação, qualquer cidadão ou o Ministério Público poderá dar prosseguimento à ação.

12. Procedência e improcedência e seus efeitos


Procedência: na demanda, o Juiz invalidará os atos ilegais e condenará os responsáveis
e os beneficiários dos mesmos a indenizarem em perdas e danos os prejudicados, não se
esquecendo de que, quando proclamada a responsabilidade da administração pública e tendo a
mesma que arcar com os prejuízos causados dolosa ou culposamente por seus funcionários,
terá ela ação de regresso contra o agente causador do dano a ressarcir integralmente erário
público.

➙ A decisão definitiva é pela procedência da ação e, assim, produzirá os efeitos ordinários da


coisa julgada material;

➙ Invalidação do ato impugnado;

➙ Condenação dos responsáveis e beneficiários em perdas e danos;

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➙ Condenação dos réus às custas, despesas e honorários;

➙ Coisa julgada erga omnes;

➙ Possibilidade de ação regressiva.

Efeito secundário: se, no curso da ação ficar provada a infringência da lei ou a falta
disciplinar a que a lei comine a pena de demissão o juiz remeterá ex officio, cópia as autoridades
e gestores para aplicar a sanção.

Atenção!
Embora a sentença de procedência da ação ter efeitos erga omnes, ou seja, contra todos, não cabe
a declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo em sede de ação popular, visto que o
controle concentrado de constitucionalidade é de competência exclusiva do Supremo Tribunal
Federal, conforme art. 102, I, “a”, da Constituição Federal, vez que figuraria uma usurpação de
competência do Tribunal. (MEIRELLES)

Improcedente: já na improcedência do pedido popular, o responsável pela ação só arcará


com as custas processuais e honorários advocatícios se for comprovada a sua má-fé ao intentá-
la.
Aqui, duas serão as hipóteses cabíveis (André Ramos Tavares, Curso de Direito
Constitucional):
1) a improcedência ocorreu em virtude da deficiência probatória. Neste único caso, não
se formará a coisa julgada, e, pois, qualquer cidadão, inclusive o mesmo que já perdera a ação,
poderá renová-la, desde que fundamentado em novas provas;
2) a improcedência ocorreu porque infundada a ação, tendo sido suficiente a prova
produzida. Aqui, a decisão se reveste de autoridade da coisa julgada material, e nenhum outro
cidadão poderá propor idêntica ação. (TAVARES)

13. Medidas cautelares e antecipatórias


Instrumentos de tutela antecipada no Código de Processo Civil.

➙ Art. 5, § 4º da Lei nº 4.717/65: “Na defesa do patrimônio público caberá a suspensão liminar
do ato lesivo impugnado.”

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➙ Art. 14, § 4º, da Lei nº 4.717/65: “A parte condenada a restituir bens ou valores ficará sujeita
a sequestro e penhora, desde a prolação da sentença condenatória.”

14. Resumo
Conforme a origem do ato impugnado – local da prática do ato lesivo ao patrimônio
Competência público.
Endereçar Juízo Cível da ... Vara da Comarca ...
Legitimidade ativa - cidadão.
Legitimidade passiva: pessoas públicas ou privadas e as entidades referidas no art. 1º,
Legitimidade da Lei nº 4.717/65 contra as autoridades, funcionários ou administradores que
ativa e passiva houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por
omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do
mesmo.
O que devo
Lesão ao patrimônio público descrito na LAP.
suscitar?
Evitar ou reparar o ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o estado
Pedido participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e
cultural.
Obrigatoriedade de citação pessoal de todos os réus, a intimação do MP, a decisão
sobre a concessão ou não de medida liminar, quando solicitada, requisição dos
documentos indicados pelo autor na inicial, além de outros que lhe pareçam
Demais questões necessários, a possibilidade do processo ser feito sob segredo de justiça quando da
ameaça à segurança nacional e sujeição, salvo justificativa comprovada, da autoridade
que se negar a restar as informações requeridas à pena de desobediência.
Se não tiver valor no enunciado:
Valor da causa R$ ..., para efeitos procedimentais, nos termos dos artigos 291 e 319,
Valor da Causa inciso V, do Código de Processo Civil.

Se a questão indicar o valor do prejuízo ao patrimônio, esse deverá ser o valor da causa.

15. Modelo
Exame de Ordem XXVIII - Peça profissional
A sociedade empresária K, concessionária do serviço de manutenção de uma estrada municipal,
na qual deveria realizar investimentos sendo remunerada com o valor do pedágio pago pelos
usuários do serviço, decidiu ampliar suas instalações de apoio. Após amplos estudos, foi
identificado o local que melhor atenderia às suas necessidades. Ato contínuo, os equipamentos
foram alugados e foi providenciado o cerco do local com tapumes. De imediato, foi fixada a placa,
assinada por engenheiro responsável, indicando a natureza da obra a ser realizada e a data do
seu início, o que ocorreria trinta dias depois, prazo necessário para a conclusão dos preparativos.
João da Silva, usuário da rodovia e candidato ao cargo de deputado estadual no processo
eleitoral que estava em curso, ficou surpreso com a iniciativa da sociedade empresária K, pois
era público e notório que o local escolhido era uma área de preservação ambiental permanente
do Município Alfa. Considerando esse dado, formulou requerimento, dirigido à concessionária,

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solicitando que a obra não fosse realizada. A sociedade empresária K indeferiu o requerimento,
sob o argumento de que o local escolhido fora aprovado pelo Município, que concedeu a
respectiva licença, assinada pelo prefeito Pedro dos Santos, permitindo o início das obras. O
local, ademais, era o que traria maiores benefícios aos usuários.
João da Silva, irresignado com esse estado de coisas, contratou seus serviços, como
advogado(a). Ele afirmou que quer propor uma ação judicial para que seja declarada a nulidade
da licença concedida e impedida a iminente realização das obras no local escolhido, que abriga
diversas espécies raras da flora e da fauna silvestre.
Levando em consideração as informações expostas, elabore a medida judicial adequada,
com todos os fundamentos jurídicos que confiram sustentação à pretensão. (Valor: 5,00)
Obs.: a peça deve abranger todos os fundamentos de Direito que possam ser utilizados para dar
respaldo à pretensão. A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não confere
pontuação.

Segue modelo de estruturação da peça de Ação Popular cobrada no exame de Ordem XXVIII:

JUÍZO CÍVEL DA ... VARA DA COMARCA DO MUNICÍPIO ALFA

JOÃO DA SILVA, nacionalidade..., profissão..., estado civil..., portador do RG n°..., inscrito


no CPF sob o n° ..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua..., n°..., Bairro...,
Cidade..., Estado..., CEP..., título de eleitor..., vem, por seu procurador signatário, inscrito na
OAB n°..., procuração em anexo, conforme artigo 287, do Código de Processo Civil, endereço
eletrônico..., com escritório profissional na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., local
onde recebe suas intimações, propor AÇÃO POPULAR COM PEDIDO LIMINAR/ TUTELA DE
URGÊNCIA, baseado no artigo 5º, inciso LXXIII, da Constituição Federal de 1988 e artigo 1°, da
Lei nº 4.717/65, contra PEDRO DOS SANTOS, Prefeito do Município Alfa, nacionalidade...,
profissão..., estado civil..., portador do RG n°..., inscrito no CPF sob o n° ..., endereço
eletrônico..., residente e domiciliado na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP...,
MUNICÍPIO ALFA, inscrito no CNJP sob o n° ..., endereço eletrônico..., com sede na Rua..., n°...,
Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., e SOCIEDADE EMPRESÁRIA K, pessoa jurídica de direito
privado, inscrita no CNJP sob o n° ..., endereço eletrônico..., com sede na Rua..., n°..., Bairro...,
Cidade..., Estado..., CEP...pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:

1) DOS FATOS:

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Pedro dos Santos, Prefeito do Município Alfa, concedeu licença à Sociedade Empresária
K, permitindo obras em área de preservação ambiental permanente, que abriga diversas
espécies raras da flora e da fauna silvestre.

2) DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS:


2.1) Competência:
Compete ao Juízo Cível da Comarca do Município Alfa processar e julgar Ação Popular
com pedido liminar/tutela de urgência na medida em que está presente o Prefeito Municipal. A
ação deve ser ajuizada perante a Justiça Estadual pelo critério de competência reservada ou
remanescente, conforme artigo 125, da Constituição Federal. É necessário lembrar que a
competência territorial se firma pelo local do ato, artigo 5º, caput, da Lei nº 4.717/1965.

2.2) Legitimidade:
A legitimidade ativa de João da Silva decorre do fato de ser cidadão, conforme dispõe o
Artigo 5º, inciso LXXIII, da CRFB/88 e Artigo 1º, caput e parágrafo 3º, da Lei nº 4.717/65,
qualidade intrínseca à sua condição de candidato ao cargo de Deputado Estadual.
A legitimada passiva do prefeito Pedro dos Santos decorre do fato de ter concedido a
licença de construção, nos termos do Artigo 6º, caput, da Lei nº 4.717/65. O Município Alfa é
legitimado passivo por se almejar obstar os efeitos de uma licença que concedeu por intermédio
do prefeito, nos termos do Artigo 6º, parágrafo 3º, da Lei nº 4.717/65. A da sociedade empresária
K é legitimada passiva pelo fato de ser a beneficiária da licença concedida, nos termos do Artigo
6º, caput, da Lei nº 4.717/65.

2.3) Cabimento da Ação Popular:


Cabe Ação Popular com Pedido Liminar como medida hábil a declarar a nulidade de ato
ilegal lesivo ao meio ambiente, conforme artigo 5º, inciso LXXIII, da Constituição Federal de 1988
e artigo 1º, caput, da Lei nº 4.717/65.

2.4) Medida Liminar/Tutela de urgência:


Estão presentes os requisitos autorizadores para a concessão da medida liminar, fumus
boni juris, decorre da flagrante ilegalidade da licença de construção e periculum in mora, decorre
da iminência de serem causados danos irreversíveis ao meio ambiente, considerando as raras
espécies da fauna e da flora silvestre existentes no local, conforme artigo 5°, parágrafo 4°, da
Lei nº 4.717/65 e artigo 300, do Código de Processo Civil.

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2.5) Direito:
A licença concedida pelo Prefeito Pedro dos Santos é atentatória ou lesiva ao meio
ambiente, porque o local abriga uma área de preservação ambiental permanente do Município
Alfa, sendo cabível a sua anulação conforme o Artigo 5º, inciso LXXIII, da CRFB/88 e Artigo 2º,
alínea “c” da Lei nº 4.717/65.
Não merece ser acolhido o argumento de que o possível benefício dos usuários justifica a
lesão ao meio ambiente, pois os atos do poder concedente e do concessionário devem ser
praticados em harmonia com a sua proteção, nos termos do Artigo 225, caput, da CRFB/88.
A proteção ao meio ambiente deve ser observada no âmbito da atividade econômica,
conforme dispõe o Artigo 170, inciso VI, da CRFB/88.
A licença concedida afrontou a concepção mais ampla de legalidade, prevista no Artigo
37, caput, da CRFB/88.
A sociedade empresária K, enquanto concessionária do serviço público, não deve causar
danos ao meio ambiente, ainda que amparada por um ato estatal que nitidamente o permita.

3) DOS PEDIDOS:
a) O recebimento da inicial;
b) A juntada de cópia do título de eleitor, conforme artigo 1º, § 3°, da Lei nº 4.717/1965;
c) Concessão de medida liminar para impedir que a sociedade empresária K inicie as
obras no local, conforme o artigo 5º, parágrafo 4º, da Lei nº 4.717/1965;
d) A citação da parte ré para contestar, no prazo de 20 (vinte) dias, sob pena de revelia,
conforme artigo 7º, inciso I, alínea “a”, e inciso IV, da Lei nº 4.717/1965;
e) A intimação do membro do Ministério Público, conforme artigo 7º, inciso I, alínea “a”, da
Lei nº 4.717/1965;
f) A requisição às entidades indicadas na petição inicial dos documentos que tiverem sido
referidos nesta ação, bem como a de outros que se lhe afigurem necessários ao esclarecimento
dos fatos, ficando o prazo de 15 (quinze) a 30 (trinta) dias para o atendimento, conforme artigo
7º, inciso I, alínea “b”, da Lei nº 4.717/1965;
g) A não realização de audiência de conciliação ou mediação, com base nos artigos 319,
inciso VII e 334, parágrafo 5°, ambos do Código de Processo Civil;
h) A produção de todos os meios de prova em direito admitidos;

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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i) Julgar a procedência do pedido, dando efeitos definitivos à liminar, com a decretação de


nulidade da licença concedida pelo Município Alfa, assinada pelo Prefeito Pedro dos Santos e a
proibição de realização de obras na área de preservação ambiental permanente;
j) A condenação dos réus ao ressarcimento financeiro ao erário pelos gastos decorrentes
da obra pública e à reparação dos danos ambientais, custas, honorários advocatícios e demais
despesas ao autor, conforme o artigo 11, da Lei nº 4.717/1965;
k) A condenação dos réus ao pagamento dos ônus sucumbenciais, custas, honorários
advocatícios e demais despesas ao autor, conforme os artigos 12, da Lei nº 4.717/1965, e 85,
do Código de Processo Civil.

Valor da causa R$ ..., para efeitos procedimentais, nos termos dos artigos 291 e 319,
inciso V, do Código de Processo Civil.

Local..., data...
Advogado...
OAB...

17
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Mandado de injunção

1. Fundamento legal
Falta de norma regulamentadora + inviabilidade do exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.
Conforme o art. 5º, inciso LXXI, da Constituição Federal, com a seguinte redação:

Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne


inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes
à nacionalidade, à soberania e à cidadania.

Previsão legal: art. 1º, da Lei nº 13.330/2016, esta Lei disciplina o processo e o
julgamento dos mandados de injunção individual e coletivo, nos termos do inciso LXXI do art. 5º
da Constituição Federal.

2. Subsidiariedade

Art. 14 da Lei nº 13.300/16. Aplicam-se subsidiariamente ao mandado de injunção as


normas do mandado de segurança, disciplinado pela Lei no 12.016, de 7 de agosto de 2009,
e do Código de Processo Civil, instituído pela Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973, e
pela Lei no 13.105, de 16 de março de 2015, observado o disposto em seus arts. 1.045 e
1.046.

3. Cabimento
Para André Ramos Tavares (Curso de Direito Constitucional), há condições
constitucionais para o cabimento da ação:

➙ 1º) previsão de um direito pela Constituição;

➙ 2º) necessidade de uma regulamentação que torne esse direito exercitável;

➙ 3º) falta de norma que implemente tal regulamentação;

➙ 4º) inviabilização referente aos direitos e liberdades constitucionais e prerrogativas inerentes


à nacionalidade, cidadania e soberania;

➙ 5º) nexo de causalidade entre a omissão e a inviabilização.

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Para todos verem: colunas com detalhes em azul, na primeira coluna


escrito objeto, necessidade de uma regulamentação; previsão de um
direito pela Constituição. Na segunda coluna está escrito: condições da
ação, falta de norma que implemente tal regulamentação (ou seja, é
limitada); inviabilização de direitos de nacionalidade, soberania; nexo
causal entre a falta da norma e a inviabilidade do direito.

4. Norma de eficácia limitada e o Mandado de Injunção


Entende-se que o mandado de injunção não terá cabimento nas hipóteses de normas
constitucionais de eficácia plena e de eficácia contida, pois ele visa justamente à regulamentação
de normas constitucionais de eficácia limitada (de princípio institutivo e de norma programática),
que, de regra, exigem legislação posterior para sua aplicação.
Ainda, não caberá quando a norma se encontra em fase final do processo legislativo,
aguardando para logo sua promulgação e sanção – a norma está em iminência de ser editada
pelo órgão competente.
Logo, a presente ação é utilizada a suprimir omissões legislativas capazes de obstar
direitos e liberdades dos cidadãos, para os quais o exercício pleno dos direitos nelas
previstos depende necessariamente de edição normativa posterior.

Em resumo: o direito foi garantido pela Constituição, mas o seu exercício encontra-
se condicionado à edição de lei regulamentadora ulterior.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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5. A omissão total ou parcial

Art. 2o da Lei nº 13.300/16: Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta total
ou parcial de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.
Parágrafo único. Considera-se parcial a regulamentação quando forem insuficientes as
normas editadas pelo órgão legislador competente.

6. Legitimidade

Ativo individual Ativo coletivo Passivo


Art. 3º São legitimados para o Art. 12. O mandado de injunção O Poder, o órgão ou a autoridade
mandado de injunção, como coletivo pode ser promovido: com atribuição para editar a norma
impetrantes, as pessoas regulamentadora.
naturais ou jurídicas que se I - pelo Ministério Público, quando a
afirmam titulares dos direitos, tutela requerida for especialmente STF: O STF firmou o entendimento
das liberdades ou das relevante para a defesa da ordem de que os particulares não se
prerrogativas referidos no art. jurídica, do regime democrático ou dos revestem de legitimidade passiva ad
2º e, como impetrado, o Poder, interesses sociais ou individuais causam para o processo do MI, pois
o órgão ou a autoridade com indisponíveis; somente ao Poder Público é
atribuição para editar a norma II - por partido político com imputável o dever constitucional de
regulamentadora. representação no Congresso Nacional, produção legislativa.
para assegurar o exercício de direitos, Dessa forma, só podem ser sujeitos
liberdades e prerrogativas de seus passivos do MI entes públicos, não
integrantes ou relacionados com a admitindo o STF a formação de
finalidade partidária; litisconsórcio passivo, necessário ou
III - por organização sindical, entidade facultativo, entre autoridades públicas
de classe ou associação legalmente e pessoas privadas.
constituída e em funcionamento há
pelo menos 1 (um) ano, para assegurar
o exercício de direitos, liberdades e
prerrogativas em favor da totalidade ou
de parte de seus membros ou
associados, na forma de seus estatutos
e desde que pertinentes a suas
finalidades, dispensada, para tanto,
autorização especial;
IV - pela Defensoria Pública, quando a
tutela requerida for especialmente
relevante para a promoção dos direitos
humanos e a defesa dos direitos
individuais e coletivos dos
necessitados, na forma do inciso LXXIV
do art. 5º da Constituição Federal.
Parágrafo único. Os direitos, as
liberdades e as prerrogativas
protegidos por mandado de injunção
coletivo são os pertencentes,
indistintamente, a uma coletividade
indeterminada de pessoas ou
determinada por grupo, classe ou
categoria.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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7. Competência
Dependerá de quem deveria ter aditado a regulamentação.

Art. 102 da CF: Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
(...) q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for
atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos
Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do
Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo
Tribunal Federal;

Art. 105 da CF: Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


I - processar e julgar, originariamente:
(...) h) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for
atribuição de órgão, entidade ou autoridade federal, da administração direta ou indireta,
excetuados os casos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da
Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal;

Tribunal de Justiça: a competência da Justiça Estadual é residual, nos termos do art. 25,
combinado com 125 da Constituição Federal.

Atenção!

Salvo se a iniciativa para a lei for privativa de outro órgão ou autoridade, hipótese em que o mandado
de injunção deverá ser ajuizado em face do detentor da iniciativa privativa (Exemplo: Presidente da
República, nas situações do art. 61, § 1º da CF).

8. Procedimento
Recebida a petição inicial, será ordenada a notificação do impetrado sobre o seu
conteúdo, a fim de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste informações (art. 5º, I, da Lei nº
13.300/16).
Deverá ser dado ciência ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada
deverá ter ciência do ajuizamento da ação para ingressar no feito, caso queira (art. 5º, II, da Lei
nº 13.300/16)
Se os documentos necessários à comprovação do direito do autor estiverem em poder da
autoridade ou de terceiros que se negarem a fornecer certidão ou cópia, a pedido do impetrante,
será ordenada pelo Juiz a exibição do documento no prazo de 10 (dez) dias (art. 4º, §2º, da Lei
nº 13.300/16).

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Caberá agravo, em 05 (cinco) dias, da decisão que indeferir a petição inicial. A


competência para o seu julgamento é do órgão colegiado competente para o julgamento da
impetração nos moldes do que preconiza o parágrafo único do art. 6º Lei nº 13.300/16.
Deverá ainda ser ouvido o Ministério Público, que disporá de 10 (dez) dias para opinar.
Nas hipóteses em que o MP verificar a existência de interesses unicamente de cunho
individual na demanda, a sua manifestação pode ser dispensada. Concluído o prazo para
manifestação do parquet, os autos serão conclusos para decisão.
Na sentença, o magistrado se pronunciará apenas e tão somente sobre o reconhecimento
(ou não) de mora legislativa. Caso se convença do atraso, concede-se a injunção, fixando-
se prazo razoável para que o impetrado promova a edição da norma regulamentadora (Art. 5º, I,
da Lei nº 13.300/16).

9. Decisão em mandado de injunção

Art. 8° da Lei nº 13.300/16: Reconhecido o estado de mora legislativa, será deferida a


injunção para:
I - determinar prazo razoável para que o impetrado promova a edição da norma
regulamentadora;
II - estabelecer as condições em que se dará o exercício dos direitos, das liberdades ou
das prerrogativas reclamados ou, se for o caso, as condições em que poderá o interessado
promover ação própria visando a exercê-los, caso não seja suprida a mora legislativa no
prazo determinado.
Parágrafo único. Será dispensada a determinação a que se refere o inciso I do caput
quando comprovado que o impetrado deixou de atender, em mandado de injunção
anterior, ao prazo estabelecido para a edição da norma

Ou seja: o poder judiciário está autorizado no caso concreto de decidir como viabilizar o
direito que está impedido de ser exercido pela mora. Isso é chamado de postura concretista.
Extensão dos efeitos da decisão:

Art. 9o da Lei 13.300/16: A decisão terá eficácia subjetiva limitada às partes e produzirá
efeitos até o advento da norma regulamentadora.
§ 1° Poderá ser conferida eficácia ultra partes ou erga omnes à decisão, quando isso for
inerente ou indispensável ao exercício do direito, da liberdade ou da prerrogativa objeto
da impetração.
§ 2º Transitada em julgado a decisão, seus efeitos poderão ser estendidos aos casos
análogos por decisão monocrática do relator.
§ 3o O indeferimento do pedido por insuficiência de prova não impede a renovação da
impetração fundada em outros elementos probatórios.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Atenção!
Regra geral: Inter partes;
Exceção: poderá ter efeitos ultra partes e erga omnes, em se tratando tanto de casos que dependem
para viabilidade do direito quanto para casos semelhantes.

Limites da decisão do mandado de injunção coletivo:

Art. 13 da Lei nº 13.300/16: No mandado de injunção coletivo, a sentença fará coisa


julgada limitadamente às pessoas integrantes da coletividade, do grupo, da classe ou da
categoria substituídos pelo impetrante, sem prejuízo do disposto nos §§ 1º e 2º do art. 9º.

Se a decisão se der pelo indeferimento por falta de provas, mediante novos elementos
probatórios, não haverá litispendência. Nesse caso, poder-se-á interpor novamente o Mandado
de Injunção.

Art. 10 da Lei nº 13.300/16: Sem prejuízo dos efeitos já produzidos, a decisão poderá ser
revista, a pedido de qualquer interessado, quando sobrevierem relevantes modificações
das circunstâncias de fato ou de direito.
Parágrafo único. A ação de revisão observará, no que couber, o procedimento
estabelecido nesta Lei.

O que ocorre se, após da decisão em Mandado de Injunção, vier edição normativa sobre
o que foi objeto do Mandado de Injunção?

Art. 11 da Lei nº 13.300/16: A norma regulamentadora superveniente produzirá efeitos ex


nunc em relação aos beneficiados por decisão transitada em julgado, salvo se a aplicação
da norma editada lhes for mais favorável.

Atenção!

Regra geral é ex nunc, contudo, se for favorável ao atingido em decisão anterior à produção
normativa, os efeitos passam a ser ex tunc (retroativos).

10. Resumo
Competência Depende do tipo de omissão (atenção aos arts. 102 e 105 CF)
Endereçar Depende do ato

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Legitimidade ativa:
INDIVIDUAL qualquer pessoa que tenha o exercício de direitos e liberdades
constitucionais ou de prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e
à cidadania, inviabilizado por falta de norma regulamentadora; e
Legitimidade ativa e COLETIVA: Ministério público, partido político, organização sindical,
passiva defensoria pública

Legitimidade passiva:- aquele que tinha o dever de editar as normas


regulamentadoras.
O que devo suscitar
Demonstrar a inviabilidade do direito em questão por causa da falta de norma
(constituir a causa
regulamentadora, estabelecendo um nexo entre as duas situações.
de pedir)
Intimação do impetrado para prestar informações;
Intimação do Ministério Público;
Fixação das condições para o exercício do direito inviabilizado;
Determine prazo para promover a edição legislativa;
Pedido Realização de audiência de conciliação ou de mediação, nos termos do
Artigo 319, inciso VII, do Código de Processo Civil OU indicação do não
cabimento de conciliação, nos termos do Artigo 334, parágrafo 4º, II, do
Código de Processo Civil.

11. Modelo
Exame de Ordem XXII - Peça profissional
Servidores públicos do Estado Beta, que trabalham no período da noite, procuram o Sindicato
ao qual são filiados, inconformados por não receberem adicional noturno do Estado, que se
recusa a pagar o referido benefício em razão da inexistência de lei estadual que regulamente as
normas constitucionais que asseguram o seu pagamento.
O Sindicato resolve, então, contratar escritório de advocacia para ingressar com o adequado
remédio judicial, a fim de viabilizar o exercício em concreto, por seus filiados, da
supramencionada prerrogativa constitucional, sabendo que há a previsão do valor de vinte por
cento, a título de adicional noturno, no Art. 73 da Consolidação das Leis do Trabalho.
Considerando os dados acima, na condição de advogado(a) contratado(a) pelo Sindicato,
utilizando o instrumento constitucional adequado, elabore a medida judicial cabível.
(Valor: 5,00)
Obs.: a peça deve abranger todos os fundamentos de Direito que possam ser utilizados para dar
respaldo à pretensão. A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não confere
pontuação.

Segue modelo de estruturação da peça de Mandado de Injunção Coletivo cobrado no exame de


Ordem XXII:

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE


JUSTIÇA DO ESTADO BETA

SINDICATO DOS SERVIDORES DO ESTADO BETA, pessoa jurídica de direito privado,


inscrita no CNPJ sob o n° ..., endereço eletrônico..., com sede Rua..., n°..., Bairro..., Cidade...,
Estado, CEP..., representado por seu PRESIDENTE..., nacionalidade..., profissão..., estado
civil..., inscrito no CPF sob o n°..., portador do RG n°..., endereço eletrônico..., residente e
domiciliado na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., vem, por seu procurador
signatário, inscrito na OAB n°..., procuração em anexo, conforme artigo 287, do Código de
Processo Civil, endereço eletrônico, escritório profissional na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade...,
Estado, CEP..., local onde recebe suas intimações, impetrar MANDADO DE INJUNÇÃO
COLETIVO, com base no artigo 5º, inciso LXXI, da Constituição Federal de 1988, e no artigo 2º
e 12 da Lei nº 13.300/16, em face do GOVERNADOR DO ESTADO BETA, nacionalidade...,
profissão..., estado civil ..., portador do RG n°..., inscrito no CPF sob o n°..., endereço
eletrônico..., residente e domiciliado na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado, CEP..., e da
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO BETA, órgão da pessoa jurídica ESTADO BETA,
pessoa jurídica de Direito Público, inscrito no CNPJ sob o n°..., endereço eletrônico..., sede na
Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado, CEP..., pelos fatos e fundamentos a seguir expostos

1) DOS FATOS:
O Sindicato foi procurado por seus filiados, sob a alegação que não recebem adicional
noturno do Estado Beta, contrariando o estabelecido no artigo 73, da Consolidação das Leis do
Trabalho, artigo 7º, inciso IX, da Constituição Federal e artigo 39, parágrafo 3º, da Constituição
Federal.

2) DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS:


2.1) Da Competência:
Compete ao Tribunal de Justiça do Estado Beta processar e julgar Mandado de Injunção
Coletivo, frente à omissão legislativa estadual, observando-se o princípio da simetria entre os
entes federativos, conforme artigo 125, parágrafo 1º, da Constituição Federal.

2.2) Da Legitimidade:
O Sindicato possui legitimidade ativa para defender os interesses da categoria,
dispensada autorização especial dos filiados, na forma do artigo 12, inciso III, da Lei nº

25
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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13.300/16.
Governador e o Estado Beta possuem legitimidade passiva na medida em que as regras
constitucionais estaduais de competência devem observar, por simetria, o que determina o artigo
61, parágrafo 1º, inciso II, alínea ´a´, da Constituição Federal de 1988.
Assembleia Legislativa também possui legitimidade passiva, visto ser a responsável pela
aprovação da Lei.

2.3) Do Cabimento:
Cabe mandado de injunção coletivo, pois a ação visa à defesa dos interesses dos filiados
ao Sindicato, na proteção de direito fundamental inviabilizado em razão de omissão legislativa,
conforme o disposto no artigo 5º, inciso LXXI, da Constituição Federal de 1988, e na Lei nº
13.300/16.

2.4) Da mora legislativa e da inviabilidade do exercício do direito:


O direito ao benefício de adicional noturno é concedido aos servidores públicos que
exercem atividade laboral noturna e é garantido em razão da previsão constitucional contida no
artigo 7º, inciso IX, e artigo 39, parágrafo 3º, ambos da Constituição Federal de 1988. Como a
Constituição garante este direito, é necessário que ele seja concretizado, e, para tanto, deverá
ser declarada a mora legislativa, notificado ao Poder Executivo para que supra a omissão e
finalmente, para a satisfação imediata do direito, que seja aplicado o artigo 73, da Consolidação
das Leis do Trabalho, analogicamente à categoria dos servidores públicos do Estado Beta.

2.5) Do Direito:
Uma vez que artigo 7º, inciso IX, da Constituição Federal, combinado com artigo 39,
parágrafo 3º, da Constituição Federal, atribui aos servidores públicos direito à remuneração do
trabalho noturno superior ao diurno e que existe omissão legislativa com relação a tanto, torna-
se claro o direito de os servidores obterem provimento judicial favorável ao exercício de seu
direito, sanando-se a omissão legislativa com atribuição de prazo para tal providência, conforme
artigo 8º, da Lei nº 13.300/16, e, em caso de não satisfação de tal providência, a aplicação do
artigo 73, da Consolidação da Legislação do Trabalho, por analogia.

3) DOS PEDIDOS:
a) o recebimento desta inicial em duas vias, nos termos do artigo 5º, inciso I, da Lei nº
13.300/16;

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b) a notificação do Governador do Estado Beta e do Presidente da Assembleia Legislativa


para prestarem informações, no prazo de 10 (dez) dias, nos termos do artigo 5º, inciso I e II, da
Lei nº 13.300/16;
c) notificação ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada, conforme
artigo 5º, inciso II, da Lei nº 13.300/16;
d) intimação do Ministério Público, no prazo de 10 (dez) dias, nos termos do artigo 7°, da
Lei nº 13.300/16;
e) reconhecimento da omissão e do estado de mora legislativa, para que seja concedida
a ordem de injunção coletiva para fins de ser determinado prazo razoável para que o Governador
promova a edição da norma regulamentadora, nos termos do artigo 8º, inciso I, da Lei nº
13.300/16;
f) seja suprida a omissão normativa, garantindo-se a efetividade do direito à percepção do
adicional noturno, no percentual de 20% conforme disposições contidas no artigo 73, da
Consolidação das Leis do Trabalho, nos termos do artigo 8º, incisos II, da Lei nº 13.300/16;
g) a concessão da gratuidade judiciária, nos termos do art. 98, do CPC.

Valor da causa R$ ..., para efeitos procedimentais, nos termos dos artigos 291 e 319,
inciso V, do Código de Processo Civil.

Local..., data...

Advogado...
OAB...

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Ação Civil Pública

1. Fundamento legal

➙ Lei nº 7.347/85 (rito ordinário);


➙ Art. 129, da Constituição Federal.

➙ Código de Defesa do Consumidor.

2. Conceito
A Ação Civil Pública, disciplinada pela Lei nº 7.347 de 1985, é um instrumento processual
que reprime ou impede atos lesivos ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e por infrações da ordem econômica,
conforme art. 1º, protegendo assim os interesses difusos da sociedade (MEIRELLES).
Note-se que ela não está prevista no rol de garantias de direitos fundamentais do art.5º,
da Constituição Federal, o que não impede que não o seja por equiparação, dado o conteúdo de
direitos que esta visa a tutela. Para Sarlet, isso ocorre porque, é um instrumento destinado a
tutela dos novos direitos.

Direitos difusos: É importante destacar que os interesses difusos são aqueles de que
sejam titulares pessoas indeterminadas, mas que se demonstrem vínculo jurídico ou fático
definido. Atualmente, esses direitos estão estritamente associados com a relação de consumo e
direitos ao meio ambiente, o que significa dizer, a Ação Civil Pública não é destinada a garantia
de direitos individuais. (DIDIER JR. Curso de Processo Constitucional)

3. Objeto
Buscar a efetiva responsabilização por danos causados ao meio ambiente, aos
consumidores a ao patrimônio cultural e natural do País ou por qualquer ato ilegal, através de
prestação pecuniária de quem causou o dano ou através do estabelecimento de obrigações de
fazer ou não fazer. Logo, trata-se de lesão ou ameaça ao meio ambiente, ao consumidor, à
ordem econômica, à livre concorrência, ao patrimônio histórico, ao patrimônio turístico, ao
patrimônio artístico, ao patrimônio paisagístico, ao patrimônio estético, bem como a qualquer
outro interesse difuso ou direito coletivo.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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4. Legitimidade

Para todos verem: colunas com detalhes em azul, na primeira coluna está escrito:
como título legitimidade ativa: como texto, o Ministério Público, a Defensoria Pública,
a União, os Estados e o Distrito Federal, Municípios, autarquias, empresas públicas,
fundações, sociedade de economia mista, associação que esteja constituída há pelo
menos um ano. Na segunda coluna está escrito como título: legitimidade passiva,
como texto: em se tratando de polo passivo, qualquer pessoa que tenha causado
lesão ou ameaça de lesão aos bens jurídicos por ela tutelados, pode figurar como ré
na ação civil pública, incluindo-se pessoas físicas ou jurídicas, privadas ou pública,
entes federados e entidades da administração indireta.

A legitimação ativa para a Ação Civil Pública ou Coletiva é concorrente, autônoma e


disjuntiva. Vale dizer: cada um dos legitimados pode propor a ação isoladamente ou se
litisconsorciando facultativamente aos demais.
Neste ponto, a Constituição Federal, a despeito de enquadrar a ação civil pública como
função institucional do Ministério Público (artigo 129, III), não conferiu a este a exclusividade em
sua promoção (129, § 1º da CF), no que andou bem, dando ênfase à amplitude do acesso à
justiça. (BARROSO)

Atenção!

O art. 81 do Código de Defesa do Consumidor permite a propositura da ação em nome próprio


ou em nome coletivo (das vítimas ou de seus sucessores), a fim de peticionar a responsabilização
dos causadores dos danos que sofreram individualmente.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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5. Ministério Público
Ainda que haja outros legitimados, para o Ministério Público é um dever agir quando
estiverem presentes as condições ensejadoras da ação, enquanto para os demais é uma
faculdade, podendo inclusive, atuar de ofício, sem necessidade de provocação.
O Ministério Público é o legitimado para propor o inquérito civil que antecede à ação civil
pública. Este é um procedimento administrativo de natureza inquisitiva que visa a recolher
elementos de prova que ensejam o ajuizamento da ação civil pública.
O inquérito é peça instrutória da Ação Civil Pública, contudo, não é peça indispensável,
significando dizer que a Ação Civil Pública pode ou não ser precedida do inquérito.
Em verdade, torna-se dispensável o inquérito civil, quando as provas existentes do ato
lesivo já sejam por si só capazes de prover a ação civil pública.
Quando a ação for proposta por algum dos outros legitimados e houver desistência
infundada ou abandono da ação, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade
ativa, isso, pois, trata-se da indisponibilidade do interesse.
Importante mencionar que, quando o Ministério Público não figurar como parte, deverá,
obrigatoriamente, intervir como fiscal da lei: “O Ministério Público é parte legítima para o
ajuizamento de ação coletiva que visa anular ato administrativo de aposentadoria que importe
em lesão ao patrimônio público (RE 409356)”.

6. Litispendência
Poderá ainda haver litisconsórcio ativo entre os legitimados e entre os Ministérios Públicos
dos Estados e da União, que será inicial, ativo, unitário e facultativo.

7. Competência

Art. 2º da Lei nº 7.347/85: A propositura da ação prevenirá a jurisdição para o juízo de


todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o
mesmo objeto.

Na Ação Civil Pública, não existe foro por prerrogativa de função, sendo que a
competência para processo e julgamento desta ação é determinada pelo local onde ocorreu o
dano. Salvo quando o ato lesivo é imputado à pessoa jurídica que tenha foro na Justiça Federal,
a Ação Civil Pública deverá ser ajuizada e julgada originariamente por juízes ordinários
estaduais. (ALEXANDRINO).

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De acordo com Siqueira Junior:

A regra de competência prevista na lei nº 7.347/85 deve ser interpretada em consonância


com o Código de Defesa do Consumidor, nos termos do art. 21 da Lei de Ação Civil
Pública, que dita: “Aplica-se à defesa dos direitos difusos, coletivos e individuais, no que
for cabível, os dispositivos do Título III da Lei 8.078 de 11 de setembro de 1990, que
instituiu o Código de Defesa do Consumidor.

8. Efeitos
O art. 16 da Lei nº 7.347/85 dispõe que:

A sentença civil fará coisa julgada "erga omnes", nos limites da competência territorial do
órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas,
hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento,
valendo-se de nova prova.

É ultra partes, no caso de direitos coletivos (art. 103, II, da Lei 8.078/1990) e erga omnes,
no caso de direitos difusos (art. 103, I, da Lei 8.078/1990) e no caso de direitos individuais
homogêneos, com extensão secundumeventum litis (art. 103, III, da Lei 8.078/1990). A
extensão subjetiva da coisa julgada é secundumeventum litis – e não a sua formação.
(SARLET; MITIDIEIRO. Curso de direito constitucional)

A Ação Civil Pública só faz coisa julgada erga omnes nos limites da competência territorial
do órgão prolator.
Em recente julgado o STF entendeu que a eficácia subjetiva da coisa julgada formada a
partir de ação coletiva, de rito ordinário, ajuizada por associação civil na defesa de interesses
dos associados, somente alcança os filiados, residentes no âmbito da jurisdição do órgão
julgador, que o fossem em momento anterior ou até a data da propositura da demanda,
constantes da relação jurídica juntada à inicial do processo de conhecimento.

Só será cabível o controle difuso, em sede de ação civil pública ... como instrumento
idôneo de fiscalização incidental de constitucionalidade, pela via difusa, de quaisquer leis
ou atos do Poder Público, mesmo quando contestados em face da Constituição da
República, desde que, nesse processo coletivo, a controvérsia constitucional, longe de
identificar-se como objeto único da demanda, qualifique-se com simples questão
prejudicial, indispensável à resolução do litígio principal. (CELSO MELLO, STF).

9. Sentença
Na Ação Civil Pública, a sentença é preponderantemente condenatória ou mandamental,
podendo impor condenação em dinheiro, obrigação de fazer ou não fazer; em regra, tal sentença
não tem natureza desconstitutiva, pois na maioria das vezes o dano é irrecuperável.

31
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

A ação civil pública objetiva a independência pelo dano causado destinada à


reconstituição dos bens lesados. Pode também ter por objeto o cumprimento da obrigação de
fazer ou de não fazer, cumprimento este que será determinado pelo juiz, sob pena de multa
diária, independentemente de requerimento do autor.
A Ação Civil Pública fará coisa julgada sendo procedente ou improcedente, no entanto,
caso a ação termine por falta de provas não fará coisa julgada material.

10. Liminar
Pode-se admitir ação cautelar quando ocorrerem o fumus boni juris e o periculum in mora
(art. 12, da Lei nº 7.347/85).

11. Custas
Os pagamentos de custas, emolumentos e quaisquer outras despesas estão vedados,
exceto nos casos de litigância de má-fé (arts. 17 e 18, da Lei nº 7.347/85).

12. Resumo

Foro do local onde ocorre o dano, cujo juízo terá competência funcional para
Competência
processar e julgar a causa.
Endereçar Juízo Cível da ... Vara da Comarca de ...

Legitimidade ativa: artigo 5º, caput, I a V, da Lei nº 7.347/1985: o ministério


público; defensoria pública; a união os estados, o direito federal e os municípios
a autarquia, empresa pública fundação ou sociedade de economia mista; a
associação que, concomitantemente: esteja constituída há pelo menos 1 (um)
Legitimidade ativa e
ano termos da lei civil e inclua , entre suas finalidades institucionais , a proteção
passiva
ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, a livre concorrência
ou ao patrimônio artístico estético, histórico, turístico e paisagístico.
Legitimidade passiva: responsável pela lesão ao interesse difuso ou coletivo,
podendo ser particular ou ente público.

O que devo Demonstrar o ato lesivo ao interesse difuso e coletivo


suscitar?
Condenação do réu do ato lesivo ao interesse difuso e coletivo
Pedido (condenação em dinheiro ou ao cumprimento de obrigação de fazer ou não
fazer), artigo 3º, caput, da Lei nº 7.347/1985.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

Se não tiver valor no enunciado: Valor da causa R$ ..., para efeitos


procedimentais, nos termos dos artigos 291 e 319, inciso V, do Código de
Valor da causa Processo Civil.
Se a questão indicar o valor do prejuízo ao patrimônio, esse deverá ser o valor
da causa.

13. Modelo
Exame de Ordem XXI - Peça profissional
A Associação Alfa, constituída há 3 (três) anos, cujo objetivo é a defesa do patrimônio social e,
particularmente, do direito à saúde de todos, mostrou-se inconformada com a negativa do Posto
de Saúde Gama, gerido pelo Município Beta, de oferecer atendimento laboratorial adequado aos
idosos que procuram esse serviço. O argumento das autoridades era o de que não havia
profissionais capacitados e medicamentos disponíveis em quantitativo suficiente. Em razão
desse estado de coisas e do elevado número de idosos correndo risco de morte, a Associação
resolveu peticionar ao Secretário municipal de Saúde, requerendo providências imediatas para
a regularização do serviço público de Saúde.
O Secretário respondeu que a situação da Saúde é realmente precária e que a comunidade
precisa ter paciência e esperar a disponibilização de repasse dos recursos públicos federais, já
que a receita prevista no orçamento municipal não fora integralmente realizada. Reiterou, ao final
e pelas razões já aventadas, a negativa de atendimento laboratorial aos idosos. Apesar disso,
as obras públicas da área de lazer do bairro em que estava situado o Posto de Saúde Gama,
nos quais eram utilizados exclusivamente recursos públicos municipais, continuaram a ser
realizadas.
Considerando os dados acima, na condição de advogado(a) contratado(a) pela Associação Alfa,
elabore a medida judicial cabível para o enfrentamento do problema, inclusive com providências
imediatas, de modo que seja oferecido atendimento adequado a todos os idosos que venham a
utilizar os serviços do Posto de Saúde. A demanda exigirá dilação probatória. (Valor: 5,00)
Obs.: a peça deve abranger todos os fundamentos de Direito que possam ser utilizados para dar
respaldo à pretensão. A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não confere
pontuação.

Segue modelo de estruturação da peça de Ação Civil Pública cobrada no EXAME DE ORDEM
XXI:

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

JUÍZO DE DIREITO DA ... VARA CÍVEL DA COMARCA DO MUNICÍPIO BETA, ESTADO ...

ASSOCIAÇÃO ALFA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o n° ...,
endereço eletrônico..., com sede na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP...,
representado por seu PRESIDENTE..., nacionalidade..., profissão..., estado civil..., portador do
RG n°..., inscrito no CPF sob o n° ..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua...,
n°..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., por seu procurador signatário, inscrito na OAB n°...,
procuração em anexo, conforme previsão no artigo 287 do Código de Processo Civil, endereço
eletrônico..., com escritório profissional na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., local
onde recebe suas intimações, vem, com o devido respeito, à presença de Vossa Excelência,
propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO LIMINAR com fundamento no artigo 1°, incisos IV
e VIII, da Lei nº 7.347/85, em face do MUNICÍPIO BETA, pessoa jurídica de direito público,
inscrita no CNPJ sob o n°..., endereço eletrônico..., com sede na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade...,
Estado..., CEP...., pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:

1) DOS FATOS:
O Posto de Saúde Gama, administrado pelo Município Beta, nega atendimento laboratorial
aos idosos, sob alegação de que não há profissionais capacitados nem medicamentos
suficientes.

2) DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS:


2.1) Competência:
A Vara Cível da Comarca Beta é competente para processar e julgar Ação Civil Pública,
uma vez que a matéria é de competência da Justiça Estadual, de forma residual, conforme artigo
25, parágrafo 1º e 125 da Constituição Federal. É, também, o local onde o dano foi praticado,
consoante artigo 2°, da Lei nº 7.347/85.

2.2) Legitimidade:
A legitimidade ativa da Associação Alfa decorre do fato de ter sido constituída há mais de
1 (um) ano, conforme documentação anexa, destinar-se à defesa do patrimônio social e do direito
à saúde de todos, atendendo ao disposto no artigo 5º, inciso V, alíneas “a” e “b”, da Lei nº
7.347/85.
A legitimidade passiva do Município Beta é justificada por ser o responsável pela gestão
do Posto de Saúde Gama, com a obrigação de gerir o sistema de saúde local, conforme artigo

34
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

23, inciso II, e 196, ambos da Constituição Federal.

2.3) Cabimento:
O cabimento exclusivo da ação civil pública decorre do fato de o objetivo da demanda
judicial ser a defesa de todos os idosos que procuram o atendimento do Posto de Saúde Gama,
nos termos das finalidades estatutárias de defesa do patrimônio social, particularmente, direito à
saúde de todos e não eventual defesa de direito ou interesse individual. Como se discute a
qualidade do serviço público oferecido à população e esses idosos não podem ser
individualizados, trata-se de interesse difuso, amoldando-se ao artigo 129, inciso III, da
Constituição Federal, e artigo 1°, incisos IV e VIII, da Lei nº 7.347/85.

2.4) Do Direito:
O que se verifica, na hipótese, é a necessidade de defesa do direito fundamental à vida e
à saúde dos idosos que procuram os serviços do Posto de Saúde Gama, bem como da dignidade
da pessoa humana, amparados pelo artigo 1º, inciso III, artigo 5º, caput, artigo 6º e artigo 196,
todos da Constituição Federal. Esses direitos estão sendo preteridos para a realização de obras
públicas na área de lazer, o que é constitucionalmente inadequado em razão da maior
importância dos referidos direitos. Afinal, sem vida e saúde, não há possibilidade de lazer.
Ademais, o Município tem o dever de assegurar o direito à saúde dos idosos e de cumprir a
competência constitucional conferida para fins de prestação do serviço público de saúde,
consoante artigo 23, inciso II, artigo 30, inciso VII, artigo 196 e artigo 230, todos da Constituição
Federal e, ainda, Lei nº 10.741/03.

2.5) Da medida liminar:


Requer-se, em sede de medida liminar e/ou tutela de urgência, o deferimento da ordem
para determinar que o Município, através do Posto de Saúde Gama, preste, de forma adequada,
o serviço público de saúde, pois os idosos do Município X estão sem atendimento no Posto de
Saúde, podendo acarretar consequências irreversíveis à saúde e vida dos idosos. Desta forma,
restou demonstrada a presença do fumus boni juris e do periculum in mora, conforme artigo 12,
da Lei nº 7.347/85, e/ou 300, do Código de Processo Civil, sob pena de multa, nos termos do
artigo 11, da Lei nº 7.347/85.

3) DOS PEDIDOS:
a) O recebimento desta inicial;

35
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

b) O deferimento da liminar para determinar que o Município, através do Posto de Saúde


Gama, preste, de forma adequada, o serviço público de saúde, em conformidade com o artigo
12, da Lei nº 7.347/85, e/ou artigo 300, do Código de Processo Civil, sob pena de multa, nos
termos do artigo 11, da Lei nº 7.347/85;
c) A citação do réu para contestar, sob pena de revelia;
d) A intimação do representante do Ministério Público, conforme artigo 5º, parágrafo 1º,
da Lei nº 7.347/1985;
e) A produção de todos os meios de prova em direito admitidas;
f) A não realização de audiência de conciliação ou mediação, com base nos artigos 319,
inciso VII e 334, parágrafo 5º, ambos do Código de Processo Civil;
g) A procedência da presente ação, com a determinação de que o Município, através do
Posto de Saúde Gama, preste, de forma adequada, o serviço público de saúde, conforme artigo
3º, caput, da Lei nº 7.347/1985, tornando definitiva a liminar;
h) a concessão da gratuidade judiciária, nos termos do art. 98, do CPC.
i) A condenação do réu ao pagamento das custas e demais despesas judiciais, bem como
dos honorários de advogado.

Valor da causa R$ ..., para efeitos procedimentais, nos termos dos artigos 291 e 319,
inciso V, do Código de Processo Civil.

Local..., data...
Advogado...
OAB...

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

Habeas data

1. Fundamento legal
O Habeas data encontra previsão no art. 5º, LXXII, da Constituição Federal, com a
seguinte redação:

Art. 5º, LXXII: conceder-se-á habeas-data:


a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,
constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter
público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial
ou administrativo.

Lei nº 9.507/97 – regula o writ e disciplina seu rito processual.

Art. 7° da Lei 9.507/97: Conceder-se-á habeas data:


I - para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,
constantes de registro ou banco de dados de entidades governamentais ou de caráter
público;
II - para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial
ou administrativo;
III - para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou explicação
sobre dado verdadeiro mas justificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável.

2. Conceito
O Habeas data é uma novidade entre os writs e é uma tutela específica dos direitos e
garantias fundamentais que visa a assegurar ao cidadão interessado a exibição de informações
constantes nos registros públicos ou privados, nos quais estejam incluídos seus dados pessoais,
para que tome conhecimento e, se for o caso, retifique ou complemente eventuais erros.

3. Natureza jurídica
É remédio constitucional, de natureza civil, submetido a rito sumário, que se destina a
garantir, em favor da pessoa interessada, o exercício de pretensão jurídica discernível em seu
tríplice aspecto.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

Ainda, o instrumento deve ser lido à luz dos demais princípios constitucionais,
como art. 5º, X, XII, XXXIII, XXXIV da CF.

4. Objeto
Na linha de especialização dos instrumentos de defesa de direitos individuais, a
Constituição de 1988 tratou o Habeas data como instituto destinado a assegurar o conhecimento
de informações relativas à pessoa do impetrante constantes de registros ou bancos de dados de
entidades governamentais ou de caráter público e para permitir a retificação de dados, quando
não se prefira fazê-lo de modo sigiloso.

Art. 1º (VETADO) da Lei 9.507:


Parágrafo único. Considera-se de caráter público todo registro ou banco de dados
contendo informações que sejam ou que possam ser transmitidas a terceiros ou que não
sejam de uso privativo do órgão ou entidade produtora ou depositária das informações.

5. Legitimidade
O Habeas data só é cabível se a informação for da pessoa do impetrante.

Legitimidade Ativa Legitimidade Passiva


O HD poderá ser ajuizado por qualquer pessoa No polo passivo, podem figurar entidades governamentais, da
física, brasileira ou estrangeira, bem como por Administração Pública Direta (União, Estados, DF e
pessoa jurídica, entes despersonalizados Municípios) e Indireta (as autarquias, as Fundações instituídas
(massa falida, herança jacente, espólio, e mantidas pelo Poder Público, as Empresas Públicas e as
sociedade de fato, condomínio). Sociedades de Economia Mista), bem como as instituições,
Saliente-se, porém, que a ação é entidades e pessoas jurídicas privadas detentoras de banco de
personalíssima, vale dizer, somente poderá ser dados contendo informações que sejam ou possam ser
impetrada pelo titular das informações. transmitidas a terceiros ou que não sejam de uso privativo do
STF já se manifestou que estrangeiro não órgão ou entidade produtora ou depositária das informações
residente também poderá adentrar com (exemplo: as entidades de proteção ao crédito, como o SPC, o
habeas data. SERASA, entre outras).
Privada. O aspecto que determinará o cabimento da ação será
o fato de o banco de dados ser de caráter público, a exemplo
do SPC.

6. Competência
Previsão de algumas autoridades pela Constituição:

➙ STF - Art. 102, I, d, da CF;

➙ STJ - Art. 105, I, b, da CF;

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

➙ TRF- Art. 108, I, c, da CF;

➙ Justiça Federal - Art. 109, VIII, da CF;

➙ Justiça Estadual – 25 e 125 da CF;

Art. 20 da Lei nº 9.507/97: O julgamento do Habeas data compete:

Originariamente Em grau de recurso


a) ao Supremo Tribunal Federal, contra atos do a) ao Supremo Tribunal Federal, quando a decisão
Presidente da República, das Mesas da denegatória for proferida em única instância pelos
Câmara dos Deputados e do Senado Federal, Tribunais Superiores;
do Tribunal de Contas da União, do b) ao Superior Tribunal de Justiça, quando a decisão
Procurador-Geral da República e do próprio for proferida em única instância pelos Tribunais
Supremo Tribunal Federal; Regionais Federais;
b) ao Superior Tribunal de Justiça, contra atos c) aos Tribunais Regionais Federais, quando a
de Ministro de Estado ou do próprio Tribunal; decisão for proferida por juiz federal;
c) aos Tribunais Regionais Federais contra d) aos Tribunais Estaduais e ao do Distrito Federal e
atos do próprio Tribunal ou de juiz federal; Territórios, conforme dispuserem a respectiva
d) a juiz federal, contra ato de autoridade Constituição e a lei que organizar a Justiça do Distrito
federal, excetuados os casos de competência Federal;
dos tribunais federais; III - mediante recurso extraordinário ao Supremo
e) a tribunais estaduais, segundo o disposto na Tribunal Federal, nos casos previstos
Constituição do Estado; na Constituição.
f) a juiz estadual, nos demais casos.

7. Habeas data e a Lei de Acesso à Informação - 12.527/11


Em busca de mais transparência nos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), os
brasileiros passaram a ter acesso a informações públicas de qualquer órgão público. A Lei de
Acesso a Informações Públicas - LAI (Lei nº 12.527/2011), aprovada em novembro de 2011, foi
sancionada pela presidente Dilma Rousseff no dia 16 de maio de 2012, e passou a valer para
todo o país. Contudo, nem todas as solicitações de informações são liberadas dentro do prazo.

8. Habeas data x Direito de Petição


Essa garantia do Habeas data não se confunde com o direito de obter certidões (art. 5,
XXXIV, b, CF) ou informações de interesse particular, coletivo ou geral (art. 5, XXXIII, da CF).
Havendo recusa no fornecimento de certidões (para a defesa de direitos ou
esclarecimento de situações de interesse pessoal, próprio ou de terceiros), ou informações de
terceiros, o remédio apropriado é o mandado de segurança, e não o Habeas data. Se o pedido

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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for para conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, como visto, o remédio
será o Habeas data.

9. Procedimento

Petição inicial e suas provas:


Art. 8º da Lei 9507/97: A petição inicial deverá ser instruída com prova:
I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem decisão;
II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze dias, sem decisão;
ou
III - da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° ou do decurso de
mais de quinze dias sem decisão.

Os processos de Habeas data terão prioridade sobre todos os atos judiciais,


exceto Habeas corpus e mandado de segurança. Na instância superior, deverão ser levados a
julgamento na primeira sessão que se seguir à data em que, feita a distribuição, forem conclusos
ao relator (art. 19, da Lei 9507/97).

10. Muito importante


Para o fim de impetrar Habeas data é imprescindível que tenha havido o requerimento
administrativo e a negativa pela autoridade administrativa de atendê-lo, devendo tal negativa ou
omissão da autoridade administrativa vir comprovada na petição inicial (art. 8, parágrafo único,
da Lei nº 9.507/97). O silêncio da autoridade no prazo de 10 dias é suficiente!
Aspecto importante do cabimento do Habeas data diz respeito à exigência legal de que a
ação somente poderá ser impetrada em Juízo diante da prévia negativa da autoridade
administrativa de fornecimento (ou de retificação ou de anotação da contestação ou explicação)
das informações solicitadas. Trata-se de uma das exceções constitucionais ao princípio do
controle jurisdicional imediato (art. 5, XXXV), configurando hipótese de instância administrativa
de curso forçado (a outra hipótese de curso forçado está prevista pelo art. 217, §1º da CF).
A impetração do Habeas data não está sujeita a prazo prescricional ou decadencial,
podendo a ação ser proposta a qualquer tempo.
Necessário, conforme art. 9º, da Lei 9507/97, a notificação da autoridade coatora e pedir
a oitiva do Ministério Público como fiscal da Lei (art. 9º a 12, da Lei 9507/97).
No Habeas data, o sujeito ativo da ação pode ser uma pessoa jurídica, ao contrário do
Habeas corpus.
O STF já considerou possível Habeas data para a obtenção de informações fiscais.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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No Habeas data, não há necessidade de que o impetrante revele as causas do


requerimento ou demonstre que as informações são imprescindíveis à defesa de eventual direito
seu, pois o direito de acesso lhe é garantido, independentemente de motivação, até porque o
acesso aos próprios dados constitui, na visão da melhor doutrina, uma materialização dos direitos
de personalidade.

11. Cobrança de valores


Tanto o procedimento administrativo quanto a ação judicial de HD são gratuitos.
Estão vedadas pela Lei quaisquer cobranças de custas ou taxas judiciais dos litigantes,
bem como de quaisquer valores para o atendimento do requerimento administrativo.
Ademais, não há ônus de sucumbência (honorários advocatícios) em Habeas data.
Para o ajuizamento da ação, porém, exige-se advogado.

12. Liminar
A lei silencia quanto à possibilidade ou não da concessão de liminar, mas a doutrina
entende que excepcionalmente essa medida poderá ser possível ante a demora do processo por
não ser considerada uma ação de caráter sumaríssimo.

13. Habeas data e sigilo imprescindível à segurança do estado


É importante que se lembre que o Habeas data como remédio constitucional destinado a
assegurar o acesso à informação deve também ser lido à luz da Lei de Acesso à informação e
suas possibilidades de restrições. Daí toda a atenção quando se falar em sigilo imprescindível à
segurança do estado. Contudo, é oportuno lembrar que o sigilo é exceção, logo, se a informação
da pessoa por si só não tem como representar risco à segurança, não há justificativa para não
conceder o acesso.
Vide os artigos mais importantes da Lei de Acesso à Informação - LAI nesse sentido:

Art. 21 da Lei 12.527/11: Não poderá ser negado acesso à informação necessária à tutela
judicial ou administrativa de direitos fundamentais.
Parágrafo único. As informações ou documentos que versem sobre condutas que
impliquem violação dos direitos humanos praticada por agentes públicos ou a mando de
autoridades públicas não poderão ser objeto de restrição de acesso.

Art. 22 da Lei 12.527/11: O disposto nesta Lei não exclui as demais hipóteses legais de
sigilo e de segredo de justiça nem as hipóteses de segredo industrial decorrentes da
exploração direta de atividade econômica pelo Estado ou por pessoa física ou entidade
privada que tenha qualquer vínculo com o poder público.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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14. Classificação da Informação quanto ao Grau e Prazos de Sigilo

Art. 23 da Lei nº 12.527/11: São consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade


ou do Estado e, portanto, passíveis de classificação as informações cuja divulgação ou
acesso irrestrito possam:
I - pôr em risco a defesa e a soberania nacionais ou a integridade do território nacional;
II - prejudicar ou pôr em risco a condução de negociações ou as relações internacionais
do País, ou as que tenham sido fornecidas em caráter sigiloso por outros Estados e
organismos internacionais;
III - pôr em risco a vida, a segurança ou a saúde da população;
IV - oferecer elevado risco à estabilidade financeira, econômica ou monetária do País;
V - prejudicar ou causar risco a planos ou operações estratégicos das Forças Armadas;
VI - prejudicar ou causar risco a projetos de pesquisa e desenvolvimento científico ou
tecnológico, assim como a sistemas, bens, instalações ou áreas de interesse estratégico
nacional;
VII - pôr em risco a segurança de instituições ou de altas autoridades nacionais ou
estrangeiras e seus familiares; ou
VIII - comprometer atividades de inteligência, bem como de investigação ou fiscalização
em andamento, relacionadas com a prevenção ou repressão de infrações.

Art. 24 da Lei nº 12.527/11: A informação em poder dos órgãos e entidades públicas,


observado o seu teor e em razão de sua imprescindibilidade à segurança da sociedade ou
do Estado, poderá ser classificada como ultrassecreta, secreta ou reservada.
§ 1o Os prazos máximos de restrição de acesso à informação, conforme a classificação
prevista no caput, vigoram a partir da data de sua produção e são os seguintes:
I - ultrassecreta: 25 (vinte e cinco) anos;
II - secreta: 15 (quinze) anos; e
III - reservada: 5 (cinco) anos.

15. Jurisprudência

A ação de habeas data visa à proteção da privacidade do indivíduo contra abuso no


registro e/ou revelação de dados pessoais falsos ou equivocados. O habeas data não se
revela meio idôneo para se obter vista de processo administrativo.
[HD 90 AgR, rel. min. Ellen Gracie, j. 18-2-2010, P, DJE de 19-3-2010.]
= HD 92 AgR, rel. min. Gilmar Mendes, j. 18-8-2010, P, DJE de 3-9-2010

O habeas data tem finalidade específica: assegurar o conhecimento de informações


relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de
entidades governamentais ou de caráter público, ou para a retificação de dados, quando
não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo (CF, art. 5º, LXXII, a
e b). No caso, visa à segurança ao fornecimento ao impetrante da identidade dos autores
de agressões e denúncias que lhe foram feitas. A segurança, em tal caso, é meio
adequado. Precedente do STF: MS 24.405/DF, Ministro Carlos Velloso, Plenário, 3-12-
2003, DJ de 23-4-2004.
[RMS 24.617, rel. min. Carlos Velloso, j. 17-5-2005, 2ª T, DJ de 10-6-2005.]

Decisão do STF em plenário:

Habeas data é adequado para obtenção de informações fiscais. O Supremo Tribunal


Federal (STF) reconheceu hoje a possibilidade do uso do habeas data como meio de os
contribuintes obterem informações suas em poder dos órgãos de arrecadação federal ou
da administração local. A decisão foi proferida no julgamento do Recurso Extraordinário
(RE) 673707, com repercussão geral reconhecida, no qual uma empresa buscava acesso

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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a informações do Sistema de Conta Corrente de Pessoa Jurídica (Sincor), mantido pela


Secretaria da Receita Federal. A Corte deu provimento ao recurso por unanimidade,
entendendo ser cabível o habeas data na hipótese, e reconhecendo o direito de o
contribuinte ter acesso aos dados solicitados. Com isso, contrariou os argumentos da
União de que os dados não teriam utilidade para o contribuinte, e que o efeito multiplicador
da decisão poderia tumultuar a administração fiscal. Com a decisão foi também fixada a
tese para fins de repercussão geral: “O habeas data é a garantia constitucional adequada
para a obtenção, pelo próprio contribuinte, dos dados concernentes ao pagamento de
tributos constantes de sistemas informatizados de apoio à arrecadação dos órgãos
administração fazendária dos entes estatais”.

16. Resumo
Competência Conforme a autoridade que negar a informação ou a retificação desta.
Endereçar Conforme a autoridade que negar a informação ou a retificação desta.
Legitimidade ativa – qualquer indivíduo – informações da pessoa do
Legitimidade ativa e impetrante.
passiva Legitimidade passiva – instituição pública/órgão desde que caráter
público.
O que devo suscitar?
Tratar da negativa de acesso e da pretensão de acesso, retificação ou
(Constituir a causa de
complementação de dados.
pedir)
- Notificar o órgão coator a fim de prestar informações;
- Juntar documentação que demonstre o pedido na via administrativa;
- Determinar oitiva do Ministério público;
- Julgar procedente o pedido de acesso (retificação ou complementação),
Pedido do habeas data
determinando o acesso à ficha de informações que indica os dados
pessoais do impetrante;
- Requer a realização de audiência de mediação/conciliação conforme
art. 319, VII, do CPC.

17. Modelo
Exame de Ordem unificado 2010.3 - Peça prático-profissional
Tício, brasileiro, casado, engenheiro, na década de setenta, participou de movimentos políticos
que faziam oposição ao Governo então instituído. Por força de tais atividades, foi vigiado pelos
agentes estatais e, em diversas ocasiões, preso para averiguações. Seus movimentos foram
monitorados pelos órgãos de inteligência vinculados aos órgãos de Segurança do Estado,
organizados por agentes federais. Após longos anos, no ano de 2010, Tício requereu acesso à
sua ficha de informações pessoais, tendo o seu pedido indeferido, em todas as instâncias
administrativas. Esse foi o último ato praticado pelo Ministro de Estado da Defesa, que lastreou
seu ato decisório, na necessidade de preservação do sigilo das atividades do Estado, uma vez
que os arquivos públicos do período desejado estão indisponíveis para todos os cidadãos. Tício,
inconformado, procura aconselhamentos com seu sobrinho Caio, advogado, que propõe
apresentar ação judicial para acessar os dados do seu tio.

43
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

Na qualidade de advogado contratado por Tício, redija a peça cabível ao tema, observando: a)
competência do Juízo; b) legitimidade ativa e passiva; c) fundamentos de mérito constitucionais
e legais vinculados; d) os requisitos formais da peça inaugural.

Segue modelo de estruturação da peça de Habeas Data cobrada no EXAME DE ORDEM


UNIFICADO 2010.3:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPERIOR TRIBUNAL


DE JUSTIÇA

TÍCIO, brasileiro, casado, engenheiro, portador do RG n°..., inscrito no CPF sob o n° ...,
endereço eletrônico..., residente e domiciliado Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP...,
vem, por seu procurador signatário, inscrito na OAB n°..., procuração em anexo, conforme
previsão no artigo 287 do Código de Processo Civil, endereço eletrônico..., com escritório
profissional na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., local onde recebe suas
intimações, impetrar HABEAS DATA, com base no artigo 5º, inciso LXXII, alínea “a”, da
Constituição Federal, e artigo 7°, inciso I, da Lei nº 9.507/97, contra MINISTRO DE ESTADO DA
DEFESA, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., portador do RG n°..., inscrito no CPF sob
o n° ..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade...,
Estado..., CEP..., pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:

1) DOS FATOS:
Tício solicitou informações de cunho pessoal junto ao Ministério da Defesa, todavia teve
seu pedido indeferido, sob a alegação preservação do sigilo das atividades do Estado, estando
os arquivos públicos inacessíveis para todos os cidadãos.

2) DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS:


2.1) Da Competência:
O Superior Tribunal de Justiça é competente para processar e julgar habeas data contra
ato de autoridade federal, conforme artigo 105, inciso I, alínea “b”, da Constituição Federal, e
artigo 20, inciso I, alínea “b”, da Lei nº 9.507/97.

2.2) Da Legitimidade:

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

O impetrante Tício é legitimado ativo para propor ação de Habeas Data, pois teve seu
direito personalíssimo ao acesso à informação negado, conforme artigo 7º, inciso I, da Lei nº
9.507/97.
O Ministro da Defesa do Estado é legitimado passivo, em razão de ter sido ele a autoridade
que negou acesso as informações solicitadas administrativamente pelo impetrante, conforme
artigo 105, inciso I, alínea “b”, da Constituição Federal, e artigo 20, inciso I, alínea “b”, da Lei nº
9.507/97.

2.3) Do Cabimento:
Cabe Habeas Data para assegurar informações relativas à pessoa do impetrante,
constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público,
conforme artigo 5º, inciso LXXII, alínea “a”, da Constituição Federal e artigo 7°, inciso I, da Lei nº
9.507/97.

2.4) DIREITO:
2.4.1) Da violação ao direito fundamental à informação:
O instrumento deve ser lido à luz dos princípios constitucionais de inviolabilidade da
intimidade, vida privada, honra e imagem, conforme artigo 5°, inciso X, da Constituição Federal,
bem como de acordo com a inviolabilidade do sigilo da correspondência e comunicações,
consoante artigo 5°, inciso XII, da Constituição Federal.

2.4.2) Do acesso à informação:


A Constituição Federal garante ao cidadão o direito de receber dos órgãos públicos
informações de interesse pessoal, que deverão ser serão prestadas no prazo da lei, sob pena
de responsabilização, salvo as de cunho sigiloso sejam imprescindíveis à segurança da
sociedade e do Estado, conforme artigo 5°, inciso XXXIII, da Constituição Federal.
O artigo 5°, inciso XXXIV, da Constituição Federal, em suas alíneas “a” e “b”, também
assegura ao cidadão, independentemente do pagamento de taxas, o direito de peticionar perante
os Poderes Públicos em defesa de direitos, contra ilegalidade e abuso de poder, bem como da
obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de
situações de interesse pessoal.
A Lei nº 12.527/11, que trata sobre o Acesso à Informação, em seu artigo 21, também
aduz que não poderá ser negado acesso à informação na via judicial ou administrativa de direitos
fundamentais.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

A autoridade X informou o impetrante que os dados solicitados estavam inacessíveis por


tempo indeterminado. Todavia, a Lei nº 12.527/11 prevê, em seu artigo 24, parágrafo 1°, o prazo
máximo de 25 (vinte e cinco) anos para restrição ao acesso à informação, sobre assuntos que
representem risco ao Estado, o que não é o caso.
Não há que se falar em sigilo imprescindível à segurança do estado, pois sigilo é exceção,
logo, se a informação é da pessoa, por si só não tem como representar risco à segurança, não
há justificativa para não conceder o acesso.
É importante salientar que o habeas data, como remédio constitucional destinado a
assegurar o acesso à informação, deve também ser lido à luz da Lei de Acesso à Informação e
suas possibilidades de restrições. Daí não há que se falar em sigilo imprescindível à segurança
do estado, pois sigilo é exceção, logo, se a informação da pessoa por si só não tem como
representar risco à segurança, não há justificativa para não conceder o acesso.
Ademais, o caso concreto não está previsto no rol de restrições do artigo 23, da Lei nº
12.527/11.

2.7) Da Comprovação do pedido na via administrativa:


O impetrante fez pedido de informações administrativamente junto ao Ministério da Defesa
do Estado, mas teve seu pedido negado, conforme cópias anexas, atendendo, assim, ao
requisito do artigo 8°, parágrafo único, da Lei nº 9.507/97.

3) DOS PEDIDOS:
a) O recebimento da inicial, em duas vias, nos termos do artigo 8º, da Lei nº 9.507/97;
b) A juntada da documentação essencial que comprove o indeferimento do pedido na via
administrativa, conforme artigo 8º, parágrafo único, da Lei nº 9.507/97;
c) A notificação da Autoridade, entregando-lhe a segunda via da inicial, conforme artigo
9º, da Lei nº 9.507/97, a fim de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste as informações que julgar
necessárias;
d) Oitiva do Ministério Público conforme artigo 12, da Lei nº 9.507/97, no prazo de 5 (cinco)
dias;
e) O julgamento de mérito da ordem, com a procedência do Habeas Data para determinar
à autoridade coatora que apresente ao Impetrante as informações requeridas
administrativamente e negadas, conforme restou demonstrado com a juntada de documento
comprovatório, constantes de registros ou bancos de dados.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

Valor da causa R$..., para efeitos meramente procedimentais, já que se trata de uma ação
gratuita, nos termos dos artigos 291 e 319, inciso V, do Código de Processo Civil, combinado
com artigo 5º, inciso LXXVII, da Constituição Federal.

Local..., data...
Advogado...
OAB...

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Mandado de Segurança Individual e Coletivo

1. Fundamento

Art. 5º, da CF: (...)


LXIX - Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não
amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou
abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
atribuições do Poder Público;
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou
associados;

Art. 1° da Lei nº 12.016/09: Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito


líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente
ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo
receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem
as funções que exerça.

2. Histórico
→ Foi retirado da Constituição de 1937, retornando posteriormente à Constituição de 1946.
→ Admite-se apenas na CRFB de 1988 o mandado de segurança coletivo.
→ Regulamentação legal: Lei nº 12.016/09 (individual e coletivo).

3. Direito líquido e certo para fins de Mandado de Segurança


O direito líquido e certo será aquele apto a realizar-se no momento da impetração, ou seja,
a liquidez e certeza não residem na vontade normativa e sim na materialidade ou existência fática
da situação jurídica. A liquidez é imprescindível para admissibilidade do conhecimento do
mandado de segurança. Por isso, todas as provas que demonstrem a certeza e a liquidez
deverão acompanhar a inicial.
Nem todo o direito é amparado pela via do mandado de segurança: a Constituição exige
que o direito invocado seja líquido e certo.
Para Mendes:

Direito líquido e certo é aquele demonstrado de plano através de prova documental, e sem
incertezas, a respeito dos fatos narrados pelo declarante. É o que se apresenta manifesto
na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercitado no momento da
impetração (MENDES, Gilmar, Curso de Direito Constitucional).

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Se a existência do direito for duvidosa, se a sua extensão ainda não estiver delimitada, se
o seu exercício depender de situações e fatos ainda indeterminados, não será cabível o mandado
de segurança. Esse direito incerto, indeterminado, poderá ser defendido por outras vias, mas
não em sede de Mandado de Segurança.
Por essa razão, não há dilação probatória – nem espaço para produção de prova
complexa no mandado de segurança. As provas devem ser pré-constituídas, documentais,
levadas aos autos do processo no momento da impetração.
Isso significa que a matéria de direito, por mais complexa e difícil que se apresente, pode
ser apreciada em mandado de segurança (STF). A alegação de grande complexidade jurídica
do direito invocado não é motivo para obstar a utilização do MS. A propósito, vide súmula 625
do STF, “Controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de mandado de
segurança”.

4. Natureza
O Mandado de Segurança é ação de natureza residual, subsidiária, pois somente é
cabível quando o direito líquido e certo a ser protegido não for amparado por outros remédios
judiciais (habeas corpus ou habeas data).

5. Cabimento
Ato de qualquer autoridade do poder público ou por particular decorrente de delegação
(comissivo ou omissivo): contudo, a lei excepciona que seja contra os que comportem recurso
administrativo com efeito suspensivo independente de caução;
Ilegalidade ou abuso de poder;
Lesão ou ameaça de lesão;
Contra lei ou ato administrativo se produzirem efeitos concretos e individualizados;
Contra ato que caiba recurso administrativo com efeito suspensivo (em caso de omissão
da autoridade);
Contra ato judicial de qualquer instância e natureza, desde que ilegal e violador de direito
líquido e certo do impetrante e que não possa ser coibido por recursos comuns (por exemplo
recurso que não enseja efeito suspensivo).
É cabível contra o chamado “ato de autoridade”, entendido como qualquer manifestação
ou omissão do Poder Público ou de seus delegados no desempenho de atribuições públicas.
Logo, de plano, algumas situações podem ser afastadas:

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Art. 5o da Lei nº 12.016/09: Não se concederá mandado de segurança quando se


tratar:
I - de ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independentemente
de caução;
II - de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo;
III - de decisão judicial transitada em julgado.

6. Súmulas

SÚMULAS DO STF RELACIONADAS AO MANDADO DE SEGURANÇA

Súmula STF 266 Não cabe Mandado de Segurança contra lei em tese.

Não cabe Mandado de Segurança contra ato judicial passível de recurso ou


Súmula STF 267
correição.
Não cabe Mandado de Segurança contra decisão judicial com trânsito em
Súmula STF 268
julgado.

Súmula STF 269 Mandado de Segurança não é substitutivo de ação de cobrança.

Não cabe Mandado de Segurança para impugnar enquadramento da lei 3780, de


Súmula STF 270
12/7/1960, que envolva exame de prova ou de situação funcional complexa.

A existência de recurso administrativo com efeito suspensivo não impede o uso


Súmula STF 429
do Mandado de Segurança contra omissão da autoridade.

Pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe o prazo para o


Súmula STF 430
mandado de segurança.

Controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de mandado de


segurança.
Lei nº 12.016 Art. 5° Não se concederá mandado de segurança quando se tratar:
Súmula STF 625 I - de ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo,
independentemente de caução;
II - de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo;
III - de decisão judicial transitada em julgado.

A entidade de classe tem legitimação para o Mandado de Segurança


ainda quando a pretensão veiculada interessa apenas a uma parte da respectiva
categoria.
Súmula STF 630
SÚMULA STF 629 A impetração de Mandado de Segurança coletivo por entidade
de classe em favor dos associados independe da autorização destes.
É constitucional lei que fixa o prazo de decadência para impetração de mandado
de segurança.
Súmula STF 632

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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SÚMULAS DO STJ RELACIONADAS AO MANDADO DE SEGURANÇA

O mandado de segurança não se presta para atribuir efeito suspensivo a recurso


Súmula 604
criminal interposto pelo Ministério Público.
A teoria da encampação é aplicada no mandado de segurança quando presentes,
cumulativamente, os seguintes requisitos: a) existência de vínculo hierárquico entre
Súmula 628 a autoridade que prestou informações e a que ordenou a prática do ato impugnado;
b) manifestação a respeito do mérito nas informações prestadas; e c) ausência de
modificação de competência estabelecida na Constituição Federal.

7. Legitimidade

ATIVO INDIVIDUAL ATIVO COLETIVO PASSIVO

Pessoa física ou jurídica, Art. 21 O mandado de segurança Autoridade pública de qualquer dos
órgão público ou coletivo pode ser impetrado por poderes da União, dos Estados, do DF
universalidade partido político com e dos Municípios, bem como de suas
patrimonial (ex: representação no Congresso autarquias, fundações públicas,
condomínio, espólio, Nacional, na defesa de seus empresas públicas e sociedades de
massa falida). interesses legítimos relativos a economia mista;
Em se tratando de seus integrantes ou à finalidade b) agente de pessoa jurídica privada,
particular, não há partidária, ou por organização desde que no exercício de atribuições
limitação a legitimidade sindical, entidade de classe ou do Poder Público (só responderão se
ativa. associação legalmente estiverem, por delegação, no exercício
constituída e em funcionamento de atribuições do Poder Público).
há, pelo menos, 1 (um) ano, em
defesa de direitos líquidos e Importante:
certos da totalidade, ou de parte, A autoridade coatora será o agente
dos seus membros ou delegado (que recebeu a atribuição) e
associados, na forma dos seus não a autoridade delegante (que
estatutos e desde que efetivou a delegação). Esse é o teor da
pertinentes às suas finalidades, Súmula 510 do STF.
dispensada, para tanto,
autorização especial.

8. Ministério Público
O Ministério Público sempre atua como parte autônoma, com intuito de zelar pela
aplicação da lei e regularidade do processo. A falta de intimação do Ministério Público pode ser
matéria de nulidade. Agora, poderá ele tutelar em nome próprio ou em nome daqueles pelos
quais é designado a representar e defender segundo a lei.

51
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Art. 12 da Lei nº 12.016/09: Findo o prazo a que se refere o inciso I do caput do art. 7o
desta Lei, o juiz ouvirá o representante do Ministério Público, que opinará, dentro do prazo
improrrogável de 10 (dez) dias.
Parágrafo único. Com ou sem o parecer do Ministério Público, os autos serão conclusos
ao juiz, para a decisão, a qual deverá ser necessariamente proferida em 30 (trinta) dias.

9. Prazo
Prazo para impetrar é decadencial de 120 dias:

Art. 23 da Lei nº 12.016/09: O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á


decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato
impugnado.

Jurisprudência posterior ao enunciado:

Não interrupção do prazo decadencial pelo pedido de reconsideração. "Alega a recorrente,


em síntese, que: (a) não se consumou, no caso, a decadência para a impetração do
presente mandado de segurança; e (b) o termo inicial do prazo decadencial de 120 dias
corresponderia à data da ciência da decisão que indeferiu pedido de reconsideração.
(...) Ademais, segundo entendimento pacífico da Corte, 'pedido de reconsideração na
esfera administrativa não interrompe o prazo para o mandado de segurança' (Súmula 430
do STF). (MS 28793 AgR, Relator Ministro Teori Zavascki, Tribunal Pleno, julgamento em
30.4.2014, DJe de 19.5.2014)

10. Competência
Tem-se que aqui trabalhar por exclusão, ou seja, primeiro busca-se identificar se não é o
caso de competência enumerada na Constituição:

Art. 102, da CF: Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
(...)
d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas
anteriores; o mandado de segurança e o habeas data contra atos do Presidente da
República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de
Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal
Federal;
(...)
II - julgar, em recurso ordinário:
a) o habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e o mandado de injunção
decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão

Art. 105 da CF: Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


I - processar e julgar, originariamente:
(...)
b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado, dos
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal;
(...)

52
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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II - julgar, em recurso ordinário:


b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais
Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando
denegatória a decisão;

Art. 108 da CF: Compete aos Tribunais Regionais Federais:


I - processar e julgar, originariamente:
(...)
c) os mandados de segurança e os habeas data contra ato do próprio Tribunal ou de juiz
federal;
(...)
II - julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juízes federais e pelos juízes
estaduais no exercício da competência federal da área de sua jurisdição.

Art. 109, da CF: Aos juízes federais compete processar e julgar:


(...)
VIII - Os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal,
excetuados os casos de competência dos tribunais federais;

Define-se a competência para julgar mandado de segurança pela categoria da autoridade


coatora e pela sua sede funcional, não interessando a natureza do ato impugnado para fins de
competência.
Caso a impetração ocorra em juízo incompetente, ou no decorrer do processo situação
jurídica ou algum fato que altere a competência julgadora, o Magistrado ou Tribunal deverá
remeter a juízo competente.
Havendo intervenção da União, Estado ou de suas autarquias, desloca-se a competência
primeiramente para a Justiça Federal ou para a Vara privativa estadual.
Nas comarcas em que houver Varas privativas da Fazenda Pública, o juízo competente
será sempre o dessas Varas, conforme ato impugnado provenha de autoridade federal, estadual
e municipal, ou de seus delegados, por outorga legal concessão ou permissão administrativa.
Observação importante para provas: segundo o STF, todos os Tribunais têm competência
para julgar, originariamente, os MS contra os seus próprios atos, os dos respectivos presidentes
e os de suas câmaras, turmas ou seções. Assim, MS contra ato do STJ, do Presidente do STJ
ou de uma turma do STJ, será julgado pelo próprio STJ e assim sucessivamente. No âmbito da
Justiça Estadual, caberá aos próprios estados-membros cuidar da competência para a
apreciação do MS contra atos de suas autoridades, por força do art. 125 da CF.

Exemplos:

➙ Autoridade estadual, serventuários e dirigentes estaduais ou municipais – competência


da Justiça Estadual (juiz de primeiro grau)

➙ Autoridade Federal - Justiça Federal

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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➙ Juiz de Direito – Tribunal de Justiça

➙ Juiz Federal – Tribunal Regional Federal

➙ TJ, TRF, STJ OU STF - o pleno ou o órgão especial dos tribunais

Regra geral:
Juiz de 1° grau
1) Autoridades Municipais de qualquer órgão (Executivo, Legislativo, Administração Indireta),
salvo se a Constituição estadual dispuser de maneira diversa, o que é incomum.
2) Autoridades estaduais (Executivo, Legislativo e Judiciário).

Exceções:
1) Quanto a autoridade coatora é Juiz, Mesa da Assembleia Legislativa, Tribunal de Contas,
Secretários de Estado e Membros do MP, a CF não especifica expressamente, mas geralmente é
o TJ local.
2) Se for Juiz de JEC: Câmara Recursal (Súmula 376 do STJ).

11. Desistência
Admite-se desistência, independentemente do consentimento do impetrado. Porém,
segundo a jurisprudência do STF, essa faculdade de desistência encontra limite no julgamento
de mérito da causa. Assim, uma vez julgado o mérito do Mandado de Segurança, o demandante
pode até desistir de recurso eventualmente interposto, mas a decisão recorrida será mantida
intacta, pois não lhe será permitido desistir do processo, sobretudo quando a decisão lhe for
desfavorável.

12. Modalidades
O Mandado de Segurança pode ser repressivo ou preventivo, conforme se destine a
reparar uma ilegalidade ou abuso de poder já praticados ou apenas a afastar uma ameaça de
lesão ao direito líquido e certo do impetrante.

13. Mandado de Segurança Coletivo


Importante lembrar alguns pontos sobre o mandado de segurança coletivo:
• Os direitos protegidos pelo mandado de segurança coletivo podem ser:

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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➙ I - coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transindividuais, de natureza


indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte
contrária por uma relação jurídica básica;

➙ II - individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os decorrentes


de origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos associados
ou membros do impetrante.
Procedimento:

Art. 22 da Lei nº 12.016/09: No mandado de segurança coletivo, a sentença fará coisa


julgada limitadamente aos membros do grupo ou categoria substituídos pelo
impetrante.
§ 1o O mandado de segurança coletivo não induz litispendência para as ações individuais,
mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante a título individual se não
requerer a desistência de seu mandado de segurança no prazo de 30 (trinta) dias a contar
da ciência comprovada da impetração da segurança coletiva.
§ 2o No mandado de segurança coletivo, a liminar só poderá ser concedida após a
audiência do representante judicial da pessoa jurídica de direito público, que deverá se
pronunciar no prazo de 72 (setenta e duas) horas.

14. Liminar
Caberá liminar em se tratando de tutela de urgência, atenção ao que diz a Lei no caso
de liminares:

Art. 7º da Lei nº 12.016/09: (...)


III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento
relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente
deferida, sendo facultado exigir do impetrante, caução, fiança ou depósito, com o objetivo
de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica.

Deve-se atentar aos requisitos do art. 300, §3º, do CPC.

15. Caução
A lei regulou a possibilidade de exigência de caução.

Art. 7º da Lei 12.016/09: (...)


§ 1o Da decisão do juiz de primeiro grau que conceder ou denegar a liminar caberá agravo
de instrumento,
§ 2o Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a compensação de
créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a
reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento
ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer natureza.
§ 3o Os efeitos da medida liminar, salvo se revogada ou cassada, persistirão até a prolação
da sentença.
§ 4o Deferida a medida liminar, o processo terá prioridade para julgamento.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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16. Honorários
Súmula 512 do STF e 105 do STJ.
512, STF: Incabível condenação em honorários advocatícios nas ações de mandado de
segurança.
105, STJ: Na ação de mandado de segurança não se admite condenação em honorarios
advocatícios.

Art. 25 da Lei nº 12.016/09: Não cabem, no processo de mandado de segurança, a


interposição de embargos infringentes e a condenação ao pagamento dos honorários
advocatícios, sem prejuízo da aplicação de sanções no caso de litigância de má-fé.

17. Resumo
Competência Variável
Endereçar Depende da competência
INDIVIDUAL - Legitimidade ativa - poder de qualquer pessoa física ou jurídica nacional ou
estrangeira, ou órgão público com capacidade processual desde que comprove violação a
Legitimidade direito líquido e certo seu que não fira a liberdade de locomoção ou o direito de informação
de caráter personalíssimo.
ativa e passiva COLETIVO – partido político ou organização sindical.
Legitimidade passiva - da autoridade coatora responsável pela prática de ação ou omissão
que ameaça ou efetivamente líquido e certo.
O que devo
Violação do direito líquido e certo, por coação ou ameaça, indicando a autoridade coatora.
suscitar?
Liminar (se for o caso);
Notificação da autoridade coatora;
Ciência ao representante judicial da autoridade coatora;
Intimação do Ministério Público;
Pedido
Acatar a prova da liquidez;
Informar que concorda com a realização de audiência de conciliação e mediação;
Ao final, a procedência do pedido, para evitar ou reparar lesão ao direito líquido e certo do
impetrante.

18. Modelo
Exame de Ordem XXIX - Peça profissional
João, cidadão politicamente atuante e plenamente consciente dos deveres a serem cumpridos
pelos poderes constituídos em suas relações com a população, decidiu fiscalizar a forma de
distribuição dos recursos aplicados na área de educação no Município Alfa, sede da Comarca X
e vizinho àquele em que residia, considerando as dificuldades enfrentadas pelos moradores do
local. Para tanto, compareceu à respectiva Secretaria Municipal de Educação e requereu o
fornecimento de informações detalhadas a respeito das despesas com educação no exercício
anterior, a discriminação dos valores gastos com pessoal e custeio em geral e os montantes

56
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

direcionados a cada unidade escolar, já que as contratações eram descentralizadas.


O requerimento formulado foi indeferido por escrito, pelo Secretário Municipal de Educação, sob
o argumento de que João não residia no Município Alfa; os gastos com pessoal eram sigilosos,
por dizerem respeito à intimidade dos servidores; as demais informações seriam disponibilizadas
para o requerente e para o público em geral, via Internet, quando estivesse concluída a
estruturação do “portal da transparência”, o que estava previsto para ocorrer em 2 (dois) anos.
João não informou de que modo usaria as informações.
Inconformado com o indeferimento do requerimento que formulara, João contratou os seus
serviços como advogado(a) poucos dias após a prolação da decisão e solicitou o ajuizamento
da medida cabível, de modo que pudesse obter, com celeridade, as informações almejadas, o
que permitiria sua divulgação à população interessada, permitindo-lhe avaliar a conduta do
Prefeito Municipal, candidato à reeleição no processo eleitoral em curso.
Elabore a petição da medida judicial adequada, considerando-se como tal aquela que não exija
instrução probatória. (Valor: 5,00)
Obs.: a peça deve abranger todos os fundamentos de Direito que possam ser utilizados para dar
respaldo à pretensão. A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não confere
pontuação.

Segue modelo de estruturação da peça de Mandado de Segurança cobrado no exame de Ordem


XXIX:

JUÍZO DA ... VARA CÍVEL DA COMARCA X, ESTADO...

JOÃO, nacionalidade..., aposentado, estado civil..., portador do RG n°..., inscrito no CPF


sob o n° ..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade...,
Estado..., CEP..., vem, por seu procurador signatário, inscrito na OAB n°..., procuração em
anexo, conforme artigo 287, do Código de Processo Civil, endereço eletrônico..., escritório
profissional na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., local onde recebe suas
intimações, impetrar MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO DE LIMINAR, com base no
artigo 5º, inciso LXIX, da Constituição Federal, e artigo 1°, da Lei nº 12.016/2009, contra o
SECRETÁRIO MUNICIPAL DA EDUCAÇÃO DO MUNICÍPIO ALFA, nacionalidade...,
profissão..., estado civil..., portador do RG n°..., inscrito no CPF sob o n° ..., endereço
eletrônico..., residente e domiciliado na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP...;
vinculados à pessoa jurídica de Direito Público MUNICÍPIO ALFA, inscrito no CNPJ sob o n°...,

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

endereço eletrônico..., com sede na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., pelos fatos
e fundamentos a seguir expostos.

1) DOS FATOS:
O impetrante requereu informações acerca das despesas com educação no Município
Alfa, tendo, no entanto, seu pedido negado pelo Secretário de Educação do Município Alfa.

2) DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS:


2.1) Da Competência:
Trata-se de competência da Justiça Estadual, fixada pelo critério residual, previsto no
artigo 25, parágrafo 1º e 125, da Constituição Federal, uma vez que os atos de secretários
municipais não estão albergados pela competência de qualquer outra justiça. Ressalte-se que
não há previsão de foro por prerrogativa igualmente, de modo que o processo deve ser iniciado
na Justiça de Primeiro Grau. A Comarca X é a competente, diante da inexistência de sede da
justiça no Município Alfa.

2.2) Da Legitimidade:
A legitimidade ativa de João decorre da sua titularidade pessoal do direito de acesso à
informação, sendo titular do direito que postula, nos termos do artigo 1º, da Lei nº 12.016/09.
A legitimidade passiva do Secretário Municipal de Educação do Município Alfa, por sua
vez justificada pelo fato de ser o responsável pela educação na localidade e por terem indeferido
o requerimento formulado por João, nos termos do artigo 6°, parágrafo 3°, da Lei nº 12.016/09.
O Município Alfa deverá ser cientificado, já que a autoridade coatora está vinculada a esta pessoa
jurídica.

2.3) Do Cabimento:
Cabe Mandado de Segurança, uma vez que se trata de ação fundamentada em direito
líquido e certo, conforme artigo 5º, inciso LXIX, da Constituição Federal, e artigo 1°, caput, da Lei
nº 12.016/09, contra ato de autoridade pública que praticou ilegalidade.

2.4) Do Direito líquido e certo:


De fato, o direito líquido e certo consiste na absoluta certeza da existência jurídica do
direito de acesso à informação, consagrado que está na Constituição Federal em norma de
eficácia plena, mas mesmo assim regulamentado na Lei nº 12.527/11.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

O conjunto probatório indica que não há necessidade de produção de provas, pois a prova
já está pré-constituída com a negativa de acesso à informação, o que é fundamental para o
Mandado de Segurança.
Ressalte-se que não ocorreu decadência do Mandado de Segurança, pois não decorreram
mais de 120 (centro e vinte) dias da negativa, conforme artigo 23, da Lei nº 12.016/09.

2.5) Do Direito:
É assegurado a todos o acesso à informação, nos termos do artigo 5º, inciso XIV, da
CRFB/88 e o direito de receber dos órgãos públicos as informações de interesse coletivo ou
geral, conforme dispõe o artigo 5º, inciso XXXIII, da CRFB/88. Os usuários, ademais, têm
assegurado o seu acesso ao teor dos atos de governo, nos termos do artigo 37, parágrafo 3º,
inciso II, da CRFB/88, informação que deve ser fornecida no prazo estabelecido pelo artigo 11,
da Lei nº 12.527/11, independentemente de qualquer esclarecimento a respeito dos motivos
determinantes da solicitação, nos termos do artigo 10, parágrafo 3º, da Lei nº 12.527/11. As
informações relativas aos gastos com pessoal não dizem respeito à intimidade dos servidores,
pois refletem a maneira de gasto do dinheiro público, apresentando indiscutível interesse público.
O fato de João não residir no Município é irrelevante, pois os entes federados não podem criar
distinções entre brasileiros, nos termos do artigo 19, inciso III, da CRFB/88.

2.6) Da medida liminar:


O juiz poderá conceder a liminar, pois estão presentes os pressupostos de periculum in
mora e fumus boni juris, conforme artigo 7, inciso III, da Lei nº 12.016/09.
Trata-se de direito líquido e certo de acesso à informação, restando demonstrada a
relevância dos fundamentos da impetração, conforme as razões de mérito.
Há risco de ineficácia da medida final se a liminar não for deferida, tendo em vista a
urgência da situação, já que as informações servirão para que a população interessada avalie o
desempenho do Prefeito Municipal, candidato à reeleição.

3) DOS PEDIDOS:
a) O recebimento desta inicial;
b) A concessão da medida liminar para determinar que a autoridade coatora forneça os
dados solicitados por João, com expedição de ofício para a autoridade coatora, assegurado o
direito do impetrante até o julgamento do mérito da ordem, conforme 7º, inciso III, da Lei nº
12.016/09, e 300, do Código de Processo Civil;

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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c) A notificação da Autoridade Coatora para prestar informações no prazo legal de 10


(dez) dias, entregando-lhe a segunda via da petição, conforme artigo 7º, inciso I, da Lei nº
12.016/09;
d) Dar ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada,
conforme artigo 7º, inciso II, da Lei nº 12.016/09;
e) A Intimação do Ministério Público, para apresentar seu parecer no prazo de 10 (dez)
dias, conforme artigo 12, da Lei nº 12.016/09;
f) Acatar as provas que demostrem a liquidez do direito em questão, confirmando a prova
pré-constituída;
g) Requerer, ao final, seja julgado procedente o pedido, para a concessão da ordem do
Mandado de Segurança, tornando definitiva a liminar, assegurando o direito líquido e certo do
Impetrante ao conhecimento das informações;
h) A concessão da gratuidade judiciária, nos termos do artigo 98, do CPC.

Valor da causa R$ ..., para efeitos procedimentais, nos termos dos artigos 291 e 319,
inciso V, do Código de Processo Civil.

Local..., data...
Advogado...
OAB...

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Exame de Ordem XXIV - Peça profissional


Após anos de defasagem salarial, milhares de trabalhadores que integravam o mesmo segmento
profissional reuniram-se na sede do Sindicato W, legalmente constituído e em funcionamento há
vinte anos, que representava os interesses da categoria, em assembleia geral convocada
especialmente para deliberar a respeito das medidas a serem adotadas pelos sindicalizados.
Ao fim de ampla discussão, decidiram que, em vez da greve, que causaria grande prejuízo à
população e à economia do país, iriam se encontrar nas praças da capital do Estado Alfa, com o
objetivo de debater publicamente os interesses da categoria de forma organizada e ordeira, e
ainda fariam passeatas semanais pelas principais ruas da capital. Em situações dessa natureza,
a lei dispõe que seria necessária a prévia comunicação ao comandante da Polícia Militar.
No mesmo dia em que recebeu a comunicação dos encontros e das passeatas semanais, que
teriam início em dez dias, o comandante da Polícia Militar, em decisão formalmente comunicada
ao Sindicato W, decidiu indeferi-los, sob o argumento de que atrapalhariam o direito ao lazer nas
praças e a tranquilidade das pessoas, os quais são protegidos pela ordem jurídica.
Inconformado com a decisão do comandante da Polícia Militar, o Sindicato W procurou um
advogado e solicitou o manejo da ação judicial cabível, que dispensasse instrução probatória,
considerando a farta prova documental existente, para que os trabalhadores pudessem cumprir
o que foi deliberado na assembleia da categoria, no prazo inicialmente fixado, sob pena de
esvaziamento da força do movimento. (Valor: 5,00)
Obs.: a peça deve abranger todos os fundamentos de Direito que possam ser utilizados para dar
respaldo à pretensão. A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não confere
pontuação.

Segue modelo de estruturação da peça de Mandado de Segurança Coletivo cobrado no exame


de Ordem XXIV:

JUÍZO DE DIREITO DA ... VARA CÍVEL DA COMARCA DO MUNICÍPIO ..., ESTADO ALFA

SINDICATO W, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o n° ..., endereço
eletrônico..., com sede na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., representado por
seu PRESIDENTE..., nacionalidade..., profissão..., estado civil..., portador do RG n°..., inscrito
no CPF sob o n° ..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua..., n°..., Bairro...,
Cidade..., Estado..., CEP..., vem, por seu procurador signatário, inscrito na OAB n°..., procuração
em anexo, conforme previsão no artigo 287, do Código de Processo Civil, endereço eletrônico...,

61
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

com escritório profissional na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., local onde recebe
suas intimações, impetrar MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO COM PEDIDO LIMINAR,
com base no artigo 5º, incisos LXIX e LXX, alínea “b”, da Constituição Federal e artigo 21 da Lei
nº 12.016/2009, contra o COMANDANTE DA POLÍCIA MILITAR, nacionalidade..., profissão...,
estado civil..., portador do RG n°..., inscrito no CPF sob o n° ..., endereço eletrônico..., residente
e domiciliado na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., vinculado à pessoa jurídica
de Direito Público ESTADO ALFA, inscrito no CNPJ sob o n°..., endereço eletrônico..., com sede
na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., pelos fatos e fundamentos a seguir
expostos:

1) DOS FATOS:
O Impetrante teve seu direito líquido e certo negado pela autoridade coatora, ao não
permitir a manifestação pública legítima nas praças da capital do Estado Alfa.

2) DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS:


2.1) Da Competência:
Compete a justiça estadual, de forma residual, processar e julgar Mandado de Segurança
Coletivo, nos termos dos artigos 25 e 125, da Constituição Federal.

2.2) Da Legitimidade:
A legitimidade ativa do impetrante decorre do fato de ele ser uma organização sindical
legalmente constituída e em funcionalmente há mais de 1 (um) ano, estando em defesa de
direitos líquidos e certos de parte dos trabalhadores da categoria, tal qual autorizado pelo artigo
21, da Lei nº 12.016/2009, e artigo 5º, inciso LXX, alínea “b”, da Constituição Federal.
Legitimidade passiva é do Comandante da Polícia Militar do Estado Alfa e do Estado Alfa,
tendo em vista serem as autoridades que emanaram a decisão que feriu direito líquido e certo
dos trabalhadores, impedindo a realização das reuniões e das passeatas, nos termos do artigo
6°, parágrafo 3°, da Lei nº 12.016/09.

2.3) Do cabimento:
Cabe mandado de segurança coletivo, uma vez que se trata de ação fundamentada em
violação de direitos líquidos e certos coletivos, conforme artigo 5º, incisos LXIX e LXX, da
Constituição Federal e artigo 1°, caput, e artigo 21, parágrafo único, ambos da Lei nº
12.016/2009.

62
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

De fato, a prova já está totalmente pré-constituída, consistente na decisão proferida pela


autoridade coatora e formalmente comunicada ao Sindicato W e dispensa instrução probatória,
logo cabendo o Mandado de Segurança Coletivo.
Impende esclarece que não houve decadência do mandado de segurança, pois não
decorreram de 120 (centro e vinte) dias, conforme artigo 23, da Lei nº 12.016/09.

2.4) Do Direito (Direito líquido e certo):


Os trabalhadores têm direito fundamental à livre manifestação do pensamento, conforme
artigo 5º, inciso IV, da Constituição Federal, bem como à liberdade de expressão, conforme artigo
5º, inciso IX, da Constituição Federal e reunião pacífica, conforme artigo 5º, inciso XVI,
Constituição Federal.
A conduta do comandante ofendeu o direito líquido e certo à manifestação, a qual não
estabelece à autoridade pública o direito de obstruir a manifestação.
São direitos de eficácia plena, não podendo ser limitados administrativamente. Assim, a
medida se mostra pouco razoável e desproporcional, não cabendo, por isto, a obstrução.

2.5) Da Medida Liminar:


Nos termos do artigo 7, inciso III, da Lei nº 12.016/09, é possível o deferimento de medida
liminar, tendo em vista ser absolutamente necessária no presente caso, uma vez que estão
ameaçados direitos fundamentais da parte.
Há o risco de ineficácia da medida final se a liminar não for deferida, tendo em vista a
urgência da situação, já que as reuniões nas praças e as passeatas começariam em poucos
dias. Assim, restou demonstrado o fumus boni juris e periculum in mora.

3) DOS PEDIDOS:
a) O recebimento desta inicial;
b) A concessão da medida liminar, com base no artigo 7º, inciso III, da Lei nº 12.016/2009
e art. 300, do CPC, para que a autoridade coatora se abstenha de adotar qualquer medida que
impeça a realização das reuniões e das passeatas;
c) A notificação da Autoridade Coatora para prestar informações no prazo legal de 10
(dez) dias, entregando-lhe a segunda via da petição, conforme artigo 7º, inciso I, da Lei nº
12.016/2009;
d) A ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada,
Estado Alfa, conforme artigo 7º, inciso II, da Lei nº 12.016/2009;

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

e) A Intimação do Ministério Público, para apresentar seu parecer no prazo de 10 (dez)


dias, conforme artigo 12, da Lei nº 12.016/2009;
f) Acatar as provas que demostrem a liquidez do direito em questão, confirmando prova
pré-constituída;
g) A concessão da gratuidade judiciária, nos termos do artigo 98, do CPC;
h) Requerer, ao final, seja julgado procedente o pedido para conceder o Mandado de
Segurança, tornando definitiva a liminar, a fim de assegurar o direito líquido e certo do
Impetrante.

Valor da causa R$ ..., para efeitos procedimentais, nos termos dos artigos 291 e 319,
inciso V, do Código de Processo Civil.

Local..., data...
Advogado...
OAB...

64
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Reclamação constitucional

Prevista inicialmente no regimento interno do STF, é uma inovação da Constituição de


1988. Passou muito tempo sem disciplina legal, até o aparecimento do novo Código de Processo
Civil.
A Constituição previu reclamação tanto para o STF, (art. 102, I, “l”), quanto para o STJ,
(art. 105, I, “f”). A Constituição previu a hipótese de uso: “para garantir a autoridade de suas (dos
tribunais) decisões.
Conforme o STF, é uma espécie de “direito de petição judicial” (STF, Pleno, ADI nº
2.212/CE, rel. Min. Ellen Gracie, AC. De 02.10.2003 RTJ 190/122)
Caso o exame peça um “recurso”, de pronto a reclamação está excluída, já que não é
vista como um recurso pelos tribunais superiores.
Não há prazo específico para o ajuizamento de reclamação constitucional. Ela não serve,
contudo, para a substituição de recurso (sucedâneo). Ver súmula 734 do STF.

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas
decisões;

Art. 103-A, § 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável
ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que,
julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial
reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula,
conforme o caso.

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


I - processar e julgar, originariamente:
f) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas
decisões;

Art. 111, § 3º Compete ao Tribunal Superior do Trabalho processar e julgar,


originariamente, a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da
autoridade de suas decisões.

Súmula 734, STF. Não cabe reclamação quando já houver transitado em julgado o ato
judicial que se alega tenha desrespeitado decisão do Supremo Tribunal Federal.

1. Nomenclatura
Quando a reclamação é dirigida ao STF, chama-se reclamação constitucional. Quando é
dirigida a outro tribunal, simplesmente reclamação.

65
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Outra hipótese é para garantir o cumprimento de Súmula Vinculante, nos termos do art.
103-A da CF + Lei nº 11.417 (somente para súmulas vinculantes).
Em resumo, a reclamação é um instrumento processual, equiparado ao direito de petição,
utilizado para fazer valer a autoridade de decisão de tribunal, notadamente dos tribunais
superiores ou das súmulas vinculantes.

2. Cabimento
O Código de Processo Civil explicitou de modo mais claro o cabimento da reclamação:

Art. 988 do CPC: Caberá reclamação da parte interessada ou do Ministério Público para:
I - preservar a competência do tribunal;
II - garantir a autoridade das decisões do tribunal;
III – garantir a observância de enunciado de súmula vinculante e de decisão do Supremo
Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade;
IV – garantir a observância de acórdão proferido em julgamento de incidente de resolução
de demandas repetitivas ou de incidente de assunção de competência;

3. Competência
STF= art. 102, inciso I, alínea “l”, da Constituição Federal = Reclamação Constitucional.
STJ= art. 105, inciso I, alínea “f”, da Constituição Federal = Reclamação.

4. Resumo:
Deve satisfazer os requisitos genéricos do art. 319 do CPC:
endereçamento, qualificação das partes, fatos e fundamentos jurídicos e
Inicial pedido. Deve-se noticiar o desinteresse na conciliação, por via das dúvidas,
já que se trata de requisito novo sobre o qual ainda não há muito consenso
acerca de suas hipóteses de cabimento.
Se o ato ferir decisão do STF ou súmula vinculante, a petição deve ser
dirigida à presidência do STF;
Endereçamento
Se ferir decisão do STJ, dirigido à presidência do STJ (art. 988, § 1º do
CPC)
Parte interessada
Sujeito ativo
Ministério Público
A lei não é clara sobre este aspecto. Ao mesmo tempo que diz que a
Sujeito passivo autoridade deve prestar informações, também indica que o beneficiário será
citado. Logicamente então, o réu será o beneficiário do ato reclamado.
O titular do órgão do Judiciário ou da Administração Pública que não está
Notificado
observando a decisão.
Citado O beneficiário
Fatos É muito importante ter a decisão paradigma do tribunal ou súmula
e vinculante. O autor deverá descrever a situação, a decisão impugnada e no
Fundamentos que a decisão impugnada contrasta com o paradigma ou súmula.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Tutela de urgência Fumus boni juris e periculum in mora.


O pedido será de nova decisão da Administração Pública ou Judiciário ou
mesmo a concessão direta do benefício almejado.
Vale a pena conferir mais detalhes da reclamação no Regimento Interno do
Pedido STF e do STJ.
Tanto os Regimentos Internos como o CPC mencionam prova documental.
Vale a pena colocar na petição, portanto, notícia de que acompanha prova
documental.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Esqueleto da peça
Excelentíssimo Senhor Ministro Presidente do Supremo Tribunal Federal.
Endereçamento
Excelentíssimo Senhor Ministro Presidente do Superior Tribunal de Justiça.
Fatos Não admissão de recurso extraordinário por turma recursal.
STF= Reclamação Constitucional
Peça
STJ= Reclamação
Legitimidade
Autor/Reclamante
ativa
Legitimidade
Juízo/ Reclamado+ beneficiário
passiva
Usurpação da competência do Supremo.
Fundamentos
Preservar entendimento do STF.
Pedido Anulação da decisão.
a) recebimento da inicial, devidamente instruída com prova documental e dirigida
ao presidente do tribunal e recebida, a reclamação será autuada e distribuída ao
relator do processo principal, conforme art. 988, parágrafos 2º e 3º da CPC;
b) A suspensão em caráter liminar da decisão proferida pelo juiz M.M Juízo
Monocrático da Comarca do Estado;
c) A notificação da autoridade coatora para que preste informação, conforme
art.989, I da CPC;
d) citação do beneficiário;
Requerimentos
e) vista ao Ministério Público por 5 (cinco) dias, após o decurso do prazo para
informações e para o oferecimento da contestação pelo beneficiário do ato
impugnado;
f) a não realização de audiência de conciliação, nos termos do art. 319, VII, do
CPC;
g) que seja procedente a presente reclamação a fim de tornar definitiva a liminar
cassando a decisão do juízo;
h) valor da causa

5. Modelo
Exame de Ordem XXXII - Peça profissional
Após regular aprovação em concurso público de provas e títulos, João da Silva foi nomeado e
empossado no cargo de técnico administrativo de nível médio, vinculado ao Poder Executivo do
Município Alfa. Exerceu suas funções com grande dedicação por mais de uma década. Durante
esse período, também teve oportunidade de concluir o curso de Administração de Empresas.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

Assim que João concluiu a faculdade, foi editada a Lei Municipal nº 123/18, que permitia aos
ocupantes do cargo de provimento efetivo de técnico administrativo de nível médio, desde que
preenchessem os requisitos exigidos, optarem pela transposição para o cargo de auditor
administrativo de nível superior, passando a integrar a respectiva carreira.
Poucos dias após a promulgação da Lei Municipal nº 123/18, um ocupante do cargo de auditor
administrativo de nível superior faleceu e, com a vacância, João formulou o requerimento de
transposição, o qual foi imediatamente deferido pela Administração Pública. Com isso, Mário,
único candidato aprovado no concurso público destinado ao provimento do cargo de auditor
administrativo de nível superior, que ainda não fora nomeado, foi preterido.
Mário, irresignado com a situação, interpôs recurso, que foi apreciado por todas as instâncias
administrativas, não tendo sido acolhida a tese de que a Lei Municipal nº 123/18 afrontava o teor
de Súmula Vinculante. Acresça-se que a validade do concurso iria exaurir-se no fim do mês
seguinte, e Mário estava desempregado.
À luz desse quadro, como advogado(a), redija a peça processual mais adequada, perante o
Supremo Tribunal Federal, para combater a nomeação de João para o cargo de auditor
administrativo de nível superior. (Valor: 5,00)

Segue modelo básico de estruturação da peça de Reclamação Constitucional:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL


FEDERAL

MÁRIO, nacionalidade..., profissão, estado civil..., portador do RG n°..., inscrito no CPF


sob o n° ..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade...,
Estado..., CEP..., vem, por seu procurador signatário, inscrito na OAB n°..., procuração em
anexo, conforme artigo 287, do Código de Processo Civil, endereço eletrônico..., com escritório
profissional na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., local onde recebe suas
intimações, vem propor RECLAMAÇÃO, com pedido liminar, baseado no artigo 7º, da Lei nº
11.417/2006, artigo 102, inciso I, alínea “l”, e Art. 103-A, § 3º, ambos da Constituição Federal, e
artigo 988, inciso III, do Código de Processo Civil, em face da autoridade PREFEITO DO
MUNICÍPIO ALFA, nacionalidade..., profissão, estado civil..., portador do RG n°..., inscrito no
CPF sob o n° ..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua..., n°..., Bairro...,
Cidade..., Estado..., CEP...tendo por beneficiário JOÃO DA SILVA, nacionalidade..., profissão,

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estado civil..., portador do RG n°..., inscrito no CPF sob o n° ..., endereço eletrônico..., residente
e domiciliado na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., pelos fatos e fundamentos a
seguir expostos:

1) DOS FATOS:
O Prefeito Municipal Alfa deferiu requerimento administrativo para transposição de cargo
solicitado por João, o que fere a Constituição, a legalidade e súmula vinculante.

2) DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS:


2.1) Da Competência:
Compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar Reclamação Constitucional,
para preservação da sua competência e garantia da autoridade das suas decisões, conforme
artigo 102, inciso I, alínea “l”, da Constituição Federal e artigo 7º, caput, da Lei nº 11.417/2006.

2.2) Da Legitimidade:
O autor Mário é legitimado ativo, na qualidade de reclamante, tendo em vista ser parte
interessada, conforme artigo do 989, caput, do Código de Processo Civil.
O Prefeito do Município Alfa é um dos legitimados passivos, na qualidade de autoridade,
pois foi autor do ato que contrário à Súmula Vinculante do Supremo Tribunal Federal, devendo
apresentar informações.
Nos termos artigo do 989, inciso III, do Código de Processo Civil, deverá ser citado o João
da Silva, como beneficiário, para contestar, no prazo de 15 (quinze) dias.

2.3) Do Cabimento:
Cabe Reclamação ao Supremo Tribunal Federal, sem prejuízo dos recursos ou outros
meios admissíveis de impugnação da decisão judicial ou do ato administrativo que contrariar
enunciado de súmula vinculante, negar-lhe vigência ou aplicá-la indevidamente, considerando o
exaurimento da instância administrativa, conforme artigo 7º, parágrafo 1°, da Lei nº 11.417/2006,
artigo 102, inciso I, alínea “l” e Art. 103-A, § 3º, ambos da Constituição Federal e artigo 988,
inciso III, do Código de Processo Civil.

2.4) DO DIREITO
O Prefeito Municipal, ao deferir o requerimento administrativo, aplicou a Lei Municipal nº
123/2018 em detrimento da Constituição Federal, nos termos do Art. 37, inciso II, da CRFB/88,

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violou o princípio da legalidade, nos termos do Art. 37, caput, da CRFB/88 e ofensa à Súmula
Vinculante 43 do STF. Ocorre que a referida súmula aplica corretamente a Constituição Federal,
já que proíbe transposição de carreiras. A transposição de carreiras seria ofensa ao princípio do
concurso público, razão pela qual deve ser proibida e, portanto, a razão pela qual a Lei Municipal
é inconstitucional.

2.5) Do Pedido Liminar:


Estão comprovados os requisitos para o pedido liminar na presente reclamação, com base
no artigo 989, inciso II, do Código de Processo Civil. Probabilidade do direito, caracterizado pela
nítida afronta à Súmula Vinculante 43 do STF e perigo de dano irreparável, consistente no fato
de a validade do concurso estar prestes a expirar. Assim, restou configurado a probabilidade do
direito e o perigo de dano.

3) DOS PEDIDOS:
a) Que seja autuada, recebida a reclamação, devidamente instruída com prova
documental, devidamente dirigida ao presidente do tribunal e distribuída ao relator do processo
principal, conforme artigo 988, parágrafos 2º e 3º, do Código de Processo Civil;
b) Seja concedida a gratuidade de justiça;
c) A suspensão em caráter liminar da nomeação de João da Silva, nos termos do artigo
989, inciso II, do Código de Processo Civil, em evidente desconformidade com entendimento já
sumulado pelo Supremo Tribunal Federal na Súmula Vinculante nº 43, reconhecendo a
ilegalidade e inconstitucionalidade a presente nomeação;
d) A notificação da autoridade reclamada, Prefeito do Município Alfa, que poderá prestar
informações, conforme artigo 989, inciso I, do Código de Processo Civil, no prazo de 10 (dez)
dias;
e) A citação do beneficiário João da Silva para responder, nos termos do artigo 989, inciso
III, do Código de Processo Civil;
f) Vista ao Procurador-Geral da República por 5 (cinco) dias, após o decurso do prazo
para informações e para o oferecimento da contestação pelo beneficiário do ato impugnado, nos
termos do artigo 991, do Código de Processo Civil;
g) A produção de todas as provas em direito admitidas;
h) A condenação do beneficiário em honorários e custas;
i) A procedência da presente Reclamação para fins de tornar definitiva a liminar, para que
seja anulado o ato administrativo que deferiu a transposição do cargo de técnico administrativo

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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de nível médio para o de auditor administrativo de nível superior, nos termos do artigo 992, do
Código de Processo Civil, e 7°, parágrafo 2°, da Lei nº 11.417/06.

Valor da causa R$ ..., para efeitos procedimentais, nos termos dos artigos 291 e 319,
inciso V, do Código de Processo Civil.

Local..., data...
Advogado...
OAB...

72
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Recurso ordinário constitucional

Como o próprio nome diz, trata-se de recurso. Está previsto nos artigos 102, II, a e b e
artigo 105, II, a, b, e c, da CF. Cabe tanto para o STJ como para o STF.

1. Matéria de fato
Ao contrário do Recurso Especial e Extraordinário, o Recurso Ordinário examina matéria
de fato, sendo esta a razão de sua existência.

2. Cabimento
2.1 Cabimento para o STF (102, II, da CF)
O habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e o mandado de injunção
decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão; o crime
político.

2.2 Cabimento para o STJ (105, II, da CF):


Os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos Tribunais Regionais
Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão for
denegatória;
Os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais
Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a
decisão;
As causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de um
lado, e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País.
Muita atenção: A chave para identificar o recurso ordinário é a necessidade de reexame
de fato.
Há processos que são ajuizados diretamente nos tribunais superiores, como por exemplo,
o mandado de segurança contra ministro de Estado (art. 105, I, b). Mesmo que o mandado de
segurança implique prova pré-constituída, ele examina fatos.
Muito embora, via de regra, o Recurso Ordinário sirva para atacar decisões ou de um
tribunal de segundo grau ou de um tribunal superior, tem-se a competência do STF para julgar
ROCs de crimes políticos, os quais serão julgados em primeiro grau pelos juízes federais. O

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mesmo para a competência para o julgamento de recurso de causa envolvendo Estado ou


organismo internacional com Município ou pessoa física do STJ: o processo inicial perante um
juiz federal de primeiro grau porém salta diretamente ao STF ou STJ, conforme o caso.

3. Competência

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:
II - julgar, em recurso ordinário:
a) o habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e o mandado de injunção
decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão;
b) o crime político;

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


II - julgar, em recurso ordinário:
a) os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos Tribunais Regionais
Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão
for denegatória;
b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais
Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando
denegatória a decisão;
c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de um
lado, e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País;

Art. 1.027. Serão julgados em recurso ordinário:


I - pelo Supremo Tribunal Federal, os mandados de segurança, os habeas data e os
mandados de injunção decididos em única instância pelos tribunais superiores, quando
denegatória a decisão;
II - pelo Superior Tribunal de Justiça:
a) os mandados de segurança decididos em única instância pelos tribunais regionais
federais ou pelos tribunais de justiça dos Estados e do Distrito Federal e Territórios,
quando denegatória a decisão;
b) os processos em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo
internacional e, de outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País.
§ 1º Nos processos referidos no inciso II, alínea “b”, contra as decisões interlocutórias
caberá agravo de instrumento dirigido ao Superior Tribunal de Justiça, nas hipóteses do
art. 1.015 .
§ 2º Aplica-se ao recurso ordinário o disposto nos arts. 1.013, § 3º , e 1.029, § 5º .

Outra questão relevante refere-se ao cabimento em habeas corpus e mandado de


segurança:

Lei 8.038/90 - Institui normas procedimentais para os processos que específica, perante
o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal.

Art. 30 - O recurso ordinário para o Superior Tribunal de Justiça, das decisões


denegatórias de Habeas Corpus, proferidas pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos

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Tribunais dos Estados e do Distrito Federal, será interposto no prazo de cinco dias, com
as razões do pedido de reforma.

Art. 31 - Distribuído o recurso, a Secretaria, imediatamente, fará os autos com vista ao


Ministério Público, pelo prazo de dois dias.
Parágrafo único - Conclusos os autos ao relator, este submeterá o feito a julgamento
independentemente de pauta.

Art. 32 - Será aplicado, no que couber, ao processo e julgamento do recurso, o disposto


com relação ao pedido originário de Habeas Corpus.

Art. 33 - O recurso ordinário para o Superior Tribunal de Justiça, das decisões


denegatórias de mandado de segurança, proferidas em única instância pelos Tribunais
Regionais Federais ou pelos Tribunais de Estados e do Distrito Federal, será interposto
no prazo de quinze dias, com as razões do pedido de reforma.

4. Prazos

Para todos verem: imagem com o texto escrito: prazo


geral 15 dias, artigo 1.003, parágrafo 5º, do CPC e
habeas corpus, 5 dias, artigo 33, da Lei nº 8.038/90.

5. Recebimento
Conforme o art. 1.028, § 2º, do CPC, o “ROC” é interposto no tribunal de origem, sendo,
após o recebimento das contrarrazões, imediatamente enviado ao Tribunal competente para o
julgamento, sem exame dos requisitos de admissibilidade.

6. Resumo
Esqueleto da peça
Endereçamento Superior Tribunal de Justiça ou Supremo Tribunal Federal
Resumo dos fatos Decisão denegatória em Mandado de Segurança.
Peça Recurso Ordinário ou Recurso Ordinário Constitucional
Legitimidade ativa Recorrente
Legitimidade passiva Recorrido
Fundamentos STF= 102, II da CF ou STJ= 105, II da CF.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Pedido Reforma do acórdão a quo.


Requerimentos a) recebimento do recurso;
b) notificação para contrarrazões em 15 dias;
c) MP;
d) liminar;
e) provimento;
f) condenação em sucumbência.

6. Modelo
Exame de Ordem XXX - Peça profissional
Após a tramitação do respectivo processo administrativo, foi indeferido o pedido de
reconsideração formulado pela sociedade empresária WW, relativo à decisão proferida pelo
Secretário de Estado de Ordem Pública do Estado Alfa, que proibira a exploração de sua
atividade econômica. Essa atividade consistia no reparo e no conserto de veículos automotores,
sob a forma de unidade móvel, em que a estrutura da oficina, instalada em micro-ônibus, se
deslocava até o local de atendimento a partir de solicitação via aplicativo instalado em aparelhos
de computador ou de telefonia móvel.
Ao fundamentar a sua decisão originária, cujos argumentos foram reiterados no indeferimento
do pedido de reconsideração, o Secretário de Estado de Ordem Pública informou que embasara
o seu entendimento no fato de a referida atividade não estar regulamentada em lei. Nesse caso,
a Lei estadual nº 123/2018, que dispunha sobre suas competências, autorizava expressamente
que fosse vedada a sua exploração.
Por ver na referida decisão um verdadeiro atentado à ordem constitucional, a sociedade
empresária WW impetrou mandado de segurança contra o ato do Secretário de Estado perante
o Órgão Especial do Tribunal de Justiça, órgão jurisdicional competente para processá-lo e julgá-
lo originariamente, conforme dispunha a Constituição do Estado Alfa. Para surpresa da
impetrante, apesar de o Tribunal ter reconhecido a existência de prova pré-constituída
comprovando o teor da decisão do Secretário de Estado, a ordem foi indeferida, situação que
permaneceu inalterada até o exaurimento da instância ordinária. A situação se tornara
particularmente dramática na medida em que a proibição de exploração da atividade econômica
iria inviabilizar a própria continuidade da pessoa jurídica, que não conseguiria saldar seus débitos
e continuar atuando no mercado, o que exigiria a imediata demissão de dezenas de empregados.
A partir da narrativa acima, elabore a petição do recurso cabível contra a decisão proferida pelo
Tribunal de Justiça do Estado Alfa. (Valor: 5,00)
Obs.: a peça deve abranger todos os fundamentos de Direito que possam ser utilizados para dar
respaldo à pretensão. A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não confere

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pontuação.

Segue modelo de estruturação da peça de Recurso Ordinário Constitucional cobrada no


exame de Ordem XXX:

EXCELENTÍSSIMO DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTEDO TRIBUNAL DE JUSTIÇA


DO ESTADO ALFA
Processo nº...
SOCIEDADE EMPRESÁRIA WW, pessoa jurídica de Direito Privado, CNPJ nº..., com
domicílio na rua ..., bairro..., Município... insatisfeita com a decisão do Acórdão proferida nos
autos de nº... da ... Câmara deste Tribunal de Justiça que denegou mandado de segurança,
interpõe o presente RECURSO ORDINÁRIO, com fundamento no artigo 105, inciso II, alínea
“b”, da Constituição Federal, artigo 1.027, inciso II, alínea “a”, do Código de Processo Civil, contra
o SECRETÁRIO DE ESTADO DE ORDEM PÚBLICA, secretário de Estado, CPF nº ... , residente
e domiciliado na rua..., bairro... Município... DO ESTADO ALFA e o ESTADO ALFA, pessoa
jurídica de Direito Público, CNPJ nº..., com domicílio na rua ..., bairro..., Município..., cujas razões
seguem em anexo.

Requer o recebimento do presente Recurso Ordinário proposto no prazo legal de 15


(quinze) dias úteis, nos moldes do artigo 219 e 1.003, parágrafo 5º, ambos Código de Processo
Civil e a intimação da parte contrária para contrarrazões, no prazo de 15 (quinze) dias, conforme
artigo 1.028, parágrafo 2º, do Código de Processo Civil.
Requer a juntada das guias de preparo recursal, consoante artigo 1.007, do Código de
Processo Civil.
Após seja o recurso encaminhado ao Superior Tribunal de Justiça, nos termos do artigo
1.028, parágrafo 3º, do Código de Processo Civil.

Local..., data...
Advogado...
OAB...

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DO


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RECORRENTE: Sociedade Empresária WW


RECORRIDO: Secretário de Estado de Ordem Pública Estado Alfa
ORIGEM: Tribunal de Justiça do Estado Alfa
PROCESSO N°:

RAZÕES DE RECURSO ORDINÁRIO


EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

DOS FATOS

A Sociedade Empresária WW impetrou Mandado de Segurança no Tribunal de Justiça, juízo


originário para apreciação da causa, que, mesmo diante da liquidez do direito e da violação de
seus direitos constitucionais, denegou a ordem. Insurgindo-se contra a decisão do Tribunal de
Justiça é que se interpõem o presente recurso ordinário.

DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

2.1) Da Competência

Compete ao Superior Tribunal de Justiça apreciar em sede de recurso ordinário as decisões


denegatórias de mandado de segurança decidido em única instância do Tribunal de Justiça,
conforme o artigo 105, inciso II, alínea “b”, da Constituição Federal e 1.027 inciso II, alínea “a”,
do Código de Processo Civil.

2.2) Da Legitimidade

A recorrente, Sociedade Empresária WW, teve denegada a ordem em Mandado de Segurança


decidido em única instância pelo Tribunal de Justiça, razão pela qual é parte legítima para
interpor Recurso Ordinário. A legitimidade da recorrente decorre do fato de ser parte na relação
processual, enquanto o seu interesse processual está associado ao fato de não ter tido a sua
pretensão acolhida.

78
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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A legitimidade do Estado Alfa e do Secretário de Estado de Ordem Pública do Estado Alfa


decorre do fato de serem os titulares do direito envolvido.

2.3) Do Cabimento

Cabe Recurso Ordinário de decisões denegatórias de mandado de segurança decidido em


única instância do Tribunal de Justiça, com base no artigo 105, inciso II, alínea “b”, da
Constituição Federal e artigo 1.027 inciso II, alínea “a”, do Código de Processo Civil.

2.4) Do Direito

A lei estadual, na qual se embasou o Secretário de Estado, incursionou em matéria afeta ao


interesse local, de competência legislativa dos Municípios, nos termos do Artigo 30, inciso I,
da CRFB/88.

A lei estadual, ao permitir fosse vedado o exercício de uma atividade econômica por não estar
disciplinada em lei, afrontou a liberdade econômica, ressalvados os limitadores legais, nos
termos do Artigo 170, parágrafo único, da CRFB/88.

A lei estadual nº 123/2018 é formal e materialmente inconstitucional, devendo sua


inconstitucionalidade ser incidentalmente reconhecida.

O ato do Secretário de Estado violou direito líquido e certo da recorrente de explorar a atividade
econômica, o que justifica o acolhimento do mandado de segurança, nos termos do Artigo 5º,
inciso LXIX, da CRFB/88.

2.5) Efeito suspensivo ativo/liminar

Cabe o deferimento do efeito suspensivo ativo, pois estão presentes os requisitos fumus boni
iuris, pois a solidez do direito está expressa nos fundamentos de mérito e periculum in mora,
porque há o risco de ineficácia da medida final se a liminar não for deferida, tendo em vista a
urgência da situação, já que a vedação ao exercício de sua atividade econômica pode impedir
a continuidade da pessoa jurídica, devendo o Relator ou Presidente do Tribunal manifestarem-
se incontinenti sobre o tema, tudo nos termos do art. 1029, §5º e do art. 932, II, do CPC.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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3) DOS PEDIDOS

a) O recebimento do presente recurso;

b) A notificação ao Ministério Público para se manifestar nos autos;

c) A concessão de liminar para o deferimento de efeito suspensivo ativo ao recurso ordinário,


permitindo a continuidade do exercício da atividade econômica enquanto não apreciado o
mérito, nos termos do art. 1029, §5º e art. 932, II, do Código de Processo Civil;

d) Ao final, o provimento do recurso com a reforma do acórdão recorrido e a concessão da


ordem, atribuindo-se caráter definitivo à tutela liminar;

e) A condenação do recorrido nos ônus da sucumbência.

Nestes termos, pede deferimento.


Local..., data...
Advogado...
OAB...

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Recurso Extraordinário

1. Conceito
Além de ser um tribunal constitucional e político, o STF é um tribunal voltado à
preservação da supremacia da Constituição. Analisa, além disso, ações originárias e recursos
com discussão de fato. O caráter de preservador da supremacia constitucional é encontrado no
Recurso Extraordinário.
Trata-se de um recurso cuja finalidade é, precisamente, a manutenção da supremacia
constitucional. O STF não funciona nesse sentido, como uma terceira ou quarta instância
eventualmente, antes pelo contrário, exerce o papel de guarda da Constituição, manifestando-
se soberanamente sobre ela. Motivo pelo qual, não se pode dizer que os recursos extraordinários
são meios de reforma e conserto dos julgados pelas instâncias inferiores, em verdade, sua
preocupação deve ser com questões objetivas, extraídas da subjetividade da causa (Tavares,
André Ramos. Curso de Direito Constitucional).

2. Cabimento
As hipóteses de cabimento estão expressas no art. 102, III e alíneas:

Art. 102 da CF: Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:
(...)
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última
instância, quando a decisão recorrida;

3. Dicas de reconhecimento do recurso extraordinário:

➙ Artigo 102, inciso III, da CF.

➙ A alínea "a" é a reserva: Use para quando a situação não se amoldar a nenhuma das
outras alíneas.

➙ Alínea "b": Quando se declara a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal.

➙ Alínea "c": Quando a discussão é sobre lei municipal ou estadual.

➙ Alínea "d": Quando a discussão é sobre a competência constitucional do Estado ou


Município para editar determinada Lei, a qual afastaria lei federal.

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4. Objeto

➙ Contrariar dispositivo desta Constituição;


➙ Declarar a inconstitucionalidade de tratado ou Lei Federal;
➙ Julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição;

➙ Julgar válida lei local contestada em face de Lei Federal.

Súmula 279 - Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário.

5. Prazo
O prazo é o comum a todos os recursos, ou seja, 15 dias (art. 1.003, § 5º, do CPC).

Atenção!

Todas as situações poderiam ser resumidas como violação à Constituição.


No primeiro caso, a decisão contraria literalmente dispositivo na CF (lembrando que não pode ser
violação indireta, como ofensa à legalidade).
No segundo caso, algum tribunal inferior declarou a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal
(via concreta e difusa) – declaração esta que deverá ser confirmada pelo tribunal.
A terceira hipótese envolve situação em que o tribunal de origem julga válida lei local, isto é, lei
estadual ou municipal, a qual tem sua constitucionalidade contestada.
Finalmente, a última hipótese tem a ver com a competência para edição de determinados atos: o
tribunal verificará qual norma, se local ou federal, é constitucional observando as regras de
competência.
Note-se, portanto, que o Recurso Extraordinário é um recurso voltado à interpretação do Direito,

6. Onde se interpõe o Recurso Extraordinário?

Para todos verem: colunas que demonstram onde se interpõe o recurso


extraordinário, sendo a primeira com o título de petições de interposição, tendo como
texto: a petição de interposição será dirigida ao presidente do tribunal recorrido, seja
ela Tribunal de justiça, Tribunal Regional Federal ou Tribunal Superior do Trabalho.
Na segunda coluna o título é petição de razões, onde seu texto explica: art. 1.029, o
recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos na Constituição
Federal, serão interpostos perante o presidente ou o vice-presidente do tribunal
recorrido, em petições distintas.

82
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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7. O que deve conter na petição?


São requisitos usuais de qualquer recurso:

Art. 1.029 do CPC: O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos na
Constituição Federal, serão interpostos perante o presidente ou o vice-presidente do
tribunal recorrido, em petições distintas que conterão:
I - a exposição do fato e do direito;
II - a demonstração do cabimento do recurso interposto;
III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão recorrida.

O STF poderá desconsiderar certos vícios considerados leves nos recursos:

Art. 1.029 do CPC: O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos na
Constituição Federal, serão interpostos perante o presidente ou o vice-presidente do
tribunal recorrido, em petições distintas que conterão:
(...)
3o O Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça poderá desconsiderar
vício formal de recurso tempestivo ou determinar sua correção, desde que não o repute
grave.

Quando existir controvérsia unicamente de direito e possibilidade de tratamento não


isonômico pela variedade de decisões, será possível suscitar o incidente de resolução de
demandas repetitivas, sendo que o STF poderá estender a decisão a todo território nacional.

Art. 1.029 do CPC: O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos na
Constituição Federal, serão interpostos perante o presidente ou o vice-presidente do
tribunal recorrido, em petições distintas que conterão:
(...)
§ 4º Quando, por ocasião do processamento do incidente de resolução de demandas
repetitivas, o presidente do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça
receber requerimento de suspensão de processos em que se discuta questão federal
constitucional ou infraconstitucional, poderá, considerando razões de segurança jurídica
ou de excepcional interesse social, estender a suspensão a todo o território nacional, até
ulterior decisão do recurso extraordinário ou do recurso especial a ser interposto.

8. Possibilidade de efeito suspensivo


Será possível efeito suspensivo (isto é, obter o resultado do recurso, ao evitar-se que a
decisão recorrida produza efeitos), requerendo-se tanto ao tribunal a quo como ao STF, a
depender do momento.

Art. 1.029 do CPC (...)


§ 5° O pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário ou a recurso
especial poderá ser formulado por requerimento dirigido:
I – ao tribunal superior respectivo, no período compreendido entre a publicação da decisão
de admissão do recurso e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame
prevento para julgá-lo;
II – ao relator, se já distribuído o recurso;

83
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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III – ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, no período compreendido


entre a interposição do recurso e a publicação da decisão de admissão do recurso, assim
como no caso de o recurso ter sido sobrestado, nos termos do art. 1.037.

9. Procedimentos
Recebida a petição de recurso no Tribunal a quo, o recorrido será intimado para
apresentar contrarrazões, no mesmo prazo para a interposição do recurso. O Presidente ou Vice
do Tribunal a quo terá poderes para negar seguimento a recurso, nas hipóteses das alíneas a e
b do inciso I do artigo 1.030, do CPC. Desta decisão cabe agravo.
Caso o Presidente ou Vice note que a decisão recorrida contraria entendimento do STF,
fará o processo voltar ao órgão julgador (turma ou câmara). Desta decisão cabe agravo interno.

Art. 1.030 do CPC (...)


II – encaminhar o processo ao órgão julgador para realização do juízo de retratação, se o
acórdão recorrido divergir do entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior
Tribunal de Justiça exarado, conforme o caso, nos regimes de repercussão geral ou de
recursos repetitivos;

Poderá, finalmente, sobrestar o recurso. Desta decisão também cabe agravo.

III – sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repetitivo ainda não
decidida pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme se
trate de matéria constitucional ou infraconstitucional;

Finalmente, o Presidente ou Vice despachará o recurso nas seguintes situações:

IV – selecionar o recurso como representativo de controvérsia constitucional ou


infraconstitucional, nos termos do § 6º do art. 1.036;
V – realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao Supremo Tribunal
Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça, desde que o recurso ainda não tenha sido
submetido ao regime de repercussão geral ou de julgamento de recursos repetitivos, o
recurso tenha sido selecionado como representativo da controvérsia;
c) o tribunal recorrido tenha refutado o juízo de retratação.
§ 1º Da decisão de inadmissibilidade proferida com fundamento no inciso V caberá agravo
ao tribunal superior, nos termos do art. 1.042
§ 2º Da decisão proferida com fundamento nos incisos I e III caberá agravo interno, nos
termos do art. 1.021.

10. A possibilidade de interposição conjunta


Ao contrário da regra da unirrecorribilidade das decisões, no caso dos recursos especial
e extraordinário, é possível a interposição conjunta quando a decisão recorrida emanada advier
de tribunal de segundo grau. Neste caso, obedecerá ao seguinte regime jurídico:

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Art. 1.031 do CPC: Na hipótese de interposição conjunta de recurso extraordinário e


recurso especial, os autos serão remetidos ao Superior Tribunal de Justiça.
§ 1o Concluído o julgamento do recurso especial, os autos serão remetidos ao Supremo
Tribunal Federal para apreciação do recurso extraordinário, se este não estiver
prejudicado.
§ 2o Se o relator do recurso especial considerar prejudicial o recurso extraordinário, em
decisão irrecorrível, sobrestará o julgamento e remeterá os autos ao Supremo Tribunal
Federal.
§ 3o Na hipótese do § 2o, se o relator do recurso extraordinário, em decisão irrecorrível,
rejeitar a prejudicialidade, devolverá os autos ao Superior Tribunal de Justiça para o
julgamento do recurso especial.

Art. 1.032 do CPC: Se o relator, no Superior Tribunal de Justiça, entender que o recurso
especial versa sobre questão constitucional, deverá conceder prazo de 15 (quinze) dias
para que o recorrente demonstre a existência de repercussão geral e se manifeste sobre
a questão constitucional.
Parágrafo único. Cumprida a diligência de que trata o caput, o relator remeterá o recurso
ao Supremo Tribunal Federal, que, em juízo de admissibilidade, poderá devolvê-lo ao
Superior Tribunal de Justiça.

Hipótese de ofensa reflexa, ou seja, quando pressupor revisão da interpretação do tratado


ou lei federal.
Como mencionado anteriormente, não cabe RE por ofensa reflexa à Constituição. Em tais
casos, o STF remeterá o RE como REsp ao STJ.

Art. 1.033 do CPC: Se o Supremo Tribunal Federal considerar como reflexa a ofensa à
Constituição afirmada no recurso extraordinário, por pressupor a revisão da interpretação
de lei federal ou de tratado, remetê-lo-á ao Superior Tribunal de Justiça para julgamento
como recurso especial.

• Repercussão geral
Na petição de razões e não na de interposição, o recorrente deverá demonstrar a
repercussão geral, ou seja, porque o julgamento daquele recurso é importante não só para as
partes, mas também para a sociedade, com base em argumentos jurídicos, econômicos, políticos
ou sociais. A decisão que não conhece recurso no que toca à repercussão geral é irrecorrível.
A repercussão geral é um dos requisitos de admissibilidade do recurso extraordinário que
tem por objetivo restringir o acesso ao STF, restringindo-o analisar casos de flagrante cunho
constitucional e que tenham a relevância econômica, jurídica e social.

Conceito:
Por sua vez, para Sarlet, Marinoni e Mitidiero (2012), o conceito de repercussão foca-se
no binômio relevância da controvérsia constitucional e transcendência da questão debatida.
Assim, a questão constitucional levada a julgamento por meio do recurso extraordinário terá seu

85
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conhecimento subordinado à alegação de questões relevantes sob o ponto de vista econômico,


social, político ou jurídico. Além disso, a questão deve ultrapassar o âmbito do interesse subjetivo
das partes, ou seja, deve ser transcendente.
Para Morais (MORAIS, Dalton Santos. Controle de constitucionalidade):

A maior discricionariedade concedida ao STF para análise dos recursos extraordinários


com repercussão geral no interesse público assemelha-se aos mecanismos do Direito
comparado, que visam permitir uma maior seleção, por parte da Corte Suprema ou do
Tribunal Constitucional, dos recursos a serem julgados, pela importância da matéria e
repercussão da decisão no interesse geral da sociedade, impedindo que o excesso de
demandas atrapalhe o Supremo Tribunal Federal no cumprimento de sua grave missão
de intérprete e guardião maior da Constituição.

“Trata-se de requisito intrínseco de admissibilidade recursal: não havendo repercussão


geral, não existe poder de recorrer ao Supremo Tribunal Federal”.

Objetivos:

➙ Diminuição dos números de recurso extraordinário;

➙ Ampliar seus efeitos em nome da concretização constitucional;

➙ Reservar a atuação da Corte apenas para os casos detenham relevância para a ordem
constitucional.

Críticas:
Não há critérios e nem controle do que é declarado como repercussão geral.
O recurso extraordinário tem gerado a chamada jurisprudência defensiva, que visando a
diminuir o número de demandas, tem-se fixado em aspectos formais:

Para todos verem: imagem que soma relevância com transcendência, dando como resultado a repercussão geral.

Art. 1.035 do CPC: O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não conhecerá
do recurso extraordinário quando a questão constitucional nele versada não tiver
repercussão geral, nos termos deste artigo.
§ 1o Para efeito de repercussão geral, será considerada a existência ou não de questões
relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassem os
interesses subjetivos do processo.
§ 2o O recorrente deverá demonstrar a existência de repercussão geral para apreciação
exclusiva pelo Supremo Tribunal Federal.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Casos em que a repercussão geral já é pressuposta (§ 3o)


São casos que contrariam súmula ou jurisprudência dominante do Supremo Tribunal
Federal; tenham reconhecido a inconstitucionalidade de tratado ou de Lei Federal, nos termos
do art. 97, da Constituição Federal.

§ 4o O relator poderá admitir, na análise da repercussão geral, a manifestação de terceiros,


subscrita por procurador habilitado, nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal
Federal.

Quanto ao quórum da repercussão geral:


Somente poderá ser recusada por 2/3 dos ministros, ou seja, oito (8) votos contrários à
repercussão geral.
No caso de apreciação pela turma: quórum e o momento em que é apreciada a
repercussão geral o relator, se admitir o recurso extraordinário o levará para a Turma, que
decidirá pela existência da repercussão com, no mínimo, 4 votos a favor. Disso denota-se que a
legislação não exige que o Plenário analise o requisito da repercussão geral.
Decisão do STF: Em questão de ordem no RE 584.247 - A repercussão geral pode ser
revista se só tiver sido reconhecida devido à ausência de quórum para recusá-la.

Efeito (ou seja, reconhecer a repercussão geral no recurso extraordinário mudou os


efeitos do próprio recurso extraordinário):
Quanto ao efeito das decisões do STF em recurso extraordinário: a postura anterior era a
de que o “não reconhecimento da repercussão geral de determinada questão tem efeito
panprocessual, no sentido de que se espraia para além do processo em que fora acertada a
inexistência de relevância e transcendência da controvérsia levada ao Supremo Tribunal Federal.
(MARINONI; MITIDIERO, 2012, p. 62)”, e para ter efeito erga omnes, era necessário a
comunicação ao Senado para que ele suspendesse a eficácia da norma declarada
inconstitucional em decisão do STF em recurso extraordinário, logo, no controle difuso. Recente
mudança de posicionamento do STF a partir do julgamento da ADI 3406/RJ e ADI 3470/RJ o
Supremo entendeu que os efeitos das decisões do pleno do STF nos recursos extraordinários
serão erga omnes, ou seja, uma verdadeira abstrativização do controle difuso de
constitucionalidade em uma decisão marcada pela mutação constitucional no posicionamento do
STF acerca da interpretação atribuída ao art. 52, X, da Constituição Federal!
Consequência do reconhecimento da repercussão geral: suspensão do
processamento de todos os processos que versem sobre a matéria.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Uma vez reconhecida a repercussão geral sobre a matéria, todos os demais processos
pendentes que versarem sobre matéria ficarão suspensos.

§ 5o Reconhecida a repercussão geral, o relator no Supremo Tribunal Federal determinará


a suspensão do processamento de todos os processos pendentes, individuais ou
coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no território nacional.

Alguns dispositivos importantes:

§ 6o O interessado pode requerer, ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal de


origem, que exclua da decisão de sobrestamento e inadmita o recurso extraordinário que
tenha sido interposto intempestivamente, tendo o recorrente o prazo de 5 (cinco) dias para
manifestar-se sobre esse requerimento.
§ 7º Da decisão que indeferir o requerimento referido no § 6º ou que aplicar entendimento
firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de recursos repetitivos caberá
agravo interno.

O que ocorre se negar a repercussão geral?


Acaso negada a repercussão geral, o Presidente ou Vice no Tribunal a quo negará
seguimento a todos os demais que versarem sobre idêntica matéria.

§ 8o Negada a repercussão geral, o presidente ou o vice-presidente do tribunal de origem


negará seguimento aos recursos extraordinários sobrestados na origem que versem sobre
matéria idêntica.

Se reconhecida a repercussão geral?


Caso reconhecida a repercussão geral, este terá uma espécie de preferência no
julgamento.

§ 9o O recurso que tiver a repercussão geral reconhecida deverá ser julgado no prazo de
1 (um) ano e terá preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu
preso e os pedidos de habeas corpus.
(...) § 11. A súmula da decisão sobre a repercussão geral constará de ata, que será
publicada no diário oficial e valerá como acórdão.

Repercussão implícita
Também é possível que a repercussão geral seja admitida tacitamente, pois, de acordo
com o art. 324 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, os Ministros têm o prazo de
20 (vinte) dias para se manifestarem a respeito. Se após decorrido este prazo não se verificar
manifestações de quatro Ministros suficientes para a recusa da repercussão geral, esta é
admitida tacitamente.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Jurisprudência do STF
Cabe amicus curiae:

Amicus curiae. Jurisdição constitucional e legitimidade democrática. O STF como


"mediador entre as diferentes forças com legitimação no processo constitucional" (Gilmar
Mendes). Possibilidade da intervenção de terceiros, na condição de amicus curiae, em
sede de recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida. Necessidade,
contudo, de preenchimento, pela entidade interessada, do pré-requisito concernente à
representatividade adequada. Doutrina. Condição não ostentada por pessoa física ou
natural. Consequente inadmissibilidade de seu ingresso, na qualidade de amicus curiae,
em recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida. [RE 659.424, rel.
min. Celso de Mello, decisão monocrática, j. 9-12-2013, DJE de 13-12-2013.]

Se o relator se manifesta no sentido do caráter infraconstitucional da matéria e o plenário


se omite, presume-se a ausência de repercussão geral.

Nos termos do art. 324, § 2º, do RISTF, na hipótese em que o relator, ao se manifestar
sobre a repercussão geral do tema versado no extraordinário, declare que a matéria tratada
no recurso possui caráter infraconstitucional, a ausência de pronunciamento expresso dos
ministros desta Corte no Plenário virtual implica a presunção de manifestação pela
ausência de repercussão geral. [RE 676.924 RG-ED, rel. min. Ricardo Lewandowski, j. 19-
6-2013, P, DJE de 1º-7-2013.]

Mesmo que exista repercussão geral sobre determinada matéria, a parte não está eximida
de fundamentar a repercussão geral de seu recurso.
Questão de ordem resolvida no sentido de que o reconhecimento, pelo STF, da presença
da repercussão geral da questão constitucional em determinado processo não exime os
demais recorrentes do dever constitucional e processual de apresentar a preliminar
devidamente fundamentada sobre a presença da repercussão geral (§ 3º do art. 102 da
CR e § 2º do art. 543-A do CPC). [ARE 663.637 AgR-QO, rel. min. Ayres Britto, j. 12-9-
2012,P, DJE de6-5-2013.]

Atenção a não suspensão ou interrupção do prazo do artigo 1.030, inciso I e V, do Código


de Processo Civil:

Informativo 886 do STF: “Os embargos de declaração opostos contra a decisão de


presidente do tribunal que não admite recurso extraordinário não suspendem ou
interrompem o prazo para interposição de agravo, por serem incabíveis”. STF. 1ª Turma.
ARE 688776 ED/RS e ARE 685997 ED/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgados em 28/11/2017

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Resumo:
Competência Supremo Tribunal Federal.
Peça de interposição: Excelentíssimo Senhor Desembargador Presidente do
Endereçamento Egrégio Tribunal de Justiça do Estado... (variável, conforme a decisão
recorrida).
Excelentíssimo Senhor Doutor Ministro Presidente do Colendo Supremo
Razões recursais
Tribunal Federal.
Legitimidade ativa: qualquer demandante que verificar que a decisão judicial
da sua decidida em única ou última instancia, contraria um ou vários
Partes
dispositivos do artigo 102, III, ‘’a” e “d”, da Constituição Federal.
Legitimidade passiva: da parte oposta na causa que se benefício da decisão.
Demonstrar a decisão recorrida: contrariou dispositivo da constituição;
Causa de pedir declarou a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; julgo validade lei
ou ato de governo local contestado em face de lei federal.
Conhecimento e provimento do recurso para reforma integral da decisão
Pedido
recorrida.

Modelo:
Exame de Ordem XII - Peça profissional
Após mais de 40 (quarenta) dias de intensa movimentação popular, em protestos que chegaram
a reunir mais de um milhão de pessoas nas ruas de diversas cidades do Estado, e que
culminaram em atos de violência, vandalismo e depredação de patrimônio público e particular, o
Governador do Estado X edita o Decreto nº 1968.
A pretexto de disciplinar a participação da população em protestos de caráter público, e de
garantir a finalidade pacífica dos movimentos, o Decreto dispõe que, além da prévia comunicação
às autoridades, o aviso deve conter a identificação completa de todos os participantes do evento,
sob pena de desfazimento da manifestação. Além disso, prevê a revista pessoal de todos, como
forma de preservar a segurança dos participantes e do restante da população.
Na qualidade de advogado do Partido Político “Frente Brasileira Unida”, de oposição ao
Governador, você ajuizou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, perante o Tribunal de
Justiça do Estado X, alegando a violação a normas da Constituição do Estado referentes a
direitos e garantias individuais e coletivos (que reproduzem disposições constantes da
Constituição da República).
O Plenário do Tribunal de Justiça local, entretanto, por maioria, julgou improcedente o pedido
formulado, de declaração de inconstitucionalidade dos dispositivos do Decreto estadual, por
entender compatíveis as previsões constantes daquele ato com a Constituição do Estado, na
interpretação que restou prevalecente na corte. Alguns dos Desembargadores registraram em
seus votos, ainda, a impossibilidade de propositura de ação direta tendo por objeto um decreto

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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estadual.
Entendendo que a decisão da corte estadual, apesar de não conter obscuridade, omissão ou
contradição, foi equivocada, e que não apenas as disposições do Decreto são inconstitucionais
como também a própria interpretação dada pelo Tribunal de Justiça é incompatível com o
ordenamento jurídico nacional, os dirigentes do Partido pedem que você proponha a medida
judicial cabível a impugnar aquela decisão.
Elabore a peça judicial adequada. (Valor: 5,0)

Segue modelo de estruturação da peça de Recurso Extraordinário cobrado no exame de Ordem


XII:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL


DE JUSTIÇA DO ESTADO ...

PARTIDO POLÍTICO “FRENTE BRASILEIRA UNIDA”, pessoa jurídica de direito privado,


inscrito no CNPJ sob o nº ..., endereço eletrônico ..., com sede na Rua ..., nº ..., Cidade...,
Estado..., CEP..., por seu advogado, procuração em anexo, nos termos do artigo 287, do
Código de Processo Civil, com endereço eletrônico..., escritório profissional na Rua ..., nº ...,
Cidade..., Estado..., CEP..., local onde recebe intimações, diante de decisão desfavorável
proferida pelo Tribunal de Justiça do Estado, perante este órgão a quo, vem interpor o presente
RECURSO EXTRAORDINÁRIO, com base no artigo 102, inciso III, alínea “a” e “c”, da
Constituição Federal, e 1.029, do Código de Processo Civil, em face da GOVERNADOR DO
ESTADO ..., nacionalidade..., estado civil..., inscrito no CPF sob o n°..., portador do RG n°...,
endereço eletrônico, residente e domiciliado na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado...,
CEP...

Foi intimado em ..., apresenta seu recurso no prazo legal de 15 (quinze) dias úteis, a saber em
..., conforme a regra do artigo 1.003, parágrafo 5º, do Código de Processo Civil.

Requer a intimação do Recorrido para contrarrazoar, no prazo de 15 (quinze) dias, conforme


art. 1.030 do código de Processo Civil.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Requer o deferimento de efeito devolutivo e suspensivo ativo, nos termos do artigo 932, II, e
1.029, § 5º, ambos do Código de Processo Civil. Comprova o pagamento das custas de porte
de remessa e retorno, nos termos do artigo 1.007, do Código de Processo Civil.

Após requer o envio dos autos ao Supremo Tribunal Federal.

Local..., data...
Advogado... OAB...

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL


FEDERAL

Processo nº:...
Recorrente: Partido Político “Frente Brasileira Unida”
Recorrido: Governador do Estado X

RAZÕES DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO

1) DOS FATOS:
O Tribunal de Justiça X decidiu, em sede de Ação Direta de Inconstitucionalidade
Estadual, que o Decreto Estadual n° 1968 não fere a Constituição do Estado, apesar de clara
violação à norma de repetição obrigatória e dispositivos expressos da Constituição.

2) DO DIREITO:
2.1) Da Tempestividade:
O recorrente foi a intimado em ... Desta forma, apresenta seu recurso no prazo legal de
15 (quinze) dias úteis, conforme a regra do artigo 1.003, parágrafo 5º, do Código de Processo
Civil.

2.2) Da Competência:
Compete ao Supremo Tribunal Federal o julgamento de Recurso Extraordinário quando
decisão de última ou única instância contrariar dispositivo da Constituição Federal, com base no
artigo 102, inciso III, da Constituição Federal.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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2.3) Da Legitimidade:
O recorrente Partido Político “Frente Brasileira Unida” é legitimado para o ajuizamento da
representação de inconstitucionalidade estadual e, como foi sucumbente, mantém a legitimidade
para recorrer. A parte passiva é o Governador do Estado ..., por ser o responsável pela edição
do Decreto violador.

2.4) Do Cabimento:
Cabe recurso extraordinário contra decisão em Representação de Inconstitucionalidade
com base no artigo 102, inciso III, alínea “a” e “c”, da Constituição Federal, e artigo 1.029, inciso
II, do Código de Processo Civil, uma vez que o acórdão a quo considerou válido decreto local
em clara violação à norma de repetição obrigatória e dispositivos expressos da Constituição.

2.5) Da Repercussão Geral:


Há a presença de repercussão geral, nos termos dos artigos 102, parágrafo 3º, da
Constituição Federal, e 1.035, parágrafo 3°, inciso I, do Código de Processo Civil, uma vez que
a causa transcende as partes e apresenta relevância econômica, política, social ou jurídica.

2.6) Do Prequestionamento:
A matéria foi devidamente prequestionada, uma vez que a causa versava sobre a violação
o princípio da legalidade, razoabilidade e proporcionalidade. Violava também o direito à liberdade
de reunião, previsto no artigo 5º, inciso XVI, da Constituição Federal, a liberdade de pensamento,
descrito no artigo 5º, inciso IV, da Constituição Federal, atendendo assim ao requisito do artigo
1.025, do Código de Processo Civil, tendo sido a matéria amplamente discutida nos julgamentos
anteriores.

2.7) Do Direito (Inconstitucionalidade do Decreto):


O decreto impugnado viola o princípio da legalidade, na formulação do artigo 5º, inciso II,
da Constituição da República, uma vez que não se pode criar restrição a direito senão em virtude
de lei.
O decreto viola o artigo 5º, inciso XVI da Constituição Federal, o qual assegura o direito
de reunião em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não
frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido
prévio aviso à autoridade competente. Ou seja, qualquer outra exigência que venha a ser

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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formulada como condição de exercício do direito é inconstitucional.


Ainda ocorre a violação ao artigo 5º, inciso IV, da Constituição Federal, que trata do
princípio da liberdade de expressão.
Por fim, deve ser indicada a violação ao princípio da razoabilidade e proporcionalidade,
pois, ainda que se entendesse possível a restrição ao direito de reunião, a restrição veiculada
pelo decreto, no caso analisado, falha nos subprincípios da necessidade que impõe a utilização,
dentre as possíveis, da medida menos gravosa para atingir determinado objetivo e da
proporcionalidade em sentido estrito que impõe a análise da relação custo/benefício da norma
avaliada, de modo que o ônus imposto pela norma seja inferior ao benefício por ela engendrado,
sob pena de inconstitucionalidade.

2.8) Do efeito suspensivo ativo/Liminar


Efeito suspensivo ativo/liminar
Cabe o deferimento do efeito suspensivo ativo, uma vez presentes a probabilidade do
direito e o perigo de dano, nos termos do art. 932, II, e 1029, §5º do CPC.

3) PEDIDOS:
a) O recebimento do presente recurso extraordinário;
b) A intimação do Ministério Público ou interessado para se manifestar, conforme artigo
1.030, do Código de Processo Civil;
c) A concessão de efeito suspensivo para fins de invalidar a eficácia do Decreto n° 1968,
conforme artigo art. 932, II, e 1029, §5º do Código de Processo Civil;
d) O conhecimento e provimento do recurso para julgar procedente a ação direta proposta
no plano estadual com a declaração da inconstitucionalidade da norma estadual Decreto n° 1968;
e) A condenação da parte ex adversa nos eventuais ônus da sucumbência e demais
despesas judiciais.

Local..., data...
Advogado...
OAB...

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Controle de Constitucionalidade

Inicialmente, vejamos algumas formas de diferenciar violações à Constituição Federal,


propostas por André Ramos Tavares, no Curso de Direito Constitucional:
a) violação das normas constitucionais para fins de recurso extraordinário: a Constituição,
nesse caso, refere-se a “contrariar dispositivo desta Constituição” (art. 102, III, a) e não à
“inconstitucionalidade”;
b) violação da Constituição para fins de cabimento da ação direta de intervenção: o Texto
Magno traz, por ocasião do tratamento da representação interventiva, a noção de “não
observância” dos princípios constitucionais sensíveis, no sentido inverso da expressão do art.
34: “A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: [...] VII - assegurar
a observância dos seguintes princípios constitucionais [...]”.
c) violação da Constituição para fins de cabimento das ações do controle abstrato: a
Constituição brasileira refere-se à inconstitucionalidade apenas quando trata da ação direta
genérica, da ação direta por omissão e da ação declaratória. É por isso que a
inconstitucionalidade tem sido associada aos atos normativos ou omissões, como os únicos
comportamentos capazes de desencadeá-la.
d) violação da Constituição para fins de cabimento de ADPF: a Constituição (combinada
com a Lei de Regência) alude a descumprimento de preceito fundamental por ato do Poder
Público.

Não se admite inconstitucionalidade superveniente, conforme decisão do STF:

Em nosso ordenamento jurídico, não se admite a figura da constitucionalidade


superveniente. Mais relevante do que a atualidade do parâmetro de controle é a
constatação de que a inconstitucionalidade persiste e é atual, ainda que se refira a
dispositivos da CF que não se encontram mais em vigor. Caso contrário, ficaria
sensivelmente enfraquecida a própria regra que proíbe a convalidação. A jurisdição
constitucional brasileira não deve deixar às instâncias ordinárias a solução de problemas
que podem, de maneira mais eficiente, eficaz e segura, ser resolvidos em sede de controle
concentrado de normas. A Lei estadual 12.398/1998, que criou a contribuição dos inativos
no Estado do Paraná, por ser inconstitucional ao tempo de sua edição, não poderia ser
convalidada pela EC 41/2003. E, se a norma não foi convalidada, isso significa que a sua
inconstitucionalidade persiste e é atual, ainda que se refira a dispositivos da CF que não
se encontram mais em vigor, alterados que foram pela EC 41/2003. Superada a preliminar
de prejudicialidade da ação, fixando o entendimento de, analisada a situação concreta,
não se assentar o prejuízo das ações em curso, para evitar situações em que uma lei que
nasceu claramente inconstitucional volte a produzir, em tese, seus efeitos, uma vez

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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revogada as medidas cautelares concedidas já há dez anos.[ADI 2.158 e ADI 2.189, rel.
min. Dias Toffoli, j. 15-9-2010, P, DJE de 16-12-2010.]

1. Notas sobre o histórico do controle de constitucionalidade

Para todos verem: colunas com detalhes em azul, na primeira coluna


escrito como título Difuso, e o texto: 1803- Caso Marbury X Madisson
– Constituição dos Estados Unidos. Teve como marco famoso
julgamento do caso Marbury versus Madisson, em um julgamento
conduzido pelo então Juiz Presidente Marschall, que, por sua vez,
entendeu que deveria haver, nos casos concretos, o respeito da
Constituição do Estado: “Juiz Marschall da Suprema Corte Americana
afirmou que é próprio da atividade jurisdicional interpretar e aplicar a
lei. E ao fazê-lo, em caso de contradição entre a legislação e a
Constituição, o tribunal deve aplicar esta última por ser superior a
qualquer Lei ordinária do Poder Legislativo” (MORAIS, Dalton.
Controle de Constitucionalidade). Nesse caso, possibilitou-se a
qualquer instância judicial com a incumbência de julgar um caso em
concreto, o poder – dever de decidir a respeito da aplicação de
determinada lei se a entender divergente da ordem constitucional em
vigor. Na segunda coluna, como título concentrado. O texto fala:
Debate Kelsen versus Schmidt, 1932, quem é o guardião da
Constituição? O cenário é o século XIX e XX e sua gritante diferença
da realidade política social da realidade constitucional da época,
quando duas propostas surgem sobre a quem incumbiria o papel de
guardar a Constituição: Kelsen propõe um Tribunal Constitucional
buscando preservar um sistema de liberdades bem como o
cumprimento do estabelecido na constituição, objetivando garantir sua
função de lei maior do ordenamento jurídico. Schmidt em oposição a
proposta de Kelsen, defende que a função judicial serão tão somente
a decisão de casos em razões das leis e não a discussão de seu
conteúdo, devendo limitar a subsumir os fatos a norma, e não se
aventurar na atividade criativa de interpretação constitucional.

2. Histórico das Constituições brasileiras

1824 – Constituição imperial: não houve referência ao controle de constitucionalidade.


Contudo, o artigo 98 previa a figura do poder moderador.

1891 – Constituição dos Estados Unidos do Brasil: inspirada no modelo norte-


americano, previu expressamente o modelo difuso de constitucionalidade. Teve referência ainda
na Constituição Provisória de 1890, em seu artigo 58, §1º, a e b. Ressalta-se que, na redação
do art. 3º do Decreto nº 848/1890, ficou estabelecido que a magistratura federal somente poderia
intervir na espécie, para guardar a Constituição e as leis nacionais, bem como garantir sua
aplicação se a parte assim provocasse, propiciando, assim, o julgamento do incidente de

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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inconstitucionalidade. O artigo 9º, parágrafo único, a e b, previa o controle das leis estaduais ou
federais.

A Lei de nº 221, de 20/11/1894, veio a explicitar, ainda mais, o sistema judicial de controle
de constitucionalidade, consagrando no art. 13, § 10 a seguinte cláusula: Os Juízes e
tribunais apreciarão a validade das leis e regulamentos e deixarão de aplicar aos casos
ocorrentes as leis manifestamente inconstitucionais e os regulamentos manifestamente
incompatíveis com as leis ou com a constituição. (MENDES)

1934 – Significativas mudanças: especialmente por trazer o quórum especial para as


votações sobre constitucionalidade das leis, em seu artigo 179, criou-se a regra que permanece
até hoje - a exigência da maioria absoluta, vale dizer da totalidade dos membros dos Tribunais,
para que se reconheça a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo. Ação direta
interventiva, de responsabilidade do Procurador Geral; a destinação ao Senado Federal da
responsabilidade para suspender a execução, no todo ou em parte, de lei ou ato declarado
inconstitucional face decisão definitiva. O artigo 68 vedava ao Poder Judiciário o conhecimento
de questões exclusivamente políticas; e ao Senado Federal incumbia o exame dos regulamentos
exarados pelo Poder Legislativo, considerando suas respectivas leis, suspendendo a execução
do que estivesse em contrariedade a lei, face ao disposto no artigo 91, II. (MENDES)

1937 – Um verdadeiro retrocesso na história constitucional brasileira: mantendo o


texto no tocante ao controle de constitucionalidade, velou a supremacia do Presidente e do
Parlamento, que poderiam reavaliar as leis declaradas inconstitucionais, enfraquecendo
significativamente o controle judicial. O remédio constitucional do mandado de segurança perdeu
seu status constitucional, passando a ser regulado por lei ordinária.

Embora não tenha introduzido qualquer modificação no modelo difuso de controle (art.
101, III, b e c), preservando inclusive, a exigência do quórum especial para a declaração
de inconstitucionalidade (art. 96), o constituinte rompeu com a tradição jurídica brasileira,
consagrado, no art. 96, parágrafo único, princípio segundo o qual, no caso de ser
declarada a inconstitucionalidade de uma lei que, a juízo do Presidente da República, seja
necessária ao bem-estar do povo, à promoção ou defesa de interesse nacional de alta
monta, poderia o Chefe do Executivo submetê-la novamente ao Parlamento. Confirmada
a validade da lei por 2/3 de votos em cada uma das Câmaras, tornava-se insubsistente a
decisão do Tribunal. (MENDES)

1946 - Previu o controle judicial pelo recurso extraordinário (via difusa) disciplinando-
o no artigo 101, III; manteve a necessidade de maioria absoluta dos membros do Tribunal para
a decisão declaratória de inconstitucionalidade; manteve o poder do Senado Federal para
suspender a execução da lei considerada inconstitucional pelo STF. Ampliou-se

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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significativamente a utilização da arguição direta de inconstitucionalidade de representação pelo


Procurador-Geral da República.

1965 – Momento importante: a Emenda Constitucional nº 16 de 1965 introduziu o


controle concentrado/abstrato de normas no país, através da outorga do monopólio da chamada
“representação de inconstitucionalidade” de lei federal ou estadual em face da Constituição ao
Procurador-Geral da República. A Constituição de 1988 realizou uma série de modificações no
sistema constitucional, de forma a prever ações de controle abstrato/concentrado de normas,
mas mantendo a convivência entre as vias difusa e concentrada de controle de controle de
constitucionalidade. (MORAIS). Contudo, previa que somente os Tribunais poderiam declarar a
inconstitucionalidade por maioria absoluta dos seus membros, muito embora qualquer juiz
pudesse declarar a inconstitucionalidade.

1967 - A representação para fins de intervenção, cofiada ao Procurador-Geral da


República, foi ampliada, com o objetivo de assegurar não só a observância dos chamados
princípios sensíveis (art. 10, VII), mas também prover a execução de lei federal (art. 10, VI, 1ª
parte). A competência para suspender o ato estadual foi transferida para o Presidente da
República (art. 11, §2º). Preservou-se o controle de constitucionalidade in abstracto, tal como
estabelecido pela Emenda nº 16/65, porém não incorporou a referida emenda no que tange à
permissão de criação do processo de competência originária dos Tribunais de Justiça dos
Estados, para declaração de lei ou ato dos Municípios que contrariassem as Constituições dos
Estados. A emenda nº 01/69 previu, expressamente, o controle de constitucionalidade de Lei
Municipal, em face da Constituição Estadual, para fins de intervenção no Município (art. 15, § 3º,
d). (MENDES)

1988 - Divisor de águas, pois ampliou significativamente o controle concentrado e, na


prática, tem-se assistido a uma aproximação dos dois controles de constitucionalidade (o que
será discutido mais adiante); inspirada no modelo da Constituição Lusitana (portuguesa) de
1976, consagra o controle misto de constitucionalidade.

4. Conceito de controle de constitucionalidade


Trata-se da verificação de constitucionalidade de todo ato estatal, normativo ou concreto
e, também, dos atos jurídicos emanados da sociedade, em conformidade com a Constituição
vigente. Logo, é uma tarefa atribuída ao órgão controlador, no sentido de impedir ou corrigir

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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quaisquer máculas produzida contra aquelas normas que são consideradas as principais do
ordenamento jurídico.

Para todos verem: esquema com setas azuis que ligam as


palavras “fundamentos do controle”, “supremacia
constitucional” e “rigidez constitucional” em um círculo.

Logo, está presumida a ideia de:

➙ Sistema piramidal;

➙ Aspectos formal e material da Constituição;

➙ Filtro de constitucionalidade.

O reconhecimento da Supremacia Constituição e de sua força vinculante em relação aos


Poderes Públicos torna inevitável a discussão sobre formas e modos de defesa da
Constituição e sobre a necessidade de controle de constitucionalidade dos atos do Poder
Público, especialmente das leis e atos normativos. (MENDES)

Rígidas são as constituições em que o processo de alteração constitucional é mais


complexo que a alteração das demais espécies normativas, ou seja, somente se altera mediante
as emendas constitucionais, que são a forma mais complexa de votação constitucional.

Para todos verem: pirâmide em escala de cores azul, em que, no topo está a Constituição Federal e abaixo as normas infraconstitucionais.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Pela sua própria localização, na base da pirâmide normativa, é a Constituição a instância


de transformação da normatividade, puramente hipotética, da norma fundamental, em
normatividade concreta, dos preceitos de direito positivo – comandos postos em vigor –
cuja forma e conteúdo, por isso mesmo, subordinam-se aos ditames constitucionais. Daí
se falar em supremacia constitucional formal e material, no sentido de que qualquer ato
jurídico – seja ele normativo ou de efeito concreto -, para ingressar ou permanecer,
validamente, no ordenamento, há que se mostrar conforme os preceitos da Constituição.
(MENDES)

Você sabe o que é bloco de constitucionalidade?


Bloco de constitucionalidade é o conjunto de normas constitucionais, tratados
internacionais e princípios que fundamentam as normas constitucionais, além da própria
interpretação do STF sobre o conteúdo da Constituição, que servem de parâmetro para o
controle de constitucionalidade de todas as normas do ordenamento. Ou seja, com a adoção do
bloco, permite-se ao intérprete ampliar o conceito de normas constitucionais para além daquelas
previstas expressamente na Constituição, não se restringindo mais àquelas prescritas no
ordenamento jurídico.

Controle de constitucionalidade quanto ao momento:

Para todos verem: esquema explicando as formas de controle, onde no preventivo e político será o veto e a
comissão de Constituição e Justiça, e o repressivo e jurídico será o difuso/concentrado.

O controle pode-se efetivar preventiva ou repressivamente. Via de regra, o controle judicial


de constitucionalidade ocorre de maneira repressiva, caso em que o ato normativo confrontado
com Texto Maior já se encontra formalmente perfectibilizado, isto é, já ingressou no ordenamento
jurídico e, por isso, irradia seus efeitos às relações intersubjetivas públicas e privadas havidas

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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no mundo dos fatos, de modo que se trata de efetivo controle de constitucionalidade de leis ou
emendas à Constituição.
Por outro lado, o controle preventivo de constitucionalidade realiza-se em momento
anterior à completa formação do ato normativo controlado, ou seja, antes de sua entrada em
vigor, ainda em âmbito de deliberação. Não é por outra razão que se fala em controle de
constitucionalidade de projetos de Lei e propostas de emendas à Constituição. Desta forma,
verifica-se que a índole repressiva ou preventiva do controle de constitucionalidade funda-se no
caráter do próprio ato controlado.
Enquanto o primeiro visa a expurgar a ordem jurídica das normas inconstitucionais,
subversoras do sistema hierárquico-normativo, o segundo tenciona proteger ou prevenir a ordem
jurídica de proposições normativas inconstitucionais, as quais poderão adquirir efetiva vigência
e ingressarem no sistema jurídico, possibilitando a subsunção.
Dito isso, pode-se observar que jaz no direito brasileiro a tese da presunção de
constitucionalidade, haja vista existir um controle preventivo, fazendo com que as normas do
direito brasileiro gozem dessa presunção juiris tantum. Por esse motivo, o controle repressivo
terá na realidade a função de tornar uma presunção que até então é relativa, em uma presunção
absoluta. Eis a verdadeira combinação do sistema de controle de constitucionalidade

5. Controle Preventivo
A função do controle preventivo é impedir que uma norma inconstitucional ingresse no
ordenamento jurídico, portanto, trata-se do processo de elaboração legislativa. Assim, esse
controle acontece em dois momentos distintos e fora da via judiciária:

➙ Comissão de Constituição e Justiça - cuja função é analisar os aspectos constitucionais


do projeto de lei ou de emenda constitucional no seu aspecto formal e material.

O que é uma Comissão de Constituição e Justiça?


Entre as comissões existentes em ambas as Casas Legislativas do Congresso Nacional,
destacam-se, na Câmara dos Deputados, a Comissão de Constituição, Justiça e Redação –
Regimento Interno, art. 32, inciso III –, e, no Senado Federal, a Comissão de Constituição, Justiça
e Cidadania – Regimento Interno, art. 101 –, as quais têm a função precípua de verificar a
(in)constitucionalidade de proposições legislativas postas a deliberação, para que, só então,
possam (ou não) ser submetidas à votação parlamentar. Ressalva-se que às Comissões de

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Constituição e Justiça não compete adentrar no mérito da proposta discutida, ou seja, se é


oportuna ou conveniente, porquanto será enfrentado pelas comissões temáticas e, também, em
Plenário. É formada por integrantes do próprio poder legislativo (nos âmbitos federal, estadual e
municipal), devendo sempre privilegiar a formação plural em sua composição. (BULOS e
TAVARES).

➙ Veto do presidente da república – poderá vetar projeto por entendê-lo inconstitucional, mas,
em relação à emenda, não há participação do executivo. Quanto ao veto, este poderá ser por
questões de conveniência política ou por razões jurídicas, sendo que, nesse caso nos interessa
a veto em que as razões jurídicas versam sobre a possível inconstitucionalidade da norma. O
veto, contudo, seja ele jurídico ou político, não é absoluto, de maneira que retornará ao
Congresso Nacional para apreciação no prazo de trinta dias, sendo que poderá ser rejeitado pelo
voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores, em escrutínio secreto (inteligência do art.
66, § 4º, da Constituição). Rejeitado o veto presidencial, prevalecerá a manifestação do Poder
Legislativo, seguindo o projeto de lei à promulgação (art. 66, § 5º, da Constituição), ato a partir
do qual tornar-se-á lei.

É possível haver controle de constitucionalidade pela via judicial ainda durante o processo
legislativo?
Quando for controle do processo formal legislativo, ou seja, verificado que não se
respeitou o trâmite determinado na Constituição para edição normativa. Ex: uma lei
complementar em eminência de ser votada por maioria simples (o que corresponde a uma lei
ordinária ou uma emenda à Constituição que não é votada em duas casas).
A outra possibilidade reconhecida na doutrina é do controle jurisdicional de
constitucionalidade do processo legislativo de propostas de emendas constitucionais tendentes
a abolir as cláusulas de garantia da Constituição (artigo 60, § 4º, da Constituição Federal).

Qual o instrumento?
Pode-se provocar o controle de constitucionalidade durante o processo de edição
normativa através de Mandado de Segurança impetrado por parlamentar.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Decisão do STF:
O Mandado de Segurança nº 20.257-DF, impetrado pelos então senadores da República
Itamar Augusto Cautiero Franco e Antônio Mendes Canale, dirigia-se contra ato da Mesa
do Congresso Nacional que admitiu a deliberação de propostas de emendas
constitucionais que, segundo alegado na impetração, seriam tendentes à abolição da
República, contrariando o disposto no art. 47, § 1º, da então vigente Constituição Federal
de 1967/69, verbis: "não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a
abolir a Federação e a República". Tencionavam os ilustres parlamentares, através da
impetração do mandamus, fosse impedida a tramitação das propostas de emendas
constitucionais nº 51 e 52, ambas de 1980, bem como da emenda nº 03 às referidas
propostas. Tais proposições legislativas, por visarem à prorrogação dos mandatos de
prefeitos, vice-prefeitos e vereadores de dois para quatro anos, caso aprovadas, segundo
entendiam os impetrantes, ocasionariam a abolição da República, razão por que
inconstitucional sua deliberação legislativa (STF, MS 20.257-DF, Rel. Min. Décio Miranda,
Rel. p/ Acórdão Min. Moreira Alves, j. 08.10.1980). (TRINDADE, 2014)

6. Controle Repressivo
Este será exercido por via jurisdicional ante o papel de guardião da Constituição. Essa
espécie de controle se dará pela via difusa ou pela via do controle concentrado.

Para todos verem: esquema explicando as formas de controle, onde no difuso será feito por
qualquer Juiz ou Tribunal ou o STF na última instância, conforme art. 102, inciso III, e o
concentrado será ADI, ADI (O), ADC e ADPF originária.

Poderá o controle repressivo poderá ser exercido pela via do legislativo? Ou seja,
depois que a norma já está surtindo efeitos?
Dois casos:
1- Art. 49, V - que trata da competência do Congresso Nacional sustar os atos normativos
do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação
legislativa.
2 - Medida provisória (art.62) que poderá ser editada com força de Lei, em caso de
relevância, mas deve ser submetida ao Congresso Nacional.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Sendo assim, o controle político e repressivo de constitucionalidade no direito brasileiro


ocorre nas excepcionais hipóteses do artigo 49, inciso V, e do artigo 62, ambos da Constituição
Federal de 1988 (BULOS, 2012, p. 200), quando o Poder Legislativo realiza juízo de
conformidade constitucional de atos normativos já consolidados e vigentes.

Você sabe qual a diferença entre atos concretos e atos normativos?

Para todos verem: esquema explicando os atos, sendo os normativos que são em regra destinados a todos,
será divido pelos primários, que inovam no ordenamento, conforme artigo 59, e os secundários que
dependerão do primário, porém não inovam. Já os atos concretos serão destinados a um sujeito ou uma
situação, que serão então todos os atos do Poder Público que não forem normativos.

Exemplos e atos normativos: art. 59 da CF, o processo legislativo compreende a


elaboração de:

I - emendas à Constituição;
II - leis complementares;
III - leis ordinárias;
IV - leis delegadas;
V - medidas provisórias;
VI - decretos legislativos;
VII - resoluções.
Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e
consolidação das leis.

Acesse: https://ceisc.com.br/ead/aula/942/230734/10448

7. Espécies de vício de inconstitucionalidade


1) Formais: (art. 5º, II e arts. 59 a 69 da CF)
A inconstitucionalidade formal pode dar-se:

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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(a) pelo descumprimento de norma constitucional sobre o processo legislativo próprio e


adequado à espécie;
(b) pela desobediência a circunstância impeditiva de atuação do órgão legislativo, como
no caso de emenda constitucional aprovada durante o estado de sítio (CF, art. 60, § 1º).

Por sua vez, a inconstitucionalidade formal pelo descumprimento de norma constitucional


sobre o processo legislativo próprio e adequado ocorre em três situações: (a) quando são
desobedecidas normas constitucionais relativas à competência para iniciar o processo
legislativo; (B) pela contrariedade a normas constitucionais concernentes à competência para
elaborar o ato normativo, hipótese também chamada por parte da doutrina
como inconstitucionalidade orgânica; ou (c) pelo desacato a normas constitucionais referentes
às formalidades ou à tramitação do processo legislativo no órgão competente. (ROCHA)

Podem ser:

➙ Subjetivos: relacionam-se com a iniciativa do processo legislativo, ou seja, com a conduta


dos seus agentes constitucionalmente responsáveis pela propositura (Art. 61, parag. 1º, II, c)

➙ Objetivos: relacionados com as demais fases do processo legislativo, que será determinado
pela Constituição para cada espécie de ato normativo.

2) Materiais: voltados à ação do legislador, bem como relacionados aos seus valores, que
são denominados aspectos materiais, ou seja, os interesses e direitos eleitos pela sociedade,
bem como os aspectos relativos à distribuição de poderes e estrutura do Estado Democrático de
Direito. Pode ser decorrente de vício de constitucionalidade expresso.
Outro seria o excesso de poder legislativo, violador do princípio constitucional implícito da
proporcionalidade/razoabilidade.
Assim, lei materialmente inconstitucional é a que possui conteúdo incompatível com o
sistema constitucional utilizado como respectivo parâmetro de validade.

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8. Formas de inconstitucionalidades

Para todos verem: esquema explicando as formas de inconstitucionalidade, que poderá ser por omissão ou por ação.

a) Ação/Comissão: edição de um ato estatal que não se coaduna com a Carta Magna.
b) Omissão: ocorre quando o agente responsável pela integração concretizadora dos
interesses, valores e direitos inscritos nas normas constitucionais mantém-se inerte. Atentar que
a omissão pode ser legislativa ou administrativa.

Duas formas de atacar as omissões:

Para todos verem: imagem que descreve as duas formas possíveis de atacar as
omissões, de um lado a ADI (O) através do controle concentrado, com base no
artigo 102, alínea a, da CF, e pelo mandado de injunção, através do controle difuso,
com base no artigo 5º, LXXI, da CF.

Inconstitucionalidade por omissão e constituição dirigente

A Constituição brasileira se integra ao modelo do dirigismo constitucional, cujas origens


remontam ao constitucionalismo social, que promoveu a integração dos direitos sociais
aos textos constitucionais e obrigou explicitamente uma constituição econômica
determinante da intervenção do Estado sobre a ordem econômica, fundando-se no
princípio da dignidade da pessoa humana, da isonomia material e da solidariedade.
(Dantas).

O dirigismo estatal refere-se à Constituição como uma Lei Maior, que obriga e vincula
todos os poderes à sua concretização, impondo-se um dever/agir estatal, do contrário, os direitos
fundamentais restariam letras mortas na Constituição de 1988.

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Uma lei fundamental não reduzida a um simples instrumento de governo, ou seja, um texto
constitucional limitado à individualização dos órgãos e à definição de competências e
procedimentos da ação dos poderes públicos. A ideia de “programa” associava-se ao
caráter dirigente da Constituição. A Constituição comandaria a ação do Estado e imporia
aos órgãos competentes a realização das metas programáticas nela estabelecidas. (J.J
CANOTILHO)

Quanto à declaração de inconstitucionalidade, esta pode ser:


Total: declaração de inconstitucionalidade de todo o diploma legal questionado.
Parcial: nesta hipótese em que somente os dispositivos inconstitucionais serão
declarados nulos e não a totalidade da lei. Observação: no entanto, caso as normas subsistentes
não possam existir de forma autônoma, ou caso elas não correspondam à vontade do legislador,
não será possível a manutenção dessa lei no ordenamento.

Declaração de inconstitucionalidade sem redução de texto: técnica realizada através


da Interpretação conforme a Constituição ou da nulidade parcial sem redução de texto (ambas
técnicas de hermenêutica). O Tribunal poderá, portanto, considerar inconstitucional uma hipótese
de aplicação da lei, sem que haja alteração alguma no texto normativo.
Na Interpretação conforme a constituição, por sua vez, o Juiz ou Tribunal, no caso de
haver duas interpretações possíveis de uma lei, deverá optar por aquela que se mostre
compatível com a Constituição. Portanto, o Tribunal declarará a legitimidade do ato questionado
desde que interpretado em conformidade com o texto constitucional. Interpretação conforme a
Constituição:

Destina-se ela à preservação da validade de determinadas normas, suspeitas de


inconstitucionalidades, assim como à atribuição de sentido às normas infraconstitucionais.
Como se depreende da assertiva precedente, o princípio abriga, simultaneamente, uma
técnica de interpretação e um mecanismo de controle de constitucionalidade.
(BARROSO).

Também poderá ocorrer outra técnica que chamamos de nulidade parcial sem redução de
texto:

A nulidade parcial sem redução de texto seria uma “exclusão expressa de algum sentido
eventualmente atribuível a determinada palavra ou expressão contida na norma cuja
constitucionalidade ou compatibilidade com o texto da norma fundamental encontra-se em
apreço pela Corte. (LEAL)

Julgados emblemáticos que se observaram tais figuras:

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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O relator da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 54, ministro


Marco Aurélio, votou pela procedência da ação apresentada pela Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Saúde (CNTS). O ministro considerou "inconstitucional a interpretação
segundo a qual a interrupção da gravidez de feto anencéfalo é conduta tipificada nos artigos 124,
126, 128, incisos I e II, do Código Penal brasileiro":

Ex positis, voto pela procedência da presente Ação de Descumprimento de Preceito


Fundamental, a fim de conferir interpretação conforme à Constituição ao art. 128 do
Código Penal, para reconhecer não configurado o crime de aborto nas hipóteses de
interrupção voluntária da gravidez de feto anencefálico. (ADPF 54 Voto Luiz Fux)

Quando há uma declaração de inconstitucionalidade ou o reconhecimento de uma


inconstitucionalidade tanto em abstrato quanto em concreto, quais os possíveis efeitos?
Essa previsão está no art. 27 da lei nº 9.868/99 e no art. 11 da lei nº 9.882/99, mas o STF
entendeu que esses efeitos podem também ser aplicados ao controle difuso de
constitucionalidade.
Chamados de possibilidade de modulação temporal de efeitos - aspecto temporal, o artigo
27 da Lei de nº 9.868/99 – valerá tanto para o controle difuso quanto concentrado.
O Supremo Tribunal Federal terá a opção de declarar a inconstitucionalidade apenas a
partir do trânsito em julgado da decisão (declaração de Inconstitucionalidade ex nunc).
Poderá, ainda, declarar a inconstitucionalidade, com a suspensão dos efeitos por algum
tempo a ser fixado na sentença (declaração de inconstitucionalidade com efeito pró-futuro).
Nessa hipótese, por motivo de segurança jurídica ou de interesse social, a Lei continuará sendo
aplicada por um determinado prazo, a ser determinado pelo próprio Tribunal.
Aqui seria ainda mais uma opção: o Supremo Tribunal Federal poderá, também, declarar
a inconstitucionalidade sem a pronúncia da nulidade, permitindo que se operem a suspensão de
aplicação da lei e dos processos em curso até que o legislador, dentro de prazo razoável, venha
a se manifestar sobre a situação inconstitucional (declaração de Inconstitucionalidade sem
pronúncia da nulidade/restrição de efeitos).

Caberá a utilização da modulação temporal no controle difuso de


constitucionalidade? O STF disse que é possível.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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• Resumo:
→ Declarar a inconstitucionalidade a partir do trânsito em julgado da decisão: o que
denominamos ex nunc;
→ Declarar a inconstitucionalidade com suspensão dos efeitos a algum tempo que deverá
ser proferido na decisão (no caso sentença): o que denominamos como feitos pró-futuro;
→ Declarar a inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade, permitindo que se opere a
suspensão da aplicação da lei e dos processos em curso, para que tal pronúncia se dê em prazo
razoável: o que na prática nada mais é do que uma restrição de efeitos.
→ A regra geral é quanto ao controle difuso e concentrado a eficácia ex tunc do proferimento
acerca da constitucionalidade ou inconstitucionalidade da lei, contudo, em caso de existirem
razões de segurança jurídica e relevante interesse público, poder-se-á, então, aplicar a
modulação temporal dos efeitos (art. 27), para atribuir a decisão os efeitos anteriormente citados.
Também, ressalta-se que é posição doutrinária consolidada a aplicação, em se tratando de
controle difuso de constitucionalidade (o que significa sua possibilidade de aplicação no caso
concreto).

Para todos verem: esquema com lacunas, demonstrando a diferença entre os termos ex tunc, que quer dizer
desde o início, ou seja, retroagem os efeitos, portanto, se não houver manifestação em contrário, a regra
será essa, o termo ex nunc, que consiste no reconhecimento da inconstitucionalidade, que irá gerar efeitos
a partir da decisão apenas, mas deverá haver manifestação expressa sobre esse efeito. Por fim, o termo pró-
futuro, onde a lei continuará sendo aplicada por um determinado prazo, a ser determinado pelo próprio
Tribunal.

Compreendendo o significado de controle difuso e concentrado:


O que devo lembrar quando tratar de controle difuso?

Para todos verem: imagem com sequência de itens que deve-se lembrar
quando tratar de controle concentrado, são eles: 1. qualquer Juiz ou Tribunal
pode apreciar, 2. trata-se de causa de pedir e não o pedido, 3. atos concretos,
ou seja, aplicação da norma, 4. via de exceção, 5. temos partes interessadas.

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9. Conceito de controle difuso


O controle difuso é caracterizado por permitir que todo e qualquer Juiz ou Tribunal possa
realizar no caso concreto a análise sobre a compatibilidade da norma infraconstitucional com a
Constituição Federal.

O controle de constitucionalidade difuso caracteriza-se pela possibilidade de qualquer juiz


ou Tribunal, ao analisar um caso concreto, verificar a inconstitucionalidade da norma,
arguida pela parte como meio de defesa. Nesse caso, o objeto principal da ação não é a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, sendo a mesma analisada incidentalmente
ao julgamento de mérito. A declaração de inconstitucionalidade torna-se necessária para
a solução do caso concreto em questão, ou seja, a apreciação de inconstitucionalidade
tem o condão de decidir determinada relação jurídica, objeto principal da ação. [...] A
questão prejudicial, então, é relativa à aplicabilidade da norma, com efeito inter partes.
(JUNIOR)

Na via de exceção, a pronúncia do Judiciário, sobre a inconstitucionalidade, não é feita


enquanto manifestação sobre o objeto principal da lide, mas sim, sobre questão prévia,
indispensável ao julgamento do mérito. Nesta via, o que é outorgado ao interessado é
obter a declaração de inconstitucionalidade somente para efeito de isentá-lo, no caso
concreto, do cumprimento da lei ou ato, produzidos em desacordo com a Lei maior.
Entretanto, este ato ou lei permanecem válidos no que se refere à sua força obrigatória
com relação a terceiros. (MORAES, 2009, p.709)

Resumindo:
Não é objeto central da lide, logo, a inconstitucionalidade é o aspecto secundário da
demanda.
Nesse sentido, a alegação de (in)constitucionalidade da norma dar-se-ia de forma
incidental ou prejudicial, pois a centralidade da demanda é o que ensejou o pedido no caso
concreto (seja como inicial, como contestação, como recurso etc.), sendo a discussão sobre a
declaração de (in)constitucionalidade apenas um elemento para apreciação do caso concreto –
fundamental para a decisão da lide.
Em havendo declaração de inconstitucionalidade da norma a ser aplicada no caso
concreto pela via difusa, a norma contestada não será excluída do sistema jurídico, surtindo seus
efeitos apenas as partes envolvidas na lide em questão.
A inconstitucionalidade não é feita enquanto manifestação sobre o objeto principal da lide,
mas sim sobre a questão prévia, indispensável ao julgamento do mérito “(...) Nesse sistema, é
outorgado ao interessado obter a declaração de inconstitucionalidade somente para o efeito de
isentá-lo, no caso concreto, do cumprimento da lei ou ato, produzido em desacordo com a Lei
maior” (MORAIS).

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Efeitos da decisão:
Regra geral: inter partes. A decisão que afasta o ato inconstitucional não beneficia a quem
não for parte da demanda em que se reconhecer a inconstitucionalidade.
Observação: discutiremos com atenção o caso do recurso extraordinário diante da
repercussão geral.

Para todos verem: o que é abstrativização do controle difuso?

O fundamento é a busca de que as decisões do plenário do STF venham a ter eficácia


geral, sob o argumento de aprimorar a concretização da Constituição e garantir que a efetivação
de decisão judicial realize os valores de segurança jurídica e da razoável duração do processo
declarados pela própria Constituição Federal.
Esse movimento teve início com o recurso extraordinário e atualmente engloba todas as
ações julgadas pelo Pleno do STF em que se analisa a constitucionalidade de algum ato
normativo
O processo de abstrativização do controle difuso, à luz da nova orientação consolidada
no sistema de Corte Constitucional, evidencia uma mudança paradigmática, abrangente e efetiva
no que tange a atuação jurisdicional e legislativa, corolário lógico do processo de uniformização
e objetivação da Ordem normativa Constitucional. A mudança da acepção constitucional implica,
sobretudo, a redefinição do papel constitucional do STF em sede de controle difuso de
constitucionalidade, assumindo feição de estabilizador definitivo da Ordem Constitucional
Brasileira.
Crítica de parte da doutrina: “ao abstrativizar o controle concreto, este perde sua principal
característica, qual seja, a análise do caso concreto que, em sua essência é único e irrepetível”.

• Importante:
Esta construção parece estar relacionada com a caracterização da natureza objetiva ao
recurso extraordinário, para que ele não fique adstrito a perseguição de direitos subjetivos, mas
como um meio de constitucionalidade estipulado para a preservação objetiva da própria
Constituição.
Observação: decisão proferida pelo STF no RE no 197917, - cláusula da
proporcionalidade – atribui-se efeito erga omnes.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Discussão da matéria – início sob o argumento de que estes não poderiam ser os efeitos
da via difusa realizada pelo recurso extraordinário, ajuizou-se ação direta de
inconstitucionalidade contra a resolução do TSE nº 21702/04, que normatizou o entendimento
do referido recurso. O julgado, entendeu que não haveria óbice, pois mesmo quando atuando
em via difusa, está o STF fazendo o papel de guardião da Constituição.

10. O papel do Senado no controle difuso de constitucionalidade:

Art. 52 da CF: Compete privativamente ao Senado Federal:


(...) X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por
decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal;

A suspensão da execução pelo Senado Federal do ato declarado inconstitucional pela


Excelsa Corte foi a forma definida pelo constituinte para emprestar eficácia erga omnes às
decisões definitivas sobre inconstitucionalidade nos recursos extraordinários.
Os motivos que levaram ao legislador introduzir o dispositivo, apontados por Sarlet,
Marinoni e Mitidiero (2012) passam pelo fato de que as decisões de inconstitucionalidade não
tinham força vinculante, assim os juízes e tribunais podiam continuar realizando o controle difuso
de constitucionalidade sem respeitar o que foi decidido. A respeito desta fórmula encontrada,
Sarlet, Marinoni e Mitidiero (2012, p. 882) comentam que “com a suspensão da execução da lei
pretendeu-se atribuir à decisão de inconstitucionalidade eficácia contra todos, evitando-se que
ficasse restrita às partes do processo em que proferida”.

Posição STF em favor da abstrativização do controle difuso e a nova interpretação


do art 52, X, da CF: a suspensão da execução pelo Senado Federal do ato declarado
inconstitucional pela Excelentíssima Corte foi a forma definida pelo constituinte para emprestar
eficácia erga omnes às decisões definitivas sobre inconstitucionalidade nos recursos
extraordinários. No entanto, para parte da doutrina o entendimento do STF sofreu o que
poderíamos chamar de “mutação constitucional”, em relação ao papel do Senado nas
declarações de inconstitucionalidade nos recursos extraordinários.
Tal postura se verifica especialmente nos votos do Ministro Celso Mello e Gilmar Ferreira
Mendes, podendo ser resumida da seguinte forma: “quando o STF declara uma lei
inconstitucional, mesmo em sede de controle difuso, a decisão já tem efeito vinculante e erga
omnes - nesse sentido, o STF comunicará ao Senado com o objetivo de que a referida Casa

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Legislativa dê publicidade daquilo que foi decidido - eliminando assim a discricionariedade do


Senada na suspensão ou não da norma.
Essa decisão recente, para parte da doutrina, altera o papel do Senado portanto, pois a
suspensão por parte do senado tem apenas função de publicizar a decisão do STF e está
vinculada a ela, ou seja, em tese, o STF teria assumido abstratização do controle difuso para
emprestar efeito erga omnes às decisões emanadas pelo STF nos recursos extraordinários!
Resumidamente: se compreendermos como uma mudança de postura o Plenário do STF decidir
a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo em controle difuso
atribuindo efeito erga omnes, teria vencido a tese da abstrativização. Nesse sentido: STF.
Plenário. ADI 3406/RJ e ADI 3470/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 29/11/2017 (Info 886).
Ainda é um tema controvertido na doutrina havendo posições contrárias a qual seria a
correta interpretação1.

Restrição dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade, também conhecida


como modulação temporal dos efeitos da decisão
Conforme já visto, vale lembrar o poder de que dispõe no controle difuso de qualquer Juiz
ou Tribunal para deixar de aplicar a Lei inconstitucional a um determinado processo (CF, arts. 97
e 102, III, a, b e c) pressupõe a invalidade da lei e, com isso, a sua nulidade.
A faculdade de negar aplicação à Lei inconstitucional corresponde ao direito do indivíduo
de recusar-se a cumprir a lei inconstitucional, assegurando-lhe, em última instância, a
possibilidade de interpor recurso extraordinário ao Supremo Tribunal Federal contra decisão
judicial que se apresente, de alguma forma, em contradição com a Constituição (art. 102, III, a)
Tanto o poder do juiz de negar aplicação à lei inconstitucional quanto a faculdade
assegurada ao indivíduo de negar observância à lei inconstitucional demonstram que o
constituinte pressupôs a nulidade da lei inconstitucional. Daí se segue que a sentença que
declara a inconstitucionalidade tem eficácia ex tunc.

Para todos verem: imagem que soma segurança jurídica com excepcional interesse
público, dando como resultado a modulação temporal, disciplinada pelo art. 27, da Lei
n.º 9.868/99.

1
Para quem desejar se inteirar mais da crítica fica a dica de leitura: https://www.conjur.com.br/2019-set-30/eliseu-
belo-abstrativizacao-controle-difuso-stf

113
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

Porém, a Lei nº 9.868/99 contém disposição (art. 27) que autoriza o Supremo Tribunal
Federal, tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, a
restringir os efeitos da declaração de inconstitucionalidade ou a estabelecer que ela tenha
eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado, desde
que tal deliberação seja tomada pela maioria de dois terços de seus membros.
Existindo razões de ordem pública ou sociais, é possível, desde que de maneira
excepcional, no caso concreto, a declaração de inconstitucionalidade incidental com efeitos ex
nunc, com base nos princípios da segurança jurídica e da boa-fé.
A Lei nº 9.868/99 trouxe inovações, permitindo ao Supremo Tribunal Federal a limitação
dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade. O seu art. 27 prevê que, ao declarar a
inconstitucionalidade da lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou
de excepcional interesse social, poderá o STF, por maioria de dois terços de seus membros,
restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu
trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado. Dessa forma, permitiu-se ao
STF a manipulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade denominada de
modulação, ou limitação temporal pela Corte, seja em relação à sua amplitude, seja em relação
aos seus efeitos temporais.

• Cláusula de reserva de plenário- relação com a Súmula Vinculante nº 10

Art. 97 da CF: Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros
do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei
ou ato normativo do Poder Público.

A regra da Full Bench, também conhecida como cláusula de reserva de plenário, é, por
assim dizer, um requisito para que lei ou ato normativo do Poder Público seja declarado
inconstitucional, qual seja o voto da maioria dos membros do tribunal.

Súmula Vinculante nº 10: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão
de órgão fracionário de Tribunal que embora não declare expressamente a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência, no
todo ou em parte.

Importante decisão do STF sobre art. 97 da CF


Princípio da reserva de plenário: aplicabilidade somente à declaração de
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo:

114
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

Realmente, conforme exaustivamente explicitado na decisão agravada, o princípio da


reserva de plenário previsto no art. 97 da Constituição e a que se refere a Súmula
Vinculante 10 diz respeito à declaração de 'inconstitucionalidade de lei ou ato normativo
do Poder Público'.
Ora, os atos normativos têm como características essenciais a abstração, a generalidade
e a impessoalidade dos comandos neles contidos.
São, portanto, expedidos sem destinatários determinados e com finalidade normativa,
alcançando todos os sujeitos que se encontram na mesma situação de fato abrangida por
seus preceitos.
Sendo assim, não possui qualquer predicado de ato normativo o decreto legislativo que
estabelece a suspensão do andamento de uma certa ação penal movida contra
determinado deputado estadual.
O que se tem, nesse caso, é ato individual e concreto, com todas as características de ato
administrativo de efeitos subjetivos limitados a um destinatário determinado.
(Rcl 18165 AgR, Relator Ministro Teori Zavascki, Segunda Turma, julgamento em
18.10.2016, DJe de 10.5.2017

Veja o que diz o Código de Processo Civil:

Art. 948. Arguida, em controle difuso, a inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo


do poder público, o relator, após ouvir o Ministério Público e as partes, submeterá a
questão à turma ou à câmara à qual competir o conhecimento do processo.

Art. 949. Se a arguição for:


I - rejeitada, prosseguirá o julgamento;
II - acolhida, a questão será submetida ao plenário do tribunal ou ao seu órgão especial,
onde houver.

Quando estaria dispensado remeter a questão ao plenário ou órgão especial?

Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao plenário ou ao


órgão especial a arguição de inconstitucionalidade quando já houver pronunciamento
destes ou do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão.

Logo, se houver pronunciamento do STF ou já fora apreciada a matéria pelo pleno ou


órgão especial, as turmas ou mesmo em decisão monocrática, não será necessário remeter ao
pleno ou órgão especial.

Atenção as manifestações do Supremo acerca da matéria:

(...) A exigência, conhecida como cláusula de reserva de plenário, deve ser observada não
apenas no controle difuso, mas também no concentrado, sendo que neste a Lei nº
9.868/99 exigiu o quorum de maioria absoluta também para a hipótese de declaração de
constitucionalidade(...)
A observância da cláusula da reserva de plenário não é necessária na hipótese de
reconhecimento da constitucionalidade (princípio da presunção de constitucionalidade das
leis), inclusive em se tratando de interpretação conforme e não se aplica às decisões de
juízes singulares, das turmas recursais dos juizados especiais, nem ao caso de não-
recepção de normas anteriores à Constituição.

115
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

A inobservância desta cláusula, salvo no caso das exceções supramencionadas, acarreta


a nulidade absoluta da decisão proferida pelo órgão fracionário.

• Participação no processo e a figura do amicus curiae


O amicus curiae (amigo da Corte) é uma figura muito conhecida no âmbito do controle
concentrado de constitucionalidade, desde a edição da Lei nº 9.868/99. Contudo, a nova
regulação do Código de Processo Civil, ao tratar dessa figura em tópico próprio, mas também
mantém tradição já exposta na legislação anterior, a qual previa a participação de entidades,
pessoas jurídicas de direito público, nos incidentes de constitucionalidade.
A partir do disposto, relevância da matéria + representatividade dos postulantes, o relator
poderá admitir a participação de órgãos e entidades.

Art. 950 do CPC: (...)


§ 1o As pessoas jurídicas de direito público responsáveis pela edição do ato questionado
poderão manifestar-se no incidente de inconstitucionalidade se assim o requererem,
observados os prazos e as condições previstos no regimento interno do tribunal.
§ 2o A parte legitimada à propositura das ações previstas no art. 103 da Constituição
Federal poderá manifestar-se, por escrito, sobre a questão constitucional objeto de
apreciação, no prazo previsto pelo regimento interno, sendo-lhe assegurado o direito de
apresentar memoriais ou de requerer a juntada de documentos.
§ 3o Considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, o
relator poderá admitir, por despacho irrecorrível, a manifestação de outros órgãos ou
entidades.

Ao tratar em título próprio a figura do amicus curiae, ressaltam-se alguns fatores:

➙ Quem poderá admitir? Juiz ou relator

➙ Como? A pedido das partes ou mesmo agindo de ofício


➙ Quem poderá participar? Pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade, considerando
obviamente a representatividade adequada em relação à causa;
Prazo de 15 dias da intimação.

Art. 138 do CPC: O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade


do tema objeto da demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão
irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se,
solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade
especializada, com representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua
intimação.
§ 1o A intervenção de que trata o caput não implica alteração de competência nem autoriza
a interposição de recursos, ressalvadas a oposição de embargos de declaração e a
hipótese do § 3o.
§ 2o Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou admitir a intervenção, definir
os poderes do amicus curiae.
§ 3o O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente de resolução de
demandas repetitivas.

116
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Controle concentrado de constitucionalidade

Para todos verem: colunas explicando o controle concentrado e o abstrato. O


controle concentrado de constitucionalidade defere atribuições para julgamento das
questões constitucionais a um órgão jurisdicional superior ou a uma corte. Por meio
desse controle, procura-se obter a declaração de inconstitucionalidade da lei ou do
ato normativo em tese, independentemente da existência de um caso concreto,
visando a obtenção da invalidação da lei (MENDES). O controle abstrato, ao
contrário, considera a norma em si, desvinculada de direito subjetivo e de situação
conflitiva concreta. Busca-se, no controle abstrato, apenas validar a validade
constitucional da norma, independente de ela ser imprescindível ou não à tutela
jurisdicional de um direito. O controle abstrato ocorre em processo voltado
unicamente à análise da constitucionalidade da norma, fazendo surgir, nesse sentido
um processo autônomo para o controle de constitucionalidade (SARLET;
MARINONI, MITIDIERO).

1. Controle concentrado

O fundamento dessa inconstitucionalidade está no fato de que o princípio da supremacia


da Constituição resulta no da compatibilidade vertical das normas de ordenação jurídica de um
país, só sentido de que as normas de grau inferior somente valerão se forem compatíveis com
as normas de grau superior, que é a Constituição. As que não forem compatíveis com ela são
invalidadas, pois a incompatibilidade vertical resolve-se em favor das normas de grau mais
elevado, que funcionam como fundamento de validade das inferiores. Essa incompatibilidade
vertical de normas inferiores (leis e decretos) com a Constituição é o que, tecnicamente, chama-
se de inconstitucionalidade das leis ou dos atos do Poder Público, e que se manifesta sob dois
aspectos: formal e material. (Barroso)

2. Características

➙ O controle concentrado caracteriza-se pela competência exclusiva (originária) do STF


em apreciar a questão constitucional.

117
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

➙ Tem por objetivo expelir do ordenamento jurídico a lei ou ato normativo


inconstitucionais.

➙ É realizado em abstrato, sem que haja um caso concreto sob análise, ou seja, não
caberá de atos concretos.

➙ Regulação: Constituição de 1988 trouxe a ADI;1993, emenda Constitucional


acrescentou a possibilidade de ADC e ADPF; A ADPF foi considerada norma de eficácia limitada,
logo, dependia de regulamentação. Lei nº 9.868/99 – regulamenta ADI e ADC- Lei nº 9.882/99 –
regulamente a ADPF.

➙ Uma característica do controle concentrado é ser um controle por via principal, pois,
ao contrário do que acontece no controle incidental, as questões de inconstitucionalidade são o
objeto central da demanda, levadas através de um processo constitucional autônomo, a algum
Tribunal com competência para julgá-las.

➙ O controle concentrado também é chamado de controle abstrato, pois a apreciação da


inconstitucionalidade de uma norma independentemente de qualquer litígio, inexistindo um caso
concreto.

➙ No controle abstrato, não existem partes, e o objetivo é a defesa da constituição


através da eliminação de normas contrárias à Constituição. Por se tratar de um processo objetivo,
os legitimados para solicitar esse controle formam um rol restrito. (CANOTILHO)

3. Atuação do tribunal como legislador negativo


Natureza objetiva: o processo não tem partes, e, exatamente por isso, não está sujeito a
princípios constitucionais como ampla defesa e contraditório.
Seus efeitos são peculiares, quais sejam: eficácia erga omnes, efeito ex tunc e vinculantes
das decisões proferidas pelo STF, ou seja, são contra todos e não retroagem, considerando-se
nulo o ato normativo desde a origem.
A decisão ainda vincula os órgãos do Poder Judiciário e a Administração Pública em todas
as esferas, conforme parágrafo 2º, do artigo 102, da Constituição Federal.

Atenção: Efeitos da decisão serão erga omnes e vinculante:

118
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Para todos verem: colunas que demonstram os efeitos da decisão erga omnes e vinculante no
Poder Judiciário, no STF e no Poder Legislativo. No Poder Judiciário será em todas as instâncias,
a administração pública Federal, Estadual e Municipal (direta e indireta), já o STF somente estará
vinculado à decisões futuras nos casos de decisão monocrática ou das turmas do STF, mas em
se tratando de plenário do STF, não há vinculação. Já no Poder Legislativo, será na função de
legislar não está vinculado, pois causaria um engessamento de sua atuação, podendo gerar uma
violação ao princípio da independência dos poderes.

Quem não estaria vinculado aos efeitos vinculantes das decisões do STF?

➙ Poder legislativo e a função legislativa

➙ O pleno do próprio STF

Exemplo do STF: Na ADI 4430 e na ADI 4795, o plenário do STF declarou inconstitucional
disposições da chamada Lei das Eleições (nº 9.504/97). No ano seguinte, o Congresso Nacional
aprovou a Lei 12875/13, e ao que parece “contrariando” a posição do STF previu regras muita
parecidas com àquela declara inconstitucional. Novamente, propôs ADI no STF em relação ao
conteúdo da nova Lei.
O STF está vinculado aquilo que ele mesmo decidiu? Também não, poderá rever seu
posicionamento no plenário.

Art. 28 da Lei nº 9.868/99: Dentro do prazo de dez dias após o trânsito em julgado da
decisão, o Supremo Tribunal Federal fará publicar em seção especial do Diário da Justiça
e do Diário Oficial da União a parte dispositiva do acórdão.
Parágrafo único. A declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade,
inclusive a interpretação conforme a Constituição e a declaração parcial de
inconstitucionalidade sem redução de texto, têm eficácia contra todos e efeito vinculante
em relação aos órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública federal, estadual e
municipal.

NOVA POSIÇÃO DO STF QUANDO INCIDIR MODULAÇÃO DE EFEITOS SEM


DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE ATO NORMATIVO - em decisão de
recursos repetitivos com repercussão geral - MAIORIA ABSOLUTA: quórum e modulação
dos efeitos de decisão sem declaração de inconstitucionalidade de ato normativo O
Plenário, por maioria, resolveu questão de ordem suscitada pelo ministro Dias Toffoli
(Presidente) e fixou o quórum de maioria absoluta dos membros da Corte para modular os
efeitos de decisão em julgamento de recursos extraordinários repetitivos, com repercussão

119
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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geral, nos quais não tenha havido declaração de inconstitucionalidade de ato normativo.
Vencido, o ministro Marco Aurélio, que divergiu da formulação e do mérito da questão.
Entendeu não ser possível a mesclagem de julgamento da sessão virtual com a presencial.
Além disso, não admitiu a reabertura de julgamento concluído. RE 638115 ED-ED/CE, rel.
Min. Gilmar Mendes, julgamento em 18.12.2019. (RE-638115) (Informativo 964, Plenário)

4. Efeitos no tempo
A regra geral é quanto ao controle difuso e concentrado a eficácia ex tunc do proferimento
acerca da constitucionalidade ou inconstitucionalidade da lei, contudo, em caso de existirem
razões de segurança jurídica e relevante interesse público, poder-se-á, então, aplicar a
modulação temporal dos efeitos (art.27), para atribuir a decisão os efeitos anteriormente citados.
Também, ressalta-se que é posição doutrinária consolidada a aplicação, em se tratando de
controle difuso de constitucionalidade (o que significa sua possibilidade de aplicação no caso
concreto).
Declarar a inconstitucionalidade a partir do trânsito em julgado da decisão – o que
denominamos ex nunc;
Declarar a inconstitucionalidade com suspensão dos efeitos a algum tempo que deverá
ser proferido na decisão (no caso sentença) – o que denominamos como feitos pró-futuro;
Declarar a inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade, permitindo que se opere a
suspensão da aplicação da lei e dos processos em curso, para que tal pronúncia se dê em prazo
razoável – o que na prática nada mais é do que uma restrição de efeitos.

Para todos verem: colunas que demonstram os efeitos no tempo das decisões, sendo eles ex
tunc, ex nunc e pró-futuro. No caso de ser iex tunc, quer dizer que é desde o início, portanto,
retroagem os efeitos, além de que se não houver manifestação em contrário, a regra será essa.
Por sua vez, o ex nunc terá o reconhecimento da inconstitucionalidade gera efeitos a partir da
decisão apenas, mas deverá haver manifestação expressa sobre esse efeito. Já no pró-futuro
a lei continuará sendo aplicada por um determinado prazo, a ser determinado pelo próprio
Tribunal.

120
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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5. Legitimidade
Legitimados para propositura da ADI, ADC E ADPF
O rol taxativo de legitimados ativos consta do art. 103 da CF:

Art. 103 da CF (...)


I - O Presidente da República;
II - A Mesa do Senado Federal;
III - A Mesa da Câmara dos Deputados;
IV - A Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;
V - O Governador de Estado ou do Distrito Federal;
VI - O Procurador-Geral da República;
VII - O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
VIII Partido político com representação no Congresso Nacional;
IX - Confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional

Observação: quanto à entidade de classe de representação no âmbito nacional, há


necessidade de representação pelo menos em 9 unidades da federação, constituída pelo menos
há 1 ano.

Legitimados universais x pertinência temática:


Alguns autores deverão demonstrar o interesse no tema da discussão, o que ficou
conhecido como pertinência temática. Essa pertinência – relação com a matéria objeto de
questionamento – deverá ser demonstrada pela Mesa da Assembleia legislativa; pelos
governadores de Estado, pela confederação sindical ou entidade de classe no âmbito nacional.
Os demais autores não precisam demonstrar interesse nas discussões de
constitucionalidade da lei ou ato normativo, pois possuem legitimidade ativa universal.

Para todos verem: colunas que explica a diferença entre legitimados universais e a
pertinência necessária. Os legitimados universais são o Presidente da República, Mesa
do Senado Federal, a Mesa da Câmara dos Deputados, o Procurador-Geral da
República, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil e o partido político
com representação no Congresso Nacional. Já a pertinência necessária será pela a
Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal, o
Governador de Estado ou do Distrito Federal e a confederação sindical ou entidade de
classe de âmbito nacional.

121
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Atenção:
Partido político com representação no Congresso Nacional, precisa ter um Senador
ou um Deputado Federal no mínimo, não basta representação na esfera estadual;
Confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional, significa estar
presente em pelo menos nove estados da federação e em funcionamento há pelo
menos um ano!

Mendes tecendo crítica:

Afigura-se excessiva a exigência de que haja uma relação de pertinência entre o objeto
da ação e atividade de representação da entidade de classe ou da confederação sindical.
[...] uma tal restrição ao direito de propositura, além de não se compatibilizar, igualmente,
com a natureza do controle abstrato de normas, criaria uma injustificada diferenciação
entre os entes ou órgãos autorizados a propor a ação, diferenciação essa que não
encontra respaldo na Constituição.

Decisões do STF

A exigência de pertinência temática não impede, quando o vício de inconstitucionalidade


for idêntico para todos os seus destinatários, o amplo conhecimento da ação nem a
declaração de inconstitucionalidade da norma para além do âmbito dos indivíduos
representados pela entidade requerente.[ADI 4.364, rel. min. Dias Toffoli, j. 2-3-2011,
P, DJE de 16-5-2011.]

A legitimidade ativa da confederação sindical, entidade de classe de âmbito nacional,


Mesas das Assembleias Legislativas e governadores, para a ação direta de
inconstitucionalidade, vincula-se ao objeto da ação, pelo que deve haver pertinência da
norma impugnada com os objetivos do autor da ação. Precedentes do STF: ADI 305/RN
(RTJ 153/428); ADI 1.151/MG (DJ de 19-5-1995); ADI 1.096/RS (Lex-JSTF, 211/54); ADI
1.519/AL, julgamento em 6-11-1996; ADI 1.464/RJ, DJ de 13-12-1996. Inocorrência, no
caso, de pertinência das normas impugnadas com os objetivos da entidade de classe
autora da ação direta).

Carece de legitimação para propor ação direta de inconstitucionalidade, a entidade de


classe que, embora de âmbito estatutário nacional, não tenha representação em, pelo
menos, nove Estados da federação, nem represente toda a categorial profissional, cujos
interesses pretenda tutelar. [ADI 3.617 AgR, rel. min. Cezar Peluso, j. 25-5-2011,
P, DJE de 1º-7-2011.]= ADI 4.230 AgR, rel. min. Dias Toffoli, j. 1º-8-2011, P, DJE de 14-
9-2011

6. Figuras importantes no controle concentrado


Observação: importante lembrar que tais figuras poderão ocorrer em se tratando de ADI,
ADC E ADPF.

• Amicus curiae x intervenção de terceiros

122
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Art. 7º da Lei 9.868/99: Não se admitirá intervenção de terceiros no processo de ação


direta de inconstitucionalidade.
(...)
§ 2º O relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos
postulantes, poderá, por despacho irrecorrível, admitir, observado o prazo fixado no
parágrafo anterior, a manifestação de outros órgãos ou entidades.

Observação: o terceiro é aquele que tem interesse direto na causa e aparece no processo
brasileiro em diferentes modalidades.
STF Celso Mello: “A admissão de terceiro, na condição de amicus curiae, no processo
objetivo de controle normativo abstrato, qualifica-se como fator de legitimação social das
decisões da Suprema Corte, enquanto Tribunal Constitucional, pois viabiliza, em obséquio ao
postulado democrático, a abertura do processo de fiscalização concentrada de
constitucionalidade, em ordem a permitir que nele se realize, sempre sob uma perspectiva
eminentemente pluralística, a possibilidade de participação formal de entidades e de instituições
que efetivamente representem os interesses gerais da coletividade ou que expressem os valores
essenciais e relevantes de grupos, classes ou estratos sociais”. Em suma: a regra inscrita no art.
7º, § 2º, da Lei nº 9.868/99 - que contém a base normativa legitimadora da intervenção processual
do amicus curiae - tem por precípua finalidade pluralizar o debate constitucional.
STF Joaquim Barbosa: “[...] a admissão de terceiros na qualidade de amicus curiae traz
ínsita a necessidade de que o interessado pluralize o debate constitucional, apresentando
informações, documentos ou quaisquer elementos importantes para o julgamento da ação direta
de inconstitucionalidade. Amicus curiae, termo latino que significa "amigo da corte", refere-se a
uma pessoa, entidade ou órgão, com profundo interesse em uma questão jurídica, na qual se
envolve como um terceiro, que não os litigantes, movido por um interesse maior que o das partes
envolvidas no processo. O amicus é amigo da corte e não das partes”.

7. Inconstitucionalidade por “arrastamento” ou sequencial


Também existe a figura da chamada inconstitucionalidade por arrastamento – conhecida
também por inconstitucionalidade sequencial ou por atração, nos casos em que a
inconstitucionalidade de outro dispositivo legal com estrita relação de dependência com o
preceito impugnado e declarado como inconstitucional, sem que haja requerimento nesse
sentido na petição inicial.
“Essa teoria excepciona a regra pela qual o STF somente aprecia a validade dos
dispositivos legais indicados na inicial em controle direto. Isso, pois, quando as normas legais,
impugnadas ou não, possuem entre si um vínculo de dependência, de razão lógica, e, assim, a

123
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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declaração de inconstitucionalidade de uma delas tornaria as demais sem qualquer sentido e


aplicação.
Assim, o STF passou a reconhecer a desnecessidade de impugnação específica pelo
autor dos dispositivos legais eivados de incompatibilidade com a Constituição e, reconhecido o
vício em relação ao que foi indicado na peça, por arrastamento será inviável o aproveitamento
daqueles com ele intimamente relacionados. Mais uma vez percebe-se que o STF vem rompendo
com a tradição existente no ordenamento jurídico, visto que nessa hipótese relatada excepciona-
se o princípio da correlação entre o pedido e a sentença, permitindo que se realize um julgamento
extra petita” (ALEXANDRINO).
Trata-se de questão de relevante interesse público.

8. Teoria da transcendência dos motivos determinantes não se aplica


Basicamente, todos os órgãos do Poder Judiciário, administração direta e indireta, devem
observar não apenas a conclusão da decisão, mas igualmente as razões de decidir, cabendo
Reclamação para o STF contra qualquer ato, administrativo ou judicial, que seja contrário a
interpretação constitucional.
A decisão é composta por três partes: relatório, fundamentação e dispositivo. Em regra, a
parte da decisão que é atingida pela autoridade da coisa julgada é a dispositiva. Nos processos
de natureza subjetiva é a parte dispositiva que vincula os litigantes. Sempre foi esse o
entendimento também em sede de controle concentrado. Entretanto, o STF vem atribuindo efeito
vinculante não somente a parte dispositiva, mas também aos fundamentos determinantes da
decisão. STF vem vinculando é a ratio decidendi, ou seja, a fundamentação essencial que
determinou o resultado da demanda e não a obter dictum, comentários laterais que não possuem
o condão de influenciar a decisão. (MOARES)
No recente julgamento do STF da 2ª Turma na Rcl 22012/RS, o STF firmou
posicionamento no sentido de afirmar que o STF não aplica a teoria da transcendência dos
motivos determinantes, haja vista que somente tem efeito vinculante a parte dispositiva da
decisão e não os seus fundamentos, conforme pode se extrair da leitura do Informativo 887
do STF.

9. Efeitos
9.1 Efeitos dúplices ou ambivalentes (art. 24 da Lei nº 9.868/99)
Deve-se lembrar que será aplicado em se tratando de ADI e ADC.

124
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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O caráter dúplice ou ambivalente dessa modalidade de controle abstrato restou


inequivocamente demonstrado neste dispositivo. Convém notar que a jurisprudência do STF já
acenava essa possibilidade.
Logo, possuem a chamada natureza dúplice ou ambivalente, pois tanto podem declarar a
inconstitucionalidade, retirando-a do ordenamento, como podem torná-la absoluta, juris et de jure
– a presunção que antes era relativa de constitucionalidade.

Art. 24 da Lei nº 9.868/99: Proclamada a constitucionalidade, julgar-se-á


improcedente a ação direta ou procedente eventual ação declaratória; e,
proclamada a inconstitucionalidade, julgar-se-á procedente a ação direta ou
improcedente eventual ação declaratória.

Lembrar:
As ações do controle concentrado não admitem desistência, pois vigora o princípio
da indisponibilidade.

➙ Foro competente é o STF (originária);

➙ Autores legitimados estão previstos taxativamente na Constituição;

➙ Não existe lide no caso concreto;


➙ Não se admite intervenção de terceiros;

➙ Efeito erga omnes;


➙ Eficácia imediata da decisão

➙ Inexiste prescrição ou decadência.

9.2 Pontos sobre os efeitos, quando houver:


a) Da decisão da procedência: A força de coisa julgada, própria das decisões definitivas
proferidas em ação direta, inibe a possibilidade de qualquer outro Juiz ou Tribunal dar pela
constitucionalidade da Lei ou ato havidos por inconstitucionais pela Suprema Corte. A força do
decisório ora examinado não vai, contudo, a ponto de suspender a eficácia da Lei, porque está
só se dá pela interveniência do Senado Federal, que desfruta da competência exclusiva para tal.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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b) Da decisão que dá pela improcedência: Se a maioria constitucionalmente exigida


para declarar inconstitucional um ato infraconstitucional decide pela improcedência da ação, esta
faz coisa julgada. São as seguintes razões que militam a favor deste entendimento:
I) Disposição do fundamento do direito subjetivo público de ação, isto é, já ter havido a
prestação jurisdicional a que estava obrigado o Estado;
II) A estabilidade da ordem jurídica, que se veria turbada pela repetição de ações de
declaração de inconstitucionalidade, a fazer pairar, a todo o instante, dúvida sobre os atos
apontados como viciados;
III) A harmonia do sistema;
IV) O amesquinhamento da dignidade autoritária de um pronunciamento do Supremo,
efetuado com uma solenidade toda especial (maioria absoluta). (MENDES, Gilmar, Curso de
Direito Constitucional).

126
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Ação Direta de Inconstitucionalidade

Era o único meio de controle concentrado até a promulgação da Emenda Constitucional


nº 3 de 1993 que criou a ação declaratória de constitucionalidade.
Nas constituições anteriores, era de competência do Procurador-Geral da República sua
propositura, contudo, a Constituição Federal de 1988 ampliou significativamente seus
legitimados.
Regulamentada pela Lei nº 9.868/99 – que regulamenta o processo de julgamento de
ambas.

1. Objeto
O objeto da ação direta de inconstitucionalidade não recai somente sobre a lei strictu
sensu, podendo ser objeto qualquer ato normativo que tenha as características de abstração e
generalidade, buscando assegurar a segurança das relações jurídicas buscando retirar qualquer
lei ou ato normativo federal ou estadual que seja violador da ordem constitucional. Assim, trata-
se das espécies descritas no artigo 59 da Constituição, bem como atos normativos, a exemplo
dos regimentos internos dos Tribunais.

Importante postura do STF e já cobrada na OAB sobre o decreto: Uma questão


apontada na correção da OAB refere-se justamente à possibilidade de ADI apenas se se tratar
de decreto autônomo e não de decreto regulamentar, justamente porque se discute seus efeitos.
Veja a própria correção da prova: “De início, deve-se destacar que os decretos do Chefe do
Poder Executivo podem ser regulamentares ou autônomos. Na jurisprudência do STF, somente
se admite a propositura de ação direta tendo por objeto decreto autônomo, aquele que inova
autonomamente na ordem jurídica, e não o decreto que tenha por escopo regulamentar a lei.
Isso porque o decreto regulamentar não possui autonomia normativa. Se o decreto apenas fere
a lei, ou desborda dos limites regulamentares, abrir-se-á a via do controle de legalidade, e não
do controle de constitucionalidade” (FGV).

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Importante lembrar!

→ A ADI 02, julgou, com votos divergentes, a impossibilidade de apreciação de


inconstitucionalidade de norma anterior a Constituição de 1988;
→ Não cabe ADI ao STF de lei municipal;
→ Não caberá ADI de súmulas vinculantes;
→ Não caberá de atos (inclusive os legislativos) com efeitos concretos;
→ Não caberá normas revogadas ou que já tenham perdido a eficácia;

A ação direta de inconstitucionalidade não terá cabimento no tocante à eventual


ilegalidade da norma, cabendo apenas quando houver VIOLAÇÃO de atos diretamente
reportados à Constituição, seja o ato normativo ou não normativo.

Fique atento: a competência para apreciação de inconstitucionalidades tendo como


parâmetro a Constituição Estadual (tanto de leis ou atos normativos estaduais ou municipais) é
do Tribunal de Justiça, conforme previsto no artigo 125 parágrafo 2º (poderá a Constituição
Estadual atribuir a competência ao TJ ainda que o parâmetro seja a Constituição Federal - se for
o caso de norma de repetição obrigatória).

STF se posiciona em relação ao controle de constitucionalidade de normas de


reprodução obrigatória, mesmo nos casos que não expressamente previstas nas Constituições
Estaduais:

Controle concentrado de constitucionalidade de norma municipal por Tribunal de Justiça


em face da CF/1988 - ADI 5647/AP Resumo: É constitucional o dispositivo de constituição
estadual que confere ao tribunal de justiça local a prerrogativa de processar e julgar ação
direta de constitucionalidade contra leis e atos normativos municipais tendo como
parâmetro a Constituição Federal, desde que se trate de normas de reprodução obrigatória
pelos estados (1).As normas constitucionais de reprodução obrigatória, por possuírem
validade nacional, integram a ordem jurídica dos estados-membros ainda quando omissas
em suas Constituições estaduais, inexistindo qualquer discricionariedade em sua
incorporação pelo ordenamento local.Com base nesse entendimento, o Plenário, por
unanimidade, julgou parcialmente procedente o pedido formulado em ação direta para dar
interpretação conforme à CF ao art. 133, II, m, da Constituição do Estado do Amapá. (1)
Precedentes: ARE 1.130.609 AgR, Pet 2.788 AgR, Rcl 2.130 AgR, Rcl 6.344-ED, Rcl
10.500 AgR, Rcl 12.653 AgR, Rcl 17.954 AgR, RE 598.016 AgR, RE 840.423 AgR, RE
918.333 AgR, RE 1.158.273 AgR, Rcl 38.712, RE 650.898 e ADI 5.646.

2. Cabimento
• Caberá ADI contra Lei ou ato normativo Estaduais ou Federais do Poder público que viole
a Constituição.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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• A ADI 02 julgou, com votos divergentes, a impossibilidade de apreciação de


inconstitucionalidade de norma anterior a constituição de 1988;
• Atos normativos primários.
Atenção a jurisprudência do STF:
Posição do STF que admite a excepcionalidade de ADI no caso de um decreto
regulamentar: Sabe-se que os decretos regulamentares, como regra, são atos normativos
secundários, e, portanto, não são eivados de inconstitucionalidade e sim de ilegalidades.
Contudo, o STF no caso “paradigma” da ADI 6.675, entendeu que se os decretos
regulamentares, apesar de constituírem atos normativos secundários, comportarem-se como
atos primários, ou seja, criando direitos e novas situações jurídicas típicas dos atos primários,
estrão sujeitos a ser combatidos via ação direta de inconstitucionalidade.

3. Legitimidade
Logo acima tratados que os legitimados serão do art. 103 da Constituição Federal – e
sempre se tem que ter o cuido de identificar os legitimados universais e aqueles que deverão
demonstrar pertinência temática. Lembrar que, como se trata de processo objetivo de controle
de lei em tese, não se fala em sujeitos passivos.

4. Competência
Lembrar que se trata de competência originária no Supremo Tribunal Federal, em
conformidade com art. 102, I, a, da CF.

5. Procedimento
Leitura do art. 103, § 1º e 3º, da Constituição Federal, combinado com a Lei nº 9.868/99 e
Regimento Interno do STF, arts. 169 a 178. Atenção aos artigos 2º a 12 da Lei nº 9.868/99.
Os procedimentos e ritos abaixo são extraídos da Lei específica não do Código de
Processo Civil:

Ordinário sem pedido de Ordinário com pedido de


Possibilidade de procedimento
medida cautelar medida cautelar
sumário (art. 12)
(art. 10 e 11) (art.10 e 11)
- Uma vez recebida a inicial, - Uma vez recebida a inicial, - Havendo pedido de medida
segue o Relator pedindo segue o Relator pedindo cautelar, o relator, em face da
informações às autoridades ou informações às autoridades ou relevância da matéria e de seu
órgão responsável pelo objeto de órgão responsável pelo objeto de especial significado para a ordem
impugnação; impugnação; social e a segurança jurídica,

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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- Devendo as informações serem - Devendo as informações serem poderá conceder medida


prestadas no prazo de 30 dias; prestadas no prazo de 05 dias; cautelar;
- Advogado-Geral e Procurador- - Advogado geral e procurador - Relator recebe a inicial e
Geral restam as informações no geral prestam as informações no determina o Processamento pelo
prazo de 15 dias cada; prazo de 03 dias cada; rito sumário;
- Edição do relatório (feito pelo - Julgamento da medida pelo - prestação das informações, no
relator); pleno do STF; prazo de 10 dias para as
- Julgamento da ADI. - Solicitam-se (o relator) autoridades ou órgãos do ato
informações às autoridades ou impugnado,
órgão responsável pelo objeto de - Manifestação do Advogado-
impugnação; Geral da União e do Procurador-
- Advogado geral e procurador Geral da República,
geral prestam as informações no sucessivamente, no prazo de 05
prazo de 15 dias cada; dias,
- Edição do relatório (feito pelo -Remessa do processo
relator) com cópia para dos diretamente ao Tribunal, que terá
ministros; a faculdade de julgar
- Julgamento da ADI em seu definitivamente a ação no seu
mérito. mérito.

Observações: Art. 4o da Lei nº 9.868/99, a petição inicial inepta, não fundamentada e a


manifestamente improcedente serão liminarmente indeferidas pelo relator. Parágrafo único, cabe
agravo da decisão que indeferir a petição inicial.
Necessidade de manifestação (dispensado o Procurador-Geral nos processos em que ele
for o autor.

Decisões do STF:
O não conhecimento da ADI 1.822/DF, rel. min. Moreira Alves, por impossibilidade jurídica
do pedido, não constitui óbice ao presente juízo de (in)constitucionalidade, em razão da
ausência de apreciação de mérito no processo objetivo anterior, bem como em face da
falta de juízo definitivo sobre a compatibilidade ou não dos dispositivos atacados com a
CF. A despeito de o pedido estampado na ADI 4.430 se assemelhar com o contido na
ação anterior, na atual dimensão da jurisdição constitucional, a solução ali apontada não
mais guarda sintonia com o papel de tutela da Lei Fundamental exercido por esta Corte.
O STF está autorizado a apreciar a inconstitucionalidade de dada norma, ainda que seja
para dela extrair interpretação conforme à CF, com a finalidade de fazer incidir conteúdo
normativo constitucional dotado de carga cogente cuja produção de efeitos independa de
intermediação legislativa. [ADI 4.430, rel. min. Dias Toffoli, j. 29-6-2012, P, DJE de 19-9-
2013.]

Embora adotado o rito previsto no art. 10 da Lei 9.868, de 10 de novembro de 1999, ao


processo de ação direta de inconstitucionalidade ou de descumprimento de preceito
fundamental, pode o STF julgar a causa, desde logo, em termos definitivos, se, nessa fase
processual, já tiverem sido exaustivas as manifestações de todos os intervenientes,
necessários e facultativos admitidos. [ADI 4.163, rel. min. Cezar Peluso, j. 29-2-2012,
P, DJE de 1º-3-2013

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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6. Cautelar
Em relação a cautelar, como regra, possui efeito ex nunc (não retroativo). Contudo, a Lei
prevê que se o STF desejar atribuir efeitos ex tunc, deverá fazê-lo mediante manifestação
expressa, conforme artigo 11 parágrafo 1º.

Art. 11 da Lei 9.868/99 (...)


§ 1° A medida cautelar, dotada de eficácia contra todos, será concedida com efeito ex
nunc, salvo se o Tribunal entender que deva conceder-lhe eficácia retroativa.
§ 2º A concessão da medida cautelar torna aplicável a legislação anterior acaso existente,
salvo expressa manifestação em sentido contrário.

Dessa forma, deve-se ter cuidado: se a questão mencionar a tutela de urgência, estando
presentes os periculum in mora e o fumus boni juris, o pedido de medida cautelar para suspender
da vigência da norma questionada deverá ser redigido na inicial, tendo seus efeitos como regra
ex nunc, diferentemente do que ocorreria quando da apreciação do mérito.

7. Efeitos práticos
O caso de repristinação tácita: sem dúvida, é o segundo parágrafo que mais estranheza
causa. Tradicionalmente o Direito brasileiro admite a repristinação apenas quando
expressamente determinada, pelo texto legal passa-se a presumir os efeitos repristinatórios, é
sabido que a repristinação em nosso sistema, por ser excepcional, dependia até então de
expressa referência do Supremo Tribunal Federal. Inegável o caráter de praticidade do
dispositivo analisado vez que pretende, com a reentrada em vigor da norma revogada, evitar um
vácuo jurídico que, eventualmente, prejudicaria as relações jurídicas concretas mais do que a
existência de uma regulamentação inconstitucional.
Portanto, a suspensão da lei por medida cautelar implica, sempre que possível, a
restauração da vigência da Lei anterior se acaso existir. Seria mesmo tormentoso se a cautelar
criasse uma espécie de vácuo jurídico.

Decisão:

➙ Vide art. 22, 23 e 24 da Lei nº 9.868/99;

➙ Quórum para abrir a sessão de julgamento é de 8 Ministros;

➙ A decisão de mérito será de maioria absoluta, ou seja, 6 Ministros;

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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➙ Lembrar os efeitos dúplices ou ambivalentes (já descritos acima) quando se tratar de


ADI e ADC, ou seja, nos casos de improcedência tem-se efeito diverso (a improcedência
de ADI equivale à proclamação de ADC e vice-versa).

8. Representação de Inconstitucionalidade
Sobre o controle de constitucionalidade no âmbito dos estados membros –
representação de inconstitucionalidade:

Para todos verem: esquema onde demonstra a violação à Constituição


Estadual, conforme o artigo 125, parágrafo 2º, da CF, poderá ser por
Leis Estaduais ou por Leis Municipais.

9. Controle de constitucionalidade na esfera dos seus Estados-membros


De acordo com o art. 125, §2°, da CF/88, “Cabe aos Estados a instituição de
representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em
face da Constituição Estadual...”. O julgamento será pelo Tribunal de Justiça respectivo.

Palavra-chave:
Constituição Estadual

➙ Trata-se de leis municipais e estaduais.

➙ Será dirigida ao Desembargador Presidente do Tribunal de Justiça.

➙ Caberá às Constituições estaduais indicar os legitimados para a propositura. Exemplo: Rio


Grande do Sul:
Art. 95 (...)
§ 1º Podem propor a ação de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo estadual, ou
por omissão:
I - o Governador do Estado;
II - a Mesa da Assembleia Legislativa;
III - o Procurador-Geral de Justiça;
IV - o Defensor Público-Geral do Estado
V - o Conselho Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil;

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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VI - partido político com representação na Assembleia Legislativa;


VII - entidade sindical ou de classe de âmbito nacional ou estadual;
VIII - as entidades de defesa do meio ambiente, dos direitos humanos e dos consumidores,
de âmbito nacional ou estadual, legalmente constituídas;
IX - o Prefeito Municipal;
X - a Mesa da Câmara Municipal.

Lei Estadual poderá ser atacada via ADI (STF), em se tratando de violação à Constituição
Federal, bem como, se violar também a Constituição Estadual, poderá ser interposta no Tribunal
de Justiça; nesses casos, segundo jurisprudência do STF, decide-se, primeiramente, no nível
estadual - no tribunal de justiça local, e, posteriormente, no STF caso a decisão do TJ viole à
Constituição. O meio é o recurso extraordinário ao STF.

Chama-se de dupla fiscalização ou “simultaneidade de ações diretas de


inconstitucionalidade”.

Observar a questão da competência quando se trata de norma constitucional estadual de


reprodução obrigatória, ou seja, de norma que esteja prevista na Constituição Federal.
Lembrar que o STF considera que o processo legislativo, ainda que não externado na
Constitucional Estadual é de reprodução obrigatória, devendo suas regras serem observadas
pelos Estados membros e municípios.
No caso do TJ, o parâmetro é Constituição Estadual, haja vista que o pedido de declaração
de inconstitucionalidade terá a Constituição Estadual por base, ocorreria então uma forma de
controle incidental da norma da Constituição Federal, não podendo ele se manifestar diretamente
sobre a Constitucionalidade com base na Constituição Federal, sob pena de usurpação de
competência.
Contudo, o STF julgou recente constitucional o dispositivo de Constituição Estadual que
confere ao Tribunal de Justiça local a prerrogativa de processar e julgar ação direta de
constitucionalidade contra leis e atos normativos municipais tendo como parâmetro a
Constituição Federal, desde que se trate de normas de reprodução obrigatória pelos estados
Se o TJ atribuir uma interpretação incompatível com a Constituição Federal, caberá
especificadamente Recurso Extraordinário no Supremo Tribunal Federal para que se manifesta
se a norma é constitucional ou não. Veja o caso paradigma:

Rcl. nº 383 assentou-se não configurada a usurpação de competência quando os Tribunais


de Justiça analisam, em controle concentrado, a constitucionalidade de leis municipais
ante normas constitucionais estaduais que reproduzem regra da Constituição de
observância obrigatória. O acórdão possui a seguinte ementa: “EMENTA: Reclamação

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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com fundamento na preservação da competência do Supremo Tribunal Federal. Ação


direta de inconstitucionalidade proposta perante Tribunal de Justiça na qual se impugna
Lei municipal sob a alegação de ofensa a dispositivos constitucionais estaduais que
reproduzem dispositivos constitucionais federais de observância obrigatória pelos
Estados. Eficácia jurídica desses dispositivos constitucionais estaduais. Jurisdição
constitucional dos Estados-membros. - Admissão da propositura da ação direta de
inconstitucionalidade perante o Tribunal de Justiça local, com possibilidade de recurso
extraordinário se a interpretação da norma constitucional estadual, que reproduz a norma
constitucional federal de observância obrigatória pelos Estados, contrariar o sentido e o
alcance desta. (STF)

Contudo, pode ocorrer simultaneidade de ações, tanto no Tribunal de Justiça quanto no


STF. Nesse caso, se a Lei estadual for impugnada perante o Tribunal de Justiça local e perante
o Supremo Tribunal Federal, com fundamento em norma constitucional de reprodução
obrigatória, suspende-se a ação direta proposta na Justiça estadual até a decisão final do
Supremo Tribunal Federal, que poderá ter efeitos erga omnes e eficácia vinculante para o
Tribunal de Justiça, se julgada procedente, com base no princípio da simetria.

Novo posicionamento sobre a competência do TJ no controle de leis municipais:


Importante decisão do STF em termos de controle de constitucionalidade de norma
municipal pelo Tribunal de Justiça, com base na Constituição Federal:

ADI 5647/AP Resumo: É constitucional o dispositivo de Constituição estadual que confere


ao Tribunal de Justiça local a prerrogativa de processar e julgar Ação Direta de
Constitucionalidade contra leis e atos normativos municipais tendo como parâmetro a
Constituição Federal, desde que se trate de normas de reprodução obrigatória pelos
Estados (1).As normas constitucionais de reprodução obrigatória, por possuírem validade
nacional, integram a ordem jurídica dos estados-membros ainda quando omissas em suas
Constituições estaduais, inexistindo qualquer discricionariedade em sua incorporação pelo
ordenamento local.Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou
parcialmente procedente o pedido formulado em ação direta para dar interpretação
conforme à CF ao art. 133, II, m, da Constituição do Estado do Amapá. (1) Precedentes:
ARE 1.130.609 AgR, Pet 2.788 AgR, Rcl 2.130 AgR, Rcl 6.344-ED, Rcl 10.500 AgR, Rcl
12.653 AgR, Rcl 17.954 AgR,

Resumo:
Veja resumidamente o esquema do que não poderá faltar na redação da peça processual
de ação direta de inconstitucionalidade:

Originária – STF Artigo 102, I, “a’’, CF/88.


Competência –
Originária -Tribunal de Justiça de cada Estado – quando se tratar de afronta
fundamento legal
à Constituição Estadual Art. 125, § 2º, CF/88.
Constituição Federal: Excelentíssimo Senhor Doutor Ministro Presidente do
Endereçar
Supremo Tribunal Federal.

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Constituição Estadual: Excelentíssimo Senhor Doutor Desembargador


Presidente do Tribunal de Justiça do Estado...(completar)
Legitimidade ativa – artigo 103, CF/88 e art. 2º da Lei nº 9.868/1999 – não
Legitimidade ativa e se pode esquecer de justificar o caso da pertinência temática;
passiva Legitimidade passiva – Órgão ou autoridade que editou a lei/ ato normativa
do que se pretende declarar inconstitucional.
O que devo indicar? Apontar os motivos da inconstitucionalidade da norma, lembrando que
(Constituir a causa de poderá se tratar de inconstitucionalidade formal e material, não há óbice em
pedir da ação) estar presente as duas formas de inconstitucionalidade.
Intimação do órgão/ autoridade responsável pela lei/ ato normativo,
intimação do Advogado-Geral da União e do Procurador-Geral da
República;
Requerimentos e Citação do advogado para querendo, defender o ato impugnado;
Pedido Ver se é o caso de medida cautelar para suspender os efeitos da norma
impugnada;
Procedência da ação para dar declaração de inconstitucionalidade a norma
impugnada.
Art. 3º da Lei nº 9.868/99 - A petição inicial, acompanhada de instrumento
de procuração, quando subscrita por advogado, será apresentada em duas
Outras observações
vias, devendo conter cópias da lei ou do ato normativo impugnado e dos
documentos necessários para comprovar a impugnação

Modelo
Elaborando a peça processual de ação direta de inconstitucionalidade.
Exame de Ordem XXVII - Peça profissional
O crescimento da exploração de diamantes no território do Estado Alfa ampliou a circulação de
riquezas e fez com que a densidade demográfica aumentasse consideravelmente, juntamente
com os riscos ao meio ambiente. Esse estado de coisas mobilizou a população local, o que levou
um grupo de Deputados Estaduais a apresentar proposta de emenda à Constituição Estadual
disciplinando, detalhadamente, a forma de exploração de diamantes no território em questão. A
proposta incluía os requisitos formais a serem cumpridos junto às autoridades estaduais e os
limites quantitativos a serem observados na extração, no armazenamento e no transporte de
cargas.
Após regular aprovação na Assembleia Legislativa, a Emenda à Constituição Estadual nº 5/2018
foi sancionada pelo Governador do Estado, sendo isso imediatamente comunicado às
autoridades estaduais competentes para que exigissem o seu cumprimento.
Preocupada com a situação no Estado Alfa e temendo o risco de desemprego dos seus
associados, isso em razão dos severos requisitos estabelecidos para a exploração de diamantes,
a Associação Nacional dos Geólogos, que há décadas luta pelos direitos da categoria, contratou
os seus serviços como advogado(a) para que elabore a petição inicial da medida judicial cabível,

135
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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de modo que o Tribunal Superior competente reconheça a incompatibilidade do referido ato


normativo com a Constituição da República Federativa do Brasil. (Valor: 5,00)
Obs.: a peça deve abranger todos os fundamentos de Direito que possam ser utilizados para dar
respaldo à pretensão. A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não confere
pontuação.

Segue modelo de estruturação da peça de ADI cobrada no EXAME DE ORDEM XXVII:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL


FEDERAL

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS GEÓLOGOS, pessoa jurídica de direito privado, inscrito


no CPNJ sob o n°..., endereço eletrônico..., com sede na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade...,
Estado..., CEP..., neste ato representado pelo Presidente..., nacionalidade..., profissão..., estado
civil..., portador do RG n°..., inscrito no CPF sob o n° ..., endereço eletrônico..., residente e
domiciliado na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., por seu procurador inscrito na
OAB n° ..., procuração anexa, conforme artigo 287 do Código de Processo Civil, endereço
eletrônico, com escritório profissional situado na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado...,
CEP..., onde recebe intimações, vem, ante Vossa Excelência para propor AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE COM PEDIDO CAUTELAR, com fundamento no artigo 102, inciso
I, alínea “a” e “p”, da Constituição Federal e artigo 1º e 10 da Lei nº 9.868/99, em face da
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO BETA, órgão da pessoa jurídica ESTADO BETA,
pessoa jurídica de Direito Público, inscrito no CNPJ sob o n°..., endereço eletrônico..., sede na
Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado, CEP..., e GOVERNADOR DO ESTADO ALFA,
nacionalidade..., profissão..., estado civil..., portador do RG n°..., inscrito no CPF sob o n°...,
endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado...,
CEP..., pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:

1) DOS FATOS:
A Assembleia Legislativa do Estado Alfa elaborou Emenda à Constituição Estadual nº
5/2018, cujo texto violou a Constituição Federal.

2) DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS:

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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2.1) Competência:
Compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar Ação Direta de
Inconstitucionalidade de lei ou ato normativo estadual que viole a Carta Magna, conforme artigo
102, inciso I, alínea “a”, da Constituição Federal e artigo 1º, da Lei nº 9.868/99.

2.2) Legitimidade:
A Associação Nacional dos Geólogos possui legitimidade ativa para propositura de Ação
Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal, conforme se extrai do artigo 103,
inciso VIII, da Constituição Federal e artigo 2º, inciso VIII, da Lei nº 9.868/99. A Associação
preenche o requisito de pertinência temática, pois há décadas luta pelos direitos da categoria.
A legitimidade passiva da presente ação é da Assembleia Legislativa do Estado Alfa, que
editou e do Governado do Estado Alfa que sancionou a Emenda à Constituição Estadual nº
5/2018 que viola dispositivos da Constituição Federal, o que justifica a propositura da presente
ação.

2.3) Cabimento:
Cabe Ação Direta de Inconstitucionalidade de lei ou ato normativo estadual que viole a
Constituição, com fundamento no artigo 102, inciso I, alínea “a” da Constituição Federal e artigo
10, da Lei nº 9.868/99.

2.4) Do Direito:
A Emenda Constitucional nº 5/2018 violou a competência privativa da União para legislar
sobre jazidas, minas, outros recursos minerais, Mineração e transporte, conforme dispõe o Artigo
22, incisos XI e XII, da CRFB/88.
Também não observou as normas sobre processo legislativo, obrigatórias por força da
simetria, prevista no Artigo 25, caput, da CRFB/88.
Ainda, não há previsão de participação do Chefe do Poder Executivo ao fim do processo
de reforma constitucional, conforme o Artigo 60 da CRFB/88.
Por fim, conclui-se que a Emenda Constitucional nº 5/2018 padece de vício de
inconstitucionalidade formal.

2.5) Medida cautelar:


É incontroverso que a tutela jurisdicional cautelar se faz necessária, pois estão presentes
os requisitos do fumus boni juris e do periculum in mora.

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Além da patente inconstitucionalidade demonstrada nos fundamentos de mérito, também


há risco na demora, pois os novos requisitos criados podem inviabilizar a continuidade da
atividade de exploração de diamantes, assim como colocar em risco de desemprego dos
associados da autora.
Desta forma, é imperioso o deferimento da medida, suspendendo a eficácia da Emenda
Constitucional nº 5/2018 até que seja definitivamente julgada a presente Ação Direta de
Inconstitucionalidade, conforme artigo 102, inciso I, alínea “p”, da Constituição Federal e artigo
10, da Lei 9.869/99.

3) DO PEDIDO:
a) O recebimento desta inicial, a qual vai em duas vias e com cópia do ato normativo, nos
termos do artigo 3º, parágrafo único da Lei nº 9.869/99;
b) A concessão da medida cautelar para suspender a eficácia da norma inconstitucional
impugnada, Emenda Constitucional nº 5/2018, pois restou demonstrado o fumus boni juris e
periculum in mora, conforme requer o artigo 10, da Lei nº 9.868/1999;
c) A intimação do Ilustríssimo Senhor Procurador do Estado Alfa, para prestar
informações, no prazo de 5 (cinco) dias conforme artigo 10, da Lei nº 9.868/99; e 30 (trinta) dias
acerca do mérito do pedido, conforme artigo 6º, da Lei nº 9.868/99;
d) A intimação do Excelentíssimo Senhor Deputado Presidente da Assembleia Legislativa
do Estado Alfa, para prestar informações, no prazo de 5 (cinco) dias conforme artigo 10, da Lei
nº 9.868/99; e 30 (trinta) dias acerca do mérito do pedido, conforme artigo 6º, da Lei nº 9.868/99;
e) A intimação do Advogado-Geral da União para que se manifeste sobre a medida
cautelar, no prazo de 3 (três) dias, consoante artigo 10, parágrafo 1º, da Lei nº 9.868/99 e nos
moldes do artigo 8º, da Lei nº 9.868/99, no prazo de 15 (quinze) dias;
f) A intimação do Procurador-Geral da República para que se manifeste sobre a medida
cautelar, no prazo de 3 (três) dias, consoante artigo 10, parágrafo 1º, da Lei nº 9.868/99 e nos
moldes do artigo 8º, da Lei nº 9.868/99, no prazo de 15 (quinze) dias;
g) Requer a junta de cópia dos documentos que comprovem a impugnação do ato, a
procuração, nos termos do artigo 3º da Lei nº 9.868/99;
h) Requer que no mérito seja declarada a inconstitucionalidade da Emenda Constitucional
nº 5/2018, nos termos do artigo 23 e 28, parágrafo único, da Lei nº 9.869/99.

Valor da causa R$ ..., para efeitos procedimentais, nos termos dos artigos 291 e 319,
inciso V do Código de Processo Civil.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Local..., data...
Advogado...
OAB...

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão

A concretização da ordem constitucional com toda a sua força normativa, necessita em


alguns casos, de uma norma integralizadora e, portanto, exige o compromisso do legislador a
tarefa de construção do Estado Constitucional. É compromisso dos órgãos legislativos o poder e
o dever de emprestar conformação à realidade social e, em caso de não atuação, é que se tem
o objeto da ação direta de inconstitucionalidade. (MENDES, Gilmar. Curso de Direito
Constitucional)
O art. 103, § 2º, da CF, prevê que:
Art. 103 (...)
§ 2º declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma
constitucional, será dada ciência ao poder competente para adoção de providências
necessárias e, em se tratando de órgão administrativo, para fazê-lo em trinta dias.

Para todos verem: colunas que tratam sobre o conceito da ação direta de
inconstitucionalidade por omissão. Na primeira coluna, o texto é: omissão, em
sentido jurídico-constitucional, significa não fazer aquilo a que se estava
constitucionalmente obrigado. A omissão legislativa, para ganhar significado
autônomo e relevante, deve conexionar-se com uma exigência constitucional de
ação, não bastando o simples dever geral de legislar para dar fundamento a uma
omissão inconstitucional. E na segunda coluna, o texto é: só se deve falar
propriamente em inconstitucionalidade nos casos em que essa violação omissiva é
diretamente reportada à Constituição, sem ato ou omissão interposta (atribuível a
outro Poder). Em outras palavras, não se pode transformar a ação direta de
inconstitucionalidade por omissão em ação direta de ilegalidade por omissão.

Assim, o objeto está ligado diretamente a aplicabilidade das normas constitucionais, logo,
são atacáveis somente as normas Constitucionais de eficácia limitada.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

Para todos verem: colunas que tratam sobre a omissão legislativa, com
o texto: a concretização da ordem fundamental estabelecida na
Constituição de 1988 carece, nas linhas essenciais, de Lei. Compete
às instâncias políticas e, precipuamente, ao legislador, a tarefa de
construção do Estado constitucional. Como a Constituição não basta
em si mesma, têm os órgãos legislativos o poder e o dever de
emprestar conformação à realidade social. A omissão legislativa
constitui, portanto, objeto fundamental da ação direta de
inconstitucionalidade. Já na segunda coluna, o título é omissão
administrativa, o texto é: a omissão inconstitucional, objeto da ação,
não decorre, necessariamente de previsão de legislar contida em
norma constitucional, mas pode advir da falta ou da insuficiência de
norma ou de prestação fático administrativa, para proteger ou viabilizar
a realização de um direito fundamental. Evidencia-se, neste momento,
que o legislador não tem dever apenas quando a norma constitucional
expressamente lhe impõe a edição de lei, mas também quando um
direito fundamental carece, em vista de sua natureza e estrutura, de
norma infraconstitucional, especialmente para lhe outorgar tutela de
proteção.

1. Doutrina
Posicionamentos críticos da doutrina constitucional sobre a eficácia prática da ADI por
omissão:

André Ramos Tavares (Curso de Direito Constitucional, 2012) esclarece os efeitos da


procedência da ação direta de inconstitucionalidade ante as possibilidades de
responsáveis pela omissão. Assim, explica que, quando a inconstitucionalidade for do
Legislativo, caberá ao Supremo Tribunal Federal apenas certificar a existência da omissão
a ser combatida, vez que, ante o princípio constitucional que cuida da separação de
poderes, não poderá impor ao legislador a elaboração da norma. O mesmo ocorre quando
o Executivo não cumprir com sua responsabilidade no tocante ao processo legislativo,
como nas situações onde possui iniciativa privativa para elaboração de projeto de lei e não
o instrua. De outra banda, quando a omissão inconstitucional não for de nenhum dos Três
Poderes, mas sim da Administração Pública, a Constituição determina que o Supremo
Tribunal Federal imponha o prazo máximo de trinta dias para sanar a omissão, sob pena
de responsabilidade daquele que não o fizer. Este prazo, de acordo com a nova disciplina
legal, poderá ser dilatado por estipulação excepcional do Tribunal, considerando as
circunstâncias específicas e o interesse público no caso.

Ingo Sarlet, Daniel Mitidieiro (Curso de Direito Constitucional, 2015): A crítica da decisão
de procedência na ação direta de inconstitucionalidade por omissão, considerando os
casos onde a referida decisão teria o escopo apenas de declarar a omissão e comunicá-
la ao Poder competente para as providências necessárias. Apontam que este
procedimento não sana o problema inibidor da efetividade da norma constitucional,
considerando que aquele poder que deveria elaborar a lei ainda está facultado a se omitir,
uma vez que não há a previsão de sanção pelo descumprimento ao dever de legislar. Ante
a inação do Legislativo, cabe ao Judiciário elaborar a norma faltante para dar efetividade

141
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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à Constituição, uma vez que o princípio da separação de poderes não pode servir de fuga
para que o Legislativo inviabilize a normatividade constitucional. Ainda, reafirmam o dever
de suprimento da norma pelo Judiciário também pelo fato de a inação do Legislativo estar
além da sua discricionariedade, configurando uma violação de dever. Quanto às normas
que podem unicamente ser editadas pelo Legislativo e que, por tal razão, seriam
insupríveis por parte do Judiciário, fazem a ressalva de que isto ainda não impede que,
ante ao não fato da não edição da norma pelo Legislativo, mesmo após a sentença
declaratória da omissão, o Judiciário não possa vir a supri-la, com fundamento justamente
no seu dever de tutela à Constituição. Neste ínterim, indicam a possibilidade da sentença
declaratória da ação, quando não surtir efeito, passar a assumir natureza constitutiva ao
elaborar a norma faltante. Sarlet, Marinoni e Mitidiero (2012)

Se tal situação se concretizar, a figura da ADI por omissão em termos de efeitos concretos
se aproximará da figura do mandado de injunção em relação a adesão da posição concretista do
STF.
Regulamentada pela Lei nº 9.868/99 – que regulamenta o processo de julgamento de
ambas.

2. Objeto
O objeto da ação direta de inconstitucionalidade por omissão é a morosidade de órgãos
competentes, cuja inércia afeta a efetividade de norma constitucional. Logo, em tese, caberá
apenas nas espécies normativas que necessitam de norma constitucional regulamentadora para
que possam surtir seus efeitos. Destaca-se, também, por norma regulamentadora é necessário
compreender não só as normas legais, como também as demais normas regulamentares (ou
seja, aquelas que tem a função de regulamentar diplomas infraconstitucionais) e que por não ter
sido editadas incorrem em uma omissão. Lembrem-se que não se trata apenas do Legislativo,
mas sim por órgãos e pessoas jurídicas pertencentes aos três Poderes, inclusive da
Administração indireta que deveria fazê-lo por obrigação imposta constitucionalmente.
Jurisprudência: Impossibilidade jurídica do pedido de conversão do mandado de injunção
em Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão. [MI 395 QO, rel. min. Moreira Alves, j. 27-
5-1992, P, DJ de 11-9-1992.]

3. Legitimidade
Logo acima tratado que os legitimados serão do art. 103 da Constituição – e sempre se
tem que ter o cuidado de identificar os legitimados universais e aqueles que deverão demonstrar
pertinência temática. Lembrar que, como se trata de processo objetivo de controle de lei em tese,
não se fala em sujeitos passivos.

142
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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4. Competência
Lembrar que se trata de competência originária no Supremo Tribunal Federal, em
conformidade com art. 102, I, a, da CF.

5. Procedimento
Aplicam-se no que couber as regras da ADI. Precisa-se então ter atenção as
particularidades abaixo:
a) A participação do Advogado Federal da União não é obrigatória, pois não há ato normativo
a ser defendido;
b) O Procurador Geral se manifesta no prazo de 15 dias, ainda que seja ele o autor;
c) Cautelar para a suspensão da Lei ou ato impugnado, apenas no caso de suspensão
parcial, poder-se-á suspender processos judiciais, procedimentos administrativos ou quaisquer
outras providências a serem fixadas pelo STF.

Art. 12-F da Lei nº 9.868/99: Em caso de excepcional urgência e relevância da matéria, o


Tribunal, por decisão da maioria absoluta de seus membros, observado o disposto no art.
22, poderá conceder medida cautelar, após a audiência dos órgãos ou autoridades
responsáveis pela omissão inconstitucional, que deverão pronunciar-se no prazo de 5
(cinco) dias.
§ 1º A medida cautelar poderá consistir na suspensão da aplicação da lei ou do ato
normativo questionado, no caso de omissão parcial, bem como na suspensão de
processos judiciais ou de procedimentos administrativos, ou ainda em outra providência a
ser fixada pelo Tribunal.
§ 2º O relator, julgando indispensável, ouvirá o Procurador-Geral da República, no prazo
de 3 (três) dias.
§ 3º No julgamento do pedido de medida cautelar, será facultada sustentação oral aos
representantes judiciais do requerente e das autoridades ou órgãos responsáveis pela
omissão inconstitucional, na forma estabelecida no Regimento do Tribunal.

Art.12-G da Lei 9.868/99: Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará
publicar, em seção especial do Diário Oficial da União e do Diário da Justiça da União, a
parte dispositiva da decisão no prazo de 10 (dez) dias, devendo solicitar as informações à
autoridade ou ao órgão responsável pela omissão inconstitucional, observando-se, no que
couber, o procedimento estabelecido na Seção I do Capítulo II desta Lei.

6. Distinção entre Mandado de Injunção e ADI por Omissão


Veja uma comparação entre a ADI por omissão e o mandado de injunção, a fim de que
identifiquem quando se trata de um ou outro:

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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MANDADO DE INJUNÇÃO ADI POR OMISSÃO


Previsão Art.5º, LXXI, CF e Lei nº 13.330/2016 Art. 102, I, da CF e Lei nº 9.868/68
Tribunais Superiores: artigos 102, I,
Competência “q” e II, “a”; 105, I, “h”; e 121, parágrafo art. 102, I, “a”, CF/88
4°, V.
Individual: Art. 3,º as pessoas naturais
ou jurídicas que se afirmam titulares
dos direitos, das liberdades ou das Art. 103. Podem propor a ação direta de
prerrogativas referidos no art. 2o e, inconstitucionalidade e a ação declaratória
como impetrado, o Poder, o órgão ou de constitucionalidade:
a autoridade com atribuição para editar I - o Presidente da República;
a norma regulamentadora. II - a Mesa do Senado Federal;
Coletivo: Art. 12. O mandado de III - a Mesa da Câmara dos Deputados;
injunção coletivo pode ser promovido: IV - a Mesa de Assembleia Legislativa ou
I - pelo Ministério Público (...); da Câmara Legislativa do Distrito
II - por partido político com Federal;
representação no Congresso Nacional V - o Governador de Estado ou do Distrito
Sujeitos (...); Federal;
III - por organização sindical, VI - o Procurador-Geral da República;
entidade de classe ou associação VII - o Conselho Federal da Ordem dos
legalmente constituída e em Advogados do Brasil;
funcionamento há pelo menos 1 (um) VIII - partido político com representação no
ano (...); Congresso Nacional;
IV - pela Defensoria Pública (...). IX - confederação sindical ou entidade de
classe de âmbito nacional
Os interesses coletivos cabem a uma
coletividade indeterminada de Impetrado – aquele responsável pela
pessoas ou determinada por grupo, edição normativa
classe ou categoria.

Concretiza, viabiliza o direito em


questão:
Art. 9o A decisão terá eficácia subjetiva
§ 2º Declarada a inconstitucionalidade por
limitada às partes e produzirá efeitos
omissão de medida para tornar efetiva
até o advento da norma
norma constitucional, será dada ciência ao
regulamentadora.
Efeitos Poder competente para a adoção das
§ 1o Poderá ser conferida eficácia ultra
providências necessárias e, em se
partes ou erga omnes à decisão,
tratando de órgão administrativo, para
quando isso for inerente ou
fazê-lo em trinta dias.
indispensável ao exercício do direito,
da liberdade ou da prerrogativa objeto
da impetração.
Falta de norma regulamentadora Omissão legislativa ou executiva – a
inviabilidade do direito; direito subjetivo inconstitucionalidade é a morosidade dos
Pressupostos previsto constitucionalmente, ou poderes competentes de forma a afetar a
vinculado a prerrogativas inerentes à concretização de norma constitucional.
nacionalidade, à soberania e à

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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cidadania, mesmo que essas Observação: a omissão pode ser total


prerrogativas não emanem (inexistente) ou parcial (insuficiente).
diretamente da Constituição, mas
inviabilizado de ser efetivado por
omissão normativa integradora

Resumo:
Competência – Originária – STF
fundamento legal Artigo 102, I, “’a’’, CF/88
Constituição Federal:
Endereçar Excelentíssimo Senhor, Doutor Ministro Presidente do Supremo Tribunal
Federal.
Legitimidade ativa – artigo 103, CF/88 e art. 2º da Lei nº 9.868/1999 – não se
Legitimidade ativa e pode esquecer de justificar o caso da pertinência temática.
passiva Legitimidade passiva – Órgão ou autoridade que editou a lei/ ato normativa do
que se pretende declarar inconstitucional.
O que deve indicar?
Indicar os motivos da mora legislativa ou administrativa (que não permitem a
(Constitui causa de
concretização da norma constitucional).
pedir)
Intimação do órgão/ autoridade responsável pela lei/ ato normativo, intimação
do Advogado-Geral da União e do Procurador-Geral da República;
Citação é dispensável – do Advogado–Geral, mas pode ser feita;
Ver se é o caso de medida cautelar para suspender os efeitos da norma
Requerimentos e
impugnada. Se parcial ou suspensão de processos judiciais ou procedimentos
Pedido
administrativos;
Procedência da ação para declarar a mora do poder competente que
inviabiliza a aplicação da norma constitucional OU em se tratando de órgão
administrativo, para fazê-lo em 30 dias, sob pena de responsabilidade
A petição inicial, acompanhada de instrumento de procuração, quando
subscrita por advogado, será apresentada em duas vias, devendo conter
Outras observações
cópias da lei ou do ato normativo impugnado e dos documentos necessários
para comprovar a omissão atacada.

Modelo
Exame de Ordem XIX - Peça profissional
Determinado partido político, que possui dois deputados federais e dois senadores em seus
quadros, preocupado com a efetiva regulamentação das normas constitucionais, com a
morosidade do Congresso Nacional e com a adequada proteção à saúde do trabalhador,
pretende ajuizar, em nome do partido, a medida judicial objetiva apropriada, visando à
regulamentação do Art. 7º, inciso XXIII, da Constituição da República Federativa do Brasil de
1988.
O partido informa, por fim, que não se pode compactuar com desrespeito à Constituição da

145
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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República por mais de 28 anos.


Considerando a narrativa acima descrita, elabore a peça processual judicial objetiva adequada.
(Valor: 5,00)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.

Segue modelo de estruturação da peça de ADIO cobrada no exame de Ordem XIX:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL


FEDERAL

PARTIDO POLÍTICO, pessoa jurídica de direito privado, inscrito no CPNJ sob o n°..., com
sede na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., neste ato representado por seu
PRESIDENTE..., nacionalidade..., profissão..., estado civil, inscrito no CPF sob o nº..., portador
do RG nº..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade...,
Estado..., CEP..., por seu procurador inscrito na OAB n° ..., procuração em anexo, conforme
artigo 287, do Código de Processo Civil, endereço eletrônico..., com escritório profissional
situado na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., onde recebe intimações, vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento no artigo 102, inciso I,
alínea “a”, da Constituição Federal, e artigo 103, parágrafo 2º, da Constituição Federal, e artigo
1º, da Lei nº 9.868/99, propor AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO,
em face do CONGRESSO NACIONAL, órgão da pessoa jurídica União Federal, pessoa jurídica
de Direito Público, inscrito no CNPJ sob o n°..., endereço eletrônico..., sede na Rua..., n°...,
Bairro..., Cidade..., Estado, CEP..., pelos fatos e fundamentos a seguir expostos

1) DOS FATOS:
Inconformado com os 28 (vinte e oito) anos de falta de regulamentação do artigo 7°, inciso
XXIII, da Constituição Federal, o Partido Político, visando à proteção aos direitos do trabalhador,
ajuíza a presente Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão, haja vista que a omissão
constitucional por falta da norma regulamentadora impediu a sua plena produção de efeitos, uma
vez que se trata de norma de eficácia limitada.

2) DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS:


2.1) Da competência:

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Compete ao Supremo Tribunal Federal a guarda da Constituição, cabendo-lhe processar


e julgar as ações diretas de inconstitucionalidade por omissão legislativa Federal, conforme
artigo 102, inciso I, alínea “a”, da Constituição Federal, e artigo 103, parágrafo 2º, da Constituição
Federal, combinado com o artigo 1º, da Lei nº 9.868/99.

2.2) Da legitimidade:
A legitimidade ativa no caso em tela está prevista no artigo 103, inciso VIII, da Constituição
Federal, e artigo 2º, inciso VIII e artigo 12-A, ambos da Lei nº 9.868/99, que, no caso é de Partido
Político com representação no Congresso Nacional, não necessita demonstrar a pertinência
temática, pois é legitimado universal na propositura da demanda.
No caso, a legitimidade passiva é do Congresso Nacional por ser aquele que teria a
competência para regulamentar através da legislação federal o disposto no artigo 7º, inciso XXIII,
da Constituição Federal, incorrendo em mora legislativa após 28 (vinte e oito) anos sem viabilizar
a concretização do direito constitucional.

2.3) Do Cabimento:
Cabe Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão, perante o Supremo Tribunal
Federal, nos casos de falta de norma regulamentadora, com base nos artigos 102, inciso I, alínea
“a”, da Constituição Federal, e 12-A, da Lei nº 9.868/1999.
O artigo 7º, inciso XXIII, estabelece adicional de remuneração para as atividades penosas,
insalubres ou perigosas. Tal dispositivo exige norma regulamentadora, agindo o Congresso
Nacional em inconstitucionalidade por omissão diante de sua inércia legislativa.

2.4) Do Direito:
Verifica-se, no caso em tela, uma verdadeira omissão constitucional em razão na
inexistência da norma regulamentadora que deveria ter sido editada pelo Congresso Nacional,
ocasionando um prejuízo à efetividade da regulação de adicional dos casos aludidos pela norma
do artigo 7°, inciso XXIII, da Constituição Federal, cabendo ao Supremo Tribunal Federal suprir
a referida omissão, conforme o artigo 102, inciso I, alínea “a”, e artigo 103, parágrafo 2º, da
Constituição Federal, e artigo 1º, da Lei nº 9.868/99.

3) DOS PEDIDOS:
a) O recebimento desta inicial, a qual vai, em duas vias, nos termos do artigo 12-B,
parágrafo único, da Lei nº 9.868/99;

147
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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b) A juntada dos documentos necessários para comprovar a alegação de omissão, na


forma do artigo 12-B, parágrafo único, da Lei nº 9.868/99;
c) A intimação dos órgãos ou autoridades responsáveis pela omissão inconstitucional para
manifestar-se, nos termos do artigo 6º, parágrafo único, da Lei nº 9.868/99;
d) A intimação do Excelentíssimo Advogado-Geral da União, para que se manifeste acerca
do pedido de mérito, no prazo de 15 (quinze) dias, conforme artigo 12-E, parágrafo 2º, da Lei nº
9.868/99;
e) A intimação do Excelentíssimo Procurador-Geral da República, para que se manifeste
acerca do pedido de mérito, no prazo de 15 (quinze) dias, consoante artigo 12-E, parágrafo 3º,
da Lei nº 9.868/99;
f) A procedência do pedido de declaração de inconstitucionalidade por omissão do
órgão/poder responsável pela regulamentação da norma constitucional, dando ciência ao poder
inerte, nos termos do 12-H, da Lei nº 9.868/99, para suprir a omissão do artigo 7°, inciso XXIII,
da Constituição Federal.

Valor da causa R$ ..., para efeitos procedimentais, nos termos dos artigos 291 e 319,
inciso V, ambos do Código de Processo Civil.

Local..., data...
Advogado...
OAB...

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Ação Declaratória de Constitucionalidade – (ADC/ ADECON)

Introduzida pela Emenda constitucional nº 03/93 e aperfeiçoada pela Emenda


constitucional nº 45/04 – com a finalidade declarar a constitucionalidade de atos normativos
federais em face da Constituição –, tornando caso julgado procedente.

1. Objeto
Busca-se pacificar conflitos de interpretações judiciais relativas à matéria, com intuito de
tornar o que era uma presunção relativa em uma presunção absoluta de constitucionalidade.

A palavra-chave quando se trata de ADC será sempre a relevante controvérsia


judicial, ou seja, devem pairar incertezas, dúvidas ou controvérsias no âmbito
judicial.

2. Legitimados ativos
Logo acima, foi tratado que os legitimados serão do art. 103 da Constituição – e sempre
se tem que ter o cuidado de identificar os legitimados universais e aqueles que deverão
demonstrar pertinência temática. Lembrar que, como se trata de processo objetivo de controle
de lei, em tese, não se fala em sujeitos passivos – desconsiderar o rol reduzido do art. 13 da
Lei nº 9.868/99.

3. Competência
Lembrar que se trata de competência originária no Supremo Tribunal Federal, em
conformidade com art. 102, I, a, da CF.

4. Procedimento
Aplicam-se no que couber as regras da ADI. Precisa-se então ter atenção as
particularidades abaixo:
Somente caberá em se tratando de Lei Federal:

Art. 20 da Lei nº 9.868/99 (...)

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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§ 2o O relator poderá solicitar, ainda, informações aos Tribunais Superiores, aos Tribunais
federais e aos Tribunais estaduais acerca da aplicação da norma questionada no âmbito
de sua jurisdição;

Não há participação do Advogado–Geral da União.

Efeitos do pedido de cautelar - por decisão da maioria absoluta de seus membros, poderá
deferir pedido de medida cautelar na ação declaratória de constitucionalidade, consistente na
determinação de que os juízes e os Tribunais suspendam o julgamento dos processos que
envolvam a aplicação da lei ou do ato normativo objeto da ação até seu julgamento definitivo.

Requisitos inicial:
Art. 14 Lei nº 9868/99: A petição inicial indicará:
I - o dispositivo da lei ou do ato normativo questionado e os fundamentos jurídicos do
pedido;
II - o pedido, com suas especificações;
III - a existência de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação da disposição objeto
da ação declaratória.

5. Fundamento
É a necessidade de que haja RELEVANTE CONTROVÉRISA JUDICIAL prévia (segundo
o art. 14, III, da Lei nº 9.868/99, “controvérsia judicial relevante”).

Atenção: Aspectos gerais sobre a Lei nº 12.990/2014


Resumo: A Lei nº 12.990/2014 determinou que deveria haver cotas para negros nos
concursos públicos federais no percentual de 20 % vagas oferecidas nos concursos públicos (art.
1º da Lei). Ou seja, Órgãos, autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de
economia mista federais, ligadas ao Poder Executivo, mas não abrange Estados e Municípios.
Contudo, a Lei estabelece que, para contabilizar as vagas para cotas, o número mínimo deve
ser igual ou superior a três vagas.
A OAB é legitimado Universal para o controle concentrado de constitucionalidade adentrou
como uma Ação declaratória de constitucionalidade (ADC nº 41) e o STF julgou procedente a
ADC, declarando a constitucionalidade da Lei nº 12.990/2014, firmando o entendimento que: “É
constitucional a reserva de 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento
de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública direta e indireta”.
O art. 2º trata do critério de autodeclaração e heterodeclaração. O STF afirmou que o
critério da autodeclaração é constitucional, pois deve-se respeitar as pessoas tal como elas se
percebem. O que não impede que a Administração Pública adote um controle heterônomo,

150
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

sobretudo quando existirem fundadas razões para acreditar que houve abuso na autodeclaração,
podendo, por exemplo, constituir uma banca presencial, ou mesmo fazer a avaliação por fotos.
Fundamental é que se realize de uma forma que respeite a dignidade humana, preservando o
candidato.
Importante: o candidato que concorrer a vaga por cotas também poderá concorrer à vaga
geral, e, caso não obtenha a aprovação por cotas e sim pela vaga geral, sua vaga de cotas será
destinada a outro candidato, assumindo ele a vaga geral. Caso algum candidato que passou por
cotas desista da vaga, essa deverá ser destinada ao preenchimento novamente pelas cotas.

6. Resumo
Competência Originária do Supremo Tribunal Federal (artigo 102, I, “a”, da Constituição
Federal).
Endereçar Excelentíssimo Senhor Doutor Ministro Presidente do Supremo Tribunal Federal.
Legitimidade ativa Legitimidade Ativa- artigo 103 da Constituição Federal;
Legitimidade Passiva – não há parte, não há contra quem demandar.
e passiva

O que devo Deve-se indicar expressamente qual o dispositivo da Lei Federal ou ato
normativo Federal da lei do ato normativo questionado e os fundamentos jurídicos
alegar? (constituir do pedido - demonstrando a controvérsia judicial;
a causa de pedir) Relatar os motivos da constitucionalidade da norma atacada por juízes e
tribunais, destacando a divergência.
Declaração de constitucionalidade;
Intimação do Procurador-Geral da União (lembrar que não cabe do Advogado-
Pedido Geral);
Ver se é o caso de pedido cautelar determinando a suspensão de julgamentos
por juízes e tribunais sobre o objeto da controvérsia.
Art. 14 (...) Parágrafo único. A petição inicial, acompanhada de instrumento de
procuração, quando subscrita por advogado, será apresentada em duas vias,
Outras exigências devendo conter cópias do ato normativo questionado e dos documentos
necessários para comprovar a procedência do pedido de declaração de
constitucionalidade.

7. Modelo
Segue modelo básico de estruturação da peça de ADC:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

PARTIDO POLÍTICO..., pessoa jurídica de direito privado, inscrito no CNPJ sob o nº ...,
endereço eletrônico ..., com sede na Rua ..., Cidade..., Estado..., CEP..., por seu
PRESIDENTE..., nacionalidade..., profissão..., estado civil..., inscrito no CPF sob o n°..., portador

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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do RG n°..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade...,


Estado..., CEP..., vem respeitosamente a este Tribunal, por intermédio de seu advogado,
procuração com poderes específicos e especiais, nos termos do artigo 287 do Código de
Processo Civil, com endereço eletrônico..., endereço profissional na Rua ..., Cidade..., Estado...,
CEP..., local onde recebe intimações, com fulcro no artigo 102, inciso I, alínea “a”, e artigo 103,
parágrafo 1º, todos da Constituição Federal, artigos 1, 13 e 21, da Lei nº 9.868/99, ajuizar a
presente AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE COM PEDIDO CAUTELAR,
pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:

1) DOS FATOS:
Tendo em vista a existência de julgamentos controvertidos entre tribunais sobre a validade
constitucional no que tange à aplicação, vigência e validade da lei federal nº..., a qual versa sobre
o estabelecimento de 20% de vagas de cargos públicos a serem providos em concursos públicos
para negros, pardos e indígenas, editada e aprovada pelo Congresso Nacional, há grave
insegurança jurídica, a qual deve ser debelada por esta Ação Declaratória de
Constitucionalidade.

2) DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS:


2.1) Da competência:
Compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar Ação Declaratória de
Constitucionalidade de lei ou ato normativo federal que tenha sido objeto de divergência judicial,
exercendo, nesse caso, seu papel de guardião da Constituição, conforme o artigo 102, inciso I,
alínea “a”, da Constituição Federal.

2.2) Da Legitimidade ativa:


O Partido Político ..., com representação no Congresso Nacional, é legitimado universal,
conforme artigo 103, inciso VIII, da Constituição Federal, para propositura de Ação Declaratória
de Constitucionalidade.

2.3) Do Cabimento:
Cabe Ação Direta de Constitucionalidade diante de relevante controvérsia judicial sobre
lei ou ato normativo federal, fundamentada no artigo 102, inciso I, alínea “a”, da Constituição
Federal e a artigo 1° da Lei nº 9.868/99.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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2.4) Controvérsia Judicial relevante:


Trata-se de controvérsia sobre a Lei Federal X, em todos os seus artigos, nos termos do
artigo 14, inciso I, da Lei nº 9.868/99.
Os tribunais têm decidido controversamente sobre a Lei Federal X, que estabeleceu cotas
para provimentos de cargos via concurso público, atendendo, assim, ao disposto no artigo 14,
inciso III, da Lei nº 9.868/99. Alguns tribunais têm entendido que a referida lei é constitucional,
enquanto que outros rejeitam a aplicação da lei, todos com diferentes interpretações do
significado de igualdade presente na Constituição Federal.
Juntam-se decisões de diferentes tribunais, demonstrando a divergência de
interpretações, além de cópia do ato normativo questionado, nos termos do artigo 14, parágrafo
único, da Lei nº 9.868/99.

2.5) Do Direito:
A Lei Federal X é considerada constitucional, porque a igualdade deve ser entendida em
conjunto com a dignidade humana presente no artigo 1º, da Constituição Federal, bem como
com as condições materiais de acesso à igualdade perante a lei – sendo que tal ideal só pode
ser alcançado de discriminação positiva conforme inúmeros precedentes do Supremo Tribunal
Federal.
Logo, pode-se perceber que a Lei X não constitui violação de conteúdo constitucional,
devendo ser declarada constitucional por este egrégio Tribunal.

2.6) Da Medida Cautelar:


É cabível deferimento de medida cautelar, tendo em vista presentes os requisitos de
fumus boni juris e periculum in mora, do artigo 21, da Lei nº 9.868/99, para fins de suspensão
dos processos, em razão do julgamento uniforme no futuro e para evitar prejuízos tanto aos
candidatos como ao erário na organização dos concursos.

3) DOS PEDIDOS:
a) Seja recebida a presente ação em duas vias, conforme o que reza o artigo 14, parágrafo
único, da Lei nº 9.868/99;
b) A juntada dos documentos comprobatórios da controvérsia judicial e do ato normativo
controverso, nos termos do artigo 14, parágrafo único, da Lei nº 9.868/99;
c) Seja deferida medida cautelar solicitada, uma vez presentes os requisitos da fumaça
do bom direito e do perigo de demora, consoante artigo 21, da Lei nº 9.868/99;

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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d) Seja realizada a intimação de peritos e ou tribunais, para prestar esclarecimentos,


conforme entendimento do relator e do artigo 20, parágrafos 1º e 2º, da Lei nº 9.868/99;
e) Seja realizada a intimação do Procuradoria-Geral da República, manifeste-se no prazo
legal, nos termos do artigo 19, da Lei nº 9.868/99 e artigo 103, parágrafo 1º, da Constituição
Federal;
f) A procedência da presente ação, com a resolução da controvérsia judicial entre os
tribunais, para que seja declarada constitucional a lei federal nº ..., artigo ..., com efeito erga
omnes, vinculante, ex tunc, tudo isso nos termos do artigo 102, parágrafo 2º, da Constituição
Federal, e artigo 28, parágrafo único, da Lei nº 9.868/99.

Valor da causa R$ ..., para efeitos procedimentais, nos termos dos artigos 291 e 319,
inciso V, do Código de Processo Civil.

Local ..., Data ...


Advogado ...
OAB ...

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPF

1. Fundamento
A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, conhecida pela sigla “ADPF”,
na Constituição Federal de 1988, está prevista no artigo 102, parágrafo único, - Emenda
constitucional nº 03/93, §1º: “A arguição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente
desta Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei”;
Regulada pela Lei nº 9.882/99.
Foi considerada norma de eficácia limitada do art. 102, §1º, CF/88 – até sua
regulamentação pela Lei nº 9.882/99:

[...] o Tribunal, resolvendo questão de ordem suscitada pelo Min. Néri da Silveira, relator,
negou trânsito à petição em que se postula seu conhecimento como arguição, prevista no
art. 102, §1º, da CF (‘A arguição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente
desta Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei’),
adotando-se para tanto, o rito da ação cível originária, ou seu conhecimento e procedência
como revisão criminal, com vistas à declaração, em qualquer das hipóteses, de nulidade
da pena imposta ao arguente pelo Senado – perda do cargo de Presidente da República
-, como órgão judiciário, em razão de sua prévia renúncia ao mandato de Presidente.
Fundou-se a decisão no fato de não ser autoaplicável o disposto no §1º do art. 102 da CF.
O preceito demanda lei regulamentadora. AgRgMS 22.427-PA, DJU de 15.03.1996 e
AgRGPET 1.140, DJU de 31.05.1960.

2. Objeto
Campo de atuação da ADPF:
Completude do sistema de controle de constitucionalidade brasileiro. Distinção proposta
por André Ramos Tavares em Curso de direito constitucional:

Para todos verem: imagem com a inconstitucionalidade (apenas atos normativos)


versus descumprimento (quaisquer atos do Poder Público).

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Exemplo de alguns objetos que passaram a ser sindicáveis no âmbito do controle abstrato
de constitucionalidade perante o STF:

1) Atos não-normativos do Poder Público: Atos de efeito concreto; - Atos políticos; Atos
normativos secundários (só cabe ADIN de atos normativos primários, ou seja, aqueles
que retiram seu fundamento de validade diretamente da CF).

2) Leis ou atos normativos municipais (1) a ADIN só cabe para atos normativos estaduais
e federais em face da CF, (2) somente existia controle abstrato em face da Constituição
Estadual – art. 125, §2º, CF/88, (3) ou controle difuso.

3) Leis ou atos normativos anteriores à Constituição (no caso da ADIn, o STF entende,
desde a ADIN-02, rel. Paulo Brossard, que não haveria inconstitucionalidade
superveniente).

4) Omissões constitucionais que violem preceito fundamental também são campo de


ADPF - (STF ADPF 272/DF -A arguição de descumprimento de preceito fundamental
(ADPF) é instrumento eficaz de controle da inconstitucionalidade por omissão.Com
efeito, a ADPF pode ter por objeto as omissões do poder público, quer totais ou parciais,
normativas ou não normativas, nas mesmas circunstâncias em que ela é cabível contra
os atos em geral do poder público, desde que essas omissões se afigurem lesivas a
preceito fundamental, a ponto de obstar a efetividade de norma constitucional que o
consagra. ADPF 272/DF, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento em 25.3.2021 (INF
1011).

Para todos verem: esquema onde as frases são interligadas por setas. Começa com
descumprimento de preceito fundamental, com base no artigo 102, parágrafo 1º da CF/88,
vai para ato do poder público com base no artigo 1º, da Lei n.º 9.882/99, e por fim, vai para
campo de atuação da ADPF, com base nos princípios constitucionais sensíveis.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Sarlet e Mitidieiro: “Não há definição precisa do que seja preceito fundamental, porém a
doutrina entende que o conteúdo de certas normas da Constituição Federal, como as que
consagram os princípios fundamentais (arts. 1º a 4º), direitos fundamentais (art. 5º),
cláusulas pétreas (art. 60, 4º) e os princípios constitucionais sensíveis (art. 34, VIII)
merecem proteção o rótulo de preceito fundamental”. (SARLET; MITIDIEIRO, Curso de
Direito Constitucional)

Gilmar Mendes: “O objeto da arguição de descumprimento de preceito fundamental é


amplo, pois ela vem completar o sistema de controle concentrado de constitucionalidade
no STF, uma vez que questões até então não apreciadas no âmbito concentrado, poderão
ser objeto da ADPF. Dessa forma, poderão ser objetos da ADPF os atos do poder público
(art. 1º, caput), controvérsias constitucionais com relevante fundamento sobre lei e ato
normativo federal, estadual e municipal, inclusive se anteriores à Constituição”. (MENDES,
Gilmar, Curso de Direito Constitucional)

Atenção: um caso bastante peculiar de cabimento da ADPF - arguição de


descumprimento de preceito fundamental 97 para excepcionalidade:

O STF reconheceu a possibilidade de uma ADPF de uma norma Estadual posterior à


Constituição de 1988 que se tornou com ela incompatível em face de uma Emenda Constitucional
19/1998, por essa razão, o STF entendeu que seria um caso de não recepção e não de
inconstitucionalidade. Nesse caso, entendeu que a ADPF seria a via adequado, porque a norma
que tornou a violação à Lei estadual, era advinda de uma emenda.
Veja-se um trecho do acordão - 2. Evidenciada relevante controvérsia constitucional sobre
direito estadual anterior ao parâmetro de constitucionalidade apontado, cabível a arguição de
descumprimento de preceito fundamental, nos moldes dos arts. 1º, parágrafo único, I, e 4º, § 1º,
da Lei 9.882/1999. 3. A redação conferida pela Emenda Constitucional nº 19/1998 aos arts. 37,
XIII, e 39, § 1º, da Lei Maior eliminou a possibilidade de vinculação ou equiparação de cargos,
empregos ou funções, por força de ato normativo infraconstitucional. O art. 65 da Lei
Complementar nº 22/1994 do Estado do Pará, no que vincula os vencimentos dos Delegados de
Polícia aos dos Procuradores do Estado, não foi recepcionado pela ordem constitucional-
administrativa tal como redesenhada pela Emenda Constitucional nº 19/1998, o que redunda em
revogação tácita, por incompatibilidade material (arts. 37, X e XIII, 39, §§ 1º e 4°, e 144, § 9º, da
Constituição da República).

➙ Não é objeto de ADPF


A ADPF 1/RJ “veto” não é ato do Poder Público:

No processo legislativo, o ato de vetar, por motivo de inconstitucionalidade ou de


contrariedade ao interesse público, e a deliberação legislativa de manter ou recusar o veto,
qualquer seja o motivo desse juízo, compõem procedimentos que se hão de reservar à

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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esfera de independência dos Poderes Políticos em apreço. 9. Não é, assim, enquadrável,


em princípio, o veto, devidamente fundamentado, pendente de deliberação política do
Poder Legislativo - que pode, sempre, mantê-lo ou recusá-lo, - no conceito de "ato do
Poder Público", para os fins do art. 1º, da Lei nº 9882/1999. Impossibilidade de intervenção
antecipada do Judiciário, - eis que o projeto de lei, na parte vetada, não é lei, nem ato
normativo, - poder que a ordem jurídica, na espécie, não confere ao Supremo Tribunal
Federal, em via de controle concentrado. 10. Arguição de descumprimento de preceito
fundamental não conhecida, porque não admissível, no caso concreto, em face da
natureza do ato do Poder Público impugnado.

A ADPF 43/DF “projeto de emenda constitucional” não é ato do Poder Público


(relator Min. Carlos Britto):

É de se reconhecer, contudo, que a proposta de emenda constitucional não se insere na


qualidade de ato do Poder Público, porquanto este pressupõe algo já definido (pronto e
acabado, portanto), enquanto que aquela se revela como um ato normativo in fieri. Logo,
suscetível de alterações.

Súmulas vinculante: também existem meios próprio para revisar ou cancelar, portanto,
não será objeto de ADPF.

3. ADPF e os atos normativos secundários - entre a doutrina e a interpretação do STF


Quanto às divergências entre doutrina e Jurisprudência do STF em relação a possibilidade
de ADPF em se tratando de atos normativos secundários:
O STF tem reiterado sua jurisprudência que não reconhece a possibilidade de controle
concentrado de atos que consubstanciam mera ofensa reflexa à Constituição, tais como o ato
regulamentar, por entender que a ofensa a constitucionalidade seria meramente reflexa.

A resolução e o regulamento constituem exemplos de atos normativos secundários que


não criam direitos, os quais, assim, devem corresponder à lei. Bem por isso, caso não
estejam de acordo com a lei a que devem respeito, antes de abrirem ensejo ao controle
de constitucionalidade, instauram conflito de legalidade. Como consequência prática
inviabilizam a ação direta de inconstitucionalidade. (SARLET, I. W.; MARINONI, L. G.;
MITIDIERO, D. Curso de Direito Constitucional. Ed. 10. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 466)

Na obra de Sarlet e Mitidieiro (2021), através da posição de Clémerson Clève, deveria-se


questionar essa impossibilidade de utilização da ADPF para atos normativos secundários, pois
também é possível que um decreto regulamentar viole a Constituição, a exemplo quando deixar
de observar os princípios da reserva legal, da supremacia da Lei e da separação dos Poderes.
Apesar de concordarmos com essa posição, a jurisprudência do STF tem reafirmado a
impossibilidade de controle de atos normativos secundários via ADPF.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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No mesmo sentido, André Ramos Tavares (2021) entende que o ato do Poder Público,
descrito no art. 1 da Lei 9.882/99, abrange os atos normativos secundários, portanto, não há
justificativa plausível, cumprido o requisito da subsidiariedade, para não de admitir uma ADPF.

Decisão bastante controvertida do STF de cabimento de ADPF:


Posição do STF em relação a uma Lei Estadual que que confrontou uma emenda
Constitucional – no caso em tela – o STF admitiu uma ADPF para declarar não recepcionada
uma Lei de 1994 que era incompatível com a Emenda Constitucional de 1998.
No caso da ADPF 97 PA- STF julgou parcialmente procedente a ação para declarar não
recepcionado, pela Emenda Constitucional nº 19/1998, o art. 65 da Lei Complementar nº
22/1999, do Estado do Pará, em sua segunda parte, onde estabelece a vinculação remuneratória
vedada por meio da expressão “correspondendo a de maior nível ao vencimento de Procurador
do Estado de último nível.” Ausentes, justificadamente, os Ministros Celso de Mello e Cármen
Lúcia.

4. As modalidades de ADPF e suas polêmicas


1) Autônoma: qualquer ato normativo ou outros atos do poder público que não sejam
normativos, como atos administrativos, e até mesmo atos praticados por particulares que sejam
comparados por atos praticados por autoridades públicas, que descumprirem preceito
fundamental, demonstrando a tentativa de maior abrangência dessa ação do controle
concentrado de constitucionalidade.

2) Incidental: O STF limita-se a apreciar a questão constitucional, dando-lhe solução


adequada sem se manifestar sobre objeto principal relativo ao caso concreto e pendente de
julgamento pelos órgãos judiciários. Teria seu fundamento na Lei nº 9.882/99: Parágrafo único.
Caberá também arguição de descumprimento de preceito fundamental: I - quando for relevante
o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou
municipal, incluídos os anteriores à Constituição. (SARLET; MITIDIEIRO)
Destaca-se, na ADPF incidental, a conotação acerca da aplicação de Lei ou ato de poder
público em face de um preceito constitucional fundamental. Para boa parte da doutrina, seriam
aplicadas as mesmas regras destinadas à ADPF autônoma no que toca a legitimidade,
competência, procedimento, medida liminar, objeto, decisão e seus efeitos, com algumas
observações. Então, poder-se-ia perguntar: qual o fundamento de se falar em ADPF incidental?
Defendem que nessa modalidade torna-se possível o trânsito direto e imediato ao STF de uma

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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questão constitucional relevante que está sendo objeto de análise e discussão ainda em
instâncias judiciais ordinárias sobre interpretação e aplicação de um preceito constitucional
fundamental. A postura do STF nesse caso, estaria limitada a análise do descumprimento em
sede de incidente e não sobre objeto principal relativo e ao caso concreto no qual fica a cargo
das instâncias ordinárias seu julgamento. A questão chave para permitir essa passagem de certa
forma do controle difuso ao controle concentrado é da "relevância" da controvérsia
constitucional”, seja pela existência de uma repercussão geral, ou pela existência de um grande
número de processos a serem julgados ou pelo apelo político, jurídico e mesmo social da questão
envolvida. (TAVARES).
Parte da doutrina se divide no sentido de que veto do Presidente ao art. 2º, II teria ou não
“ferido de morte” a ADPF incidental, em relação aos legitimados de sua propositura: Corrente 1
– majoritária: aplica-se os mesmos legitimados. Essa tem sido a postura do STF. Corrente 2:
como não vetou o art.1º parágrafo único, caberia a qualquer parte do processo ingressar com a
ação perante o STF.

5. Subsidiariedade

Art. 4º da Lei 9.882/99 (...)


§ 1o Não será admitida arguição de descumprimento de preceito fundamental quando
houver qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade.

Doutrina contempla duas possibilidades interpretativas:


1) Eficácia no sentido amplo: o “outro meio eficaz” incluiria todas as vias processuais
(qualquer ação individual ou coletiva);
2) Eficácia no sentido estrito: busca-se a equivalência somente no âmbito do controle
abstrato-concentrado de constitucionalidade. Prevalece: caberá ADPF quando não for caso de
ADI E ADC.

Princípio da Subsidiariedade – mudança efetiva de orientação ADPF 33/PA, relator Min.


Gilmar Mendes:

De uma perspectiva estritamente subjetiva, a ação somente poderia ser proposta se já se


tivesse verificado a exaustão de todos os meios eficazes de afastar a lesão no âmbito
judicial. Uma leitura mais cuidadosa há de revelar, porém, que na análise sobre a eficácia
da proteção de preceito fundamental nesse processo deve predominar um enfoque
objetivo ou de proteção da ordem constitucional objetiva. Em outros termos, o princípio da
subsidiariedade – inexistência de outro meio eficaz de sanar a lesão –, contido no § 1º do

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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art. 4º da Lei no 9.882, de 1999, há de ser compreendido no contexto da ordem


constitucional global.

Para todos verem:

imagem escrito palavra-chave, subsidiariedade.

6. Legitimidade
Logo acima foi tratado que os legitimados serão do art. 103 da Constituição – e sempre
se tem que ter o cuidado de identificar os legitimados universais e aqueles que deverão
demonstrar pertinência temática!
Legitimidade passiva é do poder público causador da lesão a preceito fundamental da
Constituição Federal.

“[...] a Lei nº 9.882/99 não conferiu legitimidade aos Prefeitos Municipais, nem tampouco
às Mesas de Câmaras Municipais ou qualquer entidade pública ou privada de âmbito
municipal, para manejarem o novo instrumento. Resta saber a quem interessará deflagrar,
via arguição de descumprimento de preceito fundamental, a jurisdição da Suprema Corte
para o exercício do controle de constitucionalidade de leis e atos normativos municipais.
Espera-se que a Lei nº 9.882/99 não tenha criado – como diria Barbosa Moreira – um sino
sem badalo”. BINENBOJM, Gustavo. A nova jurisdição constitucional brasileira, p. 213-
214.

7. Competência
Lembrar que se trata de competência originária no Supremo Tribunal Federal, em
conformidade com artigo 102, inciso I, alínea “a”, da Constituição Federal.

8. Legitimados
Os legitimados para propor a ADPF estão descritos também no art. 103 da Constituição
Federal e art. 2º da Lei 9.882/99. Importante que na peça sempre seja descrito se se trata de um
legitimado universal ou de um legitimado que deva demostrar pertinência temática.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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9. Procedimento
Aplicam-se no que couber as regras da ADI. Precisa-se então ter atenção às
particularidades abaixo:
a) Pedido de medida liminar na arguição de descumprimento de preceito fundamental,
no caso de extrema urgência ou perigo de lesão grave, ou ainda, em período de recesso, poderá
o relator conceder a liminar, ad referendum do Tribunal Pleno;
b) O relator poderá ouvir os órgãos ou autoridades responsáveis pelo ato questionado,
bem como o Advogado-Geral da União ou o Procurador-Geral da República, no prazo comum
de 5 (cinco) dias.
c) A liminar poderá consistir na determinação de que juízes e tribunais suspendam o
andamento de processos ou os efeitos de decisões judiciais, ou de qualquer outra medida que
apresente relação com a matéria objeto da arguição de descumprimento de preceito
fundamental, salvo se decorrentes da coisa julgada.

10. Fungibilidade
A questão da fungibilidade aplicada ao controle concentrado: é possível que ocorra, com
base em precedentes como ADPF 72 e 78, que uma ADPF irregularmente proposta possa ser
recebida (reaproveitada) a tramitar na condição de uma ADI, caso uma Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental seja irregularmente proposta no STF, da mesma
forma que uma ADI poderia ser reaproveitada como uma ADPF desde que fundado em dúvida
razoável, superando o arquivamento imediato, como por exemplo, se trata de ato secundário ou
primário. Diferente será a postura do STF se o erro for grosseiro, a exemplo de uma ADI proposta
de uma lei Municipal no STF.

ADPF: fungibilidade e erro grosseiro VEJA ADPF 314 DO STF: O Plenário desproveu
agravo regimental em arguição de descumprimento de preceito fundamental, na qual se
discutia a inconstitucionalidade por omissão relativa à Lei 12.865/2013. O Tribunal, de
início, reconheceu a possibilidade de conversão da arguição de descumprimento de
preceito fundamental em ação direta quando imprópria a primeira, e vice-versa, se
satisfeitos os requisitos para a formalização do instrumento substituto. Afirmou que dúvida
razoável sobre o caráter autônomo de atos infralegais impugnados, como decretos,
resoluções e portarias, e alteração superveniente da norma constitucional dita violada
legitimariam a Corte a adotar a fungibilidade em uma direção ou em outra, a depender do
quadro normativo envolvido. Ressaltou, porém, que essa excepcionalidade não estaria
presente na espécie. O recorrente incorrera naquilo que a doutrina processual
denominaria de erro grosseiro ao escolher o instrumento formalizado, ante a falta de
elementos, considerados os preceitos legais impugnados, que pudessem viabilizar a
arguição. No caso, ainda que a arguição de descumprimento de preceito fundamental
tivesse sido objeto de dissenso no STF quanto à extensão da cláusula da subsidiariedade,

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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nunca houvera dúvida no tocante à inadequação da medida quando o ato pudesse ser
atacado mediante ação direta de inconstitucionalidade. Por se tratar de impugnação de lei
ordinária federal pós-constitucional, propor a arguição em vez de ação direta, longe de
envolver dúvida objetiva, encerraria incontestável erro grosseiro, por configurar atuação
contrária ao disposto no § 1º do art. 4º da Lei 9.882/1999. Os Ministros Roberto Barroso,
Gilmar Mendes e Cármen Lúcia negaram provimento ao agravo por outro fundamento.
Consideraram que o requerente, Sindicato Nacional das Empresas de Medicina de Grupo,
por não ser uma confederação sindical, não preencheria o requisito da legitimação ativa
“ad causam”. ADPF 314 AgR/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 11.12.2014. (ADPF-314)

11. Histórico
ADPF históricas julgadas pelo STF (recomenda-se a leitura dos votos):

➙ ADPF 54 – fetos anencéfalos. Controle do Código Penal. Limites da jurisdição constitucional.


Criação judicial de uma terceira hipótese de aborto não punível.

➙ ADPF 33 – decidida no mérito. Reconheceu a inconstitucionalidade, ou seja, não recepção


do “Regulamento de Pessoal do extinto IDESP em face do princípio federativo e da proibição de
vinculação de salários a múltiplos do salário-mínimo (art. 60, §4º, I c/c art. 7º, IV, in fine, da
Constituição Federal”.

➙ ADPF 132 – reconhecimento da União estável entre pessoas do mesmo sexo. Princípio da
igualdade. Interpretação conforme a Constituição

➙ ADPF 186 – Princípio da Igualdade. Igualdade Material. Cotas raciais. Constitucionalidade.

STF informativo:
Assim, acrescentou que é legítima a utilização de critérios subsidiários de
heteroidentificação para concorrência às vagas reservadas. A finalidade é combater
condutas fraudulentas e garantir que os objetivos da política de cotas sejam efetivamente
alcançados, desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e assegurados o
contraditório e a ampla defesa. Citou, como exemplos desses mecanismos, a exigência
de autodeclaração presencial perante a comissão do concurso, a apresentação de fotos e
a formação de comissões com composição plural para entrevista dos candidatos em
momento posterior à autodeclaração. A reserva de vagas vale para todos os órgãos e,
portanto, para todos os Poderes da União. Os Estados e os Municípios não estão
obrigados por essa lei, mas serão consideradas constitucionais as leis estaduais e
municipais que adotarem essa mesma linha. Quanto aos critérios de alternância e
proporcionalidade na nomeação dos candidatos, o Plenário exemplificou a forma correta
de interpretar a lei. No caso de haver vinte vagas, quatro seriam reservadas a negros,
obedecida a seguinte sequência de ingresso: primeiro colocado geral, segundo colocado
geral, terceiro colocado geral, quarto colocado geral, até que o quinto convocado seria o
primeiro colocado entre os negros, e assim sucessivamente. Dessa forma, evita-se colocar
os aprovados da lista geral primeiro e somente depois os aprovados por cotas.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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13. Resumo
Originária do Supremo Tribunal Federal (artigo 102, § 1.º, Constituição
Competência
Federal).
Excelentíssimo Senhor Doutor Ministro Presidente do Colendo Supremo
Endereçar
Tribunal Federal.
Legitimidade ativa (art. 103, Constituição Federal e artigo 2º, I, da Lei nº
Legitimidade ativa e 9.868/99 – cuidar a pertinência temática);
passiva Legitimidade passiva- poder público causador da lesão a preceito
fundamental da Constituição Federal.
O que devo suscitar?
Demonstrar a violação à preceito fundamental e que cumpre a exigência da
(Constitui a causa de
subsidiariedade, explanando que não é causa de ADI e ADC.
pedir)
Intimação do Advogado –Geral da União e do Procurador-Geral da
República;
Pedidos
Intimação do órgão/autoridade responsável pela lei/ato normativo;
e
Pedido de liminar se for o caso;
requerimentos
Declarar o descumprimento de preceito fundamental violador da
Constituição.
Art. 3o da Lei nº 9.882/99A petição inicial deverá conter:
I - a indicação do preceito fundamental que se considera violado;
II - a indicação do ato questionado;
III - a prova da violação do preceito fundamental;
IV - o pedido, com suas especificações;
Outras informações V - se for o caso, a comprovação da existência de controvérsia judicial
relevante sobre a aplicação do preceito fundamental que se considera
violado.
Parágrafo único. A petição inicial, acompanhada de instrumento de mandato,
se for o caso, será apresentada em duas vias, devendo conter cópias do ato
questionado e dos documentos necessários para comprovar a impugnação.

14. Modelo
Exame de Ordem XXV Porto Alegre/RS - Peça profissional
O Município Alfa, situado na área de fronteira do território brasileiro, passou a receber intenso
fluxo de imigrantes, fruto de graves complicações políticas e humanitárias ocorridas em país
vizinho. Em razão desse fluxo, ocorreu um aumento exponencial da população em situação de
rua, os serviços públicos básicos tiveram a sua capacidade operacional saturada e verificou-se
um grande aumento nos índices de criminalidade.
Para evitar o agravamento desse quadro, a Câmara Municipal aprovou e o Prefeito Municipal
sancionou a Lei nº 123/2018, que vedou o ingresso de novos imigrantes, no território do
Município, pelo período de 12 (doze) meses, e fixou o limite máximo para a população flutuante,
de modo que o referido ingresso seria obstado sempre que alcançado esse limite. Além disso,
foi previsto que a contratação de imigrantes estaria condicionada à prévia aprovação da

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Secretaria Municipal do Trabalho, que avaliaria a proporção entre o quantitativo de trabalhadores


nacionais e estrangeiros, podendo autorizá-la, ou não.
Ao tomar conhecimento da entrada em vigor da Lei nº 123/2018, o Partido Político Beta, que
somente conta com representantes na Câmara dos Deputados, entendeu que ela seria
dissonante de comandos estruturais da Constituição da República Federativa do Brasil,
submetendo os imigrantes a uma situação vexatória. Não bastasse isso, a aplicação da Lei nº
123/2018, ao conferir prioridade para os nacionais nas relações de trabalho, acirrara os ânimos
no Município Alfa, que passou a ser palco de conflitos diários.
À luz desse quadro, o Partido Político Beta contratou os seus serviços como advogado, para que
ingressasse com a medida judicial cabível, perante o Tribunal Superior competente, de modo a
obstar a aplicação da Lei nº 123/2018 do Município Alfa. (Valor: 5,00)
Obs.: a peça deve abranger todos os fundamentos de Direito que possam ser utilizados para dar
respaldo à pretensão. A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não confere
pontuação.

Segue modelo de estruturação da peça de ADPF cobrada no exame de ordem XXV Porto
Alegre/RS

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL


FEDERAL

PARTIDO POLÍTICO BETA, com representação no Congresso Nacional, legitimado


universal para a propositura a presente ação, pessoa jurídica de direito privado, inscrito no CPNJ
sob o n°..., com sede na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., por seu procurador
inscrito na OAB n° ..., procuração em anexo, conforme previsão no artigo 287, do Código de
Processo Civil, endereço eletrônico..., com escritório profissional situado na Rua..., n°..., Bairro...,
Cidade..., Estado..., CEP..., onde recebe intimações, propor, perante Vossa Excelência,
ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL COM PEDIDO DE
LIMINAR, com base no artigo 102, parágrafo 1º, da Constituição Federal, artigo 1°, parágrafo
único, inciso I, e artigo 5°, parágrafo 1º, ambos da Lei nº 9.882/99, em face da CÂMARA
MUNICÍPAL ALFA, órgão da pessoa jurídica DO Município Beta, pessoa jurídica de Direito
Público, inscrito no CNPJ sob o n°..., endereço eletrônico..., sede na Rua..., n°..., Bairro...,
Cidade..., Estado, CEP e PREFEITO DO MUNICÍPIO ALFA, nacionalidade..., estado civil...,
profissão..., portador do RG n°..., inscrito no CPF sob o n°..., endereço eletrônico..., residente e

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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domiciliado na Rua..., n°..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., pelos fatos e fundamentos a
seguir expostos.

1) DOS FATOS:
A Câmara Municipal aprovou e o Prefeito Municipal Alfa sancionou a Lei 123/2018 que
vedou o ingresso de novos imigrantes, no território do Município, fixou o limite máximo para a
população; além disso, foi previsto que a contratação de imigrantes estaria condicionada à prévia
aprovação da Secretaria Municipal do Trabalho. O Partido Político Beta, irresignado com a
dissonância da referida lei com a Constituição Federal, ajuizou a presente demanda para obstar
a aplicação da Lei nº 123/2018.

2) DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS:


2.1) Da Competência:
Compete ao Supremo Tribunal Federal exercer seu papel de guardião da Constituição, ao
processar e julgar Lei Municipal que descumpriu preceito fundamental, afrontando diretamente
conteúdo constitucional, conforme determina artigo 102, parágrafo 1º, da
Constituição Federal e artigo 1°, caput, da Lei nº 9.882/99.

2.2) DA LEGITIMIDADE:
Partido Político Beta com representação no Congresso nacional é legitimado ativo e goza
de legitimidade universal para a propositura de Ação de Arguição de Descumprimento de
Preceito Fundamental, consoante artigo 103, inciso VIII, da Constituição Federal e artigo 2º,
inciso I, da Lei nº 9.882/99.
A Câmara de Vereadores do Município Alfa, o Prefeito do Município Alfa e o Município
Alfa são legitimados passivos, pois são os responsáveis pela norma violadora que confronta a
Constituição Federal, conforme artigo 1º, da Lei nº 9.882/99, por tratar-se de ato do poder público.

2.3) Do Cabimento:
Cabe Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental como única ação de
controle concentrado de constitucionalidade cabível contra norma municipal que fere dispositivos
da Constituição Federal, nos termos do artigo 102, parágrafo 1º, da Constituição Federal, artigo
1°, parágrafo único, inciso I, da Lei nº 9.882/99.

166
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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2.4) Da Subsidiariedade – Inexistência de outro meio constitucional para sanar a


lesividade:
Para cabimento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, é necessário
que não exista outro meio devidamente eficaz para sanar a lesividade. No caso em tela, não
cabe ação direta de inconstitucionalidade de lei municipal frente à Constituição Federal com
competência no Supremo Tribunal Federal. Desta forma, tem-se demonstrado o requisito de
subsidiariedade, conforme dispõe artigo 4º, parágrafo 1º, da Lei nº 9.882/99.

2.5) Da violação à Preceito Fundamental:


A Lei Municipal 123/2018 violou a competência legislativa privativa da União para legislar
sobre emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros, nos termos do
artigo 22, inciso XV, da Constituição Federal, e a competência legislativa privativa da União para
legislar sobre Direito do Trabalho, nos termos do artigo 22, inciso I, da Constituição Federal.
Violou também o direito social ao trabalho, previsto no artigo 6º, da Constituição Federal, que foi
restringido aos estrangeiros e a dignidade da pessoa
humana, prevista no artigo 1º, inciso III, da Lei nº 9.882/99, pois, ao serem impedidos de
trabalhar, os estrangeiros não poderão garantir sua subsistência. Assim, restou evidenciada a
violação da Lei Municipal 123/2018 a diversos preceitos fundamentais descritos na Constituição
Federal, conforme exigência do artigo 3º, inciso I e II, da Lei nº 9.882/99.

2.6) Da Medida Liminar:


Estão presentes os requisitos necessários à concessão da medida Liminar, o fumus boni
juris, pela afronta aos preceitos fundamentais, e a plausibilidade do direito e o periculum in mora,
pois há urgência devido ao perigo de lesão grave, caso a Lei nº 123/2018 permaneça em vigor
em razão da submissão dos imigrantes a situação vexatória e a ocorrência de conflitos diários
no Município Alfa, conforme previsão legal do artigo 5°, parágrafo 3°, da Lei nº 9.882/99.

3) DOS PEDIDOS:
a) O recebimento da inicial em duas vias, instruída de procuração, cópia do ato
questionado e dos documentos necessários para comprovar a impugnação, conforme artigo 3º,
parágrafo único, da Lei nº 9.882/99;
b) A juntada da documentação que prova a violação do preceito fundamental, conforme
artigo 3º, inciso III, da Lei nº 9.882/99;

167
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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c) A concessão da medida liminar para determinar a suspensão dos efeitos da Lei nº


123/2018, nos moldes do artigo 5º, parágrafo 3°, da Lei nº 9.882/99;
d) Intimação do Advogado-Geral da União e do Procurador-Geral da República, para que
se manifestem no prazo comum de 5 (cinco) dias, consoante artigo 5º, parágrafo 2º, da Lei nº
9.882/99;
e) A notificação da Câmara de Vereadores e do Prefeito Municipal, para se manifestarem
no processo, no prazo comum de 5 (cinco) dias, nos termos do artigo 5º, parágrafo 2º, da Lei nº
9.882/99;
f) O julgamento pela procedência da arguição de descumprimento de preceito fundamental
para que seja reconhecida a inconstitucionalidade da Lei nº 123/2018, nos termos do artigo 10,
da Lei nº 9.882/99.

Valor da causa R$ ..., para efeitos procedimentais, nos termos dos artigos 291 e 319,
inciso V, do Código de Processo Civil.

Local..., data...
Advogado...
OAB...

168
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Súmulas vinculantes

Art. 103-A da CF: O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação,
mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre
matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial,
terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração
pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à
sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.

Debate-se que a súmula vinculante seria parte do processo de abstratização, contudo,


não seria ela propriamente uma ação do controle difuso ou concentrado, mas sim uma forma de
manifestação do STF cujo efeito será erga omnnes.
A Emenda Constitucional nº 45/2004, entre as suas novidades, instituiu as súmulas
vinculantes na previsão constitucional do artigo 103-A, parágrafos 1º a 3º da Constituição Federal
de 1988. Nota-se que, por se tratar de norma com eficácia contida sobre a qual é necessária
regulação por Lei Federal, nesse sentido sobreveio a edição da Lei regulamentadora 11.417/06,
dispondo sobre a forma de edição, revisão e cancelamento das Súmulas Vinculantes.
Cabe ressaltar a diferença entre a Súmula Tradicional e a Vinculante. Amparado na lição
de Bulos (2012), a primeira não vincula os órgãos do Judiciário nem do Executivo, que não são
obrigados a seguir a orientação consubstanciada pela Supremo Tribunal Federal. Por sua vez, e
a contrário senso, as súmulas vinculantes são determinações sobre a inteligência das Leis e
apresentam o efeito erga omnes. Após sua publicação, vinculam os órgãos do Judiciário e
Administração pública direta e indireta, em todas as esferas do governo.
A Súmula Vinculante é o instrumento pelo qual o Supremo Tribunal Federal padroniza a
exegese de determinada norma jurídica controvertida. Assim, evitam-se insegurança e
entendimentos díspares em questões idênticas.
Esse efeito vinculante da Súmula tem um raio de eficácia menor se comparado aos tem
efeitos gerais e vinculantes produzidos com as decisões de mérito das ações diretas de
inconstitucionalidade e das ações declaratórias de constitucionalidade, uma vez que, ao ficar
reconhecida ofensa à Constituição, a norma viciada é retirada do mundo jurídico. Já, por sua
vez, a Súmula Vinculante só informa a posição atual da jurisprudência do STF, admitindo-se a
revisão e o cancelamento. (FERRARI, 2012)
A competência para editar as Súmulas Vinculantes é exclusiva do Supremo Tribunal
Federal, de ofício, ou provocado por qualquer dos colegitimados para ajuizamento de ações
diretas de inconstitucionalidade estudas no capítulo antecedente. Ressalta Moraes (2012) que

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Lei nº 11.417/06 ampliou a legitimação ao Defensor Público da União, aos Tribunais Superiores,
aos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, aos Tribunais Regionais do Trabalho,
Regionais Eleitorais e aos Tribunais Militares.
O Supremo Tribunal Federal tem entendimento pacífico de que “[...] não está vinculado as
suas próprias decisões e no que se refere à sumula, podemos concluir que a Corte Excelsa não
está vinculada às suas decisões sumulares [...]”. Entende-se também que o poder Legislativo
também não está vinculado ao entendimento sumular da Corte.
Quanto aos efeitos gerados pelas Súmulas Vinculantes, verifica-se que há a possibilidade
de modulação dos efeitos temporais, porque o artigo 4º da Lei nº 11.417/06 passou a admitir esta
possibilidade.

O que não se deve esquecer sobre súmulas?

➙ Quórum de criação/edição/cancelamento: 2/3;


➙ Vigência: após publicação na imprensa oficial;
➙ Autoridades vinculadas: autoridades judiciárias e administração pública direta e indireta, de
todos os entes federativos;
➙ Eficácia idêntica à de uma ADIn;
➙ ADIn não pode atacar súmula vinculante;
➙ Lei Súmula Vinculante – Lei nº 11.417/2006 - Edição/revisão/cancelamento;
➙ Procurador-Geral da República: se não tiver provocado o processo de elaboração e revisão
da súmula, será necessariamente ouvido (art. 2º, § 2º);
➙ Legitimados: mesmos da Adin + Defensor Público geral da União + os Tribunais Superiores,
os Tribunais de Justiça de Estados ou do Distrito Federal e Territórios, os Tribunais Regionais
Federais, os Tribunais Regionais do Trabalho, os Tribunais Regionais Eleitorais e os Tribunais
Militares (art. 3º);
➙ Município: não possui legitimidade direta, mas pode, em processo que for parte, propor a
edição/revisão/cancelamento (art. 3º, § 1º);
➙ Amicus curiae (art. 3º, § 2º);
➙ Por 2/3 dos membros o STF poderá dar eficácia prospectiva, para o futuro (art. 4º);
➙ Se a Súmula vinculante estiver baseada em uma lei, a revogação desta lei implicará revisão
da Súmula (art. 5º);
➙ Mera proposta não autoriza suspensão (art. 6º);
➙ (Parágrafo 3º) Caso a autoridade judicial contrarie súmula > reclamação diretamente ao STF
(art. 7º);

170
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

➙ Caso a autoridade administrativa contrarie súmula > a reclamação depende de esgotamento de


recurso administrativo (art. 7º);
➙ Em caso de procedência da reclamação > anulação do ato administrativo ou cassação do ato
judicial, determinando que outra seja proferida.

Súmula Vinculante nº 1
Ofende a garantia constitucional do ato jurídico perfeito a decisão que, sem ponderar as
circunstâncias do caso concreto, desconsidera a validez e a eficácia de acordo constante de
termo de adesão instituído pela Lei Complementar nº 110/2001.

Súmula Vinculante nº 2
É inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas
de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

Súmula Vinculante nº 3
Nos processos perante o Tribunal de Contas da União, asseguram-se o contraditório e a
ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo
que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial
de aposentadoria, reforma e pensão.

Súmula Vinculante nº 4
Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário-mínimo não pode ser usado como
indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser
substituído por decisão judicial.

Súmula Vinculante nº 5
A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende
a Constituição.

Súmula Vinculante nº 6
Não viola a Constituição o estabelecimento de remuneração inferior ao salário-mínimo
para as praças prestadoras de serviço militar inicial.

171
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Súmula Vinculante nº 7
A norma do § 3º do artigo 192 da Constituição, revogada pela Emenda Constitucional nº
40/2003, que limitava a taxa de juros reais a 12% ao ano, tinha sua aplicação condicionada à
edição de lei complementar.

Súmula Vinculante nº 8
São inconstitucionais o parágrafo único do artigo 5º do Decreto-Lei nº 1.569/1977 e os
artigos 45 e 46 da Lei nº 8.212/1991, que tratam de prescrição e decadência de crédito tributário.

Súmula Vinculante nº 9
O disposto no artigo 127 da Lei nº 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) foi recebido pela
ordem constitucional vigente, e não se lhe aplica o limite temporal previsto no caput do artigo 58.

Súmula Vinculante nº 10
Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de
Tribunal que embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo
do poder público, afasta sua incidência, no todo ou em parte.

Súmula Vinculante nº 11
Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de
perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a
excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente
ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da
responsabilidade civil do Estado.

Súmula Vinculante nº 12
A cobrança de taxa de matrícula nas universidades públicas viola o disposto no art. 206,
IV, da Constituição Federal.

Súmula Vinculante nº 13
A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade,
até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica
investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em
comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal.

Súmula Vinculante nº 14
É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de
prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.

Súmula Vinculante nº 15
O cálculo de gratificações e outras vantagens do servidor público não incide sobre o abono
utilizado para se atingir o salário-mínimo.

Súmula Vinculante nº 16
Os artigos 7º, IV, e 39, § 3º (redação da EC 19/98), da Constituição, referem-se ao total
da remuneração percebida pelo servidor público.

Súmula Vinculante nº 17
Durante o período previsto no parágrafo 1º do artigo 100 da Constituição, não incidem
juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos.

Súmula Vinculante nº 18
A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta a
inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição Federal.

Súmula Vinculante nº 19
A taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos de coleta, remoção e
tratamento ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis, não viola o artigo 145, II,
da Constituição Federal.

Súmula Vinculante nº 20
A Gratificação de Desempenho de Atividade Técnico-Administrativa - GDATA, instituída
pela Lei nº 10.404/2002, deve ser deferida aos inativos nos valores correspondentes a 37,5 (trinta
e sete vírgula cinco) pontos no período de fevereiro a maio de 2002 e, nos termos do artigo 5º,
parágrafo único, da Lei nº 10.404/2002, no período de junho de 2002 até a conclusão dos efeitos

173
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

do último ciclo de avaliação a que se refere o artigo 1º da Medida Provisória nº 198/2004, a partir
da qual passa a ser de 60 (sessenta) pontos. (Medida Provisória convertida na Lei nº 10.971/04.)

Súmula Vinculante nº 21
É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens
para admissibilidade de recurso administrativo.

Súmula Vinculante nº 22
A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações de indenização por
danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho propostas por empregado
contra empregador, inclusive aquelas que ainda não possuíam sentença de mérito em primeiro
grau quando da promulgação da Emenda Constitucional nº 45/04.

Súmula Vinculante nº 23
A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar ação possessória ajuizada
em decorrência do exercício do direito de greve pelos trabalhadores da iniciativa privada.

Súmula Vinculante nº 24
Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV,
da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.

Súmula Vinculante nº 25
É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.

Súmula Vinculante nº 26
Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou
equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei nº 8.072, de
25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos
objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a
realização de exame criminológico.

174
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

Súmula Vinculante nº 27
Compete à Justiça estadual julgar causas entre consumidor e concessionária de serviço
público de telefonia, quando a ANATEL não seja litisconsorte passiva necessária, assistente nem
opoente.

Súmula Vinculante nº 28
É inconstitucional a exigência de depósito prévio como requisito de admissibilidade de
ação judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário.

Súmula Vinculante nº 29
É constitucional a adoção, no cálculo do valor de taxa, de um ou mais elementos da base
de cálculo própria de determinado imposto, desde que não haja integral identidade entre uma
base e outra.

Súmula Vinculante nº 31
É inconstitucional a incidência do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza – ISS
sobre operações de locação de bens móveis.

Súmula Vinculante nº 32
O ICMS não incide sobre alienação de salvados de sinistro pelas seguradoras.

Súmula Vinculante nº 33
Aplicam-se ao servidor público, no que couber, as regras do regime geral da previdência
social sobre aposentadoria especial de que trata o artigo 40, § 4º, inciso III da Constituição
Federal, até a edição de lei complementar específica.

Súmula Vinculante nº 34
A Gratificação de Desempenho de Atividade de Seguridade Social e do Trabalho –
GDASST, instituída pela Lei 10.483/2002, deve ser estendida aos inativos no valor
correspondente a 60 (sessenta) pontos, desde o advento da Medida Provisória 198/2004,
convertida na Lei 10.971/2004, quando tais inativos façam jus à paridade constitucional (EC
20/1998, 41/2003 e 47/2005).

175
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

Súmula Vinculante nº 35
A homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa
julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-
se ao Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante oferecimento de denúncia
ou requisição de inquérito policial.

Súmula Vinculante nº 36
Compete à Justiça Federal comum processar e julgar civil denunciado pelos crimes de
falsificação e de uso de documento falso quando se tratar de falsificação da Caderneta de
Inscrição e Registro (CIR) ou de Carteira de Habilitação de Amador (CHA), ainda que expedidas
pela Marinha do Brasil.

Súmula Vinculante nº 37
Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de
servidores públicos sob o fundamento de isonomia.

Súmula Vinculante nº 38
É competente o Município para fixar o horário de funcionamento de estabelecimento
comercial.

Súmula Vinculante nº 39
Compete privativamente à União legislar sobre vencimentos dos membros das polícias
civil e militar e do corpo de bombeiros militar do Distrito Federal.

Súmula Vinculante nº 40
A contribuição confederativa de que trata o art. 8º, IV, da Constituição Federal, só é
exigível dos filiados ao sindicato respectivo.

Súmula Vinculante nº 41
O serviço de iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa.

Súmula Vinculante nº 42
É inconstitucional a vinculação do reajuste de vencimentos de servidores estaduais ou
municipais a índices federais de correção monetária.

176
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

Súmula Vinculante nº 43
É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-se, sem
prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que não integra
a carreira na qual anteriormente investido.

Súmula Vinculante nº 44
Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de candidato a cargo
público.

Súmula Vinculante nº 45
A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa
de função estabelecido exclusivamente pela constituição estadual.

Súmula Vinculante nº 46
A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas
de processo e julgamento são da competência legislativa privativa da União.

Súmula Vinculante nº 47
Os honorários advocatícios incluídos na condenação ou destacados do montante principal
devido ao credor consubstanciam verba de natureza alimentar cuja satisfação ocorrerá com a
expedição de precatório ou requisição de pequeno valor, observada ordem especial restrita aos
créditos dessa natureza.

Súmula Vinculante nº 48
Na entrada de mercadoria importada do exterior, é legítima a cobrança do ICMS por
ocasião do desembaraço aduaneiro.

Súmula Vinculante nº 49
Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de
estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área.

Súmula Vinculante nº 50
Norma legal que altera o prazo de recolhimento de obrigação tributária não se sujeita ao
princípio da anterioridade.

177
2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
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Súmula Vinculante nº 51
O reajuste de 28,86%, concedido aos servidores militares pelas Leis 8622/1993 e
8627/1993, estende-se aos servidores civis do poder executivo, observadas as eventuais
compensações decorrentes dos reajustes diferenciados concedidos pelos mesmos diplomas
legais.

Súmula Vinculante nº 52
Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente a
qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, “c”, da Constituição Federal, desde que o valor
dos aluguéis seja aplicado nas atividades para as quais tais entidades foram constituídas.

Súmula Vinculante nº 53
A competência da Justiça do Trabalho prevista no art. 114, VIII, da Constituição Federal
alcança a execução de ofício das contribuições previdenciárias relativas ao objeto da
condenação constante das sentenças que proferir e acordos por ela homologados.

Súmula Vinculante nº 54
A medida provisória não apreciada pelo congresso nacional podia, até a Emenda
Constitucional 32/2001, ser reeditada dentro do seu prazo de eficácia de trinta dias, mantidos os
efeitos de lei desde a primeira edição.

Súmula Vinculante nº 55
O direito ao auxílio-alimentação não se estende aos servidores inativos.

Súmula Vinculante nº 56
A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em
regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no
RE 641.320/RS.

Súmula Vinculante nº 57
A imunidade tributária constante do art. 150, VI, d, da CF/88 aplica-se à importação e
comercialização, no mercado interno, do livro eletrônico (e-book) e dos suportes exclusivamente
utilizados para fixá-los, como leitores de livros eletrônicos (e-readers), ainda que possuam
funcionalidades acessórias.

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2ª Fase Constitucional | 37º Exame de Ordem
E-book de Processo Constitucional

Súmula Vinculante nº 58
Inexiste direito a crédito presumido de IPI relativamente à entrada de insumos isentos,
sujeitos à alíquota zero ou não tributáveis, o que não contraria o princípio da não cumulatividade.

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