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NUTRIÇÃO MATERNO

INFANTIL

Ivonilce Venturi
Avaliação nutricional da
criança menor de dois anos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer os diferentes métodos de avaliação nutricional para esta


faixa etária.
 Apontar os principais indicadores antropométricos recomendados.
 Classificar o estado nutricional de crianças menores de dois anos.

Introdução
As mudanças sociais, econômicas e políticas que o mundo vem sofrendo
impactam diretamente o estilo de vida e o perfil de saúde da população,
em especial de crianças, que são um grupo vulnerável a todas essas
mudanças. Como resultado da modernização, ocorrem mudanças relacio-
nadas à dieta, à atividade física e à composição corporal; essas mudanças
são conhecidas como o fenômeno multidimensional da transição nutri-
cional. Esse fenômeno se caracteriza por um aumento na ingestão de
gordura (principalmente a saturada), açúcares, sódio e aditivos químicos.
Isso leva a um problema conhecido como má nutrição, que abrange a
desnutrição e a obesidade — em ambos os casos, existem situações de
insegurança alimentar associadas aos problemas de saúde da criança.
A exposição precoce aos alimentos decorrentes da modernização tem
causado grandes efeitos negativos na composição corporal das crianças
menores de dois anos. Portanto, acompanhar o estado nutricional desse
grupo etário é muito importante para identificar precocemente possíveis
alterações nutricionais e, assim, conseguir realizar intervenções eficientes,
capazes de prevenir doenças tanto atuais quanto futuras. Para avaliar o es-
tado nutricional de crianças menores de dois anos, o Ministério da Saúde
preconiza alguns métodos padronizados para a avaliação nutricional,
assim como as classificações recomendadas para crianças menores de

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dois anos, possibilitando, assim, acompanhar a evolução do crescimento


e do desenvolvimento infantil.
Neste capítulo, você vai estudar os métodos de avaliação nutricional
específicos para crianças menores de dois anos, conforme a proposta
do Ministério da Saúde, compreendendo como deve ser realizada cada
medição para avaliar a condição nutricional. Você também vai verificar os
principais indicadores antropométricos relacionados à saúde da criança e
reconhecer as diferentes classificações do estado nutricional de crianças
menores de dois anos.

1 Métodos de avaliação nutricional


A nutrição adequada é um pré-requisito fundamental para o crescimento e
o desenvolvimento adequados. Problemas nutricionais como desnutrição ou
obesidade nos primeiros anos de vida podem acarretar riscos de doenças no
futuro, como doenças crônicas (diabetes melito, hipertensão arterial, entre
outras), problemas relacionados ao aprendizado e à memorização, além do
risco de aumento da mortalidade prematura na idade adulta. Assim, é essencial
reconhecer precocemente a condição nutricional das crianças e acompanhar
seu crescimento e desenvolvimento.
Usar métodos de avaliação preconizados pelo Ministério da Saúde é uma
forma confiável de avaliar o estado nutricional, para, então, desenvolver ações
de melhora do quadro nutricional, quando necessário, ou trabalhar a prevenção
de futuros problemas de saúde. Nesse sentido, é importante a compreensão
de alguns termos usados para a avaliação de crianças menores de dois anos,
descritos a seguir.

Avaliação nutricional — Interpretação de dados relacionados à condição nu-


tricional, ou seja, dados antropométricos, bioquímicos, clínicos e alimentares,
para que, assim, seja possível determinar se uma criança ou grupo está super
ou subnutrida ou em condição adequada de saúde. A avaliação nutricional é
uma importante ferramenta do profissional de saúde, pois auxilia na condução
de diagnósticos e intervenções necessárias para recuperar ou manter o estado
nutricional de indivíduos.

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Antropometria — A palavra deriva de antropo, que significa humano, e metry,


que significa medição. Então, antropometria se refere à medição corporal; essa
informação é usada para avaliar o crescimento e o desenvolvimento corporal
dos indivíduos. Para realizar essa medição, é necessário avaliar o peso e o
comprimento ou a estatura.

Comprimento — Medida que expressa a distância entre dois pontos. Em uma


criança menor de dois anos, representa o seu crescimento.

Estatura — Tamanho ou crescimento linear de um indivíduo maior que dois


anos de idade.

Peso — Massa corporal de um indivíduo, medida em kg.

Avaliação nutricional — Análise dos indicadores relacionados à condição


nutricional de um indivíduo. Nessa análise, estão incluídos os dados antropo-
métricos, bioquímicos, de consumo alimentar, entre outros.

Diagnóstico nutricional — Determinação do estado nutricional de um in-


divíduo, tendo como base os indicadores antropométricos obtidos por meio
da avaliação antropométrica e comparados a pontos de corte determinados.
Existem também os indicadores clínicos e bioquímicos e de consumo nutri-
cional. O diagnóstico nutricional é usado tanto para indivíduos quanto para
coletividades.

Ponto de corte — Valores de referência que indicam a distribuição dos índices


antropométricos em uma população saudável. Os pontos de corte determinam,
portanto, se uma determinada criança está dentro da normalidade ou não,
quando comparada a um grupo de referência considerado como saudável. Como
pontos de corte no Brasil, são adotados o percentil e o escore-z. O Ministério
da Saúde recomenda como curvas de referência para a avaliação do estado
nutricional as preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e
que constam na Caderneta de Saúde da Criança (BRASIL, 2018a, 2018b).

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Para que um diagnóstico nutricional seja realizado corretamente, é im-


portante que as medidas coletadas sejam precisas, confiáveis e padronizadas;
assim, evita-se que diferentes profissionais façam avaliações diferentes em
relação a uma mesma criança. Para tanto, é necessário seguir os passos descritos
a seguir, para realizar a coleta de dados antropométricos.

Para que as medidas antropométricas sejam realizadas com precisão, é importante


que todos os equipamentos usados estejam funcionando e calibrados, a fim de se
evitar erros por problemas de equipamentos. É importante observar se as verificações
são feitas pelo Instituto Nacional de Metrologia ou pelo Instituto de Pesos e Medidas.

Para a aferição do comprimento de crianças menores de dois anos, é utili-


zado o infantômetro (antropômetro horizontal); para a aferição do peso, deve
ser utilizada a balança pediátrica. A Figura 1a apresenta uma balança suspensa
usada em campanhas de avaliação nutricional, e a Figura 1b mostra uma balança
pediátrica usada geralmente em unidades básicas de saúde ou consultório. A
Figura 1c apresenta a imagem de um infantômetro ou antropômetro infantil.

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Alinhamento Ajuste dos


do braço cursores
da balança

Criança
despida

(a)
Prato da balança Calibrador
Cursor menor
Cursor maior
Trava

Braço da balança Agulha

(b)

Cursor móvel Escala Base fixa

(c)

Figura 1. (a) Balança suspensa usada para pesar crianças menores de dois anos; (b) balança
pediátrica; (c) antropômetro infantil.
Fonte: Brasil (2002, p. 54, 56–57).

Para aferir o peso, é importante utilizar uma balança com escala de 100
gramas e capacidade de, no mínimo, 25 kg. De acordo com o Ministério da
Saúde (BRASIL, 2011), as técnicas que devem ser usadas para a medição de
peso são as seguintes:

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 antes de iniciar a pesagem, deve-se verificar se a balança está em uma


superfície plana, destravada e já com a tara;
 a criança deve estar despida ou, quando estiver muito frio, deve estar
com roupas leves, sem calçado, touca ou qualquer outro adorno para
a cabeça;
 colocar a criança sentada ou deitada no centro da balança — sempre
que necessário, a mãe ou o acompanhante deve auxiliar;
 aguardar até que o valor estabilize e anotar em uma planilha específica
(ficha de registro).

Para balanças suspensas, empregam-se as seguintes técnicas:

 a balança suspensa deve estar pendurada em um local seguro, de fácil


visualização do valor da pesagem, e também deve estar com a tara
antes da pesagem;
 colocar a criança no suporte da balança, com o auxílio da mãe;
 movimentar a peça ao longo do suporte, até atingir o equilíbrio, anotando
o valor encontrado;
 o peso encontrado deve ser anotado também no cartão da criança e
informado à mãe ou ao acompanhante.

Deve-se realizar, então, o procedimento de verificação do comprimento.


Para a aferição do comprimento da criança menor de dois anos, deve ser
utilizado um antropômetro infantil colocado sobre uma superfície plana.

 A criança deve estar sem calçados, roupas e/ou adornos na cabeça,


sendo que o cabelo deve estar solto.
 A criança deve ser colocada deitada, com o auxílio da mãe, sobre a
superfície plana, mantendo os ombros e a cabeça apoiados na mesa; as
pernas devem estar esticadas. Pode-se segurar os tornozelos da criança,
para que ela não fique encolhida.
 A extremidade da régua deve encostar na cabeça da criança, deslizando-
-se a parte móvel do antropômetro até os calcanhares.
 Deve-se anotar a leitura da medida em milímetros com a maior precisão
possível na planilha de registro e no cartão da criança e informar a mãe.

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Para saber mais sobre os procedimentos para a coleta de dados antropométricos nos
serviços de saúde pública, leia Orientações para a coleta e análise de dados antropométricos
em serviços de saúde: norma técnica do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional —
SISVAN, do Ministério da Saúde do Brasil.

Após a realização do procedimento de pesagem e verificação do compri-


mento, a criança deve ser retirada do equipamento com o auxílio da mãe e
deve ser vestida novamente. Com esses dados, é então necessário avaliar cada
indicador antropométrico recomendado pelo Ministério da Saúde e pela OMS.

2 Indicadores antropométricos
O Ministério da Saúde (BRASIL, 2011) recomenda que, para crianças menores
de dois anos, sejam coletadas as informações de sexo, data de nascimento,
peso e comprimento. Com essas informações, é possível realizar a avaliação
do estado nutricional das crianças e, assim, acompanhar o seu crescimento e
desenvolvimento ao longo dos anos. O acompanhamento frequente do cres-
cimento e desenvolvimento das crianças é importante para monitorar a saúde
atual e predizer possíveis problemas de saúde futuros. Sempre que houver
problemas no desenvolvimento infantil demonstrados pelas alterações dos
indicadores antropométricos, é possível predizer os problemas de saúde com
base nos quadros de desnutrição e obesidade.
Os índices antropométricos adotados pelo SISVAN para realizar o diag-
nóstico de saúde nutricional das crianças são (BRASIL, 2011):

 peso por idade;


 estatura por idade;
 peso por estatura;
 índice de massa corporal (IMC) por idade.

Para a classificação desses indicadores, são usadas as referências da OMS,


de 2006 e 2007 (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2006). Um indicador
antropométrico é uma combinação de duas ou mais medidas antropométricas

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coletadas de um indivíduo, que vão fornecer informações úteis a respeito


do estado nutricional dessa criança. É importante destacar que, juntos, os
indicadores fornecem uma avaliação completa em relação à condição de
saúde da criança. As medidas do comprimento e do peso são usadas para os
indicadores a seguir.

Peso por idade — Indicador usado no monitoramento do crescimento, para


avaliar crianças que estão ou podem estar abaixo do peso. Esse indicador é
usado para todas as crianças menores de dois anos. Ou seja, ele avalia o dé-
ficit de peso de crianças em relação à sua idade. A deficiência e o excesso de
peso estão relacionados com o consumo tanto cumulativo quanto agudo, que
resultam em ganho ou perda de peso. É, portanto, um indicador que possibilita
avaliar a deficiência conjunta com a altura.

Comprimento por idade — Demonstra o crescimento linear alcançado por


uma criança em determinada idade. Esse indicador é importante para avaliar
desnutrição pregressa ou crônica, em que a criança foi submetida a longos
períodos em situação de pobreza, com escassez de alimentos, o que afeta
diretamente o crescimento estatural da criança. A desnutrição crônica deve
ser evitada, pois os elementos que determinam a redução do crescimento
infantil podem trazer diversos problemas de saúde a longo prazo. Altas esta-
turas geralmente também são identificadas, mas não se caracterizam como
um problema de saúde. No entanto, devem ser investigadas, pois, em alguns
casos, podem refletir um problema endócrino. As crianças nascem com, em
média, 49,5 cm e chegam ao final do primeiro ano de vida com, em média,
74 cm — ou seja, ocorre um aumento de, em média, 24,5 cm. Já no segundo
ano de vida, a criança cresce, em média, 12 cm. O Quadro 1 apresenta uma
média de crescimento no primeiro ano de vida por trimestre.

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Quadro 1. Valores médios de ganho de comprimento no primeiro ano de vida entre


meninos e meninas

Meninas Meninos

Ganho por Ganho por


Mediana trimestre Mediana trimestre
Idade (cm) (cm) (cm) (cm)

Ao nascer 49,1 – 49,9 –

1º Trimestre 59,8 10,7 61,4 11,5

2º Trimestre 65,7 5,9 67,6 6,2

3º Trimestre 70,1 4,4 72,0 4,4

4º Trimestre 74,0 3,9 75,6 3,6

Ganho no 1º – 24,9 – 25,7


ano de vida

Fonte: Adaptado de World Health Organization (2006).

Peso para comprimento — Indica o peso corporal proporcional ao cresci-


mento da criança. É um indicador que demonstra o estado nutricional atual,
seja ele de baixo peso ou excesso de peso. Casos em que ocorre o baixo peso
para o comprimento da criança podem indicar uma situação de escassez atual
de alimentos, levando à desnutrição aguda, sem afetar o crescimento linear
(comprimento). O baixo peso também pode ser causado por doenças. Nas
situações de baixo peso atual para o comprimento, a recuperação geralmente
tende a ser mais fácil e rápida, quando comparada à desnutrição pregressa.
A desnutrição aguda ocorre geralmente em crianças com idade entre 12 e 24
meses.
Vale destacar que o comprimento de uma criança muda de maneira lenta
quando comparado ao peso; por isso, déficits de comprimento são geralmente
detectados quando a desnutrição já está instalada por períodos longos. Os
efeitos de ajustes metabólicos, que são resultantes de uma exposição crônica
a uma alimentação inadequada e a processos infecciosos sucessivos, resultam
em redução da taxa de velocidade de crescimento; então, as necessidades
nutricionais baixam. Logo, a criança terá um comprimento menor para a idade,
mas um peso adequado ao comprimento, devido a esse ajuste metabólico

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causado pela desnutrição crônica, em que a criança passou por condições de


privação nutricional.
Outro fato relevante é que a desnutrição crônica, que leva à baixa estatura
ou ao nanismo, gera uma adaptação ao processo de desnutrição. Crianças
com nanismo apresentam de forma mais evidente déficit de atenção, porque
passaram por períodos prolongados de carências nutricionais, o que afeta
diretamente as funções cognitivas. Crianças com alterações de estatura na
infância têm maiores chances de desenvolverem, na vida adulta, obesidade
— principalmente a obesidade abdominal —, menor oxidação de gordura,
menor gasto energético em repouso e pós-prandial, resistência à insulina na
idade adulta, hipertensão, dislipidemia e capacidade reduzida para trabalho
manual, entre outras deficiências. Tais aspectos levam à baixa qualidade de
vida e de saúde e ao aumento do risco de mortalidade (FERREIRA, 2020).
O indicador do peso para comprimento é recomendado também para de-
terminar o excesso de peso para a altura atual da criança, reflexo de hábitos
alimentares inadequados, além de falta de atividade física. O problema do
sobrepeso ou da obesidade na infância é fator de risco para doenças na vida
adulta, como diabetes melito, hipertensão arterial, entre outras; por isso, deve
ser cuidadosamente avaliado.

IMC para idade — Indicador útil para triagem de sobrepeso e obesidade,


além dos problemas relacionados à desnutrição. Para o cálculo do IMC, deve
ser utilizada a seguinte fórmula:

Desnutrição e sobrepeso/obesidade são condições nutricionais distintas,


mas que levam a problemas graves de saúde, requerendo dos profissionais
de saúde uma atenção diferenciada para as condições nutricionais e de vida
dessas crianças. Deve-se considerar que os efeitos dessas condições nutricionais
inadequadas sobre a saúde são o aumento da morbimortalidade, devendo-se,
portanto, estabelecer prioridades para cada situação. Assim, o Ministério da
Saúde disponibiliza a todas as crianças a Caderneta de Saúde da Criança
(BRASIL, 2018a, 2018b), na qual são anotadas todas as informações pertinentes
ao crescimento e desenvolvimento da criança, bem como seu histórico de saúde
e intercorrências ao longo dos anos. A caderneta traz o acompanhamento
do crescimento da criança, ou seja, o acompanhamento do desenvolvimento
infantil, por meio de gráficos dos indicadores antropométricos. A Caderneta de

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Saúde da Criança é separada por sexo, ou seja, meninos e meninas, conforme


apresentado na Figura 2.

Figura 2. Caderneta de Saúde da Criança do menino e da menina.


Fonte: Brasil (2018a, 2018b, documento on-line).

As informações dispostas na Caderneta de Saúde são úteis para os profis-


sionais de saúde, pois permitem desenvolver melhores orientações nutricionais,
visando sempre à saúde e à qualidade de vida. Assim, quando uma criança
recebe uma classificação do estado nutricional, tem-se ciência da sua con-
dição de saúde, devendo a família ser cuidadosamente orientada conforme a
necessidade de saúde nutricional apontada.

3 Classificação do estado nutricional


A avaliação do estado nutricional de crianças é uma recomendação proposta
por diversos órgãos internacionais e, no Brasil, pelo Ministério da Saúde. A
avaliação do estado nutricional é um importante parâmetro para diagnosticar
distúrbios nutricionais, como desnutrição, sobrepeso e obesidade. A desnu-
trição infantil tem graves repercussões na saúde de crianças, sendo inclusive
um preditor de mortalidade infantil. A baixa estatura em crianças reflete
os efeitos cumulativos de má nutrição (carência de nutrientes e energia) ou

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doenças infecciosas. A desnutrição afeta também o crescimento e o desenvol-


vimento adequado, além de influenciar negativamente no desenvolvimento
da capacidade cognitiva e no desenvolvimento psicossocial da criança, sendo
estes diretamente relacionados à inteligência e à capacidade de memorização.
Por outro lado, o sobrepeso e a obesidade infantil estão associados à má
nutrição (carência de nutrientes e excesso de energia) e à inatividade física. Isso
pode levar ao aumento de doenças crônicas não transmissíveis na vida adulta,
interferindo diretamente na saúde e na qualidade de vida, além de influenciar
negativamente no desenvolvimento cognitivo e na aprendizagem infantil,
afetando os neurotransmissores e interferindo no convívio social. Portanto,
classificar adequadamente o estado nutricional de crianças menores de dois
anos é importante para evitar distúrbios nutricionais, sendo possível identi-
ficar precocemente possíveis alterações na condição nutricional da criança,
garantindo, assim, intervenções eficientes para a saúde e a qualidade de vida.
As curvas de crescimento são distintas para meninos e meninas, sendo
que, para cada indicador, há uma curva de crescimento. A Figura 3 apresenta
os gráficos para os indicadores peso por idade e peso por comprimento de
meninos e meninas.

Figura 3. Curvas de crescimento para os indicadores peso por idade e peso por compri-
mento para meninos e meninas.
Fonte: Brasil (2020, documento on-line).

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Os indicadores comprimento por idade e IMC por idade de meninos e


meninas são apresentados na Figura 4.

Figura 4. Curvas de crescimento para os indicadores comprimento por idade e IMC por
idade para meninos e meninas.
Fonte: Brasil (2020, documento on-line).

Para compreender como devem ser inseridos os dados antropométricos


nos gráficos, para se realizar a classificação do estado nutricional, vamos
utilizar como exemplo um gráfico de peso para idade de um menino de 18
meses completos. Para tanto, utilizam-se os seguintes dados:

 idade em meses: 18 meses;


 peso da criança: 12 kg.

Assim, deve-se localizar a idade da criança no gráfico, na linha horizontal,


e o peso, na linha vertical. Então, deve-se cruzar as retas, observando em qual
escore-z a criança está, conforme pode ser observado na Figura 5.

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Figura 5. Exemplo de identificação do indicador peso por idade de um menino de 18


meses com 12 kg.
Fonte: Adaptada de Brasil (2020, documento on-line).

Após identificar que a criança se encontra entre os percentis +2 e –2,


deve-se observar o quadro de classificação do estado nutricional de crianças
menores de cinco anos, apresentado pelo SISVAN, disposto no Quadro 2,
para, então, classificar esse menino.

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Quadro 2. Classificação do estado nutricional de crianças menores de cinco anos para


cada índice

Índices antropométricos para


menores de 5 anos

Valores críticos Peso para Peso para IMC para Comprimento


idade comprimento idade para idade

< Percentil < Escore-z Muito baixo Magreza Magreza Muito baixa
0,1 –3 peso para acentuada acentuada estatura para
a idade a idade

≥ Percentil ≥ Escore-z Baixo Magreza Magreza Baixa estatura


0,1 e –3 e peso para para a idade
< Percentil 3 < Escore-z a idade
–2

≥ Percentil ≥ Escore-z Peso Eutrofia Eutrofia Estatura


3e –2 e adequado adequada para
< Percentil < Escore-z para a a idade
15 –1 idade

≥ Percentil ≥ Escore-z Risco de Risco de


15 e –1 e sobrepeso sobrepeso
≤ Percentil ≤ Escore-z
85 +1

> Percentil > Escore-z


85 e +1 e
≤ Percentil ≤ Escore-z
97 +2

> Percentil > Escore-z Peso Sobrepeso Sobrepeso


97 e +2 e elevado
≤ Percentil ≤ Escore-z para a
99,9 +3 idade

> Percentil > Escore-z Obesidade Obesidade


99,9 +3

Fonte: Adaptado de Brasil (2011).

O menino analisado se encontra entre o escore-z +2 e –2 para o indicador


peso para a idade; logo, o menino está com peso adequado para a idade. Para
todos os indicadores, deve ser realizado o mesmo procedimento. Após clas-
sificar a criança e ter o diagnóstico nutricional, é importante fazer todas as
anotações na caderneta de saúde e realizar as observações descritas a seguir.

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16 Avaliação nutricional da criança menor de dois anos

 Se a criança apresentar sobrepeso ou obesidade: devem ser investigados


junto à mãe ou ao responsável os hábitos alimentares, identificando-se
a dieta alimentar e o consumo abusivo de açúcares e produtos indus-
trializados, incluindo os ultraprocessados, e avaliando-se a qualidade
da dieta.
 Se a criança apresentar magreza ou baixo peso para a idade: devem
ser avaliados o processo de desmame e a inclusão de novos alimentos.
Quando for diagnosticada a magreza, deve ser solicitado à mãe que
retorne ao serviço de saúde no período de 15 dias.

O profissional nutricionista deve avaliar cuidadosamente todos os fatores


que podem estar interferindo no ganho de peso excessivo ou na magreza
excessiva. É sabido que existe uma complexa interação entre fatores como
disponibilidade de alimentos e sua respectiva qualidade, práticas alimentares,
hábitos e cultura alimentar, educação alimentar, acesso a água, saneamento,
saúde materno-infantil, entre outros fatores que influenciam diretamente no
estado nutricional de crianças. Os profissionais de saúde devem conhecê-los
e intervir, com o objetivo de reduzir a desnutrição, o sobrepeso e a obesidade,
proporcionando saúde e qualidade de vida às crianças e evitando problemas
de saúde na idade adulta.

BRASIL. Ministério da Saúde. Caderneta de saúde da criança: menina. 12. ed. Brasília,
DF, 2018a. Disponível em: http://www.crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/publi/ms/
caderneta_saude_crianca_menina_2018.pdf. Acesso em: 30 maio 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Caderneta de saúde da criança: menino. 12. ed. Brasília,
DF, 2018b. Disponível em: http://www.crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/publi/ms/
caderneta_saude_crianca_menino_2018.pdf. Acesso em: 30 maio 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Orientações para a coleta
e análise de dados antropométricos em serviços de saúde: norma técnica do Sistema de
Vigilância Alimentar e Nutricional — SISVAN. Brasília, DF, 2011. (Série G: Estatística e
Informação em Saúde). Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
orientacoes_coleta_analise_dados_antropometricos.pdf. Acesso em: 30 maio 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Vigilância alimen-
tar e nutricional: curvas de crescimento da Organização Mundial da Saúde — OMS.

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Avaliação nutricional da criança menor de dois anos 17

Brasília, DF, 2020. Disponível em: https://aps.saude.gov.br/ape/vigilanciaalimentar/


curvascrescimento. Acesso em: 30 maio 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Saúde da criança: acom-
panhamento do crescimento e desenvolvimento infantil. Brasília, DF, 2002. (Série Ca-
dernos de Atenção Básica, n. 11; Série A: Normas e Manuais Técnicos, n. 173). Disponível
em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/crescimento_desenvolvimento.pdf.
Acesso em: 30 maio 2020.
FERREIRA, H. S. Anthropometric assessment of children's nutritional status: a new
approach based on an adaptation of Waterlow's Classification. BMC Pediatr, v. 20, n. 1,
p. 65, 2020. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7014708/.
Acesso em: 30 maio 2020.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHO child growth standards. Geneva, 2006. Disponível
em: https://www.who.int/childgrowth/standards/Technical_report.pdf?ua=1. Acesso
em: 30 maio 2020.

Leitura recomendada
TORRES, A. A. L.; FURUMOTO, R. A. V.; ALVES, E. D. Avaliação antropométrica e dietética
de crianças de 0 a 10 anos atendidas no ambulatório de pediatria do Hospital Universitário
de Brasília. Brasília, DF: CRN-1, c2011. Disponível em: http://www.crn1.org.br/images/
teses/imc_crianca.pdf. Acesso em: 30 maio 2020.

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