Os hormônios vegetais possuem a capacidade de promover, inibir e modificar as
diferentes respostas fisiológicas, atuando em pequenas concentrações. Estas substâncias causam alterações fisiológicas e/ou morfológicas, influenciando em processos como: germinação, crescimento vegetativo, florescimento, frutificação, senescência e abscisão. A ação dos hormônios vegetais depende das condições ambientais de acordo com as características e potencialidades genéticas das plantas. O conhecimento a respeito dos locais de produção, biossíntese, via de transporte, estrutura química, mecanismos de ação e efeitos fisiológicos dos diferentes grupos de hormônios vegetais, é de importância fundamental para estudos que visem alterar as respostas fisiológicas das plantas, através da manipulação destas substâncias e/ou de aplicação de seus similares sintéticos. 2. CONCEITOS BÁSICOS
• Hormônio vegetal ou fitohormônio: é um composto orgânico e não nutriente de
ocorrência natural, produzido na planta, o qual a baixas concentrações (10-4M), promove, inibe ou modifica processos morfológicos e fisiológicos do vegetal. São exemplos: ácido indolilacético – IAA, ácido giberélico – GA, zeatina, etileno e o ácido abscísico - ABA.
• Reguladores ou biorreguladores vegetais: são substâncias sintéticas que, aplicadas
exogenamente, possuem ações similares aos grupos de hormônios vegetais conhecidos (auxinas, giberelinas, citocininas, inibidores e etileno). Temos como exemplos: ácido naftalenacético - NAA, 6-benzilamino purina – BA.
• Retardadores vegetais são substâncias sintéticas que possuem a capacidade de
inibir o crescimento do meristema subapical. Retardam a alongação e a divisão celular no meristema subapical ou, retardam a dominância apical, como o cloreto 2-cloroetil trimetilamônio (CCC, Chlormequat, Cicocel), Paclobutrazol, Mepiquat, Uniconazole, ácido succínico-2, 2-dimetilhidrazida (SADH, daminozida). Inibidores vegetais são substâncias naturais (ácido abscísico – ABA) ou sintéticas (hidrazida maleica - MH) que causam a inibição do meristema apical.
• Bioestimulantes vegetais: referem-se à mistura de reguladores vegetais ou de
reguladores vegetais com outros compostos de natureza bioquímica diferente (aminoácidos, nutrientes, etc.). Essas substâncias são eficientes quando aplicadas em pequenas doses (9000 mg L-1), favorecendo o bom desempenho dos processos vitais da planta, permitindo assim a obtenção de maiores e melhores colheitas. Podendo ainda, em condições ambientais adversas garantir o rendimento das mesmas.
PRINCIPAIS GRUPOS DE SUBSTÂNCIAS REGULADORAS DO CRESCIMENTO DE
PLANTAS
3. ETILENO (C2H4)
• O etileno hormônio volátil produzido, provavelmente, por todos os vegetais.
• Produzido nas células em sitos ainda não totalmente conhecidos. A difusão é sua forma de transporte. • A importância do etileno no amadurecimento (hormônio natural do amadurecimento) é evidente a partir de um efeito de estimulação no amarelecimento, do amaciamento da polpa, da respiração e de sua produção autocatalítica. Evidências indicam que esse hormônio também, estar envolvido com a abscisão, geotropismo, dormência, florescimento e senescência. • No amadurecimento muitas enzimas surgem e outras incrementam sua atividade: poligalacturonase, enzima málica, carboxilase, diaforase, citocromo c redutase, alfa-amilase, beta cianoalanina sintetase e RNAase. • No amaciamento agem as celulases, poligalacturonase e as hemicelulases. • Nos tecidos vegetais o etileno é produzido a partir da L-metionina, via S- adenosilmetionina (SAM ou AdoMet) gerando o aminoácido não protéico e o ácido-1-amiciclopropano-1-carboxílico (ACC), principal precursor do etileno. O ACC forma o etileno. A enzima ACC síntese é chave na biossíntese do etileno. • A produção autocatalítica do etileno é regulada pelo próprio etileno. • Os inibidores/antagonistas (acetileno, isocianidas, olefinas, monóxido de carbono) agem inibindo a atuação do etileno por: a) ligação com os receptores nos sítios específicos na membrana plasmática, inibindo sua ação; b) inibição da ação de enzimas (ACC sintase, ACC oxidase) impedindo ou bloqueando a via biossintética do etileno. • Principal vantagem prática do uso dos inibidores da ação do etileno refere-se à proteção dos produtos contra o etileno endógeno e exógeno. • Inibidores da ação: tiossulfato de prata, 2,5-norbodieno (2,5 NDB) e o diazociclopentadieno (toxicidade). • Inibidores da biossíntese: ácido amino-oxiacético (AOA) e a aminoetoxivinilglicina (AVG) (fitotóxicos). • O AVG (aminoácido não protéico) é comercializado como Retain® retarda a maturação. Possui ação competitiva e irreversível sobre a ACC sintase. • Os ciclopropenos (olefinas) sintéticos {ciclopeno (CP); 1- metilciclopropeno (1- MCP); 3- metilciclopropeno (3-MCP) e o 3,3- dimetilciclopropeno (3,3-DMP)}. • O 1-MCP liga-se de forma irreversível ao sítio receptor do etileno na membrana. Controla o amadurecimento. • Praticamente todos os frutos produzem (muito ou pouco) etileno durante o desenvolvimento e maturação (amadurecimento). • O etileno estimula a síntese “de novo” e a secreção de enzimas hidrolisantes (celulases, pectinases, etc.) nas paredes celulares causando o amaciamento dos tecidos. Ocorre uma ligação específica e irreversível com proteína do sistema de endomembranas. • Podem-se dividir os frutos em dois grupos em função do amadurecimento: Grupo 1 – frutos não climatéricos, aqueles que não são capazes de continuar seu processo de amadurecimento após sua retirada da planta (ex: cítricos, uva, morango, cereja, abacaxi e romã) devem ser colhidos após a completa maturação. Os frutos podem apresentar alguma resposta positiva ou podem ser insensíveis ao etileno. Grupo 2 – frutos climatéricos, aqueles que depois de colhidos no momento certo (“de vez”) conseguem amadurecer completamente (ex: bananas, tomate, manga, abacate, mamão, nectarina, pêssego, kiwi, sapoti, goiaba e maracujá). • Os frutos climatéricos podem ser divididos em dois grupos: a) Frutos que mesmo ligados à planta mãe atingem o pico climatérico e a maturação. Provavelmente devido à redução de inibidores e aumento da sensibilidade dos tecidos ao etileno. b) Frutos que atingem a maturação plena, após serem colhidos. A ação dos inibidores é alta quando eles estão ligados a planta mãe (ex: abacate). • Em frutos climatéricos a produção de etileno é muito maior que nos frutos não- climatéricos. • Em banana e caqui, o início da produção de etileno ocorre antes do aumento climatérico da respiração. • Em maçã, pera e damasco essa produção ocorre ao mesmo tempo. • Em abacate, morango, mamão, ameixa e tomate, o início na produção de etileno ocorre após o início do aumento climatérico da respiração. • Tratamento de frutas com etileno visa induzir e uniformizar o amadurecimento (degradação de clorofila, aparecimento de pigmentos coloridos, aumento de açúcares solúveis, perda de adstringência e amaciamento). • Aplicação de cálcio afeta a vida pós-colheita de várias formas: adiamento e uniformização do amadurecimento e da senescência, manutenção da firmeza e qualidade dos produtos, controle da ocorrência de distúrbios fisiológicos, supressão da respiração e diminuição de danos patogênicos. • O cálcio pode inibir a ação da pectinametilesterase (PME) e da poligalacturonase, responsáveis pela perda de estabilização da parede celular (solubilização e despolimerização das pectinas). • Pode ser aplicado na forma de cloreto de cálcio, sulfato ou nitrato de cálcio. Deve- se ter cuidado com as concentrações para não causar injúrias e descoloração. • Condições de estresse (feridas, raios gama, friagem, temperatura, hídrico, danos causados por insetos, microrganismos e substâncias químicas) também, levam a produção de etileno, aceleram a maturação e reduzem a vida útil do fruto. • Existe interação entre o etileno e auxina durante a abscisão de folhas e de frutos. As auxinas podem acelerar ou retardar a abscisão, dependendo da concentração e estádio do desenvolvimento. Naturalmente próximo a abscisão os níveis de auxina diminuem e o do etileno aumenta. • Pode-se obter a aceleração da maturação pela aplicação de baixas concentrações de etileno, em câmaras semi-herméticas com controle de umidade relativa e temperatura (ex: banana – desaparecimento de cor verde, transformação de amido em açúcares, perda da adstringência da polpa; abacate, manga e tomate – acelera a maturação; caqui – perda da adstringência; pêssego – amolecimento; laranja e outros cítricos – desverdecimento). • A rápida difusão do gás etileno impede, aparentemente, qualquer acúmulo no fruto e qualquer efeito nocivo à saúde humana. • O ethephon (ácido 2-cloetilfosfônico) é bastante aplicado em póscolheita: - acelera a maturação e uniformiza a maturação de frutos climatéricos; - desverdecimento de cítricos; - perda de adstringência (caqui); - formação da cor vermelha em maçã; - aumento da concentração de antocianina, acelera a maturação e o conteúdo de açúcares (uva e azeitona). • O etileno é também utilizado para acelerar a maturação de abacates, a perda de adstringência de caquis, o amolecimento de pêssegos e o amadurecimento de laranjas e outros cítricos. • Os gases utilizados comercialmente para o amadurecimento possuem (94,5% de N2 e 5,5% de C2H4) durante 62 a 72h para bananas e de 84 a 96h para mangas. • O acetileno (C2H2) possui efeito semelhante ao etileno, na concentração de 0,1% na câmara de amadurecimento. • Os produtos agem na síntese de ácido 1-carboxilico-1- aminociclopropano (ACC) pela indução da ACCsintase e posterior ação dqa ACCoxidade, com o objetivo de provocar um surto autocatalítica de etileno. • As auxinas, giberelinas e citocininas, geralmente conservam os tecidos em estado juvenil e cujo desaparecimento permite o início da fase de maturação, com posterior aumento de etileno endógeno.
4. AUXINAS
• As auxinas participam ativamente do crescimento em alongação das células do
fruto. • O ácido 3-indolacético (AIA) é a mais ativa dentre as naturais. O ácido indolbutírico (IBA), indolpropiônico (IPA), ácidos α e β naftalenoacético, ácidos benzóicos e clorofenoxiacéticos são produtos de ação auxínica. • As sementes e seu número são fontes de auxinas agindo positivamente no tamanho e na forma final do fruto (ex: uva – existe relação positiva entre número de sementes e o tamanho das bagas; morango – a localização das “sementes” frutos, aquênios) controla a forma final. • A maioria dos frutos apresenta grande dependência das sementes como produtora de auxinas, que agem no crescimento. Entretanto outros exibem dependência menor ou nula. • As auxinas sintéticas aplicadas em figo aceleram o processo e a maturação do fruto. • Maçã, as sementes são necessárias ao crescimento inicial do fruto. • Aplicações exógenas de auxinas podem substituir a produção endógena das sementes e induzir a formação de frutos partenocárpicos de figo, tomate, morango, pêssego, cereja e ameixa, entretanto de tamanhos menores e com baixos níveis de Ca2+. • O aumento da sensibilidade ao etileno, pode estar relacionado com a diminuição de auxinas em certos frutos. • Aplicações exógenas de auxinas sintéticas podem retardar parciais ou totalmente, a maturação de certos frutos (pera, banana, tomate). • Em pera aplicações de AIA ou 2,4-D (ácido 2,4 – diclorofenoxiacético) auxinas sintéticas inibem o desaparecimento da cor verde da casca (degradação da clorofila) e o amolecimento da polpa. • Auxina retarda por vários dias o amadurecimento induzido pelo etileno, em função da manutenção da juvenilidade. • Em banana as auxinas inibem tanto a maturação da casca quanto da polpa. • Imersão de banana, maçã ou pera, em 2,4-D acelerou a maturação, provavelmente devido a induzir a síntese de etileno. • 2,4-D aplicado em limas ácidas mantêm a coloração verde e a retenção do cálice contido ainda no fruto. • O 2,4-D não influencia nas características químicas do suco e não contribui na retenção de umidade pelo fruto. • Conclui-se que dependendo da auxina e da concentração utilizada, do modo de aplicação e dos tecidos (frutos inteiros, fatias) e do tipo de fruto, os resultados são bastante variáveis, devido à manipulação violenta de um processo tão organizado como a maturação do fruto.
5. GIBERELINAS
• As giberelinas também participam do crescimento dos frutos.
• As sementes jovens são ricas em giberelinas. • As giberelinas estão envolvidas na promoção do crescimento longitudinal, indução de enzimas hidrolíticas nas sementes em germinação, promoção da formação e desenvolvimento de frutos, retardam a senescência, aumentam a síntese de carotenóides e reduzem a firmeza dos tecidos. • As giberelinas podem retardar as transformações metabólicas promovidas pelo etileno durante a maturação e amadurecimento. • Em certos frutos, como as bagas (uva), aplicações de GA3 (ácido giberélico) estimulam o crescimento. • GA3 + auxina, provoca frutos de tomate duas vezes maior em comparação a aplicações isoladas desses reguladores vegetais. • Ácido giberélico induz a formação de frutos partenocárpicos (maçã, pera, pêssego, figo, damasco, amêndoa e frutos cítricos), entretanto de tamanhos menores. • Em goiabas ocorre prolongação da vida útil de 5 a 12 dias. • Ácido giberélico pode induzir o retorno da cor verde da casca de frutos cítricos, enquanto estão ligados à árvore (laranja “valência”), devido à reversão dos cromoplastos para cloroplastos. • GA adia o desaparecimento da cor verde da casca de banana e retarda ligeiramente, o pico climatérico da respiração e a maturação da polpa. • Em tomate, aplicação de GA retarda o desaparecimento da cor verde e a síntese de licopeno e carotenóides e, o aparecimento da cor vermelha do fruto. • Em cerejas, GA induz frutos mais firmes e com peso maior. • Em manga, GA adia a maturação e mantêm os frutos mais firmes. • As giberelinas retardam as transformações metabólicas do fruto pelo antagonismo que exerce ao etileno. • O GA impede a degradação da clorofila, o acúmulo de carotenóides e o amadurecimento da casca, retardando a senescência. • GA em goiabas prolonga de 5 a 12 dias a conservação do fruto.
6. CITOCININAS
• As citocininas estão presentes particularmente em sementes e frutos jovens, onde
a divisão celular é rápida e intensa. • As citocininas têm efeito semelhante às giberelinas, mas agem na atividade e síntese protéica. • A cinetina (6-furfurilaminopurina ou 6-furfurilaminopurina) é o composto mais ativo, mas não ocorre naturalmente em vegetais. • A zeatina é a natural mais expressiva. • Principais efeitos fisiológicos: promoção da divisão e diferenciação celular, manutenção da integridade das membranas e retardo do processo de senescência. • São retardadores naturais da senescência, adiando o aparecimento da cor verde e o aparecimento da cor típica do fruto da laranjeira. • Citocininas atrasam a destruição da clorofila, a hidrólise de proteínas e a senescência da casca de pimentão e pepino. • Tomates podem ter sua maturação adiada quando tratadas com citocininas. • Aplicações em limas ácidas proporcionam uma menor degradação do ácido ascórbico (vit. C). • Aplicação de isopentiladenosina possui um efeito inibidor da maturação (abacate, maçã e tomate), devido a suprimir a produção de etileno endógeno. • Aplicações de citocininas nas concentrações de 5, 10 e 20ppm resultam no aumento da vida útil (vida-de-prateleira) de couve-flor, alface, rabanete, cebola, repolho, broto de brócolis, mostarda verde, aipo, cebolinha verde e aspargos. 7. ÁCIDO ABSCÍSICO
• O ABA (terpenóide) está relacionado diretamente com a senescência em certos
frutos climatéricos e não climatéricos. • Antes ou durante ao amadurecimento os níveis endógenos de ABA aumentam. • Tratamentos com ABA podem acelerar os processo de amadurecimento e senescência de frutos. • Aplicação de etileno provoca um acúmulo de ABA endógeno em certos frutos. • ABA induz a formação de licopeno em tomate. • Certos frutos podem ter sua maturação acelerada, após tratamento com ABA, por induzir a síntese de etileno. • A concentração de ABA nos frutos aumenta no final do desenvolvimento ou durante o amadurecimento.
8. RETARDADORES E INIBIDORES
• A hidrazida maléica (MH), cloreto de cloro colina ou cloreto (2- cloroetil)
trimetilamônio (CCC ou Tuval ou Cicocel ou Chlormequat) e ácido succínico– 2,2-dimetilhidrazida (SADH, Alar, daminozide, Bnine), são retardantes do crescimento. • A hidrazida maléica é inibidora do brotamento durante o armazenamento de cebolas, rabanetes, batata doce, nabo, cenoura e batatas. • O Alar e o CCC reduzem a senescência de olerícolas folhosas, no tratamento pós- colheita. • Entre os inibidores temos: cicoheximida, actinomicina-D, a vitamina K e o óxido de etileno. • O tratamento de frutos de tomates verdes em uma atmosfera, contendo 0,75% de óxido de etileno por aproximadamente 20h, retardou o amadurecimento e a produção de etileno por 5 a 21 dias.