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Institutos
Três institutos:
- família
- sucessões
- direito penal
Instituto: conjunto de regras de direito que através de uma pluralidade de fontes vão reger/
disciplinar a família.
FAMÍLIA
A definição oscila em função das latitudes consideradas, temos de nos situar num
determinado espaço/tempo. Importa definir, é um conceito sociológico, para além de jurídico
e tem de ser enquadrado num determinado contexto histórico.
→ Émile Durkheim: ideia de clã (formado por um conjunto de elementos, não por terem entre
si um grau de parentesco; consideram-se família em virtude de provir de um antepassado
comum ou por se considerarem provenientes do mesmo deus). O clã agrupa a comunidade
de pessoas provenientes de um mesmo antepassado, resultando a sua identidade própria
de vínculos religiosos (divindades comuns), propriedade comum a trabalho coletivo.
→ Noção mais estrita: família patriarcal (família patriarcal romana: a pertença à família não
é ditada por laços de consanguinidade, deriva da subordinação à potestas do pater familias; os
membros da família são-no porque estão todos à subordinação do pater potestas - poder
paternal → laços agantitio). Não é tanto a existência de vínculos sanguíneos que aqui
releva, pois o parentesco uterino está excluído, mas a submissão ao poder do pater
familias que molda e define a situação familiar. Os romanos exprimiram esta ideia de
comunidade familiar através da contraposição entre o parentesco agnaticio (determinava-se
através da existência ou não de laços de submissão familiar) e cognaticio (caracterizava-se
pela existência de vínculos sanguíneos que formam os diversos tipos de relações familiares ou
de parentesco).
2. casamento: pode ser lido em duas dimensões: estado entre duas pessoas que aponta
para comunhão de vida que gera direitos e deveres de natureza pessoal e de natureza
patrimonial ou contrato que dá azo a essa comunhão de vida; os casamentos devem
ser livres, no momento da celebração do casamento =/ liberdade de escolha de com
quem se quer casar.
Na cúria de 1211, Afonso II dispõe que os casamentos devem ser livres.
A sociedade conjugal é a que se estabelece pela comunhão de vida que resulta para o
homem e para a mulher da união matrimonial. Pode concluir-se que os cônjuges matinham
a propriedade exclusiva dos bens que levavam para o casamento. Ainda que a
propriedade dos bens permanecesse diferenciada, já o mesmo não se pode dizer da sua
administração, atribuída ao marido, que a exercia com amplos poderes, que chegariam
inclusivamente à possibilidade de alienar bens móveis, próprios da mulher, sem o seu
consentimento. A mulher via a sua capacidade de exercício de direitos bastante limitada, não
podendo nomeadamente contratar, afiançar, estar em juízo ativa ou passivamente, sem
consentimento do cônjuge, a não ser que fosse comerciante. De acordo com este regime, os
bens adquiridos pelos cônjuges na constância do matrimónio passariam a ser comuns.
Durante a constância do matrimónio, o regime jurídicos das arras deveria ser idêntico ao dos
restantes bens próprios da mulher, estando sujeitos à administração do marido, embora sem
poderes autónomos de disposição.
Não há diferenças ao nível dos direitos e deveres que decorrem destes casamentos.
Mas a forma considerada preferível, sob pena de sanções espirituais aos cônjuges, era
o casamento de benção, já que, na Idade Média, a Igreja tinha alguma superioridade. Tem
reflexo na legislação dos monarcas:
1311 - Lei de D. Dinis (se um homem e uma mulher viverem na mesma casa durante
7 anos, tomando refeições em conjunto, fazendo compras juntos, conhecidos na vizinhança,
são considerados casados sem possibilidade de prova em contrário) → presunção legal
O casamento também gera relações pessoais. Um dos institutos com este cunho
pessoal marcante era o poder paternal: herança da matriz germânico-visigótica.
- subordinação à autoridade do pater familias
- direito visigótico: o poder paternal está entregue ao pai, mas a mãe já tem
determinados direitos com relevância grande da sua função; espécie de direito de
correção que os pais têm relativamente aos filhos; deveres de educação, proteção dos
filhos e direção dos filhos; se o filho menor pretendesse casar, estava sujeito à
autorização do pai e da mãe; se o filho adquirisse património, este era
propriedade paterna, sendo trazido à coação no caso de morte do chefe de família
- pai; mas há determinados bens que os filhos podem manter como seus
(nomeadamente os que advém de herança da mãe)
- direito português: o poder paternal não pertence nem ao pai, nem à mãe, mas a
ambos; se um deles morre, o sobrevivo não permanece com o poder paternal: ele
passa a ser um mero poder de tutela que passa a ser sujeito a fiscalização de parentes;
mas o homem tem posição de supremacia na família, porque é chefe de família; o
poder paternal cessa quando o filho casa e constitui a sua própria família
- adoção: prevista no direito romano justinianeu; o direito romano previu 2 formas -
adoptio (um filho adotivo deve ser configurado como se um filho biológico se
tratasse) e adrogatio (sujeição de um pater familias a outro pater familias)
- perfilactio (não é adoção, mas é um processo que se destina a evitar que as regras
sucessórias sejam aplicadas e a legitimar filhos nascidos fora do casamento)
DIREITO SUCESSÓRIO
Sucessão: modificação subjetiva da relação/situação jurídica.
Pode ocorrer intervivos - entre sujeitos vivos e atuantes na ordem jurídica - ou pode
ser mortis causa (por causa da morte).
Se alguém morre, é preciso saber o que acontece à titularidade dos seus bens.
● sucessão voluntária
Integra-se a sucessão testamentária, isto é, a vontade opera através de um testamento.
O autor da sucessão disciplinou, por morte, o destino a dar aos seus bens.
Só a partir do séc. XIII, sob a influência do renascimento justinianeu, se pode voltar a
falar do testamento como forma de dispor post mortem, não revelando ainda o direito
municipal quaisquer preceitos atinentes às formalidades testamentárias.
familiares); limita o testamento; não se aplica a todos os imóveis, aplica-se aos bens
que advêm de proveniência familiar, separando os bens adquiridos; estabelece-se
quota objetiva da parcela de que se pode dispor; beneficiaria qualquer parente
3. sucessão legitimária ou necessária: só beneficiaria descendentes ou ascendentes;
aplica-se a todo o património do decujus, sendo irrelevante se estamos perante bens
próprios ou bens adquiridos; vai consagrar-se a fação de ⅓ como quantitativo
livremente disponível ao autor da sucessão
DIREITO PENAL
O Sistema penal é essencialmente pluralista: não está estritamente nas mãos do
Estado, nas mãos do rei.
- retroatividade
- arbitrariedade
- cláusulas gerais (não há precisão da regra)
- penas infamantes (fundamentam vergonha ou dor psicológica)
- penas variáveis conforme a condição das pessoas
- penas transmissíveis (se o agente do crime fosse um, poderia a pena ser aplicada não
apenas a esse, mas aos membros da respetiva família)
Regime de auto-tutela
A reparação dos crimes tende a ser deixada à auto-defesa do próprio ofendido ou
do grupo familiar em que este se integra, sem recurso aos esquemas de justica pública. As
comunidades locais, voltadas para si mesmas, fizeram renascer formas privadas de proteção
social, socorrendo-se dos esquemas primitivos da justiça pessoal e familiar próximos da lei da
Talião.
Vingança privada
Se o rei está preocupado com outros afazeres, não pode estar no monopólio coercitivo
- não legisla.
O primeiro passo está, então, entregue à comunidade, que estabelece regras através
das quais a punição é aplicada. Não é um processo que não esteja vinculado por regras. A
própria comunidade começa a estabelecer as condições em que a vingança privada pode
ser exercida.
O segundo passo é a vingança, que vai ser praticada e que deve ser proporcional
àquela que se sofreu (proporcionalidade entre a ofensa e a sua reparação). Olho por olho,
dente por dente.
O terceiro momento é a autoridade comunitária passar a propor e a exigir que a
vingança não se realize em virtude de ser possível compor o crime (composição: forma de
pôr fim à vingança).
O quarto patamar é a criação de um árbitro. Inicialmente, este juiz é uma entidade
privada e a sua intervenção é facultativa; num segundo momento, embora seja privado, a sua
arbitragem passa a ser obrigatória; finalmente, além de obrigatória a arbitragem, esse decisor
dos crimes passa a ser público. Cai-se no monopólio estatal da coerção.
Declaração de inimizade:
1. fredo - paga-se para se adiar a vingança por mais 8 dias, mas não se afasta
2. desterro - o agressor era obrigado a abandonar o seu lugar e não poderia a ele
regressar durante determinado período de tempo
3. faida/ vingança propriamente dita - o autor poderia ser legitimamente perseguido
pelo ofendido ou pelos seus familiares.
Poderia terminar com a composição (forma de pôr fim à vingança, repondo a amizade
entre os contendentes). Há vários tipos: composição pecuniária (através de quantitativo em
dinheiro que o agressor pagava, que revertia para o ofendido ou para os familiares, e era
considerado bastante para o crime ser composto e não haver vingança), composição corporal
(pôr fim à vingança nas circunstâncias em que o criminosos não tivesse bens - por exemplo, o
Direito Foraleiro
Direito Antigo
Pena de morte - prevista para crimes considerados graves1
Como devia ser aplicada?
A mais frequente era o enforcamento. Mas os forais também revelam formas mais
cruéis, como enterrar vivo debaixo do corpo da sua própria vítima, afogamento, lapidação,
fogueira.
Penas pecuniárias - para quem tivesse património
Penas subsidiárias - para o caso de não haver lugar para outro tipo de penalidades.
Anuviado - obrigação a recair sobre o criminoso de pagar 9 vezes o valor do objeto
furtado.
Penas corporais: penas subsidiárias das penas pecuniárias, para aqueles que não
tivessem bens (corte da mão - deveria ficar presa à porta do lesado, tirar de olhos, açoites)
Penas privativas da liberdade: servidão, quando não havia lugar ao pagamento de
penas pecuniárias, para se assegurar o seu pagamento
Penas infamantes: não se destinam a infligir dor física, mas tremor psicológico/
vergonha (flagelação pública do réu, exposição do reu em pelourinhos e gaiolas, procissão do
1
ladrão reincidente; assassínio; ofensas corporais contra partes do corpo humano
consideradas sensíveis; violação - ‘’forçar mulher casada ou honesta’’.
réu de pé descalço pelas ruas com um baraço ao pescoço, corte da barba nos homens, corte do
cabelo na mulher)