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Bases Neurológicas do Psicodiagnóstico

Profa. Lucia Iracema Zanotto de Mendonça

Monitora: Deborah Rappaport (tel.: 11- 981029994)

Aula 06/08/18

Ao longo do semestre teremos um seminário obrigatório para todos, que versará sobre
instrumentos/testes de avaliação neuropsicológica que começaremos a fazer. Teremos
também uma prova corresponde ao primeiro bloco e outra correspondente ao segundo, tendo
que ter nas duas ao menos uma média 5,0, com a possibilidade de reavaliação final com todo
conteúdo do semestre.

Afecções dos núcleos da base

Nas duas primeiras aulas falaremos sobre aspectos motores. Núcleos da base é o nome
dado ao conjunto de várias estruturas que se localizam na subcorticalidade. Temos o córtex
(substância cinzenta), o núcleo caudado e o putamem – que junto formam o Estriato-, o Globo
Pálido e o Tálamo, sendo que todas elas formam o núcleo da base. As grandes funções
(linguagem, habilidade de raciocínio, abstração) são exercidas pelo córtex, no entanto, essas
estruturas sub- corticais (mais antigas) não estão soltas, tendo uma conexão com o córtex e
vice-versa. Tudo que é feito pelo córtex tem uma interferência, ligação, com essas estruturas –
apesar do córtex ser o centro, a área mais importante para as funções principais, essas
estruturas participam e, portanto, se houver mudanças/lesões/modificações nestas estruturas
subcorticais, todo o córtex será afetado, assim como as funções principais. Temos um circuito
córtico - subcortical, que se realiza assim:

O que ocorre quando há uma lesão nos núcleos da base? Quando ocorrem, vão haver
manifestações conhecidas desde o séc. XVIII que são motoras – mais visíveis- e cognitivas.
Circuito córtico- subcortical

Do ponto de vista motor, há alterações na iniciativa do movimento e da automatização


do movimento, além de interferência no tônus muscular. Clinicamente temos dois tipos de
manifestação: síndrome oligocinética (manifesta- se por menos movimento, uma menor
capacidade de movimentação) e síndrome hipercinética (manifesta- se por um excesso de
movimento). Na síndrome oligocinética, a doença que traduz esta síndrome é o Parkinson
(mais comum, padrão). Parkinson é uma doença degenerativa, uma deficiência de dopamina,
comportando uma tráide de sintomas: acinesia (redução da velocidade dos movimentos,
menor amplitude dos movimentos - a começar pela marcha que é dada em pequenos passos,
que se arrasta pelo próximo ao chão, não apresentando movimentação associada como se não
houvesse balanço ao caminhar – , a readaptação postural – ficando mais corcunda - e a
dificuldade de inciativa de movimento – dentro dessa dificuldade, há também a dificuldade de
manobra que inverta o sentido do movimento, ), a rigidez (os pacientes tem um aumento de
tônus – hipertonia – que compromete os músculos flexores, o que gera uma postura fletida e
facilitam as quedas. Vemos um paciente que parece um “bloco”, duro, um robô) e o tremor (o
típico é o tremor de mão e de dedos, o “tremor conta moedas”, no entanto, podendo
comprometer todas as partes do corpo. É um tremor lento que pode ser captado), nem
sempre havendo presente os três num paciente. Além da tríade há algumas outras
manifestações: hipomimia (perda de expressão facial, deixando a pele mais lisa), hipofonia
(diminuição do volume da fala, que muitas vezes gera dificuldade de compreender. Como a
fala é um ato motor, também vemos uma certa hesitação inicial na fala, quase como uma
gageira), a escrita também é alterada, ficando menor. Algumas outras coisas importantes:
pacientes parkisionisanos não raramente têm hiposmia (diminuição da capacidade olfativa)
que geralmente começa anos antes de começar; depressão também é comum apresentarem;
frequentemente há um distúrbio comportamental do sono REM (o paciente apresenta sonhos
vívidos e que são combativos, muitas vezes apresentando movimentos corporais durante o
sono, o que pode gerar agressões àqueles que dormem juntos ao parkisoniano, podendo
aparecer anos antes da doença de Parkinson aparecer). DO ponto de vista motor, qual é o
principal neurotransmissor afetado e em que via/parte? A dopamina (reduzida), afetando
principalmente a substância negra e o corpo estriado (local de junção da substância negra). O
tratamento do ponto de vista motor se dá através de mais dopamina ou substância que
tenham o efeito similar à dopamina. No entanto, este tratamento não melhora o tremor, que
seria melhorado com acetilcolina, o que gera um efeito colateral de piora de memória. A
grande via mesolímbica, que começa no meso- encéfalo (tronco) e que vão terminar nas
estruturas límbicas, com o aumento da dopamina na via nigroestriatal, altera os níveis de
dopamina na via mesolímbica (que não estava alterada), gerando psicose (esta que
organicamente, ou seja, se não fosse causada via medicação, teria alteração da dopamina na
via mesolímbica, e não na via nigroestriatal). Ou seja, cognitivamente podemos ter depressão,
psicoses e déficits cognitivo/demência.

Começamos falando que as doenças do núcleo da base podem se manifestar por um


quadro oligocinético e hipercinético. Falamos do quadro oligocinético e que a doença de
Parkinson seria uma boa representação. No entanto, podemos ter outras doenças. Se tiver um
AVC, em que existe um problema na circulação e que houve morte de neurônios por falta de
circulação, podemos ter por manifestação uma síndrome oligocinética. Encontramos um
quadro oligocinético desde que haja uma lesão nas estruturas dos núcleos da base. Existem
doenças degenerativas, que começam com um quadro oligocinético e que não são o Parkinson
especificamente. Isso quer dizer que a etiologia é diferente e que o tratamento será diferente.
A síndrome hipercinética implica em movimento pra mais (paciente que têm
hipercinesia= movimento involuntário, que aparece sem que o paciente queira fazê- lo). Há
três tipos de hipercinesia que nos ajudam a entender: coréia (movimentos rápidos, aleatórios,
podendo afetar membros, face, língua e a amplitude pode ser pequena ou grande, havendo
diversas causas possíveis para essa doença, mas a Doença de Huntington é comum, que é uma
doença degenerativa genética, herança autossômica dominante, tendo por quadro clínico a
demência, começando geralmente após os 50 anos) e tique (que têm por diferença da coréia a
esteriotipia e a repetição. O indivíduo se quiser pode bloquear o tique. Uma doença psíquica
similar ao tique, é o toque; geralmente encontra- se na família de um paciente que têm tique,
a presença de algum indivíduo com toque. Especificamente discutiremos a doença de Gilles De
La Tourette, que têm o tique – geralmente tiques orais, que produzem um som
desagradável/inadequados produzindo coprolalia, ou seja, só fala merda). A distonia é uma
hipercinesia, porém lenta, com movimento ondulante, tendo por exemplos a torcicolo
espasmódico e a caibrã do escrivão ou grafoespasmo.

13/08/18

Toda informação sensitiva do corpo inteiro (temperatura, tato, pressão, etc) chega na
área sensitiva- primária – 1ª estação no córtex aonde chegam as informações sensitivas. No
pólo ociptal temos uma relação com a visão, ou seja, é a área visual primária aonde chega
primeiramente no córtex a informação captada pela retina. No 1º giro temporal temos a área
auditiva- primária, aonde todo som chega. Toda informação que chega à estes pólos, ainda não
é “reconhecível”, pois dependem das áreas secundárias. As áreas primárias ou recebem (1º
ponto de chegada no córtex) ou é o primeiro ponto de saída (motor); a área primária
simplesmente “diz”: “estou vendo”, mas ainda não sabe o que; “estou ouvindo”, mas ainda
não sabe o que. As áreas secundárias se localizam no entorno das áreas primárias. Temos a
área secundária sensitiva, a área secundária visual, área secundária auditiva, etc, todas elas
localizadas no entorno. O que elas fazem? Elas vão analisar o estímulo que está chegando,
analisando as características do estímulo que chega, sendo que será a partir daí que
reconheceremos. Só que o reconhecimento não para por aí. Assim que reconheço o objeto,
vêm o significa do estímulo para o sujeito. Isto se dará através do reconhecimento dos
conjuntos das características do objeto, somado ao significado que tenho dele. Aí chegamos
nas áreas terciárias, o local da associação dos sentidos, dos conceitos. É uma área de
integração. Temos duas áreas terciárias importantes: a região entre o temporal, ociptal e
parietal – a encruzilhada – e o pré- frontal (grande área de integração). Por integração
entendemos quando todos os elementos são associados em torno de um conceito, que traz as
memórias, as emoções e a palavra que define aquilo.

Distúrbios da Percepção – Agnosias

gnosia: capacidade de eu perceber o mundo. As agnosias são os distúrbios de


reconhecimento/percepção do mundo. Uma pessoa só tem uma agnosia se toda a via sensitiva
ou sensorial estiver íntegra, inclusive, a área primária. Só posso dizer se ela tiver dificuldade de
percepção.

1. Agnosia táctil

O indivíduo sente – não tem distúrbio sensitivo-, mas têm dificuldade de analisar que
objeto é este que ele sente. Só chama de agnosia quando o pacinete tinha a função total e
perdeu por alguma lesão. Se não for assim, é um distúrbio do desenvolvimento.

2. Agnosia auditiva

Temos alguns tipos de agnosia auditiva: ruídos (aquela pessoa que está na casa e ouve
um som, não sabendo distinguir de onde ele vêm), sons musicais (aquele que ouve a música,
mas não consegue identifica- la) e surdez verbal (a fala -som- de outras pessoas precisa ser
primeiramente precisa ser analisado do ponto de vista acústico. A pessoa fala, mas não
consegue entender o som que produz. A pessoa consegue ouvir, mas não consegue analisar e
reconhecer).

3. Agnosia visual

Temos alguns tipos de agnosia visual: cores (não consegue- se reconhecer a cor),
fisionomias ou prosopagnosia (o paciente é incapaz de ver uma face e de juntar os diferentes
elementos que constituem o rosto de uma pessoa. Não reconhecem a si próprio no espelho,
numa fotografia), objetos (dificuldade de identificar objetos), símbolos gráficos (dificuldade de
reconhecer letras e números, não conseguindo ler, conseguindo escrever, mas sem saber o
que escreveu

4. Somatoagnosia

A região parietal posterior é importante para a noção de espaço. Isso está relacionado
ao corpo, que é e ocupa espaço. Em lesões no parietal posterior temos distúrbios relacionados
a percepção do próprio corpo, tendo por exemplo típico a Agnosia Digital, que é aquela pessoa
que têm dificuldade no reconhecimento dos seus dedos, que é uma Somatoagnosia.

(dúvida da aula: é curioso notar a esquematização funcionalista com a qual a área


biológica-fisiológica trabalha. Essa divisão de primário, secundário e terciário gera uma
sensação de que já não estamos falando de um humano que sou, ou seja, fala- se de um
modelo abstrato pouquíssimo intuitivo. No entanto, ao mesmo tempo que gera- se essa
contra- intuição, consegue- se chegar a uma noção de que não há lesão primária, mas sim
secundária/terciária, aparentemente correta, já que se houvesse lesão primária estaríamos
falando de outro tipo de distúrbio, com causas completamente distintas. O que me instiga é o
fato de que, mesmo que a lesão seja nas áreas secundárias/terciárias, há um certo tipo de
imitação de uma lesão primária. Quero dizer, mesmo a pessoa não sendo “cega”, “surda”, ela
acaba tendo a impossibilidade de ver e escutar, como todos os demais. Isso me leva a crer que
o desenvolvimento humano não obedece há uma regra única, correta, podendo com uma boa
dose de acessos, apoio, chances, acessar a distintos níveis de desenvolvimento que não
compreendem este modelo. Para isso é só ver o exemplo do amigo do Muri, o Léo. Que
consegue entender o que as pessoas dizem, mesmo sem ver, tal como se comunicar através da
Libras com aqueles que a compreendem. O que fazer com os distúrbios se não são condições
passageiras, mas permanentes? Acredito muito na gambiarra, por mais que ela possa ser
confundida politicamente com reformismo.)

17/09/18

Função executiva: conjunto de habilidades com intuito de direcionar comportamentos


a metas/objetivos, para resolver problemas imediatos, a médio e longo prazo. Destrinchando a
questão, temos diversas regiões que trabalham especificamente mas simultaneamente. Temos
o sistema motivacional, mas o que seria motivação? Poderíamos dizer que é o impulso que
leva a ação, a partir de algo de dentro - aquilo que dá o início do comportamento. Podemos
dizer que o sistema motivação permite a auto ativação, o iniciar e o manter determinado
comportamento. Numa situação de lesão dessa região, o que vemos como manifestação
clínica é a chamada síndrome oligocinético-apático-abúlica (menor movimentação,
desinteresse e falta de vontade), fazendo parte desse quadro tanto o mutismo, quanto a
incontinência urinária. Em resumo

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