Você está na página 1de 13

As competências mais valorizadas


nas empresas para 2023

Estudos mostram que as


habilidades emocionais se
tornaram ainda mais exigidas no
novo cenário corporativo, com
destaque para a capacidade de se
comunicar

Por Fernanda Colavitti Atualizado em 27 jan 2023,


10h21 - Publicado em 7 out 2022, 08h42
(LinkedIn Sales Solutions/Unsplash/Divulgação)

C
onversas por vídeo, mensagens no WhatsApp e em
outras plataformas digitais, além de trocas de e-mails
infinitas — muitas vezes, tudo isso ao mesmo tempo.
A nova rotina que se impôs para muitos profissionais
durante a pandemia de covid-19 se manteve depois
de sua fase mais crítica. E a comunicação à distância
foi apenas uma das diversas transformações na
forma de trabalhar que ocorreram nos últimos dois
anos — e que continuam.
Natural que, diante desse cenário corporativo, sejam
cobradas novas habilidades dos profissionais que
atuam nele. Entre elas, a capacidade de se comunicar
tem sido considerada essencial por empresas
brasileiras e estrangeiras.

Relacionadas

É o que mostram dois levantamentos recentes, um


realizado pelo site de recrutamento norte-americano
ZipRecruiter e outro pela empresa de recrutamento
brasileira Robert Half em parceria com a escola de
educação corporativa The School of Life Brasil (veja
quadro). “Na pandemia e na pós-pandemia, a
comunicação se fortaleceu demais. Isso aparece em
quase 100% das posições que a gente busca”, afirma
Maria Sartori, diretora associada da Robert Half.

Segundo ela, antes de 2020, apenas 5% das vagas


disponibilizadas pela empresa eram remotas; agora,
essa porcentagem passou dos 50%. “No ambiente
virtual, a questão mais preponderante é a
comunicação, independentemente de a posição ser
para um profissional iniciante ou sênior”,
ressalta. “Comunicação” também está entre os
workshops corporativos mais procurados na The
School of Life Brasil. “Esse novo modelo de trabalho
exige uma comunicação muito mais certeira”, afirma
Diana Gabanyi, CEO e responsável pelos projetos
corporativos da escola.

Top 10 soft skills


1. Comunicação
2. Relacionamento com o cliente
3. Planejamento
4. Gestão de tempo
5. Gerenciamento de projetos
6. Pensamento analítico
7. Adequação às normas do compliance
8. Trabalho independente
9. Relacionamento interpessoal
10. Flexibilidade

Fonte: ZipRecruiter

Influência do online

A capacidade de se comunicar está incluída no rol


das chamadas habilidades emocionais,
competências interpessoais ou soft skills. O conceito,
que se popularizou como sendo qualquer habilidade
humana não relativa ao aprendizado técnico — ou
hard skills —, não é novidade para empresas e
recrutadores. As soft skills vêm ganhando força nos
processos seletivos há alguns anos. O estudo
Tendências Globais de Talento, realizado pelo
LinkedIn em 2019 com mais de 5 mil profissionais em
35 países, mostrou que 80% dos entrevistados já
consideravam as competências interpessoais
essenciais para o sucesso das empresas; e que, para
92%, tais habilidades importavam tanto ou mais do
que as competências técnicas.

Esse processo foi potencializado e consolidado


durante os dois últimos anos, sendo que a pandemia
também mudou a priorização de algumas dessas
competências. Segundo Maria Sartori, as soft skills
que, assim como a capacidade de se comunicar, se
relacionam ao trabalho online ganharam
protagonismo. Entre elas controle emocional, calma e
organização. “No trabalho remoto, temos que fazer
um milhão de coisas ao mesmo tempo. Por isso, ter
calma para se organizar é uma habilidade cada vez
mais demandada”, afirma.

Ginástica e nutrição mentais

Sabemos que é possível aprender a falar um novo


idioma, a trabalhar com um programa de computador
ou a operar uma máquina. Mas uma pessoa que não
tem a habilidade de se comunicar pode se
transformar em um bom orador? E quem não tem a
menor paciência, consegue adquirir uma calma zen-
budista? Dá para desenvolver soft skills, ou só os
sortudos que já nasceram com elas vão se dar bem
no novo mercado de trabalho?

Os especialistas são unânimes em afirmar que, sim, é


possível desenvolver qualquer soft skill. O principal
requisito para isso, segundo Marcia Miyamoto,
professora e coach na The School of Life Brasil, é o
bom e velho autoconhecimento. Ou seja, perceber a
necessidade de trabalhar determinada habilidade.
“Saber reconhecer suas emoções, as situações em
que as sentiu e que impacto você tem gerado ao seu
redor são indicadores de quando algo vai bem ou vai
mal”, afirma.

Richard Uchôa, CEO da Revvo, empresa de


aprendizagem digital corporativa, exemplifica a
importância do autoconhecimento para lidar com um
dos maiores fantasmas dos profissionais: o medo de
falar em público. “A questão pode nem ser falta de
capacidade oratória, mas outras coisas que geram
bloqueio, como a ansiedade, o senso de julgamento, a
síndrome do impostor. É necessário entender o que
está por trás de determinada dificuldade”, diz.

Então vem o segundo passo, de acordo com Uchôa:


empenho. “É preciso exercitar, treinar. Sem isso, não é
possível desenvolver uma nova habilidade. O melhor
exemplo é a academia: você não vai um dia só e já
fica em forma, é um trabalho constante. Se parar, a
barriguinha volta”, compara.

As mais desejadas
Entre as soft skills mais valorizadas segundo estudo
da The School of Life em parceria com a empresa de
recrutamento Robert Half, duas chamam atenção:
calma, desejada por líderes e liderados, e
comunicação, em falta em ambos os grupos

*Líderes querem desenvolver em si mesmos espírito


empreendedor, calma e comunicação

*Liderados querem desenvolver em si mesmos


confiança, calma e liderança

*Líderes querem desenvolver nos liderados


comunicação, decisão e objetividade

*Liderados gostariam que seus líderes


desenvolvessem em si mesmos comunicação, apoio
e empatia

Existem variadas ferramentas para desenvolver soft


skills, segundo Renata Spers, diretora do Núcleo
Profuturo FIA Business School. Ela afirma que
atividades que utilizam métodos centrados no
participante, como estudos de caso, simulações e
jogos de empresas, são considerados os mais
adequados para trabalhar habilidades de
comunicação, liderança e negociação, por exemplo.
Um dos exercícios realizados por Marcia Miyamoto
para ajudar os alunos a identificar as soft skills que
precisam desenvolver é uma ferramenta batizada de
mapa emocional.

Ela explica que o exercício consiste em perguntar


para as pessoas com quais emoções têm lidado
intensamente nos últimos tempos e em quais
situações, além de quais soluções elas têm dado e
quão efetivas essas práticas têm sido. “Esse
mapeamento ajuda a ter uma clareza do que está
acontecendo e a se permitir explorar outras
alternativas para lidar com aquela situação”, afirma.
Marcia prefere chamar as soft skills de repertório
emocional, pois, segundo ela, trata-se de capacidades
humanas inatas, que precisam ser nutridas para se
manifestar e beneficiar as pessoas não só no
trabalho mas em todos os aspectos da vida. Sendo
assim, o objetivo do diagnóstico seria identificar e
nutrir esses repertórios por meio de leituras,
exercícios, vídeos e atividades em grupo.

A professora cita o exemplo da Toyota, descrito no


estudo Skills Change, but Capabilities Endure (em
tradução livre, “Habilidades mudam, mas
capacidades permanecem”), divulgado em 2020 pela
consultoria Deloitte. A montadora japonesa exige que
os funcionários aprendam a montar um carro
manualmente. “O objetivo é proporcionar uma
experiência visceral, fazê-los sentir todas as
dificuldades do processo e, com isso, estimular
capacidades como criatividade, resolução de
problemas e inovação”, afirma Marcia. “Isso é nutrir
soft skills.”

Filtros no recrutamento
Como avaliar as competências comportamentais
mais demandadas no pós-pandemia durante o
processo seletivo

*Utilize ferramentas online


Ferramentas como Koru, Pymetrics e outras
permitem que os candidatos façam rápidas
avaliações online na hora de se candidatarem. Ao
analisarem a forma como os candidatos respondem
às perguntas ou participam de jogos, elas medem
suas competências interpessoais. Esses insights
podem orientar as entrevistas.
*Priorize as questões da entrevista
Faça um conjunto-padrão de perguntas adequadas
para as competências que a empresa procura. Isso
permite comparar facilmente as avaliações, mesmo
quando feitas por entrevistadores diferentes.

*Faça perguntas voltadas para a solução de


problemas
Peça para o candidato resolver um problema com
competências técnicas (como desenvolver um novo
produto). Depois introduza novas restrições e
condições (dê um prazo curto, por exemplo). Veja
como o profissional se adapta às mudanças, adicione
isso ao seu feedback e comunique a abordagem
utilizada.

Fonte: pesquisa Tendências Globais de Talento, do


LinkedIn

“Sou perfeccionista”

Identificar, nutrir e exercitar as soft skills são uma


parte do processo. A outra é demonstrá-las, por
exemplo no currículo e em entrevistas de emprego.
“Mais importante do que falar de si mesmo é falarem
de você”, diz Marcia. Ela sugere pedir que atuais ou
ex-colegas de trabalho e chefes escrevam
recomendações sinceras ou falem de suas
habilidades no LinkedIn. “A maneira como você gera
impacto em outras pessoas revela as suas soft
skills”, afirma a especialista.

A professora também sugere descrever atividades e


resultados que exigiram determinadas capacidades:
como você se saiu em situações difíceis no trabalho,
os resultados de projetos, prêmios e
reconhecimentos recebidos.

A dica de perguntar sobre situações de trabalho, reais


ou hipotéticas, também vale para os recrutadores que
precisam identificar soft skills nos candidatos (veja
quadro), segundo Richard Uchôa.

Para avaliar a capacidade de comunicação, por


exemplo, ele sugere perguntar ao profissional como
ele lidaria com um chefe que não fornece nenhum
tipo de feedback e não contribui para seu
desenvolvimento profissional. “Uma vez perguntei
isso para uma candidata e ela respondeu que pediria
demissão. Entendi na hora que aquela profissional
não tinha uma boa capacidade de se comunicar.”

O CEO da Revvo reconhece a importância das soft


skills para o atual mercado de trabalho, mas
considera exagero dizer que são tão ou mais
importantes do que as técnicas. “Acho que isso é
romantizar um pouco”, afirma. Se você quiser alguém
para trabalhar na área financeira, tanto faz se ele tem
ou não soft skills se não souber usar Excel. As
competências não técnicas são diferenciais.
Podemos falar que somos contratados pelas hard
skills e, muitas vezes, demitidos por falta de soft
skills”, conclui.

Compartilhe essa matéria via:

Você também pode gostar