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Enfermidades de

Neonatos Ruminantes

Prof. Dr. Rogerio B. Santos


2016
Fase perinatal:
compreende os últimos dias de gestação e as primeiras 24 horas
de vida.

Fase de transição e adaptação

Recém – nascido deverá ser capaz de controlar as funções cardio –


respiratórias, de termoregulação e nutrição.

Se plenamente assumidas Caso contrário, poderá levá-lo à


levarão a uma adaptação morte na fase perinatal ou uma
orgânica equilibrada particular susceptibilidade às
doenças do período neonatal
Período neonatal:
compreende o 2º dia de vida até o 28º dia após o nascimento.

Período susceptível à várias doenças

Colabora nesta predisposição a imaturidade do sistema imune do


neonato, bem como as condições de placentação dos ruminantes
As maiores taxas de perdas de bezerros encontram-se
na fase perinatal e no período neonatal

•  Sendo 2X maior em bezerros filhos de


novilhas

•  E maiores am animais que sofreram um


parto laborioso ou distócico
MORTALIDADE DE BEZERROS (ROY, 1990)

1- Abortos - na,mortos ( < 270 d. gestação)
(2-2,5%)*

2- M. perinatal - na,mortos c/> 270 d. gestação/
(3,5-5,0%) morte nas 24 h. p.n.

3- M. neonatal - bezerros com morte entre 24h e
(3,0%) 28 dias de vida.

4- M. bezerros + velhos - bezerros que morrem
(1,0-2,0%) entre 29 e 84 d. vida.
( 29 e 184 d. vida )
*manejo de país desenvolvido
Mortalidade de Cordeiros nas
Primeiras Semanas de Vida

Outras Causas
Abortamento 27 %
16 %

Inanição / Hipotermia
19 %
Distocia/ Natimorto
20 %
Broncopneumonia
17 %
Principais enfermidades de neonatos na
fase perinatal e período neonatal
- RN apresenta acidose fisiológica;

Lisbôa et al. Braz. J. vet. Res.anim.Sci., v. 39, n. 3, p. 136-142, 2002.


- RN apresenta acidose fisiológica;
Asfixia Neonatal
É um complexo patológico também denominado
acidose neonatal ou do parto.
Caracteriza-se por uma acidose mista,
exteriorizando-se clinicamente por alteração da função
respiratória e diminuída vitalidade do recém-nascido.

Dependendo da etiologia:

Asfixia Precoce Asfixia Tardia


Imediatamente após o Nas primeiras horas
nascimento de vida
Asfixia Precoce

Principal forma clínica

Origem intra-uterina e/ou durante o parto;

Relacionada a fatores que determinam prejuízo nas trocas


gasosas materno-fetais tais como retardamento do parto,
traumas, alterações placentárias e acidose maternal.
Distocia
Evidências de dificuldades de parição

Presença de edema Traumas


- cabeça - fraturas
- membros - hemorragias internas

1. Animais obesos
2. Falta de supervisão do parto
3. Incompatibilidade do tamanho do feto/ pelve
4. Posições Anômalas
5. Mal -formações
Partos distócicos
Partos demorados Intervenções
(tamanho do feto, obstétricas com
posicionamento ...)‫‏‬ excesso de força

contrações excessivas do
útero

Diminuição das trocas gasosas


materno-fetal
Diminuição das trocas gasosas materno-fetal

Hipóxia Tecidual e Sangüínea Hipercapnia Tecidual e Sangüínea

Restrição de Circulação a Órgãos Vitais respiratória

ACIDOSE
Glicólise Anaeróbia Inibição da
metabólica
Atividade
Enzimática
Consumo das Reservas de Carboidratos

Lesões Orgânicas de Extensão Variada

Asfixia Neonatal Morte


Precoce intra-uterina
Indicativos da presença de asfixia intra-uterina

Ausência de resposta reflexa do feto ao estímulo para sugação


Placenta parcialmente desprendida
Mecônio nos líquidos fetais
Bolsas fetais não rompidas e expostas por mais de 4 horas.
Partos distócicos
Partos demorados Intervenções
(tamanho do feto, obstétricas com
posicionamento ...)‫‏‬ excesso de força

contrações excessivas do
útero

Diminuição das trocas gasosas materno-


fetal
Fonte: EINGENMANN, 1981 7,4
Cesareana
Seqüência1
Tração Leve
Seqüência2
Seqüência3
Tração Forte
7,3

Valor do pH sangüíneoa
7,2

7,1

7,0

Durante
o parto Após
o parto
6,9

Influência do tipo de ajuda obstétrica sobre o pH do sangue de bezerros


Distúrbios decorrentes da Hipóxia durante a Vida Perinatal

Sistema Respiratório

Durante a Vida Intra-uterina Aspiração de mecônio

Durante a Vida Extra-Uterina Apnéia

Trato Gastrintestinal

aumento de Eliminação
peristaltismo de mecônio

líquido amniótico amarelado/ amarronzado


pele do bezerro tingida pelo mecônio
aspiração de mecônio no trato respiratório
Asfixia intrauterina: pode levar a liberação de mecônio e
aspiração de líquidos fetais
Distúrbios decorrentes da Hipóxia durante a Vida Perinatal

Sistema Metabólico

Distúrbio no Equilíbrio Acidose Mista:


Ácido - Base Respiratória e Metabólica

- taquipnéia
- retardo na ingestão de colostro
- imunossuressão
- necrose das vilosidades intestinais
- distúrbios respiratórios

Consumo das Distúrbios do Metabolismo Energético


Reservas de Hipoglicemia
Glicogênio Hepático Hipotermia
A intensidade dos sintomas é
Sintomas dependente do grau de
acometimento do recém-
Formas leves : nascido.
diminuição da atividade
e movimentação corpórea
respiração arrítmica e Formas moderadas à intensas:
com freqüência reduzida ausência da atividade e
taquicardia movimentação corpórea
coloração azulada das diminuição ou ausência das
mucosas aparentes respostas de estímulo palpebral e
interdigital
Forma intensa culmina respiração arrítmica, superficial,
com a morte do feto ainda taquipnéia
no útero ou no primeiro
dia de vida mucosas aparentes brancas ou
azuladas
No bezerro normal:

o reflexo de correção da cabeça ocorre quase


imediatamente após o nascimento
O decúbito esternal é alcançado dentro de 2 a 3
minutos
Após 15 a 30 minutos do nascimento o bezerro faz
tentativas de ficar em pé
Diagnóstico:

história clínica do animal de parto distócico com auxílio


obstétrico
Apresentar sintomas descritos juntamente com o
histórico da distocia
ausência >.ria dos reflexos
. placenta parcialmente desprendida
. mecônio no liq. fetal e/ou bolsas fetais expostos +
4h.
Uso do sistema APGAR modificado (Born, 1981) para o
julgamento da vitalidade dos bezerros logo após o
nascimento
Avaliação da Viabilidade de Bezerros Recém- Nascidos
SISTEMA APGAR

Critério de Avaliação Pontos


0 1 2
Reação da cabeça a Ausente Diminuída Espontânea,
um jato de água movimentos ativos
Reflexos orbitário Ausente Um reflexo ambos reflexos
e interidigital positivo positivos
Respiração Ausente Arrítmica Rítmica
Coloração de mucosas Azulada Branco-azulada Rósea
0 a 3 pontos 4 a 6 pontos 7 e 8 pontos
bezerros sem vitalidade pacientes de risco boa viabilidade
Asfixia severa Asfixia de intensidade Animais sadios
leve a moderada
Diagnóstico:

à Avaliação do equilíbrio ácido-básico e dos gases do


sangue
- Bezerros com acidose terão diminuição do pH sanguíneo
(<7,2) e da concentração de bicarbonato sanguíneo
(<20mmol/l), associado com aumento de pressão parcial
do dióxido de carbono (>55mm de Hg) e déficit básico no
sangue.

Caracterizando a acidose mista


Tratamento:
Apresenta resultados duvidosos nos quadros intensos
à elevação dos recém-nascidos pelos m. posteriores
• éstímulo c/ balde de H2O fria jogado sobre o animal
• retirada do muco da boca/narinas (mãos limpas s/ in-
trodução na boca)
• fricção forte do dorso (toalha/palha)
• respiração artificial - decúbito lateral
- inspiração - m. anterior afastado, acima puxando p/
frente
- expiração - flexão e pressão sobre membro/torax
- oxigenação - por sonda nasal/ copo inalador (cuidado
c/ pressão )
• medicamentos - analepticos respiratórios – dopran
(0,46 - 0,60 mg/kg –iv).

- combate à acidose - monitorada


Tratamento:
Monitoramento da acidose

- ABE = -47,4 + (7,42 x pH urina)


- NaHCO3 mmol = ABE x PV (Kg) x 0,3 = (Z)
- NaHCO3 gramas = (Z) x 84 (PM) /1000

oxigenação artificial.
–  - 25L/min (p/ inflar o pulmão com atelectasia parcial)
–  - 5 – 8 – 10L/min (manutenção)
Profilaxia

Prevenção da ocorrência de partos distócicos


(seleção de touros que não gerem fetos muito grandes
em relação à mãe; não permitir que as fêmeas estejam
muito gordas na fase final da gestação);

Assistência obstétrica de forma adequada.


Asfixia Tardia

Síndrome da insuficiência
respiratória

A ocorrência é quase exclusivamente a bezerros


com nascimento prematuro, devido a imaturidade pulmonar
fetal.

Manifesta-se no decorrer da primeira hora de vida do


neonato.
Patogenia

•  Animais prematuros principalmente aqueles nascidos de


gestações com duração inferior à 260 dias:

Deficiência de produção de substância surfactante

Atalectasia pulmonar

Hiperventilação compensatória

Enfisema pulmonar
Diminuição das trocas gasosas

Hipóxia Tecidual e Sangüínea Hipercapnia Tecidual e Sangüínea

Restrição de Circulação a Órgãos Vitais respiratória

ACIDOSE
Glicólise Anaeróbia Inibição da
metabólica
Atividade
Enzimática
Consumo das Reservas de Carboidratos

Lesões Orgânicas de Extensão Variada

Animais susceptíveis Morte por sufocação e


à infecções insuficiência cárdio respiratória
Sintomas

Apresentam-se aparentemente sadios no momento do


nascimento
No decorrer da primeira hora de vida intensifica-se os
distúrbios caracterizados por: taquipnéia, dispnéia
mista, sibilos, posição ortopneica, e, nos casos que
evoluem para a morte, respiração com a boca aberta e
eliminação de espuma fina pelas narinas e rima bucal.
Diagnóstico:
História clínica de parto prematuro ou indução do
parto.
Sinais de imaturidade: período de gestação menor que 270 dias;
peso inferior ao considerado normal para a raça, medida do comprimento
da coluna vertebral (da articulação occipital até a primeira vértebra
coccígea) inferior a 65 cm; pêlos da região umbilical curtos e finos, dentes
incisivos recobertos pela gengiva (- zebuínos e ovelhas).
Sintomas observados após a primeira hora de vida.
Alteração da hemogasometria no decorrer da primeira
hora de nascimento (aumentos do déficit básico, aumento da
pressão parcial de CO2).
Tratamento:
Apresenta resultados duvidosos nos quadros intensos

Administração de glicocorticóides no neonato


prematuro para promover a síntese de surfactante
(apresenta demora para observar efeito positivo)‫‏‬

Administração de surfactante (utilizado para bebês


prematuros) – $$$!
à100 mg/Kg e posteriormente mais 2 doses /6 - 6horas,
totalizando 300 mg/Kg PV nas primeiras 12 horas de
vida. Via transtraqueal.
Surfactante Pulmonar suíno
Profilaxia:

Nos casos em que houvesse a necessidade de interrupção


da gestação poderia ser efetuada a prevenção da asfixia
tardia aplicando glicocorticóides na mãe 24 a 48 horas
antes do momento planejado do parto.

Nos casos de gestação acima de 260 dias!!!


Conseqüências da asfixia neonatal

Lesões orgânicas persistentes MORTE


particularmente nos pulmões e
cérebro

Associadas ou não a diminuição ou Falha na


ausência do reflexo de sucção e deglutição transferência de
nas primeiras 12 horas de vida imunidade passiva
colostral
3 Sadio
Asfixina Neonatal Precoce

Ingestão de Colostro (litros)


2

0
4 8 12 18
Horas após o nascimento

Mamada de colostro (kg) por bezerros com boa


vitalidade e com asfixia durante as primeiras
18 horas de vida
Fonte: LUETGEBRUNE, 1982
COLOSTRO

Administrar 10 % PV nas
primeiras horas de vida
(até 12 horas)‫‏‬

Exemplo: um bezerro com 40 quilos


deverá mamar 4 litros de leite nas
O fornecimento
primeirasideal de colostro
12 horas de vida.deve ser
em média de 3 a 5 dias após o
nascimento.
Um cabrito ou cordeiro com 3 kg Cabritos e cordeiros deve ser
deve mamar em torno de 300 ml nas oferecido colostro cerca de 5
primeiras 12 horas de vida. a seis vezes até atingir às
primeiras 12 horas de vida.
COLOSTRO

- IGs
- fatores complemento
- lactoferrina
- IGF -1
- fatores de cresimento
- IL-2
- fonte de carboidratos e vitaminas lipossolúveis
Aleitamento
•  Higiene no preparo e conservação do leite;
•  Importância na formação da goteira esofágica;
•  Temperatura do leite adequada;
Tempo de Formação do Coágulo no
Abomaso
35 °C - 5 minutos
30 °C - 8 minutos
20 °C - 34 minutos
15 °C - 6 horas

•  Periodicidade: oferecer leite 2 -3 vezes por dia.


Falência de transferência passiva de
imunidade colostral

Situações em que o neonato não absorve nível adequado


de imunoglobulinas colostrais

Os neonatos bovinos nascem com ausência de


imunidade específica e as defesas imunológicas
presentes no seu nascimento não apresentam
eficiência desejada

Consumo do colostro torna-se


fundamental
IgG

Imunidade Passiva Imunidade Ativa

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Idade
( em semanas)‫‏‬
Principais razões para a falha na adequada
transferência de imunidade colostral:

•  falha de produção (mãe produz colostro pobre ou


insuficiente);
•  falha na ingestão;
•  falha na absorção intestinal (com adequada
ingestão);
•  Hipóxia: absorção de IgG ↓
Inadequada Absorção de Colostro
Avaliação ideal é 12 horas após o nascimento:

Valores séricos de proteina total < 5,5 g/dl


Valores plasmáticos de proteina total < 6,0 g/dl
Valores de gamaglobulina < 1,0 g/dl
Valores de GGT < 50 UI/l equivalente a concentração sérica de 10
mg/ml de IgG1

48 horas após o nascimento pode-se determinar a concentração sérica de Ig G 1


(>10 mg/ml) através de ELISA ou imunodifusão radial simples em gel de ágar
Densidade do colostro:

Há relação linear entre a densidade do colostro e sua


concentração de imunoglobulina
Densidade adequada de 1.048
(quantidade moderada a excelente de imunoglobulina)‫‏‬
D < 1,035 = FTIP
Medida é mais precisa em leite de vaca Holandesa comparado
ao de Jersey
Tratamento para a falha na absorção de colostro

Retirada do colostro da mãe ou de uma vaca mais velha e fornecido


ao filhote
Importância dos
bancos de
colostro

(nos casos de dificuldade de mamada deve ser administrado via sonda)


O período deve ser inferior a 24 horas

Em situações em que o período ideal de administração de colostro


foi ultrapassado recomenda-se:
Transfusão de sangue total ou plasma
Plasma: dose de 20ml/kg de peso vivo

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