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TEMA:
1.1.Contextualizacao .................................................................................................................... 5
1.2.Justificativa ............................................................................................................................ 6
1.4.Objectivos .............................................................................................................................. 8
2.1.Contextualização .................................................................................................................... 9
1.1.Contextualizacao
A conflitualidade do processo que se chama construção da nação em África e, no caso concreto
em Moçambique é algo que vem merecendo estudos em diferentes áreas das ciências sociais,
mas afigura-se ainda inesgotável. A diversidade das ciências sociais que se interessam por esta
temática revela as diferentes possibilidades de recorte, ou seja, as diferentes abordagens que ela
admite. Mas, também constitui um indicador de que, na sua abordagem, podem ser interagidas
contribuições desenvolvidas em diferentes áreas das ciências sociais.
Este trabalho, entra no debate do processo da construção da nação moçambicana, a partir do
estudo intitulado “A Identidade Tsonga-Changana no Contexto da Identidade Nacional
Moçambicana: Construção e Representação”. Eis aqui, um outro conceito bastante polissémico,
o de identidade. Esta polissemia do conceito, faz com que, ele seja apreciado e estudado em
vários domínios das ciências sociais e humanas. Ele recebe uma quantidade enorme de
qualificativos que lhe conferem significados específicos. Assim, as qualidades derivadas das
variáveis como papeis sociais, género, idade, status, etnia, nação, conferem ao conceito de
identidade especificidades de corpo, sendo por isso, uma categoria capaz de ser usada tanto na
linguagem quotidiana assim, como na linguagem académica.
O termo tsonga-changana que constitui o foco deste estudo, situa-se na categoria de etnia, pois o
tsonga-changana é um grupo étnico do Sul de Moçambique. Atendendo que a construção da
nação moçambicana é um processo dialogal entre elementos identitários da categoria étnica,
caracterizados por serem tradicionais, de matriz africana, com elementos dacategoria nacional,
caracterizados por serem modernos e impregnados de valores universais,veiculados pelo projecto
nacional moçambicano em definição, concebeu-se este estudo que busca interpretar os
mecanismos da sua interacção, processos, representações, que é a maneira como se apresentam,
bem como as conflitualidades a isso inerente.
Os marcos temporais entre os quais se confina a pesquisa tornam-se aqui difíceis de determinar.
Esta dificuldade advém do facto de o tempo na realidade social ser tratado como uma categoria
composta de modo integrado por passado, presente e futuro – conceito de Tempo Tríbio de
Gilberto Freyre, portanto, o presente contém passado e futuro (Graça, 2010: 19). Isto mostra que,
a interpenetração dos factos ao longo do tempo acaba não permitindo o seu isolamento por
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barreiras cronológicas. Mas por uma questão metodológica a pesquisa será situada, grosso modo
no período que vai da formação da consciência étnica tsonga-changanaque se pode situar nos
finais do século XIX, mais precisamente nos finais da década de 1880 até 2019. No entanto, as
datas apresentadas como marcos temporais do estudo, não podem ser consideradas como
barreiras intransponíveis, haverá por vezes situações de recuos significativos no tempo para
captar elementos que se julgarem necessários para a compreensão do fenómeno estudado no
núcleo temporal central da pesquisa.
1.2.Justificativa
Os motivos que presidiram a escolha desta problemática para a pesquisa são de duas ordens:
académica e pessoal.
A motivação académica advém do interesse que o tema da construção da nação em África e em
Moçambique, de forma especial, tende a adquirir, particularmente a partir do início da década de
1990, quando a revisão constitucional criou condições para o debate descomprometido sobre
questões da integração da diversidade no projecto da construção da nação moçambicana. A I
Conferência Nacional sobre a Cultura realizada em 1993 em Maputo, constituiu o ponto de
partida desse amplo debate no meio académico nacional, que vai também atraindo académicos
estrangeiros. Assim, o estudo da identidade tsonga-changana no contexto da identidade nacional
moçambicana surge como uma forma de contributo nesse debate sobre a unidade e a diversidade
inicialmente despoletado na referida conferência e que continua a merecer estudos de um número
cada vez mais significativo de pesquisadores das diferentes áreas das ciências sociais
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dos diferentes agrupamentos étnicos, um deles é o grupo étnico tsonga-changana em análise
neste estudo.
1.3.Problematização
Isto mostra que, pelo menos, neste aspecto de diversidade etno-linguística “Moçambique não é
diferente de muitas sociedades pelo mundo fora, onde existem profundas divisões por causa da
raça, região, religião ou grupo étnico, bem como grupos sociais como sindicatos e associações
criadas para apoiar variadas causas” (Mondlane, 1999), mas também Breton (1998), debruçou-se
profundamente nessa matéria, logo isso deixa de ser preocupante no contexto desta pesquisa.
O que torna necessário explicar aqui é, qual é a fórmula usada na articulação dos elementos
identitários étnicos e de carácter nacional, bem como os caminhos percorridos para se
alcançar os consensos e/ou divergências que determinam a identidade tipicamente
moçambicana?
1.4.Objectivos
Geral
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Capítulo II.Enquadramento teórico
2.1.Contextualização
Encontrar um quadro teórico de referência para estudar os fenómenos sociais na África
subsahariana na qual se localiza Moçambique, tem sido um problema difícil para muitos
investigadores das ciências sociais. Isso resulta do facto de a realidade social africana afigurar-se
muito mais complexa, e não terem sido ainda desenvolvidas teorias focadas em número
suficiente para o tipo de fenómenos sociais gerados no continente. Entre as identidades étnica
tsonga-changana e nacional moçambicana situa-se a tradição e a modernidade que caracterizam a
sociedade moçambicana, numa relação bastante complexa.
Para Macamo (2002), a complexidade da realidade social africana é feita da relação ambígua que
o continente tem com a modernidade. Essa relação ocasiona um conjunto de transformações em
curso para os quais, ainda não há modelos explicativos consistentes. Faz sentido a questão
levantada por Mbembe (2000) que, depois de descrever as transformações sociais operadas no
continente interroga, se as ciências sociais têm conceitos capazes de tornar inteligível essa
realidade. Esta questão é reiterada por outros trabalhos como o de Graça (2005), que também
questiona “até que ponto é que a sociologia clássica se encontra apetrechada de conceitos que
possam traduzir a realidade social africana”. É aqui onde surge um desafio aos investigadores
interessados pelo estudo dos fenómenos sociais em África.
Porém, os elementos para a clarificação do conceito da transformação social estão presentes nas
próprias sociedades africanas, restando então, a elaboração de novos instrumentos ou
ajustamento dos já existentes às particularidades africanas concretas, para a apreensão e
explicação dos fenómenos sociais aí gerados.
A posição aqui assumida distancia-se daquela que apregoa a necessidade de uma sociologia
africana pois resultaria naquela questão epistemológica, sobre a necessidade ou não do
enquadramento da sociologia nos area studies. E se isso for necessário a sociologia terá que gerar
novas especialidades com objectos de estudos geograficamente circunscritos. Não será o caso de
surgimento da sociologia africana apenas como também será necessária uma sociologia europeia,
asiática, americana e até sociologias nacionais.
O exposto no parágrafo anterior não constitui contradição da abordagem anterior tal como
aparenta. O que se pretende dizer é que os conceitos para a apreensão da realidade social africana
devem ser adequados ao estado de mudança em que ela se encontra. Esta adequação,terá
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necessariamente, de tomar como base os conceitos elaborados pelos clássicos da teoria Teórica
social, filtrando neles o necessário para a elucidação de processos concretos da vida social em
África e, procurar a possibilidade de gerar novos conceitos que melhor apreendem e explicam a
situação específica que caracteriza as sociedades africanas.
Esta pesquisa privilegia uma abordagem teórica eclética, em que o construtivismo social
constitui uma das teorias priorizada. Trata-se de uma teoria construída no campo da sociologia
do conhecimento,segundo a qual, “a realidade é socialmente construída” (Berger & Luckmann,
1966: 11). Esta abordagem de Berger e Luckmann, é fruto da combinação da Sociologia de
Conhecimento de Alfred Schutz com o conceito durkheimiano de instituições. Eles preocupam-
se por responder à questão sobre como é que o conhecimento humano (criado subjectivamente)
chega a ser estabelecido socialmente como realidade (objectiva). É desta forma que os conceitos
de conhecimento e realidade se tornam relevantes para esta teoria. E a resposta dessa questão
mostra a complementaridade entre o subjectivismo e objectivismo e atenua o antagonismo entre
o idealismo e o empirismo.
Na perspectiva de Berger & Luckmann (1966: 11) a realidade é “uma qualidade pertencente a
fenómenos que reconhecemos terem um ser independente da nossa própria volição” e
conhecimento é “a certeza de que os fenómenos são reais e possuem características específicas”.
A opção pelo construtivismo social surge da necessidade de apreender as identidades
tsongachangana e nacional moçambicana como conceitos e realidades modernas. Nesta
perspectiva, as referidas identidades como conceitos e referências empíricas deixam de ser
essências para serem construtos sociais resultantes de múltiplas confrontações sociais havidas no
percurso da história. Essa construção não é mera acaso, é produto de conhecimento produzido
nos mais diversificados contextos históricos da sociedade.
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de identidade, a exemplo de xaútóxriç em grego, o que sugere uma aplicação antiga da palavra.
A categoria de identidade possui uma “pré-história,” que é reconstituída no estudo de Marcel
Mauss datado originalmente de 1936 e reconsiderado em seus estudos posteriores. Nesse estudo,
o autor mostra que “um imenso conjunto de sociedades chegou à noção de personagem, de papel
cumprido pelo indivíduo em dramas sagrados, assim como ele desempenha um papel na vida
familiar” (Mauss, 1936: 381-382). Desta forma a personificação do indivíduo estava imbuída de
um conteúdo identitário socialmente construído, denotando-se aqui a importância da interação
simbólica no processo da construção da identidade social. O autor analisou várias instituições
sociais das sociedades primitivas em que fazem parte os Índios Pueblos do Zuñis do México; os
Kwakiutl do noroeste americano, e os Arunta, os Loritja e os Kakadu da Austrália, antes de
passar para as sociedades da Antiguidade (India, China, Grécia e Roma); cristã medieval, até ao
período contemporâneo. O autor tinha como intenção, caracterizar a pessoa como definição
social da personagem nas sociedades primitivas para, posteriormente, construir uma história
social da noção, no Ocidente.
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Finalmente, veio a ser aplicado para os pagãos (ta ethnē) pelos autores do Novo Testamento e
padres, como sendo, todos os grupos nacionais excepto cristãos e judeus (Smith, 1988: 21).
Em todos os usos anteriormente apresentados, o denominador comum parece dar significado a
um número de pessoas ou animais vivendo juntos e agindo juntos, embora não necessariamente
pertencentes ao mesmo clã ou a mesma tribo. Com os gregos o termo ethnos parece ter uma
inclinação mais cultural do que biológica ou diferenças de parentesco; são as similaridades dos
atributos culturais em um grupo que atraem o termo ethnos. O uso mais próximo ao uso grego
com significado de denominador comum encontrado nas línguas ocidentais modernas é o termo
francês de „ethnie‟, que põe ênfase na unidade sobre diferenças culturais, com o sentido de uma
comunidade histórica (Smith, 1988: 21).
A concepção de que a identidade étnica ou etnicidade é uma categoria socialmente construída é
comumente partilhada por muitos cientistas sociais. Mas, no seu estudo subsistem várias
discussões, polarizados essencialmente pela forma como o conceito é assumido pelas diferentes
perspectivas como variável.
O debate mais comum em torno do entendimento da categoria da identidade étnica ou etnicidade,
decorre entre os primordialistas ou essencialistas e os construtivistas ou social construtivistas
conforme as respectivas posições explicadas em seguida. Entre os dois polos, o debate assume a
forma de paradigmas de investigação, escolas de pensamento ou áreas subdisciplinares diversas.
2.4.Identidade nacional
Antes do debate sobre identidade nacional, importa debruçar resumidamente sobre a história do
conceito da nação do qual se deriva o adjectivo nacional, por tratar-se da primeira vez que se
busca de forma específica nesta pesquisa. Etimologicamente “nação deriva do latim natione, do
verbo nasci que significa nascer e por extensão ter a origem, provir, começar” (Graça, 2005: 19).
O autor considera que originalmente o conceito usou-se para designar um grupo de pessoas
nascidas ou provenientes de um mesmo lugar. O uso que dele se faz na tradição latina da Bíblia,
como sinónimo de países, povos e línguas, está próximo do seu sentido original.
No século XIX, o termo passa a ser progressivamente utilizado por autores consagrados como
Hegel em Princípios da Filosofia do Direito, Tocqueville, em Democracia na América, dando-lhe
um sentido semântico mais próximo ao uso dos dias actuais.
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Entrando já no debate sobre a identidade nacional, nota-se que os desenvolvimentos teóricos
encontram-se polarizados, tal como aconteceu nos debates sobre a identidade étnica. Aqui, a
polarização está, por um lado, entre as concepções subjectivas, cívicas e políticas de construção
nacional, também chamadas modernistas e, por outro as objectivas, étnicas e culturais, também
designadas primordialistas (ou pré-modernistas).
Os objectivistas/pré-modernistas sublinham a importância de elementos pré-modernos de
carácter geo-histórico, étnico-culturais, políticos, económicos, religiosos e outros. Ao passo que
os subjectivisatas/modernistas, consideram a formação da nação e o nacionalismo como um
produto recente, ligado às transformações do Estado moderno, dos complexos culturais e da
economia, podendo dar enfase num ou em alguns aspectos destes. Todavia, estas duas correntes,
não podem ser consideradas como sendo mutuamente excludentes, pois, são na verdade
complementares. Isto consta no trabalho de Amante (2011: 16), no qual ela explica que na
reprodução das identidades nacionais “estão envolvidos aspectos de natureza objectiva – a
cultura, o território, as memórias históricas, etc. – mas é igualmente importante a sua dimensão
subjectiva, traduzida não só na crença de pertença como nos contornos que se atribuem a essa
pertença”
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Capítulo III: Metodologia
3.1.Métodos e fontes de pesquisa
Neste estudo foram cruzados vários métodos qualitativos, pois “os factos humanos são, por
essência, fenómenos muito delicados, entre os quais muitos escapam à medida matemática”
(Bloch, 1949: 54). O caráter transversal da temática abordada, ditou a adopção de vários métodos
desenvolvidos em várias áreas das ciências sociais no seu estudo. Tratou-se, na verdade, de uma
abordagem holística. Uma vez que de acordo com Bloch (1949: 50), “para melhor entender e
apreciar seus procedimentos de investigação, mesmo aparentemente os mais específicos, seria
indispensável associá-los ao conjunto das tendências que se manifestam, no mesmo momento,
nas outras ordens de disciplinas”.
A história tributou nesta pesquisa com o método histórico. O seu procedimento básico é o
cruzamento de testemunhos. Isso não é novidade pois, Bloch (1949: 70) já havia se debruçado
sobre o assunto, considerando que,
“Porque no imenso tecido de acontecimentos, gestos e palavras de que se compõe o destino de
um grupo humano, o indivíduo percebe apenas um caminho, estreitamente limitado por seus
sentidos e suas faculdades de atenção; porque [além disso] ele nunca possui a consciência
imediata senão de seus próprios estados mentais: todo conhecimento da humanidade, qualquer
que seja, no tempo, seu ponto de aplicação, irá beber sempre nos testemunhos dos outros uma
grande parte de sua substância”
Se bem que este extrato do trabalho de Bloch ajudou esclarecer porque se torna necessário o uso
do método histórico e do seu procedimento baseado no cruzamento de testemunhos para o estudo
dos factos sociais como é o caso do que se estuda aqui, resta agora explicar como é que este
método foi aplicado neste trabalho. Portanto, aqui o método foi operacionalizado com recurso a
colecta de narrativas biográficas e autobiográficas orais e escritas seguida de analise de conteúdo
e sua interpretação. Os dados empíricos orais foram obtidos através de entrevistas informais6ou
conversas guiadas.
O método histórico foi empregue muito mais na reconstituição do processo levado a cabo pelas
igrejas protestantes para a formação da identidade tsonga no Sul de Moçambique, bem como no
estudo das concepções locais sobre fenómenos como a invasão nguni, ndau, e o estabelecimento
de linhagens desses grupos invasores no território ocupado pelos tsongachanganas, assim como
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os mecanismos de interacção entre os elementos desses grupos com os do grupo tsonga-
changana. Aplicou-se também na colecta de memórias orais sobre biografias de figuras locais
como é o caso de Xipenanyane Mondlane, Eduardo Mondlane, João Mapanguelane Mondlane,
Zaba wa Kamudumani, Mungoi, Tovela nos distritos deMandlakazi, Chongoene, Guijá, Chibuto,
Xai-Xai e Chokwe. E também, no estudo das genealogias das linhagens ndaus e ngunis
estabelecidas no vale do Limpopo.
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4.Referências Bibliográficas
Moreira, A. (2000). Estudos da Conjuntura Internacional. Lisboa: Dom Quixote.
Mannheim, K. (1986). Ideologia e Utopia. 4ª. Ed. Tradução de Sérgio M. Santeiro. R. J.:
Guanabara.
Martins, E. (1975). Exploração Portuguesa em Moçambique 1500-1973. Esboço Histórico. Vol.
1. Kastrup: African Studies Editorial.
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